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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO DE: PSICOLOGIA SOCIAL AUTORIA: Wagner Luís Dias de Freitas REVISÃO: Ma. Samira Bissoli Saleme Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: Psicologia Social Autoria: Wagner Luís Dias de Freitas Revisão: Me. Samira Bissoli Saleme Primeira edição: 2002 1ª Revisão: 2003 2ª Revisão: 2008 CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste Módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos. Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial. Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação Prezado aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! Este material foi elaborado atendendo a nova metodologia de aprendizado de Ensino a Distância, para o módulo de Psicologia Social. A área de Psicologia Social trata de questões que envolvem indivíduos e grupos, no que se refere ao aspecto social de suas relações. O objetivo deste campo de estudo é conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais. Este é o campo de saber das “manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras, ou pela mera expectativa de tal interação”. Estão inclusas, portanto, as atitudes de aperto de mão, elogio, sorriso, olhar, etc. Estudaremos nesse módulo os grupos sociais, bem como os aspectos individuais que influenciam o comportamento dos indivíduos nestes grupos, tais como a percepção, a cognição, valores, atitudes, consciência, dentre outros. Sinta-se livre para questionar, debater e se aprofundar por meio das participações online, seja por fórum, chat ou inserção de dúvidas no ambiente de aula. Bons estudos! Objetivo Esse material foi elaborado com o objetivo de fornecer subsídios modulares referentes ao tema: Psicologia Social. Sendo assim, apresenta; em seu conteúdo, aspectos relevantes no tocante a indivíduos e grupos, no aspecto social de suas relações. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 Ementa Histórico, caracterização e fundamentação teórica da Psicologia Social. Conceitos gerais de Psicologia Social, psicologia institucional e comportamento organizacional. Processos de socialização. Grupos e Organizações Sociais. Representação Social. O indivíduo: percepção, valores, atitudes, aprendizagem, subjetividade, atividade, consciência identidade, linguagem e pensamento. Autoconhecimento e heteroconhecimento. Processo de comunicação: barreiras, feedback. Intervenção psicossocial. Sobre o Autor Mestre em Psicologia pela UFES; Especialista em Gestão de Recursos Humanos, com Aperfeiçoamento em Saúde Mental (Fundação Osvaldo Cruz), com graduação em Psicologia pela UFES. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................ 8 Histórico e Fundamentação Teórica ................................................................ 8 UNIDADE 2 ...................................................................................................... 10 Conceito de Psicologia Social ........................................................................ 10 UNIDADE 3 ...................................................................................................... 11 Conceito de Psicologia Institucional ............................................................... 11 UNIDADE 4 ...................................................................................................... 14 Processo de Socialização .............................................................................. 14 UNIDADE 5 ...................................................................................................... 17 Grupos e Organizações Sociais .................................................................... 17 UNIDADE 6 ...................................................................................................... 19 A Teoria de Grupos Operativos ..................................................................... 19 UNIDADE 7 ...................................................................................................... 21 Momentos do Grupo Operativo ...................................................................... 21 UNIDADE 8 ...................................................................................................... 22 Os Papéis Assumidos em Grupos Sociais ..................................................... 22 UNIDADE 9 ...................................................................................................... 25 Vivendo em Grupos ....................................................................................... 25 UNIDADE 10 .................................................................................................... 31 Grupo de Trabalho......................................................................................... 31 UNIDADE 11 .................................................................................................... 36 Psicologia Social e Psicologia Comunitária ................................................... 36 UNIDADE 12 .................................................................................................... 40 Psicologia Tradicional x Psicologia Social Comunitária ................................. 40 UNIDADE 13 .................................................................................................... 46 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 Representação Social .................................................................................... 46 UNIDADE 14 .................................................................................................... 48 Cognição Social ............................................................................................. 48 UNIDADE 15 .................................................................................................... 51 Percepção Social ........................................................................................... 51 UNIDADE 16 .................................................................................................... 53 Percepção Pessoal ........................................................................................ 53 UNIDADE 17 .................................................................................................... 58 Valores .......................................................................................................... 58 UNIDADE 18 .................................................................................................... 61 Atitudes ......................................................................................................... 61 UNIDADE19 .................................................................................................... 65 Aprendizagem ............................................................................................... 65 UNIDADE 20 .................................................................................................... 67 Subjetividade ................................................................................................. 67 UNIDADE 21 .................................................................................................... 69 Atividade ........................................................................................................ 69 UNIDADE 22 .................................................................................................... 71 Consciência ................................................................................................... 71 UNIDADE 23 .................................................................................................... 73 Identidade ...................................................................................................... 73 UNIDADE 24 .................................................................................................... 75 Linguagem e Pensamento ............................................................................. 75 UNIDADE 25 .................................................................................................... 78 O Auto e o Heteroconhecimento .................................................................... 78 UNIDADE 26 .................................................................................................... 81 Elementos do Processo da Comunicação ..................................................... 81 UNIDADE 27 .................................................................................................... 84 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 Barreiras Comunicacionais ............................................................................ 84 UNIDADE 28 .................................................................................................... 85 Procedimentos para uma Comunicação Eficaz ............................................. 85 UNIDADE 29 .................................................................................................... 87 Feedback no Processo Social ....................................................................... 87 UNIDADE 30 .................................................................................................... 91 Evitando Conflitos Trabalhistas ..................................................................... 91 GLOSSÁRIO .................................................................................................... 94 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 95 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 UNIDADE 1 Histórico e Fundamentação Teórica Objetivo: Apresentar a ideia de que todos os campos de saber possuem raízes históricas, e que os fundamentos dos mesmos estão ligados entre si, no que se refere a Psicologia Social. Ao se estudar qualquer tema, torna-se necessário, de início, traçar um pequeno esboço da história e contexto do mesmo, afim de que se tenha em mente a evolução das ideias em torno do seu desenvolvimento. Sabe-se hoje, diante da diversidade de campos de estudo, que a Psicologia Social é resultado de uma mescla de campos de saber, e que o comportamento social tem sido alvo de estudo de distintas áreas acadêmicas. Sociologia, Antropologia Cultural, Filosofia Social, Psicologia em si... Qual seria a diferença? Ao se considerar a Psicologia Social e a Sociologia, por exemplo, pode-se observar que o que essas ciências têm em comum é o estudo das atitudes e do comportamento individual e/ou grupal. A diferença está em como cada uma aborda seu objeto de estudo. Enquanto na Psicologia o foco se dá acerca de questões mais interindividuais, tais como relações interpessoais, interdependência, etc., na Sociologia, o estudo se dá a partir das instituições propriamente ditas. Na Psicologia Social, o foco é o indivíduo em suas interações sociais, e não nas instituições puramente. Portanto, este Módulo irá mesclar os campos do saber referentes à Psicologia Social, a Psicologia Institucional e a Psicologia Social Comunitária. Recorrendo à Professora Doutora Silvia T. M. Lane (1984), Bock, Furtado e Teixeira (1999; p.147), pode-se afirmar que “toda a Psicologia é social”: “Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social, mas sim cada uma assumir, dentro da sua especificidade, a natureza histórico-social do ser humano. Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas de intervenção, características do psicólogo, devem ser analisadas criticamente à Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 luz desta concepção do ser humano – é a clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolando-o ou fragmentando-o, como se este existisse em si e por si. Também, com esta afirmativa, não se está negando a especificidade da Psicologia Social – ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social. Porém, agora a Psicologia Social poderá responder à questão de como o homem é sujeito da História e transformação de sua própria vida e da sua sociedade, assim como qualquer outra área da Psicologia. A Psicologia Social, nesse sentido, vem “dizer” a pluralidade do ser em “ser no mundo” (o outro é que pontua minha singularidade). Da Psicologia Geral, não se nega, por exemplo, os planejamentos experimentais nitidamente positivistas, e nem a Psicologia Social “aparece” para negar as contribuições daí surgidas. Também a Psicologia Social Clássica, é marcada pela experimentação, pois se interessou em, por exemplo, manipular e controlar atitudes. Dentro desse referencial de sentir/pensar/agir a Psicologia Social, o autor buscou referenciais modernos e pós-críticos, acerca das temáticas, transcrevendo produções pensamento intencionalmente escolhido. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 UNIDADE 2 Conceito de Psicologia Social Objetivo: Conceituar e contextualizar a Psicologia Social enquanto campo de saber da Psicologia. A Psicologia Social, como a maioria dos estudos em Psicologia, teve seu surgimento ligado a raízes filosóficas, se considerarmos os estudos referentes à natureza social do homem e da formação da sociedade. RODRIGUES (1975), em seu clássico “Psicologia Social”, nos aponta, no entanto, que o estudo filosófico nesse âmbito era como que uma fase “pré- científica” à fase propriamente psicológica deste campo. Ele cita, como primeiro trabalho experimental na área, os escritos de Gustave Le Bon, de 1895, acerca do estudo científico dos processos grupais e dos movimentos de massa. O autor segue citando uma lista de eventos e publicações, ao longo do tempo, na Psicologia Social, para posteriormente defini- la. O conceito em RODRIGUES (1975) se refere ao estudo das “manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação” (p.3). Aí, estão inclusas as atitudes de aperto de mão, elogio, sorriso, olhar, etc., comportamentos que suscitam em sujeitos em interação comportamentos ditos sociais. Assim, a interação humana é o objeto de estudo da Psicologia Social. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 UNIDADE 3 Conceito de Psicologia Institucional Objetivo: Apresentar um breve histórico,o objeto de estudo, o objetivo do profissional na análise institucional e o método de intervenção aplicado. Breve histórico Já no início da década de 60, a Psicologia se iniciava enquanto profissão no Brasil. O interesse na área se voltava para recrutamento e seleção, através de testes psicométricos. Na mesma época, na Argentina, Pichon-Rivière e seu discípulo José Bleger desenvolviam uma Psicologia Social que se preocupava com questões relacionadas à chamada psicohigiene e às suas aplicações nas instituições sociais. Esses homens viam a Instituição de uma forma abrangente, não limitando um espaço físico de trabalho para o Psicólogo, mas como sendo um campo em que a própria Psicologia pudesse se achegar à sociedade. O termo Psicologia Institucional foi criado por Bleger. Em sua concepção, este ramo recorre ao que já foi acumulado na História da Psicologia, em se tratando de teoria, método e técnicas. Parte-se do que já se tem para compreender e ampliar as possibilidades profissionais. Ao analisar uma instituição, segundo Bleger, a atenção deve ser centrada no cotidiano institucional, nas relações interpessoais que nela se tecem e no efeito nos que dela participam. Devem ser foco de análise as relações interpessoais, conhecendo e buscando a compreensão das variáveis manifestas e latentes que determinam o comportamento humano nessas relações. Fica clara aqui a visão psicanalista de Bleger. Ao citar a Psicanálise como uma referência teórica, Bleger não afirma a necessidade de se incorporar a Psicanálise, mas sim um pensamento dinâmico necessário para que o profissional possa compreender o comportamento dos seres humanos na vida quotidiana, tanto no âmbito individual como no Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 grupal, institucional e comunitário: compreender as motivações inconscientes, reconhecer os conflitos, os mecanismos de defesa e as ansiedades, e que possa operar segundo esta compreensão com técnicas e procedimentos psicológicos. Objeto de estudo O objeto de estudo e de intervenção para Bleger é a instituição como um todo. Sua administração, seus funcionários, sua estrutura física, os integrantes, etc. Todas estas características devem ser levadas em conta, para que se possa chegar a um diagnóstico e um método de intervenção. Objetivo do profissional na análise institucional O objetivo do profissional de Psicologia, na análise institucional, é a psicohigiene, que vê o ser humano na sua saúde, integração e plenitude com o ambiente que o cerca. Assim, o que se pretende é promover, no ambiente de trabalho, um bem-estar para os integrantes da instituição, o que não implica em inexistência de conflitos, mas na capacitação para que os enfrentem bem. Até porque a instituição é composta por indivíduos e a relação entre indivíduos é conflituosa por natureza. É importante que haja algum grau de dinâmica para que o Psicólogo possa agir. Menor o grau de dinâmica, maior o grau de ataque que o Psicólogo sofre em seu enquadramento pessoal. Se não há um mínimo grau de dinâmica, o psicólogo deve desistir de uma possível intervenção. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 Método Bleger afirma que o método de trabalho na instituição se baseia na psicohigiene. A investigação é o principal instrumento do Psicólogo. Ela se dá a partir do método clínico, utilizando indagação operativa; esta indagação observa os acontecimentos que se dão na instituição, compreendendo o relacionamento entre eles e sua integração, visando uma ação e julgamentos mais efetivos por parte do Psicólogo Institucional. Nessa abordagem, todo e qualquer contato que o psicólogo venha manter com a instituição deve servir como material de análise e fornecer informações úteis que deverão ser recolhidas e avaliadas (por exemplo, a maneira como a Instituição trata o Psicólogo, suas expectativas, fantasias, o grau de “insight” de seus problemas, defesas e resistências frente aos mesmos, e que recursos ela possui para enfrentá-los). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 UNIDADE 4 Processo de Socialização Objetivo: Apresentar o conceito do processo de socialização e as tipologias primária e secundária. Doron e Parot (p. 719) citam que a socialização é: “em processo progressivo e cumulativo pelo qual a criança, no decorrer de seu desenvolvimento, assimila os comportamentos, valores, normas, códigos, papéis, ritos, costumes, convenção e modos de pensamento próprios do ambiente sociocultural”. Nesse processo, o indivíduo torna-se membro de um determinado conjunto social, aprendendo seus códigos, suas normas e regras básicas de relacionamento, apropriando-se do conjunto de conhecimentos já sistematizados e acumulados por um determinado conjunto social. A socialização é um tipo específico de interação - que molda a natureza da personalidade humana e, por sua vez, o comportamento humano, a interação e a participação na sociedade. Sem socialização, nem os homens nem a sociedade seriam possíveis. A socialização se dá por meio de dois processos básicos: o de socialização primária e o de socialização secundária. • Socialização primária é aquela a que se estabelece e se aperfeiçoa na infância em meio a fortes vínculos afetivos. • Socialização secundária é aquela que ocorre nos grupos de interação a partir da escolarização (e não necessariamente, só por meio dela), através de múltiplos procedimentos e de identificação. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 O ideal é dizer que quando uma criança entra para a escola, os pais devem entrar também, na acepção de considerarem que o seu apoio é fundamental, motivador e essencial para a criança. São várias as funções atribuídas à família, como instituição social. É a família que motiva e ocasiona as nossas primeiras relações afetivas e sociais, e onde ocorre a maior parte das aprendizagens que realizamos. A família é uma instituição que proporciona a socialização primária e a educação durante a infância e adolescência. Também são facilmente perceptíveis as diferenças de costumes que existem de uma sociedade para outra. Os primeiros pensadores sociais apontaram, com certa razão, que estes costumes são diferentes em parte por causa da própria diferença entre os meios físicos em que se encontram as sociedades: em um ambiente de clima frio, as pessoas usarão mais roupas e provavelmente ficarão menos tempo fora de suas casas; em um local com alimentos abundantes elas poderão trabalhar menos e não terão de competir por comida. Mas como explicar, através desta ideia de determinismo físico, que em certos lugares a manipulação da comida seja feita com dois pauzinhos, em outros com diversos talheres e ainda em outros com as próprias mãos? Estas diferenças são resultados não da adaptação da sociedade ao meio, mas da adequação dos indivíduos à vida em sociedade. É a este processo de integração de cada pessoa aos costumes preexistentes que damos o nome da socialização. De maneira mais completa, define-se socialização como a internalização de ideias e valores estabelecidos coletivamente e a assimilação de papéis e de comportamentos socialmente desejáveis. Significa, portanto, a incorporação de cada homem a uma identidade maior que a individual: no caso, a incorporação do homem à sociedade. É importante associar de maneira correta a socialização à cultura: esta se encontra profundamente ligada à estrutura social, enquanto que a socialização pode ser resumida à transmissão de padrões culturais. O processo de socialização por excelência é a educação. Mas não somente aquela que adquirimos na escola, a denominada educação formal que consiste, entre outros conhecimentos, no aprendizado da língua e da história do próprio povo. Há outra educação, que se aprendeapenas no próprio convívio com as outras pessoas e que corresponde ao modo como se deve agir em momentos chave da vida. É a socialização através da família, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 dos amigos e até mesmo de desconhecidos. As famílias ensinam, a título de exemplo, quais das suas necessidades devem ser atendidas pelo pai e quais devem ser atendidas pela mãe. Com os amigos aprende-se os princípios da solidariedade e a importância da prática de esportes. Com desconhecidos pode-se aprender a aguardar a vez em fila, sem atropelos, e a não falar alto em locais como o teatro ou a sala de aula. Outro exemplo claro é o caso de um homem que muda de país e que tem de aprender o idioma e as normas da nova sociedade em que se encontra, isto é, os padrões segundo os quais seus membros se relacionam. Vista dessa maneira, a socialização pode ser interpretada como condicionadora das atitudes e, portanto, como uma expressão da coerção social. Mas a socialização, justamente por se realizar de maneira difusa e fragmentada por diferentes processos, deixa alguns espaços de ação livres para a iniciativa individual espontânea, como a escolha dos amigos, do local onde se deseja morar ou da atividade que se quer exercer. Se existem diferentes processos de socialização, tanto entre sociedades quanto dentro de uma mesma, é possível atribuir a eles limites e graduações. A socialização na esfera econômica induz ao trabalho, mas não a que tipo de trabalho. Aprende-se a respeitar os mais velhos, mas nada impede a repreensão de um setuagenário que solte baforadas de charuto em alguém. Há a possibilidade de identificarmos indivíduos mais ou menos socializados, isto é, mais ou menos integrados aos padrões sociais. Uma pessoa pode ser um ótimo arquiteto, ao mesmo tempo em que é alcoólatra. Uma pessoa pouco socializada não absorveu completamente os princípios que regem a sociedade, causando frequentemente transtornos aos que estão à sua volta. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 UNIDADE 5 Grupos e Organizações Sociais Objetivo: Entender o surgimento dos grupos e organizações sociais e o trabalho grupal. O homem, desde os primórdios de sua existência enquanto ser social e constituinte de grupos, sempre realizou e organizou suas atividades a partir de certas condições de sobrevivência necessárias à perpetuação desses mesmos grupos. Ainda que de forma bastante rudimentar, essas condições implicavam em regras de conduta, normas, padrões de comportamento aceitos pelo grupo como um todo (TOLEDO, 1999). No senso comum, um grupo é constituído por um conjunto de pessoas que se reúnem em um determinado espaço de tempo e lugar, tendo um objetivo em comum. Contudo essa representação deixa de contemplar algo que é essencial na constituição de um grupo, que é o que o diferencia de uma serialidade, no sentido de que cada indivíduo numa série seria equivalente ao outro e sem diferenciação. Numa série pressupõe-se uma não relação entre as pessoas, um não vínculo. Pois bem, quando, no contexto deste Módulo for feita qualquer referência a um grupo, a concepção adotada é a de grupo advinda da Psicologia Social, na qual os estudiosos no campo grupal explicitam que o que diferencia um grupo de uma série é justamente “estar em interação e partilhar normas na realização de uma tarefa”. Segundo PICHON (1988), é justamente a concepção de vínculo que diferencia a sociabilidade por interação no campo grupal. Trabalho de intervenção com Grupos O lugar ocupado, hoje, pela Psicologia Social e o profissional de Psicologia, está diretamente associado à trajetória histórica dessa profissão, apontando para uma origem vinculada à Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Medicina, que tem como principal objetivo a cura de doenças e como método o atendimento ambulatorial em nível individual. As práticas já institucionalizadas veem a atuação do psicólogo como muitas vezes atuante somente no individual, no intrapsíquico, perdendo de vista que a subjetividade se vincula ao campo político. Não que se pregue o abandono das técnicas individuais e se trabalhe somente em instituições, mas que não se desvincule sua prática do cunho político-social que são intrínsecos a uma atuação do que RAUTER (1995) chama “trabalho político”. Em pesquisa realizada junto à Prefeitura Municipal de Vitória, no Espírito Santo, por BASSANI (1995), os dados obtidos reafirmam esse fato. Ela demonstrou que a atuação dos psicólogos limitava-se quase exclusivamente ao atendimento individual em nível ambulatorial, havendo, por parte desses profissionais, uma grande dificuldade em desenvolver práticas alternativas. Constatou-se, ainda, a existência de um modelo assistencial próprio da Psicologia Clínica, sendo as atividades desenvolvidas uma transposição do consultório da clínica particular para o consultório no Serviço Público, o que mostrou certa desconsideração das peculiaridades do público atendido. Mais uma questão a ser discutida é a de se utilizar o trabalho com grupos partindo do pressuposto de que, assim, se atinge um número maior de pessoas a serem atendidas. O trabalho não pode ser “por pacotes”; se a atuação é em grupo, que se tenha um motivo para justificar tal modo de intervenção. Sabe-se que a demanda é grande, mas não simplesmente por isso se justifica uma prática grupal: “O atendimento em grupo deve, sim ser realizado quando ele for a melhor indicação técnica para o caso e não deve ser usado, apenas, para dar conta da grande demanda.” (CARVALHO, 1990:2) Além do que muitos grupos são formados em função de um tema comum aos indivíduos, principalmente em saúde pública. No entanto, o trabalho em grupo deve levar em consideração inúmeros outros aspectos para que se consiga bons resultados. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 UNIDADE 6 A Teoria de Grupos Operativos Objetivo: Apresentar a Teoria de Grupos Operativos de Pichon-Rivière, bem como sua concepção particular de grupos. A teoria dos grupos operativos foi elaborada por Pichon-Rivière, na década de 50, quando trabalhava em um hospital psiquiátrico, na Argentina. Utilizou como referenciais teóricos a Psicanálise e as dinâmicas de grupo. O pensamento psicanalítico influenciou a observação e a análise dos grupos com os quais vinha se relacionando, mesmo antes de seu ingresso na faculdade de Medicina. Grupo, para Pichon-Rivière, seria: “um conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui sua finalidade.” (CARNEIRO, 2002) Os grupos operativos passaram então a ser concebidos como “grupos centrados na tarefa”, nos quais as relações cotidianas e os vínculos se reproduzem. Segundo Zimerman, existem quatro campos que são cobertos pelos grupos operativos: ensino-aprendizagem, institucionais, comunitários e terapêuticos (ZIMERMAN, 1997). A denominação específica ao grupo operativo dependerá do tipo de tarefa que se está realizando. Caso a obtenção de cura seja a tarefa de um grupo, podemos chamá-lo de grupo terapêutico. Por outro lado, se esta tarefa tratar-se de aquisição de conhecimentos se estará diante de um grupo de aprendizagem. Embora sejam feitas tais distinções, PICHON-RIVIÈRE (1988) afirma que não existem, em essência, diferenças entre os propósitos terapêuticos e de aprendizagem. A principal tarefa de um grupo operativo é a resolução de situações estereotipadas e a obtenção de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 mudanças. Sendo assim, a distinção entre estas modalidades de grupos operativos não tem justificativa, tendo em vista que todo grupo é capaz de promover o aprendizado denovas formas de se relacionar, assim como todo grupo de aprendizagem é capaz de propiciar resoluções de conflitos interpessoais. Como cita OSÓRIO (2000), “(...) apesar de não termos consciência, na medida em que estamos aprendendo, estamos abandonando formas estereotipadas de ver a realidade, como se observa num processo terapêutico. Ao mesmo tempo, a resistência a curar-se pode ser entendida como uma perturbação da aprendizagem. Fica evidente, desta maneira, que todo o grupo operativo é terapêutico, mas nem todo grupo terapêutico é operativo”. Trabalhos de Grupos Operativos são largamente utilizados como adjuvantes no tratamento de pessoas com doenças orgânicas consideradas crônicas. Desse modo, em diversas instituições médicas têm sido formados grupos operativos com portadores de diabetes, nefropatias, tuberculoses, hipertensão arterial, etc. A ideia de tarefa Pichon-Rivière trouxe de Bion. Nela, percebeu dois níveis: o implícito e o explícito. O nível explícito está representado pelo trabalho produtivo (como resultante e resultado da própria planificação) cuja realização constitui a razão de ser do grupo – no caso, educação alimentar, administração de medicamentos, etc. O nível implícito consiste na totalidade das operações mentais que os membros do grupo, conjuntamente, devem realizar para constituir, manter e desenvolver a sua grupalidade em torno da tarefa explícita. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 UNIDADE 7 Momentos do Grupo Operativo Um grupo em tarefa desenvolve-se em três momentos: pré-tarefa, tarefa e projeto: • Na pré-tarefa se evidenciam condutas (ansiedades) indicativas de resistências às mudanças. • Na tarefa, o grupo, ao mesmo tempo em que elabora essas ansiedades, faz a abordagem planificada do objeto de conhecimento, ou seja, realiza a produção grupal. • O projeto surge assim como inerente à tarefa. Conscientemente, ele se dá quando os membros do grupo têm conhecimento de que pertencem a uma grupalidade específica, com objetivos também específicos. O projeto se concretiza na elaboração, geralmente por escrito, de um plano de trabalho. O trabalho com grupos operativos pressupõe, inevitavelmente, um processo de mudança. Todo e qualquer processo de mudança suscita movimentos opostos ou resistência. Em sua análise, Pichon-Rivière (1988) constata que estas tendências à resistência a mudança provém de dois medos básicos presentes nas patologias e a cada início de nova tarefa: o medo à perda e o medo ao ataque. Estes medos podem representar obstáculos importantes, se não forem superados, para dar início ao processo de mudança do grupo. (ZIMERMAN, 1997). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 UNIDADE 8 Os Papéis Assumidos em Grupos Sociais Objetivo: Compreender as relações humanas que se estabelecem a partir dos diferentes papéis assumidos nos grupos sociais. Foi nas atividades e análise de grupos que Pichón desenvolveu os conceitos de verticalidade e horizontalidade. O primeiro se trata da história pessoal de cada integrante, história essa que faz parte da determinação dos fenômenos no campo grupal, por horizontalidade entende-se como a dimensão grupal atual, elementos que caracterizam o grupo. A intersecção entre a verticalidade e a horizontalidade dá origem aos diferentes papéis que o indivíduo assume no grupo. Os papéis se formam de acordo com a representação que cada um tem de si mesmo que responde as expectativas que os outros têm de nós. Existem papéis que são formalmente estabelecidos, e outros que são informais. Quanto aos papéis formalmente estabelecidos, ou seja, aqueles que o grupo formaliza durante o planejamento de suas tarefas, a Escola de Psicologia Social fundada por Pichon- Rivière define duas modalidades: coordenador e observador da dinâmica grupal. • O coordenador tem como função refletir com o grupo sobre a relação que os seus integrantes estabelecem entre si e com a tarefa prescrita. Coordenar o pensar e o trabalhar; dar condições de estar atento ao esquema referencial estruturado no momento, permitindo-lhe, assim, regular um nível ótimo da ansiedade grupal e, em consequência, facilita o posicionamento e a decisão de todos. • O observador é geralmente não participativo, e sua função consiste em recolher todo material verbal e não verbal expresso no grupo, com o objetivo de “realimentar” o coordenador facilitando a utilização das técnicas de condução. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 Além desses papéis formais, a plasticidade da técnica do GO permite que, dependendo de necessidades circunstanciais, outras funções sejam formalizadas – supervisor, orientador de atividades especializadas etc. Em nível informal, constata-se a manifestação de vários papéis no campo grupal, destacando-se o papel do porta-voz, bode expiatório, líder e sabotador. Esses papéis informais surgem espontaneamente, no cotidiano das atividades planejadas. Isto é, trata-se de papéis relacionados aos chamados fatores humanos da tarefa. O líder é aquele indivíduo que no acontecer grupal se faz depositário dos aspectos positivos, tornando-se uma espécie de direcionador das diversas atividades desenvolvidas pelo grupo. O porta-voz é o membro que, em um dado momento, denuncia as fantasias, as ansiedades e as necessidades de autonomia e totalidade do grupo. Nele, se conjugam o que Pichon- Rivière chamou de verticalidade e horizontalidade grupal. Entendendo-se por verticalidade aquilo que se refere à história pessoal do sujeito que emerge como porta-voz, e por horizontalidade o processo atual que acontece no aqui e agora da totalidade dos membros de seu grupo. O bode expiatório, ao contrário do líder, se faz depositário dos aspectos negativos e aterrorizantes da tarefa ou do grupo. Nessas situações, aparecem os mecanismos de segregação que fazem com que este membro seja isolado das atividades em andamento. Para o surgimento do “bode expiatório”, devem contribuir os fatores presentes no grupo e certas características do próprio indivíduo. O grupo ataca o bode expiatório por medo de atacar a causa real. Joga, portanto, em um indivíduo, ou em um grupo, a culpa, a raiva e a agressão que objetivamente deveriam ser dirigidas para outro alvo. Esses sentimentos são geralmente confusos, uma vez que eles se originam de outra fonte de tensão, e não efetivamente da pessoa ou grupo que está sendo atingido. O sabotador é um representante das forças (geralmente externas, mas também internas) que se opõem à tarefa grupal. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 Em termos pragmáticos, o funcionamento de um GO é considerado ótimo quando os líderes são valorizados, o porta-voz é escutado, o surgimento de bode-expiatório é evitado, e o sabotador é denunciado através de mecanismos como interpretação e/ou assinalamento da sua ação de sabotagem. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 UNIDADE 9 Vivendo em Grupos Objetivo: Dar aplicabilidade aos conceitos desenvolvidos nas unidades anteriores, acerca dos grupos sociais. Texto introdutório: Olhos que veem (Ássima Maria Ferreira) “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. (Livro dos Conselhos) No romance “Ensaio sobre a cegueira”, o escritor português José Saramago fala de uma epidemia de cegueira súbita, uma “treva branca”, que vai acometendo as pessoas e espalhando-se de maneira incontrolável. E de uma multidão de cegos colocados em quarentena, entregues a si próprios, tateando e tropeçando maneiras de permanecerem vivos. Um relato contundente de seres humanos reduzidos às necessidades mais básicas. Seres sem olhos que veem, sem nomes (de que lhes valeria o nome naquelas circunstâncias?), corpos apenas, cheiros miseráveis pela falta de alguém que lhesajude a limpar a sujeira. Em luta entre si pela comida insuficiente, ameaçadas de doença e de morte, num profundo desamparo. Diante de condições tão adversas, o possível ou desejável seria a ajuda mútua, a cooperação, a unidade em torno do mal comum. Mas, surpreendentemente, cada um toma seu lugar e dele não se desloca, todos presos em suas necessidades; somente, medrosos, ameaçados, defensivos, cegos uns para os outros. Surge assim a tentativa de alguns poucos cegos de subjugarem e submeterem aquela multidão ao seu poder, através dos meios mais ilícitos e desumanos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 Saramago, através da narrativa imaginária e do realismo fantástico, coloca os homens de frente com o real de todo dia. “Obriga-os a parar, fechar os olhos e ver”. Ver a si próprio, os outros e as coisas, condições básicas em nossas vidas. Como os cegos de Saramago, temos olhos que não veem. Esbarram e, em alguns momentos, tropeçam no outro, sem enxergar-lhe o rosto, as feições, sem reconhecer-lhe um nome... Esbarram como se fosse um objeto qualquer... A humanidade está perdendo a dimensão do reconhecimento do outro, da capacidade de ser empáticos, de prestar atenção em necessidades tão básicas. Continua-se com olhos que não veem a urgência da expressão do afeto, da ternura, da acolhida, do ouvir. Sem cuidados ou um mínimo de respeito e cortesia. Com um desejo de que o outro não estivesse ali a atrapalhar-lhe o caminho, a tomar-lhe o tempo. Muitas vezes, se desviam. Têm-se vivido relações cegas. Sem perceber os sentimentos alheios, sem ouvir as dificuldades do outro; suas dores ou alegrias. Sem valorizar acertos, sem conversar sobre dúvidas, incertezas e angústias... Pois tudo isto exige disponibilidade, cuidados, tempo, gestos de ternura que não aprende a fazer. Trabalhando com pessoas nas organizações, percebo que grande parte dos conflitos, das tensões e angústias, da perda da autoestima, das doenças do corpo e do coração, está ligada à necessidade básica do humano, que é a de ser visto e reconhecido como pessoa, em todas as suas dimensões. As relações nos grupos de trabalho são superficiais, permeadas por medos, defesas, falta de empatia, disputas pelo poder e comportamentos pouco solidários e cooperativos, o que transforma as pessoas, provocando dificuldades de falarem de si mesmas e de falarem para o outro. Fala-se dos outros, do tempo, do futebol e de política com muita facilidade. Porém, quase nunca se fala para o outro. Com a falta de reconhecimento e valorização dos acertos e realizações, as pessoas vão se distanciando, as relações se enfraquecem, a confiança se esvai. Gastos inúteis de energia em comportamentos defensivos, mediocridades, egoísmos, ruminações e pessimismos. E surgem aí as justificativas mais banais: “Eu sou assim mesmo”, “Isso é da natureza humana”, “As empresas e o ambiente de trabalho em qualquer lugar são dessa forma”; ou Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 “As pessoas não conseguem mudar”. Argumentos que justificam a apatia, a insensibilidade em relação às emoções próprias e às do outro, a desconfiança, a cegueira, a pouca disponibilidade ao outro, como pessoa. E a mesma situação se repete em famílias, cujos componentes vão perdendo a atenção para com o companheiro, as manifestações de ternura, a ajuda mútua, a cumplicidade do cotidiano. Se perdendo em ansiedades e angústias, agressões e desrespeitos, exigências e reclamações. O homem está esquecendo de que também é da essência humana, e só dela, a possibilidade de “criar futuros possíveis”, de fazer diferente, de não precisar repetir. É da natureza humana, e só dela, a capacidade de dar sentido e significado à existência, às emoções. Perdendo a oportunidade de utilizar a capacidade humana de falar, de ouvir, de sentir e de ver. Não se está tratando aqui de mudanças grandiosas e fantásticas, mas sim da possibilidade do ser humano se ver e, ver o outro, como “complexos, frágeis, finitos e singulares”. Da possibilidade de expressão da ternura, dos gestos de afago e acolhida, da busca de compreensão em momentos de raiva e frustração. Porque o ser humano é frágil e necessita de ajuda. E enquanto ainda há tempo e vida. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 Leia todo o texto para ter uma visão global do tema. Faça uma segunda leitura de forma interpretativa. Após as leituras, responda às seguintes questões: 1. O que leva as pessoas a terem “olhos que não veem”? 2. Qual a mensagem que o autor quer transmitir ao dizer: “criar futuros possíveis”? 3. Faça uma comparação entre o conteúdo da mensagem do texto e a realidade vivenciada em sua família, escola e ambiente de trabalho, apresentando os possíveis caminhos para a mudança desse ambiente. 4. Quais as consequências para a sociedade, e para os seus indivíduos, se todos tivessem “olhos que não veem”? Um grupo social será formado sempre que se tenha um objetivo comum entre os indivíduos, ou seja, quando não há objetivo comum, portanto, não se pode dizer que se tem um grupo social, mas sim um agrupamento de pessoas. Os grupos sociais existentes são os mais diversos - Família: pais, filhos, parentes... - Grupos de trabalho. - Grupo de encontros informais. - Grupo do clube de esportes, etc. Os grupos sociais ainda recebem classificações como: a) Se um grupo for planejado, ou premeditada a sua formação, o chamaremos de “grupo organizado”. Ex. amigos do bairro, time de futebol, família, etc. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 b) Se um grupo for formado ocasionalmente, sem intenção “de”, chamamos de “grupo involuntário”. Ex.: crianças que se reúnem em um parque de diversões, pessoas que esperam uma condução no “ponto de ônibus”, etc. Se fosse possível a uma pessoa do planeta Marte observar os habitantes deste planeta Terra, provavelmente ficaria impressionada em constatar a quantidade de tempo em que as pessoas passam juntas, em grupos. Constataria, possivelmente, que as pessoas nascem e vivem em grupos relativamente pequenos e que os membros moram na mesma casa para atender às suas necessidades básicas, dependendo da mesma fonte para subsistência econômica, para educação dos filhos e cuidar da saúde. Observaria ainda que a educação e a socialização dos filhos ocorrem geralmente em grupos maiores, formados pelas escolas, pelas igrejas, pelos clubes e outras instituições sociais. Ainda poderia observar que a maioria do trabalho e das atividades é realizada em grupos, com grande dependência dos membros entre si. É bem possível, ainda, que o habitante do planeta Marte observe, com certa surpresa, que os habitantes desta Terra nem sempre se integram perfeitamente, faltando-lhes o necessário clima social, por causa dos problemas de relacionamento. Onde se encontra mais de uma pessoa, há realmente problemas de relacionamento. Partindo do princípio de que o indivíduo é um ser social e que a coexistência é a estrutura das relações humanas, raras vezes alguém para e observa o que está acontecendo num grupo, e dificilmente analisa o comportamento grupal. Inconscientemente, talvez a conduta da pessoa nem sempre atenda às exigências e observações dos membros participantes; criando uma situação constrangedora ou mesmo conflitante. O importante é buscar maior abertura, tirando as barreiras que impedem uma verdadeira comunicação pessoal por causa de tantos preconceitos e condicionamentos que geralmente angustiam as pessoas em relação às outras. É preciso despertar nas pessoas o sentido da solidariedade, adormecido pelo individualismo e pelo egoísmo. Também se apresenta como fundamental a necessidade de afastamento da frieza, do indiferentismo, da agressividade, do desejo de dominação, do Copyright © 2007, ESAB– Escola Superior Aberta do Brasil 30 tratamento da pessoa como objeto, respeitando assim as pessoas como realmente são, com suas limitações, suas deficiências, suas habilidades, suas tendências positivas e negativas. O homem é essencialmente um SER para os demais, um SER em relação, que depende dos demais e feito para os demais. Disto, em geral, as pessoas não têm consciência, mas é algo que não se adquire a não ser pela vivência. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 UNIDADE 10 Grupo de Trabalho Objetivo: (Continuação da unidade anterior) Dar aplicabilidade aos conceitos desenvolvidos nas unidades anteriores, acerca dos grupos sociais “Penso, logo existo” (Descartes). Talvez esta seja ainda a melhor definição de ser humano, que muitas vezes abnegamos. O ser humano parece ter se esquecido de como tomar decisões. Logo agora que o mundo, o mercado e a sociedade exigem isso dele, a cada segundo. Não é apenas em grandes decisões que é preciso pensar, principalmente quando se faz parte de uma organização corporativa onde, cada pessoa, em cada função, é importante para a obtenção de resultados positivos. A época em que o trabalhador realizava uma única função e ia embora, não cabe mais dentro do novo cenário econômico e social. O mundo global de hoje exige que a pessoa seja crítica, contestadora, reflexiva, analisadora de situações, empreendedora e, o mais importante, parceira e responsável; por ser o que é e o que representa. Aquele profissional executor de tarefas está sendo transmutado para dar lugar a um profissional inteligente, eterno aprendiz, socialmente ativo, opinativo, parceiro... Enfim, um ser em pleno desenvolvimento, em toda e qualquer idade. Agindo de tal forma, é fácil perceber o poder que tem de se tornar no que quiser; de crescer junto com o outro, junto com a empresa, de ser colaboradora dos colaboradores. Transformar as atividades produtivas em atividade de criação. Questionamento e decisão é a chave para a evolução profissional. É muito importante questionar; contribuir com o todo, ter paixão pela construção – mais pelo processo do que pela obra em si. Em um futuro não muito distante, as grandes corporações se tornarão grandes centros de conhecimento, de geração de ideias, de proposições sociais. Nessa corporação, cada um Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 terá um papel muito importante a cumprir, assumirá mais responsabilidades, terá mais acesso a conhecimento e, por isso, será mais exigido. Essa realidade já vem acontecendo, não como uma revolução – tudo de uma vez – mas como evolução, aos poucos e com consistência. Enquanto isto é preciso repensar valores, projetos, questionar que tipo de pessoas e profissionais se quer ser e o que se está fazendo para atingir este ideal e promover o crescimento coletivo. E, para a promoção deste crescimento surge a necessidade da formação de grupos de trabalho, grupos esses que podem ser manifestados como Equipe ou Time de trabalho. • Equipe - Conjunto ou grupo de pessoas que se aplicam a uma tarefa ou trabalho. • Time - Conjunto de indivíduos associados numa ação comum, com vista a determinado fim. Mas qual será a diferença entre Equipe e Time de Trabalho? Se Trabalho é a representação do resultado da ação de esforço na aplicação de uma atividade então será necessário constituir uma Equipe ou Time de Trabalho. Uma Equipe de Trabalho é fundamentada na existência de um conjunto ou grupo de pessoas que se aplica no desenvolvimento de uma tarefa ou trabalho. Os membros de uma equipe possuem algum envolvimento e compromisso com a filosofia e resultado final da tarefa desenvolvida. São indivíduos, liderados por um responsável que retém e transmite informações das etapas do trabalho, envolvidos com o desenvolvimento de determinadas tarefas, que somando, completam o todo do trabalho. Um Time de Trabalho é fundamentado em um conjunto de indivíduos, que associados buscam uma ação comum, com determinado fim. Os membros de um time têm conhecimento de todas as informações, etapas e filosofias do trabalho a ser realizado. São indivíduos liderados por um responsável, que procura integrar o grupo às tarefas a serem desenvolvidas, buscando motivar, empreender e envolver o senso de responsabilidade e emocional de cada indivíduo no trabalho. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 As diferenças entre uma “Equipe” e um “Time de Trabalho” talvez esteja na apresentação dos conceitos e forma filosófica de empreender um trabalho ou atividade profissional. A atividade, na Equipe é a busca por um resultado, geralmente setorial. Enquanto no Time de Trabalho, é a busca do resultado globalizado, com comprometimento e visualização da atividade total de todos os membros do grupo. O grupo em uma Equipe é setorial, buscando realizar a atividade designada e formalizada onde há preocupação pela atividade do setor e insuficiente conhecimento e envolvimento com a atividade total. São indivíduos ensimesmados ou empenhados em realizar sua fatia na atividade. Já no Time, a participação do indivíduo é global, buscando compreender qual é o papel de sua atividade no conjunto do todo no resultado final. Há o empenho, satisfação e participação de cada membro do grupo. A liderança de uma Equipe é designada pelo conhecimento e empenho no desenvolvimento da atividade. No Time há o papel de responsável pela atividade, podendo ser a liderança exercida por todos os membros do grupo demonstrando grau de interação, motivação e envolvimento com a atividade, gerando uma liderança motivada, informada e equilibrada, que tem e mantém ações que interagem indivíduos e resultados. O conceito de Equipe é mais antigo, o de Time é mais recente. Entre os dois conceitos, o segundo, por ser mais moderno e envolver a capacidade de adaptação do ser humano à visão empresarial e social, consegue satisfazer melhor a necessidade de papéis dentro de um grupo e atividade. A forma para definir e escolher a melhor maneira de trabalhar o grupo, em uma empresa ou local de trabalho, depende muito do relacionamento profissional/empresa e vice-versa. Atualmente, muitas são as empresas nacionais e multinacionais, governamentais ou particulares, que estão preocupadas em adaptar-se ao conceito de time de trabalho, procurando investir mais em programas de desenvolvimento, treinamento e aperfeiçoamento, tanto a nível profissional como pessoal, formando recursos humanos que conheçam técnicas Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 conceituais e práticas para desenvolver atividades em grupo com maior envolvimento e conhecimento das atividades da empresa. As empresas, envolvidas com prestação de serviços ou de produção de mercado, já reconhecem como satisfatório o investimento em recursos humanos significando ter retorno certo e seguro, a curto e médio prazo, uma vez que a capitalização no indivíduo repercute nos resultados finais da empresa. Por outro lado, o indivíduo reconhece favoravelmente esta qualificação e procura estreitar sua relação com a empresa, buscando aprimorar e desenvolver seu papel com maior e melhor qualidade. Fato mensurável e comprovado pelos resultados finais de sua atividade. Preparando um time de trabalho, tem-se um comprometimento maior por parte de todos os membros para melhorar o modo de realização do trabalho e o relacionamento interpessoal, para que melhores resultados sejam ressaltados, obtidos e atingidos, e, consequentemente a qualidade será fortalecida, pois novos conceitos, métodos e índices de produtividade serão implantados. As características do time estão relacionadas à sua maneira conjunta de visualizar objetivos e a produção do trabalho, seguindo sólidos atributos de: • Mecanismos de trabalho – conduzindo discussões para chegar a um acordo sobrecomo serão organizadas e realizadas tarefas específicas; • Liderança efetiva – usando o senso de propósito e atitudes assegurando os objetivos, e se compartilhada entre os membros, todos estarão comprometidos com o resultado final; • Relacionamento interpessoal – usando princípios primordiais e básicos (confiança; cooperação e participação no processo de troca de informações, sentimentos e opiniões) para um grupo se estará pactuando, informalmente e abertamente por todos, a manutenção permanente do bom relacionamento interpessoal, • Relacionamento com a empresa – usando a visão macroorganizacional (conhecimento geral da atividade da empresa), fundamental e necessária para qualquer time, é que Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 procurará conhecer como e onde suas tarefas específicas comprometem e cooperam com objetivos de outros times e com a organização. Todo e qualquer investimento na formação de um time de trabalho poderá levar tempo, significando dedicação de tempo e esforço na avaliação e análise do grupo de trabalho e o desenvolvimento das etapas da atividade. Um investimento em que os resultados são aprimorados a cada dia tendo um grupo mais sincronizado, preparado e apto para desenvolver tarefas com maior e melhor qualidade com uma visão micro e macro organizacional, onde haverá satisfação na relação profissional/empresa e vice-versa, e, talvez o mais importante: UM GRANDE E FIEL TIME DE TRABALHO! Antes de dar continuidade aos seus estudos é fundamental que você acesse sua SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 UNIDADE 11 Psicologia Social e Psicologia Comunitária Objetivo: Apresentar os conceitos da Psicologia Social e Psicologia Comunitária. O que é e como é a Psicologia Social? O que é Psicologia? Esta primeira interrogação é inevitável não só para os que estão iniciando nos seus estudos, como é pré-requisito para, mais adiante, procurarmos compreender, e como é que se sente/pensa/faz a Psicologia Social. Alguns conceitos: “A Psicologia Social, é uma parte da Psicologia Científica, que procura estudar o sujeito (a pessoa) como um ser social. Ou seja, um sujeito “ser-mundo”. Estuda a interdependência desses “atores sociais”, o impacto sujeitos/sociedades. Este constitui foco específico de análise da Psicologia Social. O objetivo é compreender o sujeito e suas relações sociais, tanto naquilo em que ele é singular (específico), como naquilo em que ele é manifestação grupal e social, pluralidade do ser em ser. Quando se diz “ser-no-mundo”, se quer pontuar que, na Psicologia Social, da qual se está falando. “(...) eu sou, à medida que o outro existe no ser-do-mundo. O olhar do outro revela-me: eis a minha singularidade, ela é construída pela pluralidade do ser e do mundo” (Hiran Pinel, 1988; p. 3) “Psicologia Social é a área da Psicologia que procura estudar a interação social”. (Aroldo Rodrigues, 1972; p. 3). “ (...) a Psicologia Social é o estudo das “manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela expectativa de tal interação.” (Aroldo Rodrigues, 1972; p. 3). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 Psicologia Social é uma ciência que estuda o “comportamento dos indivíduos enquanto tais, situados no campo social, influenciados por ele, mas, também, a ele reagindo e mesmo transformando-o. Por exemplo, o estudo do líder mostra que a posição do indivíduo dentro do grupo determina, ao menos em parte, a função de condutor, de guia. Servindo-se dos dados da Antropologia Cultural, da Psicologia, da Sociometria e da Estatística, essa disciplina, de criação recente, tem um caráter comparado, experimental e aplicado”. (Dicionário de Psicologia da Larousse, s/d; p. 323). “O interesse da Psicologia Social volta-se não apenas para o homem concreto, encarado em seu campo social, influenciado pela cultura de seu grupo, pelas condições socioeconômicas, geográficas etc., mas também para as suas relações com o próximo”. (Larousse, s/d; p. 323). Segundo a Larousse (s/d; p. 323), A Psicologia Social, estudando e investigando “os fenômenos de massa (opiniões, preconceitos, moda, rumores)” etc. Inclui-se nessa linha de interesse, a utilização de técnicas de pesquisa, situadas no âmbito dessa ciência, objetivando, por exemplo, descrever e compreender a “opinião pública” por meio de técnicas como: inquéritos, entrevistas, questionários etc. Também são técnicas muito utilizadas pela Psicologia Social: o sociograma e as escalas de atitudes. “As trocas e relações sociais, a interdependência entre as pessoas, como um tipo de encontro social, são os objetos, investigados por essa parte da Psicologia”. (Hiran Pinel, 1988; p. 6). “Psicologia Social é o ramo da Psicologia particularmente interessado na natureza e na forma da interação social e no modo como as pessoas influenciam o comportamento uma da outra”. (Stratton e Hayes, 1994; p. 190). Nesse sentido, esse ramo do saber estuda fenômenos sociais como a conformidade, obediência não verbal, desobediência civil etc. Também, é do seu interesse, a cognição social, estudando a percepção social, atitudes e atribuição (“lócus” de controle: onde “eu” me coloco; ou, em que lugar está o controle do que eu sinto, penso e atuo? Em mim? No outro? “Lócus” de controle externo? “Lócus” de controle interno? Ora em mim, ora no outro. Dependendo das circunstâncias? Em ambos? etc.). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 Nos últimos anos, a investigação tem se desenvolvido entre o problema centrado no individualismo, alguns dizem, descrevem Stratton e Hayes (1994), um modo de ver o homem em si - mesmo, reduzindo-o a este micro/existir (reducionismo). Esse reducionismo encontra oposição, naqueles Psicólogos Sociais, que enfocam seus estudos nos fenômenos grupais (grupos). Essa abordagem, a grupal, “é uma forma de Psicologia Social altamente contextualizada que se tornou conhecida pela Psicologia Social europeia (a reducionista encontrou apoio nos Estados Unidos da América) e que inclui o estudo da identificação social, representações sociais e atribuição social” (Stratton e Hayes, 1994; p. 190). A Psicologia Social para Brunner e Zeltner (1994) tem por objetivo de estudo a vida e os comportamentos humanos enquanto resultado de base das interações sociais. “O fato de se definir o comportamento humano como social inclui também o conhecimento de que o ser humano, em dadas condições naturais do meio ambiente, só pode viver em interação com os outros. Consequentemente, todo processo típico individual (funções, forças etc.) pode ser considerado sob o ponto de vista da dependência das interações sociais e de seus resultados. De outro lado, estes processos sociais e seus resultados só se tornam possíveis através do comportamento individual” (p. 216). As interações sociais, nesse sentido, de Brunner e Zeltner (1994), manifestam-se como processos de influência, que visam à modificação do comportamento e da vida de outras pessoas. Então, nesse amplo contexto, é de se constatar a “riqueza” da Psicologia Social, com seu vasto campo de interesses, cujo trabalho (de pesquisa) é determinado por várias técnicas, predominando os métodos de pesquisa analítico-indutivos. Entretanto, com o seu crescimento, a Psicologia Social recorreu a outros ramos do saber, e muitas vezes “desenvolveu de forma autônoma” (Brunner e Zeltner, 1994; p. 216) alguns dos seguintes modelos teóricos: Teoria Comportamental, Psicanálise, Teoria Cognitiva, Teoria Gestáltica, Teoria dos Papéis, Teoria das Atitudes, Teoria de Campo, Cibernética, Abordagem Centrada na Pessoa, Pedagogia do Oprimido (Paulofreireana), o Existencialismo Frankliano, Corporeidade, Auto-organização, Linguística,Transdisciplinariedade, Ética, Política, Epistemologia, Conceitos de Rede, Teoria do Caos, Autopoieses, Holísmo, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 Inteligências Múltiplas, Rizoma, Sociedade Aprendente, Vida, Sentido da Vida, Gestalt, Sistemas Complexos, Pós- Racionalismo, Marxismo, Subjetividade e Intersubjetividade, etc. As áreas principais da Psicologia Social, descritas por Brunner e Zeltner (1994) são: processos, formas resultados da socialização; aquisição e modificação de atitudes; interações sociais e sua influência sobre a percepção e o julgamento; estrutura e funcionamento dinâmico dos grupos; relações entre grupos e o desenvolvimento, e planejamento, execução e avaliação de teorias e instrumentos de medição no âmbito das áreas citadas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 UNIDADE 12 Psicologia Tradicional x Psicologia Social Comunitária Objetivo: Diferenciar a Psicologia Tradicional da Psicologia Social Comunitária. A partir da leitura do excelente texto de Vasconcelos (1985), tanto na qualidade quanto no plano didático visual, definir se esta ou aquela, para meu “ser psicólogo”, irá depender basicamente das tarefas que eu faço; como eu faço, a quem eu realmente atendo e tenho compromisso político, referencial teórico etc. É comum, encontrar dois psicólogos na mesma ONG, por exemplo, desenvolvendo tarefas “aparentemente” semelhantes, mas em se autodenominar ‘social comunitário’, o outro ‘comunitário’, o outro social, o outro ‘psicopedagógico’, o outro ‘escolar’, o outro ‘educacional’, o outro ‘clínico’, o outro do trabalho. O Psicólogo é um profissional especializado, mas eclético (e isto quer dizer ‘psicólogo de qualidade’, pois aberto a todos os ‘espaços’ do existir humano, mesmo, que ele opte, ou tenha sido socialmente incentivado, a trabalhar com laboratórios de Psicologia Experimental), e habilitado a trabalhar com saúde mental, ou seja, com os aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores do ‘ser’ humano. Tanto nos planos preventivos; terapêuticos; diagnósticos; individual; grupal; institucional etc. A quem afirme que, as “especialidades” criadas pelo Conselho Federal de Psicologia foram criadas como uma forma de “protesto” contra o sistema educacional, que se opõe a toda formação generalista, ‘fragmentando-a, já na ‘graduação’. O correto não seria a ‘fragmentação’, no sentido de que o Estado acaba perversamente ‘desejando’ quebrar o conceito do ‘todo’ indispensável ao ‘ser psicólogo’. Após, já graduado, ter visto, sentido, pensado e agido o “todo” da Psicologia, aí sim cabe ao Psicólogo continuar generalista ou especializar-se, ou por ‘conta própria’ (que nem sempre é adequado, já que, com raras exceções, pode significar ‘arrogância’), ou através de cursos Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 livres de especialização (mínimo 360 horas) fornecidos por instituições de qualidade, cursos livres de aperfeiçoamento (mínimo 180 horas), especialização oficial-escolar, denominado ‘pós-graduação’ ‘lato-sensu’ (mínimo 360 horas; obedece resoluções do Conselho Nacional de Educação) etc. Também esta especialização pode ser construída através de ‘supervisão’ (visão outra; outra visão; visão de alguém de fora do seu trabalho; mas seguramente, alguém com experiência, compromisso político, domínio didático e dos conteúdos, prazer em supervisionar, e isto implica, metaforicamente, deixar o ‘lugar’ do aluno para ocupar o do ‘mestre’, mas ‘nunca esquecer’, e isto ele não consegue, podendo apenas ser impedido pelo inconsciente, de aprender com o aluno) e ‘estágios’ em ‘espaços’ respeitados e famosos pela qualidade do serviço e da pesquisa. Procurando informar ao estudioso da Psicologia Social, e ao ‘leigo’ a ela, mas interessado no seu estudo segue um estudo comparativo entre as propostas da Psicologia Tradicional e as da Psicologia Comunitária, segundo Vasconcelos (1985; p. 38-42) e Pinel (2000; p. 181). Psicologia Tradicional 1) As abordagens enfatizam o enfoque do Psicólogo como esfera predominantemente independente do social. As análises são essencialmente unidisciplinares, e o trabalho realizado é predominantemente uniprofissional. 2) Enfatiza-se a abordagem individual do psíquico. 3) A abordagem é desarticulada de uma visão mais ampla do social, e muitas vezes pretende-se neutra com relação aos problemas sociais. 4) A prática desenvolvida é dirigida prioritariamente para os grupos sociais mais privilegiados, tanto do ponto de vista econômico quanto cultural. 5) Nas faculdades, a formação é predominantemente teórica, intramuros, e desvinculada da prática. 6) As técnicas soam predominantemente curativas. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 7) A teorização e o conjunto de técnicas são dirigidos principalmente para consultórios, hospitais e gabinetes separados da vida social, e em locais concentrados nas áreas dos grandes centros urbanos. 8) A prática profissional é altamente especializada por técnicas de trabalho (principalmente na clínica). A clientela se adapta ao esquema teórico e técnico do profissional. Raramente se buscam práticas alternativas. 9) A prática predominante exige sempre a presença do profissional, e é mantenedora do monopólio do saber profissional. O lugar do poder é fixo e constantemente centrado no profissional. 10)A abordagem não reconhece o conhecimento difuso e as práticas informais populares em saúde mental 11)As práticas têm alto nível de especialização e sofisticação. A formação é longa, demorada, de alto custo; que é repassado aos serviços, daí sua elitização. 12)As práticas são planejadas e executadas pelo profissional sem qualquer participação da clientela. 13)A ação do Psicólogo pode ser realizada em: consultórios; seções de contato ou trabalhos em escolas ou empresas. 14)O Psicólogo é dono de um saber que não se ensina ao leigo, considerado como sujeito a ser interpretado e sempre lhe é recomendado Psicoterapia. 15)Por ser autônomo e marginalizado, não é acessível aos de baixo poder econômico. Psicologia Social Comunitária 1) As divisões do saber são fruto da história das instituições acadêmicas e profissionais. A realidade se apresenta como uma integração dos aspectos orgânicos, psíquicos e sociais. A abordagem é interdisciplinar, e o trabalho é feito em equipes Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 43 multiprofissionais. Os conflitos de poder emergem e são ali mesmo abordados e trabalhados. 2) A ênfase está nas pessoas enquanto seres sociais, onde o conteúdo psicológico tem conotações também institucionais, sociais, culturais e políticas, e vice-versa. Trata-se de um ‘eu’ que institui a organização; um ‘eu’ pontuado pelo outro (social). 3) É uma abordagem articulada a uma visão totalizante do social e busca a explicitação de um compromisso político e social. 4) A prioridade básica são as classes populares, ainda sem acesso a serviços básicos de saúde mental. Mas há serviços, por ex., na Inglaterra, voltado para gays idosos, objetivando reconstrução de laços afetivos. 5) A formação só é coerente se baseada na prática concreta no campo social, com reflexão teórica e pesquisas concomitantes. 6) A ênfase é dada à prevenção. 7) Teorização e técnicas são dirigidas para situações institucionalizadas e de campo, junto aos locais de trabalho e moradia da população, proporcionando maior acessibilidade e coerência com a realidade vivida por ela. 8) Formam-se profissionais mais generalistas, envolvidos com faixa mais ampla de técnicas e práticas adequáveis à variedade de situações sociais. Há uma busca constante de pesquisa e sistematização de práticas alternativas. 9) O profissional atua primordialmente como assessor e transmissor de habilidades e treinador de agentes de saúdemental. O objetivo é a desmonopolização gradativa do saber, com a integração da saúde mental na vida cotidiana e na cultura do povo. O lugar do poder é alternado e distribuído. Pinel (2000), por exemplo, já treinou prostitutos para atuarem como educadores de rua objetivando prevenção contra as DST/AIDS, junto aos seus companheiros prostitutos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 44 10)Há um reconhecimento e busca de constante (co) aprendizagem com o saber e as práticas autônomas da população que têm implicações ou que são diretamente ligadas à saúde mental. 11)Propõe-se pesquisa e síntese de práticas mais simplificadas, apropriadas às condições sociais e culturais populares. Um dos objetivos básicos é a extensão da cobertura com manutenção da qualidade. 12)Busca-se efetiva participação da clientela na definição das prioridades de atuação, planejamento, execução e avaliação das atividades. Ou seja, participação comunitária efetiva. O método de Boran, VER-JULGAR-AGIR é um recurso instrumental valioso para esse exercício democrático. 13)A ação do Psicólogo envolve, também, o conhecimento da saúde pública, a administração, gestão e supervisão dos serviços. Assim, as técnicas em Psicologia Comunitária são de três tipos: a. técnicas ligadas diretamente à intervenção em saúde mental com a clientela (aconselhamento psicológico; psicoterapia; linhas terapêuticas breves etc.); b. técnicas voltadas ao treinamento de pessoal para atuar em saúde mental; c. técnicas administrativas e de gestão dos serviços em saúde mental. 14)Treinamento de “habilidades ajudadoras” e “aconselhamentos” específicos na saúde (Autismo; AIDS; Diabetis; Hiperatividade etc.); Treinamento na compreensão, formação, implantação, execução e avaliação de programas de autoajuda; Conhecer os recursos da comunidade, para utilizá-los para com sua clientela. 15)Orienta as minorias a planejarem ONGS, onde consigam espaço para se revelarem, e encontrar apoios econômicos, psicológicos, médicos, jurídicos etc., para a ‘causa’. Etc. Fontes: Vasconcelos, 1985 (p. 38-42); Pinel, 2000 (p. 181). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 45 Não é só porque um Psicólogo se autodenomina Comunitário ou Sociocomunitário que ele se encaixa nas características descritas. Tudo vai depender das situações e situações limites, que o colocarão em “cheque”. Discuta. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 46 UNIDADE 13 Representação Social Objetivo: Conceituar a Representação Social diferenciá-la da Representação Coletiva. Conceito “Por representações sociais, entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea de senso comum.” (Moscovici, 1981: 181) Resumidamente, a Representação Social é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, que tem um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. A representação serve para o ser agir sobre o mundo e sobre os outros. Se uma Representação Social é uma “preparação para a ação”, ela não o é somente na medida em que guia o comportamento, mas, sobretudo na medida em que o comportamento deve ter lugar. Ela consegue incutir um sentido ao comportamento, integrá-lo numa rede de relações em que está vinculado ao seu objeto, fornecendo ao mesmo tempo as noções, as teorias e os fundos de observação que tornam essas relações estáveis e eficazes. Segundo Ibañez (1988) “(...) grande parte desses materiais provem do fundo cultural acumulado na sociedade ao longo de sua história. Esse fundo cultural comum circula através de toda a sociedade sob a forma de crenças amplamente compartilhadas, de valores considerados como básicos e de referências históricas e culturais que conformam a memória coletiva e até a identidade da própria sociedade.” Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 47 O mais importante na representação social é que ela “produz e determina comportamentos, visto que define ao mesmo tempo a natureza dos estímulos que nos envolvem e nos provocam e a significação das respostas a lhes dar”. Assim, é possível compreender por que é tão difícil ter consciência de si mesmo. E, mais ainda, como é difícil ter consciência de classe. Quando o pensamento não confronta as ações e as experiências com o falar. Quando se reproduz as representações sociais transmitidas, toda e qualquer inconsistência ou incoerência é atribuída a “exceções”, a “aspectos circunstanciais”, quando não a particularidades individuais; se estará apenas reproduzindo as relações sociais necessárias para a manutenção das relações de produção da vida material em sociedade. Representação coletiva Conceito criado por E. Durkhein para especificar que os fatos sociais, objetos da Sociologia, são de natureza representativa. Ao contrário das representações individuais (objetos da Psicologia, também), que são internas (geradas no cérebro), essas representações são externas e participam da consciência coletiva. Gerais, anônimas e permanentes, elas exerceriam um verdadeiro poder de coesão sobre o funcionamento cognitivo das pessoas (Representações Coletivas são diferentes de Representações Sociais). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 48 UNIDADE 14 Cognição Social Objetivo: Apresentar o conceito, tipologia e aplicabilidade da cognição social à Psicologia Social. Para o pensamento Psicológico Social francês, (in Doron e Parot, 1998; p.149-150) “a realidade social é feita de objetos diversos, de propriedades e valores variados: pessoas (entre as quais o “si mesmo”), situações, grupos, organizações e instituições, papéis e regras. A cognição social é o processo pelo qual um indivíduo adquire, constrói e mantém um conhecimento dessa realidade e, fazendo isso, a produz ou reproduz. Ela envolve estruturas cognitivas (conceitos, scripts, estereótipos, protótipos), concepções (crenças, saberes, teorias implícitas, representações sociais), esquemas ou raciocínios (inferências atributivas, esquemas causais, neuríticas). A cognição social é o objeto da Psicologia Social Cognitiva”. O ser humano, em constante interação com o meio envolvente, está exposto a um bombardeamento massivo de estímulos. Destes, só uma pequena parte, depois de previamente selecionados, são tratados ao nível do Sistema Nervoso Central (SNC), e conduzem a uma resposta por parte do sujeito. Atendendo a determinadas exigências do dia a dia, a pessoa é impelida a responder com um elevado grau de rapidez aos estímulos que lhes são apresentados. Na maioria das situações, este fator assume um papel preponderante e decisivo, que define o sucesso ou o fracasso. Desta forma, a importância da velocidade no processamento da informação e a questão da cognição social conduziram os investigadores a concederem-lhe um lugar de destaque no campo das suas preocupações. No âmbito da Psicologia Social, pode-se dizer que são estas estruturas/mecanismos que vão permitir ao sujeito a transformação da realidade factual na realidade pessoal, aferindo-lhe assim uma enorme carga subjetiva na forma como constrói a sua visão do mundo. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 49 A relação entre representações sociais e cognição social Numa revisão de literatura sobre as representações sociais, Vala (1993) sistematizou as principais diferenças entre as orientações da cognição social e as orientações na análise das representações sociais: a) nas representações sociais, o estudo dos conteúdos e a sua articulação com contextos históricos e configurações
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