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1 FACULDADE PITÁGORAS DE LINHARES CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA THIAGO FERREIRA VASCONCELLOS GESTÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO DA LEI FEDERAL Nº 12.305/2010 – REFERENTE AO PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS LINHARES 2017 THIAGO FERREIRA VASCONCELLOS GESTÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO DA LEI FEDERAL Nº 12.305/2010 – REFERENTE AO PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras Linhares, como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Engenharia Ambiental. Orientador: D.s.C Laércio Francisco Cattaneo LINHARES 2017 GESTÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO DA LEI FEDERAL Nº 12.305/2010 – REFERENTE AO PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS - PGRS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras Linhares, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Engenharia Ambiental. Aprovado em: __/__/____ BANCA EXAMINADORA Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a) Agradeço primeiramente a Deus, pois sem Ele, não teria forças pаrа atravessar essa longa jornada, e agradeço também aos meus professores que com maestria, compreensão e motivação puderam me transmitir o máximo de conhecimento ао meu colega pela paciência e dedicação que contribuiu na elaboração deste trabalho de conclusão de curso. RESUMO A Política Nacional de Resíduos Sólidos tendo como principal instrumento, a Lei, desde sua promulgação veio para dar legalidade jurídica em relação a tudo sobre os resíduos sólidos e a sua criação se justifica justamente pois foi percebido que não se pode mais conviver com qualidade e sustentabilidade sem fazer o correto gerenciamento dos resíduos, visto que o mesmo, cresce em proporções alarmantes, sobretudo, os lixões, as doenças. Esta pesquisa pretende executar uma revisão literária da Lei Federal nº 12.305/2010 – referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, no que se exige das entidades públicas e privadas a sua correta coleta, transporte e destinação. Para tanto, foi buscada obras da literatura e o uso da Lei propriamente dita, não foi necessário o uso de testes, ensaios ou qualquer outra forma de experimentação. Dessa forma, e analisando o estudo realizado por esta pesquisa, fica evidente que o problema está na burocracia que ocorre no Brasil de uma maneira geral, e a falta de educação ambiental por parte das pessoas físicas e jurídicas, pois desde muito tempo nunca houve uma preocupação com os impactos ambientais que seus aspectos podem causar ao meio ambiente. O excesso de burocracia em nosso país é notório quando nos deparamos com leis estrangeiras que mesmo contendo poucos procedimentos, funcionam de verdade. É preciso definitivamente acabar com isso pois tornam o processo mais dispendioso aos cofres públicos e sem haver resultados significativos no curto prazo. Palavras-chaves: Gestão de Resíduos; Legislação; Lei nº 12.305/2010; Sustentabilidade; Desenvolvimento. ABSTRACT The National Policy on Solid Waste, having as its main instrument, the Law, from its promulgation to legal legality regarding everything about solid waste and its creation is justified precisely to not perceived that can’t live with quality and sustainability without doing The correct Waste management, as it grows in alarming proportions, above all, the dumps, such as diseases. Establishment of work for the purpose of reviewing Law No. 12305/2010 - regarding the National Solid Waste Policy - PNRS, in what is required of public and private entities and their correct collection, transportation and destination. This work aims to analyze how much potential the solid waste management can bring the character of solid waste management and solve sustainable development. In order to do so, literature was searched for and use of the Law as such, it was not necessary to use tests, tests or any other form of experimentation. In this way, and analyzing the study carried out by this research, they show that the problem lies in the bureaucracy that has occurred in Brazil in general, and lack of environmental education on the part of individuals and companies, there has been a long Impacts. The excess of bureaucracy in our country is notorious when we come across foreign laws that even working on procedures, really work. We must definitely conclude with this for the most costly process for public coffers and without significant results in the short term. Keywords: Waste Management; Legislation; Law nº 12.305 / 2010; Sustainability; Development. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAL Associação Brasileira de Alumínio Abief Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis ABIVIDRO Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Abras Associação Brasileira de Supermercados BID Banco Interamericano de Desenvolvimento CETESB Companhia de Tecnologia do Saneamento Ambiental EPA Environmental Protection Agency GW.h Giga Watt hora INP Instituto Nacional do Plástico NBR Norma Brasileira OMS Organização Mundial da Saúde PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos PGRS Plano de Gestão de Resíduos Sólidos RCC Resíduos de Construção Civil RS Resíduos Sólidos SGA Sistema de Gestão Ambiental SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente SINISA Sistema Nacional em Saneamento Básico SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária SUASA Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ____________________________________________________ 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO __________________________________________ 10 2.1 O CONCEITO DE LIXO __________________________________________ 10 2.2 RESÍDUOS SÓLIDOS ___________________________________________ 11 2.3 COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ____________ 12 2.4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RESÍDUOS SÓLIDOS ____________________ 15 2.5 RECICLAGEM _________________________________________________ 16 3. LEI FEDERAL N º 12.305/2010 ______________________________________ 18 3.1 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS _____________________ 26 4. LEGISLAÇÃO SOBRE RESIDUOS SOLIDOS EM OUTROS PAÍSES ________ 31 4.1 ALEMANHA ___________________________________________________ 31 4.2 ESTADOS UNIDOS ____________________________________________ 32 5. RESIDUOS: DE PROBLEMA A SOLUÇÃO ____________________________ 34 5.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELOS RESIDUOS ________ 34 5.2 SOLUÇÕES ENVOLVENDO REUTILIZAÇÃO DE RESIDUOS ___________ 37 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS _________________________________________ 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ____________________________________ 46 8 1 INTRODUÇÃO Os Resíduos Sólidos – RS – (o popular lixo) são produzidos pelo homem desde os antepassados, assim o crescimento na produção destes vem acompanhando o crescimento exponencial da humanidade. Casos relacionados à produção excessiva de resíduos e da má gestão e que acabaram em tragédias, exemplo este, foi um colapso de talude que desmoronou em Niterói (RJ) em 2010 matando mais de 50 pessoas devido a uma área residencial ocupada irregularmente sobre um lixão mal consolidado. Contudo, a humanidade nunca esteve e nem tampouco está atualmente preocupada com essa problemática, haja vista, que mesmo com elevado grau de conhecimento sobre e as consequências negativas da superprodução e da má gestão de RS ainda não se interessou o suficiente para mudar esse comportamento. É percebido quandose observa o descarte inadequado de RS por parte da população e também das empresas que mesmo sob a jurisdição, não a pratica. Historicamente a espécie humana é marcada por eventos ligados diretamente aos RS e que foram compreendidos apenas há pouco tempo. A cólera, a peste bubônica, a dengue e muitas outras enterites se devem ao fato da má gestão de resíduos gerando um problema de saúde pública. Problemas de cunho ambiental também são observados, haja vista que o acúmulo de RS geram os famosos lixões que causam poluição de aspecto visual, poluição do solo e da água. Referente ao cunho econômico tem-se a desvalorização imobiliária devido à sujeira encontrada nesses locais. A própria Lei nº 12.305/2010 propõe instrumentos para os problemas supracitados, mas que se não executados em sua plenitude, deixa lacunas quanto à inobservância da referida lei. Assim, quando o assunto é gestão e sustentabilidade, o tema gestão de resíduos toma uma vertente de problema para uma possível solução mais que 9 meramente de caráter público, tornando-se imprescindível sua correta gestão e destinação de forma ambientalmente adequada. Diante da definição supra, as entidades privadas e públicas tem-se adequado com o que se exige pela Lei nº 12.305/2010? A princípio, mais da metade das entidades ainda não se atentaram para um problema que potencialmente pode ser fonte de capitalização e sustentabilidade. Dessa forma a correta execução e gerenciamento de resíduos podem trazer benefícios que corroboram para o correto Sistema de Gestão Ambiental – SGA, pois se cada empresa ou instituição pública adéqua-se ao disposto na legislação nº 12.305/2010 não teriam tantos danos ambientais, estes que comprometem a qualidade de vida do ser humano e sua condição de salubridade. Este trabalho pretende executar uma revisão da Lei Federal nº 12.305/2010 – referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, no que se exige das entidades públicas e privadas sua correta coleta, transporte e destinação de resíduos. Como objetivos específicos, pretende-se comparar o modelo de legislação brasileira com os de países desenvolvidos no que tange a sua eficiência; estabelecer melhorias quanto ao proposto pela legislação; atentar as entidades públicas e privadas quanto o correto gerenciamento de seus resíduos; e discutir formas de tornar a referida legislação aplicável à necessidade dos problemas abordados. 10 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O CONCEITO DE LIXO A palavra lixo deriva do termo latim LIX, que significa cinza. No dicionário, lixo é definido como: resto, despejo, sujeira, imundice, coisa ou coisas inúteis, sem valor. Tecnicamente pode ser usado como sinônimo de resíduos sólidos e é representado por matérias descartadas pelas atividades humanas. Desde os tempos mais remotos até meados do século XVIII, quando surgiram as primeiras indústrias na Europa, o lixo era produzido em pequena escala. A partir da revolução industrial o volume e a diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas aumentaram consideravelmente. O crescimento acelerado das metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar o lixo se tornassem escasso. A sujeira acumulada no ambiente aumentou a poluição do solo, das águas e piorou as condições de saúde das populações em todo o mundo. (RODRIGUES E GRAVINATTO, 2003). Com a chegada da industrialização e sua expansão por todo o Planeta, o mundo começou a sofrer problemas jamais vistos ou sequer imagináveis, dentre todos esses problemas um deles vem se tornando um grande problema, para toda a População Mundial. É a questão do lixo urbano que é produzido em grande escala, mas não tem um local adequado para seu destino final (CARVALHO E TELLA, 1997, p.06 e 07). A chamada sociedade de consumo, na qual, para ser feliz não basta consumir o necessário, mas, se possível, também o supérfluo, acabou por conferir às relações do homem com o meio ambiente um caráter extremamente agressivo. A revolução industrial, o crescimento urbano desordenado e o apelo da propaganda aumentaram o volume de lixo produzido e intensificaram a poluição do ar, das águas e dos solos. (ALMEIDA E GIGOLIN, 2004, p.115). 11 2.2 RESÍDUOS SÓLIDOS O resíduo sólido é um termo técnico e pode ser considerado como qualquer material que seu proprietário ou produtor não considera mais com valor suficiente para conservá-lo. Por outro lado, o resíduo sólido resulta da atividade humana, sendo, por isso, considerado inesgotável, além de diretamente proporcional à intensidade industrial e ao aumento populacional. Por esse motivo, uma das grandes preocupações da sociedade atual diz respeito aos resíduos sólidos. O crescimento desordenado da população e o aparecimento de grandes indústrias têm aumentado o consumo e com isso gerado maior quantidade de resíduos, que, geralmente, possuem manejo e destino inadequados, provocando, assim, efeitos indesejáveis ao meio ambiente. Segundo dados do ministério do meio ambiente, o Brasil produz cerca de 90 milhões de toneladas de resíduo sólido por ano e cada brasileiro gera, aproximadamente, 500 gramas de resíduo sólido por dia, podendo chegar a 1 kg, dependendo do local em que reside e de seu poder aquisitivo (NUNESMAIA, 1997; IBGE, 2012). Os resíduos sólidos são considerados perigosos quanto às suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas. A inadequada remoção e coleta desses resíduos, sua destinação e seu tratamento final podem causar um grande impacto ao meio ambiente. O processo físico-químico de decomposição dos resíduos orgânicos, se não controlado de forma correta, irá produzir líquidos percolados (Cho rume), em sua maioria rica em metais pesados, chumbo, níquel, cádmio, dentre outros, que contaminam os veios hídricos e cursos d’água quando infiltrados no solo. A decomposição anaeróbica das frações orgânicas do resíduo sólido lança, no ar, compostos poluentes e gases de amônia, enxofre, gás carbônico, dentre outros (BIDONE; POVINELLI, 1999). 12 A disposição indiscriminada de resíduos sólidos no meio-ambiente pode causar danos sérios à vida, à natureza e à sociedade. A contaminação do solo e da água e o prejuízo grave a ecossistemas diversos, incluindo a vida humana, são alguns exemplos dos males que este tipo de prática pode ocasionar. 2.3 COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS A coleta dos resíduos sólidos é a parte mais sensível aos olhos da população, portanto, a mais passível de crítica. É necessário um bom planejamento dos serviços de coleta, pois eles representam cerca de 50 a 80% do custo de operação de limpeza pública. A coleta e transporte do resíduo sólido devem funcionar de forma sistemática, além de garantir os seguintes requisitos: a universalização dos serviços prestados e a regularidade da coleta, o que compreende periodicidade, freqüência e horário (LIMA, 1995). A destinação final do resíduo sólido é um problema em quase todos os municípios. Coletado pelo órgão público ou por empresas particulares, o resíduo sólido é levado a um depósito. Esses depósitos, muitas vezes, não possuem uma destinação final apropriada. A deposição a céu aberto, que causa grande prejuízo ao meio ambiente, continua sendo o destino da maior parte dos resíduos. O problema é que não existem grandes áreas disponíveis nos centros urbanos para instalação de aterros sanitários. Incentivando a reciclagem, evita-se que uma parcela dos resíduos produzidos seja lançada nos aterros, aumentando assim o tempo de utilização do local. É necessário desenvolver soluções que reduzam o volume dos resíduos (VAZ, CABRAL, 2005). A disposição final e adequada do resíduo sólido pode influir na qualidade do meio ambiente e na saúde do homem (saúde publica), além da preservação dos recursos naturais. Existem diversos tiposde disposição tais como vazadouro a céu aberto, aterro controlado, aterro sanitário, incineração e com postagem. 13 Vazadouro a céu aberto, vulgarmente conhecido como lixão, é a forma mais impactante ao meio ambiente e às populações vizinhas. É um tipo de disposição dos resíduos diretamente no solo, sem nenhum processo de controle que permita evitar a contaminação de lençóis freáticos e cursos de água, através dos líquidos percolados. O Chorume, oriundo da decomposição anaeróbica das frações orgânicas contidas nos materiais dispostos, gera liberação de gases voláteis ricos em enxofre (S), amônia (NH4), gás carbônico (CO2), dentre outros que são poluentes e alguns favoráveis à combustão. Portanto, percebe- se perfeitamente a grande contribuição à degradação ambiental sem contar os inúmeros indícios de comprometimento à saúde pública (LIMA, 2003). Aterro controlado é uma forma de disposição final em uma área previamente impermeabilizada, de resíduos sólidos urbanos no solo. Nos aterros controlados, os resíduos são compactados e formatados por um trator para melhor ordenamento. O resíduo sólido adensado é coberto por materiais de jazida (barro próprio para recobrimento) evitando dispersão de odores, presença de vetores de doenças (moscas, mosquitos, baratas, ratos, etc.), animais nocivos e combustão espontânea por anaerobiose, minimizando os riscos de impactos ambientais e à saúde publica (FALCÃO; ARAUJO, 2005). Aterro sanitário, diferentemente do aterro controlado, é uma forma de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, baseada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas. O local é normalmente recoberto por material de jazida, selecionado e compactado em níveis satisfatórios, evitando danos à saúde pública e minimizando os impactos ambientais. Os aterros sanitários possuem um sistema de drenagem periférica e superficial para captação de águas pluviais e um sistema de drenagem específica para captação e condução ao local de tratamento de líquidos percolados. Esse tratamento pode ser através de lagoas de estabilização que operam num sistema físico-químico de recuperação dos líquidos, objeto do 14 processamento. Nesses aterros, existe também um sistema de captação para os gases, principalmente o gás carbônico, o gás metano e o gás sulfídrico para que o terreno não fique sujeito a explosões, deslizamentos e combustão. Ao final de sua vida útil, o aterro sanitário pode ser reutilizado mediante abertura das células, para retirada do material bioestabilizado ou utilização do mesmo em outras situações tais como: áreas de lazer e praças (BIDONE; POVINELLI, 1999; FALCÃO; ARAUJO, 2005). Incineração é um processo de destruição térmica, pelo qual ocorre redução do peso, volume e das características de periculosidade dos resíduos, com conseqüente eliminação da matéria orgânica e características de patogenicidade (capacidade de transmissão de doenças) através da combustão controlada. A incineração tem que ser controlada para que não cause danos ao meio ambiente (VAZ; CABRAL, 2005). Com postagem é um processo biológico aeróbio de decomposição de matéria orgânica (animal ou vegetal), através do quais microrganismos convertem a parte orgânica dos resíduos sólidos urbanos num material bioestabilizado, conhecido como composto orgânico. O composto resulta da degradação biológica da matéria orgânica em presença do oxigênio do ar, sob condições controladas pelo homem. Os produtos gerados na decomposição são: gás carbônico, calor, água e matéria orgânica compostada. Esse material apresenta propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem e pode ser usado como enriquecedor do solo, minimizador de áreas erodidas e na própria compostagem, na cobertura das pilhas mais recentemente formadas, além de representar fonte de macro e micronutrientes para as plantas em geral (PLANETA, 2005). A compostagem, ou seja, a arte de produzir compostos orgânicos do resíduo sólido, embora seja uma 15 prática remota, surge atualmente como um extravasamento do modo de pensar do homem moderno. 2.4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RESÍDUOS SÓLIDOS A educação ambiental constitui um processo informativo e formativo dos indivíduos, desenvolvendo habilidades e modificando atitudes em relação ao meio, tornando a comunidade educativa consciente de sua realidade global. Uma finalidade da educação ambiental é despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental com uma linguagem de fácil entendimento que contribui para que o indivíduo e a coletividade construam valores sociais, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. Assim, torna-se necessário mudar o comportamento do homem com relação à natureza, com o objetivo de atender às necessidades ativas e futuras, no sentido de promover um modelo de desenvolvimento sustentável. Um programa de educação ambiental eficiente deve promover, simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atividades e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental (DIAS, 1992). Considerando que parte dos resíduos gerados pelas atividades humanas ainda possui valor comercial, se manejado de maneira adequada, deve-se adotar uma nova postura e começar a ver o resíduo sólido como uma matéria-prima potencial. Sendo assim, considerando a complexidade das atividades humanas, pode-se verificar que resíduos de uma atividade podem ser utilizados para outra, e assim sucessivamente. O material que não for consumido nesse ciclo será nomeado como resíduo sólido (D`ALMEIDA; VILHENA, 2000). Não há como não produzir resíduo sólido, mas podemos diminuir essa produção. 16 2.5 RECICLAGEM Os animais, quando morrem, assim como as folhas que caem das árvores, passam pelo processo de reciclagem da natureza. Todas as plantas e animais mortos apodrecem e se decompõem. São destruídos por larvas, minhocas, bactérias e fungos, e os elementos químicos e nutrientes que eles contêm voltam a terra. É um processo natural de reutilização de matérias. Enquanto a natureza se mostra eficiente em reaproveitamento e reciclagem, os homens o são em produção de resíduos sólidos. Os ciclos naturais de decomposição e reciclagem da matéria podem aproveitar os resíduos gerados pelo ser humano. Contudo, uma grande quantidade deste sobrecarrega o sistema. O problema agrava-se porque muitas das substâncias manufaturadas pelo homem não são biodegradáveis (JAMES, 1997). A sociedade consumista se preocupa apenas em descartar o resíduo sólido, não dando a devida atenção ao seu destino final. Com a finalidade de conscientizar a população sobre esse problema, a educação ambiental apresenta três princípios básicos para os resíduos: reduzir, reutilizar e reciclar (conceito dos três R’s). A partir desses princípios, o cidadão deve aprender a reduzir o resíduo sólido gerado, reutilizar sempre que possível os materiais antes de descartá-los e, só por último, pensar na reciclagem dos materiais. O conceito dos três R’s visa a diminuir o desperdício, valorizando as possibilidades de reutilização como meio de preservação ambiental (DUTRA, 2005; NUNESMAIA, 1997). Os materiais não biodegradáveis podem passar pelo processo de reciclagem. Reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os detritos e reutilizá-los no ciclo de produção de que saíram, sendo assim, a reciclagem permite retomar a origem, na forma de matérias-primas, os materiais que não se degradam, ou seja, materiais que se tornariam resíduo sólido, ou estão no resíduo sólido. Esses materiais são desviados, coletados, separados e processados para então serem usados como matéria-prima na produção de novos produtos. A reciclagem tem a 17 finalidade de aproveitar os resíduos para fabricar novos produtos,idênticos ou não aos que lhes deram origem (VALLE, 2002). 18 3. LEI FEDERAL N º 12.305/2010 A Lei Federal Nº 12.305, de Agosto de 2010, que dispõe sobre a Politica Nacional de Resíduos Sólidos e regulamentada pelo Decreto presidencial Nº 7.404, de Dezembro de 2010, logo em seu primeiro ato, trata de responsabilizar as pessoas físicas e jurídicas tanto de poder público ou privado pela geração de Resíduos Sólidos - RS (exceto rejeitos radioativos, que obtém legislação própria), e da aplicabilidade em concomitância com as leis 11.445/2007 que dispõe sobre o Saneamento Básico, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA). A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS reúne um conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações voltadas para uma correta gestão integrada e gerenciamento ambientalmente adequado dos RS, além de articular-se com outras leis correlatas, como a Lei do Saneamento Básico, da Educação Ambiental, todas integrantes da Política Nacional do Meio Ambiente. Essa articulação se faz necessária, pois o tema é abrangente e com certa complexibilidade e, envolvendo agentes públicos e privados, além de cooperativas. No artigo 3º da lei foram dispostas algumas definições para uma melhor compreensão de termos inerentes ao tema, tais como, Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Gestão Integrada RS, logística reversa e responsabilidade compartilhada, termos que pela similaridade das palavras não refletem o mesmo em seus significados. Como por exemplo: X – gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei; 19 XI – gestão integrada de resíduos sólidos: conjuntos de ações voltadas para a busca de soluções para resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Dessa forma fica claro que enquanto a gestão integrada de RS busca soluções para os rejeitos sempre considerando as dimensões política, econômica, social e ambiental visando o desenvolvimento sustentável o gerenciamento dos RS são as ações diretas ou indiretas nas etapas de coleta, transporte, transbordo e destinação final, ou seja, gestão leva a uma conotação de política, estratégia, já o gerenciamento nos dá uma ideia de execução, operação. No artigo 6º, foram dispostos onze princípios, dentre os quais, para aproximar-se do objetivo dessa revisão, cabe salientar o princípio do reconhecimento de que os RS são reutilizáveis e recicláveis como um bem econômico e de valor social, gerando trabalho e renda promovendo a cidadania e da responsabilidade compartilhada. Sem esquecer claro que todos os demais princípios também têm o seu elevado grau de importância. Mas, entender esses princípios nos permitirá enxergar oportunidades onde até pouco tempo atrás isso não ocorria. Esse princípio nos permite enxergar que os resíduos sólidos possuem valor econômico, podendo para esse fim ser reutilizado ou reciclado. Assim, observamos que fica desde já estabelecido o princípio de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos. (Lei n. 12.305/2010 – art. 3°, XVII). 20 Agora com tal entendimento, podemos perceber o qual difícil é a aplicação desse princípio, haja vista, que tal responsabilidade cabe da efetividade por parte dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e dos consumidores (MACHADO, 2012, p. 44). O princípio do reconhecimento do valor dos resíduos sólidos são reutilizáveis e recicláveis pode ser considerando o mais importante, pois é a partir desse princípio que podemos enxergar que os resíduos sólidos não são problemas no qual até pouco tempo atrás era considerado, mas sim ser solução sob a ótica dos aspectos ambientais, econômicos e sociais. Segundo Machado (2012), esse princípio afirma diretamente que o resíduo solido reutilizável e reciclável tem valor econômico e acrescenta ainda que esse bem tem valor social, gera trabalho e renda promovendo assim a cidadania. No artigo 7º da PNRS, quinze objetivos foram propostos ao todo, mas é importante frisar o da não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos RS, bem como a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. É interessante esse objetivo, pois com ele pretende-se primeiramente a não geração de resíduos, algo no mínimo impensável nos dias atuais, porém ele nos dá uma segunda opção que é a da redução, isso sim é bem mais plausível. Contudo, ainda estamos na contramão dessa ideia, haja vista que, o consumismo está muito bem consolidado no cotidiano de nossas vidas. Como terceira via, caso não haja ou se mesmo havendo uma redução, temos a proposta da reutilização, que nada mais é do que encontrar uma forma de utilizar esse RS sem a necessidade de transformá-lo em algo totalmente novo. Em sequencia temos a ideia daquela que talvez seja a mais interessante, pois nos dá a oportunidade de transformar o RS em outro produto que necessariamente não precisa ser o mesmo de origem, é uma grande forma de reintroduzirmos no sistema econômico uma parte da matéria e/ou da energia, que se tornaria lixo ficando assim inaproveitada. Essa é a proposta da reciclagem, que é interessante, pois traz muitos benefícios para o objetivo geral, como: diminuir a 21 exploração de recursos naturais, redução da poluição do solo, da água e do ar, melhora a limpeza da cidade e da qualidade de vida dos munícipes, prolonga a vida útil dos aterros sanitários, gera emprego e renda pela comercialização dos recicláveis, reforça o aspecto ambiental da gestão dos RS e exercita uma atitude de respeito com relação a natureza, dentre outros. Por fim, aquilo que sobraria do processo de reciclagem, seria tratado e teria uma disposição final ambientalmente adequada. Outro objetivo que vale ressaltar é o de incentivar a indústria de reciclagem, fomentando o uso de matéria prima de origem reciclada. Esse objetivo pode ser alcançado por meio de políticas públicas adequadas. A Lei de Resíduos Sólidos em seu Artigo 8º estabeleceu alguns instrumentos dos quais objetivam contribuir e auxiliar na solução dos problemas. Todos esses instrumentos que constam na PNRS, são de extrema importância na construção eficaz e eficiente de uma gestão de resíduos, sem esses instrumentos ou a falta de quaisquer partes afetam diretamente em sua qualidade. O planos como instrumento estruturador de gestão é obrigatório em todos tipos de planejamento, e não seria diferente para os gerenciamento correto dos resíduos sólidos. Dessa forma tanto a Lei quanto o Decreto consideram que os planos, no âmbito da União bem como dos estados e dos municípios, devem definir as condições pelas quais os objetivos principais da Política possam ser alcançados (CRESPO e COSTA, 2012,p. 283). A coleta seletiva é um instrumento de gestão de resíduos sólidos proposto pela PNRS que pode contribuir significativamente para atender os objetivos da Lei, contudo, ela não é muito bem realizada seja por parte da população seja pelas empresas e até mesmo pelas entidades públicas que não cumprem com seus deveres referentes à questão. Há também um paradigma a respeito da coleta seletiva muita usada pela população apenas por questões culturais de educação ambiental que por vezes é utilizada como mera desculpa para 22 a não realização devido a inobservância da eficácia dos serviços de limpeza pública que costumam misturá-los novamente com sua atividade de transporte. Já a logística reversa como um instrumento de gestão propõe um novo conceito de redução para minimizar a quantidade de resíduos que iriam para os “lixões”, agora Aterro Sanitário. Porém, tal instrumento para implementação causa um impacto significativo na vida empresarial, devido a sua complexidade logística (LEITE, 2012, p. 343). Já quanto à proposta de incentivo a criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis como instrumento é interessante, pois a transforma fielmente numa ferramenta legal para obtenção dos muitos objetivos, sobretudo o social e econômico. A educação ambiental como instrumento da PNRS justifica-se, pois essa política propõe uma profunda mudança nos hábitos das partes envolvidas e para tanto se necessita de uma ferramenta legal para permitir tal reflexão, dessa forma a educação ambiental pode ser trabalhada em diferentes frentes no intuito de reeducar. Há a existência de muitos outros instrumentos propostos pela Lei 12.305/2010, que passa desde a pesquisa, o uso de sistemas, instrumento da Politica Nacional de Meio Ambiente até acordos setoriais e incentivos a adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes federados. 23 Os instrumentos supracitados são as ferramentas nos quais os gestores poderão utilizar-se para o desenvolvimento dos trabalhos, obviamente que além destes pode haver muitos outros. Devido à importância dos objetivos propostos no inciso II do artigo 7º da Lei 12.305/2010, agora no art. 9º temos as diretrizes aplicáveis aos RS que não obstante volta a priorizar esse objetivo supracitado, mas dessa vez com caráter de plano. São as diretrizes para a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos RS e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Outra diretriz estabelecida é a incumbência da gestão integrada dos RS ser de responsabilidade dos estados e municípios gerados em seus respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do SISNAMA, SNVS e SUASA, Art. 10º. Isso permite a construção de planos com as peculiaridades do local de origem. O Sistema Nacional de Informações sobre Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) é outra diretriz e articula-se com os sistemas supra, e alimentado pelos estados e municípios com todas as informações necessárias sobre resíduos sob sua esfera de competência. Adiante em seu artigo 13º a lei dos Resíduos Sólidos classifica-os em apenas duas formas, sendo quanto sua origem e periculosidade. Pela categoria de sua origem temos os Resíduos Sólidos Urbanos – RSU estes são compostos pelos rejeitos domiciliares e os de serviços de limpeza urbana, originários de varrição de logradouros e limpeza urbana. Existem os resíduos provenientes de estabelecimentos comerciais e de prestadores de serviços, estes se caracterizados como não perigosos, podem por razão de sua natureza, composição ou volume, ser 24 considerado domiciliar consequentemente estar sendo recolhido pelo poder público municipal, se assim o couber. Em contrapartida, temos os RS de serviços de saneamento básico, de indústrias, de serviços de saúde, de construção civil, de agrossilvopastoris, de serviços de transportes, de mineração, são classificações que responsabilizam seus geradores quanto à elaboração de um plano de gerenciamento dos RS, observando sempre as normas e regulamentos específicos para cada classificação acima citada. Vale ressaltar que a não elaboração e a ausência de informação passada para os órgãos competentes de controle e fiscalização pode acarretar em sanções penais e administrativas, previstas na Lei 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais. A classificação do RS quanto a sua periculosidade, são aqueles provenientes de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcirnogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade apresentado considerável risco a saúde pública ou ambiental, conforme a lei, regulamento ou norma. Existem outras formas de classificação para os RS, e isso é importante, pois a correta caracterização dos mesmos permite um melhor encaminhamento adequado, e consequentemente uma disposição final economicamente viável e compatível em termos ambientais. Devido a essa importância instituições como a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, assim como outras instituíram diferentes formas de classificar os RS conforme a necessidade e peculiaridade. Fato este que a Norma Brasileira - NBR 10.004/2004 foi estabelecida. Nota-se que a lei objeto dessa revisão literária foi estabelecida 6 anos após a criação dessa NBR, isso por si só mostra o quão importante é a caracterização dos RS. 25 Segundo a determinação da NBR 10.004/2004, os rejeitos são classificados em: a) resíduos classe I – Perigosos; b) resíduos classe II – Não perigosos; - resíduos classe II A – Não inertes; - resíduos classe II B – Inertes. Outras possibilidades de classificação também podem ser observadas conforme a conveniência de cada finalidade. Por exemplo, a classificação segundo a atividade que os produziu, pelo grau de biodegradabilidade, pela forma de operacionalização dos serviços de coleta ou ate mesmo os RS provenientes do setor sanitário, conforme determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em sequencia a política resolve em seu capitulo II, dos planos de resíduos sólidos, estabelecendo que o mesmo seja dividido em plano nacional, regional, estadual, intermunicipal, municipal e do gerenciamento dos RS. 26 3.1 GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS Gestão Integrada de Resíduos Sólidos é a maneira de conceber, implementar e administrar sistemas de limpeza pública considerando uma ampla participação dos setores da sociedade sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade do desenvolvimento é vista de forma abrangente, envolvendo as dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas, políticas e institucionais. Isso significa articular políticas e programas de vários setores da administração e vários níveis de governo, envolver o legislativo e a comunidade local, buscar garantir os recursos e a continuidade das ações, identificar tecnologias e soluções adequadas à realidade local. Especificamente com relação aos resíduos sólidos, as metas são reduzir ao mínimo sua geração, aumentar ao máximo a reutilização e reciclagem do que foi gerado, promover o depósito e tratamento ambientalmente saudável dos rejeitos e universalizar prestação dos serviços, estendendo-os a toda a população. Conforme o que foi citado, os planos vieram para colocar em prática a gestão dos RS de forma adequada sobre a premissa do desenvolvimento sustentável. Para tanto, a União estabeleceu que o acesso aos seus recursos fossem dada aos municípios que dessem prioridade em optar na elaboração de soluções consorciadas entre municípios, assim, teria um maior agilidade no controle de seus recursos e tornaria o processo mais econômicoe também à aqueles municípios que implantarem a coleta seletiva com participação de associações de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis (geração de renda e emprego). É notório que desde a criação da lei nos avançamos em seu objetivo, contudo, ainda estamos avançando muito timidamente. 27 Assim, foi determinada no artigo 19 da Lei que a gestão intergrada de residuos tivesse alguns conteúdos mínimos para sua correta funcionalidade, como diagnóstico, identificação de áreas para destinação ambientalmente adequada, identificação dos residuos e geradores, identificação da possibilidade de implantação de soluçoes consorciadas ou compartilhadas, indicadores, programas e ações, mecanismos, sistemas, metas etc. Sempre contemplando os conceitos propostos nos termos da Lei 12.305/2010. Portanto, é fundamental que esse plano seja realizado em sua totalidade, sem omissão dessas informações e que tenha a participação de todos as partes envolvidas com a proposta. O gerenciamento dos RS, conforme esclarecido anteriormente é a parte, no qual ela nos estabelece quem são os atores responsáveis pela sua elaboração e de como os mesmos irão elaborá-los. É importante frisar aqui, que a lei atrela o PGRS ao licenciamento ambiental, ou seja, na obtenção da licença o empreendedor fica obrigado a elaborar um plano condizente com sua atividade. Isso é de extrema importância, pois a obrigatoriedade permite que as informações sejam transmitidas aos órgãos reguladores e que o empreendimento seja estudado integramente para a obtenção da licença. Quanto às responsabilidades, a lei deixa claro que sem a participação efetiva do poder público, do setor empresarial, e da coletividade não haverá a observância da política, nem das diretrizes, e regulamentos. Essa iniciativa permite que todos obtenham certo grau de comprometimento. A lei por ela mesma não é solução para todos os problemas. 28 As pessoas físicas e jurídicas geradoras de resíduos são responsáveis pela elaboração e implementação do PGRS. Contudo, os geradores de RS domésticos ficam isentos dessa responsabilidade quando da disponibilização para a coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução. Outro termo muito interessante e abordado com destaque dentro da política é o da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, nela fica estabelecido que todos os fabricantes, importadores, distribuidores, e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana são responsáveis. Dentre os objetivos propostos pelo conceito vale citar o da reutilização, o de reduzir a geração de RS e de incentivo a boas práticas de responsabilidade socioambiental. A importância fica evidente quando da criação de outras ferramentas que tendem a fortalecer o conceito, como exemplo, a divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os RS associados a seus respectivos produtos e do recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, (provenientes de produto de logística reversa). O conceito da logística reversa é outro mecanismo utilizado para a redução de matéria prima de origem natural e também de resíduos que poderiam ir para uma destinação final e consequentemente prolongando a vida útil de aterros sanitários, assim fica clara a importância desse mecanismo. Devido a isso, a logística reversa tem sua obrigatoriedade estabelecida no art. 33, deixando tal responsabilidade a cargo dos fabricantes, importadores, distribuidores, e comerciantes de: Agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes, produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Para tanto, tais responsáveis devem assegurar a implantação e a operacionalização da logística reversa sem os prejuízos de acordo setoriais ou regulamento previamente estabelecidos por órgãos como o SNVS, criando assim, procedimentos de compra de produtos ou embalagens, disponibilizando postos de entrega de resíduos recicláveis e atuando em parceria com cooperativas de catadores. 29 Ainda segundo o artigo 33 em seu parágrafo 4º estabelece os consumidores como responsáveis pela devolução após o uso, aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens. E obstante os comerciantes ou distribuidores também devem devolver aos fabricantes ou aos importadores dos produtos. E por fim os fabricantes e os importadores devem dar destinação ambientalmente adequada aos produtos. Observe a sequencia inversa, no qual os produtos percorrem segundo o conceito da logística reversa. O artigo traz também, algumas obrigações que os consumidores devem quando o município tem implantado um sistema de coleta seletiva pelo plano de gestão integrada de resíduos sólidos. Assim os munícipes são encarregados de: acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os RS e disponibilizar adequadamente os RS reutilizáveis e recicláveis para a coleta ou devolução. Interessante notar que o conceito de ciclo de vida dos produtos foi proposto com o intuito de responsabilizar todos os geradores de RS seja ele de natureza pública ou privada, e a palavra “ciclo” nos remete uma visão de que a vida desses produtos ou embalagens não termina quando chegam ao destino final, mas sim ganham uma nova vida, ou seja, podemos continuar a utilizarmos desse produto de outra maneira, logo daí retirou-se a ideia da logística reversa que nos permite agregar valor em algo que inicialmente não mais o teria e acabaria provavelmente num destino diferente daquele imposto pela lei. Devido à periculosidade e os impactos ambientais, econômicos que os resíduos perigosos causam a PNRS tratou-os com devido cuidado e para tanto, elaborou um capitulo apenas para os mesmos já que são produtos que causam danos muito severos ao meio ambiente. Dessa forma, considera-se que toda atividade ou empreendimento que gere ou opere com resíduos sólidos perigosos são obrigados a se cadastrar no Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos, devendo também possuir responsável técnico e pessoal habilitado para trabalhar, sob pena de não obter a licença ambiental. Não obstante, as pessoas 30 jurídicas ficam obrigadas a elaborar e implantar um plano de gerenciamento de resíduos perigosos podendo este estar inserido no PGRS. Todas essas informações e procedimentos deverão ser submetidos aos órgãos competente do SISNAMA e na ocorrência de acidentes comunicarem estes órgãos. Caso contrário fica determinado que as pessoas jurídicas respondam por crimes de ambientais previstos na Lei de Crimes Ambientais Nº 9.605/1998, pois tais medidas desta Lei são consideradas obrigações de relevante interesse ambiental e sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis nas esferas penal e administrativa. Em seu art. 42 a política permite o poder público a instaurar medidas indutoras e linhas de financiamento para fomentar as empresas que deem prioridade as iniciativas de prevenção e redução da geração de RS, estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa, descontaminação de áreas contaminadas, desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental voltados para melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos, além de outros. É interessante, pois a época da elaboração desta política também foi pensada a possibilidade do uso de recursos públicos em consideração ao objetivo geral. A questão dos recursos muitas vezes é considerada a maior dificuldade para elaboração de implantação de sistemas de um modo geral. Por fim, a PNRS deixa suas proibições no que diz respeito às formas de destinação ou disposição final de RS e ao impedimento de importação de resíduos sólidos perigosos mesmo que ainda seja para tratamento, reforma, reuso e reutilização ou recuperação. 31 4. LEGISLAÇÃOSOBRE RESIDUOS SOLIDOS EM OUTROS PAÍSES O intuito desse capítulo não é analisar a conjuntura completa das leis estrangeiras, mas sim uma breve síntese de como eles tratam a questão dos resíduos sólidos em seus territórios a fim de alcançarmos algumas similaridades na forma como eles os tratam para fim de solucioná-los Obviamente que os problemas eles têm, mas como alguns países procuram solucionar seus problemas causados pela má gestão dos RS 4.1 ALEMANHA Segundo Juras (2005) atualmente na Alemanha a legislação vigente foi instituída em 1994 com a Lei da Gestão dos Resíduos e do Ciclo Fechado de Substâncias e segue a premissa básica de “prevenir – recuperar - destinar” desde 1980. A gestão segue à risca essas premissas básicas, contudo, existem prioridades e sub etapas das ações para promover a gestão desses resíduos de forma sustentável seguindo a lógica: Prevenção: prioridade máxima é dada para a prevenção da geração de resíduos; Recuperação primária: preparação do produto para a reutilização; Recuperação secundária: reciclagem do produto; Recuperação terciária - disposição alternativa: priorização para a produção de energia e outros processos de recuperação dos materiais; Disposição final em aterros. 32 Um ponto que devemos nos atentar é que o objetivo para qual a lei foi elaborada é bem simples e vemos que o governo alemão pretende ampliar a responsabilidade do fabricante a todo o ciclo de vida do seu produto, desde a fabricação passando pela distribuição e uso, até sua eliminação. O básico conforme e lei menciona é evitar a geração, valorizar os resíduos gerados e destinar aqueles que não são possíveis de se recuperar e isso precisa ser cumprido. E hoje a indústria de resíduos alemã emprega cerca 250.000 mil pessoas, inclusive existem universidades que possuem faculdade de gestão de resíduos (JURAS, 2005). Dessa forma, uma medida adotada pelos fabricantes e comerciantes foi a criação de uma sociedade sem fins lucrativos que é encarregada da organização da coleta, da seleção e da valorização de vasilhames e resíduos comerciais, o chamado sistema dual. E tal sistema deve cumprir metas fixadas. Os números resultantes dessa simplicidade são surpreendentes, cerca de 72,7% de embalagens foram recuperadas (JURAS, 2005). 4.2 ESTADOS UNIDOS Ainda segundo Juras (2005), nos estados unidos aquele conceito praticado em quase todo o mundo foi deixado de lado já há alguns anos, portanto, hoje eles não adotam mais o conceito de ciclo integral do produto como principal base da legislação muito menos dos princípios do poluidor pagador ou da responsabilidade. Quem coordenada a política ambiental em nível nacional é a Environmental Protection Agency – EPA em português Agência de Proteção Ambiental. Em 1984, foram aprovadas emendas à Lei de Conservação e Recuperação relativas a resíduos sólidos e resíduos perigosos (Hazardous and Solid Waste Amendments to the Resource Conservation and Recovery Act). Foram revistos os critérios referentes aos aterros sanitários, para assegurar que os aterros municipais que recebem resíduos perigosos de origem doméstica ou de pequenos geradores 33 sejam gerenciados de forma a proteger a saúde humana e o meio ambiente. Passou-se a exigir a adoção pelos geradores de programa voltado à redução da quantidade e toxicidade dos resíduos. Além disso, passou-se a demandar dos estados a adoção de programas que incorporassem as revisões feitas na lei, programas a serem avaliados caso a caso pela EPA. Se o estado não se adapta aos requisitos legais, a EPA tem a atribuição de impô-los no âmbito do estado. Na sua forma consolidada ao longo desses anos, pode-se apontar como conteúdo principal da Lei de Resíduos Sólidos o disciplinamento de uma política nacional, definindo as competências da EPA e outros agentes em termos de regulação e fiscalização, e estabelecendo diretrizes nacionais mínimas a serem respeitadas, notadamente no que se refere aos resíduos perigosos. Esse foco nos resíduos perigosos cria um diferencial importante em relação, por exemplo, à legislação alemã. (JURAS, 2005). Ainda segundo JURAS, devem ser mencionadas outras duas leis. Em 1980, entrou em vigor a Lei de Responsabilidade, Compensação e Resposta Ambiental (Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liability Act - CERCLA), que criou um vigoroso programa de descontaminação de sítios contaminados por produtos químicos. Para financiamento desse programa, criou-se o Superfundo (Superfund Trust Fund), com recursos iniciais de 1,6 bilhão de dólares, aumentados em 1986 para 8,5 bilhões de dólares. Como fontes de recursos, a partir do princípio do poluidor-pagador, incluíram-se uma série de taxas (environmental tax on corporations, tax on crude oil received at U.S. refineries, tax on petroleum products imported into the U.S. e tax on certain chemicals), assim como a recuperação dos custos da descontaminação dos responsáveis pela contaminação. Nos seus mais de vinte anos de aplicação, o programa já respondeu pela descontaminação de mais de 750 sítios contaminados com resíduos perigosos. Atualmente, estão em andamento reformas para tornar o Superfundo eficiente e mais justo, envolvendo, por exemplo, a maior participação da comunidade. Por fim, mencione-se que em 1990 entrou em vigor a Lei de Prevenção da Poluição (Pollution Prevention Act), que estabeleceu uma hierarquia de métodos preferíveis de gerenciamento para resíduos sólidos municipais e resíduos industriais. 34 5. RESIDUOS: DE PROBLEMA A SOLUÇÃO 5.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELOS RESIDUOS Os problemas ambientais relacionados com os resíduos sólidos podem ocorrer em diferentes vertentes, contudo, a forma mais grave é quando esses problemas ocasionam acidentes ambientais. Tais acidentes se manifestam de muitas formas desde pelo descarte dos produtos químicos, até de resíduos em vias públicas ou mesmo disposto indevidamente sob o solo e nas indústrias são acondicionados em galpões sem nenhuma forma de controle, colocando em risco a saúde pública e meio ambiente (RIBEIRO E MORELLI, 2009). Segundo Ribeiro e Morelli, a preocupação é maior quando se trata de resíduos industriais, pois estes são os grandes responsáveis pela destruição do meio ambiente. São considerados resíduos perigosos e, portanto, requerem uma atenção maior, pois os mesmos contêm substâncias químicas como cianureto, pesticidas, metais como o mercúrio, cádmio, chumbo, e solventes em geral. Tais resíduos são provenientes da produção industrial que sem um programa de gestão de resíduos sólidos são lançados in natura em córregos d’água (quando líquidos), no solo (quando sólidos) e no ar (quando são gases), afim de que o meio ambiente absorva tais substancias toxicas. Conforme Ribeiro e Morelli, a presença delas no meio ambiente causa grave transtornos ao meio e causando tragédias, pois muitos deles não são biodegradáveis. Segundo a Companhia de Tecnologia do Saneamento Ambiental – CETESB, a atividade de armazenamento de produtos químicos quando realizada de forma clandestina, ou seja, sem as licenças ambientais dos órgãos competentes, colocam em risco a segurança da população e o meio ambiente. 35 Segundo um levantamento de dados realizados pela CETESB no Estado de São Paulo outra atividade responsável por grande parcela de acidentes são os de transporte rodoviário, haja vista que muitos produtos são transportados por nossas rodovias que muita das vezes encontra-se em péssimo estado de conservação. Os resíduos perigosos são tradicionalmente produzidos pelas indústrias de metalurgia, de eletroeletrônicos, de fundição, química e as indústrias de couro e borracha (RIBEIRO E MORELLI, 2009). Ainda segundo os autores Ribeiro e Morelli, a preocupação, no entanto, volta- se para as comunidadesvizinhas destes empreendimentos, que infelizmente são os mais atingidos. E temos diversos exemplos de acidentes pelo mundo, sobre tudo no Brasil, onde obtivemos recentemente, um acidente de dimensões incalculáveis quando uma barragem de rejeitos de minério de ferro da mineradora Samarco rompeu-se em novembro de 2015, despejando cerca de 35 milhões de metros3 de lama de rejeitos de minério de ferro e outros metais provenientes da extração mineral, destruindo cidades vizinhas, matando 17 pessoas e deixando milhares de desalojados (GLOBO, 2016). Além dos acidentes ambientais de grandes proporções, como este, existem também aqueles de menor impacto, e por isso menos divulgado, seja por sua baixa magnitude, pequena influencia em outras regiões, até mesmo, por acobertamento das autoridades locais. Esse último ocorre devido as fabricas instaladas gerarem emprego e renda para as comunidades e também arrecadação tributária para o município, assim discutir com as fabricas levaria sérios problemas econômicos e sociais para estas comunidades. Negligenciando assim a questão ambiental. Mudanças são necessárias e segundo Kraemer (2017), as mudanças ainda são lentas na diminuição do potencial poluidor do parque industrial brasileiro, principalmente no tocante as industriais mais antigas. Estas continuam contribuindo 36 com a maior parcela da carga poluidora gerada e elevado risco de acidentes ambientais, sendo, portanto, necessários altos investimentos de controle ambiental e custos de despoluição para controlar a emissão de poluentes, o lançamento de efluentes e o deposito irregular de resíduos perigosos. Desta forma, fica claro que a proposta de reutilização e da reciclagem dos resíduos sólidos pode ajudar a diminuir parte destes problemas. Esses processos tendem a reduzir os resíduos armazenados nos pátios das empresas e consequentemente os acidentes provocados por vazamentos. Indiretamente, menos matéria prima será explorada caso haja menos desperdícios. Somos contumazes em continuar no comodismo quando o assunto é mudar de atitude para as questões ambientais, nos acostumamos a jogar nossos resíduos em qualquer lugar sem observar as consequências desse ato. Assim, construímos uma cultura carregada por costumes pouco inteligentes. Fato é que as empresas precisam cada vez mais procurar elaborar e implantar boas pratica de gestão adequada para com seus resíduos, buscando sempre alternativas para reutiliza-los minimizando as ocorrências dessas tragédias. Mas devemos manter o cuidado de não apenas criar um sistema de prevenção de acidentes ambientais ou de gestão adequada de resíduos apenas quando da ocorrência de uma catástrofe. Até porque, as multas aplicáveis nesses casos podem ser tão elevadas que a empresa pode ter que pedir a falência visto que a multa pode ser muito maior que o próprio valor da empresa. 37 5.2 SOLUÇÕES ENVOLVENDO REUTILIZAÇÃO DE RESIDUOS Percebemos até aqui que os resíduos causam sérios problemas ambientais quando dispostos em qualquer lugar e que os processos que dão origens aos mesmos dificilmente deixarão de existir, visto que nos necessitamos das indústrias para nossa existência. Sabemos que o certo seria a não geração destes resíduos, porem conforme o que foi supracitado nos resta duas alternativas plausíveis que se forem colocadas à prova com certeza nos traria alguma solução para os problemas até aqui comentado. A primeira e mais importante seria a redução dessa geração de resíduos. Essa proposta é inquestionavelmente a mais viável e certeira de todas, pois quanto menos resíduos gerados, menor serão os problemas. O homem desde a revolução industrial vem exacerbadamente produzindo resíduo cada vez mais e hoje já ultrapassamos a quantidade de 1 Kg per capita por dia de resíduo solido domiciliar. As indústrias também seguiram esse aumento significante, pois foram a partir do aumento de pessoas que mais indústrias foram sendo criadas e mais produtos foram produzidos. A falta de gestão ambiental contribuiu também para tal fato. A segunda e não menos importante é a busca por alternativas economicamente viáveis para reutilizar e/ou reciclar esses resíduos. A partir do momento em que as questões ambientais passaram a fazer parte da pauta das grandes empresas no que tange a solução para os resíduos gerados por elas, continuaram então a evoluir melhorando suas tecnologias e processos para redução de seus resíduos ou mesmo investindo em projetos que viabilizem utilizar seus resíduos em outros processos. 38 Hoje quando o assunto é reciclagem logo nos pensamos no alumínio e não a atoa a reciclabilidade é um dos principais atributos dele, podendo ser reciclado inúmeras vezes, sem alterar suas características no processo de reaproveitamento. Segundo a Associação Brasileira de Alumínio (ABAL), o índice de reciclabilidade de latinhas chega a 96,5%, o que gera uma economia de energia de 2,33 GW.h por ano (0,5% do consumo no Brasil), o suficiente para abastecer, por um ano inteiro, uma cidade com mais de um milhão de habitantes, como Campinas (SP). Ainda segundo a ABAL o país ocupa o primeiro lugar no ranking do índice de reciclagem com cerca de 95% do material consumido sendo reaproveitado. Um dos motivos para tal sucesso estão nos catadores, pois o recolhimento e venda de latas de alumínio é mais rentável do que qualquer outro material que possa ser reciclado, tal como papel, por exemplo. Ao todo a reciclagem do alumínio movimenta R$ 1,7 bilhão e apenas na coleta são o equivalente a R$ 523 milhões para economia do país, gerando cerca de 180 mil empregos. Outro material passível de ser reciclado que existe em nosso cotidiano a muitos anos é o vidro, e este pode levar até 5 mil anos para se decompor, tornando- o assim importante reciclá-lo até porque possui características que permitem que ele seja reciclado inúmeras vezes assim como é feito com o alumínio. No Brasil, estudos realizados pela Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (ABIVIDRO) mostram que das mais de 1 milhão de toneladas de vidro são produzidas por ano, apenas 47% são recicladas. Apesar de obter números bem mais modestos que o alumínio, o vidro é consideravelmente vantajoso à medida que, para cada tonelada de cacos de vidro, obtém-se uma tonelada de vidro novo, portanto, uma economia de 1,2 toneladas de matérias primas como a água, e de energia usada para fusão nos fornos industriais. 39 Bastante antigo e muito conhecido por todos, o papel desde sua criação sempre foi muito importante em nossas vidas. Esse material também pode ser reciclado, contudo, menos da metade do que é consumida no país passa por esse processo, muito se deve ao fato do papel ser um material pouco valorizado, mas também pelo seu uso na própria indústria de celulose gerando energia elétrica para o setor. Com o desenvolvimento tecnológico durante o século XIX os polímeros, mais conhecidos como plásticos passaram cada vez mais a fazer parte de nossas vidas e desde então seu uso foi se acentuando entre as pessoas, muito pela sua praticidade, leveza, mas no início seu processo de reciclagem não era realizado e não se encontrava nas pessoas e muito menos por parte das indústrias alguma preocupação, contudo, nos últimos anos a reciclagem do plástico passou a ser realizado em grande escala, muito devido à economia de energia que o processo de reciclagem do polímero traz, girando em retorno cerca de 50%. Às vezes, pequenas atitudes podem resultar em grandes resultados. Um programa desenvolvido em parceria entre a entidade Plastivida, o Instituto Nacional do Plástico (INP), a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (ABief) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), intitulado “ Programa de Qualidade e Consumo Responsáveldas Sacolas Plásticas” apontou uma redução de 12%no uso de sacolas plásticas em São Paulo em apenas 30 dias. A única atitude tomada foi oferecer ao consumidor sacolas plásticas de melhor qualidade e a promoção do uso consciente. (RIBEIRO, 2009). No entanto, nos últimos anos também tem se observado a grande preocupação com a indústria de construção civil, que possui uma geração de resíduo de Construção Civil – RCC com cerca de 90 milhões de toneladas de resíduos anualmente. Tanto é que o CONAMA estabeleceu diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos RCC com a Resolução 307, de 5 de julho de 2002. 40 Contudo, o setor também é um dos que possuem maior possibilidade de utilizar-se de seus próprios resíduos. Atualmente, A indústria da construção civil permite incorporar os resíduos nos mais diversos artefatos, por exemplo, telhas, blocos, meios fios, tubulações, bloquetes, argamassas e concretos. É importante frisar o quão significante esse tipo de indústria é quando relacionamos com RS, pois conforme a Resolução CONAMA Nº 307/2002, essas indústrias geram resíduos que envolvem os de todas as outras, tais como, componentes cerâmicos, plásticos, papelões, madeira, metais, vidros e outros. Além destes, temos os resíduos perigosos como, solventes, tintas, óleos e outros. Ou seja, a indústria de construção civil passou a ser vista de forma diferente, pois a mesma já possui elevado grau de impacto sobre o meio ambiente. Nos próprios cursos de graduação em engenharia civil muitos possuem alguma matéria relacionada com o meio ambiente e/ou economia nos processos de construção de edificações. Um exemplo da preocupação com os RCC é um projeto que foi iniciado em 1996 que foi a construção de usinas de reciclagem para resíduos de construção civil na capital Belo Horizonte. A mesma em uma década gerou uma economia da ordem de R$ 10 milhões aos cofres públicos com a reciclagem de quase 1 milhão de RCC. Podemos perceber então que os macros setores da economia já se utilizam de resíduos que podem ser reaproveitados e que também possuem alto poder econômico, além de preservar os recursos naturais e na melhoria da qualidade de vida de todos. 41 Além destes macros setores produtivos também podemos notar que empresas passaram a enxergar essa possibilidade, porem essa visão não veio por mera espontânea vontade, mas sim devido a pressões de instituições financeiras de crédito, principalmente as internacionais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entre outros. Um exemplo de sucesso é o caso da Indústria Romi S.A, uma empresa do ramo de fundição, que usa a areia como matéria prima para fabricação de peças fundidas e de maquinas e ferramentas. No processo de fabricação das peças são utilizadas grandes quantidades de areia para confecção de moldes e machos que gira em torno de 800 a 1.000 Kg para cada 1000 Kg de peças produzidas e toda essa areia é extraída de jazidas de cavas ou rios. Devido às misturas com resina fenólica para a produção das peças tornavam a reutilização difícil e assim, gerando grande descarte de areia que muitas vezes alcançava valores na ordem de 1.000 toneladas/mês e em atendimento as exigências da CETESB geravam um custo aproximado de R$ 500.000,00/ano para fazer a disposição final em aterro industrial. Como solução a indústria trocou a resina fenólica pela furânica assim, a empresa consegue reutilizar cerca de 98% da areia que seria descartada, para tanto a empresa precisou investir R$ 50.000 para obtenção das melhorias citadas e gastos ficaram por conta principalmente com treinamento, aquisição de dosadores para mistura de areia recuperada com a nova. O resultado foi surpreendente, já que o consumo de areia passou de 800 Kg a 200 Kg para cada 1.000 Kg de peças produzidas, ou seja, uma redução de 80% e consequentemente no descarte. Além do enorme ganho ambiental a empresa passou a economizar cerca de R$ 1 milhão devido a redução na compra de areia nova e nos gastos com para disposição final em aterro. E segundo a empresa, ela pretende no futuro utilizar a areia de fundição na construção civil, evitando assim, o descarte em aterros. 42 Este caso mostra que o uso de resíduos, quando bem utilizados, podem gerar renda para as empresas de maneira ambientalmente responsável. Exemplos de sucesso, pessoas capacitadas e ideias inovadoras existem por todo o País. E necessário agora que as empresas acreditem ser possível encarar o resíduo como um subproduto que, se devidamente trabalhado e com investimentos consistentes, ode se tornar nova fonte de receita para as mesmas. (RIBEIRO, 2009). 43 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resíduos sólidos são conseqüências das ações antrópicas desde que o homem começou a requerer para sua subsistência os recursos naturais, apesar de que a centenas de milhares de anos a ação humana era irrelevante diante da grandiosidade do planeta, contudo, após a revolução industrial houve uma necessidade gigantesca por mais recursos, tudo devido ao crescimento exponencial da população mundial e seguido de perto pelo êxodo rural. Apesar de todo esse contexto, nunca foi preocupação por parte dos governos, empresas e pelo homem, o tema. Até o momento em que tais resíduos passaram a incomodar a sociedade ora pelo aspecto da saúde, ora pelo econômico e social e por fim pelo aspecto ambiental. A partir de então, o homem começou a perceber que se continuasse dessa forma, não haveria como viver com qualidade de vida como todos almejam, então ocorreram diversas conferencias mundiais para discutir assuntos diversos, sobretudo o meio ambiente. O fato é que o tema resíduo sólidos, também muito conhecido simplesmente como lixo, vem sendo discutido apenas há pouco tempo, haja vista, que a Política Nacional de Resíduos Sólidos, objeto dessa pesquisa só foi sancionada e decretada em 2010, apesar da mesma ter sido debatida por aproximadamente 20 anos, ou seja, o tema ainda é apenas um jovem de 27 anos que ainda precisa de tempo para amadurecer, e ainda se considerarmos apenas a partir do ano em que foi juridicamente legalizada, a Lei é apenas uma criança, portanto, é um tema consideravelmente atual e passível de muitas discussões e revisões. Moldou-se então o conceito de gestão de resíduos sólidos, muito popular nos dias de hoje, e sendo ferramenta substancial de base para o desenvolvimento sustentável. Diante do exposto e na pesquisa bibliográfica realizada por essa pesquisa de revisão, foi visto que a Política Nacional de Resíduos Sólidos se faz necessária e que ela por si só não é a solução de todos os problemas relacionados com os resíduos sólidos e assim se faz necessário a gestão integrada e o gerenciamento 44 correto destes na observância de diversas outras leis e regulamentos que normatizam as atividades relacionadas. Haja vista, que mesmo após alguns anos o Brasil ainda possuí cidades com lixões a céu aberto e que também não contam com um adequado gerenciamento de resíduos sólidos tanto por parte do poder público quanto das empresas. O desafio é enorme pois transcende uma cultura amarrada ao consumismo excessivo que o capitalismo impôs ao homem moderno de sempre querer mais e ligado na idéia de que a natureza se encarrega de repor o que o homem destrói. Como supracitado a integração também foi proposta devido à complexidade e abrangência do tema em questão e, portanto, necessária a articulação com outras Leis como a Política Nacional de Educação Ambiental, a de Saneamento Básico, de Vigilância Sanitária e de Saúde pensando nisso foi elaborada o conceito de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, para dar o mínimo de organização e conteúdo e colocar em pratica essa articulação. A PNRS, apesar de ter levado quase vinte anos para sua promulgaçãofoi bem elaborada e estruturada trazendo bons conceitos que devem ser trabalhados com afinco e discutidos e reformulados sempre que houver necessidade. Importante frisar que alguns inclusive foram incluídos com tamanha ousadia, pois certamente enfrentarão algumas dificuldades em serem colocadas em pratica. Dessa forma e considerando todos estudos e pesquisas até aqui foi percebido que a Lei propõe uma mudança cultural muito profunda, pois não há mais espaços para hábitos irracionais, por isso, a PNRS traz em sua estrutura a Lei de Educação Ambiental, pois notou-se que a educação é o princípio para essa mudança. 45 Os problemas provenientes da má gestão dos resíduos sólidos são conhecidos, mas alguns nem tanto, devido seu efeito indireto, entretanto, entendemos que os próprios resíduos podem ser solução para muitos problemas que enfrentamos caso seja feito sua gestão correta e adequada. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABAL – Associação Brasileira de Alumínio. Reciclagem. Disponível em: <http://www.abal.org.br/reciclagem/introducao.asp.> Acesso em 20 mar. 2017. ABIVIDRO - Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro. Índice de Reciclagem. Disponível em: <http://www.abividro.org.br/index.php/28>. Acesso em 20 mar. 2017. ALMEIDA, Lúcia M.; RIGOLIN, Tércio Barbosa. 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