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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) TITULAR DA 2ª VARA CRIMINAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE PORTO ALEGRE/RS Processo nº 5043571-41.2011.404.7100 Autor: Ministério Público Réu: Henrique Erick Goettems Objeto: Resposta à Acusação HENRIQUE EICK GOETTEMS, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, que lhe move o MINISTÉRIO PÚBLICO, vem, à presença de Vossa Excelência, pela sua advogada, com fulcro no art. 396-A do Código de Processo Penal, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS NARRADOS NA DENÚNCIA HENRIQUE EICK GOETTEMS, foi denunciado pelo Ministério Público Federal, através da Procuradoria da República no Estado do Rio Grande do Sul, como incurso no art. 168, § 1°, inciso II, do CP, por se tratar de fiel depositário de um bem penhorado. A denúncia resultou de investigação autuada sob o n° 800/2011, dado conta do envolvimento do denunciado em crime de apropriação indébita. Em tese o réu teria desobedecido ordem legal exarada pelo Juízo da 17ª Vara do Trabalho de Porto Alegre/RS, e se apropriado, indevidamente, do veículo penhorado junto ao processo trabalhista n° 0029800-74.2009.5.04.0017. É gestor da empresa reclamada na justiça do trabalho e era fiel depositário do bem de propriedade desta empresa (evento 1, NOT_Crime. P4). O veículo era utilizado em viagens a serviço da empresa, mas nunca deixou de estar à disposição da Justiça do Trabalho. A denúncia foi recebida em 26 de abril de 2012 e o acusado Henrique Eick Goettems foi regularmente citado em 15 de maio de 2012. Nesta oportunidade apresenta Resposta à Acusação. II – PRELIMINARMENTE II.I – INÉPCIA DA DENÚNCIA Preliminarmente, insta salientar que a denúncia é manifestamente inepta, por não conter os elementos base do tipo penal, conforme art.41 do CPP: Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá- lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do CPP, suscitada pela defesa. Neste mesmo sentido, é o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça: Assim, requer -se preliminarmente, o reconhecimento da inépcia da denúncia, bem como a reconsideração do despacho em que recebeu a denúncia. II.II – DA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA Compulsando os autos verificou-se a inexistência de prova, a fim de demonstrar a viabilidade da pretensão deduzida. A investigação não logrou êxito em demonstrar que o bem não se encontrava à disposição da justiça do trabalho, bem como de haver impedimento no uso do veículo no ramo em que a empresa atua. Cabe salientar que não pode a referida denúncia prosperar, uma vez que se trata de uma empresa de transportes e esta, depende do trabalho do veículo para angariar recursos para cumprir com suas obrigações. O fato de o veículo possuir restrição judicial em seus registros referente ao processo trabalhista acima referido, não impõe ao reclamado que o mesmo deixe de utilizá-lo para serviços oriundos do ramo em que atua, sobretudo, deverá o mesmo zelar pela integridade patrimonial dada a responsabilidade de depositário que lhe foi atribuído. O veículo, por dispor de ótimas condições que se encontrava, até pelo zelo para que havia com ele, acabava sendo colocado em linha. Fato este que nunca indisponibilizou – o à Justiça do Trabalho – o Fiel depositário mantinha contato com o Sr. Oficial para combinar horário específico com este, com o intuito de cumprir com os procedimentos judiciais que lhe competem, sobe tudo, tais horários nunca eram cumpridos pelo referido Oficial. Ao contrário do que dispõe a denúncia, à época em que o réu prestou depoimento à Polícia Federal, o veículo encontrava-se parado no fato da empresa, à disposição da Justiça do Trabalho, onde sempre permaneceu, até a presente data. Ocorre que, não pode prosperar a presente demanda, sendo que se tratou apenas de um mero “desencontro” por parte do denunciado e do Oficial de Justiça, o fato de não estar disponível o veículo nas vezes em que o réu foi visitado pelo referido Oficial para cumprimento dos mandados. Nunca, em nenhum instante, houve qualquer intenção do demandado de apropriar-se, indevidamente, do bem que garanta o Juízo no processo trabalhista acima referido. O que realmente ocorreu foi a inviável disponibilização do bem, dados os descumprimentos dos horários combinados, pelo Sr. Oficial de Justiça. Situação que acabou por gerar a presente contenda. Sendo assim, descabida e, porque não demasiado o procedimento proposto pelo Ministério Público Federal, haja vista, a evidente possibilidade de soluções administrativa do problema, o qual, há muito se encontra solucionado. Razão pela qual requer a rejeição da denúncia por ausência de Justa Causa para a ação penal, com fulcro no artigo 395 do CPP. Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III – DO MÉRITO Neste momento processual, considerada a inépcia da denúncia por não haver crime, e muito menos justa causa para o oferecimento da denúncia, torna-se impossível a análise pormenorizada do mérito da ação penal. No entanto, um ponto é possível esclarecer, qual seja, não houve interesse do réu em apropriar-se do bem. E para a configuração do delito de apropriação indébita se faz necessário e essencial a presença de dolo (elemento subjetivo). Neste sentido, é o entendimento do doutrinador Julio Fabbrini Mirabete (1992, p.259). O dolo do delito é a vontade de se apropriar da coisa alheia, móvel. A ausência do animus rem sibi habendi exclui, subjetivamente, a apropriação indébita. Exige-se, para a apropriação indébita, o elemento subjetivo do tipo (dolo específico), ou seja, a vontade de ter, como proprietário, a coisa para si ou para outrem Diante do entendimento do Tribunal de Justiça, temos: APELAÇÃO. CRIMES DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA. Hipótese em que os acusados, é imputada a prática do crime de apropriação indébita por afirmadamente terem invertido o caráter da posse de um baú de caminhão, do qual o réu JOSÉ era fiel depositário, munus público assumido perante a Justiça do Trabalho, em sede de execução trabalhista ajuizada contra a empresa da qual ele é preposto, tendo determinado que o réu Henrique procedesse à troca por outro tamanho inferior. Atipicidade da conduta reconhecida porquanto não demonstrado que a troca do baú ocorreu após arrematado o bem pela vítima em hasta pública, tendo em vista que até então o bem continuava na esfera de domínio da empresa da qual os réus eram seus prepostos, não se verificando, assim o elemento típico coisa alheia móvel. A circunstância do Supremo Tribunal Federal haver interpretado que o Pacto de são José da Costa Rica extirpou da Constituição Federal, a prisão civil por depositário infiel, não permite que se distorça os elementos típicos do artigo 168 do CP, ferindo os princípios da legalidade e da reserva legal. APELOS PROVIDOS. POR MAIORIA. (Apelação Criminal, N° 70078912011, Sexta câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator. BernadeteCoutinho Friedrich, Julgado em: 24-09-2019) - Grifou-se. O demandado nunca teve nenhuma intenção de apropriar-se, do bem que garantia o juízo no processo trabalhista acima referido. Assim resta clara a impossibilidade de Henrique cometer apropriação indébita, uma que não houve interesse do réu em apropriar-se do bem ou seja. NÃO HOUVE DOLO. Sendo assim não há dúvidas, a absolvição sumária do acusado, acaso não fulminada a ação penal na preliminar apontada. IV – REQUERIMENTOS Diante do exposto, requer-se, preliminarmente: a) A rejeição da denúncia ante o reconhecimento da inépcia, nos termos do art. 395, I do CPP, uma vez que não atende aos requisitos do art. 41, do mesmo diploma caracterizando a nulidade descrita no art. 564, IV, do CPP. b) a rejeição da denúncia por ausência de justa causa para ação penal nos termos do art. 395, III CPP. c) No mérito, requer-se a imediata absolvição do réu Henrique Eick Goettems, de forma sumária, nos termos do art. 397, III do CPP considerando-se a atipicidade da conduta e ausência do dolo. Caso não sejam acolhidos os pedidos acima deduzidos, o que se admite apenas pelo princípio da eventualidade, requer-se, na instrução: a) A produção de todos os meios de prova em direitos admitidos, em especial o depoimento pessoal do réu e prova testemunhal, conforme rol de testemunhas arroladas, que deverão ser intimadas; b) A absolvição do réu de todas as acusações; c) Subsidiariamente, caso haja desclassificação do delito mais brando, qual seja, a desobediência prevista no art. 330 CP; d) Caso entenda este juízo pela impossibilidade do acolhimento das presentes preliminares, seja no mérito, julgado totalmente improcedente a presente demanda, sendo que o bem encontra-se a disposição da justiça do trabalho, e por esta razão, não há cometimento de crime em que o réu possa ser enquadrado nas penalidades previstas junto ao art. 168,§1°, Inciso II, do CP. Porto Alegre/RS, 03 de abril de 2021. _______________________ Advogado OAB/RS 0000/00 V – TESTEMUNHAS 1) FABIANO MARTINS CARDOSO, residente na Rua Nossa Senhora, Aparecida, n.35, Vila Santa Isabel, nessa cidade; 2) VALDIR CONCEIÇÃO MEYER, residente na Rua Líbano, n. 79, Vila Augusta, nessa cidade.
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