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1 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES HEMATOPOIESE E AVALIAÇÃO DO HEMOGRAMA Anemia não é doença, é um sinal de que existe doença! HEMATOPOIESE É o processo de formação das células do sangue, ou seja, está relacionado com a origem, a multiplicação e a maturação de células precursoras das células sanguínea, a partir de um precursor celular comum e indiferenciado chamado de célula hematopoiética ou célula-tronco. DESENVOLVIMENTO FASE INTRAUTERINA = participam da formação: saco vitelínico, fígado e baço, especificamente: Nas primeiras semanas da gestação, o saco vitelino é um local transitório de hematopoese. Ainda na vida intrauterina, a hematopoese migra da AGM (aorta-gônadas- mesonefros) para a placenta, fígado e baço fetal em torno da 6º semana. FASE EXTRAUTERINA = Após o nascimento, de 6 semanas até 6 a 7 meses de vida fetal, o fígado e o baço são os principais órgãos hematopoiéticos e continuam a produzir células sanguíneas até cerca de 2 semanas após o nascimento. A medula óssea é o sítio hematopoiético mais importante a partir de 6 a 7 meses de vida fetal e, durante a infância e a vida adulta, é a única fonte de novas células sanguíneas. Nos primeiros anos da infância, a atividade hematopoiética pode ser detectada em todos os ossos e em toda a medula óssea. Próximo da puberdade, há a substituição gradual da medula hematopoiética ativa (chamada vermelha), por um tecido gorduroso (amarelo). À medida que os anos avançam, ocorre uma substituição gordurosa na medula dos ossos longos, até que, na idade adulta, somente os ossos da pelve, (como o ilíaco), o esterno, os ossos do crânio, os arcos costais, vértebras e as epífises femorais e umerais são capazes de gerar células sanguíneas. A medula óssea com atividade hematopoiética é denominada medula óssea vermelha, devido à presença de grande quantidade de hemácias e precursores eritróides. O restante dos ossos contém a denominada medula óssea amarela, preenchida por tecido adiposo, porém com potencial para voltar a produzir células sanguíneas sob determinados estímulos. 2 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES PROCESSO DA HEMATOPOIESE A hematopoese inicia-se com uma célula-tronco pluripotente. OBS: O transplante de medula óssea (ou “transplante de células-tronco”), baseia-se na propriedade de um pequeno grupo de células-tronco do doador produzir novamente todas as células hematológicas, reconstituindo a medula óssea do receptor. (leucemia). O crescimento e reprodução das células tronco são controladas por múltiplas proteínas, denominadas indutores de crescimento. Dentre esses indutores, temos hormônios, citocinas, a interleucina-3, que irá promover o crescimento e a reprodução de praticamente todos os diferentes tipos de células-tronco comprometidas. Porém, eles promovem o crescimento, e NÃO a diferenciação. Essa função será dos próprios indutores de diferenciação. A formação desses indutores é determinada por fatores externos, como por exemplo, exposição do sangue a baixas concentrações de oxigênio. Existem ainda fatores que inibem a hematopoiese, como IFN-Gama (uma linfocina produzida por linfócitos T que tem efeito inibidor sobre a proliferação das células imaturas normais); prostaglantina E (produzida pelos macrófagos que tem ação inibitória sobre as CFU-GM - (unidade ou célula formadora de colônias constituídas apenas de neutrófilos [G] e monócitos [M]; dentre outros. Inicialmente, a célula-tronco se diferencia em dois tipos, duas linhagens: a linhagem mieloide – que dará origem às hemácias, plaquetas, granulócitos e monócitos – e a linhagem linfoide – que dará origem aos linfócitos, passando a ser uma célula tronco multipotente. A linhagem mieloide se diferencia e dá origem a outras células sanguíneas: eosinófilos, basófilos neutrófilos, monócitos -> macrófagos, megacariócitos - > plaquetas e eritrócitos/hemácias. A linhagem linfoide dá origem aos linfócitos: linfócitos B e linfócitos T, além das células NK. O precursor B, ou célula pré-B, origina o linfócito B maduro na própria medula óssea, enquanto o precursor T caminha através da corrente sanguínea até o timo, onde termina a sua maturação em linfócito T maduro. 3 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES Os linfócitos maduros (tanto B quanto T) irão se concentrar nos tecidos linfoides do organismo (linfonodos, baço e MALT – Tecido Linfoide Associado à Mucosa). À medida que os precursores vão se diferenciando, dão origem a células comprometidas com a formação de uma determinada linhagem hematológica. Essas células recebem a nomenclatura de “Unidades Formadoras de Colônia”. Por exemplo, a CFU-E/Mega é a nomenclatura da célula progenitora eritroide-megacariocítica, e a CFUG/M é a célula progenitora granulocítica-monocítica. Os elementos maduros do sangue possuem uma vida limitada, devendo ser constantemente repostos. Diariamente, cerca de meio trilhão de células hematopoiéticas diferenciadas, incluindo 200 bilhões de hemácias, participam deste turnover. A vida média de uma hemácia gira em torno de 120 dias. As plaquetas vivem cerca de 7-10 dias, e os granulócitos, 6-8 horas. Os linfócitos possuem uma vida média prolongada, comumente de muitos anos. A produção de cada linhagem celular hematológica (hemácias, plaquetas, leucócitos) é regulada de forma independente, de acordo com a necessidade fisiológica do organismo. ERITROPOIESE É o processo de produção e maturação das hemácias. Antes de falar de todo o processo, divisões, para formação da hemácia madura, é preciso entender que para que isso ocorra são necessários combustíveis da eritropoiese: eritropoietina-hormônio (estimulo), ferro (hemoglobina), ácido fólico/vitamina B12 (síntese de DNA). ERITROPOETINA É um hormônio de glicoproteína que tem papel fundamental para a produção das hemácias, o principal fator de crescimento. A principal fonte da eritropoetina no organismo é o tecido renal, produzido nas células justaglomerulares (cerca de 90%), sendo os 10% restantes formada no fígado. A modulação de sua produção é determinada pela concentração de O2 no rim, se essa [] diminui (hipoxia) = estimula a produção (ex: quando viaja para o Equador ou Chile, tem a diminuição da [O2] no sangue e, com isso, tem um aumento na concentração de eritropoetina e isso justifica os dados de que pessoas que moram em altitudes elevadas tem maiores números de hemácias). A produção a eritrpoetina aumenta na anemia, quando a hemoglobina é incapaz de liberar O2 = em casos de disfunção cardíaca, pulmonar ou lesão na circulação renal (foco em nosso caso da tuts) que afere a liberação de O2 no rim. Em contrapartida, o aumento da [O2] = diminui o estimulo para a produção da eritropoiese. INDICAÇÕES PARA TRATAMENTO COM ERITROPOETINA = altamente eficaz no tratamento de anemia causada por nefropatia, além de ser útil no tratamento de anemias de outras causas. Sua administração pode ser por via subcutânea 3X por semana ou 1X a cada 1ou2 semanas, na verdade depende da indicação e preparação utilizada. O uso do ferro oral ou parenteral é, muitas vezes, necessario para maximizar a resposta a eritropetina. 4 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES ÁCIDO FÓLICO E VITAMINA B12 São de grande importância para a maturação final das células da linhagem vermelha. Ambas serão essenciais para a síntese de DNA na formação de trifosfato de timina (unidade da produção de DNA). Sua deficiência reduz a formação do DNA e consequentemente, falha da maturação nuclear e da divisão celular. Além disso, resulta na formação de macrócitos, que possuem uma membrana frágil, irregular, grande e ovalada, que conseguem até transportar oxigênio, porém tem sobrevida curta e é mais frágil. A cianocobalamina é uma vitamina hidrossolúveldo complexo B, que age como coenzima de reações químicas que transferem um grupo metila do metiltetrafolato para a homocisteína, convertendo-a a metionina. A metionina é um aminoácido essencial e, na forma transformada, é um importante doador de grupos metila em várias reações enzimáticas. A vitamina B12 é absorvida no trato gastrointestinal. Se os níveis de vitamina B 12 são insuficientes e os de metionina também, o organismo passa a utilizar e converter o ácido fólico para produzir metionina, o que reduz a síntese de DNA, causando a anemia megaloblástica. A deficiência de vitamina B 12 causa, também, várias alterações neurológicas, como neuropatia precoce (com perdas de reflexos, parestesias, diminuições das sensibilidades táctil, vibracional e da temperatura), e comprometimentos psicológicos. As alterações neurológicas não são consequência da deficiência de ácido fólico, mas estão ligadas à atividade da metilmalonil-CoA-mutase, outra enzima dependente da vitamina B12. HEMOGLOBINA A principal função do eritrócito/hemácia é o transporte de O2 para os tecidos, para isso precisam da linda proteína hemoglobina. Sua síntese ocorre precocemente na mitocôndria das células da linhagem vermelha, iniciando-se na fase de pró-eritroblasto e perpetuando-se até a formação do reticulócito. A hemácia nada mais é do que um “pacote” de hemoglobina. A hemoglobina é uma macromolécula constituída por quatro cadeias de globinas, cada uma combinada a uma porção heme. O heme é uma molécula formada por quatro anéis aromáticos (protoporfirina) com um átomo de ferro no centro, no seu estado de íon ferroso (Fe+2), capaz de ligar o O2. Portanto, cada molécula de hemoglobina é capaz de ligar quatro moléculas de O2, pois contém quatro grupamentos heme. No adulto normal, em torno de 97% da hemoglobina circulante possui duas cadeias alfa e duas beta, a chamada hemoglobina A (ou hemoglobina A1). Cerca de 2% da hemoglobina circulante possui duas alfa e duas delta, ou hemoglobina A2; e o 1% restante possui duas alfa e duas gama, denominada hemoglobina F (fetal). Esta última (como o nome sugere) é a principal Hb da vida fetal. Obs.: As talassemias são doenças genéticas caracterizadas pela redução ou perda da produção de uma determinada cadeia de globina. Nas betatalassemias, o problema está na produção das cadeias beta, enquanto nas alfatalassemias, o defeito está na produção das cadeias alfa. Obs.: As anemias sideroblásticas são desordens (hereditárias ou adquiridas) caracterizadas por um defeito na síntese do heme. Resultado: sobra ferro no interior do eritroblasto... O ferro livre deposita-se na mitocôndria, promovendo estresse oxidativo e dano a esta organela. O depósito de ferro mitocondrial dá o aspecto microscópico dos sideroblastos em anel, isto é, eritroblastos com depósito de ferro em volta do núcleo. Pronto, entendido que a MO necessita de operários para formação da hemácia, vamos entender esse processo: Há 2 fenômenos que ocorrem durante todo esse processo, o primeiro é a diminuição da concentração de RNA na célula (o que vai deixando o núcleo cada vez menor – até extinguir e o caráter basófilo também vai diminuindo) e o segundo é que existe um aumento da concentração de hemoglobina, tornando a coloração mais próxima ao avermelhado = eosinofílico. A partir da célula tronco, a eritropoiese passa pelas células progenitoras (aquelas siglas la que vimos: CFU- unidade formadora de colônias granulociticas, BFU – eitroide, entre outros), até o primeiro precursor, o proeritroblasto, uma celula grande com citoplasma azul escuro, tem núcleo ... que irá se dividir diversas vezes, resultando em hemácias maduras, anucleada. 5 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES Mas calma lá, vamos entender a ordem de maturação, do proeritroblasto, teremos o eritroblasto policromatofilico, depois o eritroblasto ortocromatico/hemácia nucleada (que vai perder seu núcleo e se transformar em reticulócitos) reticulócitos (que será liberado na corrente sanguínea após 2 dias) e, por fim, hemácia/eritrócito. Em geral, um único proeritroblasto origina 16 eritrocitos maduros. DESTRUIÇÃO DE HEMÁCIAS A duração de vida das hemácias é de cerca de 120 dias, já que não possuem núcleo, sofrendo esgotamento metabólico e alterações degenerativas. Essas são removidas e destruídas pelos macrófagos do baço, fígado e medula óssea. No mecanismo normal, as hemácias velhas são eliminadas pelo reconhecimento, por parte de anticorpos IgG e pelo sistema complemento, devido a redução da atividade metabólica e oxidação da hemoglobina. A hemoglobina é decomposta em globina e grupo heme, que, por sua vez, libera o ferro e forma a bilirrubina. O ferro é reaproveitado para síntese da hemoglobina. A bilirrubina lipossolúvel (“indireta” ou não conjugada) circula ligada à albumina, sendo retirada da circulação pelos hepatócitos. No fígado, é conjugada com compostos, como ácido glicurônico, pela ação da glicuroniltransferase, tornando-a hidrossolúvel (“direta” ou conjugada). Esse composto formado é excretado pelos canalículos hepáticos, alcançando o duodeno como parte da bile. No intestino, o resultado do metabolismo da bilirrubina direta é denominado urobilinogênio fecal, responsável pela coloração das fezes. Parte desse urobilinogênio é reabsorvido e alcança o fígado pela circulação portal, no qual é absorvido pelos hepatócitos e reexcretado no intestino. Apenas quando há lesão dos hepatócitos, esse urobilinogênio alcança a circulação sistêmica, sendo filtrado pelos rins, aparecendo na urina. Obs.: Portanto, a maior destruição de hemoglobina, que caracteriza as anemias hemolíticas, aumenta a concentração de bilirrubina indireta no plasma e a quantidade de urobilinogênio fecal produzida diariamente, mas não leva ao aumento grosseiro de urobilinogênio na urina; esse aumento ocorre apenas quando há lesão funcional dos hepatócitos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ANEMIA Anemia é a diminuição da concentração de hemoglobina do sangue abaixo dos valores de referencia para idade e sexo, que depende na verdade do laboratório, mas um valor aproximado é hemoglobina abaixo de 13,5 em homens adultos e 11,5 em mulheres adultas; nos 2 anos de idade ate puberdade = abaixo de 11; RN = abaixo de 14. As manifestações clínicas de anemia são decorrentes da redução da oxigenação dos tecidos, principalmente cérebro e coração e relacionadas à capacidade compensatória do sistema pulmonar e cardiovascular. A presença ou ausência dos sinais podem ser consideradas de acordo com 4 fatores principais: velocidade de instalação da anemia, intensidade da anemia, idade e curva de dissociação de O2 da hemoglobina. Quanto aos sintomas, de uma maneira geral, dispneia (esforço), fraqueza, letargia, palpitações e cefaleia. Podendo em idosos levar ate a insuficiência cardíaca, angina, claudicação intermitente, outros. Quanto aos sinais: gerais ou específicos. Gerais: palidez de mucosas (atentar no exame físico a olhar, principalmente a da boca e conjuntiva); Específicos: depende do tipo de anemia, as unhas em colher (coiloníquia) na deficiência de ferro, icterícia nas anemias hemolíticas e megaloblásticas. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA 6 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES A anamnese deve pesquisar algumas pistas importantes – (1) tempo de instalação dos sintomas: as anemias carenciais (ferropriva e megaloblástica), a anemia aplásica, as mielodisplasias, a anemia de doença crônica e o mieloma múltiplo são caracteristicamente de instalação insidiosa, enquanto a anemia hemorrágica aguda e a anemia hemolítica autoimune geralmente têm início abrupto; a anemia falciforme, as talassemias e a esferocitose hereditária são anemias crônicas de origem familiar, que têm, portanto, o seu início desde a infância; e (2) sintomas associados: muitasvezes não relacionados ao quadro anêmico, podem denunciar a existência de uma doença de base (ex.: crises álgicas na anemia falciforme; comemorativos de hipotireoidismo; dor óssea no mieloma múltiplo; febre prolongada nas infecções crônicas...). O exame físico também ajuda bastante: (1) ao encontrar glossite e queilite angular, o médico deve pensar nas anemias carenciais; (2) a icterícia é um achado comum nas anemias megaloblásticas e hemolíticas; (3) esplenomegalia significativa sugere anemia hemolítica, hiperesplenismo ou neoplasias hematológicas; (4) petéquias indicam possível plaquetopenia, presente na anemia aplásica e nas leucemias agudas; e (5) deformidades ósseas na face e crânio falam a favor de talassemia. EXAMES COMPLEMENTARES A investigação laboratorial complementar é fundamental para a confirmação do diagnóstico etiológico das anemias. Os exames mais importantes para a abordagem das anemias, gerais e específicos são: GERAIS: → Hemograma completo-> anemia + tipo; → Contagem de reticulócitos-> evidencia funcionamento adequado da MO; → Esfregaço do sangue periférica; → Bioquímica sérica convencional. ESPECÍFICOS -> visam confirmar o tipo de anemia + etiologia base: → Ferro, TIBC e ferritina séricas; → LDH, bilirrubinas, haptoglobina; → Hepatograma; → Hormônios tireoidianos; → Cortisol; → Dosagem de B12 sérica; → Teste de Coombs; → Teste da fragilidade osmótica; → Eletroforese de hemoglobina; → Teste de Ham; → Aspirado/biópsia de medula óssea. HEMOGRAMA Um exame barato e bastante acessível, capaz de avaliar o paciente de uma forma global, nos dando uma ideia mais específica do estado sanguíneo do paciente. A análise do hemograma se faz importante noção para as especialidades clínicas, como também para as cirúrgicas: avaliar se um paciente está anêmico antes de um procedimento. ERITROGRAMA + LEUCOGRAMA + PLAQUETOGRAMA ERITROGRAMA: já foi discutido, estuda as alterações quantitativas e morfologia dos eritrócitos, as alterações na hemoglobina, no hematócrito e nos índices globulares. LEUCOGRAMA = séries brancas do sangue, os leucócitos, as células de defesa. Evidenciam um quadro infeccioso. PLAQUETOGRAMA: estuda a contagem e morfologia das plaquetas. 7 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES ÍNDICES HEMATIMÉTRICOS São fundamentais na avaliação inicial do diagnóstico etiológico das anemias e, quando associados ao quadro clínico, podem trazer forte suspeita diagnóstica, algumas vezes suficiente para o início da terapia. São eles: 1. VCM ou VGM: Volume Corpuscular (ou Globular) Médio, isto é, o volume médio das hemácias, medido em fentolitros; VCM = hemácias macrocíticas; VCM = hemácias microcíticas; 2. HCM ou HGM: Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, isto é, a massa de hemoglobina média das hemácias, medida em picogramas; HCM = hemácias hipercrômicas; HCM = hemácias hipocrômicas; 3. CHCM ou CHGM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular (ou Globular) Média, medida em g/dl. Esses índices são automaticamente determinados pelo Coulter (hemograma de automação), mas também podem ser calculados através da hematimetria, hematócrito e hemoglobinemia: VCM = Ht x 10/hematimetria; HCM = Hg x 10/hematimetria; CHCM = HCM/VCM x 100. Obs.: hematimetria (milhões/mm3); Ht (%); Hg (g/dl). ÍNDICE DE ANISOCITOSE (RDW): Indica a variação de tamanho entre as hemácias, sendo normal até 14%. Vários tipos de anemia podem elevar o RDW, porém uma causa comum de anemia cursa com este parâmetro caracteristicamente normal: beta- talassemia minor. A anemia ferropriva possui RDW aumentado, portanto, este parâmetro pode ser útil (mas nunca definitivo) para diferenciar, diante de uma anemia microcítica, entre ferropriva e talassemia minor. Na anemia ferropriva, o RDW encontra-se em torno de 16%, enquanto na talassemia minor, está próximo a 13%. LEUCÓCITOS E PLAQUETAS As contagens fazem a distinção entre anemia pura e pancitopenia (anemia + leucopenia + plaquetopenia), que sugere anemia aplásica ou leucemia aguda (defeito na MO). Uma pancitopenia leve a moderada pode ocorrer na anemia megaloblástica, mielodisplasias, neoplasias hematológicas ou não hematológicas metastáticas. A anemia autoimune pode cursar com plaquetopenia (também autoimune), levando a uma bicitopenia (síndrome de Evans). O achado de anemia microcítica hipocrômica com trombocitose (aumento da contagem plaquetária) é muito sugestivo de anemia ferropriva. Um aumento extremo dos leucócitos (> 25 mil/mm3) pode estar presente nas infecções bacterianas graves, na hepatite alcoólica, na hemorragia aguda, nas síndromes mieloproliferativas e nas leucemias. A associação de anemia com leucocitose e trombocitose está presente no sangramento agudo e nas síndromes mieloproliferativas. O diferencial de leucócitos pode revelar achados importantes para o diagnóstico. O exemplo mais marcante é a presença de formas jovens da linhagem granulocítica (bastões, metamielócitos e mielócitos) associada a eritroblastos (hemácias nucleadas) na periferia, um achado denominado leucoeritroblastose, que tem como significado clínico a ocupação medular por algum processo patológico (mielofibrose idiopática, neoplasia metastática ou mesmo uma infecção disseminada). CONTAGEM DE RETICULÓCITOS Reticulócitos são eritrócitos (ou hemácias) imaturos, recém-emitidos na circulação sanguínea. Eles são produzidos na medula óssea e liberados na circulação e normalmente amadurecem em um ou dois dias em hemácias, as quais têm uma vida útil de aproximadamente 120 dias em circulação. Quanto a sua contagem, normal é entre 0,5-2,5%, outras literaturas trazem de 1-2%. Sua contagem, como já dito, deve elevar-se na anemia devido ao aumento da eritropoetina e refletir a intensidade da anemia, em resumo: como mecanismo compensatório à anemia. 8 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES A falta de elevação da contagem de reticulócitos em pacientes anêmicos sugere diminuição da MO ou falta de estimulo eritropoetínico. Índice de Produção Reticulocitária (IPR): Obs.: O IPR é o mais fidedigno para classificar as anemias em hipoproliferativas ou hiperproliferativas, quando o hematócrito está abaixo de 30%. A anemia é considerada hiperproliferativa (hemolítica ou hemorrágica aguda) se o IPR estiver acima de 2% (obs.: algumas fontes citam 2,5%). ESFREGAÇO DO SANGUE PERIFÉRICO Ou Hematoscopia: esse é um dos mais importantes exames para avaliação etiológica da anemia e deve ser feito de forma rotineira pelo hematologista. É um exame bastante simples: utilizando-se uma gota de sangue (obtida após lancetar a ponta do dedo do paciente, ou mesmo do sangue colhido para o hemograma), faz-se um esfregaço ou distensão sanguínea em uma lâmina com a ajuda de outra lâmina. Depois é só corar, utilizando-se os corantes do grupo Romanowski (Giemsa, Wright). Um técnico experiente ou um hematologista treinado é capaz de observar uma série de alterações nas hemácias, leucócitos e plaquetas, que sugerem (ou confirmam) determinadas etiologias de anemia. Podem-se observar: 1. o tamanho dos eritrócitos, comparando-os ao núcleo de um linfócito normal; 2. acromia dos eritrócitos – hemácias hipocrômicas possuem apenas um pequeno halo róseo envolvendo um grande centro claro; 3. o grau de anisocitose – se houver anisocitose acentuada, são vistas hemácias pequenas, normais e grandes em vários campos da lâmina; 4. poiquilocitose ou pecilocitose: hemácias de várias formas, com formato bizarro – alguns tipos de pecilócitos são típicos de determinadas etiologias; 5. presença de inclusões hemáticas, sugestivas de algumas patologias; alterações dos leucócitos ou plaquetas típicas de certas desordens – ex.: neutrófilo hipersegmentado na anemia megaloblástica, megatrombócitos e fragmentos de megacariócitosna mielofibrose, neutrófilos hipo ou agranulares e com anomalia do tipo pseudo- Pelger-Huet na mielodisplasia. BIOQUÍMICA SÉRICA Bioquímica Sérica: a dosagem das escórias nitrogenadas (ureia e creatinina) pode confirmar o diagnóstico de insuficiência renal crônica. A anemia geralmente está presente quando a creatinina está acima de 2,5 mg/dl. O hepatograma pode ajudar no diagnóstico de uma hepatopatia crônica. As anemias hemolíticas cursam com hiperbilirrubinemia indireta, aumento do LDH e redução da haptoglobina. A destruição celular na anemia megaloblástica ocorre dentro da medula óssea (eritropoiese ineficaz), levando a um quadro bioquímico semelhante ao das anemias hemolíticas. O ferro sérico está reduzido na anemia ferropriva e na anemia de doença crônica. A saturação de transferrina < 15%, calculada dividindo-se o ferro pelo TIBC (capacidade de ligação total da transferrina), e uma ferritina sérica < 10 ng/ml confirmam o diagnóstico de anemia ferropriva. As dosagens da vitamina B12 e ácido fólico são de grande valia na avaliação etiológica da anemia megaloblástica, assim como o ácido metilmalônico. CLASSIFICAÇÃO DAS ANEMIAS ANEMIAS HIPOPROLIFERATIVAS Diagnosticadas pela reticulocitopenia, resultam da baixa taxa de produção de hemácia. Apresenta contagem de reticulócito corrigida < 2% ou < 100.000/mm3. As causas mais comuns são: 9 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES 1. Deficiência nutritiva (em crianças e adultos) por falta de absorção, ingesta inadequada ou perda crônica (especialmente de ferro, folato e vitamina B12); 2. Falta de estímulo com diminuição de hormônios estimulantes da eritropoese – EPO (disfunção renal), hormônio tireoidiano, androgênio; 3. Doenças da célula-tronco (anemia aplásica, mielodisplasia) ou infiltração medular tumoral; 4. Supressão medular: quimioterápicos, medicamentos; 5. Anemia de doença crônica secundária a processos inflamatórios, infecciosos ou neoplásicos. ANEMIAS HIPERPROLIFERATIVAS Diagnosticadas pela reticulocitose, ocorrem em razão da perda ou destruição excessiva dos eritrócitos, com resposta adequada da medula óssea. Quando a contagem atinge valores ≥ 2% ou ≥ 100.000/mm3, indicando resposta medular normal à perda de sangue ou à destruição excessiva dos eritrócitos. Hemólise é a destruição prematura de hemácias e pode ser de causa congênita ou adquirida. A avaliação morfológica das anemias baseia-se, principalmente, na hemoglobina corpuscular média, no volume corpuscular médio e no red cell distribution width (RDW). O VCM (que mostra o tamanho médio dos eritrócitos) e a HCM (que mostra o valor médio de Hb nas hemácias – representado morfologicamente pela cor do eritrócito) podem ser calculados com base nos valores de hematócrito, número de eritrócitos e Hb. HIPOCRÔMICAS E MICROCÍTICAS São caracterizadas por células pequenas (microcítica = VCM baixo) e de coloração menos intensa (hipocromica = HCM baixo), pelo pouco conteúdo de Hb, que pode ser decorrente de: 1. Diminuição da disponibilidade do ferro: deficiência de ferro, anemia de doença crônica, deficiência de cobre; 2. Diminuição da síntese do heme: intoxicação por chumbo, anemia sideroblástica; 3. Diminuição na síntese de globinas: talassemia, outras hemoglobinopatias. NORMOCRÔMICAS E NORMOCÍTICAS A média do tamanho e da coloração das hemácias é normal. Nessa situação, a análise do sangue periférico é importante, pois pode tratar-se de estágio inicial de anemia microcítica ou macrocítica. Pode também ocorrer pela falta de estímulo da eritropoese (insuficiência renal, endocrinopatia), pela anemia de doença crônica ou pelas anemias por infiltração medular, entre outros. NORMOCRÔMICAS E MACROCÍTICAS Trata-se de hemácias grandes (macrocíticas = VCM elevado) e de coloração normal, maiores que a média, porém com conteúdo globínico normal. Ocorrem frequentemente em: 1. Anemias com metabolismo anormal do ácido nucleico – megaloblásticas por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, medicamentos (zidovudina, hidroxiureia); 2. Reticulocitose importante, pois o reticulócito é uma célula grande – anemia hemolítica, resposta à perda sanguínea aguda; 3. Alteração da maturação do eritrócito (mielodisplasia); 4. Outras causas, como hepatopatia, hipotireoidismo, alcoolismo. Podem-se ainda classificar as anemias, além dos pontos de vista fisiopatológico e morfológico: QUANTO À MASSA ERITROCITÁRIA: 1. Relativas: aumento do volume plasmático, sem alteração da massa eritrocitária (gestante, macroglobulinemia); 2. Absolutas: diminuição real da massa eritrocitária. QUANTO À VELOCIDADE DE INSTALAÇÃO: 1. Agudas: de instalação rápida; 2. Crônicas: de instalação lenta. Após a avaliação e a classificação inicial das anemias, muitas vezes são necessários exames específicos para 10 MÓDULO III: ANEMIAS E PERDA DE SANGUE ANA CAROLINA CAIRES confirmação diagnóstica, como na anemia hipocrômica e microcítica com RDW alto – analisar perfil de ferro; anemia macrocítica com RDW alto – analisar dosagem de vitamina B12 e folato; anemia normocrômica e normocítica com reticulócito baixo e RDW normal – dosar nível sérico de EPO, avaliar funções renal e tireoidiana e solicitar mielograma. ANÁLISE DO CASO
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