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Anemia OBJETIVOS • Descrever os componentes sanguíneos e o processo de hematopoiese. • Compreender o metabolismo das vitaminas relacionadas com a anemia. • Entender a classificação, etiologia, fatores de risco e fisiopatologia da anemia. • Identificar os achados do hemograma em um paciente anêmico. • Descrever as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da anemia. Componetes sanguíneos • O sangue constitui um tecido conjuntivo especializado, formado por elementos figurados – hemácias (eritrócitos ou glóbulos vermelhos), leucócitos (ou glóbulos brancos) e plaquetas – suspensos em um componente líquido (a matriz extracelular), conhecido como plasma, contendo compostos orgânicos e inorgânicos. - Glóbulos vermelhos: Os glóbulos vermelhos (também chamados eritrócitos) compõem cerca de 40% do volume do sangue. Os glóbulos vermelhos contêm hemoglobina, uma proteína que confere a cor vermelha ao sangue e que permite a este transportar oxigênio dos pulmões a todos os tecidos corporais. Oxigênio é utilizado pelas células na produção da energia de que o corpo necessita, o que origina dióxido de carbono como produto residual. Os glóbulos vermelhos transportam o dióxido de carbono dos tecidos de volta para os pulmões. Quando o número de glóbulos vermelhos é demasiadamente baixo (anemia), o sangue transporta menos oxigênio, provocando fadiga e fraqueza. Quando o número de glóbulos vermelhos é elevado demais (eritrocitose, como na policitemia), o sangue pode se tornar muito espesso, fazendo com que a sua coagulação aconteça mais facilmente e elevando o risco de Infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. - Glóbulos brancos: existem em menor quantidade do que os glóbulos vermelhos, numa proporção aproximada de um glóbulo branco para cada 600 a 700 glóbulos vermelhos . Os glóbulos brancos são responsáveis, sobretudo, pela defesa do corpo contra infecções. Existem cinco tipos principais de glóbulos brancos. ▪ Os neutrófilos são o tipo mais numeroso, e servem para ajudar a proteger o corpo contra infecções, seja matando e ingerindo bactérias e fungos ou ingerindo resíduos estranhos. ▪ Os linfócitos consistem em três tipos principais: As células T (linfócitos T) e as células natural killer , que ajudam na defesa contra infecções virais e que também podem detectar e destruir algumas células cancerosas, e as células B (linfócitos B) que se transformam em células que produzem anticorpos. ▪ Os monócitos ingerem as células mortas ou danificadas e ajudam na defesa contra muitos organismos infecciosos. ▪ Os eosinófilos matam parasitas, destroem células cancerosas e estão envolvidos nas reações alérgicas. ▪ Os basófilos também participam das reações alérgicas. - Plaquetas: As plaquetas (também chamadas trombócitos) são partículas semelhantes a células, menores dos que os glóbulos vermelhos ou brancos. As plaquetas existem em menor número do que os glóbulos vermelhos, numa proporção de cerca de uma plaqueta para cada vinte glóbulos vermelhos. As plaquetas atuam no processo de coagulação reunindo-se no local da hemorragia e se aglutinando, de maneira a formar um tampão que ajuda a vedar o vaso sanguíneo. Ao mesmo tempo, elas liberam substâncias que favorecem a coagulação. Hematopoese • Na vida extrauterina, a hematopoese é, em situações normais, restrita à MO. Os ossos são formados pelas zonas cortical (osso compacto) e medular (osso trabecular). A medular tem espaços preenchidos por células hematopoéticas (medula https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-do-sangue/biologia-do-sangue/componentes-do-sangue#v773889_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-inata#v778667_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-adquirida#v778743_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-adquirida#v778750_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-inata#v778689_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-adquirida#v778771_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-inata#v778656_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-inata#v778676_pt https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/biologia-do-sistema-imunol%C3%B3gico/imunidade-inata#v778684_pt vermelha) e estroma vasculoadiposo (medula amarela). • A celularidade da MO varia de acordo com a idade e é calculada pela relação entre medula vermelha e estroma. Em neonatos, a MO é formada quase totalmente por tecido hematopoético e está presente em virtualmente todos os ossos. À medida que a idade avança, há preenchimento progressivo da medula por tecido gorduroso, de modo centrípeto, sendo que a hematopoese em adultos jovens está confinada às vértebras, ossos chatos (crânio, costelas, clavícula, esterno, ilíacos) e terço proximal do fêmur e do úmero. • A célula-tronco multipotente dá origem a todas as células da medula vermelha. O tecido mieloide é composto pelos precursores das linhagens eritrocítica, leucocitária e plaquetária. Além das linhagens derivadas da célula-tronco, a MO possui mastócitos, linfócitos, plasmócitos, osteoclastos e osteoblastos. - Eritropoiese: As células que dão origem às hemácias do sangue são os eritroblastos. Há pelo menos cinco estágios de diferenciação entre a célula eritroide primitiva (eritroblasto) e a hemácia. Os eritroblastos são divididos em pró-eritroblasto, eritroblasto basofílico, eritroblasto policromático precoce e eritroblasto policromático tardio. Nas células eritroides imaturas, o núcleo é maior e o citoplasma mais basófilo, sinal de elevada síntese proteica (hemoglobina e proteínas necessárias à divisão celular). À medida que maturam, as células eritroides perdem a capacidade de síntese proteica e de divisão celular, passando para a fase de aquisição de ferro (grupo heme). Os núcleos reduzem de volume, e o citoplasma adquire coloração mais acidófila, até que o núcleo seja eliminado, restando apenas o citoplasma com hemoglobina (restos de ácidos nucleicos podem permanecer nas hemácias jovens, constituindo os reticulócitos). A partir daí, as hemácias deixam a medula óssea e ganham o sangue. Em poucos dias, os reticulócitos perdem o conteúdo de ácidos nucleicos e assumem o aspecto de eritrócitos, que têm vida média de 120 dias, após o qual são removidos da circulação pelo sistema fagocitário mononuclear. Por isso mesmo, certo número de reticulócitos no sangue é esperado: redução do número deles em paciente com anemia indica que há distúrbio na produção medular de hemácias; grande aumento de reticulócitos indica consumo periférico exagerado (perda sanguínea ou destruição aumentada de hemácias). -Granulocitopoiese Os granulócitos e os monócitos têm uma célula precursora comum, o mieloblasto, que é uma célula bastante similar ao eritroblasto, de tamanho equivalente, mas de forma mais irregular. A maturação dos metamielócitos resulta em bastões e estes, finalmente, em granulócito polimorfonuclear, podendo ser um neutrófilo, eosinófilo ou basófilo. - Monocitopoese: A primeira célula da linhagem monocítica reconhecível após o estágio granulocítico-monocítico é o monoblasto, que é maior do que o mieloblasto e possui citoplasma abundante, irregularmente basofílico, e núcleo arredondado ou lobulado. Os monoblastos são capazes de se dividir e maturar, dando origem aos pró- monócitos, células parecidas com os pró-mielócitos, exceto por terem o núcleo lobulado. O monoblastodá origem ao monócito, que rapidamente migra para o sangue. Ao deixarem os vasos, os monócitos transformam-se em macrófagos, tanto na medula óssea como nos demais tecidos. Macrófagos são células grandes, com relação núcleo/citoplasma pequena e citoplasma volumoso, francamente basofílico, que pode ou não conter partículas fagocitadas, especialmente hemossiderina. - Megacariocitopoese | Plaquetopoese: O megacariócito (MGC) é a primeira célula reconhecida na origem das plaquetas. As plaquetas são originadas de fragmentos do citoplasma de um megacariócito, sendo que um deles pode produzir de duas a oito mil plaquetas em um período de 3 a 12 dias. Hemoglobina • A hemoglobina é um tetrâmero composto de duas de cada dois tipos de cadeias de globina, a alfa e a beta. Cada uma dessas cadeias contém cerca de 141 aminoácidos. Existem quatro grupos heme por proteína; estes possuem um íon de ferro no seu centro, que liga a molécula de O2. • Os benefícios de conter hemoglobina dentro das células, ao contrário de livre no plasma, incluem: uma meia-vida maior (a Hb livre no plasma possui uma meia-vida de apenas algumas horas), a capacidade metabólica dos eritrócitos de manter o ferro ligado à Hb em seu estado funcional e a habilidade de controlar a afinidade do oxigênio pela Hb, alterando as concentrações de fosfatos orgânicos. • Existe três tipos de hemoglobina, devido a variação na cadeia polipeptídica: Hemoglobina A1, Hemoglobina A2 e Hemoglobina F. • É uma célula anucleada e de formato bicôncavo, o que aumenta a área de contato para facilitar o transporte e as trocas gasosas e o seu deslocamento na corrente sanguínea. É produzida na medula em cerca de 7-10 dias, tem uma vida média de 90 – 120 dias na circulação sanguínea e é degradada por fagocitose nos macrófagos esplênicos. • Os macrófagos esplênicos são responsáveis pelo reconhecimento das hemácias senescentes, pelo processo de envelhecimento de sua membrana lipídica e a falência da bomba de sódio-potássio. Ocorre fagocitose das hemácias pelos macrófagos, que liberam hemoglobina e aminoácidos (derivados da membrana da hemácia) que podem ser utilizados para formação de novas proteínas não relacionadas à hematopoiese. • A hemoglobina vai ser degradada em globina (que também podem gerar novas proteínas) e no radical heme, que libera ferro e a protoporfirina. O ferro se liga então a transferrina (proteína de transporte) para circular no sangue e vai ser utilizado novamente na hematopoiese ou armazenado junto à ferritina (principal forma de armazenamento do ferro no organismo). • A protoporfirina será metabolizada à biliverdina e então em bilirrubina, que por sua vez se liga à albumina para ganhar a circulação. Já no fígado, a bilirrubina é conjugada ao ácido glicurônico para ser eliminada pelas fezes na forma de estercobilinogênio (é o que dá a cor amarronzada das fezes), parte dele vai ser absorvida e excretada novamente pelo fígado (circulação entero-portal) e uma pequena porção vai ser excretada pelos rins na forma de urobilinogênio (responsável pela cor amarelada da urina). Anemia • A anemia pode ser causada por sangramentos, aumento da destruição de eritrócitos ou redução da produção dos mesmos. Esses mecanismos servem como uma das bases para a classificação das anemias. • Com exceção das anemias causadas pela insuficiência renal crônica ou inflamação crônica, a redução na tensão de oxigênio tecidual que acompanha a anemia desencadeia um aumento na produção do fator de crescimento eritropoetina por células especializadas no rim. Isso, por sua vez, induz uma hiperplasia compensatória dos precursores eritroides na medula óssea e, em casos de anemia grave, o surgimento da hematopoese extramedular nos órgãos hematopoéticos secundários (fígado, baço e linfonodos). • As causas de anemias podem ser (1) por deficiência de vários nutrientes (Anemias Carenciais, como ferropriva e megaloblástica), como Ferro, Zinco, Vitamina B12 e proteínas, (2) por ativação imune aguda ou crônica (Anemias Inflamatórias ou de Doenças Crônicas), (3) por defeito quantitativo na produção das cadeias de globina (Talassemias), (4) por falha na ativação do grupo Heme (Anemia sideroblástica, hereditária ou adquirida), (5) por substituição do tecido hematopoético por gordura (Anemia Aplásica), (6) por sangramento agudo (Anemias Hemolíticas), (7) por desregulação endócrina (Anemia das Doenças Endócrinas), (8) por defeito na síntese de DNA (Anemia megaloblástica). • Morfologicamente, as anemias são classificadas de acordo com os índices hematimétricos (determinados por contadores eletrônicos de células). Juntamente com as determinações da concentração de hemoglobina, do número de hemácias e do hematócrito, são fornecidos também o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e o red cell distribution width (RDW) – o RDW é um índice que reflete o grau de anisocitose, que é a variação de tamanho dos eritrócitos. • De acordo com o VCM e HCM, as anemias podem ser classificadas do ponto de vista morfológico em: ▪ Microcíticas (VCM < 80 fl); ▪ Normocíticas (VCM 80 a 100 fl); ▪ Macrocíticas (VCM > 100 fl); ▪ Hipocrômica: HCM < 26; ▪ Normocrômica: HCM entre 26 e 34. ANEMIAS MICROCÍTICAS HIPOCRÔMICAS Uma anemia microcítica é definida quando temos VCM<80 fl e hipocrômica quando temos HCM < 28 pg e/ou CHCM <32 g/dL. Não existem muitas causas de anemia microcítica hipocrômica. São elas: (1) anemia ferropriva; (2) talassemia; (3) anemia de doença crônica (o VCM não chega abaixo de 75 fL); (4) anemia sideroblástica, forma hereditária, e (5) anemia do hipertireoidismo. ANEMIAS MACROCÍTICAS Uma anemia macrocítica é definida quando temos VCM>100 fL. A causa clássica de anemia macrocítica é a anemia megaloblástica (carência de folato e/o B12). Esta é a anemia que cursa com os maiores níveis de VCM, frequentemente na faixa entre 110-140 fL. Existem diversas outras causas de anemia macrocítica, todas elas manifestando-se com macrocitose leve (100-110fL) ou com normocitose (podem ser, na verdade, macro ou normocíticas). São elas: (1) síndromes mielodisplásicas, incluindo a forma adquirida da anemia sideroblástica, (2) anemia aplásica, (3) etilismo, (4) drogas do tipo: AZT, metotrexate etc., (5) anemia da hepatopatia crônica, (6) anemia do hipotireoidismo, (7) anemias hemolíticas (excetuando-se as talassemias), (8) anemia da hemorragia aguda. Estas duas últimas são as anemias que cursam com reticulocitose e os reticulócitos são hemácias de tamanho maior, justificando elas serem eventualmente macrocíticas. ANEMIAS NORMOCÍTICAS NORMOCRÔMICAS Uma ampla gama de etiologias encontra-se neste grupo. As principais são: (1) anemia ferropriva, fase mais inicial, (2) anemia de doença crônica, (3) anemia da insuficiência renal crônica, (4) anemia da hepatopatia crônica, (5) anemia das endocrinopatias – hipotireoidismo, hipoadrenalismo, (6) anemia aplásica, (7) mielodisplasias, (8) ocupação medular - mielofibrose, leucemias, câncer metastático, infecção disseminada, (9) anemias hemolíticas, (10) anemia por sangramento agudo, (11) anemia multicarencial – ferropriva e megaloblástica. • Os sintomas de anemia devem-se à redução da capacidade de transporte de O2 do sangue e alteração do volume sanguíneo total, associadas à capacidade compensatória dos sistemas pulmonar e cardiovascular. A velocidade de desenvolvimento das alterações é crucial para a intensidade dos sintomas, ou seja, quanto mais abrupta for a queda de volume sanguíneo e/ou nos níveis de hemoglobina, mais intensos serão os sintomas. • Os sintomas mais comuns da anemia são fadiga, dispneia, palpitações, cefaleias, vertigem,diminuição da pressão arterial e febre discreta, sendo a palidez o principal sinal podendo ser observado no exame físico. Os sintomas vão variar conforme os níveis de hemoglobina e geralmente estão relacionados com sinais de compensação cardíaca. Assim: ▪ Hb 9 a 11 g/dl: irritabilidade, astenia, sonolência; ▪ Hb 6 a 9 g/dl: taquicardia, dispneia e fadiga aos mínimos esforços; ▪ Hb <6 g/dl: sintomatologia mesmo em atividades sedentárias; ▪ Hb <3,5 g/dl: insuficiência cardíaca congestiva iminente. • Podemos encontrar ainda sintomas como câimbras, baixo rendimento escolar, palpitações, lipotimia e síncope. • Ao exame físico, deve-se atentar à coloração de mucosas (descorada, ictérica), visceromegalias, sinais de desnutrição, sinais de outras citopenias, cor da urina, exame geral. • A icterícia associada a palidez é uma manifestação característica de anemia hemolítica, devido a destruição das hemácias e produção de bilirrubina não conjugada, assim, deve-se buscar por visceromegalias, principalmente em baço e fígado. AVALIAÇÃO CLÍNICA: Durante avaliação clínica, é importante avaliar e, se possível, questionar os seguintes dados: ▪ Causa ▪ Tempo de duração da anemia (Início? Duração?) ▪ Reserva funcional orgânica (questionar sobre a presença de doenças hepáticas, renais, etc.) ▪ Compensação medular (observar a quantidade de reticulócitos). Anemia ferropriva • Definida como o “estado mais avançado da deficiência de ferro”. A deficiência de ferro instala- se por mecanismos diversos: (1) aumento do consumo, (2) excesso de perda (hemorragias) ou (3) má absorção. • Quando o organismo está em balanço negativo de ferro o primeiro evento é a depleção dos estoques de ferro para a produção de hemoglobina. O intestino aumenta a absorção de ferro antes mesmo do desenvolvimento da anemia. A ferritina sérica já se encontra reduzida. A eritropoese nesses indivíduos resulta em células com conteúdo reduzido de hemoglobina, tornando-a hipocrômica e microcítica. • Além disso, as dosagens de ferro sérico e transferrina saturada de ferro são baixas. A contagem de reticulócitos também é reduzida. A observação do RDW é um importante no diagnóstico diferencial da anemia ferropriva com talassemias. Na anemia ferropriva o RDW está aumentado com os eritroblastos medulares picnóticos e irregulares. • Além das manifestações comuns da anemia, na ferropenia podem surgir sintomas menos típicos como glossite atrófica (língua sem papilas gustativas), perversão do apetite, geofagia ou pica (vontade de comer terra e barro), disfagia cervical (síndrome de Plummer-Vinson, que ocorrem mais comumente em mulheres, mais ido- sas, onde há uma formação de uma membrana entre hipofaringe e o esôfago), coiloníquia, estomatite angular, amenorreia, cabelos finos e quebradiços e diminuição da libido. • O nosso organismo obtém o ferro da dieta, através de alimentos com ferro heme, presente nas carnes, sendo mais biodisponível e com o ferro não heme, presentes nos vegetais, sendo menos biodisponível. O ferro heme é liberado da proteína da carne através da pepsina e o ferro não heme é reduzido pelo ácido estomacal, o que possibilita sua absorção. O ferro vai ser absorvido no duodeno ou jejuno proximal, sendo a maior parte eliminado pelas fezes. Algumas substâncias, como fitatos, oxalatos, chás, antiácidos e cálcio, diminuem e outras, como Ácido ascórbico (vitamina C), ácidos orgânicos e proteínas da carne, aumentam a absorção. • O tratamento da anemia ferropriva é feito através da reposição de ferro, para normalizar a eritropoese e repor os estoques. - Ferro via oral: Opção – Sulfato Ferroso 200mg • O medicamento deve ser tomado com o estômago vazio a cada 6 horass associado a uma substância ácida, como por exemplo o suco de laranja, que aumenta a absorção de ferro. • Efeitos colaterais do ferro via oral: dor abdominal, náuseas, constipação ou diarreia, sensação de gosto amargo na boca e escurecimento das fezes. • Ferro via parenteral: mais utilizado em casos em que há intolerância ao ferro via oral, falha no tratamento via oral, má absorção ou quando há necessidade urgente de repor o ferro. Opções: Ferro-dextran, gluconato férrico de sódio, ferro-sucrose, feromoxitol • Efeito colateral: anafilaxia grave • O Feromoxitol é a opção com melhor absorção e menos efeitos tóxicos. Anemia megaloblástica • A causa mais comum desse tipo de anemia é a carência de folato e/ou cianocobalamina (vit. B12), sendo mais comum a deficiência de folato. • A vitamina B12 pode ser encontrada em carnes, peixes e laticínios. Após a ingestão da vitamina, ela vai se ligar ao fator intrínseco, liberado pelas células parietais do fundo gástrico e cárdia. O complexo vitamina B12 + fator intrínseco se liga ao receptor no íleo distal, sendo a vitamina absorvida e o fator intrínseco destruído. No plasma, a vitamina B12 é transportada pela transcobalamina até a medula óssea e o fígado. Ela é responsável por transformar homocisteína → metionina e CoA → Succcinil-CoA.] • As principais causas da deficiência de B12 incluem veganismo, anemia perniciosa, má absorção intestinal, anomalias do fator intrínseco, úlceras e uso prolongado de metformina. • As principais causas de deficiência de folato incluem baixa ingesta, gestação, lactação, neoplasias, doenças inflamatórias e drogas como anticonvulsivantes, sulfassalazina, álcool. • O quadro clínico desses pacientes varia desde assintomáticos à sintomas clássicos de anemia associados a anorexia, emagrecimento, alterações do hábito intestinal (diarreia ou constipação), glossite, queilite angular, púrpuras, icterícia leve e hiperpigmentação cutânea. Os quadros severos de deficiência de anemia megaloblástica podem apresentar ainda polineuropatia periférica, com parestesia nos membros inferiores e das mãos, alteração de marcha e alterações esfincterianas. Sintomas do sistema nervoso central, como alucinações, não são comuns, mas só são observadas associadas a deficiência de B12. • O diagnóstico é feito a partir de dosagens de vitamina B12 e/ou folato no sangue que estará reduzida indicando a deficiência. • As alterações laboratoriais encontradas na anemia megaloblástica são: • Hemácias macrocíticas • Reticulócitos diminuídos • Leucopenia/trombocitopenia • Neutrófilos hipersegmentados • B12 e ou folato diminuídos • Homocisteína aumentada • Acúmulo de ácido metilmalônico, principalmente na deficiência de B12 • Bilirrubina indireta e DHL aumentados, devido à hemólise • Na medula óssea, é observado hipercelularidade, falta de maturação e presença de metamielócitos gigantes. • O tratamento da anemia megaloblástica consiste na administração da vitamina apropriada. REFERÊNCIAS • ABBAS, Abul K. et al. Robbins patologia básica. Elsevier Brasil, 2018. • BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo - Patologia. São Paulo: Grupo GEN, 2016. • Schrier, S. et al. Approach to the Adult with Anemia. UptoDate, 2018. • Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas- Anemia Hemolítica Autoimune- Ministério da Saúde, 2013
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