Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RESULTADO: Conceito: o resultado da conduta é a lesão ou o perigo de lesão de um interesse protegido pela norma penal. O resultado origina os: Crimes de dano cuja consumação depende de uma lesão efetiva ao bem jurídico protegido; Crime de perigo que o simples risco ao bem jurídico já consuma o crime. Classificação dos crimes quanto ao resultado naturalístico Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a conduta e um resultado material, exigindo-o para fins de consumação. Exemplos: Homicídio (CP, art. 121) Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Furto (CP, art. 155): Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Roubo (CP, art. 157): Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Estelionato (CP, art. 171): Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. Formais ou de consumação antecipada: o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, porém não o exige para fins de consumação. Exemplos: Extorsão (CP, art. 158): Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Extorsão mediante sequestro (CP, art. 159): Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Sequestro qualificado pelo fim libidinoso (CP, art. 148, § 1º, V): Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V – se o crime é praticado com fins libidinosos. De mera conduta ou simples atividade: o tipo penal não faz nenhuma alusão a resultado naturalístico, limitando-se a descrever a conduta punível independentemente de qualquer modificação no mundo exterior. Exemplos: Omissão de socorro (CP, art. 135): Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Violação de domicílio (CP, art. 150): Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Classificação dos crimes quanto ao resultado jurídico De dano ou de lesão: quando a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado. Exemplos: homicídio (CP, art. 121), lesão corporal (CP, art. 129), furto (CP, art. 155): Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. De perigo ou de ameaça: caso a consumação se dê apenas com a exposição do bem jurídico a uma situação de risco. Exemplos: Perigo de contágio venéreo (CP, art. 130): Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Estes se subdividem em crimes de perigo concreto ou real, o risco figura como elementar do tipo e, em face disto, exige efetiva demonstração por intermédio de uma perícia, exemplo: Incêndio Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. Perigo abstrato ou presumido, o perigo não está previsto como elementar, porque o legislador presume que a conduta descrita é, em si, perigosa, tornando desnecessária a demonstração concreta do risco. Trecho de acórdão do STF: “(...) 3. A posse de arma de fogo de uso restrito, de seus acessórios ou de munições constitui crime de mera conduta e de perigo abstrato cujo objeto jurídico tutelado compreende a segurança coletiva e a incolumidade pública. 4. Presente laudo especificando o modelo do silenciador de uso restrito, desnecessária a realização de perícia a comprovar a potencialidade lesiva do acessório para configuração do delito. 5. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a descriminalização temporária prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento, com a redação conferida pela Lei 11.706/2008, restringe-se ao delito de posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12) e não se aplica à conduta do art. 16 da Lei 10.826/2003. 6. Recurso ordinário a que se nega provimento” (STF, RHC 128.281, Rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, julgado em 04.08.2015, DJe 26.08.2015; grifo nosso). No mesmo sentido: STF, HC 95.861, Rel. Min. Cezar Peluso, Relator p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, 2ª Turma, julgado em 02.06.2015, DJe 01.07.2015: “O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que é de perigo abstrato o crime de porte ilegal de arma de fogo, sendo, portanto, irrelevante para sua configuração encontrar-se a arma desmontada ou desmuniciada” NEXO DE CAUSALIDADE OU RELAÇÃO DE CAUSALIDADE Entende-se por relação de causalidade o vínculo que une a causa, enquanto fator propulsor, a seu efeito, como consequência derivada. Trata-se do liame que une a causa ao resultado que produziu. O nexo de causalidade interessa particularmente ao estudo do Direito Penal, pois, em face de nosso Código Penal (art. 13), constitui requisito expresso do fato típico. Esse vínculo, porém, não se fará necessário em todos os crimes, mas somente naqueles em que à conduta exigir-se a produção de um resultado, isto é, de uma modificação no mundo exterior, ou seja, cuida-se de um exame que se fará necessário no âmbito dos crimes materiais ou de resultado. A teoria adotada em nosso Código Penal O Código Penal, desde sua versão original, em 1940, adotou expressamente a teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non. É o que dispõe o art. 13, caput: Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Para essa teoria, repise-se, todos os antecedentes do resultado, ainda que sobre ele tenham exercido mínima influência, serão considerados como sua “causa”. A verificação da relação de causalidade baseia-se no juízo de eliminação hipotética. A teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non e as causas independentes Desenvolveu-se, no âmbito da teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditiosine qua non, o estudo das causas independentes. Cuida-se de fatores que podem interpor-se no nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, de modo a influenciar no liame causal. A doutrina distingue causas dependentes e independentes. Causas Dependentes São as que têm origem na conduta do sujeito e inserem-se dentro da sua linha de desdobramento causal natural, esperada. São elementos situados no âmbito do quod plerumque accidit, isto é, decorrências normais ou corriqueiras da conduta (como ocorre no caso da morte por choque hemorrágico subsequente a um ferimento perfurante profundo; ou, ainda, segundo nossa jurisprudência, na hipótese da morte por conta de infecção hospitalar). Quando o resultado for produto de causas dependentes, o agente por ele responderá. Causas Independentes Quanto às causas independentes, são as que, originando-se ou não da conduta, produzem por si sós o resultado. Elas configuram um fator que está fora do quod plerumque accidit, ou seja, não pertencem ao âmbito do que normalmente acontece. São eventos inusitados, inesperados, dos quais se pode citar a morte provocada por sangramento oriundo de uma pequena ferida incisa, em vítima hemofílica. De acordo com a teoria da equivalência e seu juízo de eliminação hipotética, quando o resultado for produto de causas dependentes, o agente por ele responderá. No que concerne às causas independentes, entretanto, faz-se necessário distinguir entre as causas absolutamente e as relativamente independentes da conduta. Causas absolutamente independentes Por causas absolutamente independentes, entendem-se as que produzem por si sós o resultado, não possuindo qualquer origem ou relação com a conduta praticada. Nesse caso, o resultado ocorreria de qualquer modo, com ou sem o comportamento realizado (eliminação hipotética), motivo pelo qual fica afastado o nexo de causalidade (fazendo com que não se possa imputar o resultado ao autor da conduta). As causas absolutamente independentes dividem-se em: Preexistentes ou anteriores (quando anteriores à conduta); Concomitantes ou simultâneas (quando ocorrem ao mesmo tempo); Posteriores ou supervenientes (quando se verificam após a conduta praticada). A título de ilustração, citam-se alguns exemplos: a) efetuar disparos de arma de fogo, com intenção homicida, em pessoa que falecera minutos antes (a morte anterior configura causa preexistente); b) atirar em pessoa que, no exato momento do tiro, sofre ataque cardíaco fulminante e que não guarda relação alguma com o disparo (o infarto é a causa concomitante); c) ministrar veneno na comida da vítima, que, antes que a peçonha faça efeito, vem a ser atropelada (causa superveniente; nesse caso, o agente só responde pelos atos praticados, ou seja, por tentativa de homicídio). Causas Relativamente Independentes Já as causas relativamente independentes, por seu turno, são as que, agregadas à conduta, conduzem à produção do resultado. Com base na teoria da equivalência dos antecedentes, a presença de uma causa desta natureza não exclui o nexo de causalidade. Do mesmo modo que as causas absolutamente independentes, elas também se dividem em preexistentes ou anteriores, concomitantes ou simultâneas e supervenientes ou posteriores. A título de exemplo, observem-se os seguintes casos hipotéticos: a) efetuar ferimento leve, com instrumento cortante, num hemofílico, que sangra até a morte (a hemofilia é a causa preexistente, que, somada à conduta do agente, produziu a morte). Note-se que, nesse exemplo, pressupõe-se que o sujeito tenha vibrado um golpe leve no ofendido, que não produziria a morte de uma pessoa saudável; b) disparar contra a vítima que, ao ser atingida pelo projétil, sofre ataque cardíaco, vindo a morrer, apurando-se que a soma desses fatores produziu a morte (considera-se, nesse caso, que o disparo, isoladamente, não teria o condão de matá-la, o mesmo ocorrendo com relação ao ataque do coração — causa concomitante); c) após um atropelamento, a vítima é socorrida com algumas lesões; no caminho ao hospital, a ambulância capota, ocorrendo a morte (o capotamento da ambulância é a causa superveniente que, aliada ao atropelamento, deu causa à morte do ofendido). Deste último exemplo há algumas variantes dignas de menção: a vítima chega ilesa da ambulância ao hospital, que se incendeia; a vítima chega sem outras lesões ao hospital, mas falece por decorrência de um erro médico; ou, ainda, depois de ser atendida no nosocômio, tem uma de suas pernas amputadas como consequência da gravidade dos ferimentos e, depois de receber alta, morre num incêndio ocorrido no interior de um teatro, de onde não conseguiu fugir em razão de sua reduzida capacidade de locomoção. Em todas as hipóteses retratadas no grupo das causas relativamente independentes da conduta, há nexo causal entre esta e o resultado (pela teoria da conditio). A imputação do resultado, todavia, exigirá outro elemento, de caráter subjetivo, consistente em se verificar se a causa era por ele conhecida (o que conduzirá à responsabilização a título de dolo), ou, ao menos, previsível (indicativo de culpa). Sem tais requisitos, por óbvio, ter-se-ia a responsabilidade objetiva do agente, algo repudiado de há muito no campo do Direito Penal. As situações designadas como causas relativamente independentes supervenientes da conduta correspondem àquilo que os autores estrangeiros denominam “cursos causais extraordinários ou hipotéticos”. São casos em que não haverá imputação pela teoria da imputação objetiva (como será visto adiante). De qualquer modo, vale consignar que tais situações se enquadram no art. 13, § 1º, do CP, que expressamente exclui a responsabilidade penal. Redação do Artigo 13 do Código Penal: Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Superveniência de causa independente § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. Em suma: as causas absolutamente independentes sempre excluem o nexo causal, de modo que o agente nunca responderá pelo resultado; somente pelos atos praticados; as causas relativamente independentes não excluem o nexo causal, motivo por que o agente, se as conhecia ou se, embora não as conhecendo, podia prevê-las, responde pelo resultado; na causa relativamente independente superveniente à conduta, embora exista nexo de causalidade entre esta e o resultado, o legislador afasta a imputação (art. 13, § 1º), impedindo que o agente responda pelo evento subsequente, somente sendo possível atribuir-lhe o resultado que diretamente produziu. DOLO Trata‐se de elemento subjetivo implícito da conduta, presente no fato típico de crime doloso. Nosso Código Penal adotou a teoria da vontade (dolo direto) e a do consentimento (dolo eventual). Teoria da vontade: dolo é a vontade dirigida ao resultado (Carrara). Age dolosamente a pessoa que, tendo consciência do resultado, pratica sua conduta com a intenção de produzi‐ lo. O dolo possui os seguintes elementos: a) cognitivo ou intelectual (representação), que corresponde à consciência da conduta, do resultado e do nexo causal entre eles; b) volitivo, vale dizer, vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Espécies de dolo Existem diversas espécies de dolo, sendo fundamental assinalar a importância de cada classificação: Dolo direto ou imediato: dá‐se quando o sujeito quer produzir o resultado, subdivide‐ se em dolo de primeiro e segundo grau: a) Dolo de primeiro grau, abrange o objetivo perseguido pelo sujeito. b) Dolo de segundo grau ou dolo de consequências secundárias,abrange os meios escolhidos para a consecução desse fim e as consequências secundárias inerentemente ligadas aos meios escolhidos. Dolo indireto ou mediato: subdivide‐se em: a) Dolo eventual, que se verifica quando alguém assume o risco de produzir determinado resultado, embora não o deseje, o resultado não é inerente ao meio escolhido. b) Dolo alternativo, o agente quer produzir um ou outro resultado, p. ex., matar ou ferir). Dolo de dano: ocorre quando o agente pratica a conduta visando lesar o bem jurídico tutelado na norma penal; Dolo de perigo: o sujeito visa somente expor o bem jurídico a perigo, sem intenção de lesioná‐lo. Veja‐se o caso do art. 130 do CP, que incrimina o ato de quem, sendo portador de doença venérea, realiza contato sexual capaz de transmiti‐la. Se o agente pratica a conduta visando tão somente o prazer sexual (dolo de perigo), incorre no caput, em que a pena é de detenção, de três meses a um ano. Se, por outro lado, objetiva transmitir a moléstia (dolo de dano), responde pela forma qualificada prevista no § 1º (pena de reclusão, de um a quatro anos). Dolo genérico: trata‐se da vontade de concretizar os elementos do tipo (pre‐sente em todos os crimes dolosos); Dolo específico: corresponde à intenção especial a que se dirige a conduta do agente e está presente em alguns delitos dolosos (ex.: na extorsão mediante sequestro — art. 159 do CP —, o dolo genérico consiste na vontade livre e consciente de privar a liberdade de locomoção do ofendido; o específico, na intenção de obter alguma vantagem, como condição ou preço do resgate). Dolo geral ou dolus generalis: dá‐se quando o sujeito pratica uma conduta objetivando alcançar um resultado e, após acreditar erroneamente tê‐lo atingido, realiza outro comportamento, o qual acaba por produzi‐lo. CULPA Elementos do fato típico do crime culposo São os seguintes: Conduta (voluntária); Tipicidade; Resultado (involuntário); Nexo causal; Quebra do dever de cuidado objetivo, por imprudência, negligência ou imperícia; Previsibilidade objetiva do resultado; Relação de imputação objetiva. Dever de cuidado objetivo e previsibilidade do resultado O dever de cuidado consiste na imposição, a todos prevista, de atuar com cautela no dia a dia, de modo a não lesar bens alheios. Esse dever se apura objetivamente, ou seja, segundo um padrão mediano, baseado naquilo que se esperaria de uma pessoa de mediana prudência e discernimento; daí falar‐se em “dever de cuidado objetivo”. A violação desse dever se externará por meio da imprudência, negligência ou imperícia. Essas modalidades de culpa são, portanto, as maneiras de quebra do multicitado elemento do fato típico dos crimes culposos. A previsibilidade A compreensão do dever de cuidado objetivo completa‐se com a noção de previsibilidade objetiva (outro elemento do fato típico do crime culposo). Para saber qual a postura diligente, aquela que se espera de um “homem médio”, é preciso verificar, antes, se o resultado, dentro daquelas condições, era objetivamente previsível (segundo o que normalmente acontece). A imprevisibilidade objetiva do resultado torna o fato atípico. O resultado não será imputado ao agente a título de culpa, mas será considerado obra do imponderável (caso fortuito ou força maior). Modalidades de culpa Imprudência: significa a culpa manifestada de forma ativa, que se dá com a quebra de regras de conduta ensinadas pela experiência; consiste no agir sem precaução, precipitado, imponderado. Exemplo: alguém dirige um veículo automotor em alta velocidade e ultrapassa o farol vermelho, atropelando outrem. Negligência: ocorre quando o sujeito se porta sem a devida cautela. É a culpa que se manifesta na forma omissiva. Note‐se que a omissão da cautela ocorre antes do resultado, que é sempre posterior. Exemplo: mãe não guarda um veneno perigoso, deixando‐o à mesa e, com isso, possibilitando que seu filho pequeno, posteriormente, o ingira e morra. Imperícia: é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. Deriva da prática de certa atividade, omissiva ou comissiva, por alguém incapacitado a tanto, por falta de conhecimento ou inexperiência. Exemplo: engenheiro que projeta casa sem alicerces suficientes e provoca a morte do morador. Culpa consciente e culpa inconsciente Culpa consciente é a culpa com previsão do resultado. O agente pratica o fato, prevê a possibilidade de ocorrer o evento, porém, levianamente, confia na sua habilidade, e o produz por imprudência, negligência ou imperícia. A culpa inconsciente é a culpa sem previsão. O sujeito age sem prever que o resultado possa ocorrer. Essa possibilidade nem sequer passa pela sua cabeça, e ele dá causa ao resultado por imprudência etc. O resultado, porém, era objetiva e subjetivamente previsível. Dolo eventual Não se pode confundir culpa consciente com dolo eventual. Em ambos, o autor prevê o resultado, mas não deseja que ele ocorra; porém, na culpa consciente, ele tenta evitá‐lo; enquanto no dolo eventual, mostra‐se indiferente quanto à sua ocorrência, não tentando impedi‐ lo. Culpa própria e culpa imprópria Culpa própria ou propriamente dita é a que se dá quando o sujeito produz o resultado por imprudência, negligência ou imperícia e se funda no art. 18, II, do CP. A culpa imprópria, também chamada culpa por equiparação ou por assimilação, ocorre quando o agente realiza um comportamento doloso, desejando produzir o resultado, o qual lhe é atribuído a título de culpa, em face de um erro precedente em que incorreu, que o fez compreender mal a situação e interpretar equivocadamente os fatos. Culpa mediata ou indireta Verifica‐se com a produção indireta de um resultado de forma culposa. Suponha‐se um assaltante que aborda um motorista parado no semáforo, assustando‐o de tal modo que ele acelere o veículo impensadamente e colida com outro automóvel que cruzava a via, gerando a morte dos envolvidos no acidente. Graus de culpa Há três graus de culpa: levíssima, leve e grave. A doutrina diverge acerca da relevância da graduação da culpa para fins penais. Concorrência de culpas Se duas ou mais pessoas agem culposamente e juntas dão causa a um resultado, fala‐se em concorrência de culpas. Nesse caso, todas responderão pelo resultado, cada uma na medida de sua culpabilidade. Exemplo: A dirige na contramão e B, em alta velocidade; ambos colidem e matam C. Os dois responderão por homicídio culposo, pois suas condutas imprudentes somaram‐se na produção do resultado. Compensação de culpas A compensação de culpas (figura que não existe em Direito Penal, mas em Direito Civil) ocorre quando, além do sujeito, a vítima também agiu culposamente. Exemplo: alguém, dirigindo em alta velocidade e na contramão de direção, atropela e mata uma pessoa que atravessava fora da faixa de pedestres. A atitude imprudente do pedestre não exime ou atenua a responsabilização penal do atropelador (poderá, no máximo, gerar um reflexo na pena, servindo o comportamento da vítima como uma circunstância judicial favorável ao réu — art. 59, caput, do CP). Excepcionalidade do crime culposo De acordo com o art. 18, parágrafo único, do CP, os delitos são punidos, de regra, apenas na modalidade dolosa. O fato só constituirá crime, quando cometido culposamente, se o texto legal o indicar mediante expressões como “se o homicídio é culposo”, “se a lesão é culposa”, “se culposo o incêndio” etc. Preterdolo Além dos crimes doloso e culposo, reconhece‐se um tertium genus: o preterdoloso ou preterintencional, em que o resultado vai além da intenção do agente. Este deseja um resultado e o atinge, mas sua conduta enseja outro evento, por ele não querido (e decorrente de culpa). O sujeito atua com dolo no movimento inicial, havendo culpa no resultadoagravador (além do pretendido). Diz‐se tradicionalmente que existe “dolo no antecedente e culpa no consequente”.
Compartilhar