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Análise do conto - A Igreja do Diabo

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Análise do conto: A Igreja do diabo, Machado de Assis
INTRODUÇÃO
Machado de Assis é um dos mais célebres escritores da literatura brasileira, sua vasta 
e riquíssima obra é comumente consultada e estudada pelas academias em todo o mundo, um verdadeiro expoente. Neste conto de Machado de Assis podemos verificar uma velha batalha já conhecida por todos, a que se constitui entre o bem e o mal, protagonizada por seus dois grandes líderes, Deus e o diabo. A Igreja do diabo, não diferente dos outros contos escritos por Machado de Assis, com uma retórica extraordinária e personagens muito bem delineados psicologicamente, vem nos apresentar a história de quando certa vez o diabo teve a idéia de fundar a sua própria igreja e quis ter a sua própria religião.
PERSONAGENS
O diabo
	Aqui é representado de maneira presunçosa, desafiadora e ambiciosa. Tem o objetivo de fundar sua própria igreja e atrair fiéis assim como já acontece nas igrejas cristãs. Consegue chegar ao seu objetivo, mas ao desmoronar em decepções e dúvidas parte em busca de Deus para conseguir explicações.
Deus
	Com uma gentileza e modo de comunicar-se tranqüilo, é a figura oposta da personagem do diabo, com muita benevolência é capaz de ouvi-lo a cada vez que este o procura. 
Serafins: Miguel e Gabriel
	São personagens que figuram como coadjuvantes na trama são os ajudantes celestiais de Deus. 
Outros personagens: O ancião recém chegado no céu e o calabrês que era um dos melhores apóstolos do diabo.
O TEMPO
	É demonstrado de maneira psicológica, pois é marcado através das ações dos personagens. 
O ESPAÇO
Temos como cenário para a trama, o abismo onde vivia no inicio o diabo, o céu onde é a morada de Deus, dos serafins e das almas boas. A própria terra que é por onde o diabo teve suas andanças em busca de fiéis para a sua religião. 
O NARRADOR
O conto vem sendo narrado em terceira pessoa, ele é onisciente, um narrador que sabe de toda a trama e que conhece muito bem os seus personagens, inclusive os seus pensamentos. Como podemos observar neste trecho em que ele se refere ao diabo: 
O diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje de memória, qualquer coisa que, nesse breve instante de eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. [...]
É possível notar que o narrador além de observar a personagem do diabo e descrever o que este fazia, também nos dá o conhecimento dos sentimentos que intimamente o compõe, chegando mesmo a falar do que tinha em seu próprio espírito. 
O ENREDO
O conto vem organizado em quatro breves capítulos, introduzindo de início o diabo tendo um solilóquio ao vislumbrar sobre como seria proveitoso e oportuno ter uma igreja em que pudesse ser o dirigente e servisse de exemplo para os seus féis. Em seguida pensa que seria uma boa ideia ir até aos céus avisar a Deus desse seu novo desejo, para que não se passasse como traiçoeiro depois. Após ter feito a visita ao céu e comunicado ao seu patrono, ele, mesmo não tendo uma conversa positiva com Deus, volta imediatamente a terra para começar os preparativos que levariam a concretização do seu desejo, e passa a persuadir as pessoas a entrarem para a sua nova religião até ir de encontro à complexidade humana e testemunhar que ela é muito mais infinita do que as regras que ditam os caminhos do bem e do mal. 
O CONFLITO
A nova instituição religiosa do diabo estava indo as mil maravilhas, as virtudes do que era conhecido como bom estavam sendo substituídas pelas que até então, antes do diabo as doutriná-las, eram vistas como más, e os fiéis cada vez mais se alistavam para freqüentar a sua igreja. No entanto, o Diabo, com o tempo, observou que muitos dos seus fiéis praticavam as antigas virtudes secretamente para que não fossem repreendidos, e aqui neste ponto é que chegamos ao conflito do enredo, pois jamais o Diabo, que tanto doutrinou e proferiu seus ensinamentos, que tanto persuadiu e convenceu as pessoas a entrarem para sua religião e que dia após dia via a sua casa religiosa ficar mais cheia, pensou que estava sendo traído pelos seus fiéis. Observemos o trecho:
Um dia, porém, longos anos depois notou o diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam, as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas, vários dilapidadores do erário, restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas como o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
O CLÍMAX
Quando o diabo descobriu a traição que seus seguidores estavam praticando, este ficou espantado e negativamente surpreso com tamanho golpe, tanto que por mais que fosse completo conhecedor da maldade procurou observá-la e estudar profundamente a fim de entender como poderia estar passando por tal situação, e assim visitou diversos lugares do mundo, vejamos um trecho em que ele passa pelo Egito:
No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogomano; roubou-o, com efeito, à vista do diabo e foi dá-lo de presente a um muezin, que rezou por ele a Alá.
Nesta passagem do conto é possível enxergarmos que mesmo o personagem do ladrão precisava freqüentar às mesquitas de seu povo, para que, por assim dizer, pudesse diminuir a escala de sua maldade que era a prática do furto, ainda que tivesse que cobrir o rosto para estar entre os fiéis daquele templo. 
O ponto mais relevante no conto e revoltante demais para o diabo aparece no momento em que ele descobre que um de seus apóstolos mais qualificado, o trai de maneira descarada e sutil, nos revelando assim o clímax:
[...] Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meterse na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. [...]
O DESFECHO
	O encerramento do conto se dá no momento em que o diabo totalmente envolto em sua confusa tentativa de entender o que estava acontecendo, depois de ter o conhecimento da traição de seus fiéis e até mesmo de um dos seus mais promissores apóstolos, sem pensar duas vezes voa novamente até ao céu em busca de explicações que Deus pudesse lhe dar:
	[...] Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse-lhe: 
— Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.
Conclusão
	Neste conto machadiano vemos que nem mesmo a igreja católica e os fiéis que a freqüentam, em e especial os hipócritas ficam de fora das críticas do autor, e claro observamos que o diabo podia sim ter conhecimento da fraqueza humana, dos seus desejos mais supérfluos, mas jamais poderia ter total acesso a toda a complexidade que é natural do ser humano, pois como podemos conferir até mesmo Deus fala sobre esta contradição presente nos homens.

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