Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos Os vírus foram primeiramente descritos como “agentes filtráveis”. Seu pequeno tamanho permite‑lhes passar através de filtros projetados para reter bactérias. Diferentemente da maioria das bactérias, dos fungos e dos parasitas, os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que dependem do maquinário bioquímico da célula do hospedeiro para a sua replicação. Além disso, a reprodução dos vírus ocorre pela montagem dos componentes individuais, em vez de fissão binária. Os vírus mais simples consistem em um genoma de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) empacotado em um envoltório protetor de proteína e, em alguns vírus, em uma membrana. O conhecimento das características estruturais (tamanho e morfologia) e genéticas (tipo e estrutura do ácido nucleico) de um vírus fornece compreensão de como ele se replica, dissemina e causa doenças. Seus nomes podem descrever características virais, as doenças às quais estão associados ou até mesmo o tecido ou a localização geográfica onde eles foram primeiramente identificados. Nomes como picornavírus (pico, “pequeno”; rna, “ácido ribonucleico”) ou togavírus (toga, palavra grega para “manto”, referindo‑se a um envelope de membrana envolvendo o vírus) descrevem a estrutura do vírus. O nome retrovírus (retro, “reverso”) refere‑se à síntese do DNA dirigida pelo vírus a partir de um molde de RNA, enquanto os poxvírus são nomeados a partir do nome da doença smallpox (varíola), causada por um de seus membros. Os adenovírus (adenoides) e os reovírus (respiratório, entérico, órfão) são denominados pela parte do corpo da qual foram isolados pela primeira vez. Os vírus podem ser agrupados por características, tais como doença (p. ex., hepatite), tecido‑alvo, meio de transmissão (p. ex., entérico, respiratório) ou pelo vetor (p. ex., arbovírus; vírus transportado por antrópode). A forma mais consistente e atual de classificação é pelas características físicas e bioquímicas, tais como tamanho, morfologia (p. ex., presença ou ausência de um envelope de membrana), tipo de genoma e meios de replicação. Os vírus DNA associados com doenças humanas são divididos em sete famílias. Os vírus RNA podem ser divididos em pelo menos 13 famílias. Formas de Classificação e Denominação dos Vírus: Estrutura: tamanho, morfologia e ácido nucleico (p. ex., picornavírus [pequeno RNA], togavírus) Características bioquímicas: estrutura e modo de replicação* Doença: os vírus da encefalite e da hepatite, por exemplo Meios de transmissão: o arbovírus é disseminado por insetos, por exemplo Célula hospedeira (espectro de hospedeiros): animal (homem, camundongo, pássaro), planta, bactéria Tecido ou órgão (tropismo): adenovírus e enterovírus, por exemplo. Famílias de Vírus DNA e Alguns Membros Importantes: POXVIRIDAE: Vírus da varíola, vírus vacínia, vírus da varíola do macaco, varíola do canário, molusco contagioso Herpesviridae: Vírus do herpes simples dos tipos 1 e 2, vírus varicela-zóster, vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, herpes- vírus humano 6, 7 e 8 Adenoviridae: Adenovírus Hepadnaviridae: Vírus da hepatite B Papillomaviridae: Papilomavírus Poliomaviridae: Vírus JC, vírus BK, SV40 Parvoviridae: Parvovírus B19, vírus adeno associados. Famílias de Vírus de RNA e Alguns Membros Importantes PARAMYXOVIRIDAE: Parainfluenza, vírus Sendai, vírus do sarampo, vírus da caxumba, vírus sincicial respiratório, metapneumovírus. 2 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos ORTOMYXOVIRIDAE: Vírus influenza dos tipos A, B e C CORONAVIRIDAE: Coronavírus, síndrome respiratória aguda grave Arenaviridae: Vírus da febre de Lassa, complexo de vírus Tacaribe (vírus Junino e Machupo), vírus da coriomeningite linfocítica Rhabdoviridae: Vírus da raiva, vírus da estomatite vesicular Filoviridae: Vírus Ebola, vírus Marburg Bunyaviridae: Vírus da encefalite da Califórnia, vírus La Crosse, vírus da febre do mosquito‑pólvora, vírus da febre hemorrágica, hantavírus Retroviridae: Vírus da leucemia de células T humana dos tipos I e II, vírus da imunodeficiência humana, oncovírus de animais Reoviridae: Rotavírus, vírus da febre do carrapato do Colorado Togaviridae: Vírus da rubéola, vírus da encefalite equina do oeste, do leste e venezuelana; vírus do Rio Ross; vírus Sindbis; vírus da Floresta Semliki Flaviviridae: Vírus da febre amarela, vírus da dengue, vírus da encefalite de St. Louis, vírus do oeste do Nilo, vírus da hepatite C Caliciviridae: Vírus Norwalk, calicivírus Picornaviridae: Rinovírus, poliovírus, ecovírus, coxsackvírus, vírus da hepatite A Delta: Agente delta O vírion (partícula do vírus) consiste em um genoma de ácido nucleico empacotado numa cobertura proteica (capsídeo) ou numa membrana (envelope). O virion pode conter também certas enzimas essenciais ou acessórias ou outras proteínas para facilitar a replicação inicial na célula. As proteínas do capsídeo ou as proteínas de ligação do ácido nucleico podem associar‑ se com o genoma para formar um nucleocapsídeo, que pode ser o mesmo do virion ou envolto por um envelope. O genoma do vírus consiste em DNA ou RNA. O DNA pode ser de fita simples ou dupla, linear ou circular. O RNA pode ser de sentido positivo (+) (como o RNA mensageiro [RNAm]) ou negativo (–) (análogo a um negativo fotográfico), de dupla‑fita (+/–) ou de duplo sentido (contendo regiões + e – de RNA ligadas extremidade a extemidade). O genoma do RNA pode também ser segmentado em pedaços, com cada pedaço codificando um ou mais genes. 3 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos A camada externa do virion é o capsídeo ou envelope. Essas estruturas são o pacote, a proteção e o veículo de liberação durante a transmissão do vírus de um hospedeiro para outro e para a dispersão para a célula‑alvo dentro do hospedeiro. As estruturas da superfície do capsídeo e do envelope medeiam a interação do vírus com a célula‑alvo por meio de uma proteína de fixação viral (VAP) ou estrutura. A remoção ou o rompimento da parte externa deste pacote inativa o vírus. Os anticorpos gerados contra os componentes dessas estruturas impedem a infecção viral. O capsídeo é uma estrutura rígida capaz de resistir a severas condições ambientais. Os vírus com capsídeos sem cobertura são geralmente resistentes ao ressecamento, ao ácido e a detergentes, incluindo o ácido e a bile do trato entérico. Muitos desses vírus são transmitidos pela rota fecal‑oral e podem preservar a capacidade de transmissão mesmo no esgoto. O envelope é uma membrana composta de lipídios, proteínas e glicoproteínas. A estrutura membranosa do envelope pode ser mantida apenas em soluções aquosas. É prontamente rompida por ressecamento, condições ácidas, detergentes e solventes, tais como éter, o que resulta na inativação do vírus. Como consequência, vírus envelopados devem permanecer úmidos e são geralmente transmitidos em fluidos, perdigotos, sangue e tecidos. A maioria não pode sobreviver às condições severas do trato gastrointestinal. Vírus com capsídeo O capsídeo viral é montado a partir de proteínas individuais associadas em unidades progressivamente maiores. Proteínas estruturais individuais associam‑ se em subunidades, as quais se associam em protômeros, capsômeros (distinguíveis em eletromicrografias) e, finalmente, um procapsídeo ou um capsídeo reconhecível. Um procapsídeo requer processamento subsequente para tornar‑se o capsídeo final e transmissível. Para alguns vírus, o capsídeo forma‑se em torno do genoma; para outros, o capsídeo forma‑se como uma capa vazia (procapsídeo) para ser preenchidopelo genoma. As estruturas virais mais simples que podem ser construídas passo a passo, são simétricas, e incluem estruturas helicoidais e icosaédricas. As estruturas helicoidais aparecem como bastões, enquanto o icosaedro é uma aproximação de uma esfera montada a partir de subunidades simétricas. Os capsídeos assimétricos são formas complexas e estão associados com certos vírus bacterianos (fagos). Vírus Envelopados O envelope do virion é composto de lipídios, proteínas e glicoproteínas. Ele possui uma estrutura de membrana similar à das membranas celulares. As proteínas celulares são raramente encontradas no envelope viral, mesmo que este tenha sido obtido a partir de membranas celulares. A maioria dos vírus envelopados é redonda ou pleomórfica. Duas exceções são os poxvírus, que possuem uma estrutura interna complexa e uma estrutura externa parecida com um tijolo, e o rabdovírus, que tem o formato de uma bala. A maioria das glicoproteínas virais possui carboidratos ligados à asparagina (N ‑ligados) e se estende através do envelope e para fora da superfície do virion. Em muitos vírus, estes podem ser observados como espículas. Algumas glicoproteínas agem como VAP, capazes de se ligar a estruturas nas células‑alvo. As VAP, que também se ligam aos eritrócitos, são denominadas hemaglutininas (HA). Algumas glicoproteínas possuem outras funções como a neuraminidase (NA) dos ortomixovírus 4 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos (influenza) e os receptores Fc e C3b associados com glicoproteínas do vírus do herpes simples (HSV), ou as glicoproteínas de fusão dos paramixovírus. As glicoproteínas, especialmente as VAP, também são importantes antígenos que desencadeiam a imunidade protetora. Etapas da Replicação Viral: 1. Reconhecimento da célula‑alvo 2. Fixação 3. Penetração 4. Desencapsidação 5. Síntese macromolecular a. Síntese do RNA mensageiro (RNAm) inicial e de proteínas não estruturais: genes para enzimas e proteínas de ligação ao ácido nucleico b. Replicação do genoma c. Síntese do RNAm final e de proteínas estruturais d. Modificação pós‑tradução das proteínas 6. Montagem do vírus 7. Brotamento dos vírus envelopados 8.Liberação do vírus Reconhecimento e Fixação à Célula-Alvo A ligação das VAP ou estruturas na superfície do capsídeo do virion aos receptores na célula inicialmente determina quais células podem ser infectadas por um vírus. Os receptores para o vírus na célula podem ser proteínas ou carboidratos em glicoproteínas ou glicolipídios. Os vírus que se ligam aos receptores expressos em tipos específicos de célula podem ser restritos a certas espécies (espectro de hospedeiros) (p. ex., humanos, camundongos) ou tipos específicos de células. A suscetibilidade da célula‑alvo define o tropismo tecidual (p. ex., neurotrópico, linfotrópico). Penetração Interações entre múltiplas VAP e os receptores celulares iniciam a internalização do vírus para dentro da célula. O mecanismo de internalização depende da estrutura do virion e do tipo de célula. A maioria dos vírus não envelopados entra na célula por endocitose mediada por receptor ou por meio de viropexia. Os vírus envelopados fundem suas membranas com as membranas celulares para liberar o nucleocapsídeo ou o genoma diretamente dentro do citoplasma. O pH ideal para a fusão determina se a penetração ocorre na superfície celular em pH neutro ou se o vírus deve ser internalizado por endocitose e a fusão ocorrer em um endossomo em pH ácido. A atividade de fusão pode ser provida pela VAP ou por outra proteína. Desencapsidação Uma vez internalizado, o nucleocapsídeo deve ser transferido para o sítio de replicação dentro da célula e o capsídeo ou o envelope, removido. O genoma dos vírus DNA, exceto dos poxvírus, deve ser transferido para o núcleo, enquanto a maioria dos vírus RNA permanece no citoplasma. O processo de desencapsidação pode ser iniciado por uma fixação ao receptor ou promovido por ambiente ácido ou por proteases encontradas em um endossomo ou lisossomo. Os vírus envelopados são desencapsidados na fusão com as membranas das células. Síntese Macromolecular Uma vez dentro da célula, o genoma deve dirigir a síntese de RNAm viral e de proteínas e gerar cópias idênticas de si próprio. O genoma é inutilizado a menos que possa ser transcrito em RNAm funcionais 5 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos capazes de se ligar aos ribossomos e serem traduzidos em proteínas. O modo pelo qual cada vírus cumpre essas etapas depende da estrutura do genoma e do sítio de replicação. DNA: integra-se ao genoma do hospedeiro para ser transcrito e replicado. Retrovírus: RNA é molde para cDNA, que se integra ao genoma do hospedeiro. + RNA: mRNA – produção de proteínas virais. A RNA- polimerase produz um molde de RNA-, que é usado para gerar mais mRNA e para replicar o genoma. - RNA: moldes para a produção de mRNA. Um RNA+ é produzido pela polimerase viral para agir como molde para gerar mais cópias do genoma. Propriedades dos Vírus de RNA O RNA é instável e transitório A maioria dos vírus de RNA replica‑se no citoplasma As células não podem replicar o RNA. Os vírus RNA devem codificar uma RNA polimerase RNA‑ dependente A estrutura do genoma determina os mecanismos de transcrição e replicação Os vírus de RNA são propensos à mutação A estrutura do genoma e a polaridade determinam como o RNA mensageiro (RNAm) viral é gerado e as proteínas são processadas Os vírus de RNA, exceto o genoma do RNA (+), devem levar polimerases Todos os vírus de RNA (–) são envelopados Picornavírus, Togavírus, Flavivírus, Calicivírus e Coronavírus: O genoma RNA (+) assemelha‑se ao RNAm e é traduzido em uma poliproteína, que é proteolisada. Um molde de RNA (–) é usado para a replicação. Para os togavírus, coronavírus e calicivírus, as proteínas precoces são transcritas a partir do genoma e as proteínas tardias, a partir do molde Ortomixovírus, Paramixovírus, Rabdovírus, Filovírus e Buniavírus :O genoma do RNA (–) é um molde para RNAm individuais, mas um molde de RNA (+) de tamanho total é requerido para a replicação. Ortomixovírus replicam‑se e são transcritos no núcleo, e cada segmento do genoma codifica um RNAm e um molde Reovírus: O genoma segmentado de RNA (+/-) é um molde para o RNAm. O RNA (+) pode também ser encapsulado para gerar o RNA (+/–) e então mais RNAm Retrovírus: O genoma do RNA (+) do retrovírus é convertido em DNA, o qual é integrado na cromatina do hospedeiro e transcrito como um gene celular. Propriedades dos Vírus de DNA O DNA não é transitório ou instável Muitos vírus de DNA estabelecem infecções persistentes (p. ex., latentes imortalizados) Os genomas de DNA residem no núcleo (exceto nos poxvírus) O DNA viral assemelha‑se ao DNA do hospedeiro quanto à transcrição e à replicação 6 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos Genes virais devem interagir com o maquinário transcricional do hospedeiro (exceto nos poxvírus) A transcrição do gene viral é temporariamente regulada Genes precoces codificam proteínas de ligação ao DNA e enzimas Genes tardios codificam proteínas estruturais e outras proteínas As DNA polimerases requerem um primer para replicar o genoma viral Os maiores vírus de DNA codificam meios de promover a replicação eficiente de seus genomas Parvovírus: requer células sofrendo síntese de DNA para se replicar Papovavírus: estimula o crescimento da célula e a síntese do DNA Hepadnavírus: estimula o crescimento celular, a célula cria RNA intermediário e codifica uma transcriptase reversa Adenovírus: estimula a síntese doDNA celular e codifica sua própria polimerase Herpes‑vírus: estimula o crescimento da célula, codifica sua própria polimerase e enzimas para prover desoxirribonucleotídeos para a síntese do DNA, estabelece uma infecção latente no hospedeiro Poxvírus: codifica sua própria polimerase e enzimas para prover desoxirribonucleotídeos para a síntese do DNA, maquinário de replicação e maquinário de transcrição no citoplasma. Liberação Os vírus podem ser liberados das células após a lise celular, por exocitose ou pelo brotamento da membrana plasmática. Os vírus de capsídeo descoberto são geralmente liberados depois da lise celular. A liberação de muitos vírus envelopados acontece após o brotamento da membrana plasmática, sem matar a célula. A sobrevivência da célula permite a liberação contínua de vírus a partir dessa fábrica. Reinício e replicação A disseminação da infecção ocorre quando o vírus é liberado para o meio extracelular, mas alternativamente, o vírus, o nucleocapsídeo ou o genoma pode ser transmitido através das pontes célula-célula, em fusão célula-célula ou verticalmente para as células-filhas. Essas rotas alternativas permitem que o vírus escape da detecção do anticorpo. Alguns herpes-vírus, retrovírus e paramixovírus podem induzir a fusão célula-célula para unir as células em células gigantes multinucleadas (sincícios), que se tornam grandes fábricas de vírus. Os retrovírus e alguns vírus de DNA podem transmitir sua cópia integrada do genoma verticalmente para as células-filhas na divisão celular. As mutações ocorrem espontânea e prontamente nos genomas virais, criando novas linhagens virais com propriedades que diferem dos vírus parentais ou selvagens. Essas variantes podem ser identificadas por suas sequências de nucleotídeos, diferenças antigênicas (sorótipos) ou diferenças em propriedades funcionais ou estruturais. A maioria das mutações ou não tem qualquer efeito ou é prejudicial ao vírus. As mutações em genes essenciais inativam os vírus, mas as mutações em outros genes podem produzir resistência à droga antiviral ou alterar a antigenicidade ou a patogenicidade do vírus. Erros ao copiar o genoma viral durante a replicação do vírus produzem muitas mutações. Isto se dá por causa da baixa fidelidade da polimerase viral e pela rápida taxa de replicação do genoma. Além disso, os vírus de RNA não possuem um mecanismo de checagem de erro genético. Em consequência, as taxas de mutação para os vírus de RNA são usualmente maiores do que as do vírus de DNA. As vacinas de vírus vivo são frequentemente de mutantes condicionais ou de espectro de hospedeiros e atenuados para doença humana. O intercâmbio genético intramolecular entre os vírus ou entre estes e o hospedeiro é denominado recombinação. A recombinação pode ocorrer prontamente entre dois vírus de DNA relacionados. Os vírus com genomas segmentados (p. ex., os vírus influenza e os reovírus) formam cepas híbridas na infecção da célula com mais de uma linhagem de vírus. Esse 7 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos processo, chamado reagrupamento, é análogo a pegar 10 bolinhas de gude numa caixa contendo 10 bolinhas pretas e 10 brancas. Novas cepas do vírus influenza A são criadas na coinfecção com um vírus de espécies diferentes. Os vírus geneticamente manipulados podem ser excelentes sistemas de transferência para genes estranhos. Os vírus podem prover uma terapia de reposição de gene, podem ser usados como vacinas para promover a imunidade a outros agentes ou tumores e podem agir como assassinos direcionados a tumores. As vantagens de utilizar os vírus são as de que eles podem ser prontamente amplificados pela replicação em células apropriadas, e eles apontam para tecidos específicos e liberam o DNA ou RNA dentro da célula. Os vetores virais são usualmente vírus defeituosos ou atenuados, nos quais o DNA estranho substitui um gene de virulência ou um gene não essencial. O gene estranho pode estar sob o controle de um promotor viral ou até mesmo de um promotor específico de um tecido. O gene estranho pode estar sob o controle de um promotor viral ou até mesmo de um promotor específico de um tecido. Os vetores de vírus defeituosos crescem em linhagens celulares que expressam as funções virais que estão faltando, “complementando” o vírus. A progênie pode transferir seu ácido nucleico, mas não produzir um vírus infeccioso. Os vírus causam doenças quando atravessam as barreiras de proteção natural do corpo, escapam do controle imune e matam as células de um tecido importante (p. ex., o cérebro) ou então desencadeiam resposta imune e inflamatória destrutiva. As consequências de uma infecção viral são determinadas pela natureza da interação vírus‑hospedeiro e pela resposta do hospedeiro à infecção. Muitos vírus codificam atividades (fatores de virulência) que promovem maior eficiência da replicaçãoviral, transmissão, acesso e ligação do vírus ao tecido‑alvo ou escape das defesas do hospedeiro e da resolução pelo sistema imune. Essas atividades podem não ser essenciais para o crescimento viral em cultura de células, mas são necessárias à patogenicidade ou à sobrevivência do vírus no hospedeiro. A perda desses fatores de virulência resulta na atenuação do vírus. Muitas vacinas constituídas por vírus vivos são, na verdade, constituídas por variantes atenuadas desses vírus. Progressão das doenças virais 1. Aquisição (entrada no organismo) 2. Início da infecção no sítio primário 3. Ativação da imunidade inata 4. Período de incubação, quando o vírus é amplificado e pode se disseminar para um sítio secundário 8 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos 5. Replicação no tecido‑alvo, que causa os sinais característicos da doença 6. Respostas imunes que limitam e contribuem (imunopatogênese) para a doença 7. Produção de vírus em um tecido ou órgão que permita a disseminação para outro hospedeiro, ocorrendo o contágio 8. Resolução ou infecção persistente/doença crônica Viremia é o nome dado ao transporte do vírus na corrente sanguínea. O vírus pode ou estar livre no plasma ou associado com linfócitos ou macrófagos. Os vírus fagocitados pelos macrófagos podem estar inativados, podem se replicar ou podem ser carreados para outros tecidos. A replicação de um vírus em macrófagos, no revestimento endotelial de vasos sanguíneos ou no fígado pode causar a amplificação da infecção e iniciar o desenvolvimento de viremia secundária. Em muitos casos, essa viremia secundária antecede o envio dos vírus ao tecido‑alvo (p. ex., fígado, cérebro, pele) e a manifestação dos sintomas específicos. As quatro consequências principais de uma infecção viral em uma célula são: 1. Falha da infecção (infecção abortiva) 2. Morte da célula (infecção lítica) 3. Replicação sem morte da célula (infecção persistente) 4. Presença de partículas virais sem replicação viral, mas com potencial para reativação (infecção latente‑ recorrente). Infecções Líticas Se desenvolvem quando a replicação do vírus resulta na destruição da célula‑alvo. Alguns vírus impedem o crescimento e o reparo inibindo a síntese de macromoléculas celulares ou produzindo enzimas de degradação e proteínas tóxicas. A replicação do vírus e o acúmulo de componentes virais e da progênie viral no interior da célula podem romper a estrutura e o funcionamento da célula ou romper os lisossomos, causando a morte celular. A infecção por vírus ou as respostas citolíticas imunes podem induzir a apoptose na célula infectada. Esse processo pode facilitar a liberação do vírus da célula, mas também limita a quantidade de vírus produzidos ao destruir a “fábrica” viral. Como resultado, muitos vírus (p. ex., herpes‑ vírus, adenovírus, vírus da hepatiteC) codificam métodos para inibir a apoptose. Algumas infecções virais ocasionam alterações características na aparência e nas propriedades das células‑alvo. Uma vez que a natureza e localização desses corpúsculos de inclusão sejam características de infecções virais específicas, a presença dessas estruturas facilita o diagnóstico laboratorial. Infecções não Líticas Infecção persistente é aquela que ocorre em uma célula infectada que não é destruída pelo vírus. Alguns vírus causam infecção persistente produtiva porque o vírus é liberado gradualmente da célula por meio da exocitose ou de brotamento (vírus envelopados) a partir da membrana citoplasmática. Infecção latente é aquela que resulta da infecção com vírus de DNA de uma célula que restringe ou perde o maquinário para a transcrição de todos os genes virais. Os fatores de transcrição específicos exigidos por esse tipo de vírus podem ser expressos somente em tecidos específicos e em células 9 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos em crescimento, mas não em repouso, ou após a indução de hormônio ou citocina. Por exemplo, o HSV estabelece uma infecção latente em neurônios que perdem os fatores nucleares exigidos para transcrever os genes virais precoces imediatos, mas o estresse e outros estímulos podem ativar as células para permitir a replicação viral. Vírus Oncogênicos Alguns vírus de DNA e retrovírus estabelecem infecções persistentes que também podem estimular o crescimento celular descontrolado, causando a transformação ou imortalização da célula. As características das células transformadas incluem: Crescimento contínuo sem envelhecimento, Alterações na morfologia e no metabolismo celular, Taxa aumentada de crescimento celular e de transporte de açúcar, Perda de inibição de crescimento por contato celular e habilidade de crescerem em suspensão ou agrupadas, quando cultivadas em meio de ágar semissólido. Diferentes vírus oncogênicos possuem mecanismos diferentes para imortalização de células: Ativando ou fornecendo genes de estimulação de crescimento; Removendo os mecanismos inerentes de interrupção da síntese do DNA e do crescimento celular; ou Evitando a apoptose. A resposta imune é a melhor e, na maioria dos casos, o único meio de controlar infecção viral. As respostas inata, imune e humoral são importantes para a imunidade antiviral. O interferon e as respostas das células T citotóxicas são os principais mecanismos iniciais de defesa antiviral. A pele é a melhor barreira de defesa contra infecção viral. Os orifícios do corpo são protegidos por muco, lágrimas e pelo ácido gástrico e pela bile do trato gastrointestinal. As moléculas virais, incluindo o RNA de dupla‑fita (que é o intermediário replicativo dos vírus de genoma RNA), certas formas de DNA e o RNA de fita simples, além de algumas glicoproteínas virais, ativam a produção de interferon do tipo I e respostas celulares inatas por meio da interação com receptores citoplásmicos ou os receptores toll‑like (TLR) em endossomos presentes na superfície celular. O anticorpo é eficaz contra vírus no meio extracelular e pode ser suficiente para controlar vírus citolíticos, pois a fonte de novos virions é eliminada com a lise da célula infectada. Os anticorpos são essenciais para controlar a disseminação do vírus para tecidos‑alvo por meio de viremia. A imunidade mediada por células é necessária para a destruição de células infectadas por vírus não citolíticos (p. ex., vírus da hepatite A) e infecções causadas por vírus envelopados. 10 Resumo microbiologia – livro Microbiologia médica - Murray Kézia Signer Santos Citólise pós-infecção: a imunidade parcial a um vírus relacionado ou inativado pode resultar em resposta mais intensa do hospedeiro e doença no desafio subsequente com um vírus relacionado ou virulento. Antibody derived enhancement: facilita a captação dos vírus. A relativa suscetibilidade de uma pessoa a uma infecção viral e a intensidade da doença dependem dos seguintes fatores: Mecanismo de exposição e sítio da infecção. Estado do sistema imune, a idade e a saúde geral da pessoa. Dose viral. Genética do vírus e do hospedeiro.
Compartilhar