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. 1 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL Introdução Os vírus são elementos genéticos que conseguem se replicar apenas no interior de uma célula viva, denominada célula hospedeira. Os vírus possuem seu próprio genoma e, neste sentido, são independentes do genoma da célula hospedeira. No entanto, os vírus dependem da célula hospedeira para energia, intermediários metabólicos e síntese proteica. Os vírus são, portanto, parasitas intracelulares obrigatórios. Estrutura Viral Vírion: Embora os vírus não sejam células, eles possuem um genoma de ácido nucleico que codifica as funções necessárias para sua replicação e uma forma extracelular, denominada vírion, que permite que o vírus viaje de uma célula hospedeira para outra. Os vírus são incapazes de replicarem- se, a menos que o próprio vírion (ou seu genoma, no caso de vírus bacterianos) penetre em uma célula hospedeira adequada, um processo denominado infecção. O vírion de um vírus consiste em um envoltório proteico, o capsídeo, que contém o genoma viral. A maioria dos vírus bacterianos são nus, sem camadas adicionais, enquanto muitos vírus de animais contêm uma camada externa consistindo de proteínas e lipídeos, denominada envelope. Em vírus envelopados, a estrutura interna composta por ácido nucleico e proteínas do capsídeo é denominada nucleocapsídeo. O vírion protege o genoma viral quando o vírus está fora da célula hospedeira, e proteínas na superfície do vírion são importantes no ancoramento à célula hospedeira. O vírion pode também conter uma ou mais enzimas virais específicas que desempenham papéis durante a infecção e a replicação, como discutido posteriormente. Uma vez dentro da célula hospedeira, um genoma viral pode orquestrar um de dois eventos bastante diferentes. O vírus pode replicar e destruir o hospedeiro em uma infecção virulenta (lítica). Em uma infecção lítica, o vírus redireciona o metabolismo do hospedeiro para suportar a replicação do vírus e a montagem de novos vírions. Eventualmente, novos vírions são liberados, e o processo pode repetir-se em novas células hospedeiras. Alguns vírus pouco comuns utilizam tanto DNA quanto RNA como seu material genético, porém em diferentes estágios de seu ciclo de replicação. Genomas virais são geralmente menores do que aqueles das células. O menor genoma bacteriano conhecido é de cerca de 145 pares de quilobases, que codificam cerca de 170 genes. A maioria dos genomas virais codificam até cerca de 350 genes. Os menores genomas virais são os de alguns pequenos vírus de RNA que infectam animais. Alguns genomas virais muito grandes são conhecidos, tal como o genoma de DNA de 1,25 Mpb de um vírus marinho chamado Megavírus, que infecta protozoários. Os vírus podem ser classificados com base nos hospedeiros que infectam, bem como pela sua estrutura do genoma. Assim, temos vírus bacterianos, vírus de arqueias, vírus de animais, vírus de plantas, de protozoários, e assim por diante. Vírus bacterianos são denominados bacteriófagos (ou simplesmente fagos) e têm sido intensamente estudados como sistemas modelo para a biologia molecular e genética da replicação viral. Estrutura do Vírion As estruturas dos vírions são bastante diversas, variando amplamente quanto ao tamanho, à forma . 2 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL e à composição química. O ácido nucleico do vírion está sempre envolto pelo seu capsídeo. O capsídeo é composto por um número de moléculas proteicas individuais, denominadas capsômeros, que se organizam em um padrão preciso e altamente repetitivo, ao redor do ácido nucleico. O pequeno tamanho do genoma da maioria dos vírus restringe o número de proteínas virais que podem ser codificadas. Como consequência, alguns poucos vírus apresentam um único tipo de proteína em seu capsídeo. Um exemplo é o bem estudado vírus do mosaico do tabaco. Os vírus são altamente simétricos. Quando uma estrutura simétrica é girada em torno de um eixo, a mesma forma é vista após o giro por um determinado número de graus. Dois tipos de simetria são reconhecidos nos vírus, correspondendo às duas principais formas, cilíndrica e esférica. Os vírus cilíndricos têm simetria helicoidal e os vírus esféricos exibem simetria icosaédrica. A estrutura de alguns vírus é extremamente complexa, com o vírion consistindo de várias partes, cada uma apresentando sua própria forma e simetria. Os vírus mais complexos são os bacteriófagos cabeça-mais-cauda que infectam Escherichia coli, tal como o bacteriófago T4. Um vírion T4 consiste em uma cabeça icosaédrica e uma cauda helicoidal. Vírus envelopado Os vírus envelopados possuem uma membrana circundando o nucleocapsídeo e podem possuir genoma de RNA ou DNA. Muitos vírus envelopados (p. ex., vírus influenza) infectam células animais, nas quais a membrana citoplasmática é diretamente exposta ao ambiente. O envelope viral consiste principalmente de membrana citoplasmática da célula hospedeira, porém algumas proteínas virais de superfície são embebidas no envelope à medida que o vírus é liberado da célula. O envelope viral é importante na infecção, uma vez que é o componente do vírion que entra em contato com a célula hospedeira. A especificidade da infecção pelo vírus envelopado e alguns aspectos da sua penetração são, assim, controlado em parte pela química dos seus envelopes. As proteínas de envelope vírus-específicas são essenciais tanto para a ligação do vírion com a célula hospedeira durante a infecção quanto para a libertação do vírion a partir da célula hospedeira após a replicação. Enzimas em Vírions Os vírus não realizam processos metabólicos e, desse modo, são metabolicamente inertes. No entanto, alguns vírus contêm enzimas em seus vírions que desempenham importantes papéis na infecção**. Por exemplo, alguns bacteriófagos . 3 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL contêm uma enzima que se assemelha à lisozimas, que é utilizada para produzir um pequeno orifício no peptideoglicano bacteriano para permitir a entrada do ácido nucleico do vírion no citoplasma do hospedeiro. Uma proteína similar é produzida nos estágios tardios da infecção, promovendo a lise da célula hospedeira e liberação dos novos vírions. Vírus de RNA carregam suas próprias polimerases de ácido nucleico (denominadas replicases de RNA) que atuam na replicação do genoma de RNA viral e produção do RNAm viral. Taxonomia As novas e rápidas técnicas de sequenciamento de DNA permitiram que o Comitê Internacional de Taxonomia Viral começasse a agrupar os vírus em famílias com base em seu genoma e estrutura. O sufixo -virus é usado para os gêneros, ao passo que as famílias de vírus recebem o sufixo -viridae, e as ordens, o sufixo -ales. No uso formal, os nomes das famílias e dos gêneros são usados da seguinte maneira: família Herpesviridae, gênero Simplexvirus, Human herpesvirus. As espécies virais são designadas por nomes descritivos informais, como vírus da imunodeficiência humana (HIV), e as subespécies (se existirem) são designadas com um número (HIV-1). O Sistema de Classificação de Baltimore é um modo de classificação que ordena os vírus em sete grupos, com base na característica do genoma viral e na forma como: Grupo I: Vírus DNA dupla fita (dsDNA) Grupo II: Vírus DNA fita simples (ssDNA) Grupo III: Vírus RNA dupla fita (dsRNA) Grupo IV: Vírus RNA fita simples senso positivo ((+)ssRNA) Grupo V: Vírus RNA fita simples senso negativo ((-)ssRNA) Grupo VI: Vírus RNA com transcrição reversa (ssRNA-RT) Grupo VII: Vírus DNA com transcrição reversa (dsDNA-RT)Ciclo Viral Para um vírus replicar-se, ele deve induzir uma célula hospedeira viva a sintetizar todos os componentes essenciais necessários à produção de novos vírions. Devido aos requerimentos biossintéticos e energéticos, células hospedeiras mortas não são capazes de replicar vírus. Durante uma infecção ativa, os componentes virais são montados em novos vírions que são liberados da célula. Uma célula que suporta o ciclo completo de replicação de um vírus é dita permissiva para aquele vírus. Em um hospedeiro permissivo, o ciclo de replicação viral pode ser dividido em cinco etapas. 1. Ligação (adsorção) do vírion à célula hospedeira; 2. Penetração (entrada, injeção) do ácido nucleico do vírion na célula hospedeira; 3. Síntese de ácidos nucleicos e proteínas virais pela maquinaria da célula hospedeira, de acordo com o redirecionamento determinado pelo vírus; 4. Montagem dos capsídeos e empacotamento do genoma viral em novos vírions; 5. Liberação de novos vírions pela célula. Os retrovírus são vírus de RNA pouco comuns que se replicam sob a forma de intermediários de DNA. Uma vez que produzir DNA a partir de um molde de RNA é outro processo que as células não conseguem executar, esses vírus possuem um DNA-polimerase dependente de RNA, denominado transcriptase reversa (Seção 8.10), que transcreve o RNA viral em um intermediário de DNA. Assim, apesar de que a maioria dos vírus não necessita carrear enzimas especiais em seus vírions, aqueles que o fazem as requerem para que a infecção e a replicação possam ocorrer com sucesso. . 4 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL Ciclos de Vida do Bacteriófago Muito do nosso entendimento do ciclo viral de replicação lítico provém do estudo de bacteriófagos que infectam Escherichia coli. Muitos bacteriófagos de RNA e DNA replicam-se em E. coli. Os estágios iniciais do ciclo de vida de qualquer bacteriófago são a ligação à superfície da célula hospedeira, seguida da penetração das camadas externas da célula hospedeira e entrada do genoma viral no interior da célula. Ligação O principal fator determinante para a especificidade de um vírus é a ligação. O próprio vírion possui uma ou mais proteínas na superfície externa que interagem com componentes específicos da superfície celular, denominados receptores. Os receptores são componentes superficiais normais da célula hospedeira, como proteínas, carboidratos, glicoproteínas, lipídeos, lipoproteínas ou complexos desses: Penetração A ligação de um vírus a sua célula hospedeira promove alterações tanto no vírus quanto na superfície celular. Os bacteriófagos abandonam o capsídeo no exterior da célula e apenas o genoma viral alcança o citoplasma. No entanto, a penetração do genoma em uma célula suscetível só resultará em replicação viral caso o genoma viral possa ser decodificado. Consequentemente, para a replicação de alguns vírus, por exemplo, vírus de RNA, proteínas virais específicas devem também penetrar na célula hospedeira juntamente com o genoma viral. A ação de uma enzima similar à lisozima promove a formação de um pequeno poro no peptideoglicano e a bainha da cauda contrai-se. Quando isto ocorre, o DNA de T4 penetra no interior do citoplasma da célula de E. coli, através de um orifício presente na ponta da cauda fágica, em um formato que lembra a injeção por uma seringa. Replicação e Permutação Circular Uma vez que uma célula hospedeira permissiva tenha sido infectada por um vírus, os primeiros eventos giram em torno da síntese de novas cópias do genoma viral. Uma vez que existem muitos tipos de genomas virais, há muitos esquemas diferentes para a replicação do genoma do viral. Em pequenos vírus de DNA, a replicação do genoma viral é realizada pela DNA- polimerase da célula. Nos vírus de DNA mais complexos, tais como bacteriófago T4, o vírus codifica a sua própria polimerase de DNA. . 5 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL Outras proteínas que atuam na replicação do DNA viral, tal como as primases e helicases também são codificadas pelo genoma de T4. Na verdade, T4 produz as oito proteínas que formam seu próprio complexo replissomo de DNA para facilitar a síntese do genoma específico do fago. Transcrição e Tradução Logo após a infecção, o DNA de T4 é transcrito e traduzido, e o processo de síntese de novos vírions começa. Em menos de meia hora, o processo culmina com a liberação de novos vírions a partir da célula lisada: Empacotamento do Genoma: . 6 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL Ciclo Lítico X Lisogênico: Diferença entre fagos e Vírus que infectam animais Os vírus que infectam as plantas e os animais compartilham muitas propriedades com vírus bacterianos, mas diferem em alguns aspectos- chave. Os princípios fundamentais da virologia – presença de um capsídeo para transportar o DNA viral ou o genoma de RNA, a infecção e aquisição de processos metabólicos do hospedeiro, e a montagem e libertação a partir da célula – são universais, independentemente da natureza do hospedeiro. No entanto, duas diferenças principais entre os vírus bacterianos e animais são que: (1) todos os vírions de vírus de animais (e não apenas o ácido nucleico) penetram na célula hospedeira; (2) células eucarióticas contêm um núcleo, onde muitos vírus animais replicam; (3) Ao contrário de uma infecção por bacteriófagos, na qual apenas um de dois resultados – lise ou lisogenia – é possível dependendo do vírus, outros eventos são possíveis em uma infecção viral animal. Classificação dos vírus animais A maioria das doenças virais humanas importantes é provocada por vírus de RNA. A maioria destes vírus de RNA possuem genomas de fita simples, sendo a única exceção os reovírus, cujos genomas consistem em RNA de dupla-fita. Como pode ser observado, os vírus de RNA em geral apresentam genomas relativamente pequenos, ao contrário dos dois vírus de DNA apresentados, vírus da varíola e herpes-vírus. Consequências das infecções virais em células animais Vírus de animais diferentes podem catalisar pelo menos quatro resultados diferentes. Uma infecção virulenta resulta na lise da célula hospedeira; este é o resultado mais comum. Por outro lado, em uma infecção latente, o DNA viral não é replicado e as células hospedeirasnão são danificadas. Com alguns vírus envelopados de animais, a liberação dos vírions, que ocorre por um tipo de processo de brotamento, pode ser lenta, e a célula hospedeira pode não ser lisada. Estas infecções são denominadas infecções persistentes. Finalmente, certos vírus de animais podem converter uma célula normal em uma célula tumoral, um processo chamado de transformação. Em organismos multicelulares, células de diferentes tecidos ou órgãos frequentemente expressam diferentes proteínas nas suas superfícies celulares. Consequentemente, os vírus que infectam os animais muitas vezes infectam . 7 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL somente certos tecidos. Por exemplo, os vírus que causam a gripe comum apenas infectam as células do trato respiratório superior. Os vírus animais devem eventualmente perder seu revestimento exterior para expor o genoma viral. Alguns vírus envelopados de animais são desnudados na membrana citoplasmática do hospedeiro, liberando o núcleocapsídeo no citoplasma. No entanto, todos os vírions de vírus não envelopados de animais e muitos dos vírus envelopados de animais penetram na célula através de endocitose. Nestes casos, o vírion é desnudado no citoplasma dohospedeiro e o genoma passa através da membrana nuclear para o núcleo, onde ocorre a replicação do ácido nucleico viral. Muitos vírus animais são envelopados, e quando estes saem da célula, eles podem pegar parte da membrana citoplasmática da mesma e usá-la como parte do seu envelope viral. Vias de multiplicação usadas por vários vírus contendo RNA. Após o desnudamento, os vírus de RNA de fita simples (ssRNA) com genoma de fita positiva são capazes de sintetizar proteínas diretamente de sua fita positiva. Usando a fita positiva como molde, eles transcrevem fitas negativas para produzir fitas positivas adicionais, que servem como mRNA e são incorporadas dentro do capsídeo como genoma viral. Os vírus de ssRNA com genoma de fita negativa devem transcrever uma fita positiva para servir como mRNA, antes do início da síntese de proteínas virais. O mRNA transcreve fitas negativas adicionais para serem incorporadas ao capsídeo viral. Os vírus de ssRNA, assim como os vírus de dsRNA, devem utilizar o mRNA (fita positiva) para codificar suas proteínas, inclusive as proteínas do capsídeo. Retrovírus Os retrovírus possuem genoma de RNA. No entanto, o genoma é replicado através de um intermediário de DNA. O termo retro significa “para trás” e a denominação retrovírus deve-se ao fato de eles transferirem as informações de RNA para DNA (em contraste com o fluxo de informação genética nas células, que é exatamente o contrário). Os retrovírus utilizam a enzima transcriptase reversa para realizar esse processo pouco usual. Os retrovírus foram os primeiros vírus a serem descobertos de causar câncer, e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus que causa a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Os retrovírus são vírus envelopados que carreiam várias enzimas no vírion. Estas incluem a transcriptase reversa, a integrase e a uma protease retroviral específica. O genoma dos retrovírus é singular e consiste em duas moléculas idênticas de RNA de fita simples de senso positivo. O genoma . 8 Vírus – Resumo do Livro de Microbiologia De Brock, 14ª edição. Bruna Sampaio – Medicina UFAL contém os genes gag, que codifica proteínas estruturais; pol, que codifica a transcriptase reversa e integrase; e env, que codifica proteínas do envelope. Em cada extremidade do genoma dos retrovírus existem sequências repetidas que são essenciais para a replicação. Príons 1. Os príons são proteínas infecciosas descobertas na década de 1980. 2. Todas as doenças causadas por príons, como a CJD e a doença da vaca louca, envolvem a degeneração do tecido cerebral. 3. As doenças causadas por príons são resultantes de uma proteína alterada; a causa da alteração pode ser uma mutação no gene normal da PrPC ou o contato da proteína normal com uma proteína alterada (PrPSc). Vírus de plantas e viroides 1. Os vírus de plantas entram nas plantas hospedeiras através de lesões ou com parasitos invasivos, como os insetos. 2. Alguns vírus de plantas também podem se multiplicar em células de insetos (vetores). 3. Os viroides são fragmentos de RNA infecciosos causadores de algumas doenças em plantas, como o viroide do tubérculo afilado da batata.
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