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ECONOMIA DOS MEDIA Na disciplina, os media são encarados como atores económicos, que produzem e disseminam bens para satisfação das necessidades dos consumidores, sendo influenciados pelo meio no qual operam. Para Picard, este campo de pesquisa: 1. Preocupa-se com o modo como várias forças (económicas, financeiras, regulatórias) afetam os tipos de media e comunicação; 2. Foca-se nos modos como os media operam e se comportam; 3. Explora os tipos de conteúdos que estas forças produzem nos media; 4. Considera as implicações destes fatores na cultura política e na sociedade como um todo. Segundo Albarran, o estudo da economia dos media precisa de ser abordado numa perspetiva holística e interdisciplinar. AFETAÇÃO DE RECURSOS E ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA Para satisfazer as necessidades, produtores e consumidores usam recursos escassos. As indústrias media usam eletricidade, papel, equipamentos, trabalho especializado, programação e informação. Por outro lado, os consumidores gastam tempo e dinheiro. Na impossibilidade de satisfazer todas as necessidades, é necessário fazer escolhas, tendo noção do custo de oportunidade – o valor da melhor alternativa sacrificada. Para usar os recursos existentes, a afetação envolve três grandes escolhas: o que, como e para quem produzir? A estes 3 problemas centrais, pode juntar-se outro: quem é responsável pelas decisões económicas e como estas são tomadas? Em quase todas as economias vigora um sistema misto, onde sector público e privado coexistem. Nestas, uma parte das decisões são tomadas pelos consumidores, empresas ou governo. Todas, sem exceção, são coordenadas pelos mercados. O NEGÓCIO DOS MEDIA E AS ESPECIFICIDADES DO PRODUTO Em Portugal, a informação jornalística é considerada um bem de primeira necessidade. O processo de transformação reúne os habituais fatores de produção, como o trabalho, capital, suportes de difusão ou circuitos de distribuição. Logo, a produção de informação implica custos. Especificamente, as organizações de media funcionam no sistema económico para ir ao encontro de necessidades e desejos públicos e privados. Segundo Picard, os media servem as vontades e necessidades privadas de quatro grupos distintos: 1. proprietários dos media (querem lucro); 2. audiências (querem qualidade a baixo preço); 3. anunciantes (querem tempo e espaço para acederem ao público a baixo preço); 4. trabalhadores media (querem boas condições de trabalho). Há ainda outro stakeholder: as fontes, que pretendem ter acesso ao público-alvo sem custos monetários. Deste modo, consumidores e anunciantes influenciam as empresas media e o conteúdo que elas produzem. E por mais central que seja o consumidor, os media noticiosos não podem ser orientado apenas em função da satisfação dos desejos, gostos e reações dos consumidores, pois é impossível estabelecer o valor da informação exclusivamente em função de critérios económicos. Há que ter em conta, também, critérios de ordem moral, ética e deontológica. Por isso, o valor da informação é difícil de contabilizar: enquanto, em matéria de batatas o mecanismo da oferta e da procura age com uma maior ou menor eficácia, no domínio da Informação é, por vezes, mais fácil vender má informação do que boa. Mas quando nas redações não se trata este ou aquele assunto porque não interessa às pessoas, está-se a trocar a responsabilidade da oferta, que é a grandeza do jornalismo, pela tirania da procura. O click- bait como subproduto jornalístico, em particular, é um caminho perigoso para a credibilidade do jornalismo. Para além disso, a dependência das duas principais fontes de receita – publicidade e consumidores – tem relevância económica e não económica. Com a Publicidade, surgem perigos da aposta no entretenimento, numa informação simplista e emocional. Com as receitas dos consumidores, surgem perigos das apostas em produtos associados e não na informação. McQuail diz-nos que o carácter público dos media deriva sobretudo da sua função política numa democracia, mas também do facto de a informação, a cultura e as ideias serem consideradas propriedade coletiva de todos. A realidade é que os media não são um negócio qualquer e tendem a ser sobrecarregados com um considerável peso de responsabilidade pública. A responsabilidade social dos media assenta no direito a informar e a ser informado. Bertrand e McQuail falam em media accountability, os processos através dos quais os media respondem à sociedade para qualidade e consequência das suas publicações. Nas democracias pluripartidárias, os jornalistas devem desempenhar um duplo papel: o de porta-vozes da opinião pública e o de vigilantes do poder político. A industria media apresenta-se como actividade económica de alto risco, pois assenta na diversificação e na criatividade. Assenta, também, no alto grau de incerteza das escolhas e potencial desequilíbrio entre custos fixos e variáveis na produção, pois é difícil prever os gostos flutuantes de um público em mutação. O valor de uso de uma mercadoria prende-se com a satisfação das necessidades humanas que esta desencadeia. Já o valor de troca relaciona-se com a propriedade que a mercadoria tem de comprar outras mercadorias. Daqui, depreende-se que a informação tem um elevado valor de uso e um baixo valor de troca. Para além disso, os produtos media têm uma característica especial: apresentam carácter perecível, ou seja, na maioria dos casos, o conteúdo dos meios de informação perde depressa o seu valor. Surge, assim, a necessidade de elaborar e difundir com a maior rapidez possível. O primeiro objetivo passa, então, por economizar o tempo: para captar a atualidade mais depressa e ultrapassar os concorrentes, cada órgão de comunicação social procura as informações com a máxima rapidez. Depois, há que ter em conta que nas indústrias media, verifica-se um custo elevado da produção, sendo o trabalho um dos recursos mais dispendiosos. Assim, o segundo objetivo passa por economizar mão-de-obra. O crowdsourcing, por exemplo, pode ser uma ferramenta eficiente de investigação jornalística. Mas é também um método difícil de implementar e que pode ser perigoso se encarado como uma solução para a contenção de custos: mão de obra gratuita, mas deontologicamente descomprometida. Verifica-se, assim, um permanente equilíbrio de forças entre a necessidade de fazer lucro e de servir o interesse público – existe um potencial conflito entre a responsabilidade social dos media (qualidade do produto/serviço baseada na precisão, criatividade, pensamento independente, diversidade e pluralismo) e avaliação do desempenho dos media por parte dos proprietários, acionistas e investidores (as receitas, o EBITDA e os resultados líquidos são os indicadores mais importantes). Para além da obtenção de lucro, há outros proprietários media motivados por objetivos alternativos, tais como o objetivo de apoiar ou pressionar o poder político e de fornecer uma difusão de serviço público. Atualmente, vivemos na era da participação, emergindo novos segmentos de mercado de consumidores colaborativos, culturalmente ativos e criativos. Hoje as pessoas criam notícias, ideias e entretenimento da mesma forma que as consomem, sem esperar compensação monetária. A indústria dos media está a transformar-se. PRODUÇÃO O produto é obtido através de apenas dois fatores produtivos: o capital (K) e o trabalho (L). Q = f (L, K) Curto prazo: período de tempo em que a empresa/instituição não pode alterar pelo menos um dos fatores de produção. Longo prazo: período suficientemente longo para que todos os fatores, incluindo o capital, sejam ajustados. No longo prazo, é possível alterar todos os fatores de produção e, portanto, a escala de produção. Quando variam todos os fatores produtivos na mesma proporção, varia a escala de produção. Temos, então, rendimentos à escala– efeito do acréscimo de todos os fatores produtivos na mesma proporção sobre a quantidade produzida. Se a quantidade produzida varia: 1. Mais do que proporcionalmente: temos rendimentos crescentes à escala. Ocorre devido a indivisibilidades técnicas (por mais que queiramos, não podemos simplesmente reduzir os fatores de produção) ou a divisão/especialização do trabalho (ganhos de eficiência). 2. Na mesma proporção: temos rendimentos constantes à escala. 3. Menos que proporcionalmente: temos rendimentos decrescentes à escala. Podem acontecer por limitação de recursos, excesso de divisão do trabalho ou dificuldades de supervisão, ou por custos unitários mais altos. Inicialmente, a empresa, quando aumenta a sua produção, ultrapassa indivisibilidades técnicas e retira vantagens da especialização do trabalho, obtendo rendimentos crescentes à escala. A partir da escala mínima eficiente, a empresa, provavelmente por dificuldades na gestão e excessiva divisão do trabalho, enfrenta rendimentos decrescentes à escala. Período curto: existe um fator fixo (normalmente K) e um fator variável (normalmente L). Acréscimos sucessivos na utilização de um fator de produção, ceteris paribus, conduzem a acréscimos cada vez menores do produto total. Rendimentos marginais decrescentes ou lei da produtividade marginal decrescente: resulta do aumento dos fatores variáveis face aos fatores fixos. Como evitá-lo? Através do progresso técnico ou do aumento da utilização dos restantes fatores de produção. Custos fixos: são rendas, juros, pagamento de equipamentos. São os custos de se produzir uma única unidade de um produto, independentemente das quantidades produzidas. Mesmo quando não produz, a empresa tem de suportá-los. Custos variáveis: são matérias primas, salários, combustíveis, eletricidade. Variam consoante as quantidades produzidas. No curto prazo, só os custos variáveis são relevantes para a decisão de quanto produzir. Custo médio: é o custo por unidade produzida. Para os media, corresponde aos custos totais envolvidos no fornecimento de um produto ou serviço a dividir pela sua audiência. Custo marginal: é o custo adicional decorrente da produção de uma unidade adicional. Período Longo: falamos em economias de escala e de rendimentos à escala. ECONOMIAS DE ESCALA Quando o custo médio de produção decresce, à medida que a quantidade produzida aumenta. Existem em qualquer indústria em que os custos marginais são inferiores aos custos médios. São predominantes na indústria media por esta se caracterizar por elevados custos de produção inicial (o custo de criar todo um jornal, p. ex.) e baixos custos marginais de reprodução e distribuição dos produtos media (os custos de replicar o jornal e distribuir as réplicas). Os media tradicionais apresentam um quociente elevado entre os custos fixos e os custos variáveis, com pesados investimentos de capital, que têm de ser recuperados através das vendas ou publicidade. No entanto, apesar dos custos de conteúdo serem semelhantes no media tradicionais e digitais, nos segundos os custos de entrada são mais baixos. Para além disso, o custo marginal do fornecimento de uma publicação online a um utilizador adicional é desprezível. São os elevados custos fixos que premeiam economias de escala – pois os custos são repartidos por uma maior produção –, construindo uma pesada barreira à entrada a novos agentes e propiciando a concentração. As barreiras são obstáculos que impedem ou dificultam a entrada de um novo interveniente num mercado, em geral do lado da oferta. Existem barreiras estruturais, que decorrem das características básicas dos mercados – tecnológicas, económicas ou legais, e estratégicas, que surgem do comportamento dos operadores em exercício. BARREIRAS ESTRUTURAIS Economias de escala: o mercado, em termos de procura, pode ser demasiado pequeno para suportar um número elevado de empresas. Tal acontece quando há elevadas economias de escala. Por outro lado, uma empresa relativamente pequena que entre no mercado tende a ter um custo médio superior ao preço de mercado, o que dificulta a sua prosperidade. Vantagens absolutas de custos: custos inferiores, resultantes da experiência de estar no mercado há mais tempo, de se utilizar uma tecnologia mais eficiente ou de se ter acesso a preços dos fatores produtivos mais baixos, permite ao monopolista baixar o preço e ganhar guerras de preço. Uma empresa que entre num mercado suporta custos de experiência (contrata trabalhadores menos experientes e logo, menos eficientes) e custos de transação (tem de procurar fornecedores e clientes) mais elevados. Patentes, concessões e restantes barreiras jurídicas (alvarás): trata-se de uma proteção legal para uso exclusivo do produto. É uma outra forma de monopólio. Diferenciação: estratégia usada pelas empresas quando estas tornam os produtos únicos e mais desejáveis por parte dos consumidores, face a produtos similares de outras empresas. No caso dos media, a diferenciação foca-se no conteúdo do produto. Pode levar à fidelização. Restrições do comércio internacional: é o caso de tarifas e quotas protetoras de mercados internos. BARREIRAS ESTRATÉGICAS Preço limite: a empresa existente, ao ter uma vantagem custo, pode praticar um preço suficientemente baixo que obrigue as potenciais entrantes a enfrentarem prejuízos caso decidam entrar no mercado. Excesso de diferenciação: a proliferação de marcas cobre o mercado de forma a não deixar espaço a potenciais concorrentes (imprensa, por exemplo). Controle de inputs e outlets: a integração vertical e os contratos de exclusividade garantem vantagens competitivas à empresa instalada em termos de custos de transação. Publicidade: a conquista de fidelização por parte dos consumidores através da imposição de uma marca pode tornar uma entrada no mercado mais dispendiosa. ESTRUTURAS DE MERCADO Concorrência perfeita: muitos vendedores de um bem ou serviço que não é diferenciado – os produtos das diversas empresas são substitutos perfeitos. Nenhuma firma domina o mercado, apenas o conjunto delas. Monopólio: presença de um único vendedor de um produto/serviço sem substitutos próximos. Uma única entidade domina o mercado, pois tem capacidade de influenciar o preço de mercado do produto que vende. É um price-maker. Concorrência monopolística: muitos vendedores de um bem ou serviço semelhantes, mas não perfeitamente substituíveis, para o mesmo grupo de clientes. Cada produto está apenas disponível pela firma que o produz, podendo destacar-se pela diferenciação. Oligopólio: é o caso dos media portugueses. Um pequeno número de empresas controla grande parte do mercado. Existe maior controlo sobre as forças económicas do mercado do que na concorrência monopolística – as firmas são interdependentes e atuam mediante as ações dos concorrentes. CONCENTRAÇÃO É uma variável importante para avaliar mercados media. Mercados altamente concentrados usualmente geram elevadas barreiras à entrada de novos concorrentes. CONCENTRAÇÃO DE PROPRIEDADE Refere-se ao grau em relação ao qual uma indústria é controlada por empresas individuais. As empresas media tendem à concentração de propriedade, que ocorre quando poucos indivíduos ou organizações controlam grandes fatias dos meios de comunicação social, para: 1. Baixar os custos unitários de investimentos (ao elevarem as vendas); 2. Oferecer aos anunciantes o interesse de um grande número de consumidores e um leque de públicos específicos. A concentração de propriedade dá-se através de crescimento interno (expansão da capacidade de produção por investimento da própria empresa) e externo (fusão ou aquisição de outras empresas). As suas principais vantagens são o aumento de eficiência e poder de mercado. Concentração vertical: padrão de propriedade que se estende a diferentes estádios do processo produtivoe distribuição, em que uma série de empresas que se encontram verticalmente relacionadas, isto é, uma é fornecedora da seguinte. Permite o controlo desde a matéria-prima até ao cliente final. Integração vertical a montante: diz respeito à compra de subsidiárias que produzem componentes dos respetivos produtos, ou seja, fornecedores. O controlo destes proporciona o fornecimento estável dos componentes e assegura a qualidade consistente do produto final. Integração vertical a jusante: diz respeito à compra de subsidiárias que distribuem ou vendem produtos aos consumidores ou que os incorporam no respetivo processo produtivo. Principais vantagens: 1. maximização do lucro; 2. ganhos de controlo e de segurança sobre o mercado; 3. redução os custos de transação e aumentos de eficiência e do poder de mercado. Concentração horizontal: reúne na mesma empresa diferentes unidades que funcionam no mesmo nível de produção e que combinam forças. Visa controlar um máximo de produtos similares ou próximos para realizar economias de gama e/ou aumentar o seu poder no mercado. As economias de gama/âmbito/escopo: são concetualmente semelhantes às economias de escala e resultam da partilha de eficiências, pelo facto de se apresentarem vários produtos distintos. A produção e distribuição multiproduto em grande escala permite a uma empresa fornecer bens de forma mais barata do que seria se fossem fornecidos por empresas individuais. Um produto media criado para um mercado pode ser reformatado e vendido através de outro. Isto permite a redução de custos, através de algumas despesas partilhadas. Concentração multimédia (ou diagonal ou cruzada): o mesmo grupo detém diferentes meios. A concentração leva a megagrupos multimédia que controlam jornais, rádios, televisões ou agências noticiosas e de publicidade. Ajuda a distribuir os riscos e estimula economias de escala e de âmbito. Reúne ações de sinergia, isto é, cooperação de diferentes elementos, permitindo uma eficiência superior à soma das eficiências elementares. Podem ser partilhados conteúdos entre diferentes media, recursos especializados e infraestruturas de distribuição comuns, o que se traduz numa eficiência económica significativa. Concentração por diversificação: visa a diversificação das atividades. Gera um conglomerado, grupo constituído por empresas que operam em mercados não relacionados (construção, empreendimentos turísticos, media). As empresas do grupo são independentes umas das outras e estão submetidas ao controlo da empresa mãe. AS DESVANTAGENS Quando uma empresa atinge uma posição dominante, a menor concorrência pode constituir um motivo esta se “desleixar” e dar origem a ineficiências. Especificamente nos media, a concentração traz riscos para a diversidade e o pluralismo, podendo levar à homogeneização da informação e ideias. Outro grande problema diz respeito à concorrência, tida como essencial para a eficiência económica. Esta garante que as empresas mantenham os preços e custos baixos, o que incentiva uma utilização mais eficiente dos recursos e um melhor desempenho das empresas. CONCENTRAÇÃO DE MERCADO Refere-se ao número das empresas e das respetivas quotas de mercado no total das vendas num mercado ou numa indústria. O número de players é um indicador do poder do mercado que as empresas possuem e da sua capacidade de controlar e influenciar as operações económicas desse mercado. A elevada concentração de mercado: 1. limita a concorrência e funciona como barreira à entrada; 2. faz baixar a diversidade e, logo, a qualidade do produto; 3. pode distorcer (aumentar) os preços; 4. traz menos inovação tecnológica; 5. traz dificuldades de expansão de empresas mais pequenas. FERRAMENTAS Os rácios de concentração comparam o rácio das receitas totais dos maiores players com as receitas de toda a indústria, usando as quatro (CR4) ou as oito empresas de topo (CR8). No entanto, esta ferramenta não é sensível ao poder detido por uma empresa individualmente. Por exemplo, dois mercados individuais podem ter rácios de concentração idênticos, mas os rácios das empresas em cada um dos mercados pode ser muito diferente. A Curva de Lorenz ilustra a desigualdade do share de mercado pelas várias empresas, que pode ser avaliada graficamente através da dita curva. É mais usada quando o número de firmas é superior a quatro. A 45 graus representa a igualdade no mercado. Quanto mais elevado se mostrar a curva de desigualdade de partilha de mercado, maior é a concentração. O Herfindahl-Hirschman Index (HHI) é calculado pelo somatório ao quadrado da partilha de mercado de todas as empresas. Por exemplo, a empresa A detém 10%, a B detém 4% e a C detém 2%. Ou seja, 10x10 + 4x4 + 2x2. Isto resulta em 100 + 16 + 4 = 120. O índice aumenta à medida que o número de empresas diminui e a desigualdade entre as empresas aumenta. MODELO DE NEGÓCIO DOS MEDIA Web 2.0: lógica de partilha, seguindo os conteúdos que vão sendo permanentemente atualizados em função da utilidade que lhe dão. Não se trata de uma simples evolução desatada pelo surgimento de um novo meio, mas sim uma revolução complexa, repleta de processos evolutivos menores, uns rápidos e outros lentos. Estamos a transitar da sociedade industrial para a sociedade da informação, ou “sociedade em rede”, como prefere Castells. A CULTURA DA CONVERGÊNCIA DE JENKINS A convergência é mais cultural do que tecnológica. O utilizador promove justamente a convergência de meios velhos e novos. Convergência dos meios de comunicação: origina um fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes mediáticos. Ocorre cooperação entre múltiplos mercados mediáticos e os públicos apresentam um comportamento migratório nos meios de comunicação, indo a quase qualquer parte, em busca de experiências de entretenimento que desejam. Cultura participativa: não é um fenómeno que ocorre a partir de aparelhos e máquinas, mas antes dentro do cérebro de consumidores individuais e nas suas interações sociais uns com os outros. Os papéis de produtor e consumidor de media dissolvem-se à medida em que passamos todos a sermos participantes em interação. Inteligência coletiva: o consumo e a produção de conhecimento tornaram-se processos coletivos, a partir das motivações individuais das pessoas. Parte do princípio de que nenhum de nós poderá saber tudo; daí a necessidade de juntarmos as peças, associarmos recursos e unirmos competências. A Wikipédia é o exemplo mais óbvio. IMPLICAÇÕES DA CONVERGÊNCIA Há poucas barreiras para o envolvimento e para o “engagement”. Nem todos os membros têm de contribuir, mas todos acreditam que estão livres para o fazer quando prontos. O papel do consumidor e do utilizador final há muito desapareceu. Os utilizadores são também produtores da base de conhecimento compartilhada e distribuidores de informação e entretenimento – tornam-se produtores híbridos (“produser”, de Axel Bruns). Aumenta a influência do consumidor, com as suas opiniões e experiências, sobre outros consumidores. A cocriação e o “passa palavra” reduzem os custos no desenvolvimento de novos produtos e em publicidade e surge uma grande oportunidade para as indústrias, mas uma ameaça para a indústria media (como a diminuição de receitas em publicidade). Outra questão central na atualidade diz respeito aos direitos de autor e à vulnerabilidade de muitos produtos media à pirataria e a contrafação. Surge, pois, a necessidade de criar novos modelos de negócio. TRANSMEDIA STORYTELLING É uma narrativa que pode ser desvendada, continuada ou ainda ter outras narrativas contadas em paralelo, em diferentes meios/plataformas. Sempre com ligação à narrativa principal. Cada meio contribui para a história de maneira distinta e valiosa para o entendimento e fixação do contexto. É um dos marcos da cultura de convergência. Para Pierre Levy, os espetadoresaproveitam melhor a experiência sobre a história quando existe a possibilidade de partilha. Na nova economia digital, a riqueza flui da inovação e não da otimização. As tendências passam por: 1. queda do custo de armazenamento; 2. aumento da velocidade de processamento; 3. maior velocidade de transmissões; 4. queda no custo do hardware; 5. integração de dados, vídeo, voz, imagem; 6. tudo isto a custo 0, praticamente. CAUDA LONGA Tem gerado um movimento migratório da cultura de hits para a cultura de nichos, a partir de um novo modelo de distribuição de conteúdo e oferta de produtos na indústria do entretenimento. Antes da internet, a oferta de produtos era feita única e exclusivamente através de meios físicos: um produto físico, distribuído através de um modelo de distribuição físico, exposto em lojas físicas, que atendiam os consumidores de determinada região. Nesse modelo, os custos eram muito altos, tornando economicamente viável apenas a oferta de produtos populares, e mais lucrativos, para o consumo de massa. O modelo tinha como base a regra dos 80/20, que sugere que 80% das receitas das empresas provêm de 20% dos seus produtos. Tudo isto gerou uma economia baseada em hits, ou seja, em produtos muito populares, com poucos concorrentes, e uma distribuição estatística de produtos onde o eixo horizontal é muito mais largo do que o vertical. A teoria da cauda longa descreve a passagem de um negócio em que se vendiam grandes volumes de itens, para um negócio em que se vendem quantidades relativamente pequenas de itens para nichos. A redução ou a ausência de diversos custos como os de stocking e de distribuição, devido à Internet, permite que os outros 80% seja vendido. FORÇAS DA CAUDA LONGA Democratização da produção: temos produtores e fabricantes de ferramentas cauda longa. O baixo custo das tecnologias deu origem ao acesso de ferramentas que antes eram extremamente caras. Democratização da distribuição: Torna-se muito mais cómoda. O negócio é dos agregadores. Temos o exemplo da Amazon, do eBay, do iTunes e do Mercado Livre. Ligação entre a oferta e a procura: o grande desafio da venda para nichos é encontrar compradores interessados. Os motores de busca, por exemplo, vieram facilitar tudo. O negócio é dos filtros da cauda longa. A Google, os blogues, as listas, o Twitter e o Facebook são alguns exemplos. CULTURA DOS NICHOS É o rompimento das barreiras físicas torna possível a criação de modelos de negócios de Cauda Longa, em que a oferta de produtos é praticamente ilimitada, uma vez que os custos de armazenagem e distribuição digitais são muito baixos. Os stocks podem ser virtualmente infinitos. Produtos economicamente inviáveis no modelo de hit encontram no meio digital os seus consumidores, que passam a ter uma variedade de novas opções, que antes só encontravam lojas especializadas (ou simplesmente não encontravam). Estes produtos de nicho, quando considerados em conjunto passam a ter grande potencial de lucro para as empresas, já que não precisam de competir mais com os hits por espaço. Passamos de uma cultura de escassez para uma cultura de hiperabundância. Três sugestões de Chris Anderson para explorar os nichos são: Oferecer o máximo possível: disponibilizar o máximo de produtos no negócio online. Mesmo aqueles que nunca vendem uma unidade não acarretam prejuízos significativos para a empresa. Desta forma, a cauda está a esticar-se. Diminuir o preço: repassar ao cliente o desconto que se tem ao criar o stock virtual. Depois, baixar ainda mais o preço. A Internet oferece diversas alternativas de lucro indireto (especialmente com publicidade). Estamos a engordar a cauda. Ajudar o cliente na descoberta: devem oferecer-se mecanismos de busca eficientes para auxiliar o cliente a encontrar o que deseja. É necessário ouvir e aproveitar a opinião dos consumidores para melhorar a pesquisa. Há que orientar o consumo para os nichos. EFEITOS DA INTERNET Deu-se o processo que Roger Fidler chamou de mediamorfose: o aparecimento de nova tecnologia não eclipsa os velhos media; eles passam por uma metamorfose e adaptam-se. Já Alves fala num mediacídio: não há garantia de que, transformados, os velhos meios poderão sobreviver. Por outro lado, emerge a Sociedade em Rede (Castells), porque pela primeira vez na história da comunicação, o dispositivo recetor é também emissor. Passamos de um ecossistema média-cêntrico a um ecossistema eu-cêntrico. Integrados em redes virtuais, os indivíduos procuram uma maior participação e impõem um novo sistema comunicacional mais horizontal e aberto. A indústria de media está a passar de um modelo de negócio dual (venda de publicidade e conteúdo) para um novo modelo. A sociedade em rede não dispensa o jornalismo profissional, mas retira-o do centro do ambiente comunicacional. Os consumidores selecionam o que querem (tipo de conteúdos), quando querem (momento do consumo), quanto querem (pagar pelos conteúdos). Assim, os media tornam-se um negócio a partir de múltiplas plataformas e é necessário gerar lucro a partir destas. É mais cómodo e rápido informar-se na Internet, perante a escassez de tempo e atenção. Há menos procura e publicidade na imprensa, rádio e televisão, muito devido à migração digital. Aumentam as receitas publicitárias totais dos media online. Agora, os fornecedores de conteúdos podem rastrear, analisar, monitorar e atender mais eficazmente às mudanças de gostos e interesses específicos entre audiências. No geral, o consumidor não quer pagar por produtos media disponíveis online. Quanto aos modelos de receita, há o pagamento do consumidor, por utilização: utilização única, subscrição, o lowcost para utilização básica e preços mais altos para utilização extensa. Há o pagamento da publicidade: paga-se por espaço/tempo, por ação: resultados gerados, cliques efetuados. Há os patrocínios: paga por associação com produto/serviço. E há o pagamento B2B: Licenças para utilização por outras empresas. OS ANUNCIANTES A publicidade de massa entrou em declínio por um efeito de desintermediação – os anunciantes criam a sua própria audiência, usam as redes sociais e já não precisam de pagar tanto para aparecerem ao lado de conteúdo jornalístico ou de entretenimento. Verifica-se a criação de canais diretos para chegar ao público-alvo em vez de presença em sites dos produtores de conteúdos. Neste ambiente multiplataforma, de fragmentação das audiências e de mudanças de hábitos de consumo, os anunciantes tiveram de repensar as estratégias de entrega de mensagens. A adição de um novo media não resulta no aumento do investimento em publicidade, mas no reposicionamento dos gastos entre os media. Dá-se uma fragmentação das receitas. Os anunciantes são fundamentais para o sucesso dos media comerciais, pois constituem a principal fonte de receitas para manter a maior parte das empresas viáveis. DESTRUIÇÃO CRIATIVA, DE SCHUMPETER As mudanças tecnológicas e as inovações forçam as empresas a adaptarem-se ou a desaparecerem. Isto é, elas proporcionam oportunidades, mas podem ser fatais. Estamos perante a destruição criativa, um fenómeno de constante reestruturação e substituição de antigos produtos e empresas por novos, que conduz ao crescimento económico, sendo essencial no capitalismo. Na esperança de se abrigarem das tempestades de destruição criativa, muitas empresas têm adotado a estratégia multiplataforma. Mas a mudança para multiplataforma envolve um ajustamento na natureza da identidade de uma organização, bem como da sua atividade. O desafio passa por explorar os pontos fortes (e as oportunidades) de cada plataforma sem manchar os valores da marca do programa. MODELO DE NEGÓCIO É uma ferramenta utilizada para compreender a lógica, os conceitos e as bases sobre os quais os negócios e atividades são construídos. O modelo denegócio compõe nove blocos. À esquerda o cérebro, à direita a emoção. Segmentos de Clientes: diferentes grupos de pessoas ou organizações que a empresa pretende alcançar e servir. Para quem estamos a criar valor? Proposta de Valor: conjunto de produtos e/ou serviços que criam valor e satisfazem os clientes. O que é que oferecemos que mais ninguém oferece? Canais de Distribuição: quais os canais de comunicação, distribuição e venda que usaremos para entregar a nossa proposta de valor aos clientes? Relacionamento com o cliente: podem ir dos pessoais aos automatizados. Que tipo de relacionamento queremos estabelecer com os clientes? Receitas: referem-se ao dinheiro que uma empresa gera com cada segmento de clientes. A taxação e a publicidade podem ser formas de se gerar receitas. Quanto é que os nossos clientes querem pagar pela nossa proposta de valor? Recursos-chave: dependem do tipo de modelo de negócio. Podem ser físicos, financeiros, intelectuais ou humanos. Podem ser detidos pela empresa ou pelos parceiros-chave. São os ativos mais importantes o modelo de negócio. Que recursos são necessário para fazer o modelo de negócio funcionar? Atividades-chave: quais são as actividade mais importantes que encetamos para fazer o modelo de negócio funcionar? Parceiros Estratégicos: refere-se à rede de fornecedores e parceiros que fazem com o que o modelo de negócio trabalhe. Quais as parcerias necessárias para criar e entregar a nossa proposta de valor? Estrutura de Custos: quais são os custos mais importantes relacionados com a operação do modelo de negócio? Na Rádio, por exemplo, há propostas de valor para anunciantes e consumidores. No entanto, as receitas provêm apenas dos primeiros, já que os consumidores não pagam para ouvir. No modelo do digital, há uma proposta de valor para anunciantes, uma para utilizadores de serviços gratuitos e outra para utilizadores de serviços premium. Depreende-se, pois, que as receitas provêm dos anunciantes e dos utilizadores de serviços pagos. O desempenho do mercado do consumidor é avaliado pelas receitas das vendas (jornais, revistas, livros, vídeos e filmes) e assinaturas aos serviços (cabo). O desempenho do mercado do anunciante é avaliado de acordo com o número e tipo de consumidores (quem são, onde vivem). A composição social da audiência atingida é importante para o tipo de bens anunciados. Os media não são completamente substituíveis no mercado publicitário porque as suas audiências diferem no uso do produto em termos geográficos, demográficos e sociais. A observação permanente do meio é mais importante do que nunca. Compreender as mudanças na meio envolvente ajuda a adaptar de forma mais eficaz o modelo de negócio. As principais áreas do meio envolvente passam por: 1. forças de mercado (os problemas de mercado, segmentos de mercado, necessidades e procura, os custos e receitas); 2. forças da indústria (a concorrência, novos entrantes, produtos e serviços substitutos, stakeholders); 3. tendências-chave (tendências tecnológicas, tendências socioculturais e socioeconómicas); 4. forças macroeconómicas (condições globais do mercado, infraestruturas económicas, mercados e outros recursos). MERCADO DOS MEDIA Os mercados media podem ser definidos de acordo com a natureza do produto/serviço, o tipo de receitas, o lugar e os consumidores. Um mercado é um grupo interrelacionado de compradores e vendedores, ao passo que uma indústria compõe apenas os vendedores de um mercado particular ou de diversos mercados. Os media são mais complexos do que os mercados de outras indústrias. Além da concorrência dentro do mesmo segmento de mercado, cada empresa enfrenta 2 tipos de concorrência. CONCORRÊNCIA INTERMÉDIA Envolve a concorrência que ocorre entre diferentes tipos de media, pela atenção e tempo das audiências e também pelos gastos dos consumidores. É essencial avaliar se os produtos media são parecidos e o grau em que são substituíveis, trocáveis uns pelos outros. Quanto mais comuns forem as características dos diferentes media, maior é a competição intermédia. No mercado dos anunciantes, a competição é limitada pelas características dos diferentes media e da respetiva capacidade de fornecer determinados tipos de mensagens publicitárias. Ainda que com semelhanças de conteúdo, os media servem distintamente as diferentes necessidades e são usados de modos diferentes pela audiência. Tipicamente, os anunciantes compram publicidade em mais do que um media. CONCORRÊNCIA INTRAMÉDIA Envolve a concorrência entre diferentes unidades do mesmo media. A substituição das unidades do mesmo media é muito maior do que a substituição entre os diferentes media. Os grandes níveis de concorrência por audiências e gastos com anunciantes ocorrem entre unidades do mesmo media, particularmente se servirem as mesmas audiências na mesma localização. Assim, a natureza da concorrência intramédia é determinada mediante: 1. a especificidade do mercado; 2. o número de concorrentes; 3. a população; 4. o número de potenciais anunciantes; 5. quota de mercado detida pelos líderes de mercado. RELATÓRIOS DE CONTAS Variação absoluta: temos de subtrair dois elementos da série (valor final – valor inicial). Por exemplo, a variação absoluta das receitas consolidadas é = 237.176.998 – 229.057.778 = 8.1 milhões de euros. Variação relativa: É o mesmo que taxa de variação e é expresso em percentagem (%). A variação relativa é-nos dada pela seguinte fórmula: valor final − valor inicial valor inicial × 100 Logo, a variação relativa das receitas consolidadas seria: ((237.176.998 – 229.057.778) / 229.057.778) x 100 = 3,5%. Volume de negócios (ou receitas consolidadas): é o dinheiro total que a empresa recebe pelos produtos e/ou serviços por parte dos consumidores. Custos operacionais: custos de operar, tudo o que é necessário para que a empresa funcione. É = receitas consolidadas – EBITDA. Resultado líquido: se o valor for positivo, dá lucro; se for negativo, dá prejuízo. EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization): é = receitas operacionais – custos operacionais. Margem EBITDA (%): é = (EBITDA x 100) / receitas. REGULAÇÃO O Estado desempenha um papel importante nos media. É um anunciante, um proprietário, um regulador, um agente financiador e uma importante fonte de informação, dada a enorme influência na agência. Políticas públicas: as empresas e o mercado media são afetados pela regulação (condição exógena), que tem impactos na estrutura de mercado, na conduta e na performance da empresa. As indústrias media são afetadas não apenas pelas preocupações normais de políticas económicas e industriais, mas também por uma série de considerações especiais que refletem a importância sociopolítica e cultural das comunicações de massa. A regulação legal pode ter resultados positivos ou negativos: contribui para a competição entre empresas ou para a consolidação de algumas empresas, pode estimular ou impedir/inibir a atividade media e controlar as estruturas dos mercados media. Temos o exemplo da limitação do número de estações de rádio para assegurar operações estáveis e lucrativas e o estabelecimento de monopólios limitados. A liberdade de imprensa tem como limites os que decorrem da lei e da constituição, tendo em vista o respeito pelo cidadão a ser informado. As leis da rádio e da televisão estabelecem regras que condicionam o funcionamento desses media. Há limites ao tempo atribuído à publicidade, ao patrocínio de conteúdos, restrições de horários na transmissão de conteúdos e exigência de quota mínima de certos conteúdos. Por exemplo, em ambos os meios, os serviços noticiosos e os programas de informação política não podem ser patrocinados. Quanto à publicidade, na Imprensa não há limite à quantidade de publicidade publicada. Na Rádio, a difusão demateriais publicitários não deve ocupar, diariamente, mais de 20% do tempo total da emissão dos serviços de programas licenciados. Na RTP, serviço de programas generalista, não pode exceder os seis minutos de publicidade por hora.
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