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Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 1 ⁉ Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana O que é a Leishmaniose tegumentar americana (LTA) e quais as suas principais características? A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos, podendo se manifestar através de diferentes formas clínicas. É considerada uma enfermidade polimórfica e espectral da pele e das mucosas. As principais manifestações observadas nos pacientes com LTA podem ser classificadas de acordo com seus aspectos clínicos, patológicos e imunológicos. A forma cutânea localizada é caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas; a forma cutaneomucosa é caracterizada por lesões mucosas agressivas que afetam as regiões nasofaríngeas; a forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática e, finalmente, a forma difusa com lesões nodulares não-ulceradas. Qual o agente etiológico da LTA e quais os hospedeiros do protozoário? A leishmaniose tegumentar americana é uma doença causada por parasitos do gênero Leishmania Ross. Este é um protozoário digenético que tem seu ciclo biológico realizado em dois hospedeiros, um vertebrado e um invertebrado (heteroxeno). Os hospedeiros vertebrados incluem grande variedade de mamíferos: roedores, edentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá), canídeos e primatas, incluindo o homem. Os hospedeiros invertebrados são pequenos insetos da ordem Diptera, família Psychodidade, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomya. Nestes insetos ocorre parte do ciclo biológico do parasito Quais as morfologias que o protozoário pode apresentar e quais as características de cada uma? Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 2 Formas amastigotas: Apresentam-se tipicamente, ovóides ou esféricas. Formas promastigotas: São formas alongadas em cuja região anterior emerge um flagelo livre. O flagelo é frequentemente maior que o corpo. Formas paramastigotas: Apresentam-se ovais ou arredondadas com o cinetoplasto margeando o núcleo ou posterior a este e um pequeno flagelo livre. Como é o processo de reprodução desse protozoário? O processo de reprodução das Leishmanias é feito por divisão binária. Qual fator facilita a dispersão da doença? A dispersão da doença nas mais variadas regiões do Brasil tem como fator a grande variedade de hospedeiros vertebrados que epidemiologicamente comportam-se como reservatórios. Como é o mecanismo de transmissão da Leishmaniose? A transmissão ocorre pela picada de insetos hematófagos pertencentes ao gênero Lutzomyia conhecidos no Brasil por birigui, mosquito-palha e tatuquira, entre outros. Ao exercer o hematofagismo, a fèmea do flebotomíneo corta com suas mandíbulas o tecido subcutâneo logo abaixo da epiderme, formando sob esta um afluxo de sangue, onde são inoculadas as formas promastígotas metacídicas provenientes das regiões anteriores do trago digestivo. Como é o ciclo biológico do protozoário? As formas amastigotas de Leishmania são encontradas parasitando células do sistema mononuclear fagocitário do hospedeiro vertebrado, principalmente macrófagos residentes na pele. Sobrevivem e se multiplicam nesta célula. Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 3 As formas promastigotas e paramastigotas são encontradas no tubo digestivo do flebotomíneos livres ou aderidas ao epitélio intestinal, respectivamente. A infecção do inseto ocorre quando a fêmea pica o vertebrado para exercer o repasto sanguíneo e juntamente com o sangue ingere macrófagos parasitados por formas amastígotas. Durante o trajeto pelo trato digestivo anterior, ou ao chegarem no estômago, os macrófagos se rompem liberando as amastígotas. Essas sofrem uma divisão binária e se transformam rapidamente em promastígotas, que também por processos sucessivos de divisão multiplicam-se ainda no sangue ingerido, que é envolto por uma membrana peritrófica secretada pelas células do estômago do inseto. Após a digestão do sangue entre o terceiro e o quarto dias, a membrana peritrófica se rompe e as formas promastígotas ficam livres. Nesta etapa do ciclo, as promastígotas permanecem reproduzindo por divisão binaria. Durante o processo de alimentação do flebotomíneo é que ocorre a transmissão do parasito. Na tentativa da ingestão do sangue, as formas promastigotas são introduzidas no local da picada. Dentro de quatro a oito horas, estes flagelados são interiorizados pelos macrófagos teciduais. A saliva do flebotomíneo possui neuropeptideos vasodilatadores que atuam facilitando a alimentação do inseto e ao mesmo tempo imunossuprimindo a resposta do hospedeiro vertebrado; desta forma, exerce importante papel no sucesso da infectividade das promastigotas metaciclicas. O macrófago estende pseudópodos que envolvem o parasito, introduzindo-o para o seu interior, envolto pelo vacúolo fagocitário. Rapidamente as formas promastígotas se transformam em amastígotas que são encontradas 24 horas após a fagocitose. Dentro do vacúolo fagocitário dos macrófagos, as amastigotas estão adaptadas ao novo meio fisiológico e resistem a ação destruidora dos lisossomas, multiplicando-se por divisão binaria até ocupar todo o citoplasma. O núcleo do macrófago chega a deslocar-se do centro, para dar lugar ao vacúolo com as amastígotas. Esgotando-se sua resistência, a membrana do macrófago se rompe liberando as amastígotas no tecido, sendo novamente fagocitadas, iniciando no local uma reação inflamatória. Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 4 Qual é o período de incubação da LTA? Este período, que corresponde ao tempo decorrido entre a picada do inseto e o aparecimento de lesão inicial, varia entre duas semanas e três meses. Como ocorre a evolução dos sintomas da doença? Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 5 As lesões iniciais são semelhantes, independentemente da espécie do parasito. Esta forma inicial pode regredir espontaneamente após um breve curso abortivo, pode permanecer estacionária ou evoluir para um nódulo dérmico chamado "histiocitoma", localizado sempre no sítio da picada do vetor infectado. Nos estágios iniciais da infecção, histologicamente a lesão é caracterizada pela hipertrofia do extrato córneo e da papila, com acúmulo de histiócitos nos quais o parasito se multiplica. Gradualmente forma-se um infiltrado celular circundando a lesão, consistindo principalmente em pequenos e grandes linfócitos, entre os quais alguns plasmócitos. Como resultado, forma-se no local uma reação inflamatória do tipo tuberculóide. Ocorre necrose resultando na desintegração da epiderme e da membrana basal que culmina com a formação de uma lesão úlcero-crostosa. Após a perda da crosta, observa-se uma pequena úlcera com bordas ligeiramente salientes e fundo recoberto por exsudato seroso ou seropumlento. Esta lesão progride, desenvolvendo-se em uma típica úlcera leishmaniótica que, por seu aspecto morfológico, pode ser reconhecida imediatamente. Trata-se de uma úlcera de configuração circular, bordos altos (em moldura), cujo fundo é granuloso, de cor vermelha intensa, recoberto por exsudato seroso ou seropurulento, dependendo da presença de infecções secundárias. As lesões podem assumir, entretanto, outras formas menos características: seca e hipercerastósica, vegetativa framboesiforme, com exsudato seropurulento, lembrando a framboesia (bouba), simultaneamente, ou em seguida ao aparecimento da lesão inicial, pode ocorrer disseminação linfática ou hematogênica, produzindo metástases cutânea, subcutânea ou mucosa. Seguido a um tratamento com sucesso, forma-se no local, em substituição a úlcera, uma cicatriz característica. Em geral a área cicatricial está despigmentada, com uma leve depressão na pele, com uma fibrose sob a epiderme, que está fina. Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 6 Quais as formas clínicas da LTA e quais as espécies de Leishmania que transmitem? Leishmaniosecutânea A leishmaniose cutânea é caracterizada pela formação de úlceras únicas ou múltiplas confinadas na derme, com a epiderme ulcerada. Resultam em úlceras leishmanióticas típicas, ou, então, evoluem para formas vegetantes verrucosas ou framboesiformes. A densidade de parasitos nos bordos da Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 7 úlcera formada é grande nas fases iniciais da infecção, com tendência a escassez nas úlceras crônicas. A leishmaniose cutâneo-disseminada é uma variação da forma cutânea e geralmente está relacionada com pacientes imunossuprimidos(AIDS). As espécies de Leishmania que podem causar essa forma clínica são: L.braziliensis, L.amazonensis, L.guyanensis e L.lainsoni. Leishmaniose cutaneomucosa (LCM) Esta forma clínica é conhecida por espúndia e nariz de tapir ou de anta. O agente etiológico é a L. braziliensis. O curso da infecção nas fases iniciais ocorre como já visto anteriormente na forma cutânea provocada por este parasito. Um dos aspectos mais típicos da doença causada pela L. braziliensis é a freqüência com que o parasito produz, meses ou anos após a lesão inicial primária, lesões destrutivas secundárias envolvendo mucosas e cartilagens. Trata-se de um processo lento, de curso crônico. Estas lesões secundárias podem ocorrer por extensão direta de uma lesão primária ou então através da disseminação hematogênica. Cerca de 70% dos casos com lesão de mucosa aparecem dentro dos primeiros cinco anos após a lesão primária cutânea e 30% após cinco anos. As regiões mais comumente afetadas pela disseminação metastásica são o nariz, a faringe, a boca e a laringe. O primeiro sinal de comprometimento mucoso manifesta-se por eritema e discreto infiltrado inflamatório no septo nasal, resultando em coriza constante e posteriormente em um processo ulcerativo. Atinge depois o vestíbulo, as asas do nariz, o assoalho da fossa nasal, o palato mole e a úvula, daí descendo para a faringe, podendo comprometer a laringe e a traqueia. A destruição do septo provoca mudança anatômica e aumento do órgão, que se constitui no chamado nariz de anta. Em muitos casos ocorre completa destruição de toda a estrutura cartilaginosa do nariz. O processo ulcerativo pode atingir os lábios e se propagar pela face. Estas graves mutilações criam ao paciente dificuldades de respirar, falar e se alimentar. São frequentes, nesta fase, complicações respiratórias por infecções secundárias, podendo levar o paciente ao óbito Leishmaniose cutânea difusa ( LCD) Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 8 Caracteriza-se pela formação de lesões difusas não-ulceradas por toda a pele, contendo grande número de amastigotas. Esta forma clínica é provocada pelo L. amazonensis. Esta entidade mórbida envolve amplas áreas da pele, particularmente extremidades e outras partes expostas, onde numerosas erupções papulares ou nodulares não-ulceradas são vistas. Não há dúvidas de que a multiplicidade de lesões não é devida a repetidas picadas do vetor, mas sim ao resultado de metátases do parasito de um sítio para outro de vasos linfáticos ou migração de macrófagos parasitados. A LCD está perfeitamente associada a uma deficiência imunológica do paciente, em que a resposta imune celular está deprimida com relação a antígenos de Leishmania, levando-o a um estado de anergia imunológica frente à infecção estabelecida. A doença caracteriza-se por curso crônico e progressivo por toda a vida do paciente, não respondendo aos tratamentos convencionais. Quais as melhores medidas profiláticas para a Leishmaniose? O controle de leishmaniose tegumentar americana é dificil nas vastas áreas florestais do Brasil e, no presente momento, é insolúvel. O uso, em larga escala, de inseticidas nas florestas tropicais não é somente altamente antieconômico mas representa, principalmente, perigo do ponto de vista biológico, com a destruição da população de pequenos mamíferos, afetando seriamente a fauna. Em áreas endêmicas do Sudeste do Brasil, a dedetização do ambiente domiciliar e peridomiciliar também não reduz a incidência da doença. O desmatamento das florestas para o desenvolvimento da agricultura e pecuária reduz indubitavelmente as áreas endêmicas de leishmaniose, mas determina o aparecimento Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 9 de grande número de casos durante este processo. Em algumas situações é possível evitar a picada dos flebotomíneos através de proteção individual, com a utilização de repelentes e utilização de mosquiteiros de malha fina, mas nem sempre isto é possível. Recomenda-se a construção das casas a uma distância mínima de 500m da mata. Devido à baixa capacidade de vôo dos flebotomíneos, raramente ultrapassam esta distância. A solução ideal para o controle da leishmaniose tegumentar, particularmente no Brasil, é a produção de uma vacina. O tratamento de mamíferos que servem de reservatório também pode ser uma medida profilática. Como é feito o diagnóstico da Leishmaniose? O diagnóstico clínico da LTA pode ser feito com base na característica da lesão que o paciente apresenta, associado a anamnese, na qual os dados epidemiológicos são de grande importância. Deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras dermatoses granulomatosas que apresentam lesões semelhantes à LTA e que podem ser confundidas, como tuberculose cutânea, hanseníase, infecções por fungos (blastomicose e esporotricose), úlcera tropical e neoplasmas. O diagnóstico laboratorial pode ser feito por meio do material obtido da lesão existente através de: Exame direto de esfregaços corados Exame histopatológico Cultura Inóculo em animais A PCR (reação em cadeia da polimerase) tem se mostrado como uma nova opção de diagnóstico de LTA, principalmente em função de sua grande sensibilidade. Com isso, as biópsias das bordas das lesões de pacientes suspeitos de serem portadores de LTA são fontes de pesquisa de DNA de Leishmania sp., pela PCR Métodos Imunológicos: Teste de Montenegro: Este teste avalia a reação de hipersensibilidade retardada do paciente. O teste consiste no inóculo de 0,lml de antígeno intradermicamente na face interna do braço. No caso de rações positivas, Resumo-Leishmaniose Tegumentar Americana 10 verifica-se o estabelecimento de uma reação inflamatória local formando um nódulo ou pápula que atinge o auge em 48-72 horas, regredindo então. Reação de Imunofluorescência Indireta ( RIFI) Quais as formas de tratamento? Atualmente utiliza-se um antimonial pentavalente, Glucantime (antirnoniato de N-metilglucamina). O esquema terapêutico varia muito no Brasil, mas usualmente os resultados são excelentes utilizando-se o seguinte esquema: 17mg Sb5+/kg peso/dia, durante dez dias. Faz-se um intervalo de dez dias e novamente inicia-se outra série de tratamento durante dez dias. A dose máxima por injeção deve ser de 10 ml, independente do peso do paciente. O número de séries necessárias varia de acordo com o processo de cura da lesão. Recomenda-se a continuação do tratamento até completa cicatrização da úlcera. A via de administração é geralmente intramuscular, mas também pode ser feito endovenoso ou local. A droga não deve ser utilizada em pacientes cardíacos e nem em mulheres grávidas, pois o antimônio pode provocar alterações eletrocardiográficas e também é abortivo. As lesões ulceradas podem sofrer contaminação secundária, razão pela qual devem ser prescritos cuidados locais como limpeza com água e sabão e se possível compressas com KMn04 (permaganato de potássio) na diluição de 1/15.000ml de água. Em casos de resistência ao tratamento, pode ser utilizado o isotianato de pentamidina ou a anfotericina B A pentamidina está sendo atualmente utilizada com grande sucesso no tratamento da LTA pela L. guyanensis, em Manaus.
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