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1 Maria Carolina Braga Sampaio 1 Maria Carolina Braga Sampaio Problema 01 Método PBL no Brasil A ABP (Aprendizagem Baseada em Problemas) foi concebida no Canadá nos anos 1960 na Universidade de McMaster e se espalhou pelo mundo, inclusive no Brasil, contando na atualidade com expressivo número de instituições; Em 2014 existiam no Brasil 218 Escolas Médicas → 19% declaravam utilizar o método PBL; A Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Famema são pioneiras, adotando o método na década de 90 (tiveram como referência o método de Charlez Magnerez); As sessões tutoriais são a base do PBL e interagem com os componentes curriculares e o conhecimento básico e clínico; As fontes para os problemas podem ser: casos descritos em papel, pacientes reais, pacientes simulados, exames laboratoriais, vídeos, áudios, textos de jornal ou revistas e artigos científicos. Diferença do método PBL para o tradicional PBL Centrado no estudante e baseado na solução de problemas; Os alunos recorrem aos conhecimentos prévios, reforçando o papel ativo do aluno → aprender como aprender → autonomia intelectual; Estimula habilidades técnicas, cognitivas, de comunicação, respeito à autonomia do estudante e o trabalho em pequenos grupos; O grupo tutorial é a base do método; O conhecimento ocorre de maneira inversa (da prática para a teoria); Dinâmica espiralar; Muitas vezes possui uma rígida hierarquia e uma distância entre professor e aluno → são dicotomizados; O professor é o único detentor do conhecimento → transferência passiva; Maior relação de poder; Informativo; Teoria predomina sobre prática; Disciplinas isoladas. Cenários de aprendizagem do PBL na Unime Dividido em módulos temáticos → 3 em cada semestre, que são compostos pelos seguintes componentes curriculares: As sessões tutoriais ocorrem em salas com um grupo de alunos de no máximo 10 pessoas e um tutor. Existe: Coordenador: quem organiza a tutoria → é um aluno do grupo; Relator: Sintetiza o que foi dito através de um mapa conceitual → é um aluno do grupo; Relator e coordenador são sorteados a cada novo problema. Tutor: Avalia e instiga o grupo, para que não perca o foco dos objetivos que precisam ser discutidos → é um professor. Há a resolução de um problema durante duas (abertura e fechamento) ou três (abertura, intermediária e fechamento) sessões, através dos 2 Maria Carolina Braga Sampaio objetivos educacionais que precisam ser definidos pelo próprio grupo, mas que estejam de acordo com os que foram definidos pelo coordenador do módulo. (LMF) Engloba os laboratórios de Anatomia, Histologia e Fisiologia. Engloba também o LPI; Possui cadáveres, manequins, peças anatômicas, microscópios, lâminas histológicas e bancadas; Para participar das aulas, faz-se necessário a higienização das mãos o uso de EPI’s (equipamentos de proteção individual), como por exemplo: jaleco; calça sem rasgos e que cubra o tornozelo; sapato fechado; cabelo preso e sem acessórios grandes; (LPI) Refere-se aos locais onde ocorrem aulas práticas com o intuito de demonstrar aos alunos acerca de metodologias e princípios utilizados no laboratório; Contam com microscópios e bancadas. (HM) Ocorre no Núcleo de Medicina da Unime, exceto a estação de Anamnese que ocorre no Hospital Ana Nery; É dividido em 12 estações, funcionando em uma dinâmica de rodízio, com grupos de até 7 pessoas; As aulas acontecem em salas adaptáveis, ou seja, possíveis de construir qualquer tipo de cenário; Possui manequins, que simulam paciente, e matérias que possam ser utilizados durante a prática da estação. (HG) Auxilia no senso crítico, na forma de pesquisar as referências utilizadas tanto durantes os estudos auto dirigidos, quanto para a construção do artigo científico (TCC) antes do internato. (PINESC) Busca a interação do aluno com a sociedade, desde o primeiro semestre, juntamente com Secretaria Municipal de Saúde; Grupos de alunos e preceptores vão para as Unidades Básicas de Saúde, escolas, creches, ruas ou fazem atendimento domiciliar; Busca fazer com que o estudante de medicina tenha esse contato com a população já no início do curso, formando, assim, um médico mais humanista, que é uma das bases das DCN’s de 2014. São os momentos de aprender de uma forma mais passiva e tirar dúvidas que possam ter ficado das tutorias. Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014 DCN’s de 2001 Foram promulgadas pelo Ministério da Educação as DCN’s, que propunham habilidades comuns a todos os cursos da área de saúde e habilidades específicas para a graduação em Medicina. Deixavam a desejar quanto às transformações ocorridas paralelamente no SUS, porque, ainda que preconizassem a interdisciplinaridade necessária a uma visão integral no cuidado do paciente, era possível perceber a formação de médicos pouco habilidosos na prática clínica e pouco envolvidos com a visão histórico- social e humanística dos seus pacientes. DCN’s de 2014 Acompanhando uma tendência mundial em educação médica, as DCN’s, atualizadas em 2014, preconizam (aconselham) que os cursos de Medicina devem utilizar metodologias ativas de aprendizagem (se destaca o PBL); Documento prevê a formação de um profissional com habilidades gerais, crítico, reflexivo e ético, pronto para atuar em todos os níveis de atenção em saúde → Que seja capaz de uma interação multiprofissional e de 3 Maria Carolina Braga Sampaio praticar ações de promoção, prevenção e reabilitação em saúde, respeitando sempre o direito do paciente à cidadania e à dignidade; Competências gerais: tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento, educação permanente (capaz de aprender continuamente); A organização possui diferentes modalidades → seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos e modular → que deverá ser definida pelo colegiado; Estágios (com supervisão direta de docentes) e atividades complementares (monitorias, iniciação científica, extensão.) Código de Ética do Estudante de Medicina Elaborado em 2016 pela Comissão Especial do Conselho Federal de Medicina, com o apoio dos Conselhos Regionais de Medicina → Está sempre sendo atualizado. : estabelece os limites, os deveres e direitos dos médicos nas suas relações entre si, com os pacientes e a sociedade em todas as possíveis formas de exercício da medicina (atendimento, ensino, pesquisas, gestão). Carta de princípios universais, aplicáveis a todos os contextos; feito por médicos, professores e estudantes de medicina do País. São 45 artigos organizados em 6 diferentes eixos; Existem 18 princípios fundamentais O estudante de medicina deve estar a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, sem discriminação; Compromissos humanísticos e humanitários, com promoção e manutenção do bem-estar físico, mental e social dos indivíduos e da coletividade; Aprimoramento dos conhecimentos e usar o melhor do progresso científico e de sua formação em benefício dos pacientes; Respeito e prudência → não usar o conhecimento para causar danos físico ou moral, extermínio do ser humano ou acobertar tentativa contra dignidade e integridade; Atividades acadêmicas não podem ser exploradas para lucro, finalidade política ou religiosa; Sigilo das informações → a quebra é responsabilidade do médico-assistente; Promover ações para melhorar o sistema e os serviços de saúde; Apontar aos responsáveis atos dos colegas que contrariem o Código; Deve conhecer e compreender como será a vida profissional de acordo com o Código de Ética Médica; Os eixos Eixo 1- relação do estudante com as instituições de ensino e de saúde: Aplicar as condutas de biossegurança; postura e vestimenta segundo as normas da instituição; identificação visível durante atendimentos; Liberdade para questionar decisões e apontar falhas nos regulamentos; Respeito aos funcionários; O estudante é integrante do sistema de saúde; Eixo 2- relação do estudante com o cadáver: Respeito ao cadáver, no todo ou em parte, incluindo qualquer peça anatômica, assim como modelos anatômicos utilizados com finalidade de aprendizado; Pesquisa feita com discentes do primeiro ano do curso de Medicina de uma instituição particular de educação superior, situada em MG: O único aluno do primeiro período que declarou ter conhecimento de ambas as DCN’s destacou que o fato de o estudante ter contato com pacientes já no início do curso contribui enquanto experiência; Cuidar da própria saúde física e mental e alcançar o bem-estar como médico e cidadão é a expectativa de 46% do total de respondentes da pesquisa. Contudo, nas novas diretrizes não constam incisos que detalhem as questões referentes à própria saúde do discente em comparação às diretrizes anteriores, que especificavam claramente como um dos deveres dos egressos das escolas médicas do País a atenção com a própria saúde mental, física e social. Mais de 60% dos alunos declararam a pretensão de se tornar médicos especialistas/sub especialistas, em oposição a apenas 5,3%, que expressaram o desejo de se formar generalistas, um dos focos das DCN de 2014. Se liga! 4 Maria Carolina Braga Sampaio Eixo 3- relações interpessoais do estudante: Direito de se posicionar contra qualquer tipo de trote que pratique violência ou danos; Direito de se organizar em atléticas, ligas, diretórios acadêmicos dento de sua instituição; Dedicar a atenção inteiramente às atividades, evitando aparelhos eletrônicos e conversas alheias; Direito do acadêmico ter reconhecimento em publicações científicas; Atendimento deverá ter supervisão médica; É vedado praticar atos identificando-se como médico (exercício ilegal da medicina); Respeitar a privacidade dos pacientes; Garantir que o paciente compreenda as informações; Escrever, de forma correta, clara e legível o prontuário. Eixo 4- responsabilidade do estudante com os seus estudos/formação: Não pode receber remuneração pela sua atividade, apenas bolsas regulamentadas; Os dados ou dúvidas sobre pacientes devem ser passadas confidencialmente e NÃO pode circular em grupos recreativos; Equidade na atenção à saúde (tratamento diferenciado de acordo com as necessidades do paciente); Eixo 5- relação do estudante com a sociedade Defender o acesso universal à saúde → estudante é formador de opinião (visar a prevenção de doenças e a melhoria da saúde coletiva); Eixo 6- relação do estudante com a equipe multiprofissional Buscar fomentar o trabalho em equipe; respeitar a atuação de cada profissional no atendimento; Deve alertar qualquer profissional de saúde quando identificada alguma situação que julgue trazer risco ao paciente; Deve participar e reconhecer suas limitações; 5 Maria Carolina Braga Sampaio Problema 02 Planos anatômicos: são planos hipotéticos usados para dividir o corpo humano de forma a descrever a localização de estruturas ou a direção dos movimentos. Sagital: plano vertical → passa longitudinalmente através do corpo; (sentido anteroposterior) → Divide em metades direita e esquerda. Coronal (frontal): Corta o corpo lateralmente, de uma orelha a outra. Passa exatamente na sutura coronal do crânio. Também pode ser chamado de plano frontal → Divide em anterior ou posterior. Transversal (axial): Corta o corpo transversalmente, também é chamado de plano axial → Divide em superior ou inferior. (mais adequado para o estudo da pelve) Posição anatômica: posição ortostática, ou seja, em pé, face voltada para frente, membros superiores e inferiores estendidos, palmas das mãos voltadas para frente, assim como os dedos dos pés. Parede abdominal Importante o conhecimento das camadas da parede abdominal para um acesso cirúrgico seguro aos órgãos abdominais e pélvicos. Camadas da parede abdominal 1. Pele 2. Tecido subcutâneo: Fáscia de Camper (capa gordurosa) e Fáscia de Scarpa (capa membranosa); 3. Parede musculoaponeurótica: Bainha e M. reto do abdome, M. oblíquo externo e interno; 4. Fáscia transversal 5. Peritônio parietal Estabilização da pelve durante movimento e repouso, além de proteger órgão abdominais e auxiliar a musculatura dorsal. Coluna lombar é sua única proteção óssea. As porções musculares anterolateral e posteriores se adaptam ao período gestacional → a distensão abdominal do período pode determinar linhas violáceas (estrias gravídicas) e linhas albicans (após o parto). Pelve feminina Importante o conhecimento das camadas da parede abdominal e pélvica. (Zugaib) Cintura pélvica Formada pelo osso do quadril (fusão do ílio, ísquio e púbis) + Sacro + Cóccix; O par de ossos do quadril (coxal) estão fixados posteriormente ao sacro (articulação sacroilíaca) e anteriormente a sínfise púbica. Formando um anel ósseo, onde há o sistema reprodutor feminino, o reto e o canal anal. A cavidade pélvica está dividida em duas partes por um plano horizontal, que vai do promontório do osso sacro até a margem superior da sínfise púbica a circunferência superior e inferior da pelve. A linha arqueada ou abertura superior da pelve (es- treito superior) divide a pelve em pelve falsa ou maior, cavidade localizada a cima desta circunferência e a que se encontra por baixo é a pelve verdadeira ou menor (por baixo da linha arqueada). Limites Pelve falsa/maior: Posteriormente: fossa ilíaca; Anteriormente: parede abdominal → por isso é capaz de se expandir; Pelve verdadeira/menor: Rodeada por todos os lados por osso (expansão restrita) → 2 ossos ilíacos, região sa- crococcígea da coluna vertebral e pela sínfise púbica, sendo seus diâmetros de extrema importância no parto vaginal. 1. Identificar os planos anatômicos da pelve feminina e as prováveis dificuldades encontradas pelo Sr. Jacob, na época; 6 Maria Carolina Braga Sampaio A pelve maior que é a área mais alta da estrutura onde órgãos inferiores se acomodam e a pelve menor que abriga algumas vísceras e o períneo, sendo estes, separados pelos músculos do assoalho pélvico. A margem pélvica coincide com a entrada da pelve verdadeira (limite superior) A abertura inferior da pelve menor/ verdadeira é chamada de abertura inferior da pelve. Existem diferenças entre a pelve masculina e feminina, a maioria relacionada com a gestação e parto. Região vulvoperineal ou períneo Situada entre a sínfise púbica e o cóccix; Constituída pelos órgão genitais externos e assoalho pélvico; Se divide em: Trígono urogenital → anteriormente Trígono anal → posteriormente Assoalho pélvico: Formado pelo diafragma pélvico, diafragma urogenital e pela fáscia endopélvica Diafragma pélvico: superior ao urogenital. Formado por: MM levantadores do ânus + M. isquiococcígeo (parece um leque): auxilia o levantado do ânus a sustentar os órgãos da pelve e no ato de defecar. São MM profundos, estão por baixo da fáscia perineal; Na porção medial do diafragma pélvico está localizado o hiato urogenital, espaço ovalado por onde passam a uretra, vagina e reto. Diafragma urogenital: por baixo do diafragma pélvico mais precisamente inferior ao hiato urogenital. Formado por: M. transverso superficial do períneo e por suas fáscias superior e inferior + M. bulboesponjoso + M. isquiocavernoso + Esfíncter externo do ânus. Dificuldades Cesariana feita em 1500 A origem da cesariana ainda é desconhecida e consta com diversas versões; Segundo Zugaib (2012) a cesariana na Idade Média, era realizada apenas após a morte materna, com intuito de salvar a vida do feto. Foi no Renascimento que a cirurgia passou a ser feita em mulheres vivas, havendo preocupações com a mãe e com o filho. Somente no início do século XX houve repercussão nesta mudança, observando quedas acentuadas na morbimortalidade materna e perinatal. Zugaib (2012) ainda comenta que no início do século XXI passou a existir preocupações além do binômio materno- fetal estendendo-se aos desejo e preferencias da paciente. Rezende (2009) refere que em 700 a.C a lei Romana proibia o funeral de toda gestante morta, antes da retirada do feto através da Cesária. Os fetos que nasciam com vida eram chamados de cessões ou césares. Jacob Nufer, em 1500 na Suíça realizou em sua esposa, segundo Rezende (2009) a primeira cesariana em vida. Jacob não era médico e nem cirurgião barbeiro, era apenas acostumado a castrar porcas. Jacob buscou parteiras e cirurgiões-barbeiros da época para realizar o parto de seu filho o que estava com dificuldades para nascer, como não obteve sucesso, ele mesmo resolveu fazer a cirurgia, igual praticava com suas porcas. A primeira dificuldade encontrada pelo Jacob estava em encontrar alguém capaz de realizar o procedimento, recusado pelo barbeiro, que na época era quem realizava alguns procedimentos cirúrgicos. Além dos riscos de não conhecer a anatomia humana, mesmo que muitos tragam que é similar a dos porcos. Na história apontada por Rezende (2009) não mostra qual técnica utilizada e qual terapêutica adotada. Até pouco antes de 1900 a técnica de abertura utilizada era a vertical → infraumbilical, com danos mínimos ao tecido subcutâneo e não há separação do plano muscular em relação a aponeurose. Aponeurose → plano muscular → MM. Retos abdominais e o piramidal são separados da linha média → disseca a fáscia transversal e a gordura pré-peritoneal chegando ao peritônio parietal. 1896 início da incisão transversa (Pfannenstiel) e até os dias atuais é mais utilizada. ↓ da incidência de hérnias. Incisão transversa é suprapúbica. 7 Maria Carolina Braga Sampaio A forma de encarar as doenças e seus tratamentos se transformaram no decorrer da História. Período Paleolítico (de 2,5 milhões a 10 mil anos a.C.): As doenças têm causas genéticas ou de traumatismos devido ao modo de vida nômade à base de pesca, caça e coleta. Tratamentos segundo crenças místicas, sobrenaturais, são realizados por especialista (feiticeiro ou xamã) ou de forma empírica – como a descoberta de ervas que aliviavam a dor. Período Neolítico (10 mil a 3 mil anos a.C.): Início do sedentarismo e da agricultura pelos humanos. Com o acúmulo populacional, surgem doenças infectocontagiosas de causas consideradas religiosas e advindas de conhecimentos místicos e astrológicos. Tratamentos são realizados por sacerdotes mediante rituais. Surge o tratamento de parasitoses, como as que aconteciam no Egito. Antiguidade Clássica (Século VIII a.C. ao V. d.C.): Surgem as primeiras epidemias. Médicos gregos são como artesãos que vendem serviços. Com o conhecimento filosófico, a epilepsia (e outras enfermidades passam a ser explicadas por causas naturais e não sobrenaturais). Idade Média -Alta Idade Média (Séculos V ao X): A Igreja Católica detém o conhecimento médico e acolhe os doentes. Doenças são vistas como castigos de Deus. A medicina praticada pelos monges era simples e baseada em conhecimentos populares, usando ervas medicinais e fazendo sangrias e emplastos. -Baixa Idade Média (Séculos XI ao XV): Época de doenças que dizimaram populações, como tifo, cólera e a peste negra. A Igreja não consegue mais explicar todos os fenômenos e doenças. Surge o primeiro centro medieval de medicina leiga, a Escola de Salerno, na Itália. Lá se estuda e se desenvolve a cirurgia, até que no século XIII hospitais surgem na Europa. Renascimento (Séculos XV ao XVI): Florescimento da ciência, do antropocentrismo e do experimentalismo até que o primeiro grande livro que explica a anatomia humana (Fabrica) é lançado em 1543. Willian Harvey descobre a circulação sanguínea. As doenças predominantes, como as venéreas, o escorbuto e a tuberculose, surgem a partir da reurbanização e das grandes navegações. Idade Moderna (Séculos XV ao XVIII): A evolução da física, da química e do método cartesiano leva ao desenvolvimento de correntes de explicação das doenças em conformidade com a visão do corpo humano como máquina. Iniciam-se estudos sobre o sistema nervoso e se descobrem áreas específicas no cérebro responsáveis por diferentes funções, bem como a existência dos neurônios. Em 1796, registrasse a primeira vacina (contra a varíola). Doenças passam a ser mais bem descritas. Surgem os hospitais modernos e os médicos iniciam sua regulamentação profissional com características liberais. Idade Contemporânea -Séculos XVIII ao XIX: Mudança de paradigmas na explicação das doenças com a revolução pasteuriana (descoberta da microbiologia). Início dos estudos de doenças neurológicas e psíquicas com Freud. Novas tecnologias (como anestesia e esterilização) proporcionam o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas. Vacinas ajudam a prevenir doenças; Gregor Mendel começa a estudar a genética. Número de nascimentos supera o de mortes graças a melhores condições de vida, saneamento e trabalho. Revolução biológica: grande quantidade de informação científica e de técnicas acentua uma prática médica cada vez mais especializada → Neurologia, infectologia, cirurgia, psiquiatria, entre outras. -Século XX: Em meio a guerras, surgem as transfusões de sangue. A Medicina se torna mais tecnológica com meios para fazer diagnósticos específicos e tratamentos, como a radioterapia. 1928, Alexander Fleming descobre a penicilina e suas propriedades antibióticas. 1953, a revista Nature publica artigos sobre o DNA que se tornam amplamente conhecidos e abrem as portas para estudos sobre o genoma humano, células-tronco e curas de doenças a partir desse conhecimento. 2. Descrever os principais marcos históricos da medicina e a forma com que o conhecimento médico foi sendo elaborado e transmitido, e suas relações com a sociedade de cada época; 8 Maria Carolina Braga Sampaio P er ío d o N eo lít ic o Surgem doenças infectocontagiosas Tratamento feito pelos sacerdotes P er ío d o P al eo lít ic o Doenças genéticas e pelo estilo de vida nômade Tratamentos segundo crenças A n ti gu id ad e C lá ss ic a Primeiras epidemias Médicos gregos são como artesãos que vendem serviços Enfermidades passam a ser explicadas por causas naturais e não sobrenaturais A lt a Id ad e M éd ia Igreja Católica detém o conhecimento médico Doenças são vistas como castigos de Deus Terapia baseada em conhecimentos populares B ai xa Id ad e M éd ia Surgimento da: tifo, cólera e a peste negra Igreja não consegue mais explicar todos os fenômenos e doenças Primeiro centro medieval de medicina leiga. Século XIII hospitais surgem na Europa. R en as ci m en to Florescimento da ciência, do antropocentrismo e do experimentalismo 1543: primeiro livro de anatomia humana Willian Harvey descobre a circulação sanguínea Doenças predominantes,: venéreas, o escorbuto e a tuberculose Id ad e M o d er n a Explicação das doenças em conformidade com a visão do corpo humano Estudos sobre o sistema nervoso 1796: primeira vacina (contra a varíola) Surgem os hospitais modernos e os médicos iniciam sua regulamentação profissional Id ad e C o n te m p o râ n ea X V II I a o X IX Descoberta da microbiologia Início dos estudos de doenças neurológicas e psíquicas Gregor Mendel começa a estudar a genética Prática médica cada vez mais especializada Id ad e C o n te m p o râ n ea X X Surgem as transfusões de sangue Medicina mais tecnológica com diagnósticos específicos e tratamentos 1928, Alexander Fleming descobre a penicilina 1953: DNA 9 Maria Carolina Braga Sampaio Período Descoberta Quem Como Consequência 1543 Anatomia moderna Andreas Vesalius Antes dele os médicos não dissecavam cadáveres Avanços no estudo de doenças e tratamentos 1675 Bactérias Antony van Leeuwenhoek Não era professor nem médico, apenas um comerciante que fabricava e usava microscópios → descobriu por acaso as bactérias → criaturas minúsculas agitando-se em uma pequena amostra da água de chuva que havia se acumulado em uma tina. Descoberta de uma das maiores causas de doenças e mortes 1628 Circulação sanguínea William Harvey Para mostrar o caminho do sangue aos incrédulos, Harvey abria um porco vivo durante suas palestras → dedicou a vida a estudar o funcionamento e a anatomia do coração, veias e artérias Avanços no estudo de doenças e técnicas cirúrgicas 1796 Vacina Edward Jenner A varíola matava até 40% dos doentes, também atacava o gado, cavalos e porcos. O britânico Jenner descobriu que, se uma pessoa fosse contaminada pela ferida da varíola bovina, uma forma muito mais branda da doença, ficaria livre de pegar a varíola humana. Estava descoberto o princípio da vacina. Prevenção contra varíola e outras doenças graves 1842 Anestesia Crawford Long Até o século 19, os pacientes costumavam desmaiar de dor e desespero durante as operações. Foi quando se descobriu o poder anestésico do éter convenceu um paciente a cheirar uma toalha embebida em éter até ficar inconsciente. Quando acordou, o sujeito estava sem um cisto no pescoço, sem memória das últimas horas e, melhor, não precisou sentir as dores atrozes da cirurgia. Cirurgias indolores e mais bem-sucedidas 1895 Raios X Wilhelm Röntgen Investigava uma estranha luz amarelo-esverdeada emitida por um aparelho em seu laboratório, desconfiado chamou a esposa e pediu a ela que colocasse a mão sobre uma chapa fotográfica e ligou o tal aparelho por seis minutos. Quando revelou a chapa, encontrou o desenho dos ossos dos dedos e a silhueta de sua aliança. Eram os raios X. Método para diagnósticos mais rápidos e precisos 1906 CULTURA DE TECIDOS Ross Harrison Zoologista americano Harrison descobriu como cultivar células vivas em laboratório, independentemente das plantas ou animais de onde vieram. A descoberta permitiu estudar moléculas e células de organismos vivos, desenvolver vacinas contra poliomielite, sarampo, caxumba e raiva, auxiliar na busca de indícios que ajudem a descobrir a causa do câncer e da aids. Revolução no estudo das doenças 1929 ANTIBIÓTICOS Alexander Fleming A melhor arma contra bactérias 1953 DNA Maurice Wilkins A maior parte dos méritos pela descoberta do DNA coube a James Watson e Francis Crick → mistério da estrutura de espiral → físico neozelandês Wilkins, o primeiro a isolar uma molécula de DNA e fotografá- la com raios X, revelando a forma helicoidal Revolução na biologia molecular 10 Maria Carolina Braga Sampaio 4. Verificar a legislação vigente referente ao exercício profissional da Medicina – lei do ato médico (Lei 12.842/2013) e seus respectivos vetos. Conhecimento empírico: é o que procede da experiência, das sensações e percepções. A teoria do conhecimento empírico é chamada de Empirismo. Inglaterra final do sec. XVI Os médicos praticavam a medicina a partir apenas das suas experiências. Termo que refere ao conhecimento que procede apenas da experiência, ou seja, que não considerou investigações racionais a respeito. O Empirismo foi uma corrente filosófica caracterizada pela valorização da experiência como fonte do conhecimento e que rejeita a noção de ideias inatas e/ou anteriores e/ou independentes da experiência, que é entendida como guia e critério de validade. Valoriza a experiência humana e a realidade concreta, os empiristas se opunham à metafísica especulativa. Beneficiava os intelectuais e cientistas que puderam aprofundar seus estudos a respeito da ciência experimental Experimentalismo: Metodologia científica que se fundamenta em procedimentos experimentais ou empíricos. (acrescida de embasamento teórico para formação do conhecimento). Quadro a cima trás as principais descobertas da medicina. 1929: Alexander Fleming se dedicou a estudar a bactéria Staphylococcus aureus, responsável pelos abscessos em feridas abertas provocadas por armas de fogo. Saiu, deixando os recipientes de vidro do laboratório, com as culturas da bactéria, sem supervisão. Esse desleixo fez com que, ao retornar, encontrasse um dos vidros sem tampa e com a cultura exposta e contaminada com o mofo da própria atmosfera → prestes a jogar todo o material fora, percebeu que onde tinha se formado bolor, não havia Staphylococcus em atividade → Concluiu que o mofo, oriundo do fungo Penicillium, agia secretando uma substância que destruía a bactéria. Lei do Ato Médico: Todo procedimento da competência e responsabilidade exclusivas do médico no exercício de sua profissão, em benefício do ser humano individualmente ou da sociedade como um todo, visando à preservação da saúde, à prevenção das doenças, à identificação dos estados mórbidos, ao tratamento e à reabilitação do enfermo. O ato médico deve estar sempre limitado pela lei, pelo código de ética, pelas possibilidades técnico-científicas disponíveis, pela moralidade vigente na cultura e pela vontade do paciente. Do ponto de vista jurídico, esta resolução do CFM pode delimitar a responsabilidade profissional, auxiliando a justiça nos processos civis, penais ou trabalhistas, assim como o dos conselhos de ética médica. Nos sinaliza um norte que nos permitirá refletir sobre o que deva ser considerado como um ato médico. Art. 2º O objeto da atuação do médico é a saúde do ser humano e das coletividades humanas, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo, com o melhor de sua capacidade profissional e sem discriminação de qualquer natureza. Art. 3º O médico integrante da equipe de saúde que assiste o indivíduo ou a coletividade atuará em mútua colaboração com os demais profissionais de saúde que a compõem. Art. 4º São atividades privativas do médico: indicação e execução da intervenção cirúrgica e prescrição dos cuidados médicos pré e pós-operatórios; indicação da execução e execução de procedimentos invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo os acessos vasculares profundos, as biópsias e as endoscopias; intubação traqueal; indicação de internação e alta médica nos serviços de atenção à saúde; realização de perícia médica e exames médico-legais, excetuados os exames laboratoriais de análises clínicas, toxicológicas, genéticas e de biologia molecular. Art. 5º São privativos de médico: perícia e auditoria médicas, ensino de disciplinas especificamente médicas, coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de residência médica e dos cursos de pós-graduação específicos para médicos. Art. 6º A denominação ‘médico’ é privativa do graduado em curso superior de Medicina reconhecido e deverá constar obrigatoriamente dos diplomas emitidos por instituições de educação superior credenciadas na forma da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 3. Caracterizar o método empírico e o experimentalismo que produziu as primeiras descobertas marcantes, como os antibióticos, e o modelo científico adotado atualmente; Descrever os principais marcos históricos da medicina e a forma com que o conhecimento médico foi sendo elaborado e transmitido, e suas relações com a sociedade de cada época; 11 Maria Carolina Braga Sampaio Relatório Flexner Responsável pela mais importante reforma das escolas médicas de todos os tempos nos EUA, com profundas implicações para a formação médica e medicina mundial. Em janeiro de 1909, Abraham Flexner (1866-1959) iniciava no departamento médico da Tulane University, em New Orleans a sua famosa trajetória de visitar e pesquisar as 155 escolas médicas dos Estados Unidos e Canadá. Seu objetivo era avaliar a qualidade dessas escolas, segundo requisitos de admissão, tamanho e treinamento do corpo docente, orçamento e taxas para suporte da instituição, qualidade e adequação dos laboratórios, qualificações e treinamento dos professores, relações entre a escola e os hospitais. Flexner percorreu todas, sob os auspícios da Carnegie Foundation for Advancement of Teaching que, por sua vez, atendia à solicitação da American Medical Association, através do Council on Medical Education (CME). No seu clássico relatório de avaliação, Flexner concluiu que apenas 31 escolas apresentavam condições de funcionar pois, nas outras, os alunos não possuíam preparo prévio, não havia laboratórios e nem relação entre formação científica e trabalho clínico, os professores não tinham controle sobre os hospitais universitários, os currículos não eram padronizados e o ensino era comercializado; A Johns Hopkins, descrita como "modelo de educação médica", foi a base para suas recomendações, enfatizando os seguintes critérios: admissão após obtenção de diploma de escola secundária e no mínimo dois anos de estudos universitários, o curso deveria estender-se por quatro anos e seu conteúdo ser decidido pela CME. Segundo sua recomendação, as escolas particulares deveriam ser fechadas ou incorporadas às universidades existentes, professores clínicos nomeados em tempo integral, o ensino vincular-se à pesquisa e o controle do exercício profissional, realizado pela corporação médica. O impacto do relatório foi evidente: no período de 1910 a 1922, o número de escolas médicas nos Estados Unidos passou de 131 para 81; das sete para estudantes negros, cinco foram fechadas, assim como três destinadas a mulheres. De 1910 a 1920, cerraram-se e transformaram- se em biomédicas dezesseis escolas homeopáticas Análises recentes revelam que Flexner, apesar de defender "rigor científico e estandardização da educação médica", ressaltava que o treinamento, a qualidade e a quantidade da formação médica deveriam responder às necessidades da sociedade, os médicos têm obrigações sociais com a prevenção da doença e a promoção da saúde, devendo receber treinamento com amplitude necessária para realizar tais obrigações, e a colaboração entre medicina acadêmica e saúde pública das comunidades resulta em benefícios para ambas as partes. Levou à consolidação de um modelo cujos rastros chegaram ao presente: o de escolas médicas integradas a universidades, ligadas a hospitais-escola, e onde a experimentação, o ensino das ciências básicas e a prática clínica têm lugar proeminente. O modelo “flexneriano” é aplicado, geralmente com caráter pejorativo, aos currículos que apresentam uma divisão clara entre um período ou ciclo inicial de disciplinas básicas, seguido de outro dedicado aos estudos clínicos. Esta foi a sua proposta que se tornou mais conhecida, embora não a única. De fato, seu modelo de educação médica resistiu quase cem anos e ainda se encontra em vigência na maior parte das escolas médicas do mundo. Seu informe constitui, seguramente, a publicação sobre educação médica mais citada na literatura especializada. 1. Descrever os modelos de formação / atenção médica propostos por Flexner / Dawson; 12 Maria Carolina Braga Sampaio O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO MÉDICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX Como não havia necessidade de concessão estatal para o exercício da medicina, abolida em meados do século XIX, havia grande proliferação de escolas de Medicina, com abordagens terapêuticas as mais diversas. As escolas podiam ser abertas indiscriminadamente, sem nenhuma padronização, estando vinculadas ou não a instituições universitárias, com ou sem equipamentos, com critérios de admissão e tempo de duração diferenciados e independentemente de fundamentação teórico-científica. Permitiu reorganizar e regulamentar o funcionamento das escolas médicas; Desencadeou um processo terrível de extirpação de todas as propostas de atenção em saúde que não professassem o modelo proposto. (ruim) O grande mérito – para o bem – da proposta de Flexner é a busca da excelência na preparação dos futuros médicos, introduzindo uma salutar racionalidade científica, para o contexto da época. Mas, ao focar toda a sua atenção neste aspecto, desconsiderou – para o mal – outros fatores que afetam profundamente os impactos da educação médica na prática profissional e na organização dos serviços de saúde. Ele assume implicitamente que a boa educação médica determina tanto a qualidade da prática médica como a distribuição da força de trabalho, o desempenho dos serviços de saúde e, eventualmente, o estado de saúde das pessoas; Flexner propunha a reforma do sistema escolar como um todo, reforma essa que recebia o título mágico de universidade. É com este intuito e com esta visão que Flexner propõe o modelo alemão de educação médica e pesquisa. Modelo de pesquisa médica alemã: centrado no laboratório, na hierarquia, na especialização e nas pesquisas experimentais. O modelo Flexneriano Propõe é a instalação de uma nova ordem para a reconstrução do modelo de ensino médico. Pagliosa e Ros As/escolas médicas devem estar baseadas em universidade, e os programas educacionais devem ter uma base científica. Um rigoroso controle de admissão; Currículo de quatro anos → divisão do currículo em um ciclo básico de dois anos, realizado no laboratório, seguido de um ciclo clínico de mais dois anos, realizado no hospital; exigência de laboratórios e instalações adequadas. O ciclo clínico deve-se dar fundamentalmente no hospital, pois ali se encontra o local privilegiado para estudar as doenças. Nas palavras do próprio Flexner: “O estudo da medicina deve ser centrado na doença de forma individual e concreta” → A doença é considerada um processo natural, biológico. O social, o coletivo, o público e a comunidade não contam para o ensino médico e não são considerados implicados no processo de saúde-doença. O método científico, assumido como a forma legítima de produzir conhecimento, exprime o processo de racionalização que atinge o Ocidente. E a medicina ilustra claramente este processo. Responsabilidade dos profissionais com a sociedade. Desconsidera, em sua proposta de reforma, a organização dos sistemas de saúde. Suas contribuições foram importantes para a educação médica, a ênfase no modelo biomédico, centrado na doença e no hospital, conduziu os programas educacionais médicos a uma visão reducionista. Ao adotar o modelo de saúde-doença unicausal, biologicista. 13 Maria Carolina Braga Sampaio Relatório Dawson Publicado em 1920, foi o marco da ideia de APS como forma de organização dos sistemas nacionais de saúde, no qual se propôs a reestruturação do modelo de atenção à saúde na Inglaterra em serviços organizados segundo os níveis de complexidade e os custos do tratamento. Centros de saúde primários deveriam resolver a maior parte dos problemas de saúde da população e funcionar como a porta de entrada e núcleo do sistema, de forma vinculada e com o suporte de centros de saúde secundários e hospitais de ensino. Dawson é um pioneiro delineou o esquema de rede Médico que trabalhou na organização de serviços de emergência na I guerra O primeiro Ministro da Saúde o nomeou coordenador de uma comissão para definir “esquemas para a provisão sistematizada de serviços médicos e afins que deveriam estar disponíveis para a população de uma área dada”. Dawson Delineou o esquema de rede Apresentou, entre outros, os conceitos de: • Território • Populações adscritas, • Porta de entrada • Vínculo/ acolhimento • Referência • Atenção primária como coordenadora do Cuidado A medicina preventiva e a curativa não podem separar-se em virtude de nenhum princípio sólido e em qualquer plano de serviços médicos devem coordenar-se estreitamente. 14 Maria Carolina Braga Sampaio 15 Maria Carolina Braga Sampaio Médico: I - Realizar a atenção à saúde às pessoas e famílias sob sua responsabilidade; II - Realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações entre outros); em conformidade com protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, bem como outras normativas técnicas estabelecidas pelos gestores (federal, estadual, municipal ou Distrito Federal), observadas as disposições legais da profissão; III - Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território, junto aos demais membros da equipe; IV - Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sob sua responsabilidade o acompanhamento do plano terapêutico prescrito; V - Indicar a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento da pessoa; VI - Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS e ACE em conjunto com os outros membros da equipe; e VII - Exercer outras atribuições que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. De acordo com PNAB (Política Nacional de Atenção Básica) de 2017, a mais recente, o médico possui um papel fundamental tanto como membro da equipe de SF ou AB como na saúde da população. O médico não trata a doença, ele trata o paciente. Ademais, o médico não se restringe ao ambiente hospitalar e pode fazer consultas domiciliares também tornando evidente que atualmente o médico possui um papel muito mais abrangente na promoção da saúde populacional. No que diz respeito ao trabalho multiprofissional o médico deve se comunicar com equipe profissional de com empatia, sensibilidade e interesse. Esse artigo da DCN´s de 2014 demonstra que o médico não possui papel hierárquico dentro de uma equipe, e sim que toda forma de diagnostico, indicação de tratamento deve ser feita de maneira homogênea. Tanto no âmbito social quanto no âmbito profissional do médico sofreu mudanças → Se antes ele se restringia ao tratamento da doença no âmbito patológico, hoje ele busca tratar do paciente e lança de mão de meios como consultas domiciliares visando o tratamento universal social. No âmbito profissional é perceptível que, embora a profissão médica ainda possua muito prestigio social, hoje ela se articula com outras profissões de maneira muita mais harmoniosa. Tais pontos são tratados em documentos como a PNAB e as DCN´s; Essas mudanças colaboram para a construção de um médico com um papel de agente social muito mais incisivo do que em épocas anteriores, haja vista que atualmente alem do contato com a sociedade, o médico possui contato homogêneo com outras profissões. DCNS 14 Art 3º Ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania, da dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sempre, a determinação social do processo de saúde e doença. O perfil do formando egresso/profissional será o do médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano Art 4º Necessária articulação entre conhecimentos, habilidades e atitudes nas áreas de atenção, gestão e educação em saúde. 2. Definir o verdadeiro papel do médico enquanto agente social, membro de uma equipe de saúde e sua influência na saúde da população. 3. Descrever o perfil do médico egresso da UNIME, a partir das áreas de competência definidas nas DCNs do MEC (2014) 3. Descrever o perfil do médico egresso da UNIME, a partir das áreas de competência definidas nas DCNs do MEC (2014 16 Maria Carolina Braga Sampaio Art. 5º Na Atenção à Saúde, o graduando será formado para considerar sempre as dimensões da diversidade biológica, subjetiva, étnico-racial, de gênero, orientação sexual, socioeconômica, política, ambiental, cultural, ética e demais aspectos que compõem o espectro da diversidade humana que singularizam cada pessoa ou cada grupo social. Art. 6º Na Gestão em Saúde, a Graduação em Medicina visa à formação do médico capaz de compreender os princípios, diretrizes e políticas do sistema de saúde, e participar de ações de gerenciamento e administração para promover o bem estar da comunidade. Art. 7º Na Educação em Saúde, o graduando deverá corresponsabilizar-se pela própria formação inicial, continuada e em serviço, autonomia intelectual, responsabilidade social, ao tempo em que se compromete com a formação das futuras gerações de profissionais de saúde, e o estímulo à mobilidade acadêmica e profissional. Perfil do médico a partir das DCN´s de 2014 As DCN´s de 2014 trouxeram muitas mudanças para a educação e formação médica → é cabível citar que médicos formados de acordo com as novas diretrizes curriculares possuem um perfil totalmente diferente em relação aos médicos formados antes das DCN´s de 2014. Essas mudanças podem ser vista nas atitudes, habilidades e formas de adquirir conhecimento. Entre as principais mudanças das DCN´s de 2014 é possível citar o art. 32 que estabelece que os cursos de graduação de medicina devem passar a adotar metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Esse artigo pode ser visto como um complemento ao artigo 26, o qual fala que o curso de Medicina terá projeto pedagógico centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo. No Art. 29, é estabelecido que o curso de medicina deve utilizar diferentes cenários de ensino-aprendizagem, em especial as unidades de saúde dos três níveis de atenção pertencentes ao SUS, permitindo ao aluno conhecer e vivenciar as políticas de saúde em situações variadas de vida, de organização da prática e do trabalho em equipe multiprofissional e também incluir dimensões ética e humanística, desenvolvendo, no aluno, atitudes e valores orientados para a cidadania ativa multicultural e para os direitos humanos; Fica perceptível que as novas diretrizes curriculares propiciam a formação de um médico mais humanista. Que não apenas se preocupa com o lado biológico e curativo, mas também com a questão preventiva e social haja vista estar em contato com essas ações desde o início do curso. A opção por adotar a metodologia ativa de ensino também é de fundamental na formação de um médico com mais senso crítico e com um conhecimento mais amplo. O fato do aluno poder ir atrás de informações de forma autônoma, mas ter amparo do professor caso necessário, dá mais segurança ao aluno que irá ser refletida em tomadas de atitudes no campo profissional. Esse perfil médico fica claro em uma pesquisa realizada com estudantes do método PBL, o qual se adequa as novas DCN´s, e com estudantes do método tradicional. Nessa pesquisa, foram escutado tanto os graduados em medicina quanto os pacientes atendidos por ele. Os graduados de medicina que estão dentro das novas diretrizes apontaram que obtiveram uma formação mais humanista, que aprenderam a aprender, a convivência com outros profissionais e a integração teoria-prática. Ademais, os seus pacientes afirmaram que os egressos eram cuidadosos, respeitando-os e escutando-os. 17 Maria Carolina Braga Sampaio Propostas de mudança na educação médica Declaração que reafirmou o significado da saúde como um direito humano fundamental e uma das mais importantes metas sociais mundiais. Em 1978, houve as Declarações de Alma-Ata após a realização de uma conferência internacional sobre cuidados primários da saúde em Alma-ata, a capital do Kazaquistão. Essa declaração reafirma a saúde como um direito humano fundamental → De acordo com essa declaração os países deveriam buscar diminuir as desigualdades sociais e econômicas visando uma saúde para todos até o final do ano 2000 → Naquela ocasião, chegou-se ao consenso de que a promoção e proteção da saúde dos povos são essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social e, consequentemente, condição única para a melhoria da qualidade de vida dos homens e para a paz mundial. O apelo lançado em Alma-Ata foi um marco fundamental e representou o ponto de partida para outras iniciativas. Fazendo uma analogia ao Brasil, é possível citar a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), um programa de saúde que prioriza o atendimento universal, integral e humanizado. A Declaração de Edimburgo possui fundamental importância na formação médica. Formulada na Conferência de Edimburgo em 1988 e formulou os principais pontos da educação médica: Ampliar os ambientes em que os programas educacionais são realizados, para incluir todos os recursos de assistência à saúde da comunidade e não apenas os hospitais; Garantir que os conteúdos curriculares reflitam as prioridades de saúde do País; Criar currículos e sistemas de avaliação dos estudantes que permitam atingir tanto a competência profissional como valores sociais e não apenas a retenção de informações. Feita em 1986, durante a conferência do Canadá. Nessa carta, foi trabalhado o conceito de promoção a saúde como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação nesse processo. Sendo assim, é trabalhado a questão da saúde inclusive, um dos pilares do SUS e da própria atenção primária. Esse documento preconiza as condições e os recursos para a saúde como sendo paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. 4. Elucidar como surgiram as propostas de mudança na educação médica, no final do século passado de acordo com os documentos e as entidades: Declarações de Alma Ata e Edimburgo, Carta de Otawa, Projeto UNI / Fundação Kellogg, Rede UNIDA, ABEM, CINAEM, OMS, OPAS, entre outros Ações propostas: investimento em atenção primária através de medidas de prevenção e educação em saúde. Organizada pela OMS e UNICEF a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, na cidade de Alma- Ata, no Cazaquistão. Os países deveriam buscar diminuir as desigualdades sociais e econômicas visando uma saúde para todos até o final do ano 2000. Chegou-se ao consenso de que a promoção e proteção da saúde dos povos é essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social e, consequentemente, condição única para a melhoria da qualidade de vida dos homens e para a paz mundial. Foi um marco fundamental e representou o ponto de partida para outras iniciativas. Brasil → criação do SUS → prioriza o atendimento universal, integral e humanizado. Se liga! 1986 → elaborada na Conferência do Canadá, listou condições e recursos fundamentais, identificando campos de ação na promoção da saúde e ressaltando a importância da equidade Se liga! 18 Maria Carolina Braga Sampaio UNI Como uma reação ao método especialista flexneriano, tem-se o projeto UNI(Uma Nova Iniciativa) da Fundação Kellog, uma organização financiadora de projetos. Esse projeto tem o objetivo de que a universidade, os serviços de saúde e os movimentos organizados da comunidade deveriam atuar em conjunto na formação dos profissionais de saúde, levando-os para ambientes de ensino/aprendizagem diferentes do hospital, nos quais classicamente são formados, ambientes esses mais próximos da comunidade. Tal ação proporcionaria um processo de ensino/aprendizagem construído de forma multidisciplinar, exercido em caráter multiprofissional e voltado para as necessidades dessas comunidades, oferecendo contribuição na construção de sistemas de saúde mais acessíveis e acolhedores. REDE UNIDA Como uma ação que também visa alterações na formação médica tem a REDE UNIDA, a qual tem o objetivo principal de reunir projetos, instituições e pessoas interessadas na mudança da formação dos profissionais de saúde e na consolidação de um sistema de saúde equitativo e eficaz com forte participação social. Cinaem (Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação das Escolas Médicas), foi Criada em 1991 e é constituída pela ABEM, CFM e mais novas instituições relacionadas a profissão medica. O objetivo principal dessa comunicação de avaliar a educação médica e fomentar o aperfeiçoamento do Sistema de Saúde. Em um primeiro momento, foi traçado um perfil das escolas médicas brasileiras a partir de um roteiro elaborado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Com base no resultado desse primeiro, algumas questões foram destacadas e contempladas no segundo momento. Entra essas questões é possível citar: os métodos pedagógicos, o sistema de avaliação docente e discente, e a proposta curricular. A terceira fase do projeto ocorreu em 1998 e foi quando ocorreram adesões significativas das escolas para um movimento de mudanças no ensino médico. Entre essas principais mudanças é possível citar: integração entre teoria e prática, pesquisa e ensino, e entre conteúdos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais do processo saúde-doença, além da inserção precoce e responsável dos estudantes em atividades formativas nos serviços de saúde e o estímulo à participação ativa destes na construção do conhecimento. Pode-se dizer, portanto, que as ações feitas pela cinaem serviram de base para as mudanças feitas nas DCN´s . Em especial a DCN de 2014 DCNs art 29 Criar oportunidade de aprendizagem, desde o início do curso, utilizando diferentes cenários de ensino- aprendizagem, principalmente nos 3 níveis de atenção do SUS, permitindo conhecer as políticas de saúde em variadas situações de vida, de organização da prática e do trabalho em equipe multiprofissional; Além de criar oportunidades de lidar com problemas reais, assumindo responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados e atenção, compatíveis com seu grau de autonomia, se consolidando com o internato (EBC) É uma perspectiva pedagógica que é discutida desde a década de 1960, porem ganhou força após a criação do SUS em 1988. Trata-se de uma abordagem educacional que visa a inserção dos estudantes em ambientes de prática desde o início do curso de graduação, sendo esses cenários de práticos preferencialmente em comunidades urbanas ou rurais e em unidades de atenção primária, tais como UBS e USF. Essa preferência por unidades de APS é explicada pelo fato do planejamento, execução e avaliação das atividades e ações dependerem das necessidades locais e, também, dependerem da participação popular, das equipes profissionais e da própria universidade. A metodologia EBC tem possibilitado maior aproximação dos estudantes com os serviços de saúde e isso é importante pois ajuda o estudante a adquirir maturidade profissional para quando for de fato médico. Além disso, permite um engajamento criativo 5. Verificar a proposta do Ensino Baseado na Comunidade e inserção precoce do aluno no Serviço Público de Saúde e sua relação com as DCNs 2014 19 Maria Carolina Braga Sampaio com as comunidades no contexto real dos problemas de saúde e, ao mesmo tempo, a aprendizagem de atitudes e habilidades essenciais aplicáveis tanto no contexto comunitário quanto no hospitalar. O contato precoce do aluno com a prática facilita, pois quando formado o aluno irá sentir mais segurança. A Medicina de Família e Comunidade no Brasil ainda é exercida predominantemente na atenção primária à saúde do SUS. A especialidade surgiu em um contexto de busca por mudanças no modelo de atenção à saúde, o qual ainda sofria muita influência do método flexneriano. Foi reconhecida pela comissão nacional de residência medica em 1981, 03 anos após a conferencia de alma- ata. Em se tratando de especialidade, a medicina da família e comunidade se caracteriza por investir em um núcleo de conhecimentos e práticas marcado por um clinica centrado na pessoa (ccp), no cuidado continuado e na gestão de planos terapêuticos individuais e familiares. A Medicina da Família e comunidade no sistema público vem sofrendo com algumas questões, tais como o fato de que algumas operadoras de planos de saúde vêm fazendo para contratar médicos de família para atuar no setor privado. Consequentemente, essa ação pode gerar um déficit desse médicos no SUS e dificultar o acesso a saúde por parte da população. Ademias, também é possível falar sobre os congelamentos de gastos na área da saúde, resultado de medidas de autoridade fiscal após um período de crise político e regulamento pela PNAB de 2017, como um fator que ameaça a MFC. Possui seus princípios na Antiguidade Clássica na antiga escola grega de Cos, a qual considerava as particularidades de cada paciente na abordagem de sua enfermidade, como as necessidades e preferências individuais. E tal visão ia contra a visão da escola grega Cnidians, cuja preocupação era classificar as doenças de acordo com sua taxonomia e independentemente do doente. É possível classificar a medicina centrada no paciente em pilares: Cuidar da pessoa, com a identificação de suas ideias e emoções a respeito do adoecer e a resposta a elas, ou seja, como isso tem impactado sua vida ; Identificação de objetivos comuns entre médicos e pacientes sobre a doença e sua abordagem, com o compartilhamento de decisões e responsabilidades; É importante salientar que a decisão compartilhada se aplica tanto ao tratamento de uma infecção urinária quanto à abordagem de violência doméstica, e o paciente é um participante ativo, co-responsável por seu tratamento O MCCP trouxe muitos benefícios para os médicos e tratamentos médicos. Entre eles é possível citar maior satisfação do paciente, maior adesão ao tratamento e melhor resposta à terapêutica, maior satisfação do médico, menor número de processos por erro médico, maior eficiência do cuidado, com necessidade de menor número de exames complementares e frequência menor de encaminhamentos a especialistas, com consequente custo menor para o sistema de saúde e para o paciente. MFC MCCP DCN´S Art. 5: Em um dos incisos, fala-se sobre o fato integralidade e humanização do cuidado por meio de prática médica contínua e integrada com as demais ações e instâncias de saúde, de modo a construir projetos terapêuticos compartilhados, estimulando o autocuidado e a autonomia das pessoas, famílias, grupos e comunidades e reconhecendo os usuários como protagonistas ativos de sua própria saúde. 6. Comparar a Medicina de Família e Comunidade (MFC) e o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) com as diretrizes do MEC (DCNs, 2014). 20 Maria Carolina Braga Sampaio "Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça." Hipócrates Juramento de Hipócrates “Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência, penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra; nunca me servirei de minha profissão para comprometer os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze para sempre a minha vida e a minha arte de boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele me afastar suceda-me o contrário”. (Hipócrates) Texto utilizado no juramento nas solenidades do curso de medicina O Juramento diz: a prática da arte de curar, tendo como premissa o atendimento ao doente a ética. A medicina vem envolta num manto quase sagrado. Espera-se do profissional que a exerça com tamanha dedicação, que, muitas vezes, os demais esquecem que esses são acima de tudo seres humanos e não ‘deuses’, aspecto que, muitas vezes, ainda hoje, os pacientes lhes atribuem. São apenas homens e profissionais, que dedicam as suas vidas no auxílio ao próximo. Não é uma tarefa fácil e o caminho nem sempre é homogêneo, pois vivemos em um país de grandes diferenças sociais. No entanto, devemos pensar que o juramento de Hipócrates resume só a essência do que é a prática ética cotidiana da arte médica. No século xx, o progresso científico e o avanço tecnológico da medicina, aliados à evolução do pensamento e dos costumes, trouxeram novos conceitos e novos aspectos relativos à ética médica, e a validade do juramento de Hipócrates passou a ser questionada, se não em seu significado simbólico, pelo menos em seu conteúdo. As alterações sugeridas visam, principalmente, a compatibilizá-lo com a bioética e adaptá-lo à problemática decorrente da prática médica atual, com o objetivo de evitar a conivência dos médicos com as falhas dos atuais sistemas de saúde, sempre que houver prejuízo para os doentes, e com os interesses financeiros da 1. Interpretar o juramento de Hipócrates e correlacionar com os dias atuais. 21 Maria Carolina Braga Sampaio indústria farmacêutica e de equipamentos médicos, que procuram influenciar a conduta do médico. As modificações introduzidas contemplam a autonomia do paciente; justiça social e mercantilização da medicina; afrouxam as obrigações dos discípulos para com seus mestres; substituem a proibição por regulamentação do aborto; e suprimem o item referente à operação de calculose vesical. 1. Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial (1948) 2. Texto de Brighton, Estados Unidos (1995) 3. Código de Deontologia Médica da França (1995) 4. British Medical Association (1997) 5. Carta do Profissionalismo Médico (2002) A Declaração de Genebra, a mais antiga e conhecida de todas, tem sido utilizada em vários países na solenidade de recepção aos novos médicos. O juramento de Hipócrates é uma obra de arte e sabedoria, só comparável às mais altas criações da espírito humano e, por isso mesmo, deve ser considerado patrimônio da humanidade e permanecer intocável, como um marco na história da medicina. A demografia médica é o estudo da população de médicos, determinada por fatores como idade, sexo, tempo de formação, fixação territorial, ciclo de vida profissional, migração, mercado de trabalho, especialização, remuneração, vínculos e carga horária. Associação Médica Brasileira (2018) → pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) “A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) não definem ou recomendam o número desejável de médicos, enfermeiros e dentistas por habitante. (...) A definição de índices, como número de leitos ou médicos por habitantes depende de fatores regionais, socioeconômicos, culturais e epidemiológicos, entre outros, que diferem de região para região, país para país. Isso torna impossível, além de pouco válido, o estabelecimento de uma “cifra ideal” a ser aplicada de maneira generalizada(...). Organizações internacionais desaconselham comparações entre países utilizando pura e simplesmente a razão médico-habitante sem considerar, na comparação, a extensão do território, o sistema de saúde adotado, o nível socioeconômico, o perfil demográfico e epidemiológico. Apesar de contar, em janeiro de 2018, com 452.801 médicos (razão de 2,18 médicos por mil habitantes), o Brasil ainda sofre com grande desigualdade na distribuição da população médica entre regiões, estados, capitais e municípios do interior. O Sudeste é a região com maior razão de médicos por 1.000 habitantes (2,81) contra: 1,16, no Norte, e 1,41, no Nordeste. Somente o estado de São Paulo concentra 21,7% da população e 28% do total de médicos do País. Por sua vez, o Distrito Federal tem a razão mais alta, com 4,35 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro, com 3,55. Os dados constam da pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com o apoio institucional do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra. Declaração de Genebra 2. Analisar a demografia médica brasileira. 22 Maria Carolina Braga Sampaio Associação Médica Brasileira (2018) → pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Para o presidente da AMB, Lincoln Lopes Ferreira, a Demografia Médica ajuda a sociedade a compreender melhor a distribuição dos médicos no país. → fornece insumos na busca de soluções para as questões da medicina, do médico e da saúde no Brasil, com base em análise de fatos e dados, e não puramente em ideologias Lincoln Ferreira enfatiza que a Demografia Médica 2018 consolida o entendimento de que não há falta de médicos no país, mas condições, estratégias e gestão para todas as regiões onde há necessidade. “Não precisamos de médicos importados, precisamos de carreira médica de Estado e de condições de trabalho nas mais diversas localidades”, defendeu Ferreira, durante a coletiva. Decorrente da ausência de políticas públicas que estimulem a migração e a fixação dos profissionais nas áreas mais distantes dos grandes centros, de modo particular no interior das Regiões Norte e Nordeste. Brasil chega a quase meio milhão de médicos, com cada vez mais mulheres e jovens entre os profissionais → Demografia Médica 2018 indica que o crescimento da população médica vem sendo acompanhado de uma mudança no perfil de idade e de gênero desse grupo, acentuando-se processos de feminização e de juvenização da categoria no Brasil. No entanto, os dados demográficos acentuam a rapidez com que o tamanho desse grupo vem aumentando O Brasil contava, em janeiro de 2018, com 452.801 médicos, o que dá uma razão de 2,18 médicos por mil habitantes. Em 2010, quando foi elaborado o primeiro estudo de Demografia Médica, a razão de médicos por habitante era menor (1,91 por grupo de mil). O Programa Mais Médicos (PMM) é parte de um amplo esforço do Governo Federal, com apoio de estados e municípios, para a melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Levar mais médicos para regiões onde há escassez ou ausência desses profissionais, o programa prevê, ainda, Mais investimentos para construção, reforma e ampliação de Unidades Básicas de Saúde (UBS), além de Novas vagas de graduação, e residência médica para qualificar a formação desses profissionais O Programa Mais Médicos (PMM), iniciado em 2013, significou tanto uma continuidade do esforço de consolidação da PNAB, quanto apresentou elementos de rompimento com essa tradição: A 1ª mudança foi uma maior interferência do Ministério da Saúde na Atenção Básica, competência quase que exclusivamente municipal. O PMM vem sendo realizado em articulação com municípios, mas o protagonismo do nível federal é maior em diversas dimensões. Para esse Programa, finalmente, o MS realizou planejamento nacional, responsabilizando-se pela execução de grande parte das ações definidas no plano. A primeira destas dimensões de intervenção direta do MS se referiu ao: Recrutamento, distribuição, remuneração e formação de médicos, realizados diretamente pelo MS, ainda que com algum grau de negociação com os entes federados. Mediante processo seletivo nacional, o MS conseguiu em curto espaço de tempo, incluir no SUS e na Atenção Básica mais de 18.000 profissionais em um espaço de dois anos. Parte importante destes médicos foi recrutada mediante cooperação internacional tripartite entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), governo de Cuba e o governo brasileiro, depois de um período de inscrição para médicos formados no Brasil e em outros países, em que a necessidade de profissionais não foi suprida. Os médicos originários de Cuba, ao contrário da maioria dos médicos brasileiros que trabalham na Atenção Básica, tinham formação e experiência específica na Atenção Primária e Medicina de Família e Comunidade. 3. Descrever o mais médicos no Brasil e suas mudanças 23 Maria Carolina Braga Sampaio Entretanto, esta deliberação de contratar médicos estrangeiros sem o exame de revalidação de títulos, agravado pelo fato da maioria ser originária de Cuba, gerou um conflito político e ideológico acirrado, em que entidades médicas assumiram oposição radical ao governo da presidente Dilma, responsável pelo PMM Estudo avaliativo realizado em 32 municípios participantes do Programa constatou que: 94,1% dos usuários entrevistados avaliaram a consulta do médico do programa como “muito boa” e “boa”; 98,1% declararam que o médico ouviu com atenção todas as suas queixas e 87% relatou que compreendeu as explicações e indicações que o médico forneceu sobre a doença e o tratamento. A nova lógica aponta para a interiorização dos cursos e para uma distribuição mais equitativa entre as regiões do Brasil, buscando reduzir as diferenças regionais em proporção de médicos e vagas de graduação por habitantes. No entanto, tem sido observado que esta expansão vem se realizando principalmente por meio de escolas de medicina privada, com custos inacessíveis para grande parte das famílias, o que indicaria objetivos não explícitos de realizar controle do mercado de trabalho médico por meio do aumento da oferta de profissionais. Ratificando a Lei do Mais Médicos, o Conselho Nacional de Educação aprova as novas DCN’s do Curso de Graduação em Medicina, em 2014, que determina reformulação do currículo médico. Determina que, no mínimo, 30% do internato (que deve corresponder a, pelo menos, dois anos da formação) aconteça na Atenção Básica e em serviços de urgências do SUS. Articulada à inserção dos estudantes desde o início do curso em unidades básicas de saúde e outros serviços, na lógica da integração ensino-serviço-comunidade, promoveria uma aproximação com o sistema de saúde, necessária para a aquisição de competências, habilidades e atitudes adequadas a uma prática médica voltada para as necessidades de saúde da população. Esse componente legal do Programa Mais Médicos vem sofrendo forte resistência da maioria do movimento médico e de outros setores conservadores. Ao analisar a distribuição destes médicos, observa-se que o número de municípios com escassez desses profissionais na APS passou de 1.200 em março de 2013, para 558 em setembro de 2014 Redução de 53,5% da escassez de médicos nos municípios Região Norte 91,2% dos municípios que apresentavam escassez em 2013 foram atendidos, com provimento de 4,9 médicos por município, em média (a maior razão entre regiões). Em suma, o programa atendeu aqueles municípios mais necessitados, que tinham as piores razões de médico/habitante, em situação de extrema miséria e com altas necessidades de saúde; O relatório de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da União (TCU) → indica que após a implantação do Programa Mais Médicos houve crescimento de 33% no número de consultas realizadas e de 32% nas visitas domiciliares, indicando aumento na oferta de serviços se saúde. Os resultados do estudo: Em municípios pobres das cinco regiões do Brasil Revelam efeitos positivos do Programa. Observou-se junto a 263 usuários do SUS estudados, alto grau de satisfação nas dimensões “tempo de espera para agendar a consulta” e “atendimento durante a consulta”. A maioria relatou que sua privacidade foi respeitada, que os médicos ouviram com atenção suas queixas, deram as informações necessárias, explicaram de forma clara o tratamento e que eles compreenderam as orientações dadas. No caso de médicos intercambistas, a língua espanhola não foi impedimento para a comunicação. Resultados semelhantes constam no já citado relatório do TCU; dentre os 264 pacientes entrevistados 57% e 32% relataram “não ter nenhuma dificuldade” e “ter tido um pouco de dificuldade”, respectivamente, para entender o que o médico intercambista falava. Conclui: o Programa Mais Médicos não é um equívoco conceitual e, além de bem fundamentado em evidências das necessidades da população, é concernente aos princípios constitucionais do SUS. Diagnosticada a escassez, o Programa incide sobre a falta de médicos a curto e médio prazo, ao associar o provimento à ampliação e mudanças na formação do profissional. 24 Maria Carolina Braga Sampaio O SUS ainda precisa de muito mais para garantir o direito universal à saúde, mas as evidências já indicam melhor distribuição de médicos e maior oferta de serviços, particularmente nos territórios remotos. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) coopera tecnicamente com a iniciativa, triangulando acordos entre Brasil e Cuba para a vinda de médicos de Cuba para atuar em Unidades Básicas de Saúde, no setor de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde brasileiro. Cuba tem o maior número de médicos por mil habitantes do mundo: 7,519 (dado de 2014). O índice é quatro vezes maior do que o do Brasil: 1,852 (dado de 2013). Além disso, Cuba possui ampla experiência no envio de médicos a outros países para trabalhar em diversos setores de saúde, como atenção primária, cirurgias e atendimento de vítimas de desastres naturais. Três eixos compõem o Mais Médicos: o primeiro prevê a melhoria da infraestrutura nos serviços de saúde. O segundo se refere ao provimento emergencial de médicos, tanto brasileiros (formados dentro ou fora do país) quanto estrangeiros (intercambistas individuais ou mobilizados por meio dos acordos com a OPAS). O terceiro eixo é direcionado à ampliação de vagas nos cursos de medicina e nas residências médicas, com mudança nos currículos de formação para melhorar a qualidade da atenção à saúde. MS - Brasil (2019) O programa Médicos pelo Brasil foi lançado pelo Governo Federal em agosto de 2019, em substituição gradual ao projeto Mais Médicos. O principal objetivo do novo programa continua sendo a interiorização de médicos pelo país, especialmente nas regiões mais remotas e desassistidas. Em comparação ao projeto Mais Médicos, a nova estratégia ampliará em cerca de 7 mil vagas a oferta desses profissionais em municípios onde há os maiores vazios assistenciais, sendo que as regiões Norte e Nordeste, juntas, terão 55% do total dessas vagas. Os médicos serão selecionados por meio de processo seletivo eliminatório e classificatório conduzido pela ADAPS (Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde), vinculada ao Ministério da Saúde. A seleção contemplará duas funções diferentes: médicos de família e comunidade e tutor médico. Para a função de Médico de Família e Comunidade, serão
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