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Suzana Feltrin - MED LVIII Consequências das mutações Em genes codificadores de proteínas Doenças devido a mutações Muitas doenças genéticas são causadas por mutações genéticas: • Fenilcetonúria • Fibrose cística • Distrofia muscular de Duchenne • Hipercolesterolemia familiar • Doença de Alzheimer O efeito das mutações • Uma doença genética ocorre quando uma alteração na sequência do DNA de um gene essencial altera a quantidade ou a função, ou ambos, do produto gênico (geralmente o mRNA ou a proteína). • Ocasionalmente, determinados non-coding RNAs (ncRNAs) com funções regulatórias ou estruturais também são alterados; • A maioria das doenças monogênicas conhecidas resulta de mutações que afetam a função de uma proteína; • Poucas exceções: mutações em ncRNAs (exemplo: doenças mitocondriais associadas a mutações de tRNAs); • Conhecimento molecular e bioquímico: fundamentação para a terapia racional. Geralmente a expressão do fenótipo ocorre devido ao efeito da mutação na quantidade do produto e na função do produto. • A partir de uma mutação, pode ocorrer mudança na região codificadora (proteínas anormais), na região de splicing ou na região reguladora (estrutura normal da proteína). O efeito das mutações pode ser: • Propriedade nova • Ganho de função • Perda de função • Expressão heterocrônica (tempo errado) • Expressão ectópica (lugar errado) Mutação de propriedade nova • Mutação que ocorre no gene HBB da hemoglobina. • É a mutação que causa a ANEMIA FALCIFORME. • Ocorre uma transversão de A para T, que leva uma substituição missense de ácido glutâmico para valina (HbS). • HbS funciona normalmente, mas quando desoxida, leva a formação de fibrilas no interior da hemácia. Suzana Feltrin - MED LVIII • A mutação afeta a solubilidade e cristalização da Hb sob condições de hipóxia. MUTAÇÕES DE PERDA DE FUNÇÃO Reduz ou elimina o produto proteico do alelo mutado. Albinismo: Ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelo e olhos. Ausência ou defeito na enzima (tirosinase) responsável pela produção da melanina. • Mutação do gene 7299, que codifica a tirosinase. • Alelo mutado de perda de função: o Se único, fenótipo normal porque o alelo normal mascara o efeito. o Se duplo, fenótipo da doença (recessivo). MUTAÇÕES DE GANHO DE FUNÇÃO Produção de uma proteína em grande quantidade ou leva a propriedade que exacerba a função normal da enzima. Acondroplasia: nanismo acentuado, membros curtos e tronco de tamanho normal, inteligência normal, cabeça grande, lordose lombar, encurtamento proximal e mãos em tridente. • Gene localizado no braço curto do cromossomo 4, que codifica o receptor 3 do fator de crescimento do fibroblasto. • Incidência de 1 em 15:000. • Troca de glicina por arginina, ocorrendo a ativação constitutiva desse receptor, levando a uma supressão exacerbada da proliferação e diferenciação dos condrócitos. • Em resumo, a mutação inibe a degradação do receptor. Mutações dominante negativas O alelo mutado interfere no alelo normal. Isso é importante em proteínas multigênicas, que dependem de agregar cadeias peptídicas codificadas por diferentes genes. TIPOS DE HETEROGENEIDADE NAS DOENÇAS Heterogeneidade alélica: em uma população, pode haver vários alelos mutantes diferentes para um mesmo locus. Em um indivíduo, fenótipos iguais ou semelhantes podem ser causados por diferentes alelos mutantes, em vez de alelos idênticos. Ex: anemia falciforme. Heterogeneidade gênica: é a produção de fenótipos iguais ou semelhantes por mecanismos genéticos diferentes (devido a mutações em dois ou mais locus diferentes). Ex: doença causada pela perda de enzimas multiméricas. Heterogeneidade clínica: o termo descreve a ocorrência de fenótipos clinicamente diferentes, devido a mutações presentes no mesmo gene. Ex: Doenças que envolvem enzimas (erros inatos): • Doenças envolvidas na síntese, degradação, transporte ou armazenamento de macromoléculas. Suzana Feltrin - MED LVIII ERROS INATOS DO METABOLISMO • São doenças geneticamente determinadas, causadas por um defeito enzimático específico que leva ao bloqueio de uma determinada rota metabólica e pode originar uma doença. • Consequências: o Acumulo de substrato. o Deficiência do produto. o Desvio do substrato para uma rota metabólica alternativa. • Mutações nos dois alelos, com perda de função, levando ao bloqueio de ou desvio de uma rota metabólica. Mecanismos que reduzem a atividade de uma enzima • Mutação gênica. • Diminuição da meia vida - degradação acelerada. • Absorção ou síntese do cofator. • Heterogeneidade de loco - enzima multimérica. ENZIMAS MUTANTES E DOENÇA - CONCEITOS GERAIS 1. Padrão de herança: para a maioria das mutações que envolvem enzimas, o padrão de herança é recessivo ou ligado ao X recessivo. Alcaptonuria • Herança Autossômica Recessiva (HAR). • Mutação no gene HGD (homogentisate 1,2- dioxygenase). • Deficiência da enzima oxidase do ácido homogentísico. • Acúmulo de ácido homogentísico no tecido conjuntivo, pele e articulações • Endurecimento e coloração ocre no tecido cartilaginoso (artrite denominada ocronose). • Artrite aguda e invalidez (50-70a) • Recomendação: diminuição da ingestão de fenilalanina e tirosina Na maioria das doenças recessivas, temos o alelo 1 mutado diferente do alelo 2 mutado, fazendo com que o genótipo seja de heterozigoto composto. 2. Acúmulo do substrato ou deficiência do produto. • Fenilcetonúria: deficiência na enzima fenilalanila hidroxilase que leva um bloqueio ao início da via de degradação do aminoácido fenilalanina, que não é transformada em tirosina. • Mutação no gene PAH. • Ausência da enzima: a fenilalanina acumula-se no sangue e é degradada por uma via secundária: ácidos fenilpirúvico, fenilático e fenilacético. • Características clínicas: o Crianças normais ao nascimento, progridem para Deficiência Intelectual (QI<20). o Hiperativas, irritáveis, espásticas, convulsões. o Podem apresentar distúrbios de comportamento. o Incapacidade motora. o Incontinência esfincteriana. o Odor de mofo (fenilcetonas). o Microcefalia. o Eletroencefalograma anormal. o Dermatite. • É um exemplo de doença que afeta outros tecidos além do fígado, porque é o cérebro que sofre os efeitos tóxicos dos subprodutos que surgem devido ao bloqueio da via de degradação da fenilalanina. • Heterogenidade gênica: Dependendo das mutações, podemos ter graduação do fenótipo: variante PKU e não PKU (não encontrada na urina). • Mutações em um dos genes alternativos relacionados ao cofator da enzima principal, Suzana Feltrin - MED LVIII que quando mutados tem fenótipo semelhante ao de hiperfenilalaninemias: o DHPR o GTP-CH o PCD o 6-PTS 3. Substratos difusionais ou macromoleculares • O substrato é uma macromolécula, como um mucopolissacarídeo, que permanece preso em uma organela ou célula. • Degradação lisossômica do heparan-sulfato (HS). • Mutações em enzimas leva ao bloqueio da degradação do heparan sulfato, causando fenótipos clínicos distintos de acordo com as enzimas afetadas. 4. Perda de múltiplas atividades enzimáticas: um paciente com um determinado efeito monogênico, pode ter perda de função em mais de uma enzima. • As enzimas podem usar o mesmo cofator (ex: BH4). • As enzimas podem compartilhar uma subunidade comum ou uma proteína ativadora, de processamento ou de estabilização (ex: gangliosidoses GM2). • As enzimas podem ser processadas por uma enzima modificadora comum, e em sua ausência, podem ser inativadas ou sua absorção na organela pode estar diminuída (ex: doença da célula I). • Um grupo de enzimas pode estar ausente ou ineficiente se a organela em que ela é encontrada normalmente não é formada oué anormal (ex: distúrbio da biogênese do peroxissoma). 5. Homologia fenotípica • As características patológicas e clínicas resultantes de um defeito enzimático são frequentemente partilhadas por doenças, geralmente devido a deficiência de outras enzimas que funcionam na mesma rota do metabolismo (ex: mucopolissacaridoses). • Ou, pelos diferentes fenótipos que podem resultar de defeitos parciais (ainda há efeito residual da enzima na célula) versus completos de uma enzima. Obs: defeitos parciais geralmente apresentam anormalidades clínicas que são subconjuntos daqueles encontrados com a deficiência completa. Ex: síndrome de Lesch-Nyhan e gota (hiperuricemia) FIBROSE CÍSTICA • Mutações no gene CFTR. • Alterações da proteína reguladora de sódio e cloro pela membrana. • Deleção de 3 nucleotídeos incluindo a terceira base do códon 107 e as duas primeiras do códon 108 (deleção in frame, porque recompõe a matriz de leitura da sequência de códons). • Alvos terapêuticos decorrentes das mutações da fibrose cística. • Heterogeneidade alélica: Diferentes pacientes têm mutações em diversos alelos em um mesmo gene. Suzana Feltrin - MED LVIII HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAL • Mutações no gene LDLR. • Importância clínica: papel no IAM. • Níveis anormais de colesterol sérico - 300-600 mg/dL. • Doença autossômica dominante. o 1/500 indivíduos. o 5% dos pacientes apresentam IAM. o Homozigotos - 1/1.000.000 (níveis de colesterol de 600-1.200 mg/dL). • Colesterol obtido por duas vias: o Síntese original (endógena). o Captação do colesterol exógeno ligado à LDL no plasma. o Indivíduos homozigotos - altos níveis da enzima HMG-CoA. • Endocitose mediada pelo receptor. • Dentro da célula, o colesterol tem 3 destinos importantes: 1. Inibe a expressão dos receptores (autocontrole da captação do colesterol exógeno) 2. Ativa a enzima ACAT, que é a forma pela qual as moléculas de colesterol serão estocadas. 3. Inibe a síntese de colesterol pela inibição da HMG-CoA redutase. • Em indivíduos normais, à medida que a LDL se liga ao receptor, ele é internalizado e degradado, e isso inibe a expressão da HMG- CoA redutase, diminuindo, assim, a síntese endógena. • Os indivíduos homozigotos não captam nada, porque não expressam o receptor do colesterol. Assim, há altos níveis de colesterol circulante e altos níveis de síntese de colesterol nas células. • Mutações no receptor da LDL: • Mutações no receptor da LDL são agrupadas em 5 classes: 1. Síntese do receptor (alelos nulos): mutações nonsense, frameshift, na região promotora ou que levam à degradação rápida do mRNA (20%). 2. Transporte do receptor do RE para o complexo de Golgi: metade dos homozigotos apresentam este tipo de mutação (mutações missense no domínio 5). 3. Ligação da LDL ao receptor: resultam de deleções ou inserções no domínio de ligação ou no domínio de homologia ao EGF. 4. Agrupamentos de receptores na depressão revestida: pode envolver o domínio citoplasmático ou o domínio transmembrana. Suzana Feltrin - MED LVIII 5. Reciclagem: ligação e internalização do receptor LDL, mas há falha na liberação do ligante no endossomo e volta à superfície. • Tratamento da hipercolesterolemia com inibidores da HMG-CoA redutase. • A hipercolesterolemia familial também possui heterogeneidade gênica, porque além das mutações no gene principal, podem ocorrer mutações em outros genes codificadores de proteínas que levam ao mesmo fenótipo (aumento do colesterol circulante total). Ou seja, diferentes genes levando ao mesmo fenótipo. • O agrupamento do complexo receptor da LDL nas depressões revestidas por clatrina requer a proteína adaptadora ARH, que liga o receptor à maquinaria endocítica da depressão revestida. • Algumas variantes no gene que codifica a protease levam a uma diminuição da produção da protease. Indivíduos são mais aptos a internalizar mais colesterol nas células por meio dos receptores, reduzindo os níveis plasmáticos de colesterol LDL.
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