Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Robson Stigar CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Neivor Schuck Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2017 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 231.044 S854h Stigar, Robson História e teologia da igreja cristã / Robson Stigar. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 142 p. : il. ISBN 978-85-69910-84-8 1.Teologia. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Robson Stigar É doutorando em Ciência da Religião na PUCSP. Possui mestrado em Ciência da Religião pela PUCSP; MBA em Gestão Educacional; Especialização em Filosofia da Arte; Especialização em Catequética; Especialização em Educação, Tecnologia e Sociedade; Especialização em Ensino Religioso; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em História do Brasil; Aperfeiçoamento em Ensino de Filosofia; Aperfeiçoamento em Sociologia Politica pela UFPR. É bacharel em Teologia; licenciado em Filosofia pela PUCPR; Licenciado em Pedagogia pela UNINTER. Atua como professor na Educação Básica e no Ensino Superior. Autor do Livro “O Ensino Religioso e sua Historicidade”, possui vários artigos científicos publicados em periódicos e artigos livres em jornais de circulação. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................01 CAPÍTULO 1 A Igreja Cristã na Antiguidade................................................... 09 CAPÍTULO 2 A Igreja Medieval ......................................................................... 45 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 A Igreja Renascentista e Moderna ........................................... 79 A Igreja Contemporânea .......................................................... 107 APRESENTAÇÃO Nesta obra “História e Teologia da Igreja Cristã”, procuramos apresentar de forma rápida e objetiva a Igreja na Antiguidade, na Idade Média, no Renascimento, na Idade Moderna e na Contemporaneidade. No primeiro capítulo “A Igreja Cristã na Antiguidade” procuramos realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, período que vai de 30 depois de Cristo até o ano 476. Procuramos entender a expansão da Igreja Cristã neste contexto histórico e geográfico bem como compreender o crescimento do império Romano. No segundo capítulo “A Igreja Medieval”, apresentamos a formação dos monastérios da Igreja Medieval, a história desta Igreja no Sacro Império Romano- Germânico, objetivando entender os grandes cismas que ocorreram na Igreja. Vamos estudar sobre as Cruzadas, episódios tão marcantes naquele período que deixaram marcas até os dias de hoje, e por fim, conhecer a Guerra dos Cem anos e as causas da Queda de Constantinopla. No terceiro capítulo “A Igreja Renascentista e Moderna”, apresentamos um estudo analítico sobre a Reforma Religiosa iniciada no século XVI, procurando assim, compreender sua origem e sentido, bem como as causas da Contrarreforma e o Concílio de Trento, ambos realizados pela Igreja Católica em resposta à Reforma Religiosa realizada por Martinho Lutero e outros reformadores. No quarto capítulo “A Igreja Contemporânea”, apresentamos a história dos Concílios Ecumênicos do Vaticano I e II, procurando compreender seu contexto e importância tanto para a história da civilização como para a história da Igreja. Vamos realizar um estudo reflexivo sobre a importância da renovação da Igreja Protestante/Evangélica para a Igreja Cristã e para a sociedade de forma geral, apresentando como suas rupturas e transições foram positivas para o seu desenvolvimento. Nosso objetivo é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã no Ocidente, tarefa difícil e complexa, dado o amplo período histórico que temos, pois são vários séculos de história, fatos e acontecimentos para serem apresentadas em poucas páginas. O autor. CAPÍTULO 1 A Igreja Cristã na Antiguidade A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a igreja na Antiguidade (de 30 a 476 d. C.). � Conhecer sobre a expansão do Império Romano. � Estudar o crescimento da Igreja Cristã. � Conhecer os Concílios de Niceia, Constantinopla e Calcedônia. � Entender as causas da queda de Constantinopla. � Promover uma análise crítica da Igreja Cristã na Antiguidade Clássica. 10 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ 11 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 Contextualização O objetivo deste capítulo é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, período que compreende de 30 depois de Cristo até 476. Precisamos entender a expansão da Igreja Cristã neste contexto histórico e geográfico, bem como compreender o crescimento do Império Romano. Também vamos analisar os três grandes concílios que ocorreram naquela época, que foram relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles: Niceia, Constantinopla e Calcedônia. Por fim, vamos procurar entender as causas da queda de Constantinopla. Temos também como tarefa conhecer um pouco do “período sombrio” que afetou a Igreja Cristã, ou seja, como se deram as perseguições neste período e como estas prejudicaram a igreja, bem como vieram a contribuir. Também vamos conhecer o que se denomina por Cristianismo Primitivo. Esta obra tem caráter de introdução, já que temos quase cinco séculos de história sendo apontados em poucas páginas. Destacamos, entretanto, que cabe ao aluno o desafio de seguir adiante, motivado com o espírito crítico e acadêmico, buscando por novas informações e conhecimentos, pois esta é a dinâmica do meio acadêmico e teológico. A Expansão do Império Romano Segundo Le Roux (2013), o Império Romano nasceu oficialmente em 27 a.C. e terminou – dependendo do ponto de vista – com a conquista de Roma pelos godos, chefiados por Alarico, em 410 d.C., ou em 476 d.C., data da queda do último imperador do Ocidente, em consequência dos repetidos assaltos dos povos germânicos. Para Le Roux (2013), o Império Romano designa um período histórico marcado pela ampla dominação da potência romana, sob a direção de seus césares. Considerado isoladamente, o Império Romano representava uma forma institucional e territorial do exercício de um poder monárquico, mas ao qual eram associados os valores aristocráticos tradicionais, o direito público como fonte de legitimidade e uma dimensão religiosa que correspondia ao ponto de vista ideológico e à forma como raciocinavam as elites romanas e as de suas províncias. O Império Romano nasceu oficialmente em 27 a.C. e terminou – dependendo do ponto de vista – com a conquista de Roma pelos godos, chefiados por Alarico, em 410 d.C., ou em 476 d.C. 12 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Devido a sua geografia, o Império Romano agrupava um conglomerado de cidades e de comunidades locais que, até certo ponto, estavam integradas a uma rede de relacionamentos sociais que copiavam as estruturas da sociedaderomana. Contudo, cada uma delas era constituída por suas próprias sociedades individuais, hierarquizadas e culturalmente mescladas, obedecendo em parte a tradições locais que revelavam os aspectos mais variados (LE ROUX, 2013, p. 8). Le Roux (2013) destaca que o conceito corresponde, para os não especialistas, a uma forma ou outra de expansão da cidadania romana e de florescimento de uma civilização portadora dos valores nobres proclamados pelos literatos e filósofos latinos, mas caracterizada também pelos combates de gladiadores e outros espetáculos desumanos dos circos e anfiteatros, e pela perpetuação da escravatura, sem esquecer a grosseria de uma soldadesca indisciplinada e de mentalidade estreita, que se manifestava sem reservas no momento em que deixava os campos de batalha. Roma se solidificou como o maior império que já existiu, sendo híbrida em sua formação, ou seja, composta de várias culturas, devido às conquistas territoriais ao longo dos tempos realizadas em suas guerras. Os romanos conquistaram grande parte do Oriente e todo o Ocidente durante os dois últimos séculos antes da Era Cristã e também na guerra civil interna, onde venceu Júlio César, em 100 a.C. – 44 a.C. A partir desse momento, com a paz sedimentada, Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.), o primeiro imperador romano, reorganizou o estado, delimitou as fronteiras, abriu estradas (85 mil quilômetros), promoveu construções por toda a extensão do império, de quase cinco milhões de quilômetros quadrados (divididos hoje entre 30 nações). Com isso, assegurou um período inédito de estabilidade em toda a região ao redor do mar Mediterrâneo (PIOPPI, 2012). A pax romana facilitou, durante décadas, até mesmo nas regiões mais expostas do Império, o desenvolvimento de formas políticas, sociais e culturais que se contavam entre as mais “modernas”, segundo consideravam os antigos. À medida que seu poderio se expandia, os cidadãos romanos foram se envolvendo com a exploração e o controle dos territórios submetidos (LE ROUX, 2013). Na metade ocidental, o idioma utilizado era o latim, e na região do Mediterrâneo oriental e no Oriente Próximo era o grego. O Império Romano tornou-se um governo pacífico e próspero, suas cidades estavam em progresso e viajar não era mais difícil, pois muitas estradas foram construídas. A pax romana facilitou, o desenvolvimento de formas políticas, sociais e culturais que se contavam entre as mais “modernas”. 13 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 Segundo Le Roux (2013), foi Otávio Augusto quem estabeleceu inicialmente a imagem de um universo centrado em Roma. A cidade conquistadora e senhora do mundo era a única capital, a sede do império. Dotada de uma aparência monumental, sem equivalente no mundo inteiro, obtida através de uma série contínua de programas de desenvolvimento arquitetônico determinados pelos imperadores, Roma foi escolhida unanimemente como o modelo do urbanismo, mesmo antes de se tornar legalmente a pátria comum. Cosmopolita, ela vivia em simbiose com o restante do império, não esquecendo nunca, contudo, que além de capital, também era uma cidade. Figura 1 – Grande imperador romano Otávio Augusto (63 a.C. – 14 d.C.) Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/ search?biw=1088&bih=510&tbm=isch&sa=1&q=otávio+augusto+imperador+romano>. Acesso em: 24 nov. 2017. Após sua morte, Otávio Augusto foi sucedido pelos imperadores Tibério (42 a.C. – 37 d.C.), Caio (12-41), Cláudio (10 a.C. – 54 d.C.) e Nero (37-68). Com o suicídio de Nero, seguiu-se novo período de guerra civil, conhecido como o ano dos quatro imperadores (69). Ao final desse ano, o comandante das forças militares romanas em combate na primeira guerra judaico-romana, Vespasiano (9-79), foi aclamado o novo imperador. Posteriormente a ele seguiram seus filhos, Tito (39-81) e Domiciano (51- 96), cujo assassinato inaugurou o período de outros imperadores: Nerva (30- 98), Trajano (53-117), Adriano (76-138), Antonino Pio (86-161) e Marco Aurélio (121-180). Nessa época, o Império Romano atingiu sua expansão máxima, estabelecendo-se, assim, a paz romana, também conhecida como pax romana. Todavia, ao fim desse período, Cômodo (161-192) se tornou imperador, iniciando um longo período de instabilidades políticas (PIOPPI, 2012). 14 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ O Crescimento da Igreja Cristã Na perseguição iniciada com a morte de Estevão, a igreja em Jerusalém dispersou-se por toda a Terra. Alguns chegaram até Damasco e outros até Antioquia. Por qual motivo sobrevieram então as perseguições? Marcos 16:15: E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. A partir desta perseguição, os cristãos fugiam, porém, pregavam o evangelho e testemunhavam das maravilhas que Jesus operava. Segundo o renomado pesquisador da história da igreja, Carlo Pioppi (2012), a partir do século I, o cristianismo iniciou a sua expansão “territorial”, sob a orientação de São Pedro e dos apóstolos, tendo um rápido crescimento no Império Romano, nos primeiros séculos, difundindo assim uma nova religião e, consequentemente, uma nova perspectiva de vida religiosa. A Palestina, onde o cristianismo deu seus primeiros passos, tinha uma posição geográfica privilegiada, pois ocupava uma área onde era a encruzilhada das grandes rotas comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia, e a Arábia com a Ásia Menor. Por isso vemos, na história descrita no Velho Testamento, esta área tão cobiçada sendo invadida por vários impérios. Jesus nasceu dentro deste contexto que biblicamente se conhece como "plenitude dos tempos" (Gl: 4:4-5). A igreja, respondendo às ansiedades da época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu rapidamente conquistar o império. Pioppi (2012) destaca que o poder político romano viu no cristianismo um perigo, pelo fato de reclamar um âmbito de liberdade na consciência das pessoas a respeito da autoridade estatal, assim, os seguidores de Jesus Cristo tiveram que suportar numerosas perseguições, que conduziram muitos ao martírio. Segundo Pioppi (2012), no ano 313 o imperador Constantino I foi favorável à nova religião, concedeu aos cristãos a liberdade de professarem a fé, e iniciou uma política favorável para com eles. Com o imperador Teodósio I (379-395), o cristianismo converteu-se na religião oficial do Império Romano, e no final do século IV, os cristãos já eram a maioria da população do império. Pioppi (2012) destaca que no século IV a igreja teve que enfrentar uma forte crise interna: trata-se da questão ariana. Ário, presbítero de Alexandria, no Egito, defendia teorias heterodoxas, pelas quais negava a divindade do Filho, que seria, assim, a primeira das criaturas, embora superior às outras. A divindade do Espírito Santo era também negada pelos arianos. Difundindo assim uma nova religião e, consequentemente, uma nova perspectiva de vida religiosa. O imperador Constantino I foi favorável à nova religião 15 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 O arianismo foi condenado pelo Concílio de Niceia, mas a disputa teológica sobre a divindade de Cristo não terminou e continuou sendo objeto, no Oriente e no Ocidente, de diferentes orientações doutrinárias. Com o apoio do imperador Constantino, interessado numa solução política para a unificação da igreja oriental e ocidental, a decisão de Niceia foi aplicada e o arianismo foi banido como heresia, e seus adeptos, desacreditados. Fonte: Disponível em: <palavracriativa.org.br/site/wp-content/ uploads/2015/06/ARIANISMO1.pdf>. >. Acesso em: 24 nov. 2017. A crise doutrinal, com que se encruzilharam frequentemente intervenções políticas dos imperadores, perturbou a igreja durante mais de 60 anos; foi resolvida graçasaos dois primeiros concílios ecumênicos, o primeiro de Niceia em 325 e o segundo de Constantinopla em 381, concílio em que se condenou o arianismo, se proclamou solenemente a divindade do Filho (consubstantialis Patri, em grego homoousios) e do Espírito Santo, e se compôs o símbolo niceno- constantinopolitano (o Credo). O arianismo sobreviveu até o século VII, porque os missionários arianos conseguiram converter a sua crença muitos povos germânicos, que só pouco a pouco passaram ao catolicismo. Destaca-se ainda que no princípio a igreja também é vista ou considerada como uma seita do judaísmo, como consta no Ato dos Apóstolos (At: 24:5; 28:22). Entretanto, o pesquisador Pioppi (2012) nos lembra que no século V houve duas heresias cristológicas, que tiveram o efeito positivo de obrigar a igreja a aprofundar no dogma, para formulá-lo de modo mais preciso. A primeira heresia é o nestorianismo, doutrina que, na prática, afirma a existência em Cristo de duas pessoas, além de duas naturezas. Foi condenada pelo Concílio de Éfeso em 431, que reafirmou a unicidade da pessoa de Cristo. Dos nestorianos derivam as igrejas siro-orientais e malabares, ainda separadas de Roma. 16 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ O nestorianismo afirmava a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como humanidade e divindade se relacionaram em Cristo. Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas principais escolas teológicas da Antiguidade: a Alexandrina e a Antioquena, que muito influíram na elaboração da Cristologia. A Escola Alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava exaltar o divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas sagradas letras. Em assuntos cristológicos, portanto, era inclinada a realçar o divino, com detrimento do humano. Ao contrário, a Escola Antioquena era mais dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino. Interpretava a Sagrada Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era mais racional, ao passo que a de Alexandria era mais mística. Dito isto, voltemos à história do dogma cristológico. A primeira tentativa de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal de Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas, em Jesus – uma divina e outra humana – unidas entre si por um vínculo afetivo ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS. Trindade com a sua divindade. Nestório propunha suas ideias em pregações ao povo, nas quais substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo”. As suas concepções suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde S. Cirilo era bispo ardoroso. Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório. As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S. Cirilo para que intimasse Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo enviou ao patriarca de Constantinopla uma lista de 12 anatematismos que condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de 17 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 mais a mais que podia contar com o apoio do imperador; além do mais, tinha muitos seguidores na Escola Antioquena, entre os quais o próprio bispo João de Antioquia. Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. S. Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembleia diante de 153 bispos. Logo na primeira sessão foram apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, isto é, a 26/06/431, chegou a Éfeso o patriarca Jogo de Antioquia, com 43 bispos seus seguidores, todos favoráveis a Nestório; não quiseram unir-se ao concílio presidido por S. Cirilo, representante do papa; por isto formaram um conciliábulo, o qual depôs Cirilo. O imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo então mobilizou todos os seus recursos para mover Teodósio II em favor da reta doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã mais velha do imperador. Este finalmente apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia os antioquenos não se renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a apolinarismo. Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de acordo sobre uma fórmula de fé que professava um só Cristo e Maria como Theotókos. O nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram procurar refúgio na Pérsia, onde fundaram a Igreja Nestoriana. Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do século XIV em diante foi definhando por causa das incursões dos mongóis; em grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão da Igreja Universal (são hoje os cristãos caldeus e os cristãos de São Tomé). Em nossos dias, muitos estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece ser autor de uma apologia intitulada “Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-se crer que tenha tido reta intenção, mas certamente sustentou posições errôneas por se ter apegado demasiadamente à Escola Antioquena. Fonte: Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/ As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017. 18 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ A outra heresia foi o monofisismo, que defendia, na prática, a existência em Cristo de uma só natureza, a divina; o Concílio de Calcedônia em 451 condenou o monofisismo e afirmou que em Cristo há duas naturezas, a divina e a humana, unidas na pessoa do Verbo. Dos monofisitas derivam as igrejas coptas, siro- ocidentais, armênias e da Etiópia, separadas da Igreja Católica (FRÖLICH, 1987). O monofisismo seria a luta contra o nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é o monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”). O primeiro arauto desta tese foi Eutiques, arquimandrita de Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza divina e da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em Jesus: a divina. Esta doutrina tornou-se a heresia mais popular e mais poderosa da antiguidade, pois, para os orientais, a divinização da humanidade em Cristo era o modelo do que deve acontecer com cada cristão. Eutiques foi condenado como herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o patriarca Flaviano. Todavia não cedeu e reclamou contra uma pretensa injustiça, pois tencionava combater o nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da corte. Solicitado pelo patriarca Dióscoro de Alexandria, o imperador Teodósio II convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso, confiando a presidência do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Eutiques. Dióscoro, tendo aberto o concílio,negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a Carta do Papa S. Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas em Cristo não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em comunhão com a outra; assim, Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como homem, e pôde ressuscitar mortos como Deus. Esse Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, patriarca de Constantinopla, e outros bispos contrários à tese monofisita. Todavia os seus decretos foram de curta duração. Os bispos de diversas regiões o repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo concílio, que de fato foi convocado após a morte de Teodósio II pela imperatriz Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general Marcião, que em 450 foi feito imperador e se casou com Pulquéria. 19 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 O novo concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da Antiguidade, pois dele participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais. A assembleia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu de base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do nestorianismo e do monofisismo, propondo em Cristo uma só pessoa e duas naturezas: “Ensinamos e professamos um Único e idêntico Cristo... em duas naturezas, não confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas propriedades e se uniu com a outra numa Única pessoa e numa Única hipóstase”. Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade da Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza e uma só pessoa, pois Cristo agiu como verdadeiro homem, sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois, uma só pessoa (um só eu) divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na Terra agindo ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o seu eu divino. O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo. Além da atração que esta doutrina exercia sobre os fiéis (especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo como modelo, motivos políticos explicam essa persistência da heresia; com efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no monofisismo a expressão de suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo e à dominação bizantina. Por isto os monofisitas continuaram a lutar contra o imperador, que havia exilado Dióscoro e Eutiques e ameaçado de punição os adeptos destes: ocuparam sedes episcopais; inclusive a de Jerusalém (ao menos temporariamente). No século VII a situação se agravou, pois os muçulmanos ocuparam a Palestina, a Síria e o Egito, impedindo a ação de Bizâncio em prol da ortodoxia nesses países. Em consequência, os monofisitas foram constituindo igrejas nacionais: a armena, a síria, a mesopotâmica, a egípcia e a etíope, que subsistem até hoje com 20 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ cerca de 10 milhões de fiéis. No Egito, os monofisitas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra grega Aigyptos (g ou k, p, t ); são os antigos egípcios. Os ortodoxos se chamam melquitas (de Melek, imperador), pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada pelo imperador em Calcedônia. Há coptas que se uniram a Roma em 1742, enquanto os outros permanecem monofisitas, mas professam quase o mesmo credo que os católicos. Na Abissínia os monofisitas também são chamados coptas, pois receberam forte influência do Egito. “Dentre os melquitas, grande parte aderiu ao cisma bizantino, separando-se de Roma em 1054; certos grupos, porém, estão hoje unidos à Igreja Universal. Na Síria e nos países vizinhos, os monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros chefes: Jacó Baradai (= o homem da coberta de cavalo, alusão as suas vestes maltrapilhas). Jacó, bispo de Edessa (541-578), trabalhou com zelo e êxito para consolidar as comunidades monofisitas, às quais deu por cabeça o patriarca Sérgio de Antioquia. Fonte: Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/ As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017. Pioppi (2012) nos apresenta que nos primeiros séculos da história do cristianismo assiste-se a um grande florescimento da literatura cristã, homilética, teológica e espiritual: são as obras dos padres da igreja, de grande importância na reconstrução da tradição; os mais relevantes foram Santo Ireneu de Leão, Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo e Santo Agostinho, no Ocidente; Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nacianceno, São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria e São Cirilo de Jerusalém, no Oriente. Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da Palestina. A história nos apresenta que os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente foram os convertidos do dia de Pentecostes (At: 2:9-11), que levaram o evangelho consigo quando voltaram para casa. Os outros missionários foram aqueles que foram espalhados por toda parte na perseguição que se seguiu ao martírio de Estevão (At: 8:4). Estes foram pregando na Fenícia, no Chipre e na Antioquia, mas sempre aos helenistas. Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregou aos helenos (gregos) em Antioquia. 21 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NO IMPÉRIO ROMANO Expansão no Império Romano Leste: na Fenícia a fé logo cedo parece ter sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável que aqui, como em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano, desenvolvendo-se especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuía uma igreja muito forte. Na Síria se desenvolveram duas comunidades cristãs: a de fala grega, que teve seu início em Antioquia e que se expandiu nas cidades comerciais de língua grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngue desde cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao Leste na cidade de Edessa. A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos seus no Concílio de Niceia em 325. Na Ásia Menor, área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e João, o cristianismo tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra região grande do império até o fim do III século. Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local estava desintegrando-se diante do impacto da cultura que chegava, a greco-romana. Nas cidades helênicas era menor, e nas cidades onde a educação helenista era desconhecida, era quase inexistente. A carta de Plínio ao imperador Trajano na segunda década do II século atesta a larga expansão do cristianismo nas cidades e até no quadro rural de Bitínia. Expansão no Império Romano Africano: quanto ao Egito, a tradição faz de Marcos o missionário que lá plantou o evangelho. Sabemos que Apolo era de Alexandria, mas não sabemos se converteu-se lá ou se voltou para lá após sua conversão. Até o fim do segundo século a igreja já estava forte. Já incluía várias linhas teológicas, das quais uma das mais fortes foi o gnosticismo. Em Alexandria se desenvolveu muito cedo a famosa Escola Catequética em que teve entre seus professores Clemente e Orígenes.Já neste período, traduções de porções das Escrituras foram feitas em línguas indígenas, dando condições para o desenvolvimento da Igreja Copta. 22 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Na costa do Norte da África o cristianismo se alastrou cedo, especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia e Algéria. O progresso do cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no século III. É de aqui que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja parece ter sido mais forte nas cidades e entre a população que falava latim. Expansão no Império Romano Europeu: na Itália, o evangelho chegou a Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que resultou na expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo Chrestus. Cf. At: 18:1-3. Até 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000 membros; outros acham que foram muitos mais. Até meados do século III na Itália havia cerca de 100 bispos. Com a expansão rápida do cristianismo que ocorreu nas últimas décadas daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no Centro- Sul e na Sicília tinham um núcleo de cristãos. A penetração do Norte da Itália foi bem mais lenta e veio da Dalmácia e regiões ao Leste. A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em receber o Evangelho. Cedo, no III século, o cristianismo parece firmemente estabelecido no Sul, nas cidades costeiras. O avanço do cristianismo ao Leste além dos limites do Império Romano: a tradição indica que Tomé foi aos Partos e à Índia; Mateus à Etiópia; Bartolomeu à Índia e André aos Citos. Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre as montanhas da Armênia, ao Norte, e os desertos da Síria, ao Sul. Até o fim do II século estava fora do Império Romano e dentro da esfera da influência dos Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro de cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco. No início do III século, poucas cidades continham mais crentes que Edessa. Até o fim do século parece que ela estava predominantemente cristã. Edessa parece ter sido o ponto donde o evangelho penetrou mais na Mesopotâmia e até aos limites da Pérsia. As antigas religiões da Babilônia e da Assíria estavam em desintegração e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu principalmente do zoroastrismo, que mais tarde se 23 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 tornou a religião do estado persa (meados do III século). Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100 a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século havia mais de 20 dioceses na Mesopotâmia. No Leste, o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que conseguiu no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto possivelmente se deva a três razões: a política religiosa dos Sassanidas (dinastia persa) que favoreceu o zoroastrismo; a forte hierarquia deste com o apoio da monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o próprio êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a religião do inimigo principal dos persas; e por último, a forma herética com que o cristianismo foi pregado. Fonte: FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987. O Cristianismo Primitivo A denominação ‘cristianismo primitivo’ compreende o período que se estende da morte de Jesus em 33 a.D. até a chamada “conversão de Constantino” (306-337), ocorrida ao que parece no ano de 337 d.C. Este período pode ser dividido em três fases: a) a primeira fase está situada entre a época da vida de Jesus até o ano 100, data em que a maioria dos contemporâneos de Jesus já havia falecido; b) a segunda fase vai do ano 100 ao ano de 250, no momento em que o cristianismo se propagava fora da Palestina, principalmente nas províncias romanas mais antigas (Síria, Ásia Menor, Egito e, é claro, pela Itália, especialmente em Roma), sem, no entanto, constituir uma religião universal; e c) o terceiro momento abrange a época em que o cristianismo foi mais intensamente perseguido pelo estado romano (entre 250 e 311) até sua aceitação como religião do estado imperial romano a partir de 391 (FRÖLICH, 1987). A primeira fase é marcada por uma série de disputas doutrinais, a começar pelos apóstolos companheiros de Jesus (em especial, Paulo e Pedro); disputas essas menos em razão da condução das comunidades do que em razão da linha de interpretação da ‘palavra’ adotada; tratava-se, pois, de responder às questões fundamentais, tais como as contribuições do judaísmo ao advento do cristianismo A denominação ‘cristianismo primitivo’ compreende o período que se estende da morte de Jesus em 33 a.D. até a chamada “conversão de Constantino” (306- 337), ocorrida ao que parece no ano de 337 d.C. 24 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ e a subsequente transmissão da ‘boa nova’ para fora das fronteiras do mundo judeu. Ainda nessa época, a comunidade primitiva cristã entra em conflito direto com a autoridade judaica hierosolimita, e grande parte dos judeus passou a se distanciar do cristianismo, recusando-o e acusando-o de ser uma seita. Na segunda fase, as diferentes comunidades passam a estabelecer normas gerais, buscando um entendimento comum sobre as normas e os direitos das mesmas; aparece com mais firmeza o credo em uma ‘Lei’ universal que deve ser observada em todo o cosmos, e em um Deus que representa o princípio da justiça e do amor para todos os homens; além disso, as comunidades então estabelecidas passaram a praticar o ideal do “amor ao próximo”. Não obstante, as disputas do primeiro período causaram as primeiras crises internas, produzindo movimentos intelectuais considerados divergentes da doutrina oficial (Gnosticismo, Marcionismo e Montanismo) e compelindo os seguidores cristãos ao reconhecimento e acolhimento em nível institucional de uma única nova fé (regula fidei). No bojo dessas transformações, a igreja constituiu sua hierarquia, baseada em especial na sucessão episcopal (PIOPPI, 2012). Na terceira fase, principalmente a partir do século IV, o cânon dos escritos cristãos é mais firmemente estabelecido, isto é, desde então dá-se especial relevo às questões sobre quais escritos deveriam fazer ou não parte do corpus bíblico, quais seriam ou não considerados heréticos, como se constituiria o culto e quais seriam seus verdadeiros crentes. Além dessas divisões no tempo e no modo de agir, o cristianismo primitivo deve ser também distintamente considerado do ponto de vista geopolítico, isto é, devemos levar em conta a formação de duas comunidades diferentes em relação ao poder central romano: a primeira com seu berço na Palestina e posteriormente na Síria e no Egito, e a segunda em sua igreja em Roma. Ao que consta, a comunidade primitiva cristã em Roma parece ter nascido sob o signo da perseguição e da oposição ao império, enquanto na Palestina tratava-se de uma luta fundamentalmente entre cristãos e judeus. Essa divisão marcou profundamente toda a trajetória da igreja nos primeiros tempos, norteando sua composição política, social e cultural, dividida entre o mundo greco-romano e a herança vétero-testamentária judaica (PIOPPI, 2012). 25 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 Um Período Sombrio: as Perseguições O último período do primeiro século, que vai do ano 60 ao 100 d.C., denominamos de “Período Sombrio", em razão das perseguições que ocorriam sobre a Igreja Cristã. O cristianismo considerava todos os homens iguais. Não havia distinção entre seus membros, nem em suas reuniões, por isso foram considerados como "niveladores da sociedade", portanto anarquistas, perturbadoresda ordem social. O paganismo, em suas práticas, aceitava as novas formas e objetos de adoração que iam surgindo, enquanto o cristianismo rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração. As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas de praticarem atos imorais e criminosos, durante a celebração da Santa Ceia, eram vetada a entrada dos estranhos, a adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os aspectos da vida. Nero chegou ao poder em 54, todos os que se opunham a sua vontade, ou morriam ou recebiam ordens de se suicidar. Assim estavam as coisas quando em 64 a.D. aconteceu o incêndio em Roma. Diz-se que foi Nero quem ateou fogo à cidade, contudo essa acusação ainda é discutível. Entretanto, a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição. O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se acender em diversos lugares por mais três dias. Milhares de cristãos foram torturados e mortos, muitos serviram de iluminação para a cidade, amarrados em postes e sendo-lhes ateado fogo, muitos foram vestidos com peles de animais e jogados para os cães. Nesta época morreram: Pedro, que foi crucificado em 67; Paulo, que foi decapitado em 68, e Tiago, que foi apedrejado depois de ser jogado do alto do templo. Além de serem torturados e mortos, serviram de diversão para o povo, promovendo a velha política da Antiguidade, “pão e circo”. 26 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ No ano 81, Domiciano sucedeu ao imperador Tito, que invadira e destruíra Jerusalém no ano 70. Com a destruição de Jerusalém, Domiciano ordenou que todos os judeus deviam enviar a Roma as ofertas anuais, que eram enviadas a Jerusalém; estes, por sua vez, não obedeceram, o que desencadeou a segunda perseguição, não somente aos judeus, mas também aos cristãos. Durante esses dias, milhares de cristãos foram mortos, especialmente em Roma e em toda a Itália. Nesta época, o apóstolo João, que vivia em Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos, foi quando recebeu a revelação do Apocalipse. No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em quase todas as nações, e alguns creem que a comunidade cristã se estendia até a Espanha e Inglaterra. O número de membros da comunidade cristã subia a muitos milhões. A famosa Carta de Plínio (governador da Bitínia – hoje Turquia) ao imperador Trajano declara que os templos dos deuses estavam quase abandonados, enquanto os cristãos em toda parte formavam uma multidão, e pertenciam a todas as classes, desde a dos nobres até a dos escravos (PIOPPI, 2012). Figura 2 – Perseguições aos cristãos: crucificações, apedrejamentos, enforcamentos Fonte: Disponível em: <https://pastormarcelosantos.wordpress.com/2011/08/09/ as-perseguicoes-ao-cristianismo-primitivo/>. Acesso em: 24 nov. 2017. O fato de maior destaque na História da Igreja neste período foram, sem dúvida, as perseguições realizadas pelos imperadores romanos. Estas perseguições duraram até o ano 313 d. C., quando Constantino, o primeiro imperador romano "cristão", fez cessar todos os propósitos de destruir a igreja (PIOPPI, 2012). Os principais mártires desse Período Sombrio são: 27 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 • Inácio: provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado no ano 107 d.C. por não adorar a outros deuses. Foi morto como mártir, lançado para as feras no anfiteatro romano, no ano 108 ou 110, enquanto o povo festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem para Roma escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de morrer por seu Senhor. • Policarpo: bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser levado perante o governador, e instado para abandonar a fé e negar o nome de Jesus, assim respondeu: "Oitenta e seis anos o servi, e somente bens recebi durante todo o tempo, como poderia eu agora negar ao meu Salvador?” Policarpo foi queimado vivo. • Justino Mártir: era um dos homens mais competentes de seu tempo, e um dos principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados do segundo século. Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166. Entretanto, esse período de perseguições, denominado de sombrio, trouxe outros efeitos para a Igreja Cristã, que foram por sinal extremamente positivos e relevantes para a sua estrutura interna: • As perseguições produziram uma igreja pura, pois conservava afastados todos aqueles que não eram sinceros em sua confissão de fé. • A igreja multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa delas, a igreja crescia com rapidez assombrosa. • Os escritos do Novo Testamento foram terminados, embora a formação do Novo Testamento com os livros que o compõem, como cânon, não foi imediata. Algumas igrejas aceitavam somente alguns livros como inspirados, e outras igrejas, livros diferentes. • O crescimento e a expansão da igreja foram consequência da organização e da disciplina. A perseguição aproximou as igrejas e exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem. • O desenvolvimento da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração, uma entrega pessoal à vontade de Cristo. Entretanto, no período que agora focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma fé do intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso e inflexível de doutrinas. Nesta época surgiram três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra na África. Os maiores vultos da história do cristianismo passaram por essas escolas: Orígenes, Tertulianao e Cipriano (PIOPPI, 2012). 28 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Os Concílios Antes de adentrarmos nos concílios da Igreja Cristã da Antiguidade propriamente, entendemos que se faz necessária uma rápida conceituação do que vem a ser um concílio em primeiro momento, bem com apresentar quantos concílios tivemos ao longo da história da Igreja Cristã. Um Concílio Geral consiste numa reunião formal de representantes da igreja, junto ao papa, para tomar decisões dogmáticas e pastorais que possam ajudar no crescimento da igreja, na eliminação dos erros e na difusão das verdades da fé. Ao longo de dois mil anos de existência, a Igreja Cristã reconhece 21 Concílios Gerais e ainda acrescenta o chamado “Concílio de Jerusalém”, reunião narrada nos Atos dos Apóstolos (At 15,1-40), como parte da tradição da igreja e dos seus ensinamentos. Pedagogicamente, podemos dividir esses 21 Concílios Gerais da igreja em quatro períodos. Os concílios ficaram conhecidos pelos nomes das cidades onde o papa, bispos e outros representantes da igreja se reuniam para discutir os assuntos de fé e doutrina (ALBERIGO, 1997). Um Concílio Geral consiste numa reunião formal de representantes da igreja, junto ao papa, para tomar decisões dogmáticas e pastorais. OS PRINCIPAIS CONCÍLIOS Concílios do Primeiro Milênio: • Niceia I (325) • Constantinopla I (381) • Éfeso (431) • Calcedônia (451) • Constantinopla II (553) • Constantinopla III (680-681) • Niceia II (787) • Constantinopla IV (869-870 Concílios Medievais: • Latrão I (1123) • Latrão II (1139) • Latrão III (1179) • Latrão IV (1215) 29 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 • Lyon I (1245) • Lyon II (1274) • Vienne (1311-1312) Concílios da Reforma: • Constança (1414-1418) • Basileia-Ferrara-Florença-Roma (1431-1445) • Latrão V (1512-1517) • Trento (1545-1548/1551-1552/1562-1563) Concílios da Idade Moderna: • Vaticano I (1869-1870) • Vaticano II (1962-1965) Fonte: Disponível em: <http://www.a12.com/redacaoa12/igreja/historia-dos-concilios-gerais-da-igreja>. Acesso em: 24 nov. 2017. Na sequência, vamos apresentar os três maiores concílios que ocorreram na Igreja Cristã durante a Antiguidade. O Concílio de Niceia I Considerado como o primeiro dos três concílios fundadores da Igreja Católica, o Concílio de Niceia I foi a primeira conferência de bispos ecumênica da Igreja cristã, foi realizado de 20 de maio de 325 a 19 de junho de 325, em Niceia (hoje İznik), cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia). Foi convocado pelo imperador Constantino e abordou questões levantadas sobre a natureza ariana de Jesus Cristo: se uma pessoa com duas naturezas (humana e divina), como zelava até então a ortodoxia, ou uma pessoa com apenas a natureza humana (ALBERIGO, 1997). 30 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Figura 3 – Ícone retratando o Concílio de Niceia I Fonte: Disponível em: <https://www.google.com.br/ search?q=Ícone+retratando+o+Primeiro+Concílio+de+Nicéia>. Acesso em: 24 nov. 2017. O Concílio de Niceia I reuniu 318 bispos por um período de dois meses para resolver as diferenças entre Alexandre e Ário. Bispos de todas as províncias foram chamados ao primeiro concílio ecumênico em Niceia: um lugar facilmente acessível à maioria dos bispos, especialmente aos da Ásia, Síria, Palestina, Egito, Grécia, Trácia e Egrisi. A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente no Oriente. No Ocidente era ainda minoritária. Portanto, os bispos orientais estavam em maioria; na primeira linha de influência hierárquica estavam três arcebispos: Alexandre de Alexandria, Eustáquio de Antioquia, e Macário de Jerusalém, bem como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, bispo de Pitiunt (Bichvinta, reino de Egrisi). O Ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção relativa das províncias: Marcus de Calábria de Itália, Cecilian de Cartago de África, Osio de Córdoba (Espanha), Nicasius de Dijon, na França, e Domnus de Stridon da província do Danúbio. O papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao concílio. A causa de seu não comparecimento é motivo de discussões: uns falam que recusou o convite do imperador esperando que sua ausência representasse um protesto contra a convocação do sínodo pelo imperador; outros dizem que Silvestre já era ancião e estava impossibilitado, portanto, de comparecer. Silvestre já fora informado da condenação de Ário ocorrida no Sínodo de Alexandria (320 a 321) e para o Concílio de Niceia enviou dois representantes, Vito e Vicente (presbíteros romanos) (ALBERIGO, 1997). Os pontos discutidos no sínodo eram: 31 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 • A celebração da Páscoa; • A questão ariana; • O cisma de Milécio; • O batismo de heréticos; • O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio; • Estabelecimento da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma, Alexandria, Antioquia, Jerusalém. Foi no Concílio de Niceia I que se decidiu então resolver a questão, estabelecendo que a Páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo seguinte ao plenilúnio após o equinócio da primavera. Apesar de todo esse esforço, as diferenças de calendário entre Ocidente e Oriente fizeram com que esta vontade de festejar a Páscoa em toda a parte no mesmo dia continuasse até os dias de hoje. Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno não gerado. O Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existiria. O Cristo existiria num tempo anterior a nossa existência temporal, mas não era eterno. Por outro lado, estavam Alexandre e o jovem Atanásio, que afirmava que o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus. Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho. A cristologia de Ário foi rejeitada pelo Concílio de Niceia, afirmando que a igreja acreditava em: "um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do Pai, unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual, por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e encarnou e foi feito homem", "todos os que dizem que houve um tempo em que ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica". A páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo seguinte ao plenilúnio após o equinócio da primavera. 32 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ OS CÂNONES DO CONCÍLIO DE NICEIA O Concílio de Niceia I estabeleceu 20 cânones, os quais darão sequência ao Credo: • Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceitos aqueles que se castram. • Cânon II - Referente a não promoção imediata ao presbiterato daqueles que provieram do paganismo. • Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua causa, exceto sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima de suspeita. • Cânon IV - Relativo à escolha dos bispos. • Cânon V - Relativo à excomunhão. • Cânon VI – Relativo aos patriarcas e sua jurisdição. • Cânon VII - O bispo de Jerusalém seja honorificado, preservando-se intactos os direitos da Metrópole. • Cânon VIII - Refere-se aos novacianos. • Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime. • Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não consciência de sua culpa os que o ordenaram. • Cânon XI – Penitência que deve ser imposta aos apóstatas na perseguição de Licínio. • Cânon XII - Penitência que deve ser feita àqueles que apoiaram Licínio na sua guerra contra os cristãos. • Cânon XIII - Indulgência que deve ser dada aos moribundos. • Cânon XIV – Penitência que deve ser imposta aos catecúmenos que caíram em apostasia. • Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão de cidade para cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a igreja para a qual foram ordenados. • Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria igreja não devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos a sua própria diocese. A ordenação deve ser cancelada se algum bispo ordenar alguém que pertence à outra igreja, sem consentimento do bispo dessa igreja. • Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura deve ser excluído e deposto. 33 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 • Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas atribuições. Não devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la antes deles, nem sentar-se entre os presbíteros, pois que tudo isso é contrário ao cânon e à correta ordem. • Cânon XIX – As regras a se seguir a respeito dos partidários de Paulo de Samósata que desejam retornar à igreja. • Cânon XX - Nos dias do Senhor [refere-se aos domingos] e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados. Fonte: Disponível em: <http://www.ibconcordia.org/documentos/220413-Primeiro%20 Conc%C3%ADlio%20de%20Nic%C3%A9ia.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017. O Concílio de Constantinopla I O Concílio de Constantinopla I ocorreu de maio a junho de 381 depois de Cristo, durante o pontificado do Papa Dâmaso I (366-384), naquela época era imperador Teodósio Magno. O Segundo Concílio Ecumênico condenou o falso ensino dos denominados pneumatômacos (“adversários do espírito”), cujo principal representante foi Macedônio, arcebispode Constantinopla. Este considerava o Espírito Santo como um servo de Deus e cumpridor de Sua vontade, em algo próximo de como se considera os anjos. Daí que esta heresia não reconhecia o Espírito Santo como uma hipóstase (pessoa) da Santíssima Trindade. A Santa Igreja exerceu posição firme para proteger a pureza da doutrina e fé ortodoxa, estabelecendo as verdades básicas da doutrina cristã preservadas no Credo, que é um guia constante para todos os cristãos ortodoxos em sua vida espiritual. A doutrina da divindade do Espírito Santo e a condenação de Macedônio, patriarca que era contra essa doutrina: “Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos profetas”. “Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a mesma glória”. A sede de Constantinopla, ou Bizâncio “segunda Roma”, recebeu uma preeminência sobre as sedes de Jerusalém, Alexandria e Antioquia. Desses dois concílios anteriores surge o símbolo (Creio – Profissão de Fé) niceno- Este considerava o Espírito Santo como um servo de Deus e cumpridor de sua vontade, em algo próximo de como se considera os anjos. Daí que esta heresia não reconhecia, hipóstase. 34 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ constantinopolitano. O símbolo denominado niceno-constantinopolitano tem sua grande autoridade no fato de ter resultado dos dois primeiros concílios ecumênicos (325 e 381). Ainda hoje ele é comum a todas as grandes igrejas do Oriente e do Ocidente (CIC§ 195) (ALBERIGO, 1997). O Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno- Constantinopolitano é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. O nome está relacionado com o Primeiro Concílio de Niceia (325), no qual foi adotado, e com o Primeiro Concílio de Constantinopla (381), onde foi aceita uma versão revista. Por esse motivo, ele pode ser referido especificamente como o Credo Niceno-Constantinopolitano para o distinguir tanto da versão de 325 como de versões posteriores que incluem a cláusula filioque. Houve vários outros credos elaborados em reação a doutrinas que apareceram posteriormente como heresias, mas este, na sua revisão de 381, foi o último em que as comunhões católica e ortodoxa conseguiram concordar em todos os pontos. O Credo está dividido em 12 partes, das quais sete foram formuladas no Primeiro Concílio Ecumênico, e as outras cinco no Segundo. O Credo Niceno- Constantinopolitano ou Símbolo Niceno- Constantinopolitano é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. CREDO Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E, por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus: e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; 35 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras; E subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos; E a vida do mundo que há de vir. Amém. Fonte: Disponível em: <http://www.catolicoorante.com.br/ oracao.php?id=16>. Acesso em: 24 nov. 2017. O Concílio de Calcedônia O Concílio de Calcedônia inicia em 8 de outubro de 451 e termina em 1º de novembro de 451, durante o pontificado do Papa Leão I, no império de Marciano. 36 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Figura 4 – El Concilio de Calcedonia Fonte: Disponível em: <https://es.slideshare.net/RebecaReynaud/22- conc-calcedonia-monofisismo-san-len>. Acesso em: 24 nov. 2017. O presente Concílio reafirma a cristologia do concílio anterior: Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa (uma só hipóstase). Definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: "perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a humanidade, semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo a divindade". Em suma, reafirma a cristologia do concílio anterior: “na linha dos santos padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai, segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, ‘semelhante a nós em tudo com exceção do pecado’ (Hb 4,15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade”. Definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: “perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e da mesma substância conosco segundo a humanidade, semelhante a nós em todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos segundo a divindade”. 37 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 Entretanto, a questão do relacionamento entre o Filho e o Pai resolvida em Niceia gerou novos questionamentos, agora em torno do relacionamento entre as naturezas humana e divina de Cristo. Em geral, os teólogos ligados a Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os relacionados a Antioquia, a sua humanidade, às expensas de sua deidade (ALBERIGO, 1997). A controvérsia se iniciou no ensino de Paulo de Samósata, bispo de Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou monarquismo dinâmico. Jesus era um homem "energizado" pelo Espírito no batismo e assim exaltado à dignidade divina. Apolinário de Laodiceia foi o primeiro a negar formalmente que Jesus teve uma alma racional. No seu lugar estava o divino Logos. O presente concílio também propôs a condenação da simonia, dos casamentos mistos e das ordenações absolutas (realizadas sem que o novo clérigo tivesse determinada função pastoral) (ALBERIGO, 1997). Também propôs a condenação da simonia, dos casamentos mistos e das ordenações absolutas. Os Demais Concílios da Igreja Cristã na Antiguidade Segue um quadro com informações mais resumidas sobre os demais concílios realizados no primeiro milênio: Quadro 1 – Resumo sobre os demais concílios realizados no primeiro milênio CONCÍLIO DECISÕES PRINCIPAIS CONCÍLIO DE ÉFESO Data: 22/06 a 17/07 de 431 Papa: Celestino I (422- 432) Imperador: Teodósio, O Jovem - Cristo é uma só Pessoa e duas naturezas; - Definição do dogma da maternidade divinade Maria, contra Nestório, patriarca de Constantinopla, que foi deposto. - Maria é THEOTOKOS, “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que Ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne”. - Condenou o pelagianismo, que negava os efeitos do pecado origi- nal. CONCÍLIO DE CONSTAN- TINOPLA II Data: 05/05 a 02/07 de 553 Papa: Virgílio (537-555) Imperador: Justiniano - Condenação dos nestorianos (Teodoro de Mopsuéstia, Teodoro de Ciro e Ibas de Edessa). “Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Um na Trindade... Aquele que foi crucificado na carne, Nosso Senhor Jesus Cristo é verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um na Santíssima Trindade”. “Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Pois da mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem senão uma única e mesma operação”. “Um Deus e Pai do qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo para quem são todas as coisas, um Espírito Santo em quem são todas as coisas”. 38 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ CONCÍLIO DE CONSTAN- TINOPLA III Data: 07/11 de 680 a 16/09 de 681 Papa: Ágato (678-681) e Leão II (662-663) Imperador: Constantino Pogonato - Condenação do monotelitismo, heresia defendida pelo patriarca Sérgio de Constantinopla, que ensinava haver só a vontade divina em Cristo. - Este concílio ensinou que Cristo possui duas vontades e duas op- erações naturais, divina e humana, não opostas, mas cooperantes, de sorte que o verbo feito carne quis humanamente, na obediência a seu Pai, tudo o que decidiu divinamente com o Pai e o Espírito San- to, para a nossa salvação. - A vontade humana de Cristo “segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa”. CONCÍLIO DE NICEIA II Data: 24/09 a 23/10 de 787 Papa: Adriano I (772-795) Imperador: Constantino VI (Regente: imperatriz Irene) - Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há sentido e li- ceidade na veneração de imagens. “Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da igreja, escritas ou não escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das imagens (ícones), que concor- da com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade, e não na aparência, o Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um significado recíproco”. - Contra os iconoclastas (destruidores de imagens): há sentido e liceidade na veneração de imagens. “Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim, as venerandas e sagradas imagens pintadas, quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos parâmentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e nas ruas; sejam elas as imagens do Senhor Deus, dos santos anjos, de todos os santos e justos”. Latria (adoração) Dulia (veneração). CONCÍLIO DE CONSTAN- TINOPLA IV Data: 05/10 de 869 a 28/02 de 870 Papa: Adriano II (867-872) Imperador: Basílio de Macedônia - Excomunhão do patriarca de Constantinopla (Fócio), que foi conde- nado. - O culto das imagens foi confirmado. Fonte: Disponível em: <http://www.iscal.com.br/iscal/upload/ curso_capelania/parte-1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017. 39 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 A Queda do Império Romano A partir do século III d.C., uma profunda crise se abateu sobre o Império Romano, levando-o ao enfraquecimento. O comércio enfraqueceu, a falta de moedas em circulação fez com que o comércio se tornasse difícil devido às diferenças econômicas entre as províncias orientais e ocidentais. As dificuldades em proteger e administrar o vastíssimo império, as crescentes revoltas populares, a falta de escravos nesse período e o fim das conquistas impossibilitavam o acúmulo de riquezas, levando Roma a uma situação insustentável. Diante desse quadro, houve uma reforma política e Roma passou a ter quatro imperadores por um tempo, formando uma tetrarquia. O imperador Constantino suspendeu a tetrarquia e reformou o governo, assinou o Édito de Milão (permissão para os cristãos professarem sua fé) e transferiu a capital do império de Roma para Bizâncio (antiga colônia grega), a qual passou a se chamar Constantinopla. Alguns anos mais tarde, o Imperador Teodósio aboliu o culto aos antigos deuses romanos e tornou o cristianismo a religião oficial de Roma, através do Édito de Tessalônica em 380, o que significou o nascimento da Igreja Católica Apostólica Romana ou Igreja Romana. A respeito da fundação de Constantinopla, o imperador Constantino compreendeu que a cidade de Roma estava intimamente ligada à adoração pagã, cheia de templos e estátuas pagãs. Ele desejava uma capital sob os auspícios da nova religião. Na nova capital, a igreja era honrada e considerada, não havia templos pagãos. Logo depois da fundação da nova capital, deu-se a divisão do império. As fronteiras eram tão grandes que um imperador sozinho não podia defender seu vastíssimo território. Início da Reforma religiosa. 40 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ No ano 395 o império foi definitivamente dividido em dois: Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente com sede em Constantinopla (atual Istambul, Turquia), também conhecido como Império Bizantino. Roma teria dois imperadores. Devido à falta de mão de obra escrava e à fragilidade das fronteiras, os germânicos, que viviam nas fronteiras do império, ingressaram em terras romanas para trabalharem de forma pacífica. Com o passar do tempo e percebendo a fragilidade do Império, um grupo de tribos germânicas iniciou um processo de conquista do império. Figura 5 – A divisão do Império Romano em 395 Observa-se que o Império Romano do Oriente permanece, enquanto o do Ocidente se transformou em diversos reinos germânicos. Fonte: Disponível em: <http://historiapublica.blogspot.com.br/2009/05/ divisao-do-imperio-romano.html>. Acesso em: 16 out. 2017. 41 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 Sobre o desenvolvimento do poder na Igreja Romana, Roma reclamava para si autoridade apostólica. A igreja de Roma era a única que declarava poder mencionar o nome de dois apóstolos como fundadores, isto é, Pedro e Paulo. A organização da igreja de Roma e bem assim seus dirigentes defendiam fortemente estas afirmações. Neste ponto há um contraste notável entre Roma e Constantinopla. Roma havia feito os imperadores, ao passo que os imperadores fizeram Constantinopla. Além disso, Roma apresentava um cristianismo prático. Nenhuma outra igreja a sobrepujava no cuidado para com os pobres, não somente com os seus membros, mas também entre os pagãos. Foi assim que em todo o Ocidente o bispo de Roma começou a ser considerado como autoridade principal de toda a igreja (LE ROUX, 2013). Atividade de Estudos: 1) Neste capítulo estudamos sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, procurando conhecer um pouco da sua especificidade e historicidade a fim de conhecer a sua doutrina, origens e outros conhecimentos que temos presentes no interior da Igreja Cristã. Agora vamos procurar colocar um pouco deste conhecimento em prática, ou, quem sabe, produzir uma práxis, ou seja, empregar a teoria na prática. Assim sendo, leia o artigo disponível no link a seguir, e após a leitura elaboreum pequeno texto apresentando o que vem a ser a doutrina de Pelágio. Posteriormente, faça uma resenha comparando a controvérsia entre Pelágio com Santo Agostinho. Disponível em: <http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/ DOC_DSC_NOME_ARQUI20060607103635.pdf>. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 42 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ Algumas Considerações Como já havia sido apresentado na introdução deste capítulo, nosso objetivo é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na Antiguidade, tarefa difícil e complexa, dado o amplo período histórico que temos, pois são quase cinco séculos de história, fatos e acontecimentos para serem apresentados em poucas páginas. Mesmo assim, procuramos da melhor forma possível apresentar ao nobre leitor os fatos mais relevantes da história da Igreja Cristã na Antiguidade, procurando desde os fatos históricos e geográficos, bem como a expansão desta igreja junto ao Império Romano. Apresentamos também a Igreja Cristã diante das perseguições, período sombrio, mas que também serviu de fortalecimento interno. Entendemos que seria oportuno promover um estudo acerca dos três grandes concílios que ocorreram naquela época, que foram extremamente relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles: Niceia, Constantinopla e Calcedônia. Por fim, procuramos um rápido estudo sobre as causas da queda de Constantinopla, a fim de entendê-la. Não temos aqui a intenção de esgotar o assunto, até porque, como já foi dito, a presente obra é de caráter de introdução. Aproveitamos e desejamos ao nobre leitor uma boa leitura, assim como sucesso em seus estudos e reflexões sobre a história da Igreja Cristã, bem como da Teologia de forma geral. Referências ALBERIGO, G. História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997. BETTENCOURT, D. Estevão. As Heresias Cristológicas e Trinitárias. [s.d.]. Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-13/As_Heresias_ Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017. BIHLMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. História da Igreja. V. 2: a Idade Média. São Paulo: Paulinas, 1964. COMBY, J. Para ler a história da Igreja I - Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 1996. DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano (Coleção História da Igreja). São Leopoldo: Sinodal, 1993. 43 A Igreja Cristã na Antiguidade Capítulo 1 FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1987. HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida, 1979. LENZENWEGER, J.; STOCKMEIER, P.; AMON, K. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006. LE ROUX, Patrick. Império Romano. Tradução de William Lagos. Porto Alegre: L&PM, 2013. MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à história da Igreja. V. 1. Belo Horizonte: O Lutador, 1997. MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. V. 1 e 2. São Paulo: Paulinas, 1980. ORLANDIS, J. História Breve do Cristianismo. Rei dos Livros, 1993. PIERINI, Franco. A Idade Média: curso de história da Igreja. V. 2. São Paulo: Paulus, 1997. PIOPPI, Carlo. História da Igreja. Tema 14. MTA-PPKE: Vaticano, 2012. POTESTÀ, G. L; VIAN, G. História do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013. ROGIER, L. J; AUBERT, R; KNOWLES, M. D. Nova história da Igreja. V. 1 e 2. Petrópolis: Vozes, 1976. ROMAG, Dagoberto. Compêndio de história da Igreja. V. 2: a Idade Média. Petrópolis: Vozes, 1950. STOCKMANN, Luis Henrique. A Sã Doutrina Bíblica. Tabernáculo Evangélico A Voz De Deus. Arianismo. [s.d.]. Disponível em: <palavracriativa.org.br/site/wp- content/uploads/2015/06/ARIANISMO1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017. TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 1988. WILLIANS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica. São Paulo: Vida Nova, 1993. 44 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ CAPÍTULO 2 A Igreja Medieval A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Estudar e conhecer a formação dos monastérios. � Estudar e conhecer o sacro império romano-germânico. � Estudar e conhecer os grandes cismas da Igreja. � Estudar e compreender as Cruzadas. � Estudar e compreender a Guerra dos Cem Anos. � Estudar e compreender as causas da queda de Constantinopla. � Promover uma análise crítica da Igreja Cristã no período Medieval. 46 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ 47 A Igreja Medieval Capítulo 2 Contextualização Este capítulo pretende apresentar um estudo analítico sobre a formação de monastérios da Igreja Medieval; conhecer sua história no Sacro Império Romano- Germânico para que possamos entender como ocorreram os grandes cismas. Pretendemos, ainda, estudar as Cruzadas, episódios tão marcantes e que nos deixaram um legado; conhecer a Guerra dos Cem anos e as causas da queda de Constantinopla. De forma clara e objetiva, pretendemos promover um panorama sobre a Igreja Cristã no período Medieval (476 a 1453) não deixando de observar sua contextualização histórica. Com isso, haverá um amadurecimento de opinião tanto sobre a história da civilização quanto da Igreja diante dos acontecimentos. A Era Medieval foi um período muito rico na formação teológica da Igreja, tanto que, nos primeiros séculos da história do Cristianismo, assistiu-se a um grande florescimento da literatura cristã, homilética, teológica e espiritual. Trata- se de obras dos padres da Igreja que tiveram grande importância na formação do Cristianismo e dos monastérios. Os santos mais relevantes foram: Santo Ireneu de Leão, Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo e Santo Agostinho, no Ocidente. Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nacianceno, São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria e São Cirilo de Jerusalém, no Oriente. A Formação dos Monastérios A Idade Média compreendeu o período em que ocorreu a queda do Império Romano, séculos V ao XV, ou seja, são dez séculos ou 1.000 anos de história em que se consolidou o feudalismo com a nobreza no poder; período marcado pela força espiritual e política da Igreja Católica. O conhecimento estava restrito aos mosteiros e a grande questão discutida era a relação entre a fé e a razão, entre filosofia e teologia. O Império Romano do Ocidente foi invadido pelos povos germânicos (arianos, pagãos eslavos, escandinavos e magiares) no ano de 476, e desde então, o trabalho da Igreja passou a ser o de evangelizar e contribuir para civilizar estes povos (PIOPPI, 2012). Segundo o pesquisador, no século VI nasceu o monarquismo beneditino, que garantiu o aparecimento da prosperidade e o retorno dos mosteiros. No século VII 48 HISTÓRIA E TEOLOGIA DA IGREJA CRISTÃ foi de grande importância a ação missionária em todo o continente dos monges irlandeses e escoceses; no século VIII, a dos beneditinos ingleses, quando também terminou a etapa da Patrística, com os últimos dois padres da Igreja, São João Damasceno, no Oriente e São Beda, o venerável, no Ocidente. Com o passar do tempo, houve o desenvolvimento da vida monástica, que foi crescendo durante a Idade Média, com as congregações femininas ou masculinas, trazendo resultados positivos e negativos para a Igreja e para a sociedade. Com o crescimento dessas comunidades, tornava-se necessária alguma forma de organização, de modo que nesse período surgiram quatro grandes ordens. Para Pioppi (2012) nos séculos XIII e XIV houve a Alta Escolástica
Compartilhar