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DAS PESSOAS Toda pessoa é sujeito de direitos subjetivos e em virtude de sua existência surgiu o ordenamento jurídico. Pessoas naturais Designação atribuída às pessoas físicas – ser humano que possui os atributos físicos, psíquicos e morais e tem personalidade jurídica, sendo titular de direitos e deveres na esfera civil. Pessoa é o ser humano nascido com vida, sem distinção de qualquer natureza como: idade, sexo, raça, nacionalidade, saúde, etc. Toda pessoa natural é sujeito de direito, portanto é capaz de adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil = personalidade. Personalidade A personalidade é um atributo ou valor jurídico. Ela tem início com o nascimento com vida, no momento da primeira respiração, ainda que o nascituro esteja ligado à mãe pelo cordão umbilical ou nem tenha forma humana. O nascimento com vida atribui personalidade, ainda que advenha a morte posterior e os direitos adquiridos sejam transmitidos. Os direitos do nascituro também são resguardados, já que possui expectativa de vida, estando seus direitos assegurados sob condição suspensiva. O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano. Pode ser definida como aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. A personalidade é, portanto, o conceito básico da ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade. É a qualidade jurídica que se revela como condição preliminar de todos os direitos e deveres. Clóvis Beviláqua a define como “a aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair obrigações”. O direito reconhece personalidade também a certas entidades morais, denominadas pessoas jurídicas, compostas de pessoas físicas ou naturais, que se agrupam, com observância das condições legais, e se associam para melhor atingir os seus objetivos econômicos ou sociais, como as associações e sociedades, ou constituídas de um patrimônio destinado a um fim determinado, como as fundações. O art. 2º do Código Civil dispõe que somente adquirimos a personalidade jurídica após o nascimento com vida, mas assegura também os direitos desde a concepção. Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno, não importando tenha o parto sido natural, feito com o auxílio de recursos obstétricos ou mediante intervenção cirúrgica. O essencial é que se desfaça a unidade biológica, de forma a constituírem mãe e filho dois corpos, com vida orgânica própria, mesmo que não tenha sido cortado o cordão umbilical. Para se dizer que nasceu com vida, todavia, é necessário que haja respirado. Se respirou, viveu, ainda que tenha perecido em seguida. Lavram-se, neste caso, dois assentos, o de nascimento e o de óbito (LRP, art. 53, § 2º). Não importa, também, tenha o nascimento sido a termo ou antecipado. Muitas vezes torna-se de suma importância saber se o feto, que morreu durante o parto, respirou e viveu, ainda que durante alguns segundos, principalmente se, por exemplo, o genitor, recém-casado pelo regime da separação de bens, veio a falecer, estando vivos os seus pais. Se o infante chegou a respirar, recebeu, ex vi legis, nos poucos segundos de vida, todo o patrimônio deixado pelo falecido pai, a título de herança, e a transmitiu, em seguida, por sua morte, à sua herdeira, que era a sua genitora. Se, no entanto, nasceu morto, não adquiriu personalidade jurídica e, portanto, não chegou a receber nem a transmitir a herança deixada por seu pai, ficando esta com os avós paternos. Essa constatação se faz, tradicionalmente, pelo exame clínico denominado docimasia hidrostática de Galeno. Baseia-se essa prova no princípio de que o feto, tendo respirado, inflou de ar os pulmões. Extraídos do corpo do que morreu durante o parto e imersos em água, eles sobrenadam. Os pulmões que não respiraram, ao contrário, estando vazios e com as paredes alveolares encostadas, afundam. A medicina tem hoje recursos modernos e eficazes, inclusive pelo exame de outros órgãos do corpo, para apurar se houve ou não ar circulando no corpo do nascituro. Há, no Código Civil, embora a personalidade comece do nascimento com vida, um sistema de proteção ao nascituro, com as mesmas conotações conferidas a qualquer ser dotado de personalidade. Assim, é obrigatória a nomeação de um curador, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo esta o poder familiar (art. 1.779); pode o nascituro ser objeto de reconhecimento voluntário de filiação (art. 1.609, parágrafo único); pode receber doação (art. 542) e ser contemplado em testamento (art. 1.798); tem direito a uma adequada assistência pré-natal (ECA, art. 8º). O direito penal também o protege, penalizando o aborto. E a Constituição Federal assegura a todos, sem distinção, o direito à vida (art. 5º). A Lei n. 11.804, de 5 de novembro de 2008, que regulou os alimentos gravídicos, veio resolver esse problema, conferindo legitimidade ativa à própria gestante para a propositura da ação de alimentos. O objetivo da referida lei, em última análise, é proporcionar um nascimento com dignidade ao ser concebido. Existem duas teorias sobre o início da personalidade civil: teoria natalista e teoria concepcionista. Teoria Natalista Defende que a personalidade civil da pessoa somente inicia após o seu nascimento com vida. Ou seja, o ser somente poderá ser considerado uma pessoa após o seu nascimento com vida, quando poderá adquirir direitos e deveres na ordem civil. Enquanto está no ventre materno, o nascituro não adquire direitos e deveres. A teoria natalista reconhece que a lei assegura direitos ao nascituro, conforme a segunda parte do art. 2º do CC. No entanto, reconhece que esses direitos assegurados seriam apenas alguns direitos da personalidade, tais como: vida, integridade física, saúde. Sendo que exclui os direitos patrimoniais, tais como: direito de propriedade, de receber herança, danos morais, receber seguro etc. Existe um desdobramento da teoria natalista, que se chama teoria da personalidade condicional, que defende que a personalidade jurídica do nascituro depende de seu nascimento com vida. A aquisição da personalidade fica condicionada ao nascimento com vida do nascituro, quando aí sim poderá adquirir aqueles direitos que lhe foram reservados desde a concepção mas estavam suspensos aguardando o seu nascimento com vida. Teoria Concepcionista Defende que o nascituro já adquire a personalidade civil desde a concepção. O nascituro já teria adquirido direitos desde o momento da concepção, somente alguns efeitos desses direitos é que estariam aguardando ele nascer com vida, em especial, os direitos patrimoniais. O enunciado I, da I Jornada de Direito Civil do Conselho da JF defendeu que a proteção que o código defere ao nascituro, alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. CAPACIDADE O art. 1º do Código Civil trata da capacidade de direito. Aquela que toda pessoa natural possui, que chamamos de “capacidade de direito ou de gozo”. Em nenhum momento especifica que toda pessoa será capaz de exercer esses direitos e deveres. A capacidade de fato ou de exercício é aquela que a pessoa pode exercer pessoalmente seus direitos e deveres. A capacidade plena é a capacidade de direito (de gozo) + capacidade de exercício (de fato). Pode-se falar que a capacidade é a medida da personalidade, pois para uns ela é plena e, para outros, limitada. A que todos têm, e adquirem ao nascer com vida, é a capacidade de direito ou de gozo, também denominada capacidade de aquisição de direitos. Essaespécie de capacidade é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção. Estende-se aos privados de discernimento e aos infantes em geral, independentemente de seu grau de desenvolvimento mental. Podem estes, assim, herdar bens deixados por seus pais, receber doações etc. Personalidade e capacidade completam-se: de nada valeria a personalidade sem a capacidade jurídica, que se ajusta assim ao conteúdo da personalidade, na mesma e certa medida em que a utilização do direito integra a ideia de ser alguém titular dele. Com este sentido genérico não há restrições à capacidade, porque todo direito se materializa na efetivação ou está apto a concretizar-se. A privação total de capacidade implicaria a frustração da personalidade: se ao homem, como sujeito de direito, fosse negada a capacidade genérica para adquiri-lo, a consequência seria o seu aniquilamento no mundo jurídico. Só não há capacidade de aquisição de direitos onde falta personalidade, como no caso do nascituro, por exemplo. Capacidade não se confunde com legitimação. Esta é a aptidão para a prática de determinados atos jurídicos, uma espécie de capacidade especial exigida em certas situações. Assim, por exemplo, o ascendente é genericamente capaz, mas só estará legitimado a vender a um descendente se o seu cônjuge e os demais descendentes expressamente consentirem (CC, art. 496). A falta de legitimação alcança pessoas impedidas de praticar certos atos jurídicos, sem serem incapazes, como por exemplo, o tutor, proibido de adquirir bens do tutelado (CC, art. 1.749, I) o casado, exceto no regime de separação absoluta de bens, de alienar imóveis sem a outorga do outro cônjuge (art. 1.647); os tutores ou curadores de dar em comodato os bens confiados à sua guarda sem autorização especial (art. 580) etc. Manifestação da vontade Manifestar a vontade é quando a pessoa ao realizar contratos, negócios jurídicos de acordo com os seus interesses, desde que estejam dentro dos limites impostos pela norma. Na capacidade plena, a pessoa realiza todos os atos da vida civil, sem a ajuda de um assistente ou de um representante. Incapacidade absoluta Possui capacidade de direito ou de gozo, mas não possui capacidade de exercício ou de fato. O incapaz não pode manifestar sua vontade, que será manifestada através de seu representante. Os absolutamente incapazes são os menores de 16 anos. Critério unicamente baseado na idade. Os representantes podem ser: os pais, ou tutores, quando os menores não possuírem pais, ou serem filhos de pais que perderam o poder familiar. A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. A inobservância dessa regra provoca a nulidade do ato. Incapacidade relativa Possui capacidade de direito ou de gozo, mas possui capacidade de exercício ou de fato limitada. O relativamente incapaz pode manifestar sua vontade, mas deverá ser assistido por seu assistente. Os relativamente incapazes são: os maiores de 16 anos e menores de 18 anos - os ébrios habituais e os viciados em tóxicos - aqueles que por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade (deficiência mental; perda de memória) - os pródigos. Embora possuam incapacidade relativa, podem realizar alguns atos sem o auxílio de outras pessoas: fazer testamento - celebrar contrato de trabalho - ser testemunha em um processo - votar - outros que estejam previstos em lei. Podem ser assistentes: os pais (nos casos dos menores de 18 anos e maiores de 16 anos), os tutores (os menores não possuírem pais, ou serem filhos de pais que perderam o poder familiar) e os curadores, que assistem os maiores relativamente incapazes. Os ébrios habituais e os toxicômanos somente serão interditados e terão a capacidade relativa caso o uso da droga ou do álcool seja habitual e interfira no discernimento dos atos da vida civil. A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade. Quando necessária a assistência, ambos participam do ato: o relativamente incapaz e seu representante. Se necessário for assinar algum documento, ambos o assinarão. Se faltar a assinatura de um deles, o ato será anulável. Cessação da incapacidade Uma das modalidades de cessação da incapacidade é quando o incapaz completa os 18 anos. A maioridade é um critério puramente objetivo, que se prova pelos documentos de registro civil, tais como certidão de nascimento ou carteira de identidade. Outra modalidade é a antecipação da capacidade civil através da emancipação. Há 03 tipos de emancipação: voluntária - judicial - legal. • requisitos da emancipação voluntária: vontade dos pais - vontade do menor - realizada em cartório (através de instrumento público - certidão de emancipação) - não depende de homologação judicial - o menor precisa ter 16 anos completos. A vontade tem que ser de ambos os pais. Quando um não existir mais, basta o do outro. Em caso de discordância, existe a possibilidade da ação judicial para suprir a falta do consentimento, onde o juiz sentenciará se consente ou não. No caso, o juiz não emancipa, ele supre a falta do consentimento. • requisitos da emancipação judicial (quando o menor não possui os pais): o menor possui um tutor - o menor precisa ter 16 anos completos - o juiz deve ouvir o tutor (não significa que seguirá a opinião do tutor) - a emancipação é conferida por sentença. • requisitos da emancipação legal: casamento (tem que ser válido, com base na lei e em caso de posterior divórcio, a emancipação permanece) - exercício de emprego público efetivo (passou em concurso público e entrou em exercício no cargo) - colação de grau em ensino superior (não é considerado o curso técnico) - economia própria em função de estabelecimento civil, comercial ou relação de emprego, desde que tenha 16 anos completos. A emancipação, em qualquer de suas formas, é irrevogável. Não podem os pais, que voluntariamente emanciparam o filho, voltar atrás. Irrevogabilidade, entretanto, não se confunde com invalidade do ato (nulidade ou anulabilidade decorrente de coação, p. ex.), que pode ser reconhecida na ação anulatória. A emancipação só deve ser concedida em consideração ao interesse do menor. As emancipações voluntária e judicial devem ser registradas em livro próprio do 1º Ofício do Registro Civil da comarca do domicílio do menor, anotando-se também, com remissões recíprocas, no assento de nascimento (CC, art. 9º, II; LRP, art. 107, § 1º). Antes do registro, não produzirão efeito (LRP, art. 91, parágrafo único). Quando concedida por sentença, deve o juiz comunicar, de ofício, a concessão ao oficial do Registro Civil. A emancipação legal (casamento, emprego público etc.) independe de registro e produzirá efeitos desde logo, isto é, a partir do ato ou do fato que a provocou. FONTE: DIREITO EM TELA