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RIBEIRO, Darcy. Gestação étnica. In.: ______. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 88-120
CATIVEIRO INDÍGENA
“A escravidão indígena predominou ao longo de todo o primeiro século. Só no século XVII a escravidão negra viria a sobrepuja-la”. (pág. 88)
“O índio era tido, ao contrário, como um trabalhador ideal para transportar carga ou pessoas por terras e por águas, para o cultivo de gêneros e o preparo de alimento, para a caça e a pesca”. (pág. 88)
“Nas missões jesuíticas tiveram oportunidade de se fazerem tipógrafos, artistas plásticos, músicos e escritores”. (pág. 88)
“A Função básica da indiada cativa foi, porém, a de mão de obra na produção de subsistência”. (pág. 88)
“O índio cativo se converteu no escravo dos pobres, numa sociedade em que os europeus deixaram de fazer qualquer trabalho manual”. (pág. 89)
“O Brasil central, a zona da mata de Minas, do Espirito Santo e da Bahia, bem como as regiões de araucária do Sul do Brasil dera, também, larga provisão de braços cativos, à medida que foram sendo devassadas. Em todas essas áreas, o cativeiro a povos índios que resistiam à expansão foi decretado pelo rei de Portugal como legal, porque obtido em guerras justas como o índio capturado é uma fração da tribo avassalada, porque muitíssimos deles morrem na luta pela própria liberdade, outros fogem no cativeiro, o processo de apresamento como forma de recrutar a mão de obra nativa para a colonização constituiu um genocídio de proporções gigantescas”, (pág. 92)
“O índio, é um catecúmeno, quer dizer, um herege que está sendo cristianizado e assim recuperado para si mesmo, em beneficio de sua salvação eterna”. (pág. 92-93) 
“Estado ali, porém, deviam trabalhar para seu sustento e para fazer prospera a comunidade de que passavam a fazer parte, também podiam ser recrutados a qualquer hora para a guerra contra qualquer força que ameaçasse os interesses coloniais”. 
“Podiam também ser mandados às vilas para trabalho compulsório de interesse publico na edificação de igrejas, fortalezas na urbanização de cidades, na abertura de estradas, ou como remeiros e cozinheiros, ou serviçais de grandes expedições ou no que mais lhe fosse indicado, sempre em beneficio da coletividade que passara a integrar”. (pág. 93)
“Expulsos os jesuítas, a situação piorou muito, porque as suas missões foram entregues, ao Norte, às famílias de contemplados que passaram a explorá-las como fazendas privadas.” (pág. 93) 
“A expulsão pombalina que visava, nominalmente, liberar os índios das missões jesuíticas, integrando-os como iguais e até com certos privilégios na comunidade colonial, representou enorme logro. O regulamento que então se baixou aboliu o trabalho compulsório bem como os turnos semestrais alternados de trabalho na missão de fora ou arrendamentos para as diferentes colônias”. (pág. 94)
“Enquanto o índio era arrendado, não custando senão o preço do seu arrendamento, daria tanto mais lucro quanto menos comesse e quanto mais rapidamente realizasse as tarefas para que era alugado.” (pág. 94)
OS BRASILINDIOS
“Gerados por país brancos, a maioria deles lusitanos, sobre mulheres índias, dilataram o domínio português exorbitando a dação de papel das Tordesilhas, excedendo a tudo que se podia esperar”. (pág. 95)
“Os brasilíndios foram chamados de mamelucos pelos jesuítas espanhóis horrorizados com a bruteza e desumanidade dessa gente castigadora de seu gentio materno”. (pág. 96)
“Nossos mamelucos ou brasilíndios foram, na verdade, a seu pesar, heróis civilizadores, serviçais del-rei, impositores da dominação que os oprimia”; (pág. 97)
“Os brasilíndio ou mamelucos paulistas foram vitimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar-se, mas que os viam com impuros filhos da terra.”
“A segunda rejeição era a do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita sua semente”. (pág. 97) 
“Não podendo identificar-se com uns nem com outros de sues ancestrais, que o rejeitavam, o mameluco caía numa terra de ninguém, a partir da qual constrói sua identidade de brasileiro” (pág. 97)
“A vida do índio cativo não podia ser mais dura como cargueiro ou remador, que eram seus trabalhos principais.” (pág. 100)
“Porém os índios se tornavam cada vez menos índios no plano cultural, acabando por ser quase idênticos aos brasileiros de sua região na língua que falam, nos modos de trabalhar, de divertir-se e até nas tradições que cultuam”. (pág. 101) 
OS AFRO-BRASILEIROS
“Os negros do Brasil foram trazidos principalmente da costa ocidental africana”. (pág. 102) 
“A contribuição cultural do negro foi pouco relevante na formação daquela protocélula original da cultura brasileira. Aliciando para incrementar a produção açucareira, comporia o contingente fundamental da mão-de-obra. Apesar do seu papel como agente cultural ter sido mais passivo do que ativo, o negro teve uma importância crucial, tanto por sua presença como massa trabalhadora que produziu quase tudo que aqui se fez, como porém sua introdução sorrateira mas tenaz e continuada, que remarcou o amalgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes.” (pág. 102)
“A diversidade linguística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, somada a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e a politica de evitar a concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até mesmos navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano”. (pág. 103)
“Os negros escravos se viram incorporados compulsoriamente a comunidades atípicas, porque não estavam destinados a atender às necessidades de sua população, mas sim aos desígnios venais do senhor”. (pág. 103) 
“O negro transita, assim, da condição de boçal – preso ainda à cultura autócne e só capaz de estabelecer uma comunicação primaria com os demais integrantes do novo contorno social”. (pág. 104)
“A empresa escravista, fundada na apropriação de seres humanos através da violência mais crua e da coerção permanente, exercida através dos castigos mais atrozes, atua como uma desumanizadora e deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compreensão, qualquer povo e desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro para ser ninguém ao ver-se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga, depois, para ser outro, quando transfigurado etnicamente na linha consentida pelo senhor, que é a mais compatível com a preservação dos seus interesses.” (pág. 106)
“Uma morte prematura numa tentativa de fuga era melhor, quem sabe, que a vida do escravo trazido de tão longe para cair no inferno da existência mais penosa.” (pág. 106)
“Sem amor de ninguém. Sem família, sem sexo que não fosse a masturbação, sem nenhuma identificação possível com ninguém – seu capataz podia ser um negro, seus companheiros de infortúnio, inimigos – maltrapilho e sujo, feio e fedido, perebento e enfermo, sem qualquer gozo ou orgulho do corpo, vivia sua rotina. Esta era sofrer todo dia o castigo diário das chicotadas soltas, para trabalhar atento e tenso. Semanalmente vinha um castigo preventivo, pedagógico, para não pensar em fuga, e, quando chamava atenção, recaía sobre ele um castigo exemplar, na forma de mutilações de dedos, do furo de seios, de queimaduras com tição, de ter todos os dentes quebrados criteriosamente, ou dos açoites no pelourinho sob trezentas chicotadas de uma vez, para matar, ou cinquenta chicotadas diárias, para sobreviver. Se fugia e era apanhado, podia ser marcado com ferro em brasa, tendo um tendão cortado, viver peado com uma bola de ferro, ser queimado vivo, em dia s de agonia, na boca da fornalha ou, de uma vez só, jogado nela para arder como um graveto oleoso”. (pág. 107- 108) 
OS NEOBRASILEIROS
“Graças à autoindentificação própria e nova que iam assumindo e. também, ao acesso a múltiplas inovações socioculturais e tecnológicas, as comunidades neobrasileiras nascentes se capacitaram a dar dois passosevolutivos. Primeiro, o de abranger maior número de membros do que as aldeias indígenas, liberando parcelas crescentes deles das tarefas de subsistência para o exercício das funções especializadas. Segundo incorporar todos eles numa só identidade étnica, estruturada como um sistema socioeconômico integrado na economia mundial”. (pág. 108)
“O idioma tupi foi a língua materna de uso corrente desses neobrasileiros até meados do século XVIII. De fato, o tudo, inicialmente, se expandiu mais que o português como a língua da civilização. Com efeito, a língua geral, surge no século XVI do esforço de falar o tupi com boca de português, se difunde rapidamente como a fala principal tanto dos núcleos neobrasileiros como dos núcleos missionários”. (pág. 109)
“A substituição da língua geral pela portuguesa como língua materna dos brasileiros só se completaria no curso do século XVIII. Mas desde antes vinha se efetuando, de maneira mais rápida e radical onde a economia era mais dinâmica e, em consequência, era maior a concentração de escravos negros e de povoadores portugueses, e, mais lentamente, nas áreas economicamente marginais, como a Amazônia e o extremo sul”. (pág. 110)
“O mesmo processo de sucessão ocorre com a tecnologia produtiva”. (pág. 111)
“Essa base tecnológica indígena, desde o primeiro momento, vem sendo enriquecida por contribuições europeias que, pouco a pouco, aumentaram a sua produtividade” (pág. 111)
“As casas dos novos núcleos se reduzem enormemente de dimensão em relação às malocas indígenas porque, em lugar de acolherem famílias menores ou a escravaria”. (pág. 111)
“Os principais elementos aglutinadores dos novos núcleos são um comando administrativo e político, representado localmente pelas autoridades seculares e eclesiásticas, e uma gerência socioeconômica a cargo do empresariado de produtores e comerciantes”. (pág. 112)
“No conjunto dessa população colonial, destaca-se prontamente uma camada superior, desligada das tarefas produtivas, formadas por três setores letrados, participantes de certos conteúdos eruditos da cultura lusitana. Tais eram: uma burocracia colonial comandada por Lisboa, que exercia as funções de governo civil e militar, outra religiosa que cumpria o papel de aparato de indoutrinação e catequese dos índios e de controle ideológico da população sob regência de Roma; e finalmente, uma terceira, que viabilizava a economia de exportação, representada por agentes de casa financeiras e de amadores, atenta aos interesses e ás ordens dos portos europeus importadores de artigos tropicais”. (pág. 112)
OS BRASILEIROS
“O primeiro brasileiro consciente de si foi, talvez, o mameluco, esse brasilíndio mestiço de carne e espírito, que não podendo identificar-se com os que foram seus ancestrais americanos – que ele desprezava –, nem com os europeus que o desprezavam – e sendo objeto de mofa dos reinóis e dos luso-nativos, via-se condenado a pretensão de ser o que não era nem existia: O brasileiro. (pág. 114 – 115)
“Esses mulatos ou era brasileiros ou não eram nada, já que a identificação com o índio, com o africano ou com o brasilíndio era impossível. Além de ajudar a propagar o português como língua corrente, esses mulatos, somados aos mamelucos, formaram logo a maioria da população que passaria, mesmo contra sua vontade, a ser vista e tido como a gente brasileira.” (pág. 115)
“A assunção de sua própria identidade pelos brasileiros, como de resto por qualquer outro povo, é um processo diversificado, longo e dramático.” (pág. 117)
“Temos aqui duas instâncias. A do ser formado dentro de uma etnia, sempre irredutível por sua própria natureza, que amarga o destino do exilado, do desterrado, forçado a sobreviver, no que sabia ser uma comunidade de estranhos, estrangeiros a ela, sozinho ele mesmo. A outra, do ser igualmente desgarrado, como cria da terra, que não cabia, porém, nas entidades étnicas aqui constituídas, repelido por elas como um estranho, vivendo á procura de sua identidade”. (pág. 118)
“O surgimento de uma etnia brasileira, inclusiva, que possa envolver e acolher a gente variada que aqui se juntou, passa tanto pela anulação das identificações étnicas de índios, africanos e europeus, como pela indiferenciação entre as varias formas de mestiçagem, como os mulatos, caboclos ou curibocas”. (pág. 119)
“Só por esse caminho, todos eles chegam a ser uma gente só, que se reconhece como igual em alguma coisa tão substancial que anula suas diferenças e os opõe a todas as outras gentes. Dentro do novo agrupamento, cada membro, como pessoa, permanece inconfundível, mas, passa a incluir suas pertenças a certa identidade coletiva. (pág. 120)

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