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09-TGC – Módulo V - Prof. Paulo Eduardo Sabio

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Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio
Direito Penal I – Aula 09
Teoria Geral do Crime – Módulo V
Resultado
Nexo de Causalidade
1. Considerações Iniciais 
Nesta aula cuidaremos de estudar os outros dois elementos do fato típico que ainda não foram abordados, e que se revestem de inquestionável importância, quais sejam: o resultado e o nexo de causalidade . Comecemos então esta nossa aula com o estudo do “resultado” . 
2. Resultado
De início cumpre salientar que, em apertada síntese, o resultado pode ser conceituado como sendo a modificação no mundo exterior provocada pela conduta ( teoria naturalística), ou a lesão ou ameaça de lesão a um interesse penalmente protegido ( teoria normativa). 
A propósito: antes de falarmos das duas teorias que buscam conceituar o “resultado”, vale relembrar que, no que toca ao resultado, os crimes podem assim ser classificados: 
Crimes Materiais: estes pode ser entendidos com sendo os crimes que só se consumam com a produção do resultado naturalístico, como por exemplo, o homicídio, que só se consuma com a morte da vítima. 
Sendo que: nesta espécie de delitos, o legislador descreve a conduta do autor e a modificação causada no mundo exterior por tal conduta. 
Por exemplo: no Roubo ( art. 157), há a ação de ameaçar gravemente ou violentar a vítima, e o resultado que é a subtração de coisa alheia móvel. É de se observar que sem o resultado naturalístico ( subtração de coisa alheia móvel), a infração fica descaracterizada. Para que se compreenda melhor o que estamos falando, convém darmos uma olhada no supra mencionado artigo 157: 
Roubo
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa. 
Crimes Formais: ao contrário dos crimes materiais, nestes delitos o tipo não exige a produção do resultado naturalístico para a consumação da infração, embora seja possível sua ocorrência. Como bem assevera o Profº. Fernando Capez, o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a infração penal se consume. 
Sendo que: nos crimes formais o legislador descreve apenas o comportamento do sujeito, não fazendo qualquer referência à mudanças no mundo externos produzida pela infração. 
A propósito: para que se elucide de uma forma mais eficaz o conceito de crime formal temos por oportuno citarmos dois exemplos: 
no crime de ameaça, que é previsto pelo artigo 147 do Código penal, a intenção do agente é intimidar a vítima, contudo tal intimidação é irrelevante para a consumação do delito. Não importa se a conduta do agente será capaz de intimidar a pretensa vítima ou não. Vamos dar uma olhada no dispositivo que incrimina a ameaça: 
Ameaça
Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro , meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. 
Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. 
OBS: perceba que o artigo supra citado fala em “ameaçar alguém de causar-lhe mal injusto”, não exigindo o tipo penal que tal ameaça atinja seu objetivo, qual seja, a intimidação. 
 
No crime de extorsão mediante seqüestro, que é previsto pelo artigo 159 do Código Penal, o pagamento do resgate exigido é irrelevante para a realização do tipo. Nesses casos, tal como ensina-nos o Profº.Fernando Capez, há uma incongruência ( discordância, desarmonia) entre o vim visado pelo agente e o resultado exigido pelo tipo. 
Ou seja: o agente quer receber o resgate, mas o tipo contenta-se com menos para a consumação da extorsão mediante seqüestro. Por isso, estes tipos penais também são denominados pela doutrina, de tipos incongruentes. Vamos dar uma olhada no dispositivo que cuida de incriminar a extorsão mediante seqüestro, pois temos por certo que isso será de grande valia para a compreensão adequada do que estamos falando: 
Extorsão Mediante Seqüestro
Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. 
Pena – reclusão de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
Crimes de Mera Conduta: nesses casos o resultado naturalístico, além de irrelevante, é impossível de acontecer, pela própria natureza da conduta descrita no tipo. No caso de violação de domicílio, por exemplo, ( art. 150) ou desobediência ( art.330), não existe nenhum resultado que provoque modificação no mundo concreto. 
Ou seja: nesses casos, o legislador apenas descreve o comportamento do agente, sem fazer qualquer menção à modificações ocasionadas no mundo exterior, até mesmo porque, nos crimes de mera conduta, estas ( modificações no mundo concreto) nem poderiam ocorrer. 
A propósito: vamos dar uma olhada nos artigos 150 e 130 do Código Penal, para que assim se possa melhor compreender o que estamos a expor: 
Violação de Domicílio
Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem, de direito, em casa alheia ou em suas dependências. 
Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa. 
Desobediência
Art. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público: 
Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses e multa. 
Saiba que: resolvemos falar, mais uma vez, da classificação das infrações penais quanto ao resultado, para que assim se possa melhor compreender os tópicos que serão abordados na presente aula. 
Sendo que: feitos estes esclarecimentos iniciais, cumpre fazermos, agora, alguns breves comentários acerca das duas teorias que buscam conceituar o “resultado”, quais sejam: a teoria naturalística e a teoria normativa ou jurídica. 
Teoria Naturalística: sob o enfoque “naturalista” , o resultado pode ser conceituado como sendo a modificação no mundo exterior provocada pela conduta. Para esta teoria apenas podem ser consideradas como sendo resultado de uma conduta, as modificações provocadas no mundo exterior que forem perceptíveis aos sentidos . 
Ou seja: para esta teoria apenas são consideradas resultado, as modificações produzidas no mundo exterior que podem ser vistas, tocadas, enfim, “percebidas”. 
Teoria Jurídica ou Normativa: de acordo com esta teoria, resultado é toda lesão ou ameaça de lesão a um interesse penalmente relevante. Segundo a teoria jurídica ou normativa , tal como ensina-nos o Profº. Fernando Capez, todo crime tem resultado jurídico porque agride um bem jurídico tutelado pela norma penal. 
Perceba que: esta teoria, não exige que o resultado seja “perceptível aos sentidos”, e leva em consideração a lesão ou ameaça de lesão a um interesse penalmente protegido, sendo que tais lesões o ameaças de lesão, segundo esta teoria , nem sempre causam uma modificação no mundo dos sentidos. 
A propósito: vejamos agora as principais polêmicas que surgem quando se trata do “resultado” enquanto elemento do fato típico. 
Lembre-se que: tal como fora exposto anteriormente, uma teoria ( a naturalística), considera como sendo resultado apenas as modificações do mundo exterior ocasionadas pela conduta que forem perceptíveis aos sentidos, pouco importando o aspecto da lesividade ao bem penalmente tutelado. 
Em outros termos: Para a teoria naturalística, apenas no caso dos crimes materiais é indispensável a ocorrência do resultado, sendo que nos crimes formais, o resultado poderá ou não ocorrer, e nos crimes de mera conduta este ( resultado) não existe. 
Perceba que: para os adeptos da teoria naturalística, portanto, pode haver crime sem resultado , uma vez que nos crimes de mera conduta, por exemplo, com já fora exposto, não há nenhum resultado naturalístico, não há nenhuma alteração no mundo externo que seja perceptível aos sentidos. 
Isto porque: para os adeptos da teoria em comento ( naturalística), não se deve confundir o resultado com a ofensa ao interesse tutelado pela norma penal. Assim, segundo esta teoria, é certo que todo crime lesa ou ameaça um bem penalmenteprotegido, entretanto, existem crimes que não possuem resultado ( naturalístico). 
Em contrapartida: para a teoria normativa ou jurídica, o resultado deve ser entendido como sendo a ofensa ou ameaça ao bem penalmente protegido. Aqui o resultado é conceituado juridicamente, e independe de se expressar através de uma modificação no mundo exterior que seja perceptível aos sentidos. 
Sendo assim: para os adeptos da teoria normativa ou jurídica, mesmo nos crimes formais e de mera conduta (lembra deles ?), sempre existirá um resultado, que como já se expôs, deve ser considerado como sendo, segundo esta teoria, a lesão ou ameaça de lesão a bem penalmente protegido. 
Em Suma: para os adeptos da teoria naturalística, pode existir crime sem resultado, e a ausência deste nem sempre leva à atipicidade da conduta. 
Ao passo que: para os adeptos da teoria normativa ou jurídica, não se deve falar em crime sem resultado, uma vez que, para eles, todos os crimes possuem um resultado, mas nem sempre este resultado será perceptível aos sentidos. 
Ou seja: para os normativistas, o crime sempre produz um resultado jurídico, mesmo que não produza nenhum resultado naturalístico . 
Saiba que: apesar de a maioria dos doutrinadores pátrios serem adeptos da teoria naturalística, alguns outros doutrinadores de reconhecida competência, mesmo que em menor quantidade, se opõem a teoria naturalística, como Nelson Hungria, por exemplo, que foi um dos maiores penalistas de nossa história e para quem era inconcebível à idéia de que pode haver crime sem resultado. Sobre este particular aspecto, assim lecionava o referido doutrinador: 
“Não existe crime sem resultado. A toda ação ou omissão penalmente relevante corresponde um eventus damni ( dano) ou um eventus perculi( perigo de dano), embora às vezes não seja perceptível aos sentidos.”
Sendo que: o Profº. Júlio Fabbrini Mirabete, que é um dos penalistasmais importantes da atualidade, também é adepto da teoria normativa, e critica severamente a teoria naturalística, porque a nossa lei penal prevê a ocorrência de delitos onde não há resultado naturalístico, como os crimes de mera conduta, anteriormente estudados. 
A propósito: nós, particularmente, cremos ser mais coerente a teoria normativa ou jurídica, pois uma vez que nem todos os crimes possuem resultado naturalístico, o conceito de resultado que nos é fornecido pela teoria naturalística não se aplica à todos os crimes descritos em nosso Código Penal. E esse é, de acordo com o nosso entendimento, a maior falha da teoria naturalística.
Ou seja: uma vez que a lei penal pátria descreve delitos onde não há ocorrência de uma resultado naturalístico, é necessário procurar um conceito jurídico ou normativo para a idéia de resultado, que sirva para todos os crimes descritos pelo nosso Código Penal. 
Sendo assim: não se deve ter receio em afirmar que existem crimes sem resultado naturalístico, mas, ao mesmo tempo, não se deve duvidar que todo crime produz um “resultado jurídico”. 
3. Nexo de Causalidade
É chegada a hora de estudarmos este tal de nexo de causalidade, que nada mais é do que a ligação fática, causal, entre a conduta do agente e um determinado resultado. 
Sendo que: é por bem que se tenha em mente, desde já, que um resultado só pode ser imputado ao agente se houver ligação entre esse ( resultado) e a sua conduta, se houver nexo de causalidade. 
Saiba, ainda que: o nexo de causalidade é um dos elementos do fato típico e portanto, se não houver uma ligação entre o resultado e a conduta, se estiver ausente o nexo de causalidade, ficará desde logo excluída a tipicidade. 
A propósito: para que se possa bem compreender esta tal de nexo de causalidade, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que podem assim serem transcritas: 
“A mata B a golpes de faca. Há o comportamento humano (atos de desferir facadas) e o resultado (morte). O primeiro elemento é a causa, o segundo o efeito. Entre um e outro há uma relação de causalidade, pois a vítima faleceu em conseqüência dos ferimentos produzidos pelos golpes de faca.” 
( Grifo Nosso) 
Como se pode perceber: o estudo do nexo causal objetiva responder a seguinte pergunta: O que causou o resultado ? 
Sendo que: se o resultado foi causado pela conduta do agente, se a conduta do agente foi a causa do resultado, este lhe deverá ser imputado. E, ao contrário, se o resultado não foi causado pela conduta do agente, obviamente, este (agente) não poderá ser responsabilizado penalmente por aquele ( resultado). 
A propósito: convém, neste momento, darmos uma lida no dispositivo legal que cuida do tema, qual seja: o artigo 13 do Código Penal. Vamos ao dispositivo: 
Relação de Causalidade
Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente
§ 1º. A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Preste muita atenção: via de regra, um resultado penalmente relevante é antecedido por vários acontecimentos. 
Vamos exemplificar: Tício compra uma arma, vai até sua casa e lava seu carro, e depois vai até a casa de Perônio e o mata com vários tiros. 
Perceba que: nem todos os acontecimentos que antecederem a produção do resultado “morte” podem ser considerados “causa” do resultado
Sendo que: para a necessária delimitação do conceito de causa, surgiram teorias e técnicas, que acabam por conceituam e determinam o que pode e o que não pode ser considerado como “causa” do resultado. 
A propósito: a primeira teoria a ser abordada, dentro deste nosso estudo sobre o “nexo de causalidade”, é a teoria da equivalência das condições, também conhecida como teoria da “conditio sine qua non”, e em apertada síntese, podemos expor que, para esta teoria, considera-se causa todo fato sem o qual o resultado não teria ocorrido. 
Saiba que: alguns doutrinadores afirmam que o nosso legislador, ao disciplinar o nexo de causalidade, adotou a teoria da equivalência dos antecedentes, pois, tal como pudemos ver anteriormente, o artigo 13, “caput”, diz ser causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Entretanto: a teoria da equivalência das condições não é suficiente para disciplinar o nexo de causalidade. 
Pare e pense: se a teoria da conditio sine qua non atuasse sozinha, o conceito de causa seria demasiadamente amplo, possibilitando-se que o resultado fosse imputado à pessoas que, nem de longe, poderiam prever sua ocorrência. 
Vamos explicar: de acordo com a teoria da equivalência das condições, como já se expôs, causa é toda ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, certo ? 
Pois bem: diante de tal premissa, imaginemos o seguinte exemplo: uma moça, solteira, grávida de 03 meses, resolve abortar, pois o suposto pai da criança a abandonou. De acordo com a teoria da conditio sine qua non , o suposto pai também poderia ser responsabilizado pelo resultado, pois, mesmo que indiretamente, deu causa ao resultado, pois se ele não tivesse desprezado a gestante, ela teria suportado a gravidez até o fina da gestação. 
Como se pode perceber: a teoria da equivalência das condições não resolve de maneira satisfatória a questão do nexo de causalidade e, segundo a maioria dos autores, seu principal defeito é a inadequada abrangência que se atribui ao conceito de causa, sendo que, sobre este particular aspecto, assim leciona Flávio Augusto Monteiro de Barros: 
“Dentre as objeções levantadas contra a doutrina da conditio sine qua non, destaca-se a do regressus ad infinitum. Os opositores sustentam que, de causa em causa se remonta logicamente ao infinito, respondendo por homicídio os genitores do homicida apenas porque o geraram, ou o fabricante da arma, apenas porque a fabricou.”
( GrifoNosso) 
Saiba que: em 1894, o Professor Thyrén desenvolveu o chamado processo de eliminação hipotética, sendo que, segundo este método, para saber se uma ação é causa do resultado, basta, mentalmente, excluí-la da série de acontecimentos causais, e se, com a exclusão desta ação, perceber-se que o resultado teria deixado de acontecer, ela pode ser considerada causa. 
Veja: o método de processo de eliminação hipotética de Thyrén não é tão complicado quanto possa, eventualmente, parecer. Basta que se fixe, que se apreenda, que segundo esta técnica, causa é todo fato que, suprimindo-se mentalmente, o resultado não teria ocorrido como ocorreu, no momento que ocorreu. 
A propósito: a teoria da conditio sine qua non vai de encontro aos principais preceitos modernos da ciência penal, principalmente porque através dela se poderia responsabilizar penalmente uma pessoa mesmo que não ela tivesse agido com dolo ou culpa, que como se verá em aula posterior, são os dois elementos psicológicos que devem, necessariamente, estar atrelados à conduta do agente, uma vez que estão, sempre, inseridos no próprio tipo penal.
Sendo que: se o agente não agiu como dolo ou culpa, não há que se falar em responsabilidade penal, em reprovação da conduta. Como bem leciona o Profº. Julio Fabbrini Mirabete, a adoção da teoria da conditio sine qua non tem mais relevância para excluir quem não praticou o fato típico do que para incluir quem o cometeu. 
No entanto: modernamente, o Direito Penal faz uso de alguns critérios e conceitos científicos que acabam por suprir as falhas da teoria da conditio sine qua non, pois ajudam a delimitar o conceito de causa, e uma das principais limitações à referida teoria está ligada a exigência de constatação, no caso concreto, da presença de dolo ou culpa. 
Em outros termos: atualmente é incontestável que não há que se falar em responsabilidade penal quando não estiverem presentes nem o dolo e nem a culpa. A ausência de dolo ou culpa impede que se atribua tipicidade à uma determinada conduta. 
Sendo que: esta é uma das principais limitações à teoria da conditio sine qua non pois por mais que a conduta do agente tenha contribuído para o resultado e possa, portanto, para a teria da equivalência dos antecedentes causais ( conditio sine qua non ) ser considerada causa do resultado, não se haverá que falar em tipicidade da conduta se o agente não tiver agido nem dolosa, nem culposamente, pois o dolo e culpa também fazem parte do tipo penal. 
A propósito: acerca deste particular aspecto, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Cezar Roberto Bitencourt, que podem assim serem transcritas: 
“A cadeia causal, aparentemente infinita sob a ótica puramente naturalística, será sempre limitada pelo dolo ou pela culpa.”
( Grifo Nosso)
Preste atenção: não obstante o fato de o dolo e culpa estarem programados para serem abordados em uma aula posterior, cumpre fazer alguns breves esclarecimentos que se fazem extremamente necessários neste momento: age dolosamente quem quer produzir o resultado ( dolo direto), quem tem como finalidade a prática de uma conduta criminosa, bem como quem assume o risco de produzir um determinado resultado ( dolo eventual). 
Em contrapartida: age culposamente quem, apesar de não ter a intenção de cometer um crime, comete um “descuido intolerável” que lesiona um bem penalmente protegido. E este descuido, esta inobservância do dever de cuidado, é ocasionada por negligência, imprudência ou imperícia. 
A propósito: mais adiante estudaremos de forma mais cuidados o dolo e a culpa, como já se expôs. 
Continue prestando atenção: outro importante avanço no estudo do nexo de causalidade que também acabou por limitar a teoria da conditio sine qua non, foi a constatação de que, nem sempre a conduta do agente atua de maneira isolada para a produção do resultado. 
E tem mais: chegou-se à conclusão de que, por vezes, ainda que o agente tenha a efetiva vontade de produzir a resultado, este ( resultado) é se dá por uma causa totalmente desvinculada da conduta do agente. 
Sendo que: quando estivermos diante de um resultado que ocorreu de maneira totalmente desvinculada da conduta do agente, estaremos diante do que se denomina pela doutrina de causas absolutamente independentes. 
Ao passo que: nos casos em que, à conduta do agente se agregam outras causas que também contribuem para o resultado, estaremos diante das denominadas causas relativamente independentes. 
Em suma: as causas “absolutamente independentes” têm origem diversa da conduta do agente. Como bem leciona o Profº. Fernando Capez, nesses casos o advérbio de modo “absolutamente”, serve para designar a causa que não partiu da conduta, mas de fonte totalmente diversa. 
Enquanto que: no que toca à causas “relativamente independentes”, é de se notar que estas encontram sua origem na própria conduta do agente. 
Preste muita atenção: o adjetivo “independentes” traduz a idéia de causas que por si só produzem o resultado, sendo que, como já se expôs, as causas absolutamente independentes são aquelas que, sendo totalmente desvinculadas da conduta do agente, produzem por si só o resultado, e as causas relativamente independentes são aquelas que produzem por si só o resultado, mas no entanto, fazem parte da própria conduta do agente, ou seja, de alguma maneira estão à ela ( conduta do agente) vinculadas.
Sendo que: tanto as causas absolutamente independentes como as causas relativamente independentes podem ser classificadas em: 
Preexistentes: que atuam antes da conduta. 
Concomitantes: que atuam ao mesmo tempo da prática da conduta. 
Supervenientes: atuam após a conduta. 
A propósito: vamos agora, através de alguns exemplos fornecidos pelo Profº Fernando Capez, tentar facilitar a compreensão do tema, e usaremos do seguinte método: citaremos exemplos de cada uma das espécies de causa ( preexistentes, concomitantes e supervenientes), em suas duas modalidades ( absoluta e relativamente independentes).
Causas Preexistentes
a – Absolutamente independentes: A atira em B, e este não morre em conseqüência dos tiros, mas de um envenenamento provocado por C no dia anterior. 
b – Relativamente Independentes: A desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. Nesse caso, tal como nos ensina Profº. Fernando Capez, o golpe, isoladamente, seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de forma que a hemofilia atuou de modo independente, produzindo por si só o resultado, entretanto, tal como enfatiza o penalista em questão, o processo patológico só foi desencadeado a partir da conduta, razão pela qual sua independência é apenas relativa. 
Causas Concomitantes
a – Absolutamente Independentes: A e B, um desconhecendo a conduta do outro, atiram ao mesmo tempo em C, tendo este morrido em conseqüência dos tiros de B. Esta conduta ( de “B”), como se pode perceber, tem origem totalmente diversa da conduta de A, estando inteiramente desvinculada de sua linha de desdobramento causal. Ou seja, neste caso, tal como ensina-nos o Profº. Fernando Capez, a causa é independente porque por si só produziu o resultado, e é absolutamente independente porque teve origem diversa da conduta. 
b – Relativamente Independentes: A atira na vítima que, assustada, sofre um ataque cardíaco a morre. O tiro provocou o susto e, indiretamente, a morte. O penalista em questão assevera que, neste caso, trata-se de causa que, por si só produziu o resultado ( independente), mas que se originou a partir da conduta ( relativamente independente), tendo atuado ao mesmo tempo ( concomitante). 
Causas Supervenientes 
a – Absolutamente Independentes: A envenena B, que morre posteriormente assassinado à facadas. O fato superveniente, não tem qualquer ligação com a conduta de A, sendo portanto, absolutamente independente. 
b - Relativamente Independente: a vítima sobre um atentado e, levada ao hospital, sofre acidenteno trajeto, vindo, por este motivo, a falecer. Tal como ensina-nos o o Profº. Fernando Capez, neste caso, a causa é independente porque a morte foi provocada pelo acidente e não pelo atentado, mas independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância que se acidentou e não morreria, sendo que, como atuou, tal causa, posteriormente à conduta, é denominada superveniente. 
Preste muita atenção: as conseqüências das causas absolutamente independentes são totalmente distintas das conseqüências produzidas pelas causas relativamente independentes. Vejamos agora as conseqüências produzidas por cada uma dessas modalidades: 
Causas Absolutamente Independentes: estas excluem o nexo causal, e por conseqüência, acabam por excluir a tipicidade da conduta. Tal como leciona o Profº. Fernando Capez, estas rompem totalmente o nexo causal, e o agente só responde pelos atos até então praticados. 
Perceba que: nesses casos ( de causas “absolutamente independentes”) o agente não poderá ser responsabilizado penalmente pois mesmo que não tivesse agido, o resultado teria ocorrido do mesmo jeito. 
Ou seja: rompe-se o nexo causal pois a conduta em nada contribui para a produção do resultado.
Causas Relativamente Independentes: via de regra, nenhuma causa relativamente independente tem o poder de romper o nexo causal. Segundo o Profº. Fernando Capez, essas causas, ao contrário das causas absolutamente independentes, mantêm íntegra a relação causal entre a conduta e o resultado.
Ou seja: nesses casos o agente não poderá se eximir da responsabilização penal pois se não tivesse agido, ou o resultado nem teria ocorrido, ou não teria ocorrido como ocorreu. 
A propósito: acerca das diferentes conseqüências oriundas de cada uma das modalidades de causa, oportuno atentarmos para os ensinamentos do Profº. Cezar Roberto Bitencourt: 
“Portanto, temos, até agora, duas alternativas: ou excluímos a causalidade do comportamento humano, porque um juízo hipotético de eliminação nos permite esta exclusão, e atribuímos a causação do resultado a um fator estranho à conduta, na hipótese, uma causa absolutamente independente; ou não excluímos esse vinculo de causalidade, porque, pelo juízo hipotético de eliminação, a conduta foi necessária à produção do evento, ainda que auxiliada por outras forças, na hipótese, uma causa relativamente independente.”
Perceba que: as lições supra transcritas sintetizam a regra geral com relação às conseqüências oriundas de cada uma das modalidades de causa, qual seja: as causas “absolutamente independentes” excluem o nexo causal, uma vez que, mesmo que o agente não tivesse agido o resultado teria ocorrido, e as causas “relativamente independentes” não excluem o nexo causal, uma vez que se sem a conduta do agente o resultado não teria ocorrido, ou não teria ocorrido como ocorreu. 
Preste muita atenção: esta “regra geral” encontra um exceção de extrema importância que vem expressa no § 1º do artigo 13, sendo que, o referido dispositivo legal já fora transcrito anteriormente, mas, no entanto, temos por transcrever o mencionado ​§ 1º novamente: 
Superveniência de causa independente
§ 1º. A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
Como se pôde ver: a já citada “regra geral” apenas é absoluta no que toca às causas preexistentes e concomitantes, uma vez que, com relação às causas supervenientes relativamente independentes, há que se fazer uma diferenciação: 
a – causa superveniente que não produziu o resultado por si só. 
b – causa superveniente que produziu por si só o resultado. 
A propósito: para uma melhor compreensão do tema, vejamos um exemplo, citado pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, de causa superveniente relativamente independente que por si só produziu o resultado: 
“A fere B, que, conduzido à um hospital, vem a morrer em conseqüência de um incêndio na enfermaria em que se encontrava internado.”
Perceba que: de acordo com a “regra geral”, no exemplo supracitado o autor dos ferimentos seria responsabilizado pela morte do agente, pois sem sua conduta o resultado (morte) não teria ocorrido, ou não teria ocorrido como ocorreu. 
Entretanto: como já dissemos anteriormente, no que toca às causas supervenientes relativamente independentes, o Código Penal, através do artigo 13, § 1º abre uma exceção, ao preceituar que a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado, sendo que, acerca desta exceção, assim leciona o penalista supracitado:
“É certo, pois, que do ponto de vista naturalístico não há rompimento do nexo causal. Esse rompimento, que na verdade emana da lei, surge quando a concausa superveniente inaugura um curso causal autônomo, fora do perigo provocado pela conduta do agente.”
( Grifo Nosso)
Preste atenção: no caso de causa superveniente relativamente independente, a exceção se justifica pelo fato de que, não obstante haver uma ligação entre a conduta do agente e o resultado, a concausa, a causa superveniente, agiu de maneira tão autônoma, que é como se não tivesse sido necessária a conduta do agente. 
Ou seja: tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, nesses casos, a causa superveniente é de tal ordem que determina a ocorrência do resultado como se tivesse agido sozinha, pela anormalidade, pelo inusitado, pela imprevisibilidade de sua ocorrência. 
Sendo que: a causa superveniente, nesses casos, rompe o nexo de causalidade entre a conduta à ela anterior e o resultado, e exclui a tipicidade da conduta. 
Questão-Problema
Um colega de classe seu, ao entrar na sala com uma cara de indignação que não tinha como disfarçar, lhe diz o seguinte: 
- Nossa, acabei de ouvir uma coisa extremamente absurda agora quando ia passando pelos corredores aqui da faculdade. Estavam dois alunos conversando, e um disse para o outro que havia crime sem resultado. Olha só que besteira, onde já se viu um crime sem resultado. Você não acha um absurdo ? Não é certo dizer que sem resultado não há que se falar em crime ? Qual a sua opinião ? 
Responda também a seguinte pergunta: sempre que uma causa for “relativamente” independente o agente responderá pelo resultado ? Existe alguma exceção ? Se existir uma exceção, diga-nos qual a razão de ser desta exceção e onde está ela prevista legalmente. 
Quadro Sinóptico
1. Resultado: segundo a teoria naturalística, este é a modificação produzida pela conduta no mundo exterior, e segundo a teoria normativa este é a lesão ou ameaça de lesão à interesse penalmente protegido. 
2. Nexo de Causalidade: ligação fática, causal, entre a conduta do agente e um determinado resultado. 
Não se esqueça que: um resultado só pode ser imputado ao agente se houver ligação entre este ( resultado) e sua conduta, se houver nexo de causalidade. Ou seja: o resultado só poderá ser atribuído ao agente se seu comportamento tiver sido a sua causa. 
Lembre-se ainda que: como nem todo ato que precede o resultado pode ser considerado causa, precisamos nos socorrer de teorias e técnicas formuladas com o intuito de delimitar o conceito de causa. 
3. Quando o resultado ocorrer de maneira totalmente desvinculada da conduta do agente, diz-se que a causa deste ( resultado) é absolutamente independente. Ou seja, estaremos diante do que a doutrina denomina de causas absolutamente independentes. 
4. Quando, à conduta do agente se agregarem outras causas que também contribuíram para a produção do resultado, estaremos diante das chamadas causas relativamente independentes. 
Não se esqueça que: as causas absolutamente independentes tem origem totalmente diversa da conduta do agente, ao passo que as causas relativamente independentes encontram sua origem na própria conduta do agente. Tanto as causas absolutamente independentes como as causas relativamente independentesse subdividem em: 
Preexistentes: que atuam antes da conduta. 
Concomitantes: que atuam ao mesmo tempo da prática da conduta. 
Supervenientes: atuam num momento posterior à conduta.
Lembre-se que: as causas absolutamente independentes excluem o nexo causal e, consequentemente, a tipicidade, e no que toca às causas relativamente independentes, estas, tal como preceitua o 13, § 1º, só excluirão o nexo de causalidade se por si só produzirem o resultado.
 
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