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PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Defesa Civil do Estado de Santa Catarina Diretoria de Gestão de Educação 2ª EDIÇÃO - ATUALIZADA Defesa Civil do Estado de Santa Catarina Diretoria de Gestão de Educação PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL 2ª EDIÇÃO - ATUALIZADA GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA Carlos Moisés da Silva DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA Chefe da Defesa Civil João Batista Cordeiro Junior Diretor de Gestão de Educação Alexandre Corrêa Dutra IN ST IT UC IO N A L Caroline Margarida Regina Panceri (organizadoras) PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL 2ª EDIÇÃO - ATUALIZADA Florianópolis Defesa Civil do Estado de Santa Catarina 2020 Defesa Civil do Estado de Santa Catarina. Proteção e Defesa Civil. Margarida, Caroline & Panceri, Regina (Organizadoras). 2ª ed. Florianópolis, 2020. DESIGN INSTRUCIONAL: Maria Hermínia Benincá Schenkel PARECERISTA: Alexandre Corrêa Dutra PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Walter Stodieck FOTOS: Flávio Vieira Junior O RG A N IZ A Ç Ã O Almir Vieira Carlos Alberto da Rocha Jr. Carlos Besen Caroline Margarida Débora Ferreira Elna Fatima Pires de Oliveira Frederico de Moraes Rudorff Humberto Alves da Silva Jaqueline Antunes José Luiz de Abreu Laís de Oliveira Bernardino Lisangela Albino Luiz Antônio Cardoso Marcos de Oliveira Mário Jorge Cardoso Coelho Freitas Maurício Marino Paulo Cesar Santos Regina Panceri Rennan Inácio Renata Gaia Rodrigo Nery Rosinei da Silveira Sandro Nunes Sarah Cartagena Susana C. Costa e Vanessa Scoz Oliveira C O LA BO RA D O RE S SU M Á RI O COMO USAR ESTE LIVRO .........................................................................8 APRESENTAÇÃO ...............................................................................................9 LIÇÃO 01 .................................................................................................................10 LIÇÃO 02 .............................................................................................................46 LIÇÃO 03 ...........................................................................................................145 LIÇÃO 04 ............................................................................................................192 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 215 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 216 C O M O U SA R ES TE LI V RO COMO USAR O NOSSO LIVRO Este livro contém alguns recursos para facilitar o processo de aprendizagem e aprofundar seu conheci- mento. São eles: Questão: quando temos uma per- gunta importante sobre o assunto que está sendo tratado. Assista ao vídeo: material comple- mentar em vídeo. Curiosidade: alguma curiosidade sobre o conteúdo. Dica: uma informação para comple- mentar o que está sendo visto. Saiba mais: materiais complemen- tares ou informações importantes sobre o assunto que fazem parte da lição. Lembrete: apresenta dicas e suges- tões do autor. Destaque: são informações impor- tantes dentro do texto. Balão: serve para explicar uma pa- lavra ou um conceito. Link: indicados para acessar mate- riais complementares aos assuntos propostos. Para refletir: indicação de questões para que você reflita sobre o que está sendo estudado. Recapitulando: é a síntese da Li- ção. Caso Real: Quando um texto se apresentar escri- to nesta formatação, dirá respeito a um caso real sobre o tema abordado na lição. Exemplos: Quando um texto se apresentar escrito nesta formatação, dirá respeito a algum exemplo que o conteudista está utilizando para uma me- lhor compreensão do tema abordado. Citação: Quando um texto se apresentar escrito nesta formatação, dirá respeito a citações sobre o assunto tratado. Prezado cursista, Seja bem-vindo ao Curso de Proteção e Defesa Civil. Este livro foi criado por especialistas, nas suas áreas de expertise, para que você tenha acesso, em um só do- cumento, a assuntos pertinentes sobre Defesa Civil. Entre os assuntos abordados, discutiremos: Normas, De- cretos, Leis, Regulamentos de Proteção e Defesa Civil, Gestão de Riscos, Gestão de Desastres, enfim, temáticas ligadas à sua realidade. O objetivo do curso é prepará-lo para intervir na gestão de riscos e desastres e, também, ajudá-lo a atuar de for- ma eficaz junto aos municípios. O nosso livro está dividido em quatro lições, que são: A PR ES EN TA Ç Ã O Lembre-se que em Educação a Distância, o caminho da aprendizagem depende muito de você. Por isso, esperamos que você participe de todas as etapas desenvolvidas no nosso Curso. É importante que você leia o nosso material, participe dos Fóruns de discussão e das atividades desenvolvidas. Esses recursos didático-pedagógicos são muito importantes para sua motivação, dedicação e autonomia na construção do conhecimento. Estamos muito felizes em compartilhar esta jornada de aprendizagem junto a você. Desejamos um ótimo Curso! OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de: - Entender a gestão de riscos, seu ciclo e as diferentes ações de redução, em âmbito institucional, comunitário e in- tersetorial. - Compreender as possibilidades de intervenção e o papel dos profissionais que atuam na gestão de riscos. - Perceber a importância da prevenção como estratégia de redução de riscos. Gestão de Riscos LI Ç Ã O 0 2 47 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA 1. CICLOS DE GESTÃO DE RISCOS Em nosso cotidiano, cada vez mais, nos defron- tamos com notícias referentes aos riscos a que estamos expostos. As sociedades sempre irão conviver com eventos naturais, que têm se inten- sificado nos últimos anos, em virtude das varia- ções de temperatura, precipitação, nebulosidade e outros fenômenos ocasionados pelas mudan- ças climáticas em escala global. Além dos ris- cos naturais, estamos expostos aos riscos que determinadas tecnologias, na forma de produtos ou processos industriais, podem causar à nossa saúde e ao meio ambiente. O aumento das ocorrências de desastres em todo o mundo nos leva a refletir sobre a importância de estarmos preparados para tais eventos. Será ne- cessária uma mudança cultural para minimizar os riscos de desastres, pois eles sempre existiram e continuarão acontecendo. Os governos do mun- do inteiro devem priorizar investimentos e gastos públicos em ações de prevenção de desastres, e não mais esperar que eles aconteçam para poste- riormente dar uma resposta. Para diminuirmos o risco precisamos antecipar o risco, ou seja, prever o que pode dar errado. Para prevenir os desastres em nossa comunidade, é necessário realizar a gestão do risco, pois, antes de escolher e implantar medidas preventivas, é necessário saber quais são os riscos a que a co- munidade está realmente exposta. Fases de Gestão de Risco Com a criação do Sistema Nacional de Defesa Ci- vil – SINDEC em 1988 começaram a ser desenvol- vidas ações que se concentravam na resposta aos desastres. Com o passar dos anos, e a publicação da Política Nacional de Defesa Civil em 1995, a administração de riscos e desastres passou a ser vista como um ciclo composto por quatro fases: prevenção de desastres, preparação para emer- gências e desastres, resposta aos desastres e re- construção. Com a publicação da nova Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, aprovada pela Lei nº. 12.608, de 10 de Abril de 2012, a Gestão de Riscos compreende três ações distintas e inter-re- lacionadas, quais sejam: GESTÃO DO RISCO DE DESASTRES RISCO G ES TÃ O D O CONHECIMENTO PR EV EN Ç ÃO E MI TIG AÇÃ O PREPARAÇ ÃO PROJETOS E AÇÕES DE PREPA RA Ç Ã O A V A LI A Ç Â O D O R IS CO ES TU D O S PA RA RE DU ÇÃ O DO RISCOME DID AS DE Medidas preventi- vas destinadas à redução de riscos de desastres, suas consequênciase à instalação de novos riscos Nesse sentido, é importante compreender as fa- ses que integram a gestão do risco: PREVENÇÃO Medidas e atividades prio- ritárias destinadas a evitar a instalação de riscos e desastres. Envolvem a identificação, mapeamento e monitora- mento de riscos, ameaças e vulnerabilidades, bem como a capacitação da sociedade. MITIGAÇÃO Medidas e atividades ime- diatamente adotadas para reduzir ou evitar as consequências do risco de desastre. PREPARAÇÃO Medidas desenvolvidas para otimizar as ações de resposta e minimizar os danos e as perdas decor- rentes do desastre. Envolvem os planos de contigência, simulações, monitoramento, emissão de alertas e a evacuação da população. Conforme pode se observar na figura a seguir, na fase de prevenção e mitigação se procede a análi- se de risco as quais envolvem a análise do perigo, da exposição, da vulnerabilidade e da incerteza, bem como as medidas de redução de risco. Na fase de preparação se estabelece as medidas de preparação e monitoramento. Imagem 12 - Ciclo da Gestão de Risco Imagem 13 - Fases da Gestão de Risco Fonte: Instrução Normativa nº 02/2016 48 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Image 14 - Prevenção e Mitigação Melhor planejamento, políticas de regulação e ordenamento territorial ou mesmo de práticas de construção. Ações estruturais também podem ser implementadas, como por exemplo, através da adaptação ou reconstrução de infraestruturas em áreas de risco. R IS C O GESTÃO D O C O N H EC IM ENTO PREVENÇÃO E M ITIG A Ç Ã O PREPARAÇÃO PR O JETO S E AÇ ÕES DE PREPARAÇÃO AVALIAÇÂO DO RISCO ESTUDOS PARA RED U Ç Ã O D O R ISC O M ED ID A S D E Análise do perigo: informações sobre a região, intensidade e frequência dos eventos que representam perigos; Análise da exposição: informações sobre a presença, atributos e valores dos elementos que podem ser afetados pelo risco (por exemplo o impacto da exposição nas pessoas ou na economia de uma área afetada e suas consequências futuras); Análise da vulnerabilidade: informações sobre como um elemento exposto reage aos efeitos do perigo. A avaliação de vulnerabilidade das estruturas físicas, pessoas, economia e meio ambiente, assim como a estimativa dos impactos são o primeiro passo para compreender a influência do desastre na região analisada; Análise de incertezas: é importante associar um nível de incerteza de confiança nos cálculos ou estimativas. Prevenção e Mitigação: envolve ações estruturais e não estruturais para a redução ou anulação dos impactos ocasionados com a ocorrência de um desastre. Sistemas de alerta antecipados, planejamento de contigências, a aquisição e reserva de esquiamentos e suprimentos, a padronização de rotinas, atividades de sensibilização e de capacitação, simulados. Atualmente, a Defesa Civil trabalha com foco na prevenção e mitigação de desastres, para evitar ou minimizar seus efeitos. Neste sentido, a sen- sibilização e percepção de risco da comunidade também são importantes para a sua prevenção, pois só assim a comunidade pode cobrar e reivin- dicar melhorias, garantindo continuidade ao pro- cesso. Salienta-se que a Gestão de Riscos - GR é um pro- cesso social, complexo, cujo fim último é a redu- ção ou previsão e controle permanente de riscos na sociedade (CEPREDENAC – PNUD, 2003). De acordo com a Instrução Normativa 02/2016, a gestão de risco de desastres é conceituada como medidas preventivas destinadas à redução de ris- cos de desastres, suas consequências e à instala- ção de novos riscos. Quanto ao risco de desastre, conforme a Instrução Normativa nº 02/2016, é o potencial de ocorrên- cia de evento adverso sob um cenário vulnerável. Descreve se um determinado evento (ameaça), com uma intensidade específica – seja de origem natural ou humana – é mais ou menos provável (probabilidade) e quais os danos e prejuízos que se podem esperar (consequência). Dentre os conceitos utilizados na Gestão de Risco e de Desastres estão: - Evento: quando uma situação ou um fato previs- to realmente ocorre, ele se torna um evento. São fenômenos da natureza ou causados pela ação antrópica e que, em geral, não causam danos ou prejuízos significativos. Dependendo dos danos e prejuízos causados por esse evento, as suas consequências podem ser graves e neste caso, a ameaça, que se transformou em um evento pela sua gravidade, torna-se um evento adverso. Há que se considerar que diversos fatores condicio- nam a ocorrência de um evento ou evento adver- so e dentre esses fatores menciona-se: - Suscetibilidade: entendida como a maior ou menor predisposição de ocorrência de um deter- minado processo em uma área específica, sem considerar os possíveis danos ou prejuízos de re- corrência (probabilidade). - Ameaça: de acordo com a Instrução Normativa nº 02/2016, é um evento em potencial, natural, tecnológico ou de origem antrópica, com elevada possibilidade de causar danos humanos, mate- riais e ambientais e perdas socioeconômicas pú- blicas e privadas. E segundo a EIRD/ONU (Estra- tégia Internacional para Redução de Desastres), é um evento físico, potencialmente prejudicial, fe- nômeno e/ou atividade humana que pode causar a morte e/ou lesões, danos materiais, interrupção de atividade social e econômica ou degradação do meio ambiente. Ex: uma chuva intensa, o deslizamento de terra em uma encosta, o transporte rodoviário de um produto perigoso ou outra situação qualquer. - Vulnerabilidade: é a exposição socioeconômica ou ambiental de um cenário sujeito à ameaça do impacto de um evento adverso natural, tecnológi- co ou de origem antrópica. Deste modo, as características locais, sejam elas sociais, econômicas, políticas, ambientais, insti- tucionais, geográficas, entre outras, bem como a exposição, podem criar condições para que o de- sastre ocorra ou tenha impactos fortes. - Resiliência: é a capacidade de um sistema, co- munidade ou sociedade expostos a uma ameaça 49 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA para resistir, absorver, adaptar-se e recuperar-se de seus efeitos de maneira oportuna, eficaz, o que inclui a preservação e a restauração de suas es- truturas e funções básicas (UNISDR/ISDR, 2009). O potencial para uma ameaça ajudar a desenca- dear um desastre depende do grau de exposição de uma população e de seus recursos físicos e econômicos. A exposição indica quanto uma cidade, comuni- dade ou sistema, localizado em uma área susce- tível a um determinado perigo, estará sujeita a so- frer com um evento adverso, quando ou se esse ocorrer. A gestão de riscos inclui a necessidade de rever o próprio modelo de desenvolvimento ou, no míni- mo, algumas de suas opções. A gestão de risco, como o Quadro de Ação de Sendai postula, inclui a necessidade de promover formas de desenvol- vimento e sociedades mais sustentáveis. A Defesa Civil de Santa Catarina entende que um município prevenido e preparado está melhor ca- pacitado para reduzir o impacto dos eventos ad- versos, contribuindo na redução de riscos e vi- sando contribuir para um melhor entendimento do que é a Gestão de Risco, suas consequências, possibilidades de atuação junto aos governos, co- munidades, ONGs e voluntários e a necessidade de articulação entre diferentes áreas e segmen- tos da gestão pública. A definição de risco, que é a probabilidade de que ocorram consequências prejudiciais e/ou danos, resultado da interação entre as ameaças e as vul- nerabilidades, pode ser expressa pela equação: Um componente essencial do processo de ges- tão de risco é a identificação e instrumentação de soluções concretas a cenários de riscos diversos. Os cenários de risco de uma comunidade ou mu- nicípio, podem ser representados por um mapa de risco, que é uma representação gráfica das condi- ções de risco, determinadas pelasameaças e vul- nerabilidades existentes no lugar. Para desenvolver um adequado processo de ges- tão de riscos é necessário contar com capacida- des locais para gerenciar os riscos e resgatar as experiências passadas. A gestão de risco deve promover a melhoria da qualidade de vida da população e pode ser de três tipos, a saber: 1 – Gestão prospectiva: se desenvolve em função do risco ainda não existente, que pode ser previs- to por meio de um processo de planejamento ade- quado. A sua prática tem o objetivo de evitar os erros do passado, estando estreitamente alicerça- da ao planejamento e desenvolvimento locais. 2 - Gestão corretiva: as ações devem intervir so- bre o risco já existente, produto de ações sociais diversas realizadas no passado. É importante que a gestão corretiva não se caracterize, apenas, por ações pontuais e isoladas sobre um cenário de risco eminente, mas possibilite intervir sobre este contexto buscando desenvolver práticas transfor- madoras na relação entre os seres humanos e os espaços em que vivem. 3 - Gestão reativa: se desenvolve, por meio de um processo de preparação para a resposta a emer- gências em que são muito importantes a elabora- ção dos planos de contingência, de emergência, simulados e a assistência humanitária. Risco = Ameaça X Probabilidade de Ocorrên- cia (ou seja, perigo) X Consequência (Vulne- rabilidade X Valor dos elementos). R= Ameaça X Vulnerabilidade. Entretanto, esse conceito não engloba a estima- tiva de danos potenciais a que pessoas, bens ou atividades econômicas estarão expostas. Desse modo, o risco pode ser expresso como a intera- ção entre: 50 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Imagem 15 - Etapas de Gestão de Risco Dimensionamento objetivo dos riscos existentes e futuros Implementação de estratégias e projetos concretos de avaliação e retroalimentação Postulação de políticas e estratégias de intervenção e tomada de decisões (negociações) Determinação dos níveis de risco aceitáveis O processo de gestão depende de decisões políti- cas intersetoriais, nos diferentes níveis. Os riscos também podem ser classificados como: - Risco Instalado: pode ser compreendido como o risco efetivo, atual ou visível, existente e perce- bido em áreas ocupadas. A identificação do risco instalado é realizada com base na avaliação de evidências do terreno, ou seja, condições “visí- veis” de que eventos adversos podem se repetir ou estão em andamento, por meio de trabalhos e inspeções de campo. - Risco Aceitável: é aquele que uma determinada sociedade ou população aceita como admissível, após considerar todas as consequências associa- das ao mesmo. Em outras palavras, é o risco que a população exposta a um evento está preparada para aceitar sem se preocupar com a sua gestão (FELL et al., 2008). - Risco Tolerável: é aquele com que a sociedade tolera conviver, mesmo tendo que suportar alguns prejuízos ou danos, porque isto permite que usu- frua de certos benefícios; constitui-se de um risco para o qual não são feitos esforços efetivos para sua redução (FELL et al.,2008). - Risco Intolerável: é aquele que não pode ser tolerado ou aceito pela sociedade, uma vez que os benefícios ou vantagens proporcionadas pela convivência não compensam os danos e prejuí- zos potenciais. - Risco Residual: é o risco que ainda permanece num local mesmo após a implantação de progra- mas de redução de risco. É preciso entender que sempre existirá um risco residual, uma vez que o risco pode ser gerenciado e/ou reduzido com me- didas de mitigação, seja com medidas estruturais ou não estruturais, mas o risco não pode ser com- pletamente eliminado (BRESSANI;COSTA, 2013). Este risco residual dependerá do porte destas me- didas, sejam elas educativas, estruturais ou de le- gislação, frente à magnitude dos perigos. A seguir detalham-se atividades de prevenção e mitigação e posteriormente as de preparação. Conforme demonstrado pelo CEPED/UFSC (2012), no livro Gestão de Riscos de Desastres, entre as etapas de um processo de gestão de riscos, in- cluem-se: A gestão local de riscos de desastre está re- lacionada ao processo de redução de riscos com foco nas comunidades. O local não se restringe aos limites do município, tendo a gestão de risco que se articular em outros ní- veis territoriais e sociais. O local é, muitas ve- zes, o depositário do risco, mas não, neces- sariamente, seu único produtor. Por vezes, o risco que se apresenta em uma comunidade está relacionado a processos que ocorrem em outra localidade. 51 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA 2 . RRD E GESTÃO DE RISCOS: ATIVIDADES DE PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO Prevenção Qual o conceito de prevenção? Ação ou efeito de prevenir, agir por antecipação. Conjunto de atividades e medidas que, feitas com antecipação, busca evitar um dano ou mal: pre- venção de incêndios, prevenção de doenças. A prevenção de desastres é implementada por meio de dois processos importantes: a análise de riscos e a redução dos riscos de desastres. Análise de Riscos A análise de risco é uma metodologia de estudo que permite a identificação e a avaliação das ame- aças de eventos ou acontecimentos adversos de maior prevalência em determinado contexto. Ao mesmo tempo, permite a identificação dos cor- pos receptores e das comunidades vulneráveis a essas ameaças, dentro de um determinado siste- ma receptor, cenário de desastres ou região geo- gráfica (CASTRO, 2007a). Já a análise preliminar de riscos é o método de estudo preliminar e sumário de riscos, normal- mente conduzido em conjunto com a comunida- de ameaçada. Tem como objetivo identificar os desastres potenciais de maior prevalência na re- gião e as suas características intrínsecas, com a finalidade de prever e prevenir riscos de desastres (CASTRO, 2007a). Primeiro identificamos e avaliamos os riscos exis- tentes e, posteriormente, atuamos em duas fren- tes: de um lado, atuamos de modo a diminuir a probabilidade e a intensidade da ameaça; de ou- tro, atuamos para reduzir as vulnerabilidades e fortalecer a capacidade de enfrentamento dos riscos. Ao conhecer a probabilidade e a magnitude de determinados eventos adversos no seu município ou comunidade, bem como o impacto deles, caso realmente aconteçam, temos a possibilidade de selecionar e priorizar os riscos que exigem maior atenção. Antes de escolher e implantar medidas preventi- vas, é necessário conhecer quais são os riscos a que a comunidade está realmente exposta. A aná- lise de risco engloba a identificação, avaliação e hierarquização, tanto dos tipos de ameaça quanto dos elementos em risco. Após a realização desse processo, é possível definir as áreas de maior ris- co. O processo de Análise de Risco é dividido em três etapas: Você conhece as probalidades de ris- co na sua região? Imagem 16 - Etapas da Análise de Risco 1) IDENTIFICAÇÃO DAS AMEAÇAS 2) AVALIAÇÃO DOS RISCOS 3) HIERARQUIZAÇÃO DOS RISCOS O principal objetivo da identificação das ameaças (1) é reconhecer os eventos ou combinações de eventos indesejáveis que podem ocasionar danos ao ser humano, à propriedade ou ao meio ambien- te, para que possam ser definidas as hipóteses acidentais que poderão acarretar consequências significativas. A identificação das ameaças é possível através da elaboração de uma lista contendo os eventos 52 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL adversos que já ocorreram e os que podem vir a ocorrer. Na atuação sobre as ameaças identificadas, são tomadas medidas para reduzir a probabilidade de que um evento adverso ocorra ou, ainda, para que a sua intensidade seja atenuada. A avaliação de riscos de desastres (2) desenvol- ve-se através da caracterização do grau de vulne- rabilidade e da caracterização dos riscos. A caracterização do grau de vulnerabilidade com- preende o estudo dos cenários e das populações emrisco, com a finalidade de avaliar, por inter- médio de estudos epidemiológicos e de modelos matemáticos, a proporção existente entre a mag- nitude dos eventos adversos e a intensidade dos danos esperados, ou seja, a relação existente en- tre causa e efeito. A identificação da vulnerabilidade inclui o reco- nhecimento de todas as características e circuns- tâncias de uma comunidade, sistema ou bem ex- posto a um processo perigoso e, por esta razão, a identificação dos elementos que a compõem deve ser focada nas suas características físicas, funcionais e socioambientais. No caso das vulnerabilidades, em nossas comuni- dades, há muitas condições que geram diferentes tipos para a população, como veremos mais a se- guir. A estimativa de riscos é a síntese conclusiva que resulta da análise das variáveis “ameaça” e “vul- nerabilidade” e permite estabelecer as relações de causa e efeito. A caracterização dos riscos é a descrição final dos diferentes efeitos potenciais de um determi- nado risco e a estimativa dos danos prováveis, em função da relação existente entre a magnitude do fenômeno ou evento adverso e o grau de vulnera- bilidade do sistema receptor. A caracterização dos riscos compreende a con- clusão sobre o grau de importância dos riscos existentes numa determinada comunidade. A ca- racterização dos riscos e estimativa da intensida- de dos danos prováveis é realizada em função: - das características e prováveis magnitudes das ameaças; - dos efeitos desfavoráveis dessas ameaças so- bre os sistemas receptores; - do grau de vulnerabilidade ou de insegurança in- trínseca dos cenários dos desastres e das popu- lações em risco; - da avaliação da magnitude e prevalência das ameaças e dos níveis diários de exposição. Ao se concluir a avaliação do risco, chega-se a uma síntese por meio da qual se estimam os ris- cos, ou seja, a intensidade dos danos e prejuízos previstos, em termos de probabilidade estatística de ocorrência e grandeza das consequências pos- síveis, conforme ilustra imagem a seguir. Imagem 17 - Avaliação dos Riscos CATASTRÓFICO SEVERO MODERADO LEVE NENHUM 0% 25% 50% 75% 100% Probabilidade de concretizar-se G ra v id a d e d o r e su lt a d o ANÁLISE DE RISCO A avaliação de riscos é útil para a tomada de de- cisão quanto à aceitabilidade de riscos, através da estimativa dos prováveis danos e prejuízos, e quanto às medidas de controle necessárias para a sua redução. Depois de avaliados, pode-se fazer uma hierar- quização dos riscos (3) a fim de identificar priori- dades para as tomadas de decisão, principalmen- 53 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA te quando trabalhamos com vários tipos de risco. Esta é a etapa final do processo de análise de ris- cos de desastres, que permite, após caracterizar a importância dos riscos estudados, hierarquizá-los em função da probabilidade de ocorrência e da in- tensidade dos danos prováveis. Para concluir, na análise de riscos, é fundamental hierarquizar os riscos, ou seja, determinar quais riscos são prioritários para o esforço de preven- ção e preparação. Isso pode ser obtido pela com- paração entre a probabilidade de uma determina- da ameaça se concretizar com uma determinada magnitude e a intensidade dos danos e prejuízos esperados, caso ela se concretize. Construir um gráfico para visualização das esti- mativas é uma boa alternativa para categorizar os riscos, que devem estar agrupados em quatro ní- veis: - Nível I: têm alta probabilidade de se concretizar e os danos serão severos. - Nível II: têm pequena probabilidade de se con- cretizar e os danos serão severos. - Nível III: têm alta probabilidade de se concreti- zar e os danos serão pequenos. - Nível IV: tem pequena probabilidade de se con- cretizar e os danos serão pequenos. Você pode conferir esses níveis no gráfico abaixo: disponibilidade e confiabilidade, ou cálculos pro- babilísticos. Resumindo, a avaliação de riscos de desastres é uma metodologia de planejamento, com caracte- rísticas de estudo de situação, que tem por finali- dade identificar os desastres potenciais de maior prevalência e caracterizar a sua importância, em função: a) da probabilidade de ocorrência; e b) da estimativa dos danos previsíveis, caso o de- sastre se concretize. A avaliação de riscos de desastres desenvolve-se por intermédio dos seguintes estudos: - análise da variável ameaça; - análise da variável vulnerabilidade; - síntese conclusiva sobre a estimativa de riscos. Imagem 18 - Hierarquização dos Riscos ANÁLISE DE RISCO CATASTRÓFICO SEVERO MODERADO LEVE NENHUM 0% 25% 50% 75% 100% III IIIIV II - ameaças que poderão ser muito danosas entretan- to têm menos pro- babilidade de ocorrer IV - ameaças com baixa probabilida- de e que causam pequenos danos I - têm alta proba - bilidade de ocor- rência e poderão resultar danos se- veros III - ameaças com alta probabilidade de ocorrência mas que causam pe- quenos danos O objetivo da avaliação de riscos é mensurar o risco através da quantificação da frequência da ocorrência de eventos indesejáveis e de suas con- sequências, mapeando a área geográfica que pro- vavelmente será afetada. Utilizam-se, como recur- so, séries históricas de acidentes, quando houver Vamos estudar essas vulnerabilidades? a. vulnerabilidade física – refere-se às condições físicas e intrínsecas ao elemento, estrutura ou sistema em análise que, dependendo da magni- tude do evento ou acidente, terá danos ou efeitos adversos que são medidos em termos de intensi- dade dos danos previstos, ou percentual do valor da estrutura ou sistema (adaptado de CASTRO, 2007b). Considera-se a localização das residên- cias, equipamentos comunitários (como escolas e postos de saúde) em áreas de risco, má qualida- de das construções etc.; Imagem 19- Vulnerabilidade Física 54 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL b. vulnerabilidade de função - em muitas situa- ções, um evento adverso causa mais prejuízo em função da interrupção de um serviço ou função importante do que o custo que essa função re- presenta para ser reconstruída, como: serviços públicos e equipamentos urbanos localizados em áreas perigosas; sistemas de drenagem de águas pluviais (estações de bombeamento); abaste- cimento de água potável; acesso viário local ou através de pontes; hospitais e centros de controle ou apoio (quartéis de bombeiros, centros de dis- tribuição de alimentos); c. vulnerabilidade econômica – falta de financia- mento para a produção, desemprego, baixo preço dos produtos agrícolas etc.; d. vulnerabilidade ambiental – desmatamento de encostas, poluição dos mananciais de água, es- gotamento do solo por práticas agrícolas inade- quadas, queimadas, destino incorreto do lixo etc.; Imagem 20 - VulnerabilidadeAmbiental percentual de pessoas com restrições de mobi- lidade (cadeirantes, idosos, dificuldades visuais, crianças etc.). Está relacionada a como as pessoas se organi- zam e se relacionam, e pode estar relacionada com a vulnerabilidade: - política – pequena participação, dificuldade de acesso à informação, ausência de planos e políti- cas de desenvolvimento nacional, estadual, muni- cipal e comunitário; - institucional – dificuldade dos governos locais para aplicarem leis que protejam os recursos na- turais, disciplinem o uso e a ocupação do solo e garantam a segurança da população; - organizativa – deficiência dos mecanismos de organização e mobilização da comunidade para a identificação e resolução dos problemas comuns; - educativa – precariedade dos programas edu- cacionais para promover a gestão de riscos e a cultura preventiva em relação aos desastres; - ideológica – existência de mitos, crenças e va- lores que estimulam uma visão fatalista sobre os desastres. Sem dúvida, a vulnerabilidade ou insegurança in- trínseca dos sistemas éo fator preponderante para a intensificação dos desastres. Redução dos Riscos Após realizar a análise dos riscos, é necessário reduzi-los a fim de garantir a seguridade da popu- lação. A redução dos riscos de desastre pode ser possível com uma atuação sobre as ameaças e as vulnerabilidades identificadas e priorizadas na análise de risco. e. vulnerabilidade social – é aquela relacionada às questões que podem provocar ou acentuar danos ou prejuízos econômicos ao ser humano. Possui enfoque centrado nas características comporta- mentais, organizacionais e de educação de pes- soas ou populações, a qual pode ser identificada através da avaliação das capacidades de autono- mia e mobilidade, bem como pela sua capacida- de de acesso a recursos financeiros, educação e serviços de saúde. Alguns indicadores de classifi- cação da vulnerabilidade social de elementos em risco são: nível de cultura, educação e renda; ní- vel de organização da sociedade, redes de alerta, presença de sindicatos, associações, NUPDECs; faixa etária, níveis de saúde, graus de mobilidade, 55 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA Além disso, é possível estruturar as defesas civis nos municípios e orientar a população para medidas de proteção a serem tomadas em caso de desastres, aumentando, assim, sua capacidade de resposta ao evento. construção de galerias de captação de águas plu- viais, os muros de arrimo, sistemas de drenagem, revegetação, remoção de moradias, entre outras. Nos casos de estabilização de encostas, execu- tam-se diversos tipos de obras combinadas: re- taludamentos, aterros e até mesmo obras com estrutura de contenção podem ser danificados ou destruídos, quando seus projetos não preveem sistemas de drenagem eficientes. As medidas estruturais englobam a execução de um plano voltado para a redução dos riscos, por meio de implantação de obras de engenharia de forma planejada. Em muitos casos, o problema é tão complexo que não há tempo suficiente para executar a obra, sendo necessário planejar for- mas de monitoramento permanente e prevenção de acidentes (ações não estruturais) nas áreas de risco. As medidas não estruturais, por sua vez, com- preendem um conjunto de medidas estratégicas e educativas, sem envolver obras de engenharia, voltadas para a redução do risco e de suas conse- quências. As medidas não estruturais utilizam-se de ferramentas de gestão e relacionam-se com a mudança cultural e comportamental e com a im- plementação de normas técnicas e de regulamen- tos de segurança. Essas medidas têm por finalida- de permitir o desenvolvimento das comunidades em harmonia com os ecossistemas naturais ou modificados pelo homem. Dentre as medidas não estruturais relacionadas com a prevenção de de- sastres (redução de riscos), destacam-se as se- guintes: - microzoneamento urbano e rural e uso racional do espaço geográfico; - implementação de legislação de segurança e de normas técnicas, relacionadas com a redução dos riscos de desastres; - promoção da mudança cultural e comportamen- tal e de educação pública, objetivando a redução das vulnerabilidades das comunidades em risco; A segurança intrínseca dos sistemas, definida conceitualmente como o inverso da vulnerabilida- de, depende da capacidade dos sistemas recepto- res para manter o equilíbrio dinâmico do meio in- terno ou recuperar o equilíbrio dinâmico, quando este é ameaçado. Primeiramente, é importante lembrar que a redu- ção de desastres significa a redução dos danos e prejuízos decorrentes dos eventos adversos. Ou seja, é possível reduzir as consequências que os desastres podem causar: o objetivo principal de reduzir os desastres é que menos pessoas sejam mortas, fiquem feridas ou doentes; que não haja muitas edificações, estradas ou propriedades da- nificadas e que o meio ambiente não sofra alte- rações prejudiciais significativas. Reduzindo os fatores de vulnerabilidade, o risco de desastres é diminuído. Imagem 21 - Redução dos Riscos VULNERABILIDADE AMEAÇA RISCO RfA, V A redução do grau de vulnerabilidade é consegui- da por intermédio de medidas estruturais e não estruturais. As medidas estruturais têm por finalidade aumen- tar a segurança intrínseca das comunidades, por intermédio de atividades construtivas. Alguns exemplos de medidas estruturais são: as barragens, os açudes, a melhoria de estradas, a 56 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL - promoção de apoio ao planejamento e gerencia- mento da prevenção de desastres (análise e redu- ção de riscos de desastres) nos municípios com baixos níveis de capacitação técnica; - campanhas educativas e distribuição de carti- lhas relacionadas com a gestão de risco; - garantir monitoramento permanente das áreas de risco e atualizar sistematicamente os cadas- tros das famílias que ocupam esses setores; - fortalecer a Defesa Civil através da ampliação e capacitação dos quadros técnicos, da melhoria das condições de infraestrutura e do respaldo po- lítico da gestão municipal; - considerar a redução de risco nos Planos Direto- res Municipais; - definir e implementar o modelo de gestão de ris- co que atenda aos problemas do município. No modelo de gerenciamento a ser adotado pela COMPDEC, focado na prevenção de desastres, devem estar previstas a adoção de medidas preventivas não estruturais, como a análise de riscos de desastres no município, visando à sua redução. Outra questão que deve ser ressaltada nesse conjunto de medidas não estruturais é a aproximação com a comunidade das áreas de risco, por meio de um processo contínuo de envolvimento e participação efetiva em todas as fases de atuação da Proteção e Defesa Civil. Essa aproximação com a comunidade é importante para o fortalecimento do processo de percepção de risco, focada na compreensão dos processos destrutivos e na convivência com o risco, tendo como consequência a redução da vulnerabilidade das famílias ameaçadas por desastres, que passam a assimilar práticas cotidianas mais seguras. Todas essas medidas podem ser implantadas pelo poder público, por meio de ações legislativas, intensificação da fiscalização, campanhas educativas e obras de infraestrutura. Podem, ainda, ser concretizadas por meio de parcerias entre o poder público e a sociedade, principal beneficiada com mais medidas de redução dos riscos. Outro fator importante é que, ao reduzir os desastres, o restabelecimento da normalidade pode ser feito mais rapidamente sem consumir os recursos financeiros que poderiam ser direcionados para outras ações voltadas à melhoria da qualidade de vida da comunidade. Esta preocupação com o restabelecimento da normalidade, bem como com a diminuição das consequências do desastre, é essencial, pois – conforme experiências bem-sucedidas ao redor do mundo, inclusive no Brasil – é melhor reduzir os riscos de desastres do que aperfeiçoar a maneira de resposta após sua ocorrência. Mitigação de Desastres A fase de mitigação foi incluída em 2012, com a publicação da nova Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. A inclusão desta fase faz parte de um processo de atualização dos conceitos brasileiros em conso- nância com os utilizados pela Estratégia Interna- cional para a Redução de Desastres – EIRD. Como mencionado anteriormente, a prevenção engloba- va a eliminação ou redução do risco, para a EIRD a prevenção (ou prevenção de desastres) expressa o conceito e a intenção de evitar por completo os possíveis impactos adversos (negativos) median- te diversas ações planejadas e realizadas anteci- padamente. Já a mitigação é a diminuição ou a limitação dos impactos adversos das ameaças e dos desastres afins, pois, frequentemente, não é possível prevenir todos os impactos adversos das ameaças, mas é possível diminuir consideravel- mente sua escala e severidade mediante diversas estratégiase ações. Como nem sempre é possível evitar por comple- to os riscos dos desastres e suas consequências, as tarefas preventivas acabam por se transformar em ações mitigatórias (de minimização dos de- sastres), por essa razão, algumas vezes, os ter- mos prevenção e mitigação (diminuição ou limita- 57 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA ção) são usados indistintamente. Em 2005, governos chegaram a um acordo sobre a criação de um Plano de Redução de Risco para permitir que, até 2015, o mundo estivesse mais bem preparado para responder aos desastres. Uma das criações da ONU, nesse contexto, foi o Marco de Ação de Hyogo, tendo como objetivo aumentar a resiliência das nações e comunidades diante de desastres, visando à redução considerá- vel das perdas ocasionadas por desastres, como as perdas de vidas humanas, bens sociais, econô- micos e ambientais. O Marco de Ação de Hyogo ( 2005-2015) apontou cinco prioridades para a tomada de ações e medi- das para reduzir vulnerabilidades: a. garantir que a redução do risco de desastres seja uma prioridade nacional e local com forte base institucional para a aplicação; b. identificar, avaliar e monitorar os riscos de de- sastres e melhorar os sistemas de alerta precoce; c. utilizar conhecimento, inovação e educação para criar uma cultura de segurança e resiliência em todos os níveis; d. reduzir os fatores de risco subjacentes; e. fortalecer a preparação para desastres para permitir uma resposta eficaz em todos os níveis. des frente aos desastres; c. Considerar a experiência adquirida com estra- tégias/instituições e planos regionais e nacionais para a redução do risco de desastres e suas re- comendações, bem como acordos regionais rele- vantes no âmbito da implementação do Marco de Ação de Hyogo; d. Identificar modalidades de cooperação com base nos compromissos para implementar um quadro pós-2015 para a redução do risco de de- sastres; e. Determinar modalidades para a revisão perió- dica da implementação de um quadro pós-2015 para a redução do risco de desastres. O Marco de Sendai tem por objetivo alcançar o se- guinte resultado ao longo dos próximos 15 anos: “Redução substancial dos riscos de desastres e nas perdas de vidas, meios de subsistência e saú- de, bem como de ativos econômicos, físicos, so- ciais, culturais e ambientais de pessoas, empresas, comunidades e países”. Na Terceira Conferência Mundial sobre a Re- dução do Risco de Desastres, realizada de 14 a 18 março de 2015, em Sendai, Miyagi, no Japão, instituiu-se o Marco de Sendai, com o intuito de: Para atingir o resultado esperado, o seguin- te objetivo deve ser buscado: Prevenir novos riscos de desastres e reduzir os riscos de desastres existentes, através da implemen- tação medidas econômicas, estruturais, ju- rídicas, sociais, de saúde, culturais, educa- cionais, ambientais, tecnológicas, políticas e institucionais integradas e inclusivas que previnam e reduzam a exposição a perigos e a vulnerabilidade a desastres, aumentar a preparação para resposta e recuperação, e, assim, aumentar a resiliência . a. Adotar um marco pós-2015 para a redução do risco de desastres, conciso, focado e orientado para o futuro e para a ação; b. Completar a avaliação e revisão da implemen- tação do Marco de Ação de Hyogo 2005-2015: Construindo a resiliência das nações e comunida- Para apoiar a avaliação do progresso global em atingir o resultado e o objetivo deste quadro, sete metas globais foram acordadas: a. Reduzir substancialmente a mortalidade glo- bal por desastres até 2030, com o objetivo de re- 58 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL duzir a média de mortalidade global por 100.000 habitantes entre 2020-2030, em comparação com 2005-2015. b. Reduzir substancialmente o número de pes- soas afetadas em todo o mundo até 2030, com o objetivo de reduzir a média global por 100.000 habitantes entre 2020-2030, em comparação com 2005-2015. c. Reduzir as perdas econômicas diretas por de- sastres em relação ao produto interno bruto (PIB) global até 2030. d. Reduzir substancialmente os danos causados por desastres em infraestrutura básica e a inter- rupção de serviços básicos, como unidades de saúde e educação, inclusive por meio do aumento de sua resiliência até 2030. e. Aumentar substancialmente o número de pa- íses com estratégias nacionais e locais de redu- ção do risco de desastres até 2020. f. Intensificar substancialmente a cooperação in- ternacional com os países em desenvolvimento por meio de apoio adequado e sustentável para complementar suas ações nacionais para a im- plementação deste quadro até 2030 g. Aumentar substancialmente a disponibilidade e o acesso a sistemas de alerta precoce para vá- rios perigos e as informações e avaliações sobre o risco de desastres para o povo até 2030. Será necessária uma mudança cultural para mi- nimizar os riscos de desastres, pois eles sempre existiram e continuarão acontecendo, segundo es- pecialistas, com maior intensidade. Os governos, do mundo inteiro, devem priorizar investimentos e gastos públicos em ações de prevenção de de- sastres e não mais esperar que eles aconteçam para posteriormente dar uma resposta 59 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA 3. MAPEAMENTO E SETORIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO Uma das ferramentas utilizadas na prevenção de risco de desastres é o chamado mapeamento de risco. A Política Nacional de Defesa Civil (2007) propõe a elaboração e difusão de metodologias para o mapeamento de áreas de risco com o ob- jetivo de manter um banco de dados que forne- ça subsídios para os Planos Diretores de Defesa Civil. Os mapeamentos podem ser desdobrados em mapeamentos de ameaças, mapeamentos de vulnerabilidades e mapeamentos de riscos (que cruzam os dois mapas anteriores). Podem, tam- bém, ser desdobrados conforme proposta do Ins- tituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT que passa a apresentar-se. Para IPT (2007) há três tipos de mapeamento que, conjuntamente, resultarão no mapa de risco de uma determinada área. O primeiro mapa é o de inventário, utilizado para a elaboração da carta de susceptibilidade e do mapa de risco. No inventá- rio consideram-se três elementos: 1) distribuição espacial dos eventos; 2) conteúdo: tipo, tamanho, forma e estado; 3) informações de campo, fotos e imagens. Coletados estes dados, inicia-se a elaboração do segundo mapa, o mapa de susceptibilidade que tem por objetivo apresentar a potencialidade de ocorrência de desastres no local, fornecendo in- formações que auxiliem no planejamento do uso e ocupação do solo. Entre suas principais carac- terísticas contam-se o ser baseado no mapa de inventário, apresentar os fatores que influenciam a ocorrência dos eventos, correlacionar fatores e eventos e classificar as unidades de paisagem em graus de susceptibilidade O mapa de risco começa a ser elaborado com base nos dois mapas anteriormente citados e apresen- tará a probabilidade de ocorrência de processos geológicos naturais ou induzidos e as consequên- cias sociais e econômicas deles decorrentes. Para além de uma aplicabilidade temporal limitada, o mapa de risco tem como principais característi- cas: indicar a probabilidade temporal e espacial de ocorrência da ameaça; apresentar a tipologia e comportamento do fenômeno; indicar a vulnerabi- lidade dos elementos sob risco; apresentar cálcu- los relativos a custos dos danos (IPT, 2007). De acordo com Lopes (2009) o mapeamento de risco é um instrumento eficaz para o gerencia- mento de riscos geológicos. A partir de 2004 o Instituto Geológico - IG começou a realizar ma- peamentos no estado de São Paulo associados, principalmente, a escorregamentos, inundações e dinâmicas erosivas. Tais medidas procuraram subsidiar ações articuladas pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil - CEPDEC, por meio deTermos de Cooperação Técnica, voltadas para a minimização e a prevenção dos moradores dessas áreas. A Lei 12.608/2012, que instituiu a Política Nacio- nal de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC, autoriza a criação de sistema de informações e monitora- mento de desastres, sendo que um dos objetivos centrais da PNPDEC é o de promover a identifi- cação e avaliação das ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades, de modo a evitar ou reduzir a ocorrência de desastres (Artigo 5º). A Lei determina a criação de um cadastro nacio- nal de municípios com áreas suscetíveis (Artigo 6º) e inclui o mapeamento entre as ferramentas essenciais à prevenção de desastres (Artigo 22º). As outras ferramentas municipais apontadas na Lei, para as quais o mapeamento de áreas susce- tíveis constitui subsídio fundamental, são: plano de contingência de proteção e defesa civil; plano de implantação de obras e serviços; mecanismos 60 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL de controle e fiscalização; e carta geotécnica de aptidão à urbanização. Em particular, a Lei especifica que os mecanismos de controle e fiscalização se destinam a evitar a edificação em áreas suscetíveis, o que pressupõe conhecer previamente a localização dessas áre- as. Além disso, o plano diretor municipal deve conter as áreas suscetíveis (Artigo 26º) e a aprovação de novos projetos de parcelamento do solo urba- no. Fica vinculada ao atendimento dos requisitos contidos na carta geotécnica de aptidão à urba- nização (Artigo 27º), cuja elaboração também re- quer o mapeamento prévio das suscetibilidades a processos do meio físico. Salientando que o Brasil tem sofrido com a ocor- rência de diversos desastres naturais e devido ao aumento da frequência e intensidade de desas- tres naturais relacionados a fenômenos geológi- cos e hidrológicos, nas principais cidades brasi- leiras, nas últimas duas décadas, especialmente nas regiões Sudeste e Sul do país, o Serviço Ge- ológico do Brasil - CPRM começou a realizar a partir de 2013, por solicitação do governo federal, um mapeamento de suscetibilidade, perigo e ris- co em 821 municípios considerados prioritários por registrarem o maior número de ocorrências. O trabalho vem avançando nos últimos anos, mas ainda há uma série de municípios prioritários que ainda não possuem esse tipo de mapeamento. Além dos municípios considerados prioritários, há uma série de outros onde também ocorrem deslizamentos de terra, mas com menor frequên- cia e intensidade, para esses casos, a metodolo- gia desenvolvida pela CPRM/IPT pode auxiliar as Defesas Civis e secretarias municipais que tratam de riscos de desastres naturais a fazer um plane- jamento urbano melhor, como também identificar áreas suscetíveis a movimentos gravitacionais de massa e inundação. Cartas de Suscetibilidade a movi- mentos gravitacionais de massa e inundação As Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gra- vitacionais de Massa e Inundações foram elabo- radas em atenção a diretrizes específicas da Lei Federal 12.608/2012 que estabelece a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC. A carta indica as áreas suscetíveis a processos do meio físico cuja dinâmica pode gerar desas- tres naturais e a elaboração das cartas de sus- cetibilidade está prevista no Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Natu- rais - PNGRRDN e encontra-se sob a coordenação nacional do Serviço Geológico do Brasil - CPRM e parte da execução em parceria técnica com o Ins- tituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT do Estado de São Paulo. O produto objetiva disponibilizar ao município in- formações do meio físico, de modo a que possam ser utilizadas como subsídio à revisão de planos diretores, bem como à elaboração de cartas ge- otécnicas de aptidão urbana e de áreas de risco, entre outros instrumentos de planejamento e ges- tão territorial. A caracterização do grau de suscetibilidade a de- terminado processo do meio físico em uma área específica deve impor as correspondentes medi- das de restrição à ocupação, de modo a evitar a formação de novas áreas de risco, bem como in- duzir práticas e normas técnicas para assegurar o uso adequado do solo em áreas não ocupadas e fomentar ações voltadas à eliminação de riscos e redução das vulnerabilidades em áreas ocupadas, especialmente nas urbanizadas. Para o desenvolvimento metodológico das cartas de suscetibilidade a processos do meio físico que podem gerar desastres naturais, estabeleceu-se, em maio de 2013, parceria técnica entre a CPRM e o IPT, inicialmente com o mapeamento de 75 mu- nicípios situados nos estados de Espírito Santo, Santa Catarina e São Paulo, na escala geográfica de referência 1: 25.000. As informações geradas para a elaboração da car- ta estão em conformidade temática com as esca- 61 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA las 1:50.000 (AC, AM, AP, PA, RO e RR) e 1:25.000 (demais estados), podendo a carta eventualmen- te ser apresentada em escalas menores. Imagem 22 - Aspecto geral das Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações Fonte: CPRM A Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gravita- cionais de Massa e Inundações tem por objetivo cartografar áreas suscetíveis a movimentos gra- vitacionais de massa e inundação, classificadas como alto, médio e baixo, relacionadas, principal- mente, com movimentos de massa e inundações, em municípios brasileiros priorizados pelo Gover- no Federal. Os processos do meio físico analisados compre- endem os principais tipos de movimentos gravita- cionais de massa (deslizamentos; rastejos; que- das, tombamentos, desplacamentos e rolamentos de rochas; e corridas de massa) e de processos hidrológicos (inundações e enxurradas), os quais estão frequentemente associados a desastres naturais ocorridos no País. O objetivo geral dos trabalhos de mapeamento de áreas suscetíveis apresentados é o de estabele- cer bases tecnológicas para o desenvolvimento contínuo de um modelo integrado atualizável de produção de cartas de suscetibilidade a proces- sos do meio físico que podem gerar desastres na- turais. Visa-se, sobretudo, instrumentalizar as prefeitu- ras municipais em suas ações de planejamento e gestão territorial e de prevenção de desastres na- turais. Entre os objetivos específicos dos traba- lhos de mapeamento de áreas suscetíveis, desta- cam-se: a) Gerar cartas de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e a processos hidrológi- cos para os municípios mapeados, tanto em rela- ção às áreas não ocupadas quanto às ocupadas, em bases cartográficas similares e em ambiente de Sistema de Informação Geográfica - SIG, inte- grando todos os dados obtidos em uma Base de Dados; b) Sintetizar os principais resultados do mapea- mento em um documento cartográfico para cada município, denominado carta síntese, contendo o zoneamento das suscetibilidades e outras infor- mações correlatas de interesse, apresentado em linguagem acessível a um público o mais amplo possível; c) Salientar as suscetibilidades incidentes nas áreas urbanizadas e/ou edificadas, que corres- pondem aos locais onde se concentra a maior parte das populações residentes, as quais podem estar sujeitas aos processos abordados; d) Estabelecer indicadores que forneçam uma estimativa da magnitude dessa incidência em re- lação às populações residentes e facilitem a co- municação com os tomadores de decisão e as co- munidades envolvidas, acerca da priorização de ações preventivas a realizar; e) Editar os produtos cartográficos gerados em formato digital, para disponibilização aos municí- pios, de modo a que possam ser utilizados como subsídio à revisão de planos diretores, bem como à elaboração de cartas geotécnicas de aptidão ur- bana e de áreas de risco, entre outros instrumen- tos de planejamento e gestão territorial. O governo estadual, visandoatender o que determina a Lei n° 12.608/12 e apoiar o for- talecimento da gestão de riscos nos municí- pios, firmou em 2017 convenio com a CPRM para elaboração da carta de suscetibilidade de 40 municípios do estado. Em Santa Cata- rina em torno de 60 municípios possuem as Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gra- vitacionais de Massa e Inundações. Você pode conferir a Carta de Susce- tibilidade de Santa Catarina clicando aqui. http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Prevencao-de-Desastres-Naturais/Cartas-de-Suscetibilidade-a-Movimentos-Gravitacionais-de-Massa-e-Inundacoes---Santa-Catarina-5087.html 62 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Mapas de Setorização de Riscos O Serviço Geológico do Brasil - CPRM integra o Programa Nacional de Gestão de Riscos e Res- posta a Desastres do Governo Federal (PPA 2012- 2015), tendo como atribuição mapear áreas de ris- co geológico, classificadas como de muito alto e alto, relacionadas principalmente com movimen- tos de massa e inundações, em 821 municípios brasileiros prioritários, sendo 77 deles em Santa Catarina. As informações levantadas pela CPRM são dis- ponibilizadas para o Centro Nacional de Monito- ramento e Alertas de Desastres Naturais – CE- MADEN (MCTI), a fim de subsidiar a emissão de avisos e alertas meteorológicos; e para o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desas- tres – CENAD (MI), para a emissão de alertas às Defesas Civis estaduais e municipais, visando ações de prevenção e resposta frente aos desas- tres naturais. A setorização de riscos geológicos tem por fina- lidade a identificação, a delimitação e a caracte- rização de áreas ou setores de uma encosta ou planície de inundação sujeitas à ocorrência de processos destrutivos de movimentos de massa, enchentes de alta energia e inundações. Todo o acervo de dados é disponibilizado para órgãos e instituições do governo federal, de esta- dos e de municípios que atuam na prevenção e no monitoramento de eventos climáticos catastrófi- cos, visando contribuir para a redução dos danos e para a diminuição das perdas, de vidas e mate- riais, relacionadas aos desastres naturais. O setor de risco geológico consiste em um polígo- no envolvendo a porção de uma encosta ou planí- cie de inundação com potencial para sofrer algum tipo de processo natural ou induzido que possa causar danos, sendo delimitado sobre imagens e/ou fotografias georreferenciados em ambiente SIG (formato shapefile) ou gerado como arquivo KML/KMZ do Google Earth. Imagem 23 - Setorização de Risco Fonte: CPRM O setor de risco é delimitado com base na ocorrên- cia de indícios e evidências observadas no local, tais como: trincas no solo, degraus de abatimen- to, árvores inclinadas, cicatrizes de deslizamen- tos, marcas de cheia, entre outros. Cada setor de risco é representado em uma pran- cha de setorização no tamanho A3, apresentada no formato PDF, com fotos relativas aos indícios observados no terreno e nas moradias, além de outras estruturas urbanas em risco, contendo a descrição da tipologia do processo e informações para o entendimento dos condicionantes. Os trabalhos de campo incluem o levantamento estimado do número de moradias e pessoas afe- tadas ou passíveis de serem afetadas. São indica- das as intervenções estruturais e não estruturais, tais como obras de contenção, drenagem, remo- ção de moradias, entre outras intervenções. Em ambiente SIG, o arquivo shapefile é associa- do a uma base de dados descritiva com diversos campos de informação semelhantes aos dados descritivos da prancha. Todos os dados levantados são disponibilizados para os representantes do município e da Defe- sa Civil e também para CEMADEN, CENAD, CEF, Ministério das Cidades e outros órgãos e institui- ções integrantes do Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais do Gover- no Federal. 63 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA O governo estadual, visando atender o que de- termina a Lei n° 12.608/12 e apoiar o fortale- cimento da gestão de riscos nos municípios, firmou em 2017 convenio com a CPRM para setorização dos municípios do estado ainda não mapeados. Atualmente Santa Catarina é o primeiro e único estado da federação a ter 100% dos municípios com as Setorizações de Risco Geológicos da CPRM. Você pode acessar a relação das se- torizações clicando aqui. Cartas de Perigo/Risco - Mapea- mento de Perigo e Risco a Movi- mentos de Massa - Projeto GIDES Na busca do aprimoramento técnico no mape- amento de áreas de risco para movimentos de massa, entre os anos 2013-2017, foi realizado um Acordo de Cooperação Técnica Internacional - CTI entre Brasil e Japão, sendo firmado pelo Ministério das Cidades - MCidades em parceria com o Minis- tério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI, o Ministério da Integração Nacional - MI e o Serviço Geológico do Brasil - CPRM, através da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Rela- ções Exteriores - ABC/MRE e a Agência de Coo- peração Internacional do Japão - JICA,, que deu origem a elaboração do Projeto de Fortalecimen- to da Estratégia Nacional de Gestão Integrada de Riscos em Desastres Naturais - GIDES. O projeto buscou o desenvolvimento de meto- dologias em cinco eixos temáticos: avaliação e mapeamento de áreas de perigo e risco; monito- ramento e alerta (sistemas de monitoramento e alerta antecipado de risco); obras de prevenção e reabilitação; planejamento da expansão urbana em áreas com suscetibilidade a movimentos de massa e planejamento dos planos de contingên- cia. Tendo no Brasil como pilotos os municípios de Nova Friburgo - RJ, Petrópolis - RJ e Blumenau - SC e envolveu técnicos municipais, estaduais e federais, supervisionados por técnicos japoneses. Um dos resultados foi o desenvolvimento de no- vos procedimentos para elaboração de cartas de perigo e risco a movimentos gravitacionais de massa e serve de base para o gerenciamento des- sas áreas. De acordo com a CPRM a metodologia proposta pelo projeto para elaboração de cartas de perigo a movimentos gravitacionais de massa objeti- va identificar, por meio de critérios topográficos, quatro tipologias específicas de movimentos de massa (tanto existentes como potenciais), delimi- tar projeções para seu comportamento (área de geração e de atingimento) e qualificar sua gravi- dade, usando para isso indícios físicos no terreno. Uma parceira com o Serviço Geológico do Brasil - CPRM, permitiu que o estado de Santa Catarina fosse pioneiro no país em aplicar a nova metodo- logia em 5 municípios, fornecendo assim informa- ções primordiais para gestão de perigo/risco em seus territórios. Imagem 24 - Carta de perigo a movimentos gravitacio- nais de massa - município de Santo Amaro da Imperatriz - SC. Fonte: CPRM Conforme descrito pelo CPRM (2018), com as cartas de perigo/risco pretende-se subsidiar a to- mada de decisão de gestores públicos e profis- sionais dos setores público e privado que atuam promovendo ações de identificação, prevenção e recuperação no gerenciamento dos riscos. Sendo assim, este tipo de mapeamento constitui ferramenta básica para orientar a elaboração dos planos de contingência e a emissão de alertas nas comunidades em risco. http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Prevencao-de-Desastres-Naturais/Setorizacao-de-Riscos-Geologicos---Santa-Catarina-4866.html 64 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL Além de auxiliar na gestão territorial e nas políti- cas de uso e ocupação do solo, buscando servir de guia para a expansão urbana dos municípios em locais seguros, e evitando a formação de no- vas áreas de risco. Servindo ainda para orientar a implantação de obras preventivas ou de reabili- tação nas áreas prioritárias, na busca de mitigar riscos. A metodologia aborda os processos de movimen- to de massa os tipos mais comuns nas encostas do territóriobrasileiro, que são: queda, desliza- mentos e fluxo de detritos (tanto existentes como potenciais), delimitando projeções para seu com- portamento (área de geração e de atingimento) e qualificando sua gravidade, usando para isso indí- cios físicos no terreno. Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização Frente aos Desastres Naturais Documento cartográfico do Programa de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, inclu- ído no Plano Plurianual 2012-2015 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, executado em parceria com o Ministério das Cidades. Dá sequência às Cartas Municipais de Suscetibi- lidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações na escala 1:25.000, elaboradas pelo Serviço Geológico do Brasil - CPRM e também in- seridas no PPA 2012–2015, que são utilizadas na primeira avaliação de campo dos municípios ob- jeto dos estudos para a execução das cartas geo- técnicas de aptidão à urbanização. A escala do mapeamento (1:10.000) permite não só a caracterização geológico-geotécnica dos ter- renos, como também a indicação das aptidões de uso de tais áreas frente aos desastres naturais e seus processos geradores, tais como movimen- tos de massa nas encostas e eventos destrutivos de natureza hidrológica, compreendidos no esco- po desta carta, visando à segurança das popula- ções e dos equipamentos urbanos que venham a ser assentados. O detalhamento para aplicação da metodologia encontra-se disponível para download no site da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil aqui. Este documento pretende orientar os técnicos municipais, visando ao planejamento do uso e ocupação do território sob sua jurisdição, indican- do as áreas mais favoráveis à expansão urbana e evitando, assim, a instalação de novas áreas de risco de ocorrência dos desastres naturais aqui tratados e os consequentes custos sociais e ma- teriais deles decorrentes. A Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização tem por finalidade caracterizar os terrenos municipais do ponto de vista geológico-geotécnico e definir as aptidões desses terrenos à ocupação quan- to à probabilidade de ocorrência dos desastres naturais aqui tratados, abrangendo as áreas não ocupadas no entorno das áreas já urbanizadas, as quais venham a representar possíveis vetores de expansão urbana, ou por apresentarem carac- terísticas favoráveis à ocupação, ou por estarem definidas nos planos diretores municipais como áreas de interesse a tal expansão. As bases cartográficas e as imagens nas quais são lançados os dados coletados nos trabalhos de mapeamento de campo são as mesmas utili- zadas nas cartas de suscetibilidade elaboradas pela CPRM, ajustadas em seus detalhes no cam- po à escala de mapeamento de 1:10.000. As unidades geotécnicas cartografadas são des- critas de acordo com suas características de comportamento frente às solicitações normais que ocorrem em um processo de ocupação ur- bana, indicando as aptidões e restrições que elas naturalmente impõem a tais processos. As aptidões dos terrenos frente aos desastres na- turais referidos nessas cartas de aptidão – mo- vimentos de massa nas encostas e processos hidrológicos destrutivos, tais como enchentes, inundações e enxurradas – são representadas em cores, sendo a cor verde representativa dos terre- nos com alta aptidão à ocupação, a cor amarela definindo os terrenos com média aptidão ou que podem ser ocupados com restrições que devem ser respeitadas (conforme descrito nas legendas das cartas) e a cor vermelha caracterizando os http://www.mi.gov.br/images/stories/ArquivosDefesaCivil/ArquivosPDF/Volume1-ManualTecnicoparaMapeamentodePerigoeRiscoaMovimentos_CPRM.pdf 65 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA terrenos que não possuem aptidão à ocupação. O mapeamento, executado face ao detalhamento imposto pela escala, abrange as áreas de atingi- mento pelos processos destrutivos identificados. Os produtos gerados e disponibilizados pela CPRM para cada município objeto desta ação cor- respondem às cartas geotécnicas de aptidão à ur- banização frente aos desastres naturais na esca- la 1:10.000, contendo todos os elementos obtidos no mapeamento efetuado, e a uma carta-síntese elaborada na escala 1:30.000 (ou 1:40.000) com o objetivo de apresentar uma visão geral das carac- terísticas dos terrenos dos municípios estudados. Em Santa Catarina foram mapeados 18 municípios em uma parceria do Ministério das Cidades com a Universidade Federal de Santa Catarina. Confira a lista dos municípios clican- do aqui. http://mapgeo.cfh.ufsc.br/ 66 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL 4. PERCEPÇÃO DE RISCO O termo percepção é, como tantos outros, utili- zado com diferentes propósitos em diferentes contextos. Tem, por isso, vários significados, po- dendo ser conceitualizado de formas diferentes, por diferentes disciplinas e dentro do mesmo do- mínio disciplinar. De acordo com alguns autores (WACHINGER&RENN, 2010) essa diversidade de abordagens sobre percepção de risco pode ser agrupada em dois grandes tipos: a realista e a construtivista. Vamos conhecer cada uma delas a partir de ago- ra. As abordagens realistas inspiram-se nas aborda- gens da psicologia e neuropsicologia clássicas e assumem a existência de um mundo exterior ob- jetivo, ou seja, que não depende da interpretação de cada um. Neste contexto, os riscos devem ser compreendidos de forma objetiva e as percepções trazidas para perto dessa objetividade. A ques- tão é, somente, introduzir mais informação e/ou maior conhecimento do risco e fazer com que as percepções das pessoas se ajustem a isso. As abordagens construtivistas negam a objetivi- dade dos riscos e concebem as percepções de risco como subjetivas e socialmente construídas. Nesta lógica, a interação do saber científico com as percepções de risco não se resume ao forneci- mento de mais informação às pessoas. Wachin- ger&Renn (2010) definem esta lógica de forma clara. A percepção de riscos envolve o processo de reco- lha, seleção e interpretação de sinais acerca de im- pactos incertos de eventos, atividades ou tecnolo- gias. Estes sinais podem referir-se a observações diretas (por exemplo, testemunhado um acidente de carro) ou informação de outros (por exemplo, Você sabe o que significa o termo percepção? ler num jornal sobre poder nuclear). As percepções podem diferir dependendo do tipo de risco, do con- texto, da personalidade do indivíduo e do contexto social Segundo alguns autores, contudo, algumas des- tas correntes sociológicas de viés romântico-ra- dical, “acabaram confundindo a ideia de constru- ção social do risco e da percepção do risco, com a ideia de uma natureza estritamente social desses riscos e dessas percepções” (FREITAS et al, 2016 , p. 52). Mas, obviamente, não podemos limitar- -nos a hipervalorizar certas percepções comuni- tárias (por mais respeito que elas mereçam), em detrimento das visões científicas, deixando as pessoas correrem riscos sem as conscientizar. A responsabilidade do pesquisador, do técnico e do agente operacional não é fazer coro da opinião da comunidade, mas antes ouvi-la com respeito, con- siderá-la e partilhar com a comunidade sua visão científica-técnica-operacional. Uma nova cultura de gestão de risco e, como tal, de Proteção e Defesa Civil só poderá desenvolver- -se nesta lógica de ecologia (interação) de sabe- res. As percepções têm, como é sabido, uma base bio- lógica (WACHINGER&RENN, 2010; FREITAS et al, 2016) que é, antes do mais, individual, porque de- pendente do caráter auto-referencial do sistema nervoso e das complexas interações entre razão e emoção (FREITAS et al, 2016). A categorização perceptiva (ou percepção) está relacionada com a memória e com a formação de conceitos (aprendizagem conceitual), se consti- tuindo de imagens mentais que, constantemente, podem estar contribuindopara a consolidação de racionalidades/ convicções pessoais, com deter- minado grau de compartilhamento pessoal. 67 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA Imagem 25 - . A Percepção, a memória e a aprendizagem. MEMÓRIA APRENDIZAGEM PERCEPÇÃO AMBIENTE VIVÊNCIAS DIRETAS DISCURSOS Ligadas às histórias de vida, as percepções indi- viduais são afetadas por muitos fatores da natu- reza individual e social e vão se alterando ao lon- go do tempo. Não basta, simplesmente, saber se uma pessoa valoriza (e quanto) um certo risco, mas antes quais são e como se organizam as per- cepções a propósito desse risco. Por isso, certos autores (FREITAS et al, 2016, p. 52) introduzem o conceito de “manchas perceptivas” que podem ser de natureza mais: a) individual “refletindo, as complexas dinâmicas do acoplamento estrutural idiossincrático de cada ser humano (com o meio físico e social)”; b) social “emergindo da consen- sualidade, mas, também, conflitualidade entre as manchas individuais”. Em ambas as dimensões há que distinguir duas dinâmicas principais: a da vida experiencial direta, em si, e a da interação por intermédio da linguagem (discursos constante- mente produzidos, partilhados e/ ou negociados). O conceito de mancha perceptiva pretende reforçar a ideia de que as percepções têm diferentes graus de consistência. Em certos casos, pode até acontecer que as percepções possuem partes mais densas e consolidadas e partes menos enraizadas e, como tal, mais alteráveis. Representam-se, esquematicamente, de forma simplificada como essas manchas se podem for- mar (Figura 09). Por um lado, temos o que cada um pensa seja sobre riscos (ameaças e vulnerabi- lidades). Na figura podemos observar que a man- cha perceptiva acontece da seguinte forma: em geral (1), ou sobre um tipo de evento, em parti- cular, em relação com o local onde vive (2). Mas tais pensamentos estão sempre interatuando com convicções/crenças de natureza religiosa, ambiental (sobre a natureza e sua interação com ser humano) e cultural (tradicional, comunitária, etc.). Mas, para além disso, há o que os diversos tipos de cientistas e ciências pensam e dizem. As ciências físico-naturais centram-se mais, nor- malmente, sobre as ameaças, os componentes estruturais das vulnerabilidades e os processos físico- químico e naturais associados aos riscos e desastres. As ciências humanas e sociais, por seu turno, centram-se mais nas vulnerabilidades e nos processos humanos e sociais associados à ges- tão de risco. As manchas perceptivas formam-se na complexa interação destas componentes Imagem 26 - Manchas perceptivas O que dizem as ciências humanas e sociais O que dizem as ciências físico- naturais O que dizem os técnicos O que cada um pensa (1) O que cada um pensa (2) Convicções Ambientais Convicções Culturais Convicções Religiosas MANCHA PERCEPTIVA A percepção (ou categorização perceptiva) con- siste na aquisição, seleção, interpretação e or- ganização das sensações e discursos, em direta relação com a história de vida de cada indivíduo Fonte: FREITAS, Mário 68 CURSO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL e, portanto, tudo o que ele viveu e aprendeu. A percepção/categorização perceptiva dá origem a imagens perceptivas (visuais, auditivas, tácteis, olfativas, gustativas, etc.) que sempre estão re- lacionadas com a seleção de ações adaptadas às referidas sensações. Esta seleção de ações/ comportamentos pode ser automática/involuntá- ria ou deliberada (resultado de processo decisó- rio). As categorizações perceptivas estão na base da formação de conceitos e, como tal, na base de outras imagens mentais que junto com as per- cepções se constituem no conteúdo do chamado pensamento ou mente. Para que aconteça pensamento é necessária esta base perceptiva que, desde muito cedo, se mistu- ra com a aquisição da fala e, como tal, com o “dar nome” às coisas. Assim, por exemplo, imagens perceptivas associadas à cor “vermelho” estão inevitavelmente relacionadas com a palavra “ver- melho” e as imagens perceptivas “associadas a”. A estabilidade das percepções está relacionada com a memória. Mas o que é memória? Há vários tipos de memória e significado que, no dia a dia, é atribuído à palavra memória, e que aca- bou ficando dominante, é somente uma pequena parte (e, provavelmente, a menos interessante) de todo o processo: recordar e reproduzir nomes, nú- meros, definições... ou seja, saber coisas de cor. mas a memória é muito mais do que isso. A memória é a capacidade de repetir um certo de- sempenho, uma determinada atuação, um dado comportamento. As imagens mentais, incluindo as imagens perceptivas, não são, como lembra António Damásio, fotografias acumuladas numa base de dados do tipo “gaveta eletrônica”. Não há, no cérebro, “caixinhas” onde as imagens sejam guardadas e onde, depois, se vão buscar. As ima- gens perceptivas (como, aliás, todas as imagens mentais) são disparos neurais, ou seja, ativação de um conjunto de neurônios (células que cons- tituem o sistema nervoso e, como tal, o cérebro). Correspondendo ao registro de uma percepção, essa ativação de neurônios corresponde, tam- bém, à seleção de uma conduta, uma ação. As imagens perceptivas não podem ser “guarda- das” numa caixa porque elas só existem sob a for- ma de disparos neurais, ou seja, sempre que te- mos uma percepção dá-se um disparo, que mais tarde ou mais cedo “se apaga” e vai dando lugar a outro(s). Estando ligada à categorização percep- tiva a memória implica “recategorização constan- te” e “envolve uma atividade motora contínua e uma prática repetida em contextos diferentes” . Assim, se poderá compreender porque razão se vai alterando a memória de um evento extremo ou desastre que vivemos ou acompanhamos de per- to, que é o mesmo que dizer que varia a percep- ção desse evento/ desastre. Para além disso, as percepções e a memória estão interligadas com emoções e sentimentos que, por seu caráter alta- mente subjetivo, aumentam o grau de variação da percepção e da memória. Em resumo, a memória é “inexata, embora seja igualmente capaz de um grau muito grande de generalização”. Pode parecer que isto é uma falha, uma espécie de fraqueza (face, por exemplo, à memória exa- ta de um computador). Mas, não. Ao contrário é uma enorme vantagem, um instrumento incrível de adaptação e sucesso. Efetivamente, é graças a esse caráter inexato que nossa memória é ca- paz de sugerir respostas novas para situações novas ou algo diferente das até aí vivenciadas. Percepção e memória estão, ainda, relacionadas com uma terceira dimensão da atividade cerebral, a aprendizagem. Em termos básicos pode enten- der-se a aprendizagem como “um processo adap- tativo” (Edelman, 1995, p. 149) de aquisição de no- vas competências de comportamento. 69 DEFESA CIVIL DO ESTADO DE SANTA CATARINA Imagem 27 - .Processo Adaptativo MEMÓRIAAPRENDIZAGEM PERCEPÇÃO PROCESSO ADAPTATIVO A afirmação de Piaget de que “os conhecimentos não partem nem do sujeito (…) nem do objeto (…) mas das interações entre sujeitos e objetos” está bem próxima das considerações de Maturana e Varela sobre a natureza do conhecimento e a no- ção de enação (ou seja, que não se pode separar o saber do fazer) utilizada por certos autores. É durante os processos da aprendizagem que as categorizações perceptivas se organizam em ca- tegorizações conceituais que podem estar mais perto do saber comum do dia a dia (incluindo sa- beres tradicionais) ou do saber científico, ensina- do e comunicado, em diversos contextos. Mas falemos, ainda, um pouco mais sobre per- cepção de risco, recorrendo a um exemplo muito simples: Ao atravessar a rua eu fico mais vulnerável ao pe- rigo/ameaça de ser atropelado por um automóvel a alta velocidade e, por isso, eu olho cautelosa- mente para um e outro lado antes de atravessar a rua
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