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FISIOLOGIA DA DOR Quase todas as enfermidades ou agressões ao nosso corpo causam um estímulo que interpretamos como dor. Essa percepção nada mais é que um mecanismo protetor, porque nos sinaliza que alguma coisa está errad, e que, então, temos tempo de corrigir para evitar maiores danos (GUYTON, 2011). A dor pode ser classificada em rápida (também chamada de pontual, em agulhada, aguda), que seria aquela dor instantânea, percebida em menos de 0,1 segundo; e a dor lenta (persistente, crônica), que causa muito sofrimento e geralmente está associada a órgãos profundos. Há três tipos de estímulos que têm potencial para desencadear a dor: estímulos mecânicos, térmicos e químicos. Os últimos estão associados à liberação de conteúdo das células à medida que estas são lesionadas, como por exemplo um alfinete perfurando a pele. A dor rápida é, em geral, causada por estímulos mecânicos e térmicos; já a dor lenta é causa pelos três tipos. Algumas das substâncias que culminam na dor causada por estímulos químicos são bradicinina (principal responsável pela dor instantânea), serotonina, histamina, íons K+, ácidos, acetilcolina e enzimas que degradam proteínas. Outras substâncias não ativam diretamente a dor, mas tornam as terminações mais sensíveis a esse estímulo, como as prostaglandinas e a substância P. (GUYTON, 2011). Os receptores da dor, chamado nociceptores, são terminações nervosas livres, que podem estar associadas a camadas superficiais da pele e também composição de artérias, periósteo e meninges. É importante ressaltar que nos órgãos mais profundos a dor geralmente é mais difusa (GUYTON, 2011). Uma característica dos receptores da dor é que eles raramente se adaptam à dor. Outros receptores do corpo acabam se dessensibilizando à medida que são muito excitados, como por exemplo uma pessoa que não sente mais o perfume do próprio cabelo. Mas não os da dor, estes se mantêm para que o indivíduo tenha conhecimento que algo ainda está errado com aquela região. O que pode acontecer, na verdade, é um aumento da sensibilidade, o que é chamado de hiperalgesia (GUYTON, 2011). A dor possui intensidades diferentes, dependendo do estímulo para causá-la. Mais lesões nos tecidos implicam mais químicos sendo extravasados e, então, mais dor. A dor causada por isquemia, decorre de acúmulo de ácido lático dos músculos, uma vez que não chega sangue com nutrientes a esses, e então precisam gerar energia de modo anaeróbico (GUYTON, 2011) Há duas vias para o caminho da dor, uma via para a dor rápida e outra para a dor lenta. As fibras A-delta (possuem mielina) transmitem os sinais rápidos, e as fibras do tipo C transmitem a dor lenta. Geralmente, quando sentimos dor, estamos recebendo os dois estímulos. A sensação percebida nas terminações trafega até a parte posterior da medula, e então viaja até o encéfalo. As fibras A-delta (dor rápida) seguem pelo trato neoespinotalâmico, atravessam a medula imediatamente pela comissura anterior e então ascendem nas colunas anterolaterias. Algumas dessas fibras terminam em áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o tálamo e depois até o córtex somatossensorial. A dor rápida pode ser percebida e localizada mais facilmente, principalmente quando há receptores táteis que simultaneamente excitam o caminho pelo lemnisco medial. O principal neurotransmissor envolvido com as fibras A-delta é o glutamato. Já a via crônica da dor, propagada pelas fibras C, é a paleoespinotalâmica. Nessa via, as fibras periféricas terminam nas lâminas II e III dos cornos dorsais, e, então, através de um neurônio curto, há duas sinapses até a lâmina V. A partir daí, as vias cruzam na comissura anterior e sobem na medula pela parte anterolateral também. O químico mais associado à dor lenta parece ser a Substância P, embora o Glutamato também esteja envolvido. A Via Paleoespinotalâmica termina difusamente no tronco cerebral em três áreas: núcleos reticulares, área tectal do mesencéfalo e região cinzenta periaquedutal. Algumas fibras terminam ali mesmo no tronco, outras sobem até o hipotálamo e outras regiões do encéfalo. Devivo ao tanto de sinapses que essa via faz, a dor acaba sendo mal interpretada quanto à sua localização, parecendo ser bem difusa. A maior parte da dor é percebida quando as fibras chegam no córtex, mas há uma parte que é sim percebida ainda nas áreas do tronco encefálico. Os núcleos intralaminares do tálamo e as áreas reticulares do tronco têm participação ativa no sistema de alerta do corpo, inclusive é por esse motivo que as pessoas não conseguem dormir em caso de dor forte (GUYTON, 2011). A dor para cada pessoa é precisamente subjetiva, porque há mecanismos de supressão que diferem entre as pessoas, estes compõem o sistema de analgesia, que compreende três instâncias: i) área periventricular e substância cinzenta, que enviam sinais para os ii) núcleos da rafe e núcleo reticular paragigantocelular (bulbo), que transferem para iii) complexo inibitório de dor (cornos dorsais da medula). É neste último que os sinais bloqueiam o caminho da dor antes que ela chegue ao encéfalo. Vale lembrar também que regiões do hipotálamo também podem atuar como analgésicos. Os neurotransmissores envolvidos nessa inibição são a encefalina (núcleos da rafe) e a serotonina. A encefalina chega na medula e inibe as sinapses das fibras de dor, fazendo com que o estímulo não passe adiante (GUYTON, 2011). Outro importante sistema para inibição da dor é o Opioide Encefálico, cujas substâncias envolvidas são a ß-endorfina, metencefalina, leuencefalina e dinorfina. Embora os mecanismos ainda não estejam muito bem esclarecidos, sabe-se que essas substâncias, encontradas no tronco cerebral, tálamo e hipotálamo, têm forte função na inibição da dor. Além disso, outro mecanismo de inibição da dor está relacionado com grandes vias somatossensoriais (inibição lateral na medula espinal), por isso que algumas vezes passar a mão sobre o machucado pode aliviar a dor (GUYTON, 2011). Há casos em que a pessoa sente dor em lugares distantes daqueles onde, de fato, o mecanismo da dor deveria estar acontecendo, é o que chamamos de Dor Referida. Isso acontece porque há conexões na medula, e então fibras de dor interligam-se com outras fibras sensoriais, antes de subir ao encéfalo (GUYTON, 2011). A dor visceral é um pouco diferente, ela acontece de forma difusa. Ativada por fibras C, ela pode ser isquêmica, causada por químicos (conteúdo ácido que escapam do sistema gastrointestinal, por exemplo), ou por espasmos e distensão excessiva (estimulação mecânica) (GUYTON, 2011). GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
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