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S Í N D R O M E D E T U R N E R C R I T É R I O S D I A G N Ó S T I C O S A avaliação pré-natal com ultrassom fetal de rotina e a realização de dosagens de gonadotrofina coriônica (hCG) em gestantes com idades mais avançadas podem sugerir o diagnóstico de ST - cujos achados necessitam de confirmação com cariótipo. achados sugestivos: higroma cístico, hidropsia fetal, edema subcutâneo, fêmur curto, aumento da translucência nucal, anormalidades cardíacas e renais, na triagem materna tríplice, redução das dosagens de α-fetoproteína, estriol não conjugado, e aumento das dosagens de hCG. O cariótipo pré-natal confirmatório pode ser realizada em biópsia de vilo corial, exame de escolha para o final do 1o trimestre, ou por amniocentese (risco de perda fetal de 0,5-1%), deve ser realizada mais tardiamente na gestação. A suspeita clínica após o nascimento em 1/5 a 1/3 dos casos surge pelo achado precoce de “estigmas turnerianos”. Síndrome de Turner (ST) acomete 1:1800 a 1:5000 recém-nascidas, definida pela presença de 1 cromossomo X e deleção total ou parcial do segundo cromossomo sexual em paciente fenotipicamente feminino, com 1 ou mais características clínicas. Quando adultas tem baixa estatura (< 150 cm), linha posterior de implantação dos cabelos baixa (na nuca), pescoço alado, genitálias juvenis, ovários atrofiados e desprovidos de folículos (infertilidade), devido à deficiência de estrógenos, não desenvolvem características sexuais secundárias na puberdade. Assim, elas não menstruam (amenorréia primária), infantilismo genital (clitóris pequeno, grandes lábios despigmentados), pelos pubianos reduzidos ou ausentes, mamas com desenvolvimento pequeno, espaçadas ou ausentes, pelve andróide (masculinizada), pele frouxa devido à escassez de tecidos subcutâneos (aparência senil), unhas estreitas, tórax largo em forma de barril, anomalias renais, cardiovasculares e ósseas. No recém nascido, há frequentemente edemas nas mãos e no dorso dos pés, que leva a suspeitar de anomalia. PRÉ-NATAL DIAGNÓSTICO Realizado por meio de cariótipo de sangue periférico - quanto maior a contagem de células, maior a chance de identificação de linhagens em mosaicismo. Uma contagem rotineira com avaliação de 40 metáfases, utilizando técnicas de bandeamento cromossômico, detecta 8% de mosaicismo (confiança de 95%). Se houver suspeita clínica e cariótipo 46,XX em sangue periférico deve-se considerar a análise de outros tecidos visando à identificação de mosaicismo. Marcadores, quando presentes na avaliação cariotípica devem ser caracterizados, utilizando técnicas moleculares como hibridação “in situ” por fluorecência (FISH) ou reação em cadeia por polimerase (PCR). Em crianças em idade escolar, os principais achados que levam à suspeita de ST são: baixa estatura e velocidade de crescimento reduzida. Na adolescência, soma-se ao retardo puberal. Na idade adulta, a amenorréia primária ou secundária, anovulação e a infertilidade são as principais queixas. PÓS-NATAL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A avaliação de meninas com baixa estatura (BE) requer que se descarte as variantes normais do crescimento: BEF (baixa estatura familiar): velocidade de crescimento (VC) normal, idade óssea (IO) compatível com a idade cronológica e altura final (AF) abaixo do percentil 50. ACC (atraso constitucional do crescimento): VC diminuída, IO atrasada e AF acima do percentil 50. síndrome de Léri-Weill: mutações nos genes IGF, IGFR, GH1, GHR, FGFR3, associadas à deficiência de GH, e no gene SHOX. Nessa síndrome, atém de BE, há encurtamento dos ossos longos da porção média dos membros superiores e inferiores (mesomelia) e deformidade de Madelung (subluxação ou luxação da porção distal da ulna associada a alterações nos ossos do carpo). deficiência do hormônio de crescimento (DGH): pode ser causada diretamente por secreção deficiente de GH ou indiretamente por redução na geração de fatores de crescimento dependentes do GH. O comprimento ao nascimento pode ser normal, mas em decorrência da baixa VC a BE se torna evidente por volta dos 2 anos. Ao exame físico, há obesidade de tronco, fronte proeminente, nariz em sela, cabelos finos e esparsos e voz aguda e infantil - a investigação é feita por meio de testes de secreção de GH. deficiência de hormônio tireoidiano: leva a prejuízo no crescimento e desenvolvimento ósseo em diferentes graus a depender da magnitude, pode haver atraso de IO e sintomas como fadiga, dificuldade escolar, constipação intestinal, queda de cabelos, unhas quebradiças e intolerância ao frio. O diagnóstico laboratorial é feito por meio da mensuração das concentrações de TSH e T4 livre. síndrome de Noonan: síndrome de herança autossômica dominante, é causada por mutações em genes como PTPN11, SOS1, RAF1, KRAS, NRAS, BRAF e MAP2K1, que acomete ambos os sexos, causa micrognatia, pescoço alado, orelhas de implantação baixa, tórax em escudo e baixa estatura. Pode se associar a atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e cardiopatias distintas da ST (principalmente estenose pulmonar) - o resultado do cariótipo é normal. disgenesia gonadal pura: causa hipogonadismo hipergonadotrófico presente na maioria dos casos de ST, ou seja, gônadas disgenéticas e genitais internos e externos femininos, porém sem BE ou quadro dismórfico e com cariótipo normal, 46,XX (herança autossômica recessiva) ou 46,XY (associada, frequentemente, a mutações no gene SRY). F I S I O P A T O L O G I A A síndrome de Turner pode ser consequência de diversas constituições cromossômicas além de 45,X. O mosaicismo, bem como as anormalidades estruturais que comprometem determinados segmentos do segundo cromossomo sexual (Y ou X), gera distúrbios a nível clínico e citogenético. Um conjunto celular masculino ou feminino normal pode estar presente juntamente com o componente celular 45,X , ou um componente pode ser portador de um cromossomo estruturalmente anormal. As anormalidades comuns de Y e X são a formação de isocromossomos (1 braço com deleção e o outro duplicado) ou a deleção de parte ou da totalidade de um braço. Em alguns indivíduos comprometidos, todas as células tem 46 cromossomos, com um X normal acrescido de um Y ou X anormal, como por exemplo 46,XXp- (deleção de um segmento do braço curto de um dos cromossomos X). MONOSSOMIA: 50% dos casos, no lugar de 2 cromossomos sexuais (XX ou XY), todas as células possuem apenas 1 cromossomo X, sendo a única condição monossômica viável. MOSAICISMO: nem todas as células possuem a monossomia (presença de 1 cromossomo), uma parte das células pode possuir os 2 cromossomos X, em alguns casos, é possível que haja partes do cromossomo Y em algumas das células - nesse tipo há maior risco de gonadoblastoma. ANORMALIDADES DO CROMOSSOMO X: um dos cromossomos X está danificado em todas as células do corpo, se esta anormalidade vem dos gametas (óvulo ou espermatozóide), ela afeta todas as células, já quando o erro acontece nas primeiras divisões celulares, apenas algumas delas serão danificadas. Q U A D R O C L Í N I C O manifestações clínicas clássicas: baixa estatura, tórax alargado, hipertelorismo mamário, cubitus valgus, linfedema congênito e falha de desenvolvimento puberal, em função da insuficiência ovariana, e malformações de órgãos como rim e coração. As características clínicas da síndrome são muito variáveis destacando-se baixa estatura resultante da haploinsuficiência da expressão do gene SHOX, sinais dismórficos, como alterações faciais, orofaríngeas, auriculares, cervicais, torácicas, de membros inferiores e superiores, anomalias congênitas e adquiridas, como alterações cardiovasculares, renais, hipertensão arterial, déficit auditivo, baixa massa óssea, obesidade, doenças autoimunes, dificuldade de aprendizado e falência gonadal. Os principais achados físicos em segmentos são: SEGMENTO CEFÁLICO: Olhos e região periocular: ptose palpebral, estrabismo, pregas epicanticas, hipertelorismo ocular e sobrancelhas espessas. Orelhas: implantação baixa, orelhas rodadas. Boca: boca depeixe, palato em ogiva, alterações dentárias. Cabelos: implantação baixa. Micrognatia: mandíbula menor que o normal. PESCOÇO CURTO E ALADO; REGIÃO TORÁCICA: tórax em escudo, tórax escavado, hipertelorismo mamário, escoliose e cifose. EXTREMIDADES: cúbito e geno valgo, quarto metacarpo curto e linfedema em mãos e pés. PELE E FÂNEROS: displasias ungueais e nevus pigmentares. DEFICIÊNCIA HORMONAL FEMININA: a deficiência estrogênica crônica atinge 95-98% das pacientes e ocorre devido à disgenesia gonadal que caracteriza esta síndrome, usualmente não existem alterações estruturais nos órgãos sexuais, com exceção das gônadas em fita. ANOMALIAS OCASIONAIS: displasia dos quadris, escoliose, tendência à formação de queloides, doença de Crohn, tendência à obesidade, disfunções tireoidianas e catarata. ASPECTO PSICOSSOCIAL E COGNITIVO: desenvolvimento cognitivo alterado qualitativamente, pois elas possuem inteligência verbal superior, compensando suas deficiências quanto à percepção forma-espaço. Podem apresentar dificuldades na aprendizagem, particularmente no cálculo matemático, visualização espacial e na coordenação motora fina - o rastreio de alterações audiovisuais deve ser realizado. SINAIS DISMÓRFICOS DO SISTEMA ESQUELÉTICO: explicados pela haploinsuficiência do gene SHOX, que tem influência sobre o momento da fusão da placa de crescimento, a maturação esquelética e a formação dos ossos longos e dos derivados dos primeiros arcos braquiais, levando a alterações esqueléticas como hipoplasia do IV metacarpo e metatarsos, cúbito valgo, mesomelia (encurtamento dos braços e pernas), deformidade de Madelung, palato ogival, micrognatia e retrognatismo. ALTERAÇÕES NO SISTEMA LINFÁTICO: há obstrução linfática jugular, decorrente de falha na conexão das estruturas linfáticas e venosas ao nível jugular, que leva à distensão linfática nucal (higroma cístico) e, aumenta a pressão no sistema linfático, resultando em distúrbio generalizado dos vasos linfáticos periféricos e tecidos subjacentes. Esse processo resulta em hidropisia fetal e óbito intraútero, no entanto, o edema pode regredir, deixando como consequência pavilhões auriculares inclinados para trás, implantação baixa dos cabelos na nuca e redundância de pele no pescoço. Com o passar dos anos, as dobras de pele se organizam nas pregas pterigo-nucais, levando ao pescoço alado. Também pode haver linfedema em dorso de mãos e/ou pés nas recém-nascidas, além da hiperconvexidade ungueal ou displasia ungueal grave. CRESCIMENTO: retardo no crescimento das meninas com ST inicia-se no período intra-uterino, com crescimento lento enquanto lactentes, retardo no início do componente de crescimento na infância e no crescimento subseqüente, há crescimento pré-puberal retardado e ausência de estirão da puberdade. Neste padrão de crescimento, estão envolvidos fatores genéticos, como a haploinsuficiência do gene SHOX, localizado no braço curto do cromossomo X, na região pseudoautossômica, e também fatores hormonais. A baixa estatura acomete entre 95-100% das pacientes, a altura final das portadoras de ST varia de 133 a 157 cm (média 143), cerca de 20 cm abaixo da média da população feminina. C O M O R B I D A D E S Essas mulheres têm risco aumentado para diversas comorbidades, tais como: hipotireoidismo, hipertensão arterial, osteoporose, sobrepeso, déficit auditivo, distúrbios visuais, diminuição da tolerância à glicose - risco de desenvolver diabetes é aumentado para DM1 (10x) e DM2 (4x) - e dificuldade de aprendizado. De maneira inerente à síndrome, tem maior carga de doenças cardiovasculares, congênitas ou adquiridas, com aumento de morbimortalidade. Também há alta incidência de outras doenças, como otite média hipercolesterolemia, endocardite e doenças autoimunes, entre elas doença celíaca e o vitiligo. SEGUIMENTO CARDIOVASCULAR: cardiopatias congênitas: as mais comuns acometem o coração esquerdo, as mais frequentes são alva aórtica bicúspide e coarctação da aorta. Podem ser encontradas também outras alterações cardíacas, como prolapso de valva mitral, distúrbios de condução, estenose e insuficiência aórtica, hipoplasia do coração esquerdo, ducto arterioso patente, comunicações interatriais e interventriculares e/ou estenose de artéria pulmonar. cardiopatias adquiridas: HAS, doença isquêmica cardíaca e a dilatação com ou sem ruptura da aorta. DOENÇA TIREOIDIANA: risco de desenvolvimento de hipotireoidismo que aumenta com a idade, com possibilidade interferir no desenvolvimento físico, psíquico e também no tratamento, indicando a necessidade de iniciar monitorização na infância - risco maior de desenvolvimento da doença de Hashimoto. ALTERAÇÕES RENAIS: as mais comuns são rotações renais, rins em ferradura, duplicação pielo-ureteral e hidronefrose secundária à obstrução ureteropélvica - além da agenesia renal. OUTRAS ALTERAÇÕES: intolerância à glicose e DM2, relacionadas a inadequação pancreática primária na resposta de secreção de insulina. Sem tratamento, o hipogonadismo levaria ao envelhecimento precoce, osteoporose e risco de doença cardiovascular pela falta da proteção estrogênica, baixa estatura e má qualidade de vida. - a presença de valva aórtica bicúspide requer profilaxia com antibióticos em caso de procedimentos cirúrgicos e dentários. HIPOTIREOIDISMO: iniciar com dosagem do TSH ao diagnóstico e a partir daí seguir com avaliação anual, caso TSH vier alterado, solicitar T4 livre e ATPO. T R A T A M E N T O S ESTATURA: apesar da não deficiência de hormônio de crescimento (GH), a terapia com GH recombinante de forma adequada, melhora a altura final das pacientes, a depender do momento de início da terapêutica, dose e duração do tratamento, que deve ser monitorizado a cada 3-6 meses - na dose de 0,30 mg por kg por semana, por 5,7 anos, o benefício foi de 7,2 cm. Início: quando a paciente com ST estiver abaixo do percentil 5 da curva de crescimento para meninas da mesma idade. Dose: 0,15 UI/kg/dia. Interrupção: estatura final alcançada, idade óssea > 14 anos ou crescimento < 2 a 2,5cm/ano. Efeitos colaterais: resistência insulínica, aumento dos níveis pressóricos, hipertensão intracraniana benigna, retenção de líquido em extremidades, síndrome de tunel do carpo, artralgia, mialgia, deslizamento de epífise femoral, lipoatrofia. REPOSIÇÃO HORMONAL FEMININA: estrógenos devem ser repostos, a fim de desenvolver as características sexuais secundárias e menarca, além de atuar no ganho e manutenção da massa óssea. Utiliza- se estradiol oral, transdérmico e em gel, todas iniciam com doses baixas, evoluindo com aumento gradual da reposição estrogênica, simulando a maturação sexual puberal, depois, recomenda-se o início da proteção endometrial com progestágenos. Início: após avaliação de gonadotrofinas, para excluir puberdade espontânea atrasada. Iniciar depois de 12 anos de idade óssea e antes de 15 anos de idade cronológica - pode-se retardar a introdução dos estrógenos caso a prioridade seja o ganho de estatura, iniciado-os ao final da terapia com GH. Esquema: início com estrógenos conjugados 0,3mg por 6 meses, seguido por 0,625 mg por 21-28 dias. Deve-se introduzir progestágenos no segundo ano de tratamento com estrógenos por 10 a 13 dias do mês - antes deste período, caso ocorra sangramento de escape. DOENÇA CARDIOVASCULAR: - avaliação com exame físico cardiológico, pressão arterial e pulsos em todas as consultas. A comparação entre as pressões sistólicas do braço e da perna pode auxiliar no diagnóstico de coarctação. - avaliação com ecocardiograma e/ou ressonância magnética na infância e, se normal, repetir na adolescência. - a descoberta de alguma alteração cardíaca deve direcionar as pacientes para seguimento com cardiologista. LAYANE SILVA
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