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16-TGC – Módulo XII - Prof. Paulo Eduardo Sabio

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Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio
Direito Penal I – Aula 16 
Teoria Geral do Crime – Módulo XII
Concurso de Pessoas
Autoria
Co-autoria e Participação
Requisitos do Concurso de Pessoas
Autoria Mediata
Autoria Colateral e Autoria Incerta
Punibilidade no Concurso de Pessoas
Cooperação Dolosamente Distinta
Comunicabilidade das Elementares e Circunstâncias
Casos de Inadmissibilidade de co-autoria 
1. Considerações Iniciais 
Nesta nossa última aula, cabe-nos estudar o chamado “concurso de pessoas” ou “co-delinqüência”, sendo que, em apertada síntese, o concurso de pessoas, tal como nos ensina o Prof. Júlio Fabbrini Mirabete, pode ser definido com sendo a ciente e voluntária colaboração de duas ou mais pessoas na prática da mesma infração penal. 
Saiba que: o tema desta nossa aula possui importância ímpar, e gera inúmeras controvérsias doutrinárias, apesar de não ser tão complicado quanto possa parecer. E para que se possa ter uma idéia da importância do tema desta nossa aula, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições da Profª. Esther de Figueiredo Ferraz� , as quais assim podem ser transcritas: 
“A co-delinqüência constitui um verdadeiro ponto de encontro dos principais temas da dogmática jurídico-penal, e seu estudo enseja-nos a oportunidade de a todos rever para repensá-los em maior profundidade.” 
 
Veremos, por exemplo, “quem”, entre as várias pessoas que por vezes tomam parte em uma empreitada criminosa podem, efetivamente, ser consideradas “autoras” do crime, quais parâmetros devem nortear o juiz ao aplicar a pena a cada um deles e outros aspectos de relevância inquestionável. 
A propósito: de início, tal como costumamos fazer, cuidaremos de transcrever os principais dispositivos de lei que serão objeto de estudo desta nossa aula, para que assim se possa, antes de mais nada, saber como o legislador disciplinou o tema. Vejamos, então, as principais dispositivos legais que disciplinam o “concurso de pessoas”, a “co-deliqüência”, quais sejam, os artigos 29, 30 e 31 do Código Penal, os quais podem assim ser transcritos: 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
2. Do Concurso de Pessoas
2.1 Esclarecimentos Iniciais
Tal como dissemos no início desta nossa aula, o concurso de pessoas se traduz em sendo a ciente e voluntária colaboração de duas ou mais pessoas na prática da mesma infração penal. 
 É preciso, no entanto: que se tenha em mente que o concurso de pessoas do qual trataremos nesta nossa aula é o chamado “concurso eventual”, que ocorre nos chamados crimes monossubjetivos e que se contrapõe ao concurso necessário, que ocorre nos chamados crimes plurissubjetivos. 
A propósito: é importante relembrarmos os conceitos de crimes monossubjetivos e plurissubjetivos, dos quais falamos na aula 07, quando estudamos a classificação das infrações penais. Vamos aos conceitos: 
Crimes de Concurso Eventual ou Monossubjetivos: são aqueles que podem ser cometidos por um ou mais agentes. Para a tipificação da conduta, é irrelevante que ele tenha sido praticada por uma ou mais pessoas. 
Crime de Concurso Necessário ou plurissubjetivos: são aqueles que exigem a presença de mais de uma pessoa no polo ativo, exige-se a pluralidade de sujeitos ativos, como o crime de rixa, por exemplo, que é descrito pelo artigo 137 do Código Penal. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: 
 Rixa
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores.
Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses ou multa.
Perceba que: nos crimes plurissubjetivos a pluralidade de agentes faz parte do próprio tipo penal incriminador e sendo assim, não há necessidade de se socorrer da norma contida no artigo 29 do Código Penal, a qual, como já dissemos em uma aula anterior, se traduz em sendo uma norma de extensão, uma vez que permite que se responsabilize penalmente não só aquele que pratica a conduta descrita no tipo penal incriminador, como também aquele que de qualquer modo concorre para o crime. 
Em outros termos: a “teoria do concurso de pessoas” da qual trataremos nesta aula, tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros foi desenvolvida em torno dos crimes monossubjetivos, de concurso eventual. E tal afirmação é por demais coerente, uma vez que em se tratando de crimes plurissubjetivos, como os autores não “concorreram de qualquer modo para a prática do crime”, e sim, praticaram uma conduta que se amolda perfeitamente a um tipo penal incriminador, este, por si só, resolve a questão da punibilidade e da adequação típica da conduta daqueles ( autores). 
Ou seja: todos aqueles que tomem parte numa “rixa”, por exemplo, serão considerados autores do crime previsto no artigo 137, e estarão sujeitos à pena cominada no referido dispositivo legal, qual seja: 15 ( quinze) dias a 2 (dois) meses de detenção ou multa.
2.2. Teorias sobre o concurso de pessoas
Antes de adentrarmos em um estudo mais aprofundado sobre a “autoria”, temos por oportuno falar um pouco sobre as teorias que buscam disciplinar o “concurso de pessoas”, sendo que o objetivo principal destas teorias é achar uma resposta para a seguinte indagação: a pluralidade de sujeitos implica uma pluralidade de crimes ? Para solucionar esta questão, foram elaboradas três teorias, quais sejam: 
Teoria Monista ou Unitária
Teoria Dualista 
Teoria Pluralística 
Vejamos o que prega cada uma destas teorias: 
Teoria Monista ou Unitária: segundo esta teoria, todos os que concorrem para a prática de uma conduta delituosa cometem o mesmo crime. Segundo a teoria monista, tal como enfatiza o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, há unidade de crimes e pluralidade de agentes. 
Teoria Dualista: segundo esta teoria, a conduta praticada em concurso de pessoas compreende dois delitos distintos, quais sejam”: 
a – um para os “autores”, que praticam a conduta principal; 
b – outro para os “partícipes”, que contribuem para a prática da conduta delituosa, sem, contudo, praticar o verbo contido no núcleo do tipo penal incriminador. 
Teoria Pluralística: prega, esta teoria, que cada participante do crime comete um crime próprio, com elemento psicológico e resultado próprios.
Ou seja: tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, para esta teoria a pluralidade de agentes corresponde à pluralidade de crimes. Assinala ainda, o penalista em questão, que segundo a teoria pluralística, existem tantos crimes quantos forem os participantes do fato delituoso. 
A propósito: segundo o Profº. Nelson Hungria, as teorias dualista e pluralística contrariam a lógica, pois não pode haver pluralidade de crimes onde há conjugação de vontades para lesar ou expor a perigo o mesmo bem penalmente protegido. 
Você deve estar se perguntando: qual foi a teoria adotada pelo nosso Código Penal ? 
Pare e pense: o artigo 29 do Código Penal diz que quem, de qualquer modo concorre para “o crime” incide nas penas a “este” cominadas. 
Continue pensando: Tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o artigo 29 usa a expressão “crime”, no singular, demonstrando que todos os concorrentes respondem por fato típico único. 
Em outros termos: em face do que dispõe o artigo 29, é de se notar que todos os que concorrem para a prática da infração penal respondem pelo mesmo crimee que a teoria adotada pelo nosso legislador, em se tratando de concurso de pessoas, foi a teoria monista. 
Mas, preste atenção: não obstante ter, o nosso legislador, optado pela teoria monista ou unitária, alguns dispositivos legais fogem um pouco à esta regra, ou seja, tal com leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o nosso Código Penal ainda apresenta resquícios da teoria pluralística. Vejamos os fundamentos desta afirmação, que são denominados pela doutrina de exceções pluralísticas à teoria monista: 
Em primeiro lugar, cumpre observar que, apesar de o artigo 29 deixar subentendido que todos os que concorrem para a prática da infração penal praticam o mesmo crime, sua parte final diz que a pena cominada irá variar conforme a culpabilidade de cada agente. Ou seja: o crime é único, mas a pena, a culpabilidade, é individual. 
A propósito: sobre este particular aspecto, mais se estudará quando falarmos da punibilidade no concurso de pessoas.
Note ainda que: em alguns casos, tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, a conduta do partícipe constitui um outro crime. Vejamos alguns exemplos: 
No caso de um aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante, por exemplo, o 3º executor responde pelo aborto consensual, que é descrito pelo artigo 126, e a gestante por aborto consentido, que é descrito pelo artigo 124, 2ª parte do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos dispositivos legais em questão: 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Perceba que: nestes casos, tal como nos ensina o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, se excluirmos o artigo 124, 2ª parte, a gestante será partícipe do crime descrito no artigo 126, e se excluirmos o art. 126, o agente provocador será partícipe do fato descrito no artigo 124, 2ª parte. 
No delito de bigamia, aquele que, sendo casado contrai novo matrimônio, responde pelo crime descrito no artigo 235, “caput” do Estatuto Repressor, ao passo que aquele que não é casado pode incidir no parágrafo 1º do referido dispositivo legal. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: 
Art. 235 – Contrair, alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
.
O funcionário público que, em razão da função, recebe vantagem indevida, responde pelo crime de corrupção passiva, que é descrito pelo artigo 317, ao passo que o corruptor que lhe oferece a vantagem, comete o crime de corrupção ativa, que é descrito pelo artigo 333. Vejamos os dispositivos: 
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 8 (oito) anos, e multa.
Como se pôde notar: nem sempre as pessoas que concorrem para a prática de um ilícito penal praticam o mesmo crime. 
3. Da autoria 
Tal como já dissemos em uma aula anterior, pode ser considerado “autor” de um crime aquele que pratica o verbo contido no tipo penal incriminador, ou seja, é autor aquele que mata, aquele que lesiona, aquele que provoca o aborto sem o consentimento da gestante, etc...Ao passo que o partícipe é aquele que contribui para a prática da infração penal sem, contudo, praticar o verbo contido no tipo penal incriminador, ou seja, partícipe é aquele que não mata, mas ajuda a matar, não lesiona, mas ajuda a lesionar. 
Preste atenção: tais afirmações são verdadeiras, mas é conveniente que se estude um pouco mais a fundo a autoria e a participação, e para tanto, de início, precisamos falar das teorias que buscaram estabelecer um conceito de autor, quais sejam: 
a – teoria extensiva
b – teoria restritiva 
c – teoria do domínio do fato
Teoria Extensiva: segundo esta teoria, que também é denominada de teoria subjetiva ou subjetiva causal, deve ser considerado autor de um crime todo aquele que, de qualquer maneira concorrer para a produção do resultado. 
Ou seja: segundo esta teoria, tal como ensina-nos Enrique Cury Urzúa� , é autor todo aquele que gerou uma condição para a causação do resultado. 
Perceba que: de acordo com o que prega esta teoria, não há qualquer diferença entre autor e partícipe. 
No entanto: tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, esta teoria reconhece que existem diferenças no plano subjetivo entre quem concretiza o núcleo do tipo e quem contribui para o delito por induzimento, instigação ou auxílio, preconizando, neste caso, um tratamento punitivo mais suave. Ensina-nos, ainda, o penalista em questão, que para a teoria extensiva a pena abstrata, do ponto de vista objetivo é a mesma para todos. Subjetivamente, contudo, quem não realiza a conduta típica deve receber pena menor. 
Teoria Restritiva: segundo esta teoria, que também é denominada de “teoria formal-objetiva” , autor é quem realiza , ainda que em parte, a conduta típica descrita em lei, quem pratica o verbo contido no núcleo do tipo. 
Em outros termos: para a teoria restritiva, tal como ensina-nos Jescheck� , autor é apenas quem comete por si mesmo a ação típica, já que a só contribuição à causação do resultado, mediante ações não-típicas não podem fundamentar nenhuma autoria.
Perceba portanto que: de acordo com a teoria restritiva, o conceito de autor fica vinculado ao de tipo descrito na parte especial do Código Penal.
Note ainda que: para a teoria restritiva, os conceitos de autor e partícipe não se confundem. Isto porque, tal como no ensina o Profº. Alberto Silva Franco, o primeiro ( autor) executa diretamente o núcleo do tipo, ao passo que o partícipe concorre de qualquer modo para o crime, sem, contudo, realizar o núcleo do tipo.
Teoria do Domínio do Fato: esta teoria, tal como ensina-nos o supracitado penalista, parte do conceito restritivo de autor e portanto, da consideração de que a autoria deve estar necessariamente conectada ao tipo legal.
No entanto: a teoria do domínio do fato acaba por ampliar o conceito de autor ao afirmar que autor não é só aquele que pratica o verbo descrito na figura típica, como também aquele que tem o domínio final do fato, ou seja, aquele que, nos dizeres de Damásio Evangelista de Jesus, domina finalisticamente o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. 
Veja: para a teoria do domínio do fato, tal como nos ensina Juan Bastos Ramirez�, não basta a realização da ação típica no sentido estrito da palavra: é necessário ainda um dado de subjetividade, isto é, que a ação típica surja como obra de uma vontade que comanda o curso dos acontecimentos. 
Saiba que: para a teoria do domínio do fato , “partícipe” é aquele que efetiva um comportamento que não se ajusta ao verbo do tipo penal e não tem poder de decisão sobre a execução ou consumação do crime. 
Preste muita atenção: após termos visto, em apertada síntese, o prega cada uma das teorias que buscam estabelecer um conceito de autor, cabe-nos analisar tais teorias sob um enfoque “crítico”. 
Perceba que: a teoria extensiva traz um conceito de autor que não merece acolhida. É inadmissível a confusão que esta teoria faz entre os conceitos de autor e partícipe, uma vez que a distinção entre estes conceitos é nítida e possui relevância inquestionável. A teoria extensiva, tal como ensina-nos o Profº. Alberto Silva Franco, alarga ao infinito o conceito de autor e empobrece o de partícipe. Nem mesmo a chamada teoria subjetiva da participação, que teve o intuito de suprir as falhas dateoria em comento conseguiu reformular de maneira satisfatória o conceito extensivo de autor. 
A propósito: segundo a chamada “teoria subjetiva da participação”, que como já dissemos procurou corrigir as falhas da teoria extensiva, autor é quem age com dolo de autor e deseja o fato como próprio, ao passo que partícipe é quem realiza o fato com dolo de partícipe e quer o fato como alheio. 
Sendo que: dissemos que a “teoria subjetiva da participação” não conseguiu reformular de maneira satisfatória o conceito extensivo de autor pois, tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, uma distinção puramente subjetiva pode fazer com sejam condenados como meros partícipes sujeitos que realizam todos os elementos do tipo, e como autores, quem não teve intervenção material no fato. 
Veja que interessante: segundo o penalista em questão, os inconvenientes da distinção puramente subjetiva fizeram-se presentes com grande intensidade nas condenações dos nazistas na jurisprudência alemã, em que os executores de milhares de mortos foram considerados cúmplices porque queriam o fato como alheios.
É importante que se saiba que: tal como nos ensina o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, a teoria extensiva foi rejeitada pela doutrina, uma vez que permitiria, segundo a vontade do sujeito, ser considerado autor quando, não tendo realizado a conduta típica, quisesse o fato como próprio, e partícipe se, efetivando o comportamento do núcleo do tipo, desejasse o crime como alheio. 
Preste atenção: no que toca à teoria restritiva, há de ser reconhecido o seu mérito por ter distinguido com clareza os conceitos de autor e partícipe . No entanto, tal teoria se esqueceu de que nem sempre o autor realiza a figura descrita no tipo penal. 
Pare e pense: Nos casos de “autoria intelectual” e “autoria mediata”, os autores não praticam o verbo descrito no núcleo do tipo, não realizam materialmente o crime, no entanto, puni-los como meros partícipes seria intolerável. 
A propósito: vejamos o que são estas tais de “autoria intelectual” e “autoria mediata”: 
Autoria Intelectual: autor intelectual é aquele que planeja a ação delituosa, seria o chefe da quadrilha de uma quadrilha, por exemplo, que apesar de não executar materialmente o crime, planeja e decide sobre a ação criminosa. 
Autoria Mediata: a autoria mediata será estudada com maior profundidade posteriormente, no entanto, desde já é conveniente que se saiba que nestes casos, o autor se serve de um terceiro que não é culpável para praticar o crime. 
Perceba que: pelo pouco que falamos da autoria intelectual e da autoria mediata já é perceptível que seria um tanto quanto incoerente punir o autor intelectual ou o autor mediato como meros partícipes . 
Pare e pense: tal como questiona o Profº. Alberto Silva Franco, seria admissível considerar meros participantes, por não realizarem nenhuma parcela de condutas típicas, o chefe de uma quadrilha de traficantes de tóxicos que tem o comando e o controle de todos os que atuam na operação criminosa ou o líder de uma organização mafiosa que atribui a seus comandados a tarefa de eliminar o dirigente da gangue rival ? Nestas hipóteses, temos por certo que o bom senso clama por uma punição à título de autor e não de partícipe. 
Sendo assim: tal como dissemos anteriormente, há de se reconhecer o mérito da teoria restritiva por ter separado com clareza os conceitos de autor e partícipe, no entanto, tal como leciona o Profº. Alberto Silva Franco, um exame mais atento revelará que tal separação conceitual não poderá ser levada a extremo. De fato, cremos que as supramencionadas imperfeições da teoria restritiva acabam por diminuir consideravelmente sua credibilidade. 
Preste muita atenção: para corrigir as imperfeições da teoria restritiva, surgiu a chamada teoria do domínio do fato . Tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, a “teoria restritiva” e a “teoria do domínio do fato” unem-se para dar solução adequada as questões que se apresentam evolvendo autores materiais e intelectuais, chefes de quadrilha, sentinelas, aprendizes, motoristas, auxiliares, indutores, instigadores, etc...
Veja que interessante: segundo o penalista em questão, o domínio do fato, sob o rigor científico, é mais um requisito da autoria do que uma “teoria do concurso de pessoas”. 
 
Perceba que: a teoria do domínio do fato é um complemento indispensável da teoria restritiva , uma vez que permite que sejam punidos como autores aqueles que, apesar de não terem executado materialmente o crime, tinham o domínio final do fato, tinham o poder de decidir sobre a consumação do fato típico.
Sendo assim: para a teoria do domínio do fato, o conceito de “autoria” abrange: 
a autoria propriamente dita
a autoria intelectual 
a autoria mediata
co-autoria
Mais uma vez, você deve estar se perguntando: qual foi a teoria adotada pelo nosso legislador ? O Profº. Damásio Evangelista de Jesus, , entende que o nosso Código Penal adotou a teoria restritiva, uma vez que os artigos 29 e 62 fazem nítida distinção entre autor e partícipe, e tal entendimento é compartilhado pela maioria dos autores. 
Preste atenção: Para que se possa perceber que o nosso Código Penal, realmente distingue o autor do partícipe, convém atentar para o que preceitua o artigo 62, em seu inciso IV. Vamos ao dispositivo: 
Art. 62. A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 
( ... ) 
IV – executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa. 
Perceba que: o mencionado dispositivo legal distingue com clareza aquele que executa ( autor) o crime, daquele que nele participa ( partícipe). Sendo assim, é de se concluir que, tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, para o nosso Código Penal, quem executa o crime é autor, ao passo que quem induz, instiga ou auxilia sem praticar o núcleo do tipo penal incriminador, deve ser considerado partícipe. 
No entanto: o penalista em questão adverte-nos de que isto não resolve certos problemas, como o da autoria mediata, por exemplo, como, aliás, já dissemos anteriormente. Sendo assim, se faz imprescindível que a teoria restritiva atue em conjunto com a teoria do domínio do fato, para que assim se possa dar uma resposta penal justa e equilibrada aos casos concretos que se apresentarem. 
Tenha em mente, portanto, que: entre nós, modernamente, considera-se autor quem pratica a ação descrita pelo tipo penal incriminador ou quem tem o domínio do fato. Ao passo que o partícipe é aquele que contribui de qualquer maneira para a prática do ilícito penal, sem, contudo, realizar a ação descrita pelo tipo penal incriminador, e que atua sem ter o domínio final do fato. 
4. Da Co-autoria e da Participação 
É chegado o momento de tratarmos das duas formas de concurso de pessoas, quais sejam: a co-autoria e a participação. 
4.1. Da co-autoria 
Quando duas ou mais pessoas realizarem diretamente o núcleo do tipo penal incriminador, estaremos diante da chamada co-autoria. A co-autoria, nada mais do que uma autoria compartilhada, ou seja, tal como leciona o Profº. Alberto Silva Franco, cada co-autor é um autor, e por isso deve apresentar características próprias de autor. 
A propósito: no que toca à definição de co-autor , temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Juan Bastos Ramirez�, as quais assim podem ser transcritas: 
“Co-autor é aquele que tem o domínio da realidade do fato conjuntamente com outro ou outros autores, com os quais tem um plano comum e uma distribuição de funções na realização do mútuo acordo”
( Grifo Nosso)
Preste atenção: a doutrina costuma classificar a co-autoria em: 
Co-autoria funcional ou parcial: esta ocorrerá quando os diversos autores do crime realizarem atos de execução distintos, os quais, conjugados, produzem a consumação do crime. Seria o caso, por exemplo, do sujeito que aponta uma arma para a vítima enquanto seu comparsa subtrai seus bens ou do sujeito que segura a vítima para que seu amigo praticassecom ela conjunção carnal. No primeiro caso, estaremos diante de um caso de co-autoria parcial ou funcional em um crime de “roubo”, que é descrito pelo artigo 157 do Código Penal, e no segundo caso estaremos diante de uma co-autoria funcional ou parcial em um crime de “estupro’, que é descrito pelo artigo 213 do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos citados dispositivos legais: 
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
Estupro
Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Co-autoria Direta: esta ocorre quando todos os agentes envolvidos na prática da conduta delituosa realizam a mesma conduta típica”. Seria o caso, por exemplo, de dois “palmeirenses” que ao ver um “são paulino” sair do metrô, lhe desferem vários golpes de porrete. Nesse caso, os vários agentes praticaram o crime de “lesões corporais”, que é descrito pelo artigo 129 do Código Penal. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: 
Lesões Corporais
Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano
Saiba, ainda, que: tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, a co-autoria se fundamenta no princípio da divisão de trabalho, em que todos tomam parte, atuando em conjunto na ação típica, de tal modo que cada um possa ser chamado verdadeiramente de autor. 
4.2. Da Participação 
A participação ocorrerá quando alguém contribuir para a prática do crie, sem, contudo, praticar o núcleo do tipo penal. Tal como nos ensina o Profº. Damásio, na participação o sujeito não realiza a conduta descrita pelo preceito primário da norma, mas realiza uma atividade que contribui para a formação do delito. 
Preste atenção: a conduta do partícipe tem um inegável caráter de acessoriedade com relação a conduta do autor principal. Tal como ensina-nos o Profº. Alberto Silva Franco, “participar” significa ter ou tomar parte em alguma coisa, o que já expressa uma idéia de dependência, de acessoriedade Enfatiza ainda, o penalista em questão, que quem “participa” não realiza fato próprio, mas contribui para um fato que está sob o domínio de outrém. 
Ou seja: tal como lecionam os mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, o partícipe é sempre “participante da conduta do autor”. 
Sendo assim: a relevância jurídico-penal da conduta do “partícipe”, da conduta daquele que, nos dizeres de Alberto Silva Franco, intervém no fato alheio sem executar atos que se acomodem à figura típica, pressupõe a existência de um fato criminoso principal. Tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, para que a contribuição do partícipe ganhe relevância jurídica, é indispensável que o autor ou co-autores iniciem pelo menos a execução da conduta delituosa. 
Pare e pense: o partícipe é aquele que contribui para a prática da conduta delituosa, sem praticar o núcleo do tipo. Sendo assim, é de se concluir que, via de regra, os atos praticados pelos partícipes , isoladamente considerados, não são puníveis por si mesmos, nada têm de típicos, Por isso, para que se atribua relevância jurídico-penal aos atos do partícipe, é imprescindível a realização de um crime pelo autor principal. Tal como enfatiza o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, se o autor principal não chegar a realizar um crime consumado ou tentado, não há como punir o partícipe.
A propósito: o caráter de acessoriedade da participação fica por demais evidente quando fazemos uma leitura do artigo 31 do Código Penal, que pode assim ser transcrito: 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. 
( Grifo Nosso)
Relembrando: o partícipe é punido mesmo ser ter praticado uma conduta que se amolde à um tipo penal incriminador em face da norma de extensão contida no artigo 29 do Código Penal, que diz que quem “de qualquer modo” concorre para a prática do crime incide nas penas a ele cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
Ou seja: a norma do artigo 29 permite que sejam punidos não só aquele que mata, aquele que rouba, mas também aquele que ajuda a matar, que ajuda a roubar. O artigo 29 é uma norma que possibilita a punição de condutas que não se adequam a nenhum tipo penal incriminador, por isso é chamada de norma de extensão. 
A propósito: Perceba que o que se “estende”, através do artigo 29, é a abrangência dos tipos penais incriminadores, ou seja, o dispositivo em comento é uma norma de extensão “da tipicidade”. E esta “extensão da tipicidade” tem uma razão de ser, não é um recurso legislativo arbitrário, pois alcança condutas que, apesar de não se amoldarem a nenhum tipo penal incriminador, contribuem voluntariamente para a prática do ilícito, e por isso merecem ser punidas, sem sombra de dúvidas. 
Preste muita atenção: tempos atrás, muito se questionou acerca do fundamento da punibilidade do partícipe. Em outros termos: já se questionou muito na doutrina quais eram as razões que justificavam a punição do partícipe. Pois bem, para resolver esta questão, foram formuladas duas teorias, quais sejam:
a – Teoria da Participação da Culpabilidade: segundo esta teoria, o partícipe deveria ser punido pela influência que exerce sobre o autor. Tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, esta teoria entende que o partícipe age corrompendo o autor, conduzindo-o a um conflito com a sociedade, tornando-o culpável e merecedor de pena. 
Saiba que: um dos principais motivos que levaram esta teoria ao descrédito, foi ter, ela, se esquecido de que a culpabilidade é individual e que, tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, o fato de qualquer partícipe ser inculpável só diz respeito a ele mesmo. 
b – Teoria do Favorecimento ou da Causação: segundo esta teoria o partícipe é punido por sua contribuição no ilícito. Para esta teoria, tal como ensina-nos o supracitado penalista, o desvalor da participação no fato está em causar ou favorecer a lesão não justificada de um bem jurídico tutelado por parte do autor. Nós, particularmente, cremos que esta teoria é a mais coerente, uma vez que a razão da punibilidade do partícipe, tal como já dissemos anteriormente, é a contribuição voluntária em uma empreitada criminosa. 
Preste muita atenção: é pacífico na doutrina que a conduta da partícipe é acessória. No entanto, no que se refere ao grau de acessoriedade, existem algumas controvérsias. 
Ou seja: a conduta do partícipe é acessória da conduta do autor principal e não se discute, mas a questão que ainda não se pacificou é a seguinte: até que ponto ela é acessória da conduta principal ?A acessoriedade é absoluta ou é relativa ? 
Pois bem: Vamos dar uma olhada nas três principais teorias que buscaram dar respostas para estas perguntas, para que assim se possa compreender o que estamos a estudar no presente momento. As referidas teorias compreendem: 
Teoria da Acessoriedade Mínima 
Teoria da Acessoriedade Máxima
Teoria da Acessoriedade Limitada 
Vejamos o que prega cada uma destas teorias: 
Teoria da Acessoriedade Mínima: para esta teoria, a participação exige apenas que o fato principal ( do autor) seja típica, pouco importando se é antijurídica. Esta teoria não merece acolhida, uma vez que, tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, poderia fazer com que aquele que induzir o autor a agir em legitima defesa responda pelo crime enquanto o executor direto será absolvido pela excludente.
Teoria da Acessoriedade Máxima ou Extrema: esta teoria, por sua vez, exige, para a configuração da participação, que o autor cometa um fato típico, antijurídico e culpável . Para este teoria, como se pode notar, o autor não for culpável, não há como punir o partícipe.Esta teoria também não pode ser acolhida, e para que se possa compreender as razões desta assertiva, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições dos mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, as quais podem assim ser transcritas:
“Frente à clara redação do artigo 29, a teoria da acessoriedade máxima é insustentável porque cada um deles é apenado na medida de sua culpabilidade” 
( Grifo Nosso) 
Teoria da Acessoriedade Limitada: para esta teoria, para que se possa falar em “participação”, se faz necessária que o fato principal ( do autor) seja típica e antijurídica. Tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, isso quer dizer que a participação é acessória da conduta principal, de um lado, mas que também depende desta até certo ponto. Isto porque, tal como enfatiza o penalista em comento, para esta teoria não é necessário que o autor seja culpável. 
Perceba que: esta teoria reconhece que o fato é comum, mas a culpabilidade é individual. 
Preste muita atenção: segundo alguns doutrinadores, a teoria que predomina, entre nós, é a da acessoriedade limitada. No entanto, é de se atentar que segundo o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o Código Penal não se filiou a nenhuma destas teorias, e a questão é eminentemente doutrinária. 
4.2.1. Das Formas de Participação 
É pacífico na doutrina que a participação pode ser moral ( induzimento ou instigação) ou material ( cumplicidade). Vejamos um pouco mais sobre cada uma destas formas de participação: 
Participação moral: dizer que alguém participou moralmente do crime significa dizer que este alguém atuou sobre a vontade do agente, induzindo-o ou instigando-o. 
A propósito: não se deve confundir induzimento com instigação . Vejamos a diferença entre estas duas formas de participação moral: 
a – Induzimento: em se tratando de induzimento, o partícipe faz nascer na mente do autor uma idéia até então inexistente . No induzimento, tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, a idéia do crime é do partícipe. 
b – Instigação: a instigação, por sua vez, traduz a idéia de “reforço” de um propósito criminoso já existente na mente do autor. Na instigação, tal como ensina-nos o supracitado penalista, a idéia do crime parte do autor e o partícipe simplesmente a reforça. 
Perceba que: em se tratando de participação moral, o partícipe não toma parte na execução material do delito. Ele apenas influencia a vontade do autor, induzindo-o o instigando-o . Temos por oportuno que se saiba que, acerca da participação moral, o Profº. Damásio assim leciona: 
“A participação moral é o fato de incutir na mente do autor principal o propósito criminoso ou reforçar o preexistente.”
Preste muita atenção: tal como defendem a maioria dos doutrinadores, tanto o induzimento quanto a instigação devem se dirigir a um crime determinado, uma vez que, tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, em se tratando de induzimento ou instigação “genéricas”, não há que se falar em participação. 
A propósito: acerca deste particular aspecto, o penalista em questão assim exemplifica: 
“Se ‘A’ induz ‘B’ a cometer furtos de veículo, sem, porém, especificar as futuras vítimas, não será partícipe de furto. Se, ao inverso, ‘A’ diz para ‘B’ furtar o veículo de ‘C’, será partícipe de furto. 
Participação Material: nesses casos, tal como ensina-nos o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, o partícipe exterioriza a sua contribuição através de um “comportamento”, de um “auxílio”. Nesses casos o partícipe facilita a execução do crime, sem, porém, executar o núcleo do tipo. Tal como nos expõe o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o partícipe que “auxilia” é chamado de cúmplice. 
A Propósito: o supracitado penalista nos fornece os seguintes exemplos de participação material: 
Emprestar dinheiro para compra de remédio abortivo; 
Vigiar o local do crime para o agente executar o roubo. 
Preste muita atenção: tal como nos adverte o penalista em questão, o auxílio na execução que caracteriza a participação material não se confunde com a co-autoria, uma vez que nesta os diversos agentes praticam o núcleo do tipo. 
5. Requisitos do Concurso de Pessoas
Vejamos agora, em apertada síntese, os requisitos do concurso de pessoas enumerados pela doutrina: 
5.1 - Pluralidade de Participantes e de Condutas: a concorrência de mais de uma pessoa, tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, é o requisito básico do concurso eventual de pessoas. Exige-se uma pluralidade de sujeitos e de condutas. E isto se afirma pois se estiverem presentes várias pessoas no local do crime, mas apenas uma delas praticar uma conduta visando a produção do resultado lesivo, não será possível falar em “concurso de pessoas” Tal como já fora dito, é necessário a concorrência de mais uma pessoa, e apenas quem pratica uma conduta “concorre” para o crime. 
Preste atenção: não se exige que todas as pessoas atuem da mesma maneira, mas apenas que duas ou mais pessoas tenham concorrido, de qualquer modo, para a empreitada criminosa. Aliás, na maioria das vezes, tal como leciona Esther de Figueiredo Ferraz, embora queiram, todos os participantes, contribuir com o seu comportamento para a realização da conduta punível, não o fazem da mesma maneira, nem em condições. 
5.2 – Relevância Causal das Condutas: para que se possa falar em “concurso de pessoas”, é imprescindível que a conduta de cada um dos agentes tenha, efetivamente, contribuído para a produção do resultado lesivo por eles pretendido, ou seja, é imprescindível que cada uma das condutas possa ser considerada causa do resultado. 
Em outros termos: tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, nem todo comportamento constitui participação, pois precisa ter eficácia causal, provocando, facilitando ou ao menos estimulando a realização da conduta principal. 
Sendo assim: é de se concluir que a participação que em nada contribui para a prática delituosa em nada interessa ao Direito Penal. 
Saiba, ainda que: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, a idéia de relevância causal da conduta pressupõe uma atuação anterior à consumação do crime, uma vez que a participação posterior não se presta a configurar o concurso de agentes. Sobre o “momento” da contribuição, convém ter em mente, ainda que: 
Em se tratando de induzimento, onde o partícipe faz nascer na mente do agente a idéia da prática do crime, a contribuição ocorrente antes mesmo da cogitação. 
Em alguns casos, a contribuição posterior a prática do crime terá relevância penal se constituindo, no entanto, em crimes autônomos, e não em participação. Em alguns casos de contribuição posterior à prática do crime o agente pode ser punido por receptação ou favorecimento real, por exemplo, que são crimes descritos, respectivamente, pelos artigos 180 e 349 do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos dispositivos em questão para que se possa melhor compreender o que estamos a expor: 
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Preste atenção: no que tange ao favorecimento, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições dos mestres Eugênio Raul Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, as quais podem assim serem transcritas: 
“Em virtude do favorecimento ser uma conduta que tem lugar quando o delito já foi executado, não pode ser considerada uma forma de participação no delito, e sim uma cooperação posterior ao autor, o que fez com que, paulatinamente, primeiro a doutrina e depois a legislação, a ela reconhecessem o caráter de tipo independente...”
( Grifo Nosso) 
A propósito:expusemos momentos atrás que segundo o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o simples “conhecimento” da conduta delituosa não pode ser considerada com sendo uma contribuição a conduta delituosa de outrem . Esta afirmação é verdadeira, no entanto, se aquele que toma conhecimento do fato tiver o dever jurídico de agir , a situação se modifica. 
Relembrando: este dever jurídico de agir, tal como já dissemos em uma anterior, se traduz em sendo a obrigação atribuída a determinadas pessoas no sentido de evitar uma lesão à um bem penalmente protegido. 
Sendo assim: se uma pessoa que tinha o dever jurídico de evitar a produção de um resultado lesivo toma conhecimento de uma situação que irá produzi-lo e nada faz, estaremos diante da chamada participação por omissão, cuja admissibilidade, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros não deve ser questionada quando o omitente tiver o dever jurídico de agir. 
Saiba que: sobre a co-autoria e a participação nos crimes omissivos mais se falará ao final deste aula. 
5.3 – Do vínculo subjetivo e normativo entre os agentes: 
Do vínculo subjetivo: não basta que haja uma pluralidade de agentes e condutas, nem que cada uma destas ( condutas) possua relevância causal. Para que se possa falar em “concurso de pessoas” é imprescindível, ainda, que haja um liame psicológico unindo os vários agentes. 
Ou seja: é indispensável que todos os agentes tenham consciência de que estão se auxiliando mutuamente para a produção do evento lesivo. Tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, paralelo ao nexo objetivo ( relevância causal), exige-se o nexo subjetivo ( vontade de contribuir para o crime). 
Preste muita atenção: tal como bem enfatiza o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, a ausência deste elemento psicológico desnatura o concurso eventual de pessoas, transformando-o em condutas isoladas e autônomas. 
Continue prestando atenção: não se exige um “acordo prévio” entre os concorrentes, ou seja, não se exige que os concorrentes tenham combinado previamente a realização da empreitada criminosa. Basta, para a configuração do concurso de pessoas que haja uma vontade de contribuir para a lesão de um bem penalmente tutelado. 
Aliás: no caso do “partícipe”, não se exige que o autor do fato principal tenha conhecimento do auxílio que está recebendo ou concorde com a contribuição daquele. Para que se possa melhor compreender o que estamos a expor, temos por conveniente que se atente para o elucidativo exemplo do Profº. Damásio Evangelista de Jesus, que pode assim ser transcrito: 
“Suponha-se que uma empregada doméstica, percebendo que um ladrão está rondando a residência, para vingar-se do patrão, deliberadamente deixe a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação e, não obstante o ladrão desconhecia a colaboração da criada ( não houve um acordo prévio).”
( Grifo Nosso) 
Note que: o elemento subjetivo é exigível com relação ao partícipe, uma vez que o fato de estar ausente, tal liame, com relação ao autor, não desconfigura o concurso de pessoas, sendo que, acerca deste particular aspecto, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim serem transcritas: 
“Para a configuração do liame subjetivo é suficiente que o partícipe atue consciente de que está contribuindo para o delito do autor principal, ainda que este desconheça o auxílio que está recebendo daquele.”
( Grifo Nosso)
Do vínculo normativo: os delitos culposos não são incompatíveis com o instituto da co-delinqüência. Por óbvio que, também nestes casos deve haver uma pluralidade de agentes e de condutas que possuam relevância causal. No entanto, nestes casos não se pode falar que todos os agentes têm consciência da estarem se auxiliando mutuamente para a produção do evento lesivo, uma vez que, como já se sabe, nos delitos culposos não há uma intenção de delinqüir. 
Sendo assim: nos crimes culposos não há um liame subjetivo, não há uma vontade comum de produzir o evento lesivo, ao contrário dos crimes dolosos. Nos crimes culposos, para que se possa falar em concurso de pessoas, é necessário que todos os concorrentes tenham consciência de estarem contribuindo para uma conduta sem observar o dever objetivo de cuidado, ou seja, é necessário que todos eles tenham tido intenção de praticar “a conduta culposa”. A culpa, como já se viu, é um elemento normativo e não subjetivo ( ao contrário do dolo), sendo assim, aqui, não se exige um vínculo subjetivo e sim um vínculo normativo. 
A propósito: acerca da compatibilidade do concurso de pessoas com os crimes culposos, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, as quais podem assim serem transcritas: 
“Desde que os agentes atuem com a mesma vontade de realizar a conduta culposa, não há porque excluir o concurso de pessoas. Assim, responde também por lesão culposa o passageiro que instiga o motorista a dirigir em alta velocidade, disso resultando o atropelamento de um pedestre.”
( Grifo Nosso) 
Mas, tenha em mente que: em se tratando de delitos culposos, pode-se falar em co-autoria, mas não em participação , isto porque, tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, toda classe de causação do resultado típico culposo é autoria. 
Vejamos um exemplo: Se um motorista atropela alguém por estar trafegando em velocidade superior à permitida, responderá por lesões corporais culposas ou homicídio culposo, dependendo do caso. Isto porque, como já se sabe, apesar de o motorista não tido a intenção de ferir ou matar o pedestre, ele agiu de uma maneira imprudente, violou um dever objetivo de cuidado. 
Pois bem: se o motorista ultrapassar os limites de velocidade por induzimento ou instigação do passageiro que estava com ele, ambos serão considerados “co-autores” de uma infração penal. Tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, em se tratando de delitos culposos, todo aquele que dá causa ao resultado por negligência, imprudência ou imperícia, ingressa no conceito de autor. 
Por isso que: não é possível ocorrer “participação” em crime culposo, mas apenas “co-autoria”. 
A propósito: tal como nos adverte o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, a co-autoria em crimes culposos não pode ser confundida com a concorrência de culpas, onde falta em relação à cada agente a consciência de contribuir para a eclosão do evento comum. 
Sendo que: tal como dissemos em uma aula anterior, haverá uma “concorrência de culpas” quando dois indivíduos, um ignorando a presença do outro, concorrerem culposamente para a produção de um resultado definido como crime.
Preste muita atenção: além de ser imprescindível a presença de um liame subjetivo ou normativo entre os participantes, é necessário que tal liame seja homogêneo. Ou seja, tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o autor e o partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo ( dolo ) ou normativo. E destas afirmações, podem-se tirar as seguintes conclusões: 
Não há “participação dolosa” em crime culposo 
Sendo que: para que se possa compreender melhor o que estamos dizendo, faremos uso de um exemplo que nos é fornecido pelo Profº. Damásio Evangelista de Jesus, e que pode assim ser transcrito: 
“ ‘A’ ,desejando matar ‘C’, entrega a ‘B’ uma arma, fazendo-o supor que está descarregada e induzindo-o a acionar o gatilho na direção da vítima. ‘B’, imprudentemente aciona o gatilho e mata ‘C’. Não há participação criminosa, mas dois delitos: homicídio doloso com relação à ‘A’; homicídio culposo com relação à ‘B’.” 
( Grifo Nosso) 
Não há “participação culposa” em crime doloso
A propósito: mais uma vez faremos uso de um exemplo que nos é fornecido pelo Profº. Damásio Evangelista de Jesus para que possa melhor compreender a afirmação em questão ( no sentido de não haver participação culposa em crime doloso). O referido exemplo pode assim ser transcrito: 
“Um médico, negligentemente, entrega auma enfermeira um veneno, supondo-o substância medicinal. Ela, percebendo o engano, mas com intenção de matar o doente, ministra-lhe a substância fatal. Há dois crimes: homicídio culposo por parte do médico; doloso em relação à enfermeira.”
( Grifo Nosso) 
5.4. Identidade de infrações penais : quando falamos das teorias que disciplinam o concurso de pessoas, dissemos que nosso Código Penal se filiou a teoria monista, uma vez que todos os concorrentes respondem pelo mesmo crime. 
Sendo assim: é óbvio que, para que se possa falar em “concurso de pessoas”, tal como nos ensina o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, é imprescindível que o resultado da ação de vários participantes se constitua em sendo algo juridicamente unitário. 
Ou seja: se diversas pessoas praticam, individualmente, crimes distintos, não estaremos diante de um “concurso de pessoas’, e sim de várias autorias distintas, sendo que, é por bem que se tenha em mente que este requisito, tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, perdeu um pouco de sua força em face do que preceitua o § do artigo 29, que será estudado posteriormente. 
6. Da Autoria Mediata
Tal como dissemos anteriormente, na autoria mediata o autor se serve de um terceiro que não é culpável para praticar o crime. Dissemos também, naquela ocasião, no momento oportuno mais se falaria sobre esta tal de autoria mediata. Pois bem, é chegado tal momento, e de início, é por bem que se tenha em mente que, tal como adverte-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o Código Penal pátrio não disciplinou expressamente a autoria mediata. 
E tem mais: segundo o penalista em questão, alguns doutrinadores chegam a negar a existência desta modalidade de autoria. No entanto, a teoria da autoria mediata é referenciada pela maioria dos doutrinadores pátrios, e tem inquestionável importância científica. 
Saiba ainda, de início, que: tal como nos ensinam os mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, a expressão “autoria mediata” indica uma autoria mediante determinação de outrem. E acerca do “conceito” de autor mediato, temos como sendo por demais conveniente que se atente para as lições do Profº. Enrique Curi Urzúa� , as quais podem assim serem transcritas: 
“Autor mediato é aquele que, de forma consciente e deliberada faz atuar para ele outro cuja conduta não reúne todos os requisitos para ser punível”
( Grifo Nosso)
Preste muita atenção: segundo a doutrina, estaremos diante da chamada “autoria mediata” quando: 
O “sujeito de trás” , o “autor mediato” se utiliza de alguém que é inimputável em face de sua menoridade penal. Seria o caso, por exemplo, do camelô que mandasse induzisse menores de idade a furtar relógios de transeuntes para vendê-los posteriormente em sua “barraquinha”. 
O sujeito de “trás” se utiliza de alguém que é inimputável em face de doença mental. Seria o caso por exemplo, do enfermeiro do manicômio que induzisse um dos pacientes a tirar a vida de um outro enfermeiro, com quem tem sérias desavenças. 
Alguém praticar um crime em virtude de “coação moral irresistível” exercida por terceiro. Seria o caso, por exemplo, do gerente de banco que subtrai certa quantia em dinheiro da instituição financeira em que trabalha para entregar aos marginais que, mantendo uma de suas filhas como refém em sua residência, ameaçam matá-la caso não o faça. 
Quando alguém cometer um crime obedecendo a uma ordem, que não seja manifestamente ilegal, a mando de seu superior hierárquico. Seria o caso, por exemplo, do Oficial de Justiça que, em cumprimento à um determinado mandado de prisão executa a ordem, prendendo alguém, sem saber, no entanto, que não existe qualquer fundamento para a expedição do referido mandado, e que o juiz apenas o expediu porque este “alguém” é seu inimigo pessoal e sua simples presença na cidade o incomodava. 
Perceba que: neste caso, o responsável pelo “abuso de autoridade” é o Juiz de Direito e não o Oficial de Justiça. E diz-se que houve um “abuso de autoridade” pois o artigo 3º da Lei 4.898 / 65�, em sua alínea “a” assim preceitua: 
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
a ) à liberdade de locomoção; 
( ... ) 
Quando o executor direto da conduta delituosa incide em “erro de tipo invencível”, por induzimento do autor mediato. Tal como leciona o Prof. Damásio Evangelista de Jesus, seria o caso, por exemplo, do caçador que induz seu companheiro a atirar naquilo que aponta como um animal, sabendo que, na verdade, é uma pessoa. 
Preste muita atenção: em todas estas hipóteses de autoria mediata, o “sujeito de trás”, o “mandante”, não será punido como partícipe, e sim como autor. 
Mas, veja que: se fossemos levar em consideração apenas a “teoria da acessoriedade limitada”, que como já se sabe, é referenciada pela maioria dos doutrinadores, o autor mediato seria punido como partícipe, uma vez que para esta teoria a participação é uma conduta acessória de um fato principal típico e antijurídico, e não se exige que o autor direto seja culpável. 
No entanto: se formos levar em consideração o que preceitua a teoria do domínio do fato, não encontraremos grandes dificuldades em punir o “sujeito de trás” como “autor” ( mediato) e não como “partícipe”. Isto porque: 
Segundo a teoria do domínio do fato, o agente pode ser considerado partícipe quando, sem realizar o núcleo do tipo, adere a uma conduta principal que seja típica e antijurídica, e não tem o domínio do fato, não tem o poder de decidir. 
Em se tratando de autoria mediata, o “sujeito de trás’ também não realiza o núcleo do tipo, e adere a uma conduta principal típica e antijurídica. No entanto, ele ( autor mediato) tem o domínio do fato, e sendo assim, não pode ser considerado mero partícipe. Acerca deste particular aspecto, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Cezar Roberto Bitencourt, que podem assim ser transcritas: 
“Em muitos casos se impõe a autoria mediata, mesmo quando seja possível, do ponto de vista da acessoriedade limitada, admitir a participação ( caso do autor inculpável), desde que o homem de trás detenha o domínio do fato” 
( Grifo Nosso) 
Saiba ainda que: tal como enfatiza o penalista em questão, o decisivo para distinguir a natureza da responsabilidade do homem de trás reside no domínio do fato.
Mais uma vez, preste muita atenção: se, tal como expusemos, a linha divisória entre a participação e a autoria mediata é o “domínio do fato” , é de se concluir que esta ( autoria mediata), ao contrário do que defendiam os doutrinadores mais antigos, não se resume aos casos em que o “sujeito de trás” faz uso, para cometer o crime, de alguém que não possui “culpabilidade” para tanto. 
Isto porque: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, também se deve considerar autor mediato aquele que, tendo o domínio do fato, vale-se de um terceiro que comete o crime desconhecendo o propósito do provocador situação. Acerca deste particular aspecto, o penalista em questão nos fornece o seguinte exemplo: 
“ ‘A’ , desejando matar ‘B’, induz este a agredir ‘C’, que, em legítima defesa, mata ‘B’. ‘A’ não é partícipe porque ‘C’ cometeu fato lícito. ‘A’ , porém, deve ser punido como autor mediato, pois tinha o domínio objetivo da situação fática.”
Pare e reflita: em se tratando de uma situação em que o autor mediato, o “sujeito de trás” provoca a legítima defesa, por exemplo, ele não poderá ser punido como partícipe, uma vez que, segundo a teoria da acessoriedade limitada, a ação principal deve ser típica e antijurídica, o que não ocorre nesta hipótese, onde a conduta principal nada tem de antijurídica. E como também não seria justo deixar de punir o provocador, o mais acertado, realmente, é puni-lo como autor, ou, mais precisamente, como autor mediato, uma vez que possui o domínio final do fato.
Perceba, portanto, que: de acordo com a teoria do domínio do fato, se poderá falar em autoria mediata em todos os casos em que o “executor direto” não possui o domínio do fato, enão apenas nos casos que este não puder ser considerado culpável. Aliás, se o “sujeito de trás” estiver fazendo uso de um inimputável para cometer um crime ( fato típico e antijurídico), mas não tiver o domínio do fato, ele ( sujeito de trás) será considerado partícipe e não autor mediato, sendo que, acerca deste particular aspecto os mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli assim lecionam: 
“Nos casos em o determinador não tem o domínio do fato, porque o único elemento que opera a favor do determinado é a causa de inculpabilidade, não haverá autoria mediata, mas instigação, isto é, uma forma de participação do delito doloso de outrem.”
( Grifo Nosso)
A propósito: acerca da autoria mediata, cumpre atentar, ainda, a dois aspectos de extrema importância, quais sejam: 
Na autoria mediata não se pode falar em concurso de pessoas, uma vez que inexiste liame subjetivo entre os concorrentes do ilícito, ou seja, o executor direto não adere aos propósitos criminosos do “sujeito de trás”. 
Em se tratando de autoria mediata, tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, todos os pressupostos necessários da punibilidade devem encontrar-se no homem de trás, no autor mediato, e não no executor, no autor imediato. 
7. Da Autoria Colateral e da Autoria Incerta
7.1. Da autoria colateral
Quando falamos dos requisitos do concurso de pessoas, dissemos que era imprescindível que houvesse um liame subjetivo entre os concorrentes. Ou seja: dissemos que para a caracterização do concurso de pessoas, era indispensável que os agentes tivessem consciência de estarem se auxiliando mutuamente para a prática do ilícito. 
Pois bem: pode acontecer que os concorrentes contribuam para a produção de um resultado sem ter a consciência do mútuo auxílio, ignorando um a presença do outro, sendo que, nestes casos, estaremos diante da chamada autoria colateral. 
Perceba, portanto, que: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, é o vínculo subjetivo existente entre os co-autores que distingue a autoria da autoria colateral. Nesta ( autoria colateral), tal como enfatiza o penalista em questão, cada autor atua desconhecendo a conduta do outro. 
Em outros termos: se duas ou mais pessoas contribuem para a prática da infração penal, com a consciência de que estão se auxiliando mutuamente, estaremos diante de um concurso de pessoas. Mas se, ao contrário, inexistir esta consciência de “auxílio mútuo”, estaremos diante de um caso de autoria colateral. 
Preste muita atenção: em se tratando de concurso de pessoas, tal como já dissemos anteriormente, todos os concorrentes respondem pelo mesmo crime ( nos moldes do que estabelece a teoria monista ou unitária). Em se tratando de autoria colateral, entretanto, a regra é diferente, uma vez que nestes casos, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, cada agente é responsável apenas pelo ato que praticou. 
Sendo assim: em se tratando de “co-autoria”, que como já se sabe é uma das modalidades de concurso de pessoas, não há necessidade de se apurar qual foi a contribuição que cada agente deu, efetivamente, para a empreitada criminosa, uma vez que ambos respondem pelo crime consumado. 
Mas: em se tratando de autoria colateral, tal como enfatiza o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, é indispensável saber “quem produziu o que”. Para tornar compreensível esta necessidade de se apurar, nos casos de autoria colateral, qual foi a real contribuição de cada agente, temos como sendo de inquestionável utilidade fazermos uso das lições do penalista em questão que pode assim serrem transcritas: 
“Quando, por exemplo, dois indivíduos, sem saber um do outro, colocam-se de tocaia e quando a vítima passa desferem tiros, ao mesmo tempo, matando-a, cada um responderá, individualmente, pelo crime cometido...Imagine-se que o tiro de um apenas foi o causador da morte da vítima, sendo que o do outro a atingiu superficialmente. O que matou responde por homicídio e o outro responderá por tentativa.”
7.2. Da autoria incerta
Quando mais de uma pessoa concorrer para a prática da infração penal e for impossível apurar qual delas produziu, efetivamente, o resultado, estaremos diante da chamada autoria incerta. 
Preste muita atenção: a autoria incerta poderá ocorrer tanto nos casos de concurso de pessoas como nos casos de autoria colateral . Falemos um pouco, então, sobre estas duas hipóteses totalmente distintas nas quais pode-se estar diante de uma autoria incerta. 
Se todos os concorrentes têm consciência da mútua colaboração na empreitada criminosa, tal como já dissemos, configura-se o concurso de pessoas. E nestes casos, a autoria incerta não gera grandes problemas, uma vez que, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, todos respondem pelo crime, ainda que não se apure, por exemplo, qual, entre os diversos agentes, executou o golpe mortal. 
Quando cada um dos agentes contribui para a empreitada criminosa desconhecendo a atuação do outro, tal como dissemos a pouco, estaremos diante da chamada autoria colateral. Nestes casos, como também já foi dito, é indispensável que se apure quem produziu, efetivamente, o resultado lesivo. Isto porque, nestes casos, tal como ensina-nos o supracitado penalista, não há como imputar o evento à todos os concorrentes, diante da inexistência do concurso de pessoas. 
Saiba que: o nosso Código Penal não possui regras expressas sobre a autoria incerta na “autoria colateral”, no entanto, tal como enfatiza o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, é evidente que, nestes casos, não se pode aplicar a teoria monista, uma vez que esta tem sua incidência restrita ao plano do concurso de pessoas. 
Preste atenção: para que se possa compreender melhor o que estamos a dizer sobre a autoria incerta, faremos uso de um exemplo, e depois faremos, com base neste exemplo, as observações necessárias: 
“Doni e Dimba desferem tiros contra Alberto, que vem a falecer.” 
Pois bem: façamos agora os devidos comentários: 
Se Doni e Dimba têm consciência de que estão se auxiliando mutuamente na empreitada criminosa, estaremos diante de um caso de “co-autoria”, que como já se sabe, é uma das modalidades de concurso de pessoas. Nesse caso, mesmo que não seja possível saber de qual das armas saiu o tiro que ceifou a vida de Alberto, ambos os concorrentes ( Doni e Dimba) deverão ser responsabilizados penalmente por homicídio doloso, nos moldes do que preceitua a teoria monista. 
Se Doni nem imagina que Dimba também está aguardando Alberto sair de casa para desferir-lhe tiros e este ( Alberto), ao sair é alvejado por ambos os concorrentes, estaremos diante da chamada autoria colateral. 
Pare e pense: neste último caso, se ficasse comprovado que a vítima foi atingida por apenas um tiro seria injusto responsabilizar Doni e Dimba por homicídio doloso, pois um dos concorrentes ( que não se sabe ao certo “qual”), praticou atos de execução e o resultado não ocorreu por circunstâncias alheias à sua vontade, e sendo assim deveria ser responsabilizado penalmente por homicídio tentado e não homicídio consumado. Mas, absolver os dois concorrentes também seria uma solução um tanto quanto incoerente, uma vez que um dos dois ( que não se sabe qual) praticou, efetivamente, o crime de homicídio consumado. Em outros termos: 
Condenar Doni e Dimba por homicídio doloso, sem que se apure de qual das armas saiu o tiro que acertou a vítima faria com que um deles sofresse uma reprovação penal desproporcional à sua real conduta. 
Absolver os dois, sem que se apure de qual das armas saiu o tiro que acertou a vítima também não seria a melhor solução uma vez que ambos praticaram ao menos atos de execução, e sendo assim eles não podem se eximir de uma responsabilização penal à título de tentativa. 
Preste atenção: nestes casos, a melhor solução, a solução mais justa, tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, será condená-los por tentativa de homicídio, abstraindo-se o resultado cuja autoria é desconhecida.Veja que interessante: pode ocorrer que, ao invés de ambos os agentes terem praticado atos executórios, um deles tenha, em verdade, praticado crime impossível por ineficácia absoluta do meio. Suponha-se que, no exemplo por nós formulado, a perícia apurasse que a vítima foi atingida por dois projéteis, mas um deles era de festim�, sendo que este tipo de projétil (de festim), como é sabido pela maioria das pessoas, seria absolutamente ineficaz para produzir a morte da vítima. 
Pois bem: neste caso, punir os dois concorrentes por tentativa de homicídio já não seria uma solução tão justa, uma vez que com relação à um deles ( que não sabe qual), não estão presentes todos os elementos da tentativa. 
Sendo assim: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, os dois devem ser absolvidos, já que um deles praticou crime impossível. Como diz um ditado muito citado no meio jurídico, é melhor absolver um culpado do que condenar um inocente. 
8. Da Punibilidade no Concurso de Pessoas
Tal como já dissemos várias vezes na presente aula, o Código Penal pátrio, com relação ao concurso de pessoas, adotou a teoria monista, segundo a qual todos os concorrentes respondem pelo mesmo crime. No entanto, é por bem que se tenha em mente que, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, a unidade apregoada pela teoria monista não conduz a identidade de pena. 
Até mesmo porque: impor uma pena semelhante à todos os concorrentes de maneira irreversível nos casos de concurso de pessoas, afrontaria o princípio da individualização da pena, que é previsto constitucionalmente no artigo 5º, inciso XLVI, além do que, o próprio artigo 29 do Código Penal, em sua parte final deixa bem claro que a unidade de crimes não impõe uma unidade de penas, uma vez que cada um dos concorrentes responde pelo crime na medida de sua culpabilidade. Vamos dar uma olhada nos citados dispositivos legais: 
Art. 5º ( ... ) 
XLVI – A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: 
a ) privação ou restrição da liberdade;
b ) perda de bens: 
c ) multa; 
d ) prestação social alternativa; 
e ) suspensão o interdição de direitos
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
A propósito: tal como leciona Nelson Hungria, individualizar a pena nada mais é do que retribuir o mal concreto do crime, com o mal concreto da pena, na concreta personalidade do criminoso. 
Sabia ainda que: os parágrafos 1º e 2º do artigo 29 também evidenciam que, apesar de todos os concorrentes responderem pelo mesmo crime, não há que se falar em homogeneidade de penas. Vejamos o que preceituam tais dispositivos, para logo após fazermos os devidos comentários:
§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. 
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
8.1. Participação de menor importância”( § 1º do artigo 29 ) 
Regula, o parágrafo 1º do artigo 29, a chamada participação de menor importância, sendo que, assim pode ser considerada toda a participação que tiver contribuído levemente para a empreitada criminosa. 
A propósito: é de se atentar que não podemos confundir a participação de menor importância com a participação sem nenhuma importância ou inócua. Tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, quando se fala em participação de menor importância, pressupõe-se sua “relevância causal”, no sentido de que, abstraída mentalmente, o delito não teria ocorrido como ocorreu. A participação inócua ou sem nenhuma importância, por sua vez, segundo o penalista em questão, é desprovida de qualquer relevância causal, não há concurso de pessoas, pois nem sequer terá sido causa do crime. 
Preste atenção: acerca da participação de menor importância, cumpre que se tenha em mente os seguintes aspectos: 
A disposição do artigo 29, § 1º se constitui em sendo uma causa de redução de pena, e sendo assim, pode fazer com que a pena fixada seja inferior a pena mínima fixada abstratamente para o tipo penal infringido. 
Por exemplo: no caso do homicídio simples, que é descrito pelo artigo 121, caput do Código Penal, a pena cominada pelo legislador é de 06 ( seis) anos. Incidindo a causa de redução de pena prevista no artigo 29 , § 1º, ou qualquer outra causa de diminuição de pena, o agente poderá ser condenado à uma pena de 05 ( cinco) anos, por exemplo. 
Saiba que: diz-se que o dispositivo legal em comento se constitui em sendo uma causa de diminuição de pena pois estas, ao contrário das atenuantes genéricas, têm um quantum de diminuição previamente estabelecido, que neste caso em particular pode variar de 1/6 à 1/3. 
Saiba ainda que: no caso das atenuantes genéricas, que estão previstas nos artigos 65 e 66 do Código Penal, a pena fixada pelo Juiz não pode ser inferior à pena mínima cominada abstratamente para o tipo penal infringido. 
A propósito: as atenuantes genéricas e as causas de diminuição de pena serão abordadas com maior profundidade quando estudarmos a “teoria geral da pena”. 
A causa de diminuição de pena prevista no artigo 29, § 1º apenas se aplica ao partícipe, uma vez que, tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, ainda que a participação do “co-autor” tenha sido pequena, terá ele contribuído diretamente na execução do tipo penal incriminador, e sua culpabilidade, naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do artigo 29, caput, do Código Penal. 
Veja que interessante: discute-se na doutrina se a redução de pena prevista no artigo 29, § 1º é obrigatória ou facultativa . A maioria dos doutrinadores entende que a redução é obrigatória e que a expressão “pode” contida no dispositivo legal em comento diz respeito ai quantum da diminuição, que pode variar de 1/6 a 1/3. 
A propósito: os doutrinadores que, a exemplo do Profº. Júlio Fabbrini Mirabete, entendem que a redução de pena nos casos de participação de menor importância é facultativa, alegam que o Juiz pode constatar uma intensidade de vontade do partícipe igual a dos demais, e esta “equivalência” se prestaria a “equiparação” no plano da culpabilidade. 
Saiba que: nós, particularmente, cremos que uma vez reconhecida a menor importância da participação, a aplicação da causa de redução de pena prevista no parágrafo 1º do artigo 29 é obrigatória, e que a expressão “pode”, realmente se refere ao quantum a ser diminuído da pena ( 1/6 à 1/3). 
Lembre-se que: tal como já dissemos outras vezes, este tipo de discussão surge toda vez que o legislador insere a expressão “pode” em um dispositivo que estabelece regras a serem observadas pelo Juiz ao fixar a pena. 
8.2. Da cooperação dolosamente distinta ( § 2º do artigo 29) 
Se formos levar em consideração o que preceitua § 2º do artigo 29, perceberemos que, realmente, ele é um dos dispositivos que reforçam a idéia de que, apesar de nosso Código ter dado preferência à teoria monista, segundo a qual todos os concorrentes respondem pelo mesmo crime, a culpabilidade é individual, e com base nela ( culpabilidade) é que será fixada a pena de cada um. 
Perceba que: o § 2º do artigo 29 que, tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, cuida da hipótese de o autor principal ter cometido crime mais grave do que o pretendido pelo partícipe, impõe duas regras, quais sejam: 
Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste. 
A pena do delito menos grave será aumentada até a metade o resultado mais grave lhe era previsível. 
A propósito: vejamos um exemplo de “cooperação dolosamente distinta”, um exemplos onde o crime praticado por um dos autores é mais grave do que o pretendido pelo outro. 
 a – Tício e Alberto combinam de praticar um roubo em uma residência, sendo que o primeiro ficouincumbido colocar diversos pertences no carro enquanto que o segundo, que mantinha os moradores como reféns, resolve, por livre e espontânea vontade, estuprar a esposa do dono da casa. 
Note que: Tício não tinha nenhuma intenção em contribuir com um estupro, mas apenas com o roubo. Houve uma cooperação dolosamente distinta uma vez que o dolo do Tício não abrangia o crime praticado contra a mulher. 
Saiba que: alguns doutrinadores afirmam que a regra do parágrafo 2º do artigo 29 se aplica apenas ao partícipe e não ao co-autor. No entanto, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o Código Penal não faz esta distinção. E tal posicionamento é por demais coerente , pois o dispositivo legal em questão diz que se algum dos concorrentes quiser participar do crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste. E tal como enfatiza o penalista em questão, o termo concorrentes deve ser tomado em sentido amplo, abrangendo o co-autor e o partícipe. 
Veja: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, dificilmente um co-autor será beneficiado com a regra contida no § 2º do artigo 29, pois, na maioria dos casos, ele quer ou assume o risco de produzir o resultado mais grave.
“Mas” : isto não significa que o co-autor “sempre” quer produzir o resultado mais grave, e sendo assim, seria injusto restringir a aplicação do dispositivo em estudo apenas aos partícipes. E para que se possa melhor compreender a coerência deste posicionamento, temos por oportuno que se atente para as elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, as quais podem assim serem transcritas: 
“Suponha-se que, durante a execução de um roubo, um dos co-autores, escondido, resolva estuprar a vítima. Em tal situação não há como imputar aos demais a prática do delito de estupro. Se, porém, eles pudessem Ter previsto o coito sexual, a pena do roubo será aumentada da metade.” 
A propósito: a possibilidade de um dos concorrentes ser punido pelo crime menos grave, quando apenas deste quis participar, só surgiu com a reforma da parte geral do Estatuto Repressor, feita em 1984 através da lei 7.209. Antes disso não existia uma regra específica para os casos em que um dos agentes ultrapassasse os limites do que houvera sido combinado anteriormente. 
Ou seja: antes de reforma penal de 1984, mesmo que o dolo de um dos concorrentes abrangesse apenas o delito menos grave, ele também seria responsabilizado penalmente pelo crime mais grave praticado pelo seu “comparsa”. É de se notar que o posicionamento adotado anteriormente pelo legislador era por demais criticável, uma vez que, tal como leciona Welzel�, cada um dos agentes deve responder somente até onde alcança o acordo recíproco. 
Perceba, portanto, que: a inovação legislativa em estudo faz por merecer todos os elogios que lhe são feitos pela doutrina, uma vez que, tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, ela permite que cada agente seja responsabilizado pelo que quis, segundo o seu dolo e não segundo o dolo do autor. 
Por fim, não se esqueça que: se um dos concorrentes quis participar do crimes menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste, tal como já se viu. No entanto, a pena do delito menos grave será aumentada até a metade se o resultado mais grave era previsível. 
Pois bem: é de se notar que, tal como ensina-nos o Profº. Alberto Silva Franco, o texto legal fala em previsibilidade do resultado mais grave, e não da hipótese de previsão deste resultado e sua aceitação como possível. Isto porque, nestes casos ( de previsão e aceitação do resultado mais grave), tal como enfatiza o penalista em questão, o partícipe responde inteiramente pelo resultado mais grave, por ter atuado com dolo eventual. 
Lembrando que: diz-se que alguém agiu com dolo eventual quando, embora não desejasse o resultado, assumiu o risco de produzi-lo. 
A propósito: para encerrar este tópico, temos por oportuno que se atente para o posicionamento adotado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ao julgar uma apelação, para que assim se possa notar a importância prática do assunto que estamos estudando. O referido posicionamento assim pode ser transcrito: 
“Se o intuito do agente era participar tão-somente do roubo, e não foi ele o autor dos disparos letais, inviável sua responsabilização pelo latrocínio. Nesta hipótese impõe-se a desclassificação para o delito de menor gravidade, com o agravamento em razão da previsibilidade do resultado, conforme dispõe o artigo 29, § 2º do Código Penal.” 
8.3. Da participação impunível
Tal como preceitua o artigo 31 do Código Penal, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio não são puníveis se o crime não chega ao menos a ser tentado. Tal regra, aliás, decorre do caráter acessório da participação. 
Em outros termos: como a participação é uma conduta acessória, ela não terá qualquer relevância se não houver um fato principal típico e antijurídico. Ou seja, se não houver, ao menos, um crime tentado, a participação não terá qualquer relevância para o Direito Penal. Tal como leciona Nelson Hungria, o dispositivo legal em comento é corolário da regra geral de que não há fato punível onde não haja, pelo menos, começo de execução. 
A propósito: acerca da participação impunível, é de se atentar, ainda, a dois aspectos, quais sejam: 
O artigo 31 diz que o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário não são puníveis se o crime não chega ao menos a ser tentado. 
Pois bem: a ressalva feita no dispositivo legal em comento se refere aos casos em que o ajuste, a determinação, a instigação e o auxílio são puníveis como delitos autônomos. Podemos pegar como exemplo de atos de participação que são descritos como crimes autônomos a incitação ao crime a formação de quadrilha ou bando, que são crimes descritos, respectivamente, pelos artigos 286 e 288 do Código Penal. Vamos dar uma olhada nos citados dispositivos legais: 
Incitação ao crime
Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
Quadrilha ou bando
Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 
Parágrafo único: A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
Por fim, convém saber que, tal como nos lembra o Profº. Alberto Silva Franco, a norma anterior ( Parte Geral de 1940) previa, para as hipóteses de participação impunível, a aplicação de medida de segurança consistente em liberdade vigiada, caso o agente demonstrasse periculosidade. 
9. Da comunicabilidade das circunstâncias e elementares do crime
No presente momento desta nossa aula veremos até que ponto, no concurso de pessoas, as características da conduta de um dos concorrentes, pode influir na punibilidade dos demais. 
Em outros termos: veremos se as características da conduta de um dos concorrentes se comunicam aos demais. Sendo que, de início, convém darmos uma olhada no dispositivo legal que disciplina a matéria, qual seja, o artigo 30 do Código Penal. Vamos ao dispositivo: 
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 
Perceba que: o supracitado dispositivo fala em “circunstâncias e condições de caráter pessoal” e “elementares do crime”. 
Pois bem: antes de estudarmos as regras acerca da comunicabilidade das circunstâncias e condições, é imprescindível que se compreenda o que é uma circunstância, o que é uma condição, o que é uma elementar, bem como quando uma “circunstância” ou “condição” tem caráter pessoal (subjetivo) ou objetivo. 
Das Elementares: pode-se entender como sendo elementar de um tipo penal todo aquele componente que lhe é essencial , de modo que sem ele o tipo penal desaparece ( atipicidade absoluta) ou se transforma em outro ( atipicidade relativa). Tal como nos ensina o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, excluindo-se a elementar o fato deixa de ser

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