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1 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA tutoria 05 Tuberculose “Tardezinha” P.I.X., 55 anos, sexo masculino, desempregado, fumante, residente em uma invasão na periferia de Guanambi – Ba. Possui renda familiar do Bolsa Família para sustento de 7 pessoas: ele, a esposa e três filhos, sendo o mais novo, um recém-nascido de 30 dias. Mora, também, no mesmo casebre, sua irmã de 22 anos. Ela abandonou o tratamento de uma “doença do pulmão” devido aos efeitos adversos do medicamento e devido às bebedeiras. Há algumas semanas, P. I. X., vem apresentando tosse, com escarros hemoptoicos, febre baixa, quase que diariamente, associado a emagrecimento. Ele relata que fazia visitas constantes à UPA devido a febre, tendo sido medicado apenas com antitérmico e liberado em seguida, sem investigação diagnóstica. Em outra oportunidade, ele procurou atendimento na USF do bairro e, após atendimento, mesmo com uma ausculta pulmonar sem alterações, ao exame físico, o médico o encaminhou para imediata realização de exame de escarro, radiografia de tórax e ao serviço social. Objetivo 01: analisar a TB pulmonar, considerando a etiologia, epidemiologia, fatores de risco, fisiopatologia, quadro clinico, diagnostico e diagnóstico diferencial e tratamento. I. Conceito → É uma doença infecto-contagiosa, granulomatosa, crônica e necrosante, causada pelo bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR); → Pode ser causada por qualquer uma das sete espécies do complexo Mycobacterium tuberculosis; porém, o principal patógeno nesse caso é o M. Tucerbulosis, também chamado de BACILO DE KOCH (BK), onde têm como principal característica a preferência pelo parênquima pulmonar e sua transmissão de pessoa para pessoa através da inalação de algumas partículas contaminadas, podendo ser produzidas pela tosse, espirro. OBS: PODE SER TRANSMITIDA TAMBÉM PELA FALA DO PACIENTE ‘’BACILÍFERO’’, O QUE SÓ ACONTECE NA TB DE VIAS AÉREAS: PULMONAR OU LARÍNGEA. → A forma mais comum da doença é a pulmonar. II. Etiologia → É uma doença infecciosa de evolução crônica que compromete principalmente os pulmões, e cujo agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis; → As bactérias desse gênero são caracterizadas principalmente por apresentarem um tempo de geração longo, 3 horas para as espécies de crescimento rápido e 18 horas, em média, para as espécies de crescimento lento e serem resistentes a descoloração por solução contendo álcool e ácido. Com seu metabolismo voltado especialmente para a construção da capsula que o protege dos agentes químicos, o M. tuberculosis cresce lentamente, é um ser aeróbio, duplica sua população em 18 a 48 horas, dependendo da maior ou menor oferta de oxigênio, do pH do meio e acesso a nutrientes. E, entretanto, facilmente destruído por agentes 2 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA físicos, como o calor, os raios ultravioletas da luz solar e radiações ionizantes. → O M. tuberculosis não se apresenta livre na natureza, dependendo do parasitismo; transmite-se principalmente por via aérea, facilitada pela aglomeração humana. Tem uma baixa morbidade que, associada ao crescimento lento, provoca principalmente doença de curso lento e crônico em indivíduos com baixa imunidade, com destaque para a subnutrição. → Por ser um aeróbio estrito para a maior parte das suas populações, infecta os pulmões e aí se localiza preferencialmente – a presença de oxigênio favorece sua multiplicação e a ligação do órgão com o meio externo facilita sua transmissão. OBS: Bacilos de álcool-ácidoresistentes, BAAR: a parede celular de micobactérias contém muitos lipídios ou ác graxos, o que faz com que resistam à coloração. Podem se corar com a carbol- fucsina a partir do contato com calor ou alcalinidade. Após essa técnica, ela passa a ser resistente ao ácido-álcool (que é um descolorante potente), sendo classificados como BAAR. A identificação pelo BAAR não é suficiente para identificar a espécie. OBS: a tuberculose é causada por um complexo de micobactérias, a M. tuberculosis, bovis, africanum e microti. Demais doenças com características de tuberculose devem receber o nome de tuberculose atípica ou tuberculose devida à alguma coisa. OBS: em situações metabolicamente desfavoráveis (diminuição de PO2, pH baixo), o M. tuberculosis entra em estado de latência, multiplicando-se de forma lenta durante dias ou anos. O risco de adoecer é maior nos 2 primeiros anos a partir do momento da infecção, mas uma vez infectada, a pessoa pode adoecer em qualquer momento da vida. transmissão → A transmissão ocorre por via aérea de uma pessoa dita ‘’bacilífera’’ com TB pulmonar ou laríngea, eliminando bacilos no ar e os mesmos podem ficar suspensos como partículas; ocorre quase exclusivamente por aerossolização de secreções respiratórias infectadas → Em contexto epidemiológico, é a forma de maior relevância (pulmonar), por ser a que mais frequentemente torna o paciente capa de transmitir o bacilo, podendo infectar de 10 a 15 pessoas, em média, num período de 1 ano. OBS: BACILÍFERO É UM TERMO QUE SE REFERE A UMA PESSOA COM TB PULMONAR OU LARÍNGEA E COM AMOSTRA POSITIVA NO EXAME DE ESCARRO. → O contagio depende, assim, de como se estabelece a relação entre o foco e o contato, sendo os intradomiciliares e os íntimos mais infectados do que os extradomiciliares. A proximidade (mesma cama, mesmo quarto, mesma casa) e o parentesco (mãe, pai, irmãos e outros parentes) guardam uma relação direta e estatisticamente significante com a infecção. Aglomerados urbanos, especialmente condições precárias de moradia, favorecem a maior prevalência da tuberculose. Infecção e doença são mais frequentes entre os contatos de baixa idade, os idosos, os portadores de doenças ou em condições imunossupressoras. → Pacientes com a caverna tuberculosa são os principais infectantes – tosse + escarro; → Para que tenha infecção, os bacilos devem chegar aos alvéolos, sujeitos à cílios e muco, os bacilos precisam estar em suspensão, quase como igual ao ar; 3 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA → Outras formas de transmissão: broncoscopia e intubação orotraqueal; → Após cerca de 15 dias de tratamento, o paciente passa a não eliminar mais bacilos; → Crianças < 10 anos possuem baciloscopia negativa, não participando da transmissão. OBS: embora os pacientes com caverna tuberculosa sejam os principais infectantes, a chance de gerarem bacilos é relativamente pequena. A TBC tem uma taxa de infecção relativamente pequena, quando comparada com outras doenças propagadas pelo ar, como sarampo. → Susceptibilidade, imunidade e vulnerabilidade É basicamente universal, sendo que os infectados geralmente resistem à ação do bacilo. Quando isso ocorre, tem-se a forma latente, na qual existe a imunidade para o bacilo, que ficam encapsulados em estado latente, com pequenos focos quiescentes que não evoluem e não provocam adoecimento. Esses pacientes possuem prova tuberculínica e teste IGRA positivos. Cerca de 5% não impedem a multiplicação inicial e apresentam sintomas. Outros 5% bloqueiam a infecção inicial, mas acabam adoecendo por reativação dos bacilos. III. Epidemiologia → É uma das principais causas de mortalidade no adulto, sendo que a maioria dos casos se deve a uma reativação tardia da infecção primária no pulmão ou em áreas extrapulmonares; → Grupos de risco: crianças ≤ 4 anos, idosos e imunossuprimidos; → Prevalentes nas nações insulares, Ásia, América Latina, Rússia e Índia; → Doença de notificação compulsória, com estimativa de 97 mil casos novos por ano; → É a quarta causa de morte por doença infecciosa, com cerca de 5 mil mortes por ano; → Homens amarelos de 40-59 anos possuem uma maior incidência; → Mais altaem locais com baixo IDH. IV. Fatores de risco → TABAGISMO: o papel que a fumaça do cigarro desempenha na patogênese da tuberculose está intimamente relacionado com a disfunção ciliar a uma resposta imune reduzida e a defeitos na resposta imune dos macrófagos, com ou sem a contagem de CD4, aumentando a susceptibilidade á infecção por Mycobacterium tuberculosis. Essa fumaça vai promover a baixa produção de IL-12 e TNF-alfa, impedindo a formação de granulomas, logo, o tabagismo criaria condições para o desenvolvimento da tuberculose ativa; → ÁLCOOL: provoca danos ao fígado e deficiência nutricional, ou por fatores sociais, como aglomeração, desnutrição e falta de moradia. Além disso, o uso de álcool altera a resposta imune, aumentando a susceptibilidade a doenças respiratórias, como a tuberculose; → DIABETES MELLITUS: causa um aumento da susceptibilidade à tuberculose através de vários mecanismos como: hiperglicemia e insulinopenia celular, tendo efeitos indiretos sobre a função de macrófagos e linfócitos. → DESNUTRIÇÃO; → CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E DE HIGIENE DESFAVORÁVEIS. V. Fisiopatologia → Inicialmente, o M. tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a maturação do fagossomo e a formação do fagolisossoma, permitindo sua multiplicação dentro desta célula incontroladamente, protegida da ação dos lisossomos. Logo, a infecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, havendo uma reação do sistema imunológico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infecção. No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua maturação, impedindo sua destruição e 4 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta. → A infecção pelo M. tuberculosis cursa em etapas, desde a infecção inicial com ataque aos macrófagos à ativação de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hospedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavitação. → Há então, posterior ativação dos receptores da imunidade inata, iniciando e aumentando esse tipo de resposta ao bacilo. Uma resposta Th1 é montada após 3 semanas, e essa resposta Th1 irá produzir o IFN-gama. Este, por suavez, através de um conjunto de processos, estimula a destruição do macrófago infectado, destruindo organelas danificadas e patógenos intracelulares – como o M. tuberculosis. Porém, essa mesma resposta Th1 que estimula os macrófagos e destrói micobactérias, gera a formação de granulomas e necrose caseosa. Esses macrófagos incentivados pelo IFN-gama se diferenciam em “histiócitos epitelioides”, que se agregam a formam granulomas. →Na maioria dos indivíduos, essa resposta acontece antes que a destruição tecidual provoque danos maiores. Em outros, a infecção progride, e a resposta contínua gera focos necróticos. Os macrófagos ativados também secretam TNF e quimiocinas, que atraem monócitos. →Nesse contexto, a grande maioria dos indivíduos imunocompetentes irá passar por essa primeira infecção sem desenvolvimento da forma ativada doença - apenas 2% a 5% destes irá desenvolver essa forma nos primeiros dois anos do contato com o bacilo. Duas a treze semanas após a infecção primária, a imunidade adaptativa específica consegue controlar a replicação bacteriana. → Após a infecção primária, 95% dos indivíduos entrarão em estado de latência, que é mantida pelo sistema imunológico ativo e competente – a evidência disso ocorre na reativação da tuberculose em momentos de imunodepressão. A ativação tardia, ou reativação, pode ocorrer em condições imunossupressoras, com o desenvolvimento de comorbidades ou até mesmo sem causa aparente. Essa reativação da doença em hospedeiro com imunidade pré- existente gera resposta inflamatória intensa, com formação de granulomas caseosos e, posteriormente – caso o pulmão esteja envolvido – de cavitação pulmonar.E de fato: a forma mais predominante da doença é justamente e tuberculose pulmonar. → Logo, ocorre uma resposta imune ativa, porém diminuída, concomitante à replicação do bacilo. Devido à inflamação gerada nesse processo, há apoptose intensa, depletando as células T ativas contra o patógeno. OBS: o processo geralmente é autolimitado, já que ocorre conversão da prova tuberculínica em torno de 4-6 semanas, o que determina o quadro de latência em 95% dos casos. 5% dos pacientes podem evoluir para a forma ativa em cerca de 2 anos. O restante dos pacientes pode evoluir em cerca de décadas após o primeiro contato. Sempre existe a possibilidade de infecção por outra cepa. VI. Manifestações clínicas sintomas respiratórios a. TOSSE → Na tuberculose pulmonar, a tosse está presente em praticamente todos os pacientes. Resulta do estimulo causado pelo processo 5 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA inflamatório alveolar ou pelo comprometimento granulomatoso das vias aéreas. No início, e seca, podendo tornar-se produtiva com expectoração mucosa ou purulenta, geralmente em pequena quantidade, e, as vezes, com sangue. É menos observada na forma pleural da doença. Vale lembrar que a tosse tende a ser ignorada ou minimizada pelos fumantes, circunstancia em que é um fator de risco de grande valor para a suspeita de doença pulmonar. A recomendação programática para rastreamento da doença na comunidade e a de realização de exame baciloscópico em pessoas que apresentam tosse produtiva e persistente por três ou mais semanas. b. DISPNEIA → Em virtude da destruição global do parênquima pelo processo inflamatório da tuberculose, envolvendo alvéolos e vasos, não há grandes alterações na relação ventilacao-perfusao, exceto nas atelectasias, nas grandes cavidades e nas lesões com grande componente inflamatório agudo. Dessa forma, a dispneia e um sintoma pouco comum, aparecendo, sobretudo, nas lesões avançadas como consequência a restrição causada pelo padrão fibrótico da doença, ou pela presença de derrame pleural ou pneumotórax. Na forma miliar, a dispneia e frequente em função do comprometimento intersticial difuso, com consequente hipoxemia. Padrão obstrutivo pode ser observado quando há doença das vias aéreas ou pela hiper-responsividade brônquica que parece acompanhar a tuberculose e suas sequelas. c. DOR TORÁCICA → Surge quando há comprometimento da pleura. Como o processo patológico da tuberculose tem início no alvéolo, em situação muito próxima da superfície pleural, este sintoma e precoce e relativamente frequente. Em geral, de pequena intensidade, desaparece com o tratamento eficaz. d. ROUQUIDÃO → Ocorre nas formas da doença com comprometimento de laringe, frequentemente associada a forma pulmonar, quase sempre despercebida e pouco relatada. sintomas gerais a. FEBRE E SUDORESE → Acredita-se que a multiplicação bacilar, fenômeno que pode acontecer dentro ou fora do macrófago, ocorra de forma mais intensa no pico plasmático do cortisol, ao redor das 11 às 12 horas (ritmo circadiano). As consequências são morte e ruptura do macrófago, seguidas da liberação do seu conteúdo para o tecido, com início do processo inflamatório. Provavelmente por isso, a característica da febre seja de ocorrência vespertina. Em função da lenta multiplicação do M. tuberculosis, quando comparada a dos germes inespecíficos, o processo inflamatório também não será muito intenso, determinando temperaturas não muito altas. A resposta orgânica a febre, para a manutenção da temperatura corpórea, e a sudorese noturna. Em circunstancias em que há disseminação hematogênica maciça ou endo brônquica, a febre pode ser alta, acompanhada de calafrios e não respeitar o horário clássico síndromesclínicas a. Tuberculose primária: Mais comumente encontrada na criança, pode se apresentar como: 1) opacidade parenquimatosa; 2) linfonodomegalia; 3) derrame pleural; 4) atelectasia; e 5) doença miliar. Caracteriza-se por consolidação, com mais frequência, nos lobos inferiores ou até mesmo atelectasia segmentar ou lombar. Costuma ser homogênea e, por vezes, contem broncogramas aéreos no seu interior, podendo ser confundida com pneumonia bacteriana. Pode ser acompanhada por linfonodomegalia mediastinal ou hilar e derrame pleural ocasional, embora essas manifestações possam ocorrer também de maneira isolada. O derrame pleural foi descrito em até 63% das formas primarias, sendo mais comum o seu aparecimento no adolescente e no adulto jovem e relativamente ausente nas crianças. A linfonodomegalia mediastinal pode ser encontrada em até 96% das vezes e menos comum nos adultos. A forma miliar e a mais rara, geralmente acometendo crianças abaixo dos 2 anos de idade. 6 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA OBS: NOS ADULTOS, ESSES PADRÕES RADIOLÓGICOS SUPERPOEM-SE COM AS APRESENTACOES DA DOENCA POS-PRIMÁRIA, DIFICULTANDO, NA MAIORIA DAS VEZES, A DISTINÇÃO ENTRE AS DUAS FORMAS. b. TUBERCULOSE PÓS- PRIMÁRIA: ocorre após três anos da primo-infecção, por reativação de foco latente ou por reinfecção (nova inalação de bacilos); OBS: OCORRE EM PESSOAS COM MAIS DE 15 ANOS DE IDADE. VI. Diagnóstico a. EXAME FÍSICO → Os sinais físicos na tuberculose são proporcionais a extensão do processo, ao tempo de duração da doença e a sua forma de apresentação. Dessa maneira, quanto maior a duração da doença, mais serão evidentes os sinais de consumpção como emagrecimento e palidez; → Quanto aos sinais específicos, a extensão e a forma da doença no parênquima pulmonar serão os determinantes dos achados. Estertores na região das lesões, geralmente apicais e posteriores, sibilos e roncos no comprometimento brônquico, propedêutica de condensação nas formas de pneumonia caseosa, diminuição do murmúrio e da broncofonia quando o derrame pleural está presente, além do clássico sopro anfórico nas cavidades, formam o elenco de achados mais comuns. Hepatoesplenomegalia pode ocorrer nas formas disseminadas. → Alguns achados podem representar formas de hipersensibilidade a componentes do bacilo. Essas lesões não contem o M. tuberculosis e são representadas principalmente pelo eritema nodoso, ceratoconjuntivite flictenular, polisserosite e eritema endurado. Essas formas normalmente acompanham a primo-infecção tuberculosa, embora possam aparecer associadas a doença ativa ou de modo independente, as vezes com caráter redicivante. b. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL bacteriológico Baciloscopia direta – exame microscópico direto: faz a pesquisa do BAAR, que é a mais utilizada para diagnóstico da TBC. A baciloscopia do escarro, quando feita de forma correta, permite detectar a maioria dos casos pulmonares (indicada em visita domiciliar, na identificação do sintomático respiratório). A baciloscopia do escarro é indicada para: ∴ Pacientes com sintomas respiratórios; ∴ Pacientes com suspeita clínica ou radiológica da TBC pulmonar; ∴ Acompanhamento do tratamento e confirmação de cura; ⋅ Baciloscopia de outros materiais pode ser feita no caso de suspeita clínica extrapulmonar ⋅ Se baciloscopias negativas, mas suspeita clínica, fazer avaliação individual + cultura ⋅ Baciloscopia do escarro deve ser mensal durante tratamento para todos os casos. Teste rápido molecular para TBC, TRM-TBC: é um teste de amplificação de ácidos nucleicos, que serve para detectar o DNA do M. tuberculosis através das técnicas de PCR. O resultado é gerado automaticamente, que fala a presença ou ausência do bacilo. Se positivo, ainda indica se existe sensibilidade ou resistência à rifampicina. → Sua sensibilidade é de 90% em adultos, sendo superior a baciloscopia; → Está indicado em diagnóstico de formas extrapulmonares em materiais validados (líquor, gânglios e outros); OBS: Não está indicada para acompanhar o tratamento. Indicado para método diagnóstico para adultos e crianças, sendo que a sensibilidade em < 10 anos é mais baixa. Não identifica bactérias não tuberculosas. Cultura para micobactéria com identificação de espécie: alta especificidade e sensibilidade usando meios sólidos à base de ovo, com crescimento bacteriano de 14-30 dias podendo estender até 60 dias. Se optar por meios líquidos, o tempo de crescimento é de 5-12 dias 7 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA com extensão até 42 dias. Se baciloscopia negativa, a cultura de escarro aumenta 20% a chance de diagnóstico. ⋅ Fazer em todos os casos suspeitos e em população de risco – situação de rua, presos... ⋅ Todos os casos com TRM-TCB positivo, fazer cultura de escarro ⋅ No caso de tratamento, fazer TRM-TBC para identificar resistência ao RIF ⋅ Se local sem TRM-TBC, fazer baciloscopia com duas amostras de escarro. exames complementares Histopatologia: usa nas formas suspeitas ativas, que apresentam ao raio-x como doença difusa ou em pacientes imunossuprimidos. Além de baciloscopia e cultura, deve ser feito o exame histopatológico, para verificar se tem processo inflamatório granulomatoso; Adenosina deaminase (ADA): altos níveis de adenosina nos líquidos pleural, pericárdico, sinovial e no líquor, associados aos sintomas, são métodos diagnósticos para a TBC extrapulmonar, principalmente a forma pleural. Se níveis normais, o diagnóstico de TBC nesses locais é praticamente afastado; Exames inespecíficos: pouco ajudam no diagnóstico da TBC, sendo que o hemograma pode evidenciar anemia, sem alterações leucocitárias. No caso de comprometimento medular, observa- se pancitopenia. Dependendo dos órgãos envolvidos, pode ter aumento ou diminuição das frações específicas. Broncoscopia: pode ser útil pelas: → Formas com exmes microbacteriológicos iniciais negativos; → Suspeita de outra doença pulmonar que não a tuberculose; → Presença de doença que acometa difusamente o parênquima pulmonar (ex: TB miliar); → Suspeita de tuberculose endobrônquica; → Pacientes imunodeprimidos, particularmente os infectados pelo HIV (maior risco de formas não cavitarias e, portanto, menor positividade do escarro). exames de imagem RX TUBERCULOSE PRIMÁRIA: → Presença do bacilo de Koch no parênquima pulmonar promove a formação de um processo inflamatório granulomatoso, podendo se manifestar com opacidade (nódulo ou consolidação), podendo ser chamado de nódulo de Ghon ou primário no RX; em adultos, vai acontecer nos lobos superiores e a partir disso, pode progredir para necrose caseosa e disseminação broncogênica; → A presença de bacilos ou de suas proteínas devido á disseminação ou contato anatômico pode acometer a pleura ou pericárdio, com derrame pleural; RX TUBERCULOSE PÓS- PRIMÁRIA: → Predileção para os lobos superiores e partes superiores dos lobos inferiores; Nódulos, massas e cavitações podem aparecer com a confluência de granulomas múltiplos; Cavidades com paredes mais finas, representando sequela; → Em idosos e diabéticos, as cavitações aparecem nos lobos inferiores, dificultando a visualização; → Outros achados são o espessamento da parede brônquica e o aspecto de ‘’árvore em brotamento’’. OBS: EM PACIENTES IMUNOSSUPRIMIDOS POR CORTICOESTEROIDES OU POR DEFICIÊNCIA DA IMUNIDADE CELULAR, AS CONSOLIDAÇÕES DIFUSAS E PADRÃO MILIAR SÃO MAIS FREQUENTES. c. DIAGNÓSTICO ESPECÍFICO 8 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA Feito por meio de esfregaços e cultura de escarro (padrão ouro, 2-4 semanas), feitas pela técnica BAAR, mas a maioria dos laboratórios agora utilizam a técnica de auramina-O, que distingue melhor as formas bacterianas.O teste não é muito específico, porque depende da extensão de acometimento pulmonar. Cerca de 50-60% dos portadores possuem BAAR +. Pode ainda ser feito por meio de cultura, mas demora de 3-6 semanas para crescimento e identificação da espécie. Testes com amplificação de ácido nucleico ficam prontos em 2 dias, e são bem úteis para diferenciar a micobactéria tuberculínica da ambiental. ⋅ Diagnósticos da forma extrapulmonar são complicados, pela escassez de bacilos; ⋅ Normalmente apresentam granulomas de células gigantes com necrose caseosa e pouco BAAR. A análise de derrames mesoteliais mostra exsudato rico em linfócitos e baixa de glicose; ⋅ Presença de adenosina desaminase, ADA, possui alta especificidade para TBC; ⋅ Elevação moderada de proteínas no líquor, baixa de glicose e baica celularidade; → Prova tuberculínica, PPD, Reação de Mantoux ⋅ Inoculação intradérmica de um derivado proteico purificado do M. tuberculosis; ⋅ Avalia a resposta imune celular ao antígeno; ⋅ É importante principalmente para os contatantes do doente – infecção latente; ⋅ Aplicada via intradérmica no terço médio da face anterior do antebraço E, 0,1Ml; ⋅ A leitura é realizada cerca de 48-72 horas depois da aplicação – pode ir até 96h; d. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL → Pneumonias, micoses pulmonares, sarcoidose e carcinoma brônquico, principalmente. ⋅ Realizar cultura com identificação de espécie para as micobactérias não tuberculosas; ⋅ Pode-se considerar a possibilidade de micobactérias não tuberculosas quando: ∴ Imagem radiológica pulmonar de cavidades com paredes finas; ∴ Sem melhora clínica com uso adequado do esquema básico de tratamento; ∴ Baciloscopia continuar negativa a partir do 2o mês de tratamento; ∴ Em casos de retratamento, quando baciloscopia positiva e TRM-TBC negativo. VII. Tratamento → Os antibióticos utilizados no tratamento da TB interferem na maquinaria enzimática ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial à sobrevivência do bacilo. Os fármacos só atuam onde existe metabolismo, ou seja, onde a infecção está ativa, e não latente. Estes serão destruídos pelo sistema imunológico do indivíduo. → O bacilo depende de oxigênio e seu metabolismo se intensifica a depender da quantidade do gás presente na região. Na cavitação pulmonar, existe abundância de oxigênio, pH neutro e substâncias nutritivas. Nessas regiões, há maior quantidade de bacilos e estes adquirem resistência mais facilmente. Por outro lado, em granulomas, o oxigênio é mais escasso e, o pH, menos favorável. Ali, o crescimento bacilar adquire um caráter mais intermitente; →Por fim, no interior dos macrófagos, há pouco oxigênio e o pH é ácido, além de haver os mecanismos de defesa do hospedeiro. Nesses locais, a multiplicação é lenta e os bacilos são latentes. É por conta dessas populações que o tratamento da tuberculose precisa ser bem longo. → Como demora umas 3-8 semanas para identificar a espécie, tratamento começa antes ⋅ Iniciar terapia em pacientes com risco de morte, doença miliar ou do SNC 9 DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS SAMANTHA LEÃO F. LIMA ⋅ Serão submetidos à tratamentos com múltiplas drogas, para eliminar mais rápido ⋅ Existe isoniazida e rifampicina. Se cepa for resistente a um remédio, o outro resolve ⋅ Nos estágios iniciais, o paciente possui alta carga de bacilos. Usar os 2 medicamentos ⋅ INH 6 meses + RIF 6 meses + PZA inicial 2 meses = maior chance de cura. → Tratamento com isoniazida é o padrão para todos os pacientes. Duração de 6 meses ⋅ Pode ser administrado em conjunto a rifampicina por 4 meses, principalmente no paciente com AIDS, porque diminui o risco de resistência à droga e possui poucos efeitos colaterais ∴ Sinais: anorexia, náusea, inapetência, aversão ao cigarro e urina escura OBS: SE O PACIENTE APRESENTAR ESSES SINTOMAS, FAZER EXAMES DE FUNÇÃO HEPÁTICA. ∴ O tratamento pode ser interrompido. Se não tiver sido muito tóxico, recomeçar ⋅ Pacientes que recebem a isoniazida devem ser monitorados, para garantir adesão ⋅ Esses medicamentos cruzam a barreira hematoencefálica – atenção para efeitos. ⋅ Podem gerar desconforto do TGI, mas a maioria dos pacientes tolera bem; OBS: SE PACIENTE ABANDONAR O TRATAMENTO OU TOMAR REMÉDIOS DE FORMA INCORRETA, ELE PODE INDUZIR RESISTÊNCIA AOS BACILOS QUE RESTARAM, LEVANDO À FALHA DO TRATAMENTO E MAIOR CHANCE DE RECIDIVAS. alguns fármacos utilizados ISONIAZIDA: Principal escolha, duração de 6 meses. Bactericida. Baixa toxicidade RIFAMPICINA: Principal escolha, duração de 6 meses. Bactericida. Baixa toxicidade PIRAZINAMIDA: Redução rápida das bactérias, duração de 2 meses. ETAMBUTOL: Evita a resistência às drogas. Acelera atividade bactericida OBS: A RIF INDUZ A VIA DO CITOCROMO P450 HEPÁTICO, QUE ACELERA OS INIBIDORES DE PROTEASES E INIBIDORES DE TRANSCRIPTASE REVERSA. USAR PREFERENCIALMENTE NO PACIENTE COM AIDS, QUE TÊM O MESMO TEMPO DE TRATAMENTO (6 MESES), MAS QUE PODE SER ESTENDIDO ATÉ 9 MESES CASO A CULTURA DE ESCARRO SEJA POSITIVA DURANTE 2 MESES. OBS: FALÊNCIA DO TRATAMENTO: PACIENTES COM BACILOSCOPIA DE ESCARRO POSITIVA NO FINAL DO TRATAMENTO, BACILOSCOPIA FORTEMENTE POSITIVA (++ OU +++) NO COMEÇO OU ATÉ O 4º MÊS DE TRATAMENTO. POSITIVIDADE INICIAL DA BACILOSCOPIA, SEGUIDA DE NEGATIVAÇÃO E RETORNO DA POSITIVIDADE APÓS O QUARTO MÊS, POR DOIS MESES CONSECUTIVOS. Objetivo 02: explicar os fatores biopsicossociais do paciente portador de TB pulmonar e a profilaxia dos contactantes VIII. Profilaxia vacina BCG → Sua sigla é decorrente da expressão Bacilo de Calmette-Guérin; é o nome da vacina antituberculosa preparada com uma subcepa do Myobacterium Bovis, atenuada por sucessivas replicagens, ou seja, trata-se de uma vacina de micróbio vivo; → Segundo o MS, a BCG faz parte do calendário vacinal, de DOSE ÚNICA: recém- nascidos acima de 2 kg, sendo indicada para crianças da faixa etária de 0 a 4 anos, ministrada logo após o nascimento, ainda na maternidade (ou na primeira visita ao serviço de saúde). referências • Veronesi- Tratado de infectologia, 5ª ed- 2015; • GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 23ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2018; • Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
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