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1 PROTOCOLO CLÍNICO: PREVENÇÃO DA BRONCOASPIRAÇÃO - ADULTO Abril - 2017 Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 2 Elaboração: Maria Cristina B. de Oliveira Marilia Melo Damasceno Dr. Felipe Folco Revisão e Aprovação: Câmara Técnica do Programa Brasileiro de Segurança do Paciente Dr. Alexandre Slullitel Dr. Raimundo Nonato Filho Dra. Anna Butter Dr. Carlos Gonelli Enfa. Claudia Santos Dr. Luiz Henrique Melo Dr. Marcelo Kalichsztein Dra. Maria Chiara Chindamo Dra. Viviane Veiga Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 3 O Programa Brasileiro de Segurança do Paciente e a Câmara Técnica definiram os padrões operacionais para o Protocolo de Prevenção a Broncoaspiração, contemplando identificação dos fatores de risco, sinais clínicos e implementação de medidas preventivas. A aplicação das práticas recomendadas em tempo hábil é um desafio para a grande maioria dos hospitais em território nacional. Algumas das principais fragilidades identificadas no cenário atual são déficit de conhecimento e a falta de autonomia da equipe multiprofissional em iniciar as medidas básicas para suporte e diagnóstico do paciente elegível as medidas preventivas. O Programa Brasileiro de Segurança do Paciente acredita que o caminho para alcançar melhores resultados inicia-se pela sensibilização e capacitação de todos os profissionais da equipe assistencial para o conhecimento das medidas preventivas. Dessa forma, este protocolo é destinado à aplicação em todas as unidades assistenciais de uma instituição hospitalar, sendo recomendado o treinamento de todos os profissionais envolvidos para que a efetividade desejada seja alcançada. Todas as Comissões do PBSP, em cada instituição hospitalar, deverão utilizar este material como referência, certificando-se de mantê-lo como padrão ao longo do tempo, para garantir maior acurácia dos resultados. DEFINIÇÃO: A pneumonia por broncoaspiração é definida como a infecção do trato respiratório inferior causado pela aspiração do conteúdo orofaríngeo ou inalação do conteúdo gástrico. Pode levar a uma variedade de doenças, tais como pneumonia infecciosa, pneumonite química ou síndrome da angústia respiratória, sendo a segunda causa mais comum de infecção nosocomial com prevalência estimada entre 10% a 50% dos indivíduos, e a maior causa de morte por infecções associadas à assistência à saúde, com aumento importante com o envelhecimento, doenças de base, comorbidades e o tempo de internação hospitalar (7,13). A maioria dos dados disponíveis incluem pacientes críticos e não críticos, obtidos a partir de estudos realizados em pacientes com maior risco para broncoaspiração (7). As Unidades Clínicas de adultos com maior número de pacientes crônicos e Unidades de Terapia Intensiva concentram pacientes com risco alto de broncoaspiração. A criticidade fora da UTI é menor, no entanto, poucos estudos têm sido focados na epidemiologia desta infecção, pois consiste em difícil avaliação da incidência, pela dispersão dos pacientes e a falta de critérios para realizar o diagnóstico etiológico, dificultando assim a vigilância e a realização da análise dos incidentes (10). O critério clínico para o diagnóstico baseia-se principalmente na história clínica e exames de imagem do tórax, seguindo os critérios sugeridos pelo CDC. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 4 Os pacientes com pneumonia por broncoaspiração são mais frágeis e seus desfechos clínicos são piores do que aqueles pacientes que apresentam pneumonia não associada à aspiração. No entanto, o mau prognóstico não é devido à pneumonia aspirativa propriamente dita e sim a consequência da condição frágil e da gravidade da doença, o que leva à diminuição do estado funcional e à morte (4). A atenção no cuidado da equipe multidisciplinar através de avaliação diária, às medidas de prevenção, estratégias e intervenções necessárias na assistência, quando bem estabelecidas, tem se mostrado útil para melhorar e mitigar a recorrência da broncoaspiração como pratica recomendada de segurança no atendimento e na prevenção da pneumonia em pacientes hospitalizados (5, 13, 27). Práticas Recomendadas: Para as melhores práticas, recomenda-se a equipe multidisciplinar que utilizem como critérios de inclusão: pacientes em ventilação mecânica por intubação Oro ou nasotraqueal ou traqueostomia, ventilação mecânica não invasiva, suporte de oxigênio e em ar ambiente. I. IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCO: 1. Doenças Neurológicas; 2. Doenças e Cirurgias de Cabeça e Pescoço; 3. Doenças Respiratórias: 4. Doenças Gástricas; 5. Doenças Esofágicas; 6. Idoso ≥ 65 anos; 7. Uso de Drogas Sedativas; 8. Dispositivos: IOT ≥ 48horas, TQT, Via Alternativa de Alimentação; 9. Escala GLASGOW ≤12; 10. História prévia de Disfagia Orofaríngea; 11. Desnutrição ou Desidratação; 12. Uso de anestésico tópico na cavidade oral ou orofaringe e 13. Reflexo de tosse diminuído ou ausente e 14. Prótese dentária mal adaptada. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 5 II. SINAIS CLÍNICOS: 1. Tosse antes, durante e depois da deglutição durante a alimentação por via oral; 2. Cianose labial; 3. Engasgo; 4. Voz molhada ou alteração Vocal; 5. Desconforto Respiratório; 6. Paciente Traqueostomizado: saída de saliva ou alimento pelo traqueostoma ou traqueostomia; 7. Sonolência durante ou após a administração do alimento por via oral; 8. Êmese. III. IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS PREVENTIVAS: 1. Sinalizar o Paciente - Gestão Visual 2. Manter decúbito elevado ≥ 30° a 45° e ≥ 60 para pacientes em dieta por via oral; 3. Realizar Higiene Oral 3x/dia; 4. Prescrever e comunicar a Equipe de Nutrição, o jejum oral; 5. Aferir Pressão de Cuff da Traqueostomia, do Tubo Orotraqueal ou Nasotraqueal entre 25 a 30 cm H2O, nos períodos, matutino, vespertino e noturno; 6. Inserir medidas de controle do posicionamento dos dispositivos: via alternativa de alimentação, traqueostomia e tubo oro e nasotraqueal. 7. Ofertar a dieta por via oral após 30 a 40 minutos do término da realização da ventilação não-invasiva. III. FLUXOGRAMA Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 6 Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 7 IV. COMPETÊNCIAS EQUIPE MULTIPROFISSIONAL ENFERMEIRO 1. Realizar a admissão e avaliação do paciente na unidade; 2. Aplicar o fluxograma; 3. Sinalizar paciente em risco de broncoaspiração para a equipe multidisciplinar; 4. Na vigência do risco de broncoaspiração, iniciar as medidas preventivas; 5. Checar e manter decúbito entre 30° a 40° e 6. Comunicar o médico; MÉDICO 1. Formalizar na prescrição médica a solicitação da avaliação do Fonoaudiólogo, quando sinalizado o risco de broncoaspiração. 2. Liberar ou não a dietoterapia. FONOAUDIÓLOGO 1. Realizar a Avaliação Fonoaudiológica, a partir da solicitação médica em prescrição médica; 2. Sugerir a reabilitação ou gerenciamento fonoaudiológico de acordo com a avaliação realizada; 3. Sugerir via, consistência e fracionamento da dieta por via oral após a avaliação; 4. Orientar equipe multiprofissional, quanto à conduta fonoaudiológica; 5. Checar e manter decúbito entre 30° a 45° e ≥60durante a dieta por via oral no momento da visita ao leito/ quarto; 6. Manter assistência permanente educativa quanto a Disfagia Orofaríngea. FISIOTERAPEUTA 1. Mensurar a pressão do cuff da traqueostomia e IOT diariamente, no mínimo 3x/dia: 25 a 30 cm de H2O; 2. Checar e manter decúbito entre 30° a 45°; 3. Observar e comunicara equipe na saída de alimento ou saliva pela traqueostomia durante a assistência ao paciente. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR TERAPIA NUTRICIONAL 1. O Médico da EMTN: realizar avaliação e prescrição da dieta enteral ou parenteral quando solicitadoe 2. Discutir com a fonoaudiologia e em consenso definir consistência, fracionamento da dieta por via oral. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 8 NUTRICIONISTA 1. Realizar a avaliação de risco nutricional; 2. Alertar quanto ao jejum oral, quando identificado o risco de broncoaspiração; 3. Adaptar a consistência da dieta por via oral quando sinalizado pelo Fonoaudiólogo. TÉCNICO DE ENFERMAGEM 1. Realizar Higiene Oral conforme prescrição de enfermagem; 2. Seguir orientação do Fonoaudiólogo, na oferta da medicação macerada ou diluída em água com espessante industrializado e oferta da dieta por via oral assistida; 3. Checar e manter decúbito ≥ 30° a 45° e ≥60° durante a oferta da dieta por via oral e 4. Seguir prescrição do enfermeiro para a continuidade do plano de cuidado. FARMACÊUTICO 1. Alertar quanto à interação medicamentosa e fármaco-nutrientes que aumente o risco ou piora da disfagia. SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR 1. Receber a notificação da equipe multiprofissional na ocorrência de broncoaspiração para vigilância de provável Pneumonia Hospitalar. V. MARCADORES 1. Taxa de Adesão a manutenção da cabeceira entre 30° e 45° e para a dieta por via oral ≥60°; 2. Taxa de Adesão à Higiene Oral 3x/dia; 3. Taxa de Adesão para a verificação diária da indicação de permanência da via alternativa de alimentação; 4. Porcentagem de pacientes com Avaliação Clínica da Deglutição em até 24 horas. Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 9 VI. INDICADORES: 1. Resultado de Efetividade: Número de pacientes em risco de broncoaspiração sem dano x100 Número de pacientes em risco de broncoaspiração 2. Densidade de Incidência: Número de pacientes com broncoaspiração x1000 Número de pacientes internados com risco dia A análise crítica desses indicadores deve ser implementada pelos serviços, com o objetivo de buscar melhorias e inovações na prática clínica adotada, bem como a identificação de novos marcadores que possam ser incorporados futuramente. VII. BIBLIOGRAFIA 1. Withholding or continuing enteral feedings during repositioning and the incidence of aspiration; By Justin DiLibero, RN, MSN, CCRN, ACCNS-AG, Mary Lavieri, RN, MS, CCRN, Sharon O’Donoghue, RN, MS, and Susan DeSanto-Madeya, RN, PhD, CNS; AJCC American Journal of Critical Care, May 2015, Volume 24, No. 3. 2. Prevention of hospital-acquired pneumonia in non-ventilated adult patients: a narrative review; Pássaro et al. Antimicrobial Resistance and Infection Control (2016) 5:43. 3. Mortality, Morbidity, and Disease Severity of Patients with Aspiration Pneumonia; Journal of Hospital Medicine Vol 8 | No 2 | February 2013. 4. Clinical features and outcomes of aspiration pneumonia compared with non-aspiration pneumonia: A retrospective cohort study; journal homepage: http://www.elsevier.com/locate/jic; Department of Respiratory Medicine, Showa University Fujigaoka Hospital, 1-30 Fujigaoka, Aoba-ku, Yokohama, Kanagawa 227-8501, Japan. 5. Oral Care May Reduce Pneumonia in the Tube-fed Elderly: A Preliminary Study; Keisuke Maeda • Junji Akagi; Dysphagia (2014) 29:616–621. 6. Recurrent Pneumonia: A Review with Focus on Clinical Epidemiology and Modifiable Risk Factors in Elderly Patients; T. T. Dang • S. R. Majumdar , T. J. Marrie • D. T. Eurich; Springer International Publishing Switzerland 2014. 7. Prevalência de risco moderado e alto de aspiração em pacientes hospitalizados e custo- efetividade da aplicação de protocolo preventivo; Almeida AEM, Alcântara ACC, Lima FAM, Rocha HAL, Cremonin Junior JR, Costa HJM ; J Bras Econ Saúde 2016;8(3): 216-220. http://www.elsevier.com/locate/jic Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 10 8. Time trends in incidence and outcomes of hospitalizations for aspiration pneumonia among elderly people in Spain (2003−2013); D. Palacios-Ceña et al. / European Journal of Internal Medicine 38 (2017) 61–67. 9. There is no Evidence that Oral Health Promotion Improves Periodontal Health in Cardiovascular Patients ; Debora Matthews, DDS; J Evid Base Dent Pract 2011;11:135-136. 10. Swallowing dysfunction following endotracheal Intubation; Tsai et al. Medicine (2016) 95:24. 11. Risk factors for aspiration pneumonia after definitive chemoradiotherapy or bioradiotherapy for locally advanced head and neck cancer: a monocentric case control study ; Kawai et al. BMC Cancer (2017) 17:59. 12. Reappraisal of Routine Oral Care With Chlorhexidine Gluconate for Patients Receiving Mechanical Ventilation Systematic Review and Meta-Analysis; JAMA Intern Med. 2014;174(5):751-761. 13. Prognostic implications of aspiration pneumonia in patients with community acquired pneumonia: A systematic review with meta-analysis; Komiya, K. et al. Prognostic implications of aspiration pneumonia in patients with community acquired pneumonia: A systematic review with meta-analysis. Sci. Rep. 6, 38097; doi: 10.1038/srep38097 (2016). 14. Post-extubation dysphagia in trauma patients: it’s hard to swallow; A.M. Kwok et al.; The American Journal of Surgery (2013) 206, 924-928. 15. Impact of tracheal cuff shape on microaspiration of gastric contents in intubated critically ill patients: study protocol for a randomized controlled trial; Jaillette et al. Trials (2015) 16:429. 16. Gastroesophageal Reflux in Critically Ill Patients; Dimens crit care nurs. 2013; 32(2):69/77. 17. Factors involved in the discontinuation of oral intake in elderly patients with recurrent aspiration pneumonia: a multicenter study; Clinical Interventions in Aging 2017:12 283– 291. 18. Effect of oral hygiene interventions on opportunistic pathogens in patients after stroke; O.L.T. Lam et al. / American Journal of Infection Control 41 (2013) 149-54. 19. Prevention of Aspiration in Adults; Norma A. Metheny, RN, PhD, FAAN; October 2008, April 2010, November 2015 Critical Care Nurse Vol 36, No. 1, february 2016. 20. Causes of Dysphagia Among Different Age groups: A Systematic Review of the Literature; Roden & Altman; Otolaryngol Clin N Am 46 (2013) 965–987. 21. Associations Between Prolonged Intubation and Developing Post-extubation Dysphagia and Aspiration Pneumonia in Non-neurologic Critically Ill Patients; Min Jung Kim, et al.; Ann Rehabil Med 2015;39(5):763-771; Programa Brasileiro de Segurança do Paciente - PBSP 11 22. Aspiration-Related Pulmonary Syndromes; American College of Chest Physicians 2015; 147 (3): 815 - 823. 23. Aspiration Pneumonitis and Aspiration Pneumonia; American Speech-Language-Hearing Association (ASHA); Division of Pulmonary and Critical Care Medicine, Thomas Jefferson University Philadelphia, PA; 2017. 24. Aspiration pneumonia: A review of modern trends; D.M. DiBardino, R.G. Wunderink / Journal of Critical Care (2014). 25. Diffuse aspiration bronchiolitis: analysis of 20 consecutive patients; Hu X, Yi ES, Ryu JH; biopsy J Bras Pneumol. 2015;41(2):161-166. 26. Nosocomial Pneumonia Outside the Intensive Care Unit; Sabria` and Sopena Clinical Pulmonary Medicine _ Volume 18, Number 5, September 2011. 27. Fatores associados à pneumonia nosocomial em indivíduos hospitalizados; Thaís Feitosa Leitão de Oliveira et al.; Rev Assoc Med Bras 2011; 57(6):630-636.
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