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Analisar a importância de Hipócrates para a educação, prática médica e sua evolução. Sua fama como clínico começou em 430-429 a.C., durante a grande peste que assolou a cidade de Atenas. A epidemia teria se extinguido depois que Hipócrates mandou acender fogueiras, por toda a cidade. Para alguns, Hipócrates partiu da observação de que os artesãos, obrigados por profissão a manter-se próximos do fogo, pareciam imunes ao contágio da doença. O sábio ordenou que se acendessem fogueiras como forma de estender a imunidade a toda a população. Um dos conceitos terapêuticos de Hipócrates foi a distinção entre sintomas e doenças. Para ele, como para os médicos atuais, os sintomas são apenas manifestações exteriores de algo que está ocorrendo no organismo. O trabalho de Hipócrates tinha por objetivo descobrir como funcionava o corpo humano, levando sempre em conta a ação do ambiente e da alimentação. Hipócrates criou uma escola onde Medicina passou a ser Ciência e, dessa maneira, pressuponha apenas processos racionais. Elaborou e cumpriu um rigoroso código de ética, cujos preceitos estão contidos no juramento que até hoje todo médico faz ao se formar. Escolhi dois aspectos que considero essenciais em seu modo de transmissão e difusão: o ensino teórico e prático da medicina e a produção de material escrito, lembrando que o ensino e a história dos textos muitas vezes se confundem. Hipócrates (460 a.C.-ca. 370 a.C.) é um bom exemplo do modo como, nessa época, a medicina foi ensinada. Além de praticá-la, ao mesmo tempo a ensinava, ou melhor, a ensinava praticando, além de contribuir com vários escritos especializados. Nascido de uma linhagem duplamente ilustre, Podaliro e Heracles, Hipócrates recebeu a educação que era adequada às crianças que vinham do meio aristocrático. Mas, diferentemente da maior parte das crianças nobres, o seu futuro já estava fortemente determinado pelo meio médico familiar. Desse modo, JURAMENTO DE HIPÓCRATES "Prometo que, ao exercer a arte de curar, me mostrarei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir esse juramento com fidelidade, goze eu a minha vida e minha arte boa reputação entre os homens e para sempre. Se dele me afastar ou infringi-lo, suceda-me o contrário." por pertencer a uma família de origem aristocrática recebeu, antes da formação médica, a educação formal grega. Além disso, em Fedro é estabelecido que Hipócrates praticava medicina baseada em um princípio organístico. A ele é atribuído o princípio de que a natureza de qualquer componente ou órgão só pode ser adequadamente compreendida após análise cuidadosa do todo ao qual ela pertence. Em A Política, Aristóteles menciona Hipócrates pelo nome, o descreve como um grande médico. Em seu ponto de vista, a grandeza de Hipócrates provinha de sua excelência como um médico, que cumpriu bem o seu dever. Ainda para Aristóteles, a importância de Hipócrates não era apenas devido a seu nascimento nobre ou riqueza ou tamanho físico, mas sim devido ao seu intelecto. Não se pode negligenciar que os valores éticos expressos no Juramento de Hipócrates se coadunavam, em muitos aspectos, com aqueles associados à ética da vida humana, que eram defendidas pelo cristianismo. A aceitação de grande parte do Juramento, popularmente creditado a Hipócrates, pelos primeiros padres da igreja, contribuiu bastante para sustentar sua lenda. Não há nenhuma necessidade da invocação de deuses para explicar a saúde e a doença do homem. Com base nessa assertiva, se fundamenta toda a medicina hipocrática. Na realidade, utilizando a razão, Hipócrates tenta construir uma medicina lógica que dê explicações racionais para os sintomas das enfermidades. Como ponto de partida de sua medicina, está a observação do doente. Para Hipócrates, nada pode substituir os dados clínicos. A partir de Hipócrates, o conhecimento médico transformou-se numa ciência sistemática, o que permitiu a análise e a interpretação dos diferentes quadros mórbidos, sem a inspiração divina e utilizando apenas a capacidade intelectual do médico. A Teoria dos Quatro Humores. Essa teoria afirma que existem quatro substâncias (bile amarela, bile negra, fleuma e sangue) que compõem o organismo dos seres humanos. O equilíbrio e o desequilíbrio desses quatro humores redundam em saúde e doença, respectivamente. Desse modo, a bile amarela está associado ao fogo, a bile negra está associada à terra, a fleuma está associada à água e o sangue está associado ao ar. Centros de controle em diferentes órgãos coordenam essas substâncias no corpo humano. Assim sendo, a bile amarela é regulada pelo fígado, a bile negra é regulada pelo baço, a fleuma é regulada pelo cérebro e o sangue é regulado pelo coração. Importa mencionar também que a característica principal da obra de Hipócrates é a introdução de uma metodologia ao exercício médico. Em resumo, a medicina hipocrática utiliza três paradigmas com alto grau de interrelacionamento. O paradigma clínico, que vê o doente como realidade essencial da medicina, o paradigma patológico, que interpreta a enfermidade como um desequilíbrio, e o paradigma que promove a physis como força que preserva o equilíbrio cósmico e individual e leva à cura. Consta que o faraó Ptolomeu Soter (323 a.C.-285 a.C.) ordenou aos intelectuais do seu reino que preparassem uma edição com os ensinamentos transmitidos por Hipócrates. Sua ideia era de que a biblioteca de Alexandria possuísse, em seu acervo, todo o conhecimento mundial da época. Quando pronta, tal obra médica recebeu o nome de Corpus Hippocraticum. Como é difícil separar o que realmente foi escrito por Hipócrates e o que foi escrito por seus discípulos, diz-se ser de autoria de Hipócrates o Corpus Hippocraticum. Talvez o grande mérito de Hipócrates tenha sido mostrar que a medicina era distinta da filosofia e da religião, somente podendo ser estudada com base no conhecimento experimental, isto é, por meio da observação científica dos fenômenos. Assim, mostrou que medicina e superstição eram coisas distintas. Hipócrates afirmou que a arte médica consistia da harmonia de três fatores: a doença, o paciente e o médico. Ele dizia: O foco maior do médico deve ser o doente e não a doença. Ele via a doença como um processo que cursava por etapas lógicas, como se fora a apresentação de uma peça teatral. Hipócrates recomendava: Faça uma boa anamnese, observe tudo, use todos os seus sentidos, pois o diagnóstico preciso somente será obtido se o médico realizar um exame físico meticuloso. A verificação do pulso e a observação do cheiro e do sabor das secreções corporais eram fundamentais no processo diagnóstico. Hipócrates chamava a atenção para a importância de o médico ter boa aparência, usar roupas decentes, ser bem nutrido e sociável. Se o médico não se cuidava como poderia cuidar dos outros? CONCEITUAR EPIDEMIOLOGIA Uma definição singela da Epidemiologia (entre as inúmeras existentes) apresentada por Rouquayrol (1993) - "ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde" - permite, de um lado, identificar o seu objeto específico, que é a busca da explicação da distribuição e ocorrência das doenças em grupos populacionais, e, de outro lado, compreendê-lacomo importante instrumento para a administração e planejamento das ações de saúde. Dessa última compreensão surge um dos campos privilegiados de sua aplicação mais recentemente discutida e que se refere aos serviços de saúde. No Brasil, são reafirmadas no processo de construção e consolidação do seu Sistema Único de Saúde - SUS, reforçando a sua aplicação nos serviços de saúde. Isso se comprova quando, da perspectiva político-jurídica, a Lei Orgânica de Saúde - Lei no 8080 -, publicada no Diário Oficial da União de 19 de setembro de 1970, assinala em vários de seus capítulos e artigos a "utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática". Desse modo, pode-se constatar a sua importância na implementação das competências e atribuições do Sistema Único de Saúde. São eles: nos estudos de situação de saúde, na vigilância epidemiológica, nos estudos "causais" e na avaliação de serviços, programas e tecnologias. A Lei 8.080 de 1990, em seu Artigo 3o., define que: "A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do país Deste modo, ficam definidos dois espaços interdependentes e nem sempre claramente delimitados: o do conhecimento e o da ação. Temos uma epidemiologia simultaneamente como disciplina científica (que estuda a saúde, a doença e os seus determinantes) e como campo profissional da saúde coletiva (que produz e analisa informações, desenvolve tecnologias e estratégias de prevenção). No primeiro espaço, elaboram-se teorias, desenham-se estudos, dados são coletados e analisados, produzem-se conhecimentos. No segundo espaço, a partir do anterior, produzem-se informações e redefinem-se os conhecimentos, delineiam-se estratégias, concretizam-se ações. No primeiro, os erros são de ordem teórica e metodológica e a sua correção faz parte do processo normal da ciência. No segundo, os erros significam vidas, doenças, sofrimentos, ou ainda custos sociais, econômicos ou políticos. Como já havia dito em outra oportunidade3: "Na sua tensão entre disciplina científica e campo profissional, a epidemiologia traz à tona, para os seus praticantes, independentemente de onde estejam situados, os desafios da dialética entre o sonhar e o fazer, entre a utopia e a realidade, entre a técnica e a política". Em 1990 é organizado o Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI). Dentro do CENEPI, é criado o Informe Epidemiológico do SUS, experiência pioneira de uma revista destinada a comunicar resultados de pesquisas e outros conhecimentos para aqueles que estão efetivamente envolvidos no Sistema de Saúde. No Brasil, a epidemiologia se desenvolveu, e sempre se auto-afirmou, como parte de um movimento maior, que é o da saúde coletiva. No Brasil, a epidemiologia tem sido construída com uma clara consciência de que seu papel histórico inclui o compromisso com a transformação das condições de saúde da população. ANALISAR O CONCEITO BIOMÉDICO (INFLUÊNCIA CARTESIANA NA FORMAÇÃO DA PRÁTICA MÉDICA). Influencia cartesiana se refere á Rene Descartes Obra “Discurso do Método”. Nesta obra, Descartes defende um método para determinar a verdade baseado no rigor da matemática, que assenta, apenas e só, nos seguintes quatro “preceitos”: 1º. “O primeiro consiste em não tomar nenhuma coisa por verdadeira sem que a conheça evidentemente como tal [...]. 2º. O segundo consiste em dividir cada uma das dificuldades a examinar em tantas parcelas quantas as necessárias, e requeridas para melhor as resolver. 3º. O terceiro consiste em conduzir os meus pensamentos por ordem, começando pelos objectos mais simples [...] até ao conhecimento dos mais complexos [...]. 4º E o último, em proceder sempre em numerações tão completas e a revisões tão gerais, que pudesse estar certo de nada ter omitido” (1, p. 25). A experimentação e a observação directa da realidade é, de facto, um dos pilares do método cartesiano e pode ser encontrado em muitos outros pontos desta obra. O modelo biomédico surgiu embasado na teoria mecanicista do universo, proposta por pensadores como Galileu, Descartes e Newton e segue o modelo de ciência positiva no século XIX (Anandalle, 1998). Essa concepção do universo ser visto como um sistema mecânico também respingou na concepção de homem que, visto da mesma forma, foi tratado como tal pelos médicos da época, ou seja, o homem funciona como uma máquina e, quando está doente, é por que esta máquina está avariada, logo podemos inferir que o conceito de saúde para esse modelo. O modelo biomédico de doença e cura se concentra em fatores puramente biológicos e exclui as influências psicológicas, ambientais e sociais. Esta é considerada a maneira dominante e moderna para os profissionais de saúde diagnosticar e tratar uma condição na maioria dos países ocidentais. A maioria dos profissionais de saúde não pede por primeira vez uma história psicológica ou social de um paciente. Em vez disso, eles tendem a analisar e procurar falhas biofísicas ou genéticas. O foco é em testes laboratoriais objetivos em vez de sentimentos subjetivos ou história do paciente. De acordo com este modelo, a boa saúde é a ausência de dor, doença ou defeito. Ele se concentra em processos físicos que afetam a saúde, como a bioquímica, a fisiologia e a patologia de uma condição. Não é responsável por fatores sociais ou psicológicos que possam ter um papel na doença. Neste modelo, cada doença tem uma causa subjacente e, uma vez que essa causa é removida, o paciente será saudável novamente. Os defensores do modelo biopsicossocial argumentam que o modelo biomédico sozinho não leva em consideração todos os fatores que têm impacto na saúde do paciente. As questões biológicas, bem como fatores psicológicos, como o humor, a inteligência, a memória e as percepções do paciente, são considerados quando se faz um diagnóstico. A abordagem biomédica não pode, por exemplo, levar em conta o papel que os fatores sociológicos como a família, a classe social ou o ambiente de um paciente podem causar uma condição de saúde e, portanto, oferecem poucas informações sobre como a doença pode ser prevenida. “Desde então, o método cartesiano tornou-se o paradigma dominante da ciência e o universo passou a ser concebido como um sistema mecânico, http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-34132009000100005#1 consistindo em objetos separados que, por sua vez, foram reduzidos a seus menores elementos materiais”. Essa situação pode ser mudada através da medicina e, por isso, há grande pressão sobre os médicos para que eles ultrapassem os conceitos mecanicistas contemporâneos e desenvolvam um enfoque mais holístico (entendimento integral) da saúde. Ao concentrar-se em partes cada vez menores do corpo, a medicina moderna perde frequentemente de vista o paciente como um ser humano, e, ao reduzir a saúde ao funcionamento mecânico não pode mais ocupar-se como o fenômeno da cura. A divisão cartesiana influenciou a prática da assistência a saúde em vários e importantes aspectos. Dividiu a profissão em dois campos distintos com pouca comunicação entre si. Os médicos ocupam-se com o tratamento do corpo, os psiquiatras e psicólogos com a cura da mente. COMPARAR O PARADIGMA FLEXNERIANO COM O DA INTEGRALIDADE NA PRÁTICA MÉDICA. Em 1910, a Fundação Carnegie convidou o educador Abraham Flexner, diretor de uma escola secundária de Kentucky, a realizar um estudo sobre a situação das escolas médicas americanas e canadenses. O documento elaborado após esse estudo, conhecido como “Relatório Flexner”, reforça a lutapelo ideário científico da medicina. Um novo paradigma médico surge desse episódio: a Medicina Científica, ou Flexneriana, passa a nortear a formação dos futuros médicos e se insinua na reconstituição do próprio processo de trabalho médico. As principais propostas desse documento para o desenvolvimento do ensino nas escolas de medicina são: 1. definição de padrões de entrada e ampliação, para quatro anos, da duração dos cursos; 2. introdução do ensino laboratorial; 3. estímulo à docência em tempo integral 4. expansão do ensino clínico, especialmente em hospitais; 5. vinculação das escolas médicas às universidades; 6. ênfase na pesquisa biológica; vinculação da pesquisa ao ensino; 7. estímulo à especialização médica; 8. controle do exercício profissional pela profissão organizada. O processo de substituição de paradigma se inicia quando já não se conseguem explicações satisfatórias para os fenômenos, produzindo-se uma disfunção essencial entre as realidades e os modelos propostos para o seu estudo, processo no qual se instaura a crise paradigmática. A dinâmica de substituição do modelo acontece como uma prática nova, que envolve legitimação e retórica, período no qual se faz a sua socialização (Larson, 1977). Mas, acrescenta que o termo ”paradigma” vem sendo usado lato sensu, na América Latina, para designar o modelo dominante de educação médica influenciado pelos estudos de Flexner, divulgados no Relatório de mesmo nome e conhecido como paradigma flexneriano. No entanto, faz a ressalva de que as recomendações de Flexner1 foram cumpridas em parte, pois, pouco se fez com relação à parte social e humana da qual ele também tratou. O novo paradigma deve 1) resolver problemas detectados que o paradigma anterior não tenha conseguido resolver; e 2) preservar uma parte substantiva daquilo que foi construído pelo paradigma velho. O paradigma da integralidade, segundo esses autores, tem como imagem- objetivo a ser alcançada, no que se refere aos programas de graduação do profissional da saúde, uma formação mais contextualizada, que leve em conta as dimensões sociais, econômicas e culturais da vida da população. Isso significaria a capacitação do profissional para enfrentar os problemas do processo saúde- doença, de forma contextualizada. Implica, também, estimular uma atuação interdisciplinar e multiprofissional, que respeite os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo o controle social, e atue com a população de um determinado território (Rede Unida, 1998). O paradigma da integralidade induziria à construção de um novo modelo pedagógico, visando ao equilíbrio entre excelência técnica e relevância social. Esse princípio operativo a nortear o movimento de mudança, por sua vez, deveria estar sustentado na integração curricular, em modelos pedagógicos mais interativos, na adoção de metodologias de ensino-aprendizagem centradas no aluno como sujeito da aprendizagem e no professor como facilitador do processo de construção de conhecimento Também é bom que se saliente que a divisão do conhecimento em especialidades (disciplinas nos currículos), se, por um lado, permitiu o desenvolvimento do conhecimento, por outro, conferiu uma organização que dificulta e até torna impossível o conhecimento do conhecimento, uma vez que se trata de um campo fragmentado em campos não comunicantes.
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