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<p>PSICOLOGIA EM</p><p>SAÚDE</p><p>Escaneie com seu</p><p>Smartphone</p><p>Escaneie com seu</p><p>Smartphone</p><p>PSICOLOGIA EM</p><p>SAÚDE</p><p>FAMETRO</p><p>Av. Djalma Batista, Nossa Sra. das Graças. Manaus, AM</p><p>Todos os direitos reservados© FAMETRO</p><p>IME Instituto Metropolitano de Ensino Ltda</p><p>Wellington Lins de Albuquerque | Presidente - IME</p><p>Maria do Carmo Seffair Lins de Albuquerque | Reitora</p><p>Cinara da Silva Cardoso | Vice-Reitora</p><p>Leonardo Florêncio da Silva | Diretor Editorial e Gestor de EaD</p><p>Ana Maria Oliveira de Araújo | Coordenação Pedagógica EaD</p><p>Luciana Braga | Projeto Gráfico e Direção de Arte</p><p>WesleyWilson | Diagramação</p><p>Ana Augusta de Oliveira Simas | Supervisora de Produção</p><p>Thamires Moura | Revisão</p><p>Imagens | depositphotos.com</p><p>Imagens | br.freepik.com</p><p>Imagens | pexels.com</p><p>"Este material literário é de uso pessoal e intransferível do aluno FAMETRO</p><p>Digital e, portanto, possui finalidades exclusivamente pedagógica e</p><p>institucional, vedada em qualquer hipótese a sua comercialização, sob</p><p>pena da aplicação das sanções previstas no Regimento Interno do Grupo</p><p>FAMETRO e demais penalidades cabíveis pela legislação brasileira."</p><p>“Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD</p><p>do Centro Universitário Fametro”</p><p>O Centro Universitário Fametro acredita que o</p><p>papel de uma instituição de ensino é formar não apenas</p><p>profissionais, mas também formar profissionais no</p><p>EnsinoSuperior, comvaloreséticos, humanísticosecom</p><p>respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o</p><p>desenvolvimento da nossa Amazônia.</p><p>A Fametro, portanto, tem premissas claras a</p><p>cumprir como instituição de ensino de qualidade.</p><p>Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal</p><p>bandeira.</p><p>A Fametro, ao longo das últimas duas décadas,</p><p>vem se consolidando como a melhor instituição de</p><p>ensino do Norte, um espaço democrático e docentes</p><p>com variadas visões de mundo. Somos uma instituição</p><p>de ensino plural que avança a cada ano em busca</p><p>sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa</p><p>estrutura é moderna, estamos em diversos municípios</p><p>levando uma educação inclusiva e de qualidade.</p><p>Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a</p><p>experiência em estudar numa instituição com o corpo</p><p>docente com mestres e doutores e de qualidade de</p><p>ensino comprovada pelo MEC.</p><p>Maria do Carmo Seffair</p><p>Reitora</p><p>“É a educação que faz</p><p>o futuro parecer um</p><p>lugar de esperança e</p><p>transformação”.</p><p>(Marianna Moreno)</p><p>Pa</p><p>la</p><p>vr</p><p>a</p><p>da</p><p>Re</p><p>ito</p><p>ra</p><p>UNIDADE I - HISTÓRIA DA</p><p>PSICOLOGIA</p><p>Influências filosóficas</p><p>Psicologia moderna</p><p>Noções gerais de psicologia</p><p>As três principais teorias da psicologia</p><p>moderna</p><p>Gestalt</p><p>Psicanálise</p><p>Su</p><p>m</p><p>ár</p><p>io</p><p>15</p><p>17</p><p>20</p><p>24</p><p>27</p><p>33</p><p>UNIDADE II - DEFINIÇÃO DA</p><p>PSICOLOGIA DA SAÚDE</p><p>A psicologia como uma ciência</p><p>biopsicossocial</p><p>A pré-história da psicologia da saúde, da</p><p>saúde e da doença</p><p>O interesse da psicologia pela saúde e</p><p>doenças nãomentais</p><p>O profissional da área da saúde</p><p>O papel do profissional da área da saúde</p><p>UNIDADE III - INTRODUÇÃO SOBRE</p><p>SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA</p><p>As diferenças da saúde pública e coletiva</p><p>O papel da psicologia na saúde –</p><p>abrangência e níveis de aplicação</p><p>Promoção de saúde geral</p><p>A prevenção de enfermidades</p><p>Prevenção e intervenção primárias</p><p>Prevenção e intervenção secundárias</p><p>Prevenção e intervenção terciárias</p><p>Relação equipe profissional de saúde e</p><p>paciente/cliente</p><p>42</p><p>43</p><p>45</p><p>47</p><p>48</p><p>58</p><p>60</p><p>60</p><p>62</p><p>62</p><p>64</p><p>67</p><p>69</p><p>UNIDADE IV - HISTÓRICO DA</p><p>HUMANIZAÇÃO E CUIDADOS</p><p>Conceito de humanização e cuidados</p><p>A importância da humanização e dos</p><p>cuidados</p><p>Humanização e políticas de saúde</p><p>Política Nacional de Humanização (PHN)</p><p>Atenção à saúde dos trabalhadores:</p><p>conceitos gerais</p><p>Conhecendo a saúde do trabalhador</p><p>Compreendendo os agravos e o</p><p>adoecimento relacionados ao trabalho</p><p>A noção da qualidade de vida no trabalho e</p><p>saúde dos trabalhadores da saúde</p><p>O profissional dos novos tempos e suas</p><p>necessidades psicológicas</p><p>Referências</p><p>86</p><p>88</p><p>89</p><p>91</p><p>97</p><p>99</p><p>103</p><p>107</p><p>110</p><p>115</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>1</p><p>Videoaula 1</p><p>Videoaula 2</p><p>12</p><p>13</p><p>HISTÓRIA DA</p><p>PSICOLOGIA</p><p>AHistória da Psicologia é antes de</p><p>tudo a história de uma ciência. Ela tem</p><p>início no fim do século XIX, mais preci‐</p><p>samentenoanode 1879, quandoWilhelm</p><p>Wundt criou o primeiro laboratório na</p><p>Alemanha, considerado omarco do sur‐</p><p>gimento da psicologia científica. Con‐</p><p>tudo, a Psicologia vem sendo edificada</p><p>desde os primórdios da vida, à medida</p><p>que os homens foram construindo a si e</p><p>ao seu mundo e, com isso, buscando</p><p>explicações para o que vem a ser a sua</p><p>existência.</p><p>Anotações:</p><p>14</p><p>A preocupação do homem com as chamadas</p><p>atividades subjetivas é tão antiga quanto as primei‐</p><p>ras formas do pensamento racional, ou seja,</p><p>quando o homem pensa acerca do mundo, dos</p><p>outros homens e de simesmo, elabora ideias psico‐</p><p>lógicas, que se referem a processos individuais e</p><p>subjetivos, como, por exemplo, as percepções e as</p><p>emoções. Sendo assim, é interessante iniciarmos</p><p>visualizando não apenas a psicologia enquanto</p><p>ciência, mas também a história das idéias psicoló‐</p><p>gicas, ou seja, aqueles saberes que, antes mesmo</p><p>daPsicologia, questionava-se sobre a vida humana,</p><p>sua relação com a natureza e suas transformações.</p><p>Antes do surgimento da Psicologia, era na</p><p>Filosofia que o ser humano encontrava resposta na</p><p>criação de concepções de mundo e de homem.</p><p>Sendo assim, nosso estudo tem seu início na</p><p>antiguidade, quando os primeiros filósofos gregos</p><p>começaram a buscar respostas racionais para</p><p>essas perguntas, deixando aos poucos o pensa‐</p><p>mentomítico, que era vigente desde as sociedades</p><p>primitivas. Partindo dessa perspectiva, vamos</p><p>abordar que a filosofia buscou organizar e siste‐</p><p>matizar o saber, já que até, então, prevalecia o</p><p>pensamentomítico domundo, que se apoiava na fé</p><p>daquele que estava narrando. Ela surge propondo a</p><p>investigação, a compreensão e organização do</p><p>saber através da razão e não da crença.</p><p>A filosofia é entre os gregos a primeira forma</p><p>racional de pensamento, podemos dizer que as</p><p>ideias psicológicas nascem nesse mesmo mo‐</p><p>mento. O homem, ao ter a atitude filosófica de se</p><p>indagar, indaga seu próprio pensamento, indaga</p><p>comosedá o conhecimento. Nesse âmbito, é possí‐</p><p>vel definir a Filosofia como um conhecimento</p><p>Anotações:</p><p>15</p><p>racional, que temcomoobjetivo indagar, investigar,</p><p>organizar e compreender o mundo, ou ainda:</p><p>AFilosofiasurgiu quandosedescobriu</p><p>que a verdade do mundo e dos huma‐</p><p>nos não era algo secreto emisterioso,</p><p>que precisava ser revelado por divin‐</p><p>dade a alguns escolhidos, mas que, ao</p><p>contrário, podia ser conhecida por</p><p>todos, através da razãoqueéamesma</p><p>emtodos; quandosedescobriu que tal</p><p>conhecimento dependia do uso cor‐</p><p>reto da razãooudopensamento eque,</p><p>além da verdade poder ser conhecida</p><p>por todos, podia pelo mesmo motivo,</p><p>ser ensinada ou transmitida a todos</p><p>(CHAUÍ, 1995, p.10).</p><p>INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS</p><p>Através da Filosofia grega, foi possível</p><p>conhecer as bases e os princípios fundamentais de</p><p>conceitos que conhecemos, como: razão, raciona‐</p><p>lidade, ética, política, Artes, Física, Pedagogia,</p><p>cirurgia, cronologia e, principalmente, o conceito</p><p>de ciência. Entre os vários filósofos gregos que</p><p>contribuíram com suas ideias, temos:</p><p>Pitágoras (séc. V a.C.): para ele, a completa</p><p>sabedoria pertencia somente aos deuses, mas era</p><p>possível apreciá-la, amá-la e obtê-la. Dizia que a</p><p>natureza é formada por um sistema de relações ou</p><p>de proporçõesmatemáticas, de tal modo que essas</p><p>combinações aparecem aos nossos órgãos dos</p><p>sentidos sob a forma de qualidades dualísticas.</p><p>Parménides (+/- 544 - 450 a.C.): segundo ele,</p><p>para chegarmos à verdade não podemos confiar</p><p>Anotações:</p><p>16</p><p>nos dados empíricos, temos que recorrer à razão.</p><p>Nada podemudar, só existe o ser imutável, eterno e</p><p>único, em oposição ao não ser. Temos de ignorar os</p><p>sentidos e examinar as coisas com a força do</p><p>pensamento. O que está fora do ser não é o ser, é</p><p>nada, o ser é um.</p><p>Heráclito (+/- 540 - 470 a.C.): as suas ideias</p><p>são contrárias às de Parménides e é considerado o</p><p>mais importante dos pré-socráticos. É dele as</p><p>frases: “Tudo flui”. “O LOGOS é o princípio cósmico”.</p><p>“Não entramos no mesmo rio duas vezes”. “A verda‐</p><p>de encontra-se no DEVIR e não no ser”. “A</p><p>entre o</p><p>profissional de saúde e o paciente pode favorecer</p><p>a adaptação e promover mais bem-estar a este,</p><p>principalmente se o contato estabelecido favore‐</p><p>cer a criação de uma relação de ajuda.</p><p>Relação de ajuda e o papel da</p><p>comunicação</p><p>Em uma abordagem compreensiva sobre a</p><p>questão de ajuda, Rogers (2015) afirma que a rela‐</p><p>ção de ajuda é uma relação na qual pelomenos uma</p><p>das partes procura promover na outra o cresci‐</p><p>mento, o desenvolvimento, a maturidade, o melhor</p><p>funcionamento e maior capacidade de enfrentar a</p><p>vida. Desse modo, quando alguém necessita de</p><p>amparo e outra pessoa é capaz de prestar auxílio,</p><p>temos uma relação de ajuda.</p><p>Nesse tipo de relação, o próprio indivíduo é o</p><p>instrumento terapêutico, pormeio da relação inter‐</p><p>pessoal. Em contextos de saúde, profissionais</p><p>podem estabelecer relações de ajuda pelo uso de</p><p>seus conhecimentos técnicos, de forma a oferecer</p><p>alívio físico, mas também pelo uso de suas habili‐</p><p>dades interpessoais, para oferecer apoio afetivo e</p><p>72</p><p>Anotações: informações. Para que o relacionamento estabele‐</p><p>cido seja de ajuda, é necessário que o profissional</p><p>de saúde se coloque em uma posição de igualdade</p><p>em relação ao paciente, abandonando a postura de</p><p>especialista, e divida seu conhecimento com o</p><p>paciente.</p><p>A compreensão das estratégias de enfrenta‐</p><p>mento que o paciente utiliza e o não julgamento</p><p>moral também são fundamentais para facilitar a</p><p>aproximação com o paciente. Além disso, é neces‐</p><p>sário cooperação, confiança, participação mútua e</p><p>uma comunicação eficaz. Sem dúvida, a comunica‐</p><p>ção tem sido um dos pontos mais importantes</p><p>quando falamos de relação profissional de saúde e</p><p>paciente. Ela pode ter diversos efeitos sobre o seu</p><p>bem-estar, entre outros, dos quais se destacam:</p><p>• Uma comunicação eficiente pode facilitar</p><p>que o paciente compreenda seu quadro</p><p>clínico e as alternativas de tratamento.</p><p>Muitas vezes, no momento em que o diag‐</p><p>nóstico é dado, o paciente está absorto de</p><p>grande emoção, pelo choque da notícia.</p><p>Neste momento, dificilmente ele conse‐</p><p>guirá compreender todos os detalhes dos</p><p>procedimentos propostos. Cabe ao profis‐</p><p>sional de saúde ter a percepção sobre a</p><p>compreensão do paciente e orientá-lo em</p><p>um momento mais oportuno. Além disso,</p><p>muitos pacientes não conseguem com‐</p><p>preender informações transmitidas em</p><p>termos técnicos da medicina, principal‐</p><p>mente quando estamos em um serviço de</p><p>saúde pública. É necessário adequar as</p><p>informações em uma linguagem acessível</p><p>73</p><p>Anotações:ao paciente e sempre verificar se ele de fato</p><p>compreendeu as orientações.</p><p>• O estabelecimento de uma comunicação</p><p>eficaz, inserida em uma relação de ajuda,</p><p>pode facilitar a expressão de sentimentos,</p><p>desejos e dúvidas do paciente. Consequen‐</p><p>temente, isso pode facilitar a escolha de</p><p>estratégias de enfrentamento mais adapta‐</p><p>tivas. Além disso, pode aumentar a autono‐</p><p>mia do paciente, dando-lhe mais controle</p><p>sobre o cuidado de sua saúde, e gerar a</p><p>sensaçãode ser compreendidoe respeitado.</p><p>A comunicação é definida como sendo a prin‐</p><p>cipal característica para o relacionamento humano.</p><p>Para que traga benefícios, o profissional de saúde</p><p>deve estar consciente do seu papel nesse processo</p><p>que exige, além de procedimentos técnicos, escuta</p><p>e atenção adequada (TIGULINI; MELO, 2002). A</p><p>comunicação na área da Saúde é uma estratégia de</p><p>uso constante no cotidiano do profissional. Quando</p><p>a comunicação faz parte do trabalho, o paciente</p><p>passa a vê-lo como uma pessoa capaz de ajudá-lo e</p><p>passa a estabelecer vínculo com esse profissional.</p><p>Por exemplo, informar ao paciente que procedi‐</p><p>mentos estão sendo realizados, de forma empática</p><p>e com uma linguagem acessível a ele, facilita a con‐</p><p>fiança e o vínculo com a equipe de saúde.</p><p>No entanto, devido à sobrecarga e ao estresse</p><p>que os profissionais de saúde enfrentam no traba‐</p><p>lho, muitas vezes, não apresentam uma comunica‐</p><p>ção satisfatória com os pacientes submetidos aos</p><p>seus cuidados. O profissional deve tomar cuidado</p><p>para que o estresse ocupacional não prejudique</p><p>seu relacionamento com os pacientes. Desse</p><p>74</p><p>Anotações: modo, ele deve buscar conhecê-los, de forma que</p><p>ocorra o diálogo entre ambos. Deve cultivar a confi‐</p><p>ança do paciente pormeio do respeito e da empatia</p><p>empreendidos na assistência. Deve proporcionar</p><p>um relacionamento que favoreça a diminuição da</p><p>ansiedade da pessoa enferma, fazendo-a perceber</p><p>que a comunicação pode contribuir no seu pro‐</p><p>cesso de restabelecimento.</p><p>De acordo com Martins (2015), a qualidade de</p><p>um serviço assistencial está diretamente associa‐</p><p>da à qualidade da relação interpessoal que ocorre</p><p>entre os pacientes e os profissionais encarregados</p><p>da assistência. Por meio de uma comunicação</p><p>terapêutica e da formação de vínculo entre profis‐</p><p>sional de saúde e paciente, é possível estimular sua</p><p>autonomia e a autoestima, promovendo sua parti‐</p><p>cipação no cuidado e na proteção de sua saúde.</p><p>Por essa razão, não há dúvidas que os atendimen‐</p><p>tos emequipe interdisciplinar qualificamo cuidado</p><p>ao paciente e promovem saúde, pois é capaz de</p><p>oferecer um cuidado mais integral e humanizado.</p><p>Além disso, a relação entre o profissional de saúde</p><p>e seu paciente interfere de forma significativa na</p><p>recuperação deste. Serão citadas outras variáveis</p><p>que têm sido sistematicamente relacionadas com</p><p>a promoção da melhor saúde. Entre elas estão a</p><p>empatia, a informação, a autonomia, o suporte</p><p>social e a espiritualidade.</p><p>Empatia</p><p>Segundo Hoffman (1981), a empatia é a res‐</p><p>posta afetiva apropriada à situação de outra</p><p>pessoa. Na psicologia e nas neurociências con‐</p><p>temporâneas, a empatia seria uma espécie de</p><p>75</p><p>Anotações:“inteligência emocional” e pode ser dividida em</p><p>dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade</p><p>de compreender a perspectiva psicológica das</p><p>outras pessoas; e a afetiva - relacionada à habili‐</p><p>dade de experimentar reações emocionais por</p><p>meio da observação da experiência alheia. Assim, a</p><p>empatia pode ser definida como a habilidade de se</p><p>colocar no lugar da outra pessoa, de sentir como se</p><p>estivesse na mesma situação que ela. Podemos</p><p>dizer que é olhar o momento com o olhar do outro.</p><p>Por exemplo, diante de umpaciente acamado,</p><p>que se queixa de dor e que não responde aos ques‐</p><p>tionamentos do enfermeiro que precisa orientá-lo,</p><p>o profissional de saúde deve compreender que, di‐</p><p>ante daquela situação, talvez o paciente não tenha</p><p>de fato condições físicas e psicológicas de respon‐</p><p>der e compreender naquele momento e tentar ou‐</p><p>tras estratégias, como voltar em outro horário ou</p><p>orientar um familiar.</p><p>A empatia é uma habilidade social de extrema</p><p>importância, capaz dedesenvolver a autoconsciên‐</p><p>cia emocional. As pessoas empáticas estão mais</p><p>sintonizadascomossutis sinais sociais que indicam</p><p>que o outro precisa de algo. Por meio da empatia,</p><p>somos capazes não apenas de manter relações</p><p>interpessoais mais próximas e equilibradas, como</p><p>também temos a oportunidade de nos sensibilizar‐</p><p>mos para além da nossa própria perspectiva.</p><p>Ela envolve, primeiramente, a percepção da</p><p>condição de sofrimento do outro e, posteriormen‐</p><p>te, a expressão de apoio e tentativa de conforto.</p><p>Estudos da Psicologia da Saúde apontam que se</p><p>sentir compreendido e apoiado em situações de</p><p>crise, como no tratamento de uma doença grave,</p><p>facilita o processo de aceitação e enfrentamento</p><p>76</p><p>Anotações: do paciente, contribuindo, assim, para amelhora da</p><p>saúde emocional. Além disso, pode aumentar a</p><p>confiança na equipe e promover adesão ao trata‐</p><p>mento (TAKAKI; SANTANA, 2004).</p><p>Embora pareça um conceito simples, a empa‐</p><p>tia não é uma habilidade fácil de se colocar em</p><p>prática. Se, neste momento, fosse descrito em</p><p>detalhesocasodeumpaciente comdoençacrônica</p><p>e suas dificuldades para lidar com o tratamento,</p><p>talvez você se sentisse sensibilizado e apresentaria</p><p>empatia apenas ao ler uma descrição. No entanto,</p><p>por exemplo dentro no ambiente hospitalar, o</p><p>volume de pacientes que necessitam de cuidado é</p><p>grande, e, na maioria das vezes, apenas descobri‐</p><p>mos as dificuldades enfrentadas pelos pacientes se</p><p>lhe perguntamos diretamente.</p><p>Na rotina corrida do cuidado em saúde, há</p><p>pouco espaço para a percepção</p><p>do outro. É comum</p><p>se acostumar com aquele cenário e, com isso, per‐</p><p>der parcialmente. Embora possa haver centenas de</p><p>pacientes presentes na unidade de saúde na qual</p><p>você se encontra, cada um é único e vivencia seu</p><p>problema de saúde de forma intensa. O profissional</p><p>de saúde que consegue manter o foco na relação</p><p>interpessoal e estabelece vínculo empático com</p><p>seu paciente, destaca-se e promove a saúde de for‐</p><p>ma humanizada.</p><p>Informação</p><p>O oferecimento de informações metodológi‐</p><p>cas a respeito do quadro clínico do paciente e das</p><p>possibilidades de tratamento produz benefícios</p><p>amplos (STRAUB, 2005). Entre estes, observa-se</p><p>77</p><p>Anotações:menos emoção negativa e diminuição do risco de</p><p>não adesão ao tratamento. O paciente deve ser ori‐</p><p>entado, com riqueza de informações, sobre para</p><p>que serve cada exame e procedimento, quais são</p><p>as alternativas de tratamento e as possibilidades</p><p>terapêuticas. Ao mesmo tempo, é necessário que</p><p>as informações sejam transmitidas em linguagem</p><p>clara e acessível ao paciente.</p><p>Devem-se levar em conta as condições soci‐</p><p>ais e o nível de instrução do paciente para que as</p><p>informações sejam compreendidas na totalidade.</p><p>O uso de termos extremamente técnicos e compli‐</p><p>cados apenas dificultam o seu entendimento e</p><p>atrapalham sua adesão ao tratamento. Além de</p><p>informá-lo sobre sua condição de saúde, é neces‐</p><p>sário incluí-lo no processo de tomada de decisão</p><p>dos procedimentos que possam ser realizados.</p><p>Autonomia</p><p>Outro aspecto importante quando falamos em</p><p>saúde é a manutenção da autonomia do paciente.</p><p>Algumas vezes, por conta de uma condição clínica</p><p>delicada, os familiares e a equipe de saúde, na ten‐</p><p>tativa de poupar o paciente, acabam tomando deci‐</p><p>sões sem consultá-lo, ou mesmo tentam esconder</p><p>desse a notícia de uma piora no quadro. Essas ati‐</p><p>tudes, na maior parte das vezes, acabam gerando</p><p>sentimentos de desconfiança e incapacidade. O</p><p>paciente tem direito à informação e deve participar</p><p>das decisões que envolvem sua saúde e sua vida.</p><p>Esse maior controle permite o fortalecimento das</p><p>relações entre o paciente e os profissionais que</p><p>cuidam de sua saúde, a criação de sentimento de</p><p>78</p><p>Anotações: responsabilidade no processo de recuperação,</p><p>além de aumentar a confiança do paciente na equi‐</p><p>pe e em seus familiares.</p><p>Suporte social</p><p>Oestudo do suporte social também tem rece‐</p><p>bido bastante destaque na área de Psicologia da</p><p>Saúde e tem demonstrado atuar como fator de</p><p>proteção ao estresse psicológico causado pelo</p><p>diagnóstico de doenças graves. Suporte social</p><p>pode ser definido como o grau com que relações</p><p>interpessoais atendem a determinadas necessida‐</p><p>des. Refere-se aos recursos postos à disposição</p><p>por outras pessoas em situações de necessidade e</p><p>pode ser medido pela percepção individual do grau</p><p>com que relações interpessoais correspondem a</p><p>determinadas funções (por exemplo, apoio emoci‐</p><p>onal, material e afetivo) (GRIEP et al., 2005).</p><p>Ele tem sido relatado como fator que exerce</p><p>papel na prevenção contra doenças e na manuten‐</p><p>ção da saúde, e algumas pesquisas mostram que a</p><p>forma como o grupo social percebe o surgimento</p><p>de uma doença e a evolução de seu tratamento</p><p>influencia a escolha dos recursos de enfrenta‐</p><p>mento que o paciente utilizará. Tem sido associado</p><p>também ao bem-estar psicológico, ao maior grau</p><p>de satisfação com a vida e à melhora na autoes‐</p><p>tima, bem como à menor ocorrência de ansiedade</p><p>(GRIEP et al., 2005).</p><p>Espiritualidade</p><p>Nos últimos anos, a religiosidade e a espiritu‐</p><p>alidade têm sido relacionadas a diversos efeitos</p><p>79</p><p>Anotações:benéficos à saúde e ao bem-estar. A própria</p><p>Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou um</p><p>aprofundamento das investigações sobre este</p><p>aspecto e, atualmente, o bem-estar espiritual vem</p><p>sendo considerado como mais uma dimensão do</p><p>estado de saúde, juntamente com as dimensões</p><p>física, psicológica e social. Desdemodo, a espiritu‐</p><p>alidade tem sido relatada como um importante</p><p>fator no enfrentamento de enfermidades físicas e</p><p>psicológicas.</p><p>Lazarus e Folkman (1986) destacam que a fé</p><p>parece ser um importante aliada no processo de</p><p>adaptação a situações de ameaça à existência,</p><p>podendo auxiliar o indivíduo a obter ou conservar a</p><p>esperança, além de ajudá-lo a encontrar um sen‐</p><p>tido para a vida e facilitar a emergência de recursos</p><p>psicológicos importantes para combater a doença.</p><p>A prática religiosa está relacionada a um</p><p>maior nível de satisfação com a vida e relatos de</p><p>felicidade e a menores níveis de queixas psicológi‐</p><p>cas. Em uma revisão de literatura realizada por</p><p>Panzini e Bandeira (2007), as autoras concluem</p><p>que amaioria das pesquisas sobre o assunto indica</p><p>que crenças e práticas religiosas estão associadas</p><p>à melhor saúde física e mental, incluindo efeitos</p><p>benéficos em relação à dor, debilidade física,</p><p>doenças do coração, pressão sanguínea, funções</p><p>imunológicas, doenças infecciosas, câncer e</p><p>mortalidade, além de maiores níveis de satisfação</p><p>com a vida, bem-estar, senso de propósito e</p><p>significado de vida, esperança, otimismo, estabili‐</p><p>dade nos casamentos e menores índices de</p><p>ansiedade, depressão e abuso de substâncias.</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>4</p><p>Videoaula 1</p><p>Videoaula 3</p><p>Videoaula 2</p><p>Videoaula 4</p><p>82</p><p>83</p><p>HISTÓRICO DA</p><p>HUMANIZAÇÃO E</p><p>CUIDADOS</p><p>A humanização desponta no</p><p>momento em que a sociedade pós-</p><p>moderna passa por uma revisão de</p><p>valores e atitudes. É difícil pensar a</p><p>humanização na saúde sem antes</p><p>observar o que aconteceu no passa‐</p><p>do. No século XVII, existia uma visão</p><p>humanista, em que os hospitais eram</p><p>vistos não como local para cura, mas</p><p>simcomoassistênciamaterial e espi‐</p><p>84</p><p>Anotações: ritual. Em alguns casos, os últimos cuidados ou o</p><p>último sacramento eramdados ao indivíduo emseu</p><p>leito.</p><p>Os tratamentos médicos, em residência, co‐</p><p>meçaram a falhar na tentativa de curar – no caso, a</p><p>parcela da população com maior poder aquisitivo</p><p>que tinha acesso a eles – e algumas epidemias</p><p>ocorreram. Na sequência, o movimento positivista</p><p>destacou os hospitais como máquinas de cura por</p><p>meio damedicina, direcionando-os, porém, à clien‐</p><p>tela privada, excluindo os demais o direito à saúde.</p><p>Então, o desenvolvimento tecnológico e tecnicista</p><p>levou a uma inversão do papel dos hospitais, con‐</p><p>fortar e consolar o doente passaram a ser coisas do</p><p>passado (perda da visão humanista).</p><p>Quando a saúde curativa não alcança a todos,</p><p>a melhor alternativa é a prevenção. Surgiu, assim,</p><p>o movimento do Higienismo. No início do século</p><p>XIX, as condições de superlotação dos domicílios</p><p>urbanos e a pobreza que afetava grande parte da</p><p>população das cidades estimulavam o alastra‐</p><p>mento de doenças. Agravadas pela desnutrição,</p><p>elas ganhavam proporções epidêmicas com muita</p><p>frequência. Alguns médicos começaram a denun‐</p><p>ciar as condições de vida como causa principal das</p><p>epidemias. A miséria do povo, por essa razão, teve</p><p>grande repercussão. Mais médicos aderiram ao</p><p>movimento e contribuíram para difundir o Higie‐</p><p>nismo na medicina com o objetivo de erradicar</p><p>doenças como a cólera e a febre amarela.</p><p>A higiene passou a ser um tema social, que</p><p>trata dos ambientes como intuito de torná-losmais</p><p>saudáveis aos seus usuários. Através de medidas</p><p>simples (preventivas) de limpeza desses ambientes,</p><p>é possível impedir a proliferação de micro-organis‐</p><p>85</p><p>Anotações:mos indesejáveis, o alastramento de doenças e o</p><p>agravamento das condições dos doentes. No século</p><p>XVIII, as pessoas ofereciam atenção e cuidados</p><p>humanos aos pacientes, porque a ciência não podia</p><p>oferecer mais nada (humanização). Em compara‐</p><p>ção, hoje, a ciência temmuito a oferecer.</p><p>A visão do Higienismo na medicina, já no</p><p>século XIX, levantou a importância do ambiente</p><p>saudável (coleta de lixo, água tratada, orientações</p><p>epidêmicas, etc) para minimizar agravos à saúde</p><p>dos mais necessitados, no entanto, na atualidade,</p><p>ainda encontramos diversos ambientes emoradias</p><p>sem saneamento básico, sem a medicina preven‐</p><p>tiva. Atualmente, o paciente passou a ser um</p><p>instrumento de aprendizagem, de estatística, de</p><p>pesquisa, a representar uma fonte de recursos</p><p>econômicos para a instituição, mas e quanto à</p><p>humanização? Será que se perdeu com os avanços</p><p>tecnológicos? É o</p><p>que podemos constatar com o</p><p>estilo de vida e trabalho dos grupos sociais. Nosso</p><p>ritmo cotidiano exige que tenhamos que dominar</p><p>um número cada vez maior de habilidades, acessar</p><p>frequentemente a Internet, redes sociais, celula‐</p><p>res, etc. E as preocupações relacionadas ao</p><p>diálogo, à atenção e ao cuidado?</p><p>Na área de saúde, observa-se umaexplosão da</p><p>tecnologia, máquinas de última geração, cientifici‐</p><p>dades, especializações, exames de alta precisão,</p><p>drogas com menores efeitos colaterais. Todas as</p><p>exigências do mundo moderno e os avanços tecno‐</p><p>lógicos, que são importantes, enfraqueceram as</p><p>relações humanas que presenciamos em nosso</p><p>cotidiano, ocasionando em relações sociais muito</p><p>superficiais. Por isso, devemos ter uma relação har‐</p><p>mônica dando espaço à humanização na sociedade.</p><p>86</p><p>Anotações: CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO E</p><p>CUIDADOS</p><p>Primeiramente, é importante ressaltar que a</p><p>saúde do ser humano abrange seu bem-estar físico,</p><p>psíquico e social. O aspecto social inclui educação,</p><p>moradia, saneamento básico, alimentação ade‐</p><p>quada e relacionamento social. Envolve utilizar o</p><p>conhecimento para a promoção e a prevenção das</p><p>doenças para obter uma saúde pública eficiente,</p><p>cobrada pela escola e pela comunidade. Só a atua‐</p><p>ção integrada com a educação possibilitará uma</p><p>sociedademais saudável.</p><p>Humanizar o cuidar em saúde é uma atividade</p><p>que vai além do atendimento das necessidades</p><p>básicas do ser humano no momento que ele está</p><p>fragilizado. É o compromissodecuidar dooutro que</p><p>envolve também o autocuidado, a autoestima, a</p><p>autovalorização e a cidadania, permitindomelhorar</p><p>a comunicação entre os envolvidos e dar qualidade</p><p>à relação profissional saúde-paciente. A palavra</p><p>humanizar significa tornar-se humano, sentir-se</p><p>pertencente a umgrupomaior e aceito por ele. É ser</p><p>respeitoso, tratável, civilizado e defender a preva‐</p><p>lência da dignidade e da ética.</p><p>O sofrimento, as percepções de dor ou de</p><p>prazer nocorpo fazempartedaexperiênciahumana,</p><p>mas o compartilhamento delas pode proporcionar</p><p>alento. Muito além de permitir ao profissional da</p><p>saúde a definição de um diagnóstico (ao qual</p><p>corresponderá o devido tratamento), a simples</p><p>exposição dos problemas, por parte do paciente, já</p><p>lhe proporcionará alívio através do processo de</p><p>catarse. No entanto, o principal desdobramento é a</p><p>87</p><p>Anotações:abertura de um poderoso canal de comunicação</p><p>que, se explorado, possibilitará, alémdosentimento</p><p>desolidariedade, a identificaçãoentreoprofissional</p><p>da saúde e o paciente.</p><p>A partir daí a relação pode evoluir para uma</p><p>empatia e, inclusive, fortalecer a crença na cura –</p><p>com efeitos psicológicos fundamentais à efetiva‐</p><p>ção da cura e à recuperaçãomais rápida possível. É</p><p>a linguagem que proporciona as descobertas de</p><p>meios pessoais de comunicação com o outro, sem</p><p>os quais nos desumanizamos reciprocamente. De</p><p>forma geral, o conceito de humanização na saúde</p><p>diz respeito a práticas e recursos voltados para a</p><p>ampliação do relacionamento entre profissionais e</p><p>pacientes. Compreender o sofrimento de quem</p><p>está sendo atendido, bem como contar com suas</p><p>opiniões, é um dos pontos-chave de um trabalho</p><p>que leva em conta a totalidade do indivíduo.</p><p>Parar e ouvir o paciente é um exemplo de ati‐</p><p>vidade que coopera para a humanização dos pro‐</p><p>cessos dentro de clínicas e hospitais. A tarefa pode</p><p>parecer fácil, mas a sobrecarga da rotina hospitalar</p><p>dificulta a aproximação entre os sujeitos e acaba</p><p>endurecendo o olhar diante das angústias do outro.</p><p>Sua importância vem justamente daí. É imprescin‐</p><p>dível destacar que a humanização na saúde dentro</p><p>de clínicas e hospitais nemsempredependeapenas</p><p>dos profissionais. Detalhes como a infraestrutura</p><p>do ambiente e a qualidade dos serviços prestados</p><p>também podem pesar quando se fala no tema, já</p><p>que prejudicam não só a experiência do paciente,</p><p>mas a dos próprios funcionários.</p><p>88</p><p>Anotações: A IMPORTÂNCIA DA HUMANIZAÇÃO E</p><p>DOS CUIDADOS</p><p>Nos últimos anos, o setor da saúde passou por</p><p>diversas mudanças tecnológicas. Novos exames,</p><p>ferramentas, insumos e instrumentos foram aper‐</p><p>feiçoados na busca por diagnósticos e tratamentos</p><p>mais precisos. No entanto, ao passo que as tecno‐</p><p>logias evoluíram, as relações interpessoais, a</p><p>comunicação e os vínculos foram deixados de lado.</p><p>São exatamente esses comportamentos que</p><p>caracterizam o atendimento humanizado – uma das</p><p>principais razões para garantir a satisfação dos</p><p>pacientes. Oferecer um atendimento humanizado é</p><p>tão essencial quanto investir em tecnologia e</p><p>sistemas de gestão de atendimento, visto que é por</p><p>meio dele que é possível proporcionar uma melhor</p><p>forma de cuidado e alcançar mais resultados nos</p><p>tratamentos.</p><p>Para compreender melhor a importância de</p><p>humanizar o atendimento, basta considerar que o</p><p>paciente não busca apenas a solução de um</p><p>problema de saúde, mas também alívio e conforto</p><p>pessoal. Assim, é preciso considerar necessidades</p><p>existenciais, atender comsolidariedade e acalentar</p><p>quem procura pelo serviço, porque na maioria das</p><p>vezes, ao buscar uma instituição de saúde, o</p><p>paciente encontra-se fragilizado e inseguro. Desse</p><p>modo, a forma como ele é acolhido no atendimento</p><p>desde o primeiro contato faz toda diferença.</p><p>Nesse sentido, o atendimento humanizado é</p><p>aquele que considera a integralidade do cuidado,</p><p>isso é, prevê a união entre a qualidade técnica do</p><p>tratamento e do relacionamento desenvolvido</p><p>89</p><p>Anotações:entre o profissional e o paciente, considerando</p><p>ambos como sujeitos do processo terapêutico,</p><p>estabelece uma relação mais próxima, que preze</p><p>pelo respeito, atenção e ética. Segundo oMinistério</p><p>da saúde, a humanização é a valorização dos</p><p>usuários, trabalhadores e gestores no processo de</p><p>produção de saúde por meio da criação de vínculos</p><p>solidários, da responsabilidade compartilhada e da</p><p>participação coletiva nos processos de trabalho,</p><p>objetivando a mudança na cultura da atenção aos</p><p>pacientes.</p><p>HUMANIZAÇÃO E POLÍTICAS DE SAÚDE</p><p>No campo das políticas públicas de saúde,</p><p>humanização diz respeito à transformação dos</p><p>modelos de atenção e de gestão nos serviços e sis‐</p><p>temas de saúde, indicando a necessária construção</p><p>de novas relações entre usuários e trabalhadores e</p><p>destes entre si. A humanização em saúde entre</p><p>usuários e trabalhadores volta-se para as práticas</p><p>concretas comprometidas com a produção de</p><p>saúde e produção de sujeitos (CAMPOS, 2000), de</p><p>tal modo que atender melhor o usuário ocorre em</p><p>sintonia com melhores condições de trabalho e de</p><p>participação dos diferentes sujeitos implicados no</p><p>processo de produção de saúde (princípio da indis‐</p><p>sociabilidade entre atenção e gestão). Esse princí‐</p><p>pio abrange as experiências concretas, além de</p><p>considerar o humano em sua capacidade criadora e</p><p>singular, inseparável dosmovimentos coletivos que</p><p>o constituem.</p><p>Orientada pelos princípios da transversali‐</p><p>dade e da indissociabilidade entre atenção e</p><p>90</p><p>Anotações: gestão, a humanização se expressa a partir de</p><p>2003 como Política Nacional de Humanização</p><p>(PNH) (BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).</p><p>Como tal, compromete-se com a construção de</p><p>uma nova relação seja entre as demais políticas e</p><p>programas de saúde, seja entre as instâncias de</p><p>efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), ou</p><p>entre os diferentes atores que constituem o pro‐</p><p>cesso de trabalho em saúde. O aumento do grau de</p><p>comunicação em cada grupo e entre os grupos</p><p>(princípio da transversalidade) e o aumento do grau</p><p>de democracia institucional por meio de processos</p><p>da produção de saúde e do grau de corresponsabi‐</p><p>lidade no cuidado são decisivos para a mudança</p><p>que se pretende.</p><p>Transformar práticas de saúde exige mudan‐</p><p>ças no processo de construção dos sujeitos dessas</p><p>práticas. Somente com trabalhadores e usuários</p><p>protagonistas e responsáveis, é possível efetivar a</p><p>aposta que o SUS faz na universalidade do acesso,</p><p>na integralidade do cuidado e na equidade das</p><p>ofertas em saúde. Por essa razão, falamos da</p><p>humanização do SUS (Humaniza SUS) como pro‐</p><p>cesso de subjetivação que se efetiva com a altera‐</p><p>ção dosmodelos de atenção e de gestão em saúde,</p><p>isto é, novos sujeitos implicados em novas práticas</p><p>de saúde. Pensar a saúde como experiência</p><p>de</p><p>criação de si e de modos de viver é tomar a vida em</p><p>seu movimento de produção de normas e não de</p><p>curvar diante delas.</p><p>91</p><p>Anotações:POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO</p><p>(PHN)</p><p>Lançada em 2003, a Política Nacional de</p><p>Humanização (PNH) busca pôr em prática os</p><p>princípios do SUS no cotidiano dos serviços de</p><p>saúde, produzindo mudanças nos modos de gerir e</p><p>cuidar. A PNH estimula a comunicação entre</p><p>gestores, trabalhadores e usuários para construir</p><p>processos coletivos de enfrentamento de relações</p><p>de poder, trabalho e afeto que, muitas vezes,</p><p>produzem atitudes e práticas desumanizadoras</p><p>que inibem a autonomia e a corresponsabilidade</p><p>dos profissionais de saúde em seu trabalho e dos</p><p>usuários no cuidado de si.</p><p>Vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde do</p><p>Ministério da Saúde, a PNH conta com equipes</p><p>regionais de apoiadores que se articulam às secre‐</p><p>tarias estaduais e municipais de saúde. A partir</p><p>desta articulação se constroem, de forma compar‐</p><p>tilhada, planos de ação para promover e disseminar</p><p>inovações nos modos de fazer saúde. A partir da</p><p>análise dos problemas e dificuldades em cada</p><p>serviço de saúde e tomando por referência expe‐</p><p>riências bem-sucedidas de humanização, a PNH</p><p>tem sido experimentada em todo o País. Existe um</p><p>SUS que dá certo, e dele partem as orientações da</p><p>Política Nacional de Humanização, traduzidas em</p><p>seumétodo, princípios, diretrizes e dispositivos.</p><p>O Humaniza SUS, como também é conhecida</p><p>a Política Nacional de Humanização, aposta na</p><p>inclusão de trabalhadores, usuários e gestores na</p><p>produção e gestão do cuidado e dos processos de</p><p>trabalho. A comunicação entre esses três atores</p><p>92</p><p>Anotações: do SUS provoca movimentos de perturbação e</p><p>inquietação que a PNH considera o “motor” de</p><p>mudanças e que também precisam ser incluídos</p><p>como recursos para a produção de saúde.</p><p>Humanizar se traduz, então, como inclusão das</p><p>diferenças nos processos de gestão e de cuidado.</p><p>Tais mudanças são construídas não por uma</p><p>pessoa ou grupo isolado, mas de forma coletiva e</p><p>compartilhada, uma vez que incluir é importante</p><p>para estimular a produção de novos modos de</p><p>cuidar e novas formas de organizar o trabalho.</p><p>As rodas de conversa, o incentivo às redes e</p><p>movimentos sociais e a gestão dos conflitos gera‐</p><p>dos pela inclusão das diferenças são ferramentas</p><p>experimentadas nos serviços de saúde a partir das</p><p>orientações da PNH. Incluir os trabalhadores na</p><p>gestão é fundamental para que eles, no dia a dia,</p><p>reinventem seus processos de trabalho e sejam</p><p>agentes ativos das mudanças no serviço de saúde.</p><p>Incluir usuários e suas redes sócio familiares nos</p><p>processos de cuidado é um poderoso recurso para</p><p>a ampliação da corresponsabilização no cuidado de</p><p>si. Humanizar o SUS requer estratégias que sejam</p><p>construídas entre os trabalhadores, usuários e ges‐</p><p>tores do serviço de saúde.</p><p>Princípios</p><p>TRANSVERSALIDADE</p><p>A Política Nacional de Humanização deve</p><p>ocorrer e estar inserida em todas as políticas e</p><p>programas do SUS. A PNH busca transformar as</p><p>relações de trabalho a partir da ampliação do grau</p><p>de contato e da comunicação entre as pessoas e</p><p>grupos, tirando-os do isolamento e das relações de</p><p>93</p><p>Anotações:poder hierarquizadas. Transversalizar é reconhecer</p><p>que as diferentes especialidades e práticas de</p><p>saúde podem conversar com a experiência daquele</p><p>que é assistido. Juntos, esses saberes podem</p><p>produzir saúde de formamais corresponsável.</p><p>INDISSOCIABILIDADE ENTRE ATENÇÃO E</p><p>GESTÃO</p><p>Asdecisõesdagestão interferemdiretamente</p><p>na atenção à saúde. Trabalhadores e usuários de‐</p><p>vem buscar conhecer como funciona a gestão dos</p><p>serviços e da rede de saúde, assim como participar</p><p>ativamente do processo de tomada de decisão nas</p><p>organizações de saúde e nas ações de saúde coleti‐</p><p>va. Aomesmo tempo, o cuidado e a assistência não</p><p>se restringem às responsabilidades da equipe de</p><p>saúde. O usuário e sua rede sociofamiliar devem</p><p>também se responsabilizar pelo cuidado de si nos</p><p>tratamentos, assumindo posição protagonista com</p><p>relação a sua saúde e de seus familiares.</p><p>PROTAGONISMO, CORRESPONSABILIDADE E</p><p>AUTONOMIA DOS SUJEITOS E COLETIVOS</p><p>Qualquer mudança na gestão e atenção é</p><p>mais concreta se for construída com a ampliação</p><p>da autonomia e vontade das pessoas envolvidas,</p><p>que compartilham responsabilidades. Os usuários</p><p>não são só pacientes, os trabalhadores não só</p><p>cumprem ordens: as mudanças acontecem com o</p><p>reconhecimento do papel de cada um. Um SUS hu‐</p><p>manizado reconhece cada pessoa como legítima</p><p>cidadã de direitos, valoriza e incentiva sua atuação</p><p>na produção de saúde.</p><p>94</p><p>Anotações: Diretrizes</p><p>A Política Nacional de Humanização atua a</p><p>partir de orientações clínicas, éticas e políticas,</p><p>que se traduzem em determinados arranjos de</p><p>trabalho. Vamos entender alguns conceitos que</p><p>norteiam o trabalho da PNH:</p><p>Acolhimento</p><p>Acolher é reconhecer o que o outro traz como</p><p>legítima e singular necessidade de saúde. O acolhi‐</p><p>mento deve comparecer e sustentar a relação entre</p><p>equipes/serviços e usuários/populações. Como</p><p>valor das práticas de saúde, o acolhimento é cons‐</p><p>truído de forma coletiva, a partir da análise dos</p><p>processos de trabalho e tem como objetivo a cons‐</p><p>trução de relações de confiança, compromisso e</p><p>vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/</p><p>equipes e usuário com sua rede socioafetiva. Com</p><p>uma escuta qualificada oferecida pelos trabalhado‐</p><p>res às necessidades do usuário, é possível garantir</p><p>o acesso oportuno desses usuários a tecnologias</p><p>adequadas às suas necessidades, ampliando a</p><p>efetividade das práticas de saúde. Isso assegura,</p><p>por exemplo, que todos sejam atendidos com prio‐</p><p>ridades a partir da avaliação de vulnerabilidade,</p><p>gravidade e risco.</p><p>Gestão Participativa e Cogestão</p><p>Cogestão expressa tanto a inclusão de novos</p><p>sujeitos nos processos de análise e decisão quanto</p><p>a ampliação das tarefas da gestão – que se trans‐</p><p>forma também em espaço de realização de análise</p><p>dos contextos, da política em geral e da saúde em</p><p>particular, em lugar de formulação e de pactuação</p><p>95</p><p>Anotações:de tarefas e de aprendizado coletivo. A organização</p><p>e experimentação de rodas é uma importante ori‐</p><p>entação da cogestão. Rodas para colocar as dife‐</p><p>renças em contato demodo a produzir movimentos</p><p>de desestabilização que favoreçam mudanças nas</p><p>práticas de gestão e de atenção.</p><p>A PNH destaca dois grupos de dispositivos de</p><p>cogestão: aquelesquedizemrespeitoàorganização</p><p>de um espaço coletivo de gestão, que permita o</p><p>acordo entre necessidades e interesses de usuá‐</p><p>rios, trabalhadores e gestores; e aqueles que se</p><p>referemaosmecanismosquegarantemaparticipa‐</p><p>ção ativa de usuários e familiares no cotidiano das</p><p>unidades de saúde. Colegiados gestores, mesas de</p><p>negociação, contratos internos de gestão, Câmara</p><p>Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Trabalho</p><p>de Humanização (GTH), Gerência de Porta Aberta,</p><p>entreoutros, sãoarranjosde trabalhoquepermitem</p><p>a experimentação da cogestão no cotidiano da</p><p>saúde.</p><p>Ambiência</p><p>Criar espaços saudáveis, acolhedores e con‐</p><p>fortáveis, que respeitem a privacidade, propiciem</p><p>mudanças no processo de trabalho e sejam lugares</p><p>de encontro entre as pessoas. A discussão compar‐</p><p>tilhada do projeto arquitetônico, das reformas e do</p><p>uso dos espaços de acordo com as necessidades</p><p>de usuários e trabalhadores de cada serviço é uma</p><p>orientação que podemelhorar o trabalho em saúde.</p><p>Clínica Ampliada e Compartilhada</p><p>A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e</p><p>prática, cuja finalidade é contribuir para uma</p><p>96</p><p>Anotações: abordagemclínica doadoecimentoedosofrimento,</p><p>que considere a singularidade do sujeito e a com‐</p><p>plexidade do processo saúde/doença. Permite o</p><p>enfrentamento da fragmentação do conhecimento</p><p>e das ações de saúde e seus respectivos danos e</p><p>ineficácia. Utilizando recursos que permitam</p><p>enriquecimento dos diagnósticos (outras variáveis,</p><p>além do enfoque orgânico, inclusive a percepção</p><p>dos afetos produzidos nas relações clínicas) e a</p><p>qualificaçãododiálogo (tanto entre osprofissionais</p><p>de saúde envolvidos no tratamento quanto destes</p><p>com o usuário), de modo a possibilitar decisões</p><p>compartilhadas e comprometidas comaautonomia</p><p>e a saúde dos usuários do SUS.</p><p>Valorização</p><p>do Trabalhador</p><p>É importantedar visibilidadeàexperiência dos</p><p>trabalhadores e incluí-los na tomada de decisão,</p><p>apostando na sua capacidade de analisar, definir e</p><p>qualificar os processos de trabalho. O Programa de</p><p>Formação em Saúde e Trabalho e a Comunidade</p><p>Ampliada de Pesquisa são possibilidades que tor‐</p><p>nampossível o diálogo, intervençãoe análise doque</p><p>causa sofrimento e adoecimento, do que fortalece</p><p>o grupo de trabalhadores e do que propicia os acor‐</p><p>dosdecomoagir no serviçode saúde. É importante,</p><p>também, assegurar a participação dos trabalhado‐</p><p>res nos espaços coletivos de gestão.</p><p>Defesa dos Direitos dos Usuários</p><p>Os usuários de saúde possuemdireitos garan‐</p><p>tidos por lei e os serviços de saúde devem incenti‐</p><p>var o conhecimento desses direitos e assegurar</p><p>que eles sejam cumpridos em todas as fases do</p><p>97</p><p>Anotações:cuidado, desde a recepção até a alta. Todo cidadão</p><p>tem direito a uma equipe que cuide dele, de ser</p><p>informado sobre sua saúde e também de decidir</p><p>sobre compartilhar ou não sua dor e alegria com</p><p>sua rede social.</p><p>ATENÇÃO À SAÚDE DOS</p><p>TRABALHADORES: CONCEITOS GERAIS</p><p>O trabalho, ou a ausência dele, é um importan‐</p><p>te determinante das condições de vida e da situa‐</p><p>ção de saúde dos trabalhadores e de suas famílias.</p><p>O trabalho é um dos determinantes da saúde e do</p><p>bem-estar do trabalhador e de sua família. Além de</p><p>gerar renda, que viabiliza as condiçõesmateriais de</p><p>vida, tem uma dimensão humanizadora e permite a</p><p>inclusão social de quem trabalha, favorecendo a</p><p>formação de redes sociais de apoio, importantes</p><p>para a saúde. Assim, ele pode ter umefeito protetor,</p><p>ser promotor de saúde, mas também pode causar</p><p>mal-estar, sofrimento, adoecimento e morte dos</p><p>trabalhadores, aprofundar iniquidades e a vulnera‐</p><p>bilidade das pessoas e das comunidades e produzir</p><p>a degradação do ambiente.</p><p>Essa visãodo trabalhoenquantodeterminante</p><p>social de saúde e doença, apresenta elementos</p><p>para reconhecer e lidar com os agravos relaciona‐</p><p>dos ao trabalho. OsDeterminantesSociais daSaúde</p><p>proposta porDahlgren eWhitehead (1991) coloca em</p><p>posição central as condições de vida e de trabalho,</p><p>de emprego/desemprego e os fatores e situações</p><p>de risco presentes nos ambientes de trabalho.</p><p>98</p><p>Figura 2 - Determinantes Sociais da Saúde</p><p>Fonte: Acesso em:</p><p>01 jun.2020</p><p>No cotidiano dos serviços de saúde, os traba‐</p><p>lhadores necessitam de um olhar diferenciado,</p><p>considerando as relações entre o trabalho que</p><p>desenvolvem e suas condições de saúde-doença.</p><p>Os efeitos negativos na saúde determinados pelo</p><p>trabalho são, geralmente, expressos nos acidentes</p><p>e nas doenças relacionadas ao trabalho que apare‐</p><p>cem como demanda dos usuários nos diversos</p><p>pontos da rede, cujas principais portas de entrada</p><p>são a Atenção Básica e as redes de urgência e</p><p>emergência.</p><p>A organização da atenção à saúde da popula‐</p><p>ção tem sido considerada estratégia importante</p><p>99</p><p>Anotações:para reduzir a iniquidadeeprover cuidado resolutivo</p><p>e com qualidade. O processo de trabalho das equi‐</p><p>pes de saúdepermite que se conheçamais sobre as</p><p>condições de vida e de trabalho da população sob</p><p>sua responsabilidade, facilitando a definição de</p><p>políticas e ações de saúdemais adequadas ao perfil</p><p>de morbimortalidade e o acesso e acompanha‐</p><p>mento dos grupos vulneráveis. No campo da Saúde</p><p>do Trabalhador, as ações de saúde desenvolvidas</p><p>facilitam o reconhecimento das relações entre as</p><p>condições de vida e trabalho, expressos nos deter‐</p><p>minantes sociais de saúde e sua incorporação no</p><p>cuidado.</p><p>Na perspectiva da atenção integral, o cuidado</p><p>em saúde envolve ações de promoção e proteção</p><p>da saúde, vigilância, assistência e reabilitação.</p><p>Nesse prisma, todos os profissionais da rede de</p><p>saúde precisam estar qualificados para estabele‐</p><p>cer as relações entre as condições de vida e saúde-</p><p>doença e o trabalho, atual ou pregresso do usuário,</p><p>de modo a estabelecer o diagnóstico correto, a</p><p>relação do evento com a atividade de trabalho e</p><p>definir o plano terapêutico adequado, incluindo a</p><p>reabilitação, a orientação do trabalhador sobre as</p><p>medidas de promoção e proteção da saúde, os</p><p>encaminhamentos trabalhistas e previdenciários,</p><p>além da notificação ao sistema de informação em</p><p>saúde.</p><p>CONHECENDO A SAÚDE DO</p><p>TRABALHADOR</p><p>A Saúde do Trabalhador é o campo da Saúde</p><p>Pública, que tem como objeto de estudo e inter‐</p><p>100</p><p>Anotações: venção, as relações produção-consumo e o pro‐</p><p>cesso saúde-doença das pessoas e, em particular,</p><p>dos trabalhadores. Neste campo, o trabalho pode</p><p>ser considerado como eixo organizador da vida</p><p>social, espaço de dominação, resistência dos tra‐</p><p>balhadores e determinante das condições de vida e</p><p>saúde das pessoas. A partir dessa premissa, as</p><p>intervenções devem buscar a transformação dos</p><p>processos produtivos, no sentido de torná-los pro‐</p><p>motores de saúde e não de adoecimento e morte,</p><p>além de garantir a atenção integral à saúde dos</p><p>trabalhadores, levando em conta sua inserção nos</p><p>processos produtivos.</p><p>OMovimento da Saúde do Trabalhador organi‐</p><p>zou-se no Brasil, ao longo dos anos 80, no bojo do</p><p>processo de redemocratização do País e da luta</p><p>pela ReformaSanitária, que culminou na instituição</p><p>do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição</p><p>Federal de 1988. Ao estabelecer a saúde comodirei‐</p><p>to de cidadania e dever do estado, a Constituição</p><p>Federal garantiu a atenção integral à saúde para</p><p>todos trabalhadores independentemente do tipo de</p><p>vínculo que possuem no mercado de trabalho.</p><p>Antes disso, apenas os trabalhadores com contra‐</p><p>tos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho</p><p>(CLT), ou seja, com “carteira de trabalho assinada”,</p><p>tinham direito à assistência médica e à Previdência</p><p>Social.</p><p>Assim, o compromisso do SUS com a vida e a</p><p>saúde dos trabalhadores tem por referência sua</p><p>inserção no processo produtivo/processo de traba‐</p><p>lho, desde o início da vida laborativa, qualquer que</p><p>seja a atividade de trabalho, incluindo os períodos</p><p>de inatividade, desemprego, aposentadoria e</p><p>velhice. Essa compreensão tem implicações impor‐</p><p>101</p><p>Anotações:tantes sobre as práticas de saúde. Cabe ressaltar</p><p>que, para o SUS, trabalhadores são todos, homens e</p><p>mulheres que trabalham na área urbana ou rural,</p><p>independentemente da forma de inserção no mer‐</p><p>cado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo</p><p>empregatício, público ouprivado, assalariado, autô‐</p><p>nomo, avulso, temporário, cooperativado, aprendiz,</p><p>estagiário, doméstico, aposentado e mesmo os</p><p>desempregados (BRASIL, 2012).</p><p>As açõesdeSaúdedoTrabalhador consideram</p><p>o fenômeno saúde-doença, na sua relação com o</p><p>trabalho, em seus aspectos individuais e coletivos,</p><p>biológicos e sociopolíticos. De forma esquemática,</p><p>elas podem ser organizadas em três eixos:</p><p>Promoção da saúde: reconhece o trabalho</p><p>como promotor de saúde e não apenas produtor de</p><p>sofrimento, adoecimento e morte. Mais do que</p><p>mudanças de comportamentos favoráveis à saúde,</p><p>as ações de promoção da saúde devem buscar o</p><p>empoderamento e o fortalecimento da autonomia</p><p>dos(as) trabalhadores(as) na luta por condições</p><p>dignas de trabalho. A articulação de políticas e</p><p>práticas intersetoriais deve ser estimulada, espe‐</p><p>cialmente aquelas com potencial para promover o</p><p>controle, a intervenção sobre os determinantes de</p><p>saúde, a participação em processos regulatórios, e</p><p>na produção conjunta de normas protetivas, entre</p><p>outras.</p><p>Assistência à saúde: começa pela identifica‐</p><p>ção do usuário enquanto trabalhador, considerando</p><p>sua inserção laboral atual e pregressa, para que se</p><p>estabeleça a relação entre o trabalho e o processo</p><p>saúde-doença, e se faça o diagnóstico correto e se</p><p>defina o plano terapêutico adequado, incluindo a</p><p>reabilitação física e psicossocial. Também deve in‐</p><p>102</p><p>Anotações: cluir a orientação do trabalhador sobre as medidas</p><p>de prevenção e direitos trabalhistas e previdenciá‐</p><p>rios, a notificação dos agravos relacionados ao tra‐</p><p>balho e, se necessário, o acionamento dos setores</p><p>da vigilância em saúde.</p><p>Vigilância em Saúde do Trabalhador: é um</p><p>dos componentes da Vigilância em Saúde e</p><p>abrange a vigilância epidemiológica dos</p><p>agravos</p><p>(acidentes, intoxicações, entre outros) e doenças</p><p>relacionados ao trabalho e a vigilância dos ambien‐</p><p>tes e processos de trabalho, em estabelecimentos</p><p>e atividades do setor público e privado, urbanos e</p><p>rurais. Inclui a produção, a divulgação e a difusão</p><p>de informações em saúde, e ações de educação em</p><p>saúde. Deve ser realizada de forma articulada com</p><p>a rede assistencial e com os demais componentes</p><p>da Vigilância em Saúde: Epidemiológica, Sanitária</p><p>e em Saúde Ambiental.</p><p>O desenvolvimento de ações de Saúde do</p><p>Trabalhador deve considerar a organização das</p><p>redes de atenção e vigilância nos territórios, os</p><p>processos de regionalização e de pactuação inter‐</p><p>gestores, na região e no estado. Outro aspecto</p><p>importante do cuidado à saúde dos trabalhadores</p><p>refere-se à participação destes em todas as</p><p>etapas, contribuindo com conhecimento técnico e</p><p>saberes, experiências e subjetividade com as</p><p>práticas institucionais, em especial na identifi‐</p><p>cação dos riscos para a saúde presentes no tra‐</p><p>balho e as repercussões dessa exposição sobre o</p><p>adoecimento e/ou agravamento da doença, bem</p><p>como na identificação das mudanças necessárias</p><p>nos processos de trabalho para torná-los mais</p><p>seguros e saudáveis.</p><p>103</p><p>Anotações:Considerando que a Atenção Básica é uma</p><p>porta de entrada da rede de serviços de saúde,</p><p>atendendo trabalhadores com vínculos de trabalho</p><p>diversos e que podem apresentar formas de adoe‐</p><p>cimento e demandas relacionados ao trabalho, é</p><p>fundamental que as equipes de saúde estejam pre‐</p><p>paradas para identificar esses problemas e lidar</p><p>com eles na perspectiva da atenção integral, bem</p><p>comoorientar eencaminhar corretamenteoacesso</p><p>do trabalhador ao Seguro Social.</p><p>COMPREENDENDO OS AGRAVOS E O</p><p>ADOECIMENTO RELACIONADOS AO</p><p>TRABALHO</p><p>No cotidiano de trabalho, os sujeitos estão</p><p>expostos a múltiplas situações e fatores de risco</p><p>para a saúde, que podem atuar sinergicamente ou</p><p>potencializar seus efeitos. Além das exposições</p><p>nos locais de trabalho, os trabalhadores e suas</p><p>famílias estão expostos a riscos decorrentes da</p><p>contaminação e da degradação ambiental no</p><p>entorno e nos locais de moradia, gerados pelos</p><p>processos produtivos desenvolvidos no território.</p><p>A nocividade do trabalho pode estar relacio‐</p><p>nada a insumos e matérias-primas, objetos,</p><p>máquinas e ferramentas utilizados, que podem</p><p>produzir lesões e situações de risco à saúde, como</p><p>a presença de poeiras, substâncias químicas e</p><p>agentes físicos perigosos ou nocivos; a organiza‐</p><p>ção do trabalho, expressa na duração, intensidade,</p><p>exigências de produtividade, jornada de trabalho</p><p>em turnos e noturno, relações conflituosas com a</p><p>chefia e os colegas, que podem causar sofrimento</p><p>104</p><p>e adoecimento. Além disso, a nocividade pode se</p><p>estender para além do trabalho, afetando o ambi‐</p><p>ente domiciliar, os familiares, a vizinhança e o</p><p>ambiente geral.</p><p>Quadro 1 - Exemplos de riscos mais frequentes nos</p><p>ambientes de trabalho e seus efeitos sobre a saúde.</p><p>Categoria Exemplos de</p><p>riscos</p><p>Possíveis efeitos</p><p>sobre a saúde</p><p>Atividade onde pode</p><p>estar presente</p><p>Físicos Ruído Efeitos auditivos:</p><p>surdez, zumbidos.</p><p>Efeitos extra</p><p>auditivos: gastrite,</p><p>insônia e outras</p><p>manifestações de</p><p>estresse.</p><p>Trabalhos com</p><p>máquinas barulhentas,</p><p>motores, britadeiras e</p><p>motoristas de ônibus.</p><p>Físicos Temperaturas</p><p>extremas</p><p>Desidratação,</p><p>cãibras pelo calor,</p><p>fadiga, alergia</p><p>respiratória, sinusite,</p><p>resfriados</p><p>frequentes</p><p>Trabalho na rua e a céu</p><p>aberto; frigoríficos;</p><p>cozinhas industriais;</p><p>ambientes com ar-</p><p>condicionado</p><p>Iluminação Problemas de visão,</p><p>dor de cabeça,</p><p>acidentes</p><p>Várias atividades na</p><p>indústria e no setor de</p><p>serviços, costureiras e</p><p>manicures, podem ter</p><p>pouca iluminação ou</p><p>iluminação em excesso,</p><p>prejudicando a visão do</p><p>trabalhador.</p><p>Radiações</p><p>ionizantes e não</p><p>ionizantes –</p><p>Ultravioleta,</p><p>infravermelho,</p><p>raios X etc.</p><p>Câncer de pele,</p><p>anemia aplástica;</p><p>leucemia; catarata</p><p>Agricultores e</p><p>trabalhadores na rua:</p><p>trabalhadores em</p><p>hospitais e</p><p>consultórios dentários</p><p>que operam raios X,</p><p>soldadores, etc.</p><p>105</p><p>Químicos Substâncias</p><p>químicas que</p><p>podem estar</p><p>presentes nos</p><p>ambientes de</p><p>trabalho na</p><p>forma de</p><p>poeiras, fumos,</p><p>névoas, neblinas,</p><p>gases ou</p><p>vapores. Ex.:</p><p>agrotóxicos.</p><p>Queimaduras,</p><p>náusea, vômito,</p><p>cefaléia, alergia,</p><p>asma brônquica,</p><p>câncer, doenças</p><p>gástricas e</p><p>intestinais,</p><p>neurológicas,</p><p>hepáticas, renais,</p><p>entre outras.</p><p>Também podem</p><p>provocar acidentes</p><p>decorrentes de</p><p>explosões e incêndio.</p><p>Elas penetram no</p><p>organismo pela via</p><p>respiratória, pela</p><p>pele ou pelo trato</p><p>digestivo provocando</p><p>intoxicação aguda ou</p><p>crônica.</p><p>Inúmeras atividades na</p><p>indústria e no setor de</p><p>serviços, no setor</p><p>agropecuário,</p><p>silvicultura, madeireiro;</p><p>empresas</p><p>desinsetizadoras e da</p><p>saúde pública que</p><p>atuam no controle de</p><p>endemias e de</p><p>zoonoses etc.</p><p>Mecânicos Máquinas com</p><p>partes móveis</p><p>não protegidas;</p><p>calandras e</p><p>cilindros;</p><p>guilhotinas;</p><p>prensas e o uso</p><p>de instrumentos</p><p>cortantes ou</p><p>perfurantes etc.</p><p>Acidentes diversos</p><p>(quedas, fraturas,</p><p>esmagamento,</p><p>amputação;</p><p>traumatismos).</p><p>Trabalhadores da</p><p>construção civil;</p><p>motoristas de</p><p>transportes coletivos;</p><p>padeiros, metalúrgicos,</p><p>trabalhadores em vias</p><p>públicas, profissionais</p><p>de saúde etc.</p><p>Biológicos Micro-</p><p>organismos</p><p>(bactérias,</p><p>fungos,</p><p>protozoários,</p><p>vírus, entre</p><p>outros). Animais</p><p>peçonhentos</p><p>(cobras,</p><p>escorpiões,</p><p>aranhas).</p><p>Doenças</p><p>contagiosas:</p><p>hepatite,</p><p>tuberculose, tétano,</p><p>pneumonia, aids etc.</p><p>Envenenamento por</p><p>picada de cobra ou</p><p>escorpião.</p><p>Profissionais de saúde;</p><p>manicure,</p><p>trabalhadores rurais;</p><p>carteiros etc.</p><p>106</p><p>Fonte: (BRASIL, 2001)</p><p>Oquadro 1 ajuda a compreender a presença de</p><p>fatores de risco para a saúde nas situações de</p><p>trabalho e seus possíveis efeitos sobre a saúde dos</p><p>trabalhadores. Entretanto, nocotidianode trabalho,</p><p>raramente se observa a exposição a um fator de</p><p>risco isoladamente, sendo frequente a exposição</p><p>simultânea a vários desses fatores de risco, o que</p><p>potencializa os efeitos. Por exemplo: a exposição</p><p>simultânea a certos solventes orgânicos e ao ruído</p><p>podeproduzir quadrosde surdezmais graves emais</p><p>precoces do que a exposição apenas ao ruído. A</p><p>relação entre o trabalho e o processo de adoeci‐</p><p>mento dos trabalhadores pode ser melhor com‐</p><p>preendida ao considerar a classificação proposta</p><p>por Schilling, que combina a abordagem clínico-in‐</p><p>dividual com a coletivo-epidemiológica e agrupa as</p><p>doenças, segundoacontribuiçãoouo “papel causal”</p><p>desempenhado pelo trabalho no adoecimento.</p><p>Psicossociais Jornadas de</p><p>trabalho longas,</p><p>esforços físicos</p><p>exagerados com</p><p>posturas forçadas</p><p>e carregamento de</p><p>peso.</p><p>Ritmo acelerado,</p><p>trabalho repetitivo</p><p>e monótono;</p><p>trabalho em turnos</p><p>e noturno.</p><p>Desemprego,</p><p>vínculos precários</p><p>ou ausência de</p><p>vínculo trabalhista.</p><p>Doenças</p><p>osteomusculares</p><p>relacionadas ao</p><p>trabalho (Dort);</p><p>problemas na</p><p>coluna, dores</p><p>musculares e</p><p>articulares.</p><p>Sofrimento mental,</p><p>commanifestações</p><p>de insegurança;</p><p>desmotivação;</p><p>depressão;</p><p>distúrbios do sono;</p><p>estresse, entre</p><p>outros.</p><p>Trabalhadores de</p><p>linha demontagem;</p><p>carregadores;</p><p>bancários;</p><p>trabalhadores em</p><p>teleatendimento.</p><p>Trabalhadores</p><p>informais e com</p><p>vínculos precários,</p><p>terceirizados e</p><p>temporários.</p><p>107</p><p>Quadro 2 - Relação do trabalho com o adoecimento de</p><p>trabalhadores, segundo a Classificação de Schilling.</p><p>Fonte: (SCHILLING, 1984)</p><p>A NOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO</p><p>TRABALHO E SAÚDE DOS</p><p>TRABALHADORES DA SAÚDE</p><p>A qualidade de vida no trabalho tem um papel</p><p>importante para a satisfação dos colaboradores, o</p><p>seu bem-estar e a promoção da saúde no ambiente</p><p>corporativo. É um conjunto de técnicas e ações</p><p>para promover melhores condições no trabalho,</p><p>buscando aumentar resultados. Um programa de</p><p>qualidade de vida no trabalho possui o intuito de</p><p>criar uma organização mais humanizada. O termo</p><p>Qualidade de Vida tem sido constantemente utiliza‐</p><p>CATEGORIA EXEMPLOS</p><p>I – Trabalho como causa necessária Intoxicação por chumbo</p><p>Silicose</p><p>Asbestose</p><p>II – Trabalho como fator contributivo, mas não</p><p>necessário</p><p>Doença coronariana</p><p>Doenças do aparelho locomotor</p><p>Câncer</p><p>Varizes dos membros inferiores</p><p>III – Trabalho como provocador de distúrbio</p><p>latente, ou agravador de doença já estabelecida</p><p>Bronquite crônica</p><p>Dermatite de contato alérgica</p><p>Asma</p><p>Doenças mentais</p><p>108</p><p>Anotações:</p><p>do para descrever situações em que, sob diversas</p><p>óticas ou intervenções, procura-se criar condições</p><p>que agreguem, objetivamente, valor e qualidade à</p><p>nossa vida.</p><p>A criação ou implantação de locais de lazer,</p><p>urbanização de favelas, centros específicos para a</p><p>terceira idade, etc, podem ser concebidos enquan‐</p><p>to instrumentos de melhoria da qualidade de vida</p><p>de uma população ou de parcela desta. Dado o local</p><p>destacado que o trabalho ocupa em nossas vidas,</p><p>era perfeitamente previsível que esta abordagem</p><p>se ocupasse, também, da Qualidade de Vida no</p><p>Trabalho. Essa qualidade é um dos fatores que</p><p>incorporam a satisfação do indivíduo em sua ativi‐</p><p>dade laboral e na humanização das situações</p><p>relacionadas ao trabalho humano.</p><p>Qualidade de Vida é uma tendência que só</p><p>recentemente tem sido aplicada à situação de</p><p>trabalho. Passou a ser um meio para alcançar o</p><p>engrandecimento do ambiente de trabalho e obten‐</p><p>ção de maior produtividade e qualidade do seu</p><p>resultado, sendo hoje vista como um conceito</p><p>global e como forma de dimensionar tais fatores,</p><p>adotandofilosofia emétodos para umamaior satis‐</p><p>fação do trabalhador em sua atividade profissional.</p><p>Existem várias conceituações e formasmeto‐</p><p>dológicas de abordagememQVT (Qualidade de Vida</p><p>no Trabalho). Independentemente do conceito que</p><p>os diversos autores adotam, é preciso enfatizar que</p><p>as categorias conceituais não podem ser vistas de</p><p>forma excludente ou limitada, mas de forma sistê‐</p><p>mica e emconstante interação. Por exemplo, há um</p><p>equívoco em limitar a QVT a ações relacionadas a</p><p>lazer (sob as mais diferentes formas) ou preocupa‐</p><p>ções com aspectos da saúde ocupacional e, em</p><p>109</p><p>Anotações:particular, ergonomia e ambientes físicos de traba‐</p><p>lho, em que seja indiscutível a importância destes</p><p>fatores.</p><p>Deste modo, numa perspectiva mais abran‐</p><p>gente, QVT diz respeito a: remuneração, em seus</p><p>aspectos de equidade ou justiça interna ou externa;</p><p>condições de saúde e segurança no trabalho,</p><p>oportunidadespara utilizaçãoedesenvolvimentode</p><p>capacidade, oportunidade de crescimento profissi‐</p><p>onal, comsegurançadeempregos, renda integração</p><p>social no ambiente de trabalho, proporção ou nível</p><p>em que direitos e deveres encontram-se formal‐</p><p>mente estabelecidos, cumpridos pela organização,</p><p>além de valorização da cidadania, imparcialidade</p><p>nas decisões, influência de trabalho em outras</p><p>esferas de vida do trabalhador, como por exemplo,</p><p>as relações familiares e relevância social da vida no</p><p>trabalho ou valorização e responsabilidade das</p><p>organizações pelos seus produtos e pelos seus</p><p>trabalhadores, com implicações na imagem e</p><p>credibilidade da empresa.</p><p>Como se pode perceber, o conceito de QVT é</p><p>extremamente mais amplo do que aquele que nor‐</p><p>malmente se procura delimitar. Envolve aspectos</p><p>multidisciplinares e multifatoriais e em interação.</p><p>Assim, as ações organizacionais em QVT precisam</p><p>ser planejadas e implementadas de forma cuidado‐</p><p>sa, mas podem fornecer elementos importantes e</p><p>indispensáveis para estruturação das políticas de</p><p>recursos humanos institucionais.</p><p>110</p><p>Anotações: O PROFISSIONAL DOS NOVOS TEMPOS E</p><p>SUAS NECESSIDADES PSICOLÓGICAS</p><p>Desde criança o indivíduo convive em seu</p><p>cotidiano com a presença do trabalho no seio fami‐</p><p>liar, pais, avós, tios, ou seja, todos aqueles que</p><p>constituem a família e também os amigos; mesmo</p><p>assim, o trabalho pode apresentar diversos signifi‐</p><p>cados, embora pareça de fácil entendimento para</p><p>as pessoas. Para alguns, pode caracterizar fator de</p><p>fadiga, desprazer que causa sofrimento; para</p><p>outros, pode ser considerado fonte de prazer, de</p><p>construção da identidade e fator de equilíbrio</p><p>psíquico. Muitos estudos e pesquisas demonstram</p><p>a relação entre a constituição do ser humano e o</p><p>trabalho, o que nos permite dizer que o trabalho</p><p>está presente desde o aparecimento da humani‐</p><p>dade. Assim, o trabalho e a consciência de nossa</p><p>capacidade de transformar a natureza em nosso</p><p>próprio proveito são eventos concomitantes e que</p><p>se apoiammutuamente para o desenvolvimento da</p><p>humanidade (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).</p><p>Os mesmos autores explicam que, com o</p><p>passar dos tempos, o trabalho foi sendo constituído</p><p>como fator preponderante para o desenvolvimento</p><p>intelectual e emocional dos indivíduos, sendo</p><p>considerado de extrema importância na vida das</p><p>pessoas e de fundamental relevância na formação</p><p>da identidade. A identidade é formada por um</p><p>conjunto de características próprias e exclusivas,</p><p>um único exemplar de um determinado indivíduo, o</p><p>que o torna um ser ímpar, alémdisso, o que identifi‐</p><p>ca a pessoa em nossa sociedade, geralmente, está</p><p>ligado às atividades que executa em sua história de</p><p>vida.</p><p>111</p><p>Anotações:A relação do indivíduo com o seu trabalho e o</p><p>papel que exerce em sua atividade profissional</p><p>também são considerados fatores essenciais na</p><p>constituição da identidade, uma vez que o trabalho</p><p>ocupa posição central na vida de qualquer ser</p><p>humano. Além de ser um instrumento de sobrevi‐</p><p>vência pessoal, é uma atividade que se compõe no</p><p>substrato da identidade pessoal, que vai modelan‐</p><p>do um jeito próprio de ser: “(...) através do trabalho</p><p>se provocammodificações nomundo,mas também</p><p>no homem que o executa, através do reconheci‐</p><p>mento de si mesmo no trabalho” (SORATTO;</p><p>OLIVIER-HECKLER apud ONESTI; MARCHI, 2001, p.</p><p>26).</p><p>Do ponto de vista social, o trabalho é o princi‐</p><p>pal regulador da vida humana, porque ele orienta</p><p>os horários, os hábitos, os grupos aos quais o</p><p>trabalhador pertence e, até mesmo, as atividades</p><p>pessoais. Isso pode ser conferido quando, ao</p><p>perderem o emprego, muitas pessoas ficam deso‐</p><p>rientadas, sem rumo, o que pode levar a um</p><p>adoecimento, ou ainda, fazer com que passem a</p><p>procurar outras coisas para preencher o espaço</p><p>antes ocupado pelo trabalho. Não só o homem</p><p>transforma a natureza à sua volta por meio do</p><p>trabalho, mas ele também é transformado nesta</p><p>ação que, para ser considerada de fato trabalho,</p><p>deve gerar no homem um significado.</p><p>Ao relacionar trabalho e identidade, Codo</p><p>(2006) afirma que o trabalho é uma atividade huma‐</p><p>na por excelência, agora entendida como o modo</p><p>pelo qual transmitimos significado à natureza. A</p><p>identidade demanda significados para se estabele‐</p><p>cer, comparecendo ao trabalho, então, como um</p><p>dos elementos essenciais na constituição da iden‐</p><p>112</p><p>Anotações: tidade, embora não seja o único. Diante dessa lógi‐</p><p>ca, o processo de gerar significado torna o trabalho</p><p>um ato de prazer e, consequentemente, quando</p><p>esse processo é quebrado, ou seja, quando o circui‐</p><p>to que gera significado é rompido, o resultado é o</p><p>oposto: gera o sofrimento, que pode acarretar em</p><p>doençamental.</p><p>Nesse sentido, precisamos compreender um</p><p>tema bastante importante, a Subjetividade, uma</p><p>vez que, ao falar sobre esse conceito, estamos</p><p>abordando o homem em todas as suas expressões,</p><p>tanto as visíveis, que é o próprio comportamento,</p><p>quanto as invisíveis, como os sentimentos, as</p><p>emoções e os afetos. Também se refere às expres‐</p><p>sões singulares, o porquê de sermos quem somos,</p><p>incluindo a identidade, além do porquê das seme‐</p><p>lhanças entre os indivíduos. É o todo do ser humano</p><p>que está sintetizado no termo subjetividade,</p><p>inclusive sua relação com o trabalho. Dessa forma,</p><p>em concordância com Davel e Vergara (2001), a</p><p>subjetividade é expressa em pensamentos, condu‐</p><p>tas, emoções e ações, e deve ser concebida como</p><p>um fenômeno posicional e contingente em que o</p><p>indivíduo não pode ser considerado comounificado</p><p>ao longo do tempo.</p><p>A experiência da subjetividade produz-se no</p><p>decorrer das relações imediatas que as pessoas</p><p>estabelecem entre si. Existe um ponto fundamen‐</p><p>tal com relação à subjetividade: ela é instituída</p><p>socialmente, ou seja, é constituída na sociedade,</p><p>da mesma forma que a linguagem, as regras de</p><p>parentesco, os valores ou os métodos de trabalho.</p><p>Toda sociedade para sobreviver necessita produzir</p><p>modos de aculturação eficazes, capazes de trans‐</p><p>formar os homens em membros daquele grupo,</p><p>113</p><p>Anotações:aptos a funcionar segundo suas regras e, posteri‐</p><p>ormente, transmiti-las às gerações seguintes,</p><p>institucionalizando-as emantendo a sociedade em</p><p>funcionamento. Assim sendo, o homem</p><p>constrói a</p><p>subjetividade aos poucos, na medida em se apro‐</p><p>pria do material do mundo social e cultural, sendo</p><p>ativo em sua construção (MEZAN, 2002; BOCK;</p><p>FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 25).</p><p>Neste âmbito, a subjetividadenãoé inata,mas</p><p>sim construída aos poucos, conforme o indivíduo</p><p>vai se apropriando dos dados do mundo social e</p><p>cultural. Esse movimento é dinâmico, porque, ao</p><p>mesmo tempo em que o indivíduo recebe infor‐</p><p>mações domundo externo, ele também contribui e</p><p>transforma esse mundo e, assim, ele constrói e</p><p>transforma a si próprio. Infelizmente, muitas</p><p>organizações negligenciam questões subjetivas,</p><p>argumentando a impossibilidade do necessário</p><p>consenso entre as pessoas, já que a subjetividade</p><p>representa a particularidade do ser humano; essas</p><p>organizações acreditam que considerar a subjeti‐</p><p>vidade humana não permite obter resultados</p><p>objetivos sobre projetos ou sobre o trabalho em si.</p><p>Além disso, ao mostrar que a subjetividade é</p><p>uma condição de possibilidade da objetividade,</p><p>porque corresponde à existência subjacente à</p><p>construção da experiência humana, estudiosos da</p><p>subjetividade, assim como Codo (2006), mostram</p><p>que ela não se reconhece somente como um “eu”</p><p>individual, como também em um “nó” e em uma</p><p>intersubjetividade, dessa forma, entendemos que é</p><p>somente pormeio das relações que estabelecemos</p><p>ao longo da vida que a subjetividade pode se</p><p>constituir. É preciso ter consciência de que todo o</p><p>trabalhador é, antes de tudo, um ser humano,</p><p>114</p><p>dotado de subjetividade, que precisa se sentir</p><p>agente de sua própria condição de trabalhador.</p><p>Conforme reforçamGondim, Souza e Peixoto (2013,</p><p>p. 346) “incluir a subjetividade (nas práticas de</p><p>gestão) significa reconhecer e respeitar o caráter</p><p>multidimensional e o papel ativo de cada um na</p><p>construção de sua relação com o trabalho”.</p><p>Por fim, como nos aponta Codo (2006), a</p><p>questão da subjetividade deve ser colocada na</p><p>ordemdodia, oque reforçaumaposiçãopertinente:</p><p>a de que os seres humanos não devem ser olhados</p><p>por atacado, de forma padronizada, generalizada.</p><p>Definitivamente, cada caso é umcaso, cada organi‐</p><p>zação é uma organização e cada trabalhador é um</p><p>trabalhador. Esta nova realidade impõe a necessi‐</p><p>dade de um diagnóstico, antes, durante e depois de</p><p>cada intervenção, sendo fundamental prestar mais</p><p>atenção nas condições psicossociais para o desen‐</p><p>volvimento da subjetividade no trabalho.</p><p>115</p><p>Anotações:REFERÊNCIAS</p><p>ALVES, R F. et al La promoción de la salud y la</p><p>prevención de enfermedades como actividades</p><p>propias de la labor de los psicólogos. Arquivos</p><p>Brasileiros de Psicologia, v 61, n 2, 2009 Disponível</p><p>em: http://www psicologia ufrj br/abp/ 1. Acesso</p><p>em: 31 mai ,2020.</p><p>AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Manual</p><p>de Publicação da American Psychological Associa‐</p><p>tion. 6. Ed. Porto Alegre: Penso, 2013.</p><p>ANDRASIK, F et al Estrategias de investigación en</p><p>psicología de la salud In: SIMON,MA (Org) Manual de</p><p>psicología de la salud. Fundamentos, metodología y</p><p>aplicaciones Madrid: Editorial biblioteca Nueva, p</p><p>259-306, 1999.</p><p>ANTÓN, DM;MÉNDEZ, F X Líneas actuales de inves‐</p><p>tigación en psicología de la salud In: SIMON, M A</p><p>(Org) Manual de psicología de la salud. Fundamen‐</p><p>tos, metodología y aplicacionesMadrid: Editorial</p><p>biblioteca Nueva, p 217-256, 1999.</p><p>CAMPOS, G. W. Um Método para Análise e Co-Ges‐</p><p>tão dos Coletivos: a construção do sujeito, a produ‐</p><p>ção de valor de uso e a democracia em instituições</p><p>– ométodo da roda. São Paulo: Hucitec, 2000.</p><p>CHAUÍ, M. Convite àfilosofia. 3.ed. SãoPaulo: Ática,</p><p>1995.</p><p>COLICH, J.C. Modelos Psicanalíticos da Mente. In:</p><p>Eizirik, C.L; Aguiar, R.G. de; Schestatsky, S.S. (orgs).</p><p>Psicoterapia de Orientação Analítica: fundamentos</p><p>teóricos e clínicos. Porto Alegre: Artmed,2005.</p><p>116</p><p>Anotações: COSTA, M Y LÓPEZ, E Salud comunitaria Barcelona:</p><p>Martínez Roca, 1986.</p><p>DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3. Ed.</p><p>São Paulo: Makron Books, 2003.</p><p>GARCIA-NETO, A.; TAURO, D. A psicose e saúde</p><p>mental: impasses na contemporaneidade. Revista</p><p>PsicologiaeSaúde, v. 7, n. 2, dez.2015.Disponível em:</p><p>. Acesso</p><p>em: 10 mai. 2020.</p><p>GRIEP, R. H.; CHOR, D.; FAERSTEIN, E. et al. Valida‐</p><p>de de constructo de escala de apoio social do</p><p>Medical Outcomes Study adaptada para o portu‐</p><p>guês no Estudo Pró-Saúde.</p><p>HOFFMAN, L. Fundamentos da Terapia de Família:</p><p>uma estrutura conceitual para</p><p>Systems Change. New York: Basic Book, 1981.</p><p>Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21(3),</p><p>p. 703-714, maio, 2005.</p><p>MIYAZAKI, M. C. et al. Psicologia da Saúde: inter‐</p><p>venções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé.</p><p>(Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais.</p><p>2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.</p><p>MOURA, Joviane Aparecida de; SILVESTRE, Joel.</p><p>Introdução à Psicanálise. Psicologado, [S.I]. (2008).</p><p>Disponível em: https://psicologado.com.br/abor‐</p><p>dagens/psicanalise/introducao-a-psicanalise.</p><p>Acesso em: 10 mai.2020.</p><p>PANZINI, R. BANDEIRA, D. Coping (enfrentamento)</p><p>religioso/espiritual. Revista de Psiquiatria Clinica,</p><p>v. 34, supl. 1; p. 126-135, 2007.</p><p>117</p><p>Anotações:ROSAL, Anna Silvia. Psicologia Aplicada à Saúde.</p><p>Londrina: Educacional S.A, 2016.</p><p>Saúde do trabalhador e da trabalhadora [recurso</p><p>eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de</p><p>Atenção à Saúde, Secretaria de Vigilância em</p><p>Saúde, Cadernos de Atenção Básica, n. 41 – Brasília:</p><p>Ministério da Saúde, 2018.</p><p>STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre:</p><p>Artes Médicas, 2005.</p><p>TELES, Maria Luiza S. O que é Psicologia? São</p><p>Paulo: Brasiliense, 2003.</p><p>VIEIRA-DA-SILVA, L. M.; PAIM, J. S.; SCHRAIBER, L.</p><p>B. O que é saúde coletiva? In: PAIM, J. S.; ALMEIDA</p><p>FILHO, N. (Org.). Saúde coletiva: teoria e prática.</p><p>Rio de Janeiro: MedBook, 2014. p. 3-12.</p><p>WINSLOW, C. E. A. T he untilled f ields of Publi c</p><p>Health. Science,Washington, DC, v. 51, n. 1306, p. 23</p><p>-33, jan. 1920.</p><p>118</p><p>Anotações:</p><p>Alma não</p><p>tem limites, pois o seu logos é profundo e aumenta</p><p>gradativamente. “O pensamento humano participa</p><p>e é parte do pensamento universal”. “Deusmanifes‐</p><p>ta-se na natureza e é está cheio de opostos”. “A</p><p>terra cria tudo e tudo volta para ela”. Essas frases</p><p>representam a base do conhecimento pré socráti‐</p><p>co, que tinha como objetivo encerrar a visão mítica</p><p>e religiosa e adotar uma forma científica e racional</p><p>de pensar.</p><p>Sócrates (470 - 399 a.C.): a sua biografia é</p><p>contada por Platão em várias das suas obras, pois</p><p>Sócrates, conforme dizem, era analfabeto. Usando</p><p>ummétodopróprio, chamadode “maiêutica” (Trazer</p><p>à Luz - fazer parir), que partia de perguntas feitas às</p><p>pessoas, ele fazia com que elas tivessem as suas</p><p>próprias ideias sobre as coisas. Comparava a sua</p><p>técnica filosófica, a qual acreditava que ajudava a</p><p>existência humana a aperfeiçoar seu espírito, com</p><p>a atividade da sua mãe, que era parteira. Para</p><p>Sócrates as etapas do saber são quatro: Ignorar a</p><p>sua própria ignorância; conhecer a sua Ignorância,</p><p>ignorar o seu saber e conhecer o seu saber. Teve</p><p>vários seguidores, causou muita irritação por suas</p><p>Anotações:</p><p>17</p><p>"ideias pervertidas" e foi condenado à morte por</p><p>envenenamento. Poderia ter fugido da prisão, ter</p><p>pedido clemência ou ainda ter saído de Atenas,mas</p><p>simplesmente não quis, tornando-se o primeiro</p><p>mártir da Filosofia.</p><p>Após Sócrates temos alguns filósofos cujas</p><p>ideias foram de extrema importância para que a</p><p>Psicologia se destacasse. Por exemplo, Platão,</p><p>Aristóteles e outros filósofos gregos preocupavam-</p><p>se com muitos dos problemas que hoje cabe aos</p><p>Psicólogos tentarem explicar: a memória, a apren‐</p><p>dizagem, a percepção, a motivação, os sonhos e,</p><p>principalmente, o comportamento anormal.</p><p>PSICOLOGIA MODERNA</p><p>Até o século XVII, os filósofos estudavam a</p><p>natureza humana mediante a especulação, a</p><p>intuição e a generalização, porque baseavam-se na</p><p>sua pouca experiência. Até este período, o homem</p><p>olhava para o passado, a fim de obter as suas</p><p>respostas. Somente aplicavam instrumentos e</p><p>métodos científicos que já se tinham mostrado</p><p>eficazes nas ciências físicas e biológicas. Contudo,</p><p>ocorreu uma transformação substancial nos seus</p><p>estudos, fazendo, assim, um estudo essencial‐</p><p>mente científico, apoiado em observações e</p><p>experimentações cuidadosamente controladas</p><p>para estudar a mente humana, fazendo com que a</p><p>Psicologia alcançasse uma identidade que a distin‐</p><p>guiria das suas raízes filosóficas.</p><p>Quando o empirismo se tornou dominante,</p><p>surgiu uma nova desconfiança sobre todo o conhe‐</p><p>cimento até então obtido, dos conceitos e da visão</p><p>Anotações:</p><p>18</p><p>que se tinha das coisas, dos dogmas filosóficos e</p><p>teológicos do passado, aos quais a ciência estava</p><p>presa. Vários homens contribuíram na elaboração</p><p>de questões, tão importantes para a mudança.</p><p>Dentre eles, um destacou -se por contribuir direta‐</p><p>mente para a história da Psicologia Moderna, liber‐</p><p>tando-nos dos dogmas teológicos e tradicionais</p><p>rígidos que dominaram desde a época aristotélica.</p><p>Esse grande homem, que simboliza a transição da</p><p>Renascença para o período moderno da ciência e</p><p>que representa os primórdios da Psicologia Mo‐</p><p>derna, foi René Descartes.</p><p>Amaior contribuição de Descartes para a His‐</p><p>tória da psicologia Moderna foi a tentativa de</p><p>resolver o problema corpo e mente, que era uma</p><p>questão controversa e que perdurava desde o</p><p>tempodePlatão, sendo que amaioria dos pensado‐</p><p>res deixaramde adotar uma visãomonista (mente e</p><p>corpo como sendo uma só entidade) e adotaram a</p><p>sua posição dualista:mente e corpo sendo de natu‐</p><p>rezas distintas. Contudo, esta posição cartesiana</p><p>implicava umaoutra questão: Qual é a relação entre</p><p>mente e corpo? A mente e o corpo influenciam-se</p><p>mutuamente ou só a mente influenciava o corpo</p><p>conforme se pensava até então?</p><p>Descartes “absorveu” a posição dualista, mas</p><p>defendia que a interação entre mente e corpo era</p><p>muitomaior que se imaginava e que não só amente</p><p>poderia influenciar o corpo, mas o corpo também</p><p>influenciava amente de um a formamuito maior do</p><p>que se imaginava até então. Descartes argumentou</p><p>que a função da mente era somente a do pensa‐</p><p>mento e que todos os outros processos eram</p><p>realizados pelo corpo. Mente e corpo, apesar de</p><p>serem duas entidades distintas, são capazes de</p><p>Anotações:</p><p>19</p><p>exercer influênciasmútuase interagir noorganismo</p><p>humano. Essa teoria foi chamadade interacionismo</p><p>mente-corpo, uma vez que o corpo está separado</p><p>da mente e é formado por matéria física, esse deve</p><p>compartilhar então as suas características com</p><p>todas as leis da Física que explicam a ação e o</p><p>movimento.</p><p>Após Descartes, a ciência moderna e a psico‐</p><p>logia desenvolveram-se rapidamente e, emmeados</p><p>do século XIX, o pensamento europeu foi impreg‐</p><p>nado por um novo espírito: o Positivismo. Esse</p><p>nome foi obra de Auguste Comte que para tornar os</p><p>seus conceitos osmais viáveis possíveis, limitou-se</p><p>nessa obra a apenas fatos cujas verdades estavam</p><p>acima de qualquer suspeita, ou seja, somente aos</p><p>fatos que poderiam ser comprovados cientifica‐</p><p>mente, observáveis e indiscutíveis. Esse espírito</p><p>materialista gerou ideias de que a consciência</p><p>poderia ser explicada através em termos da Física e</p><p>da Química e os investigadores neste campo con‐</p><p>centraram-se na estrutura anatômica e fisiológica</p><p>do cérebro.</p><p>Positivismo, materialismo e empirismo con‐</p><p>verteram-se nos alicerces filosóficos de uma nova</p><p>psicologia, emqueos fenômenospsicológicoseram</p><p>constituídos de provas fatuais, observacionais e</p><p>quantitativas, sempre baseados na experiência</p><p>sensorial. O método dos empiristas apoiava-se</p><p>completamente na observação objetiva e na expe‐</p><p>rimentação, e diz que a mente se desenvolve atra‐</p><p>vés da acumulação progressiva das experiências</p><p>sensoriais. Desta forma, é nítido que estas ideias</p><p>foram de encontro às teorias de Descartes, que</p><p>dizia que algumas ideias eram inatas.</p><p>Anotações:</p><p>20</p><p>Os cientistas, no final do século XIX, passaram</p><p>então à investigação e estudo dos órgãos dos sen‐</p><p>tidos, através dos quais, recebemos as informações</p><p>acerca do mundo externo e temos as sensações e</p><p>percepções. Vários foram os cientistas que recor‐</p><p>reram ao método experimental para estudo da</p><p>psicologia e realizaram estudos sobre o comporta‐</p><p>mento, os movimentos voluntários, involuntários e</p><p>os movimentos reflexos. Na Alemanha, tivemos</p><p>quatro que são responsáveis diretos pelas primeiras</p><p>aplicações desse método: Hermann von Helmholtz,</p><p>Ernest Weber,Gustav T.Fechner e Wilhelm Wundt.</p><p>Todos eles estavam integrados com o desenvolvi‐</p><p>mento da fisiologia e da ciência que ocorreu na</p><p>metade do século XIX. Os seus trabalhos foram</p><p>decisivos para a fundação da Nova Psicologia.</p><p>NOÇÕES GERAIS DE PSICOLOGIA</p><p>No sentido etimológico, a psicologia é a</p><p>ciência da alma ou estudo da alma, seu nome é</p><p>composto pelo prefixo grego psique (alma, mente)</p><p>e logos (ciência, estudo). Assim, em outras pala‐</p><p>vras, psicologia significa o “estudo da alma ou da</p><p>mente”. É a ciência que investiga o comportamento</p><p>humano e seus processos mentais. Teles (2003, p.</p><p>9) a define como ”a ciência que busca compreender</p><p>o homem e seu comportamento, para facilitar a</p><p>convivência consigo próprio e com os o outro.</p><p>Pretende-se fornecer subsídios para que ele saiba</p><p>lidar consigo e com as experiências de vida”.</p><p>Os psicólogos estudam os mais variados</p><p>assuntos, entre eles: o desenvolvimento, as bases</p><p>fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a</p><p>Anotações:</p><p>21</p><p>percepção, a consciência, a memória, o pensa‐</p><p>mento, a linguagem, a motivação, a inteligência, a</p><p>personalidade, o ajustamento, o comportamento</p><p>anormal, o tratamento do comportamento anormal,</p><p>as influências sociais, o comportamento social,</p><p>etc. A psicologia é uma área frequentemente apli‐</p><p>cada na indústria, na educação, na Engenharia, na</p><p>saúde, entre outras áreas.</p><p>O futuro profissional da saúde precisa desses</p><p>conhecimentos de psicologia, pois estará emcons‐</p><p>tante contato com outras pessoas. Além disso,</p><p>esses conhecimentos lhe ajudam na reflexão dos</p><p>seus próprios problemas, porque não tem como</p><p>ajudar outra pessoa a se sentir bem, se não estiver</p><p>bem consigo mesmo. Qualquer pessoa</p><p>que queira</p><p>ingressar na área da saúde precisa conhecer as</p><p>pessoas e antes de tudo, a si próprio.</p><p>O Objeto de Estuda da Psicologia</p><p>Há na psicologia uma diversidade de objetos</p><p>de estudo e isso se explica pelo fato de que este</p><p>campo do conhecimento ter sido constituído como</p><p>área do conhecimento científico muito recente‐</p><p>mente (final do século XIX). Quando uma ciência é</p><p>muito nova, ela não teve tempo ainda de apresentar</p><p>teorias acabadas e definitivas, que permitam de‐</p><p>terminar commaior precisão seu objeto de estudo.</p><p>Outromotivo que contribui para dificultar umaclara</p><p>definição de objeto da Psicologia é o fato de o cien‐</p><p>tista confundir-se com o objeto a ser pesquisado.</p><p>No sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psi‐</p><p>cologia é o homem, e neste caso o pesquisador está</p><p>inserido na categoria a ser estudada.</p><p>Anotações:</p><p>22</p><p>O objeto de estudo ainda sobre variações de</p><p>acordo com a teoria de quem é interpelado, se</p><p>dermos a palavra a um psicólogo comportamenta‐</p><p>lista, ele dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o</p><p>comportamento humano”. Se a palavra for dada a</p><p>um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de</p><p>estudo da Psicologia é o inconsciente”. Outros</p><p>dirão que é a consciência humana, e outros, ainda,</p><p>a personalidade.</p><p>Psicologia do Senso comum X Psicologia</p><p>enquanto ciência</p><p>Do senso comum à ciência, a Psicologia</p><p>trilhou um longo caminho. Contudo, ainda hoje é</p><p>comum as pessoas tentarem analisar o próprio</p><p>comportamento e o de outras pessoas. Não raro,</p><p>alguns profissionais dizem usar a psicologia com</p><p>seus clientes em função de conversarem com eles</p><p>e de os ouvirem quando lhes prestam algum</p><p>serviço. O senso comum entende que ouvir o outro</p><p>é o trabalho do psicólogo. No entanto, a escuta de</p><p>um leigo é totalmente diferente da escuta do</p><p>profissional de Psicologia. Este se prepara para</p><p>compreender a complexidade do indivíduo, a</p><p>formação da personalidade e os diversos fatores</p><p>que influenciam o comportamento.</p><p>A escuta e a fala do psicólogo se distanciam</p><p>enormemente das conversas informais. De acordo</p><p>comDavidoff (2003), o que diferencia a escuta leiga</p><p>da psicológica é que o senso comum é orientado</p><p>pela intuição, e a escuta psicológica baseia-se em</p><p>princípios científicos. Vale ressaltar que o termo</p><p>intuição, como tratado por Davidoff (2003), não tem</p><p>Anotações:</p><p>23</p><p>relação com o método intuitivo de Bergson (1972).</p><p>Este filósofo francês compreende a intuição por</p><p>meio da perspectiva constituída pela racionalidade,</p><p>portanto, uma faculdade de conhecimento.</p><p>A Psicologia é a ciência que estuda o com‐</p><p>portamento humano a partir da compreensão da</p><p>subjetividade do indivíduo, de sua constituição</p><p>biológica e das relações interpessoais construídas</p><p>no meio que o circunda. A ciência psicológica, no</p><p>entanto, foi precedida pelo pensamento psicoló‐</p><p>gico. Considera-se pensamento psicológico a</p><p>forma de compreender o indivíduo a partir dos</p><p>aspectos biológicos que ligam o comportamento</p><p>humano aos fatores neurológicos e biológicos.</p><p>Nesse sentido, a mente estaria subordinada à</p><p>Biologia, enquanto o corpo estaria submetido aos</p><p>comandos recebidos do sistema neuronal.</p><p>O pensamento psicológico defende, portanto,</p><p>uma ideia de indivíduo diferente da adotada pela</p><p>psicologia atual, a qual compreende o homem</p><p>enquanto um ser singular, dotado de possibilidades</p><p>de respostas às demandas que recebe. Entende-se</p><p>por ciência um método de investigação que visa</p><p>avaliar evidências e verificar princípios. A ciência</p><p>psicológica dispõe de um corpo de conhecimento</p><p>consolidado, integrado e coerente, a partir do qual</p><p>explica e descreve o comportamento humano e os</p><p>processos mentais (DAVIDOFF, 2003).</p><p>O campo do estudo psicológico alcançou o</p><p>grau de ciência independente, como já citado ante‐</p><p>riormente, no século XIX, a partir dos trabalhos de</p><p>Wilhelm Wundt. O marco da Psicologia enquanto</p><p>ciência foi a construção do laboratório de pesquisa</p><p>deWundt na Universidade de Leipzig, na Alemanha,</p><p>em 1875. Além de estudar os fenômenos mentais, o</p><p>Anotações:</p><p>24</p><p>pesquisador orientava estudantes oriundos de di‐</p><p>versas partes do mundo. Esses alunos, ao voltarem</p><p>para seus países de origem, disseminaramas ideias</p><p>deWundt. O laboratório recebeuo título dePrimeiro</p><p>Centro Internacional de Formação de Psicólogos.</p><p>Figura 1: Wundt em seu laboratório, Universidade de Leipzig</p><p>Fonte:. Acesso em: 25mai. 2020</p><p>AS TRÊS PRINCIPAIS TEORIAS DA</p><p>PSICOLOGIA MODERNA</p><p>Behaviorismo ou comportamentalismo</p><p>As teorias comportamentalistas, ou o behavi‐</p><p>orismo, é uma teoria psicológica que objetiva</p><p>estudar a psicologia através do comportamento</p><p>observável e susceptível de ser medido. Para essa</p><p>corrente, o comportamento éobservável,mensurá‐</p><p>vel e controlável cientificamente, tal como</p><p>acontece com os fatos estudados pelas ciências</p><p>Anotações:</p><p>25</p><p>naturais e exatas. Baseado no condicionamento</p><p>clássicode IvanPavlov, JohnBroadusWatson (1878-</p><p>1958) foi considerado o pai do behaviorismo ao</p><p>defender a Psicologia como um ramo puramente</p><p>objetivo e experimental das ciências naturais, a</p><p>aprendizagem é uma modificação do comporta‐</p><p>mento provocado por um estímulo proveniente do</p><p>meio envolvente. Assim, de acordo com esta cor‐</p><p>rente e no contexto da FCT, é necessário que se</p><p>criem estímulos que possibilitem a aprendizagem</p><p>do formando, visto que a aprendizagem implica uma</p><p>conexão necessária entre estímulos e respostas.</p><p>Skinner, o teórico mais importante desta</p><p>corrente, sublinha a importância das respostas e</p><p>das suas consequências no processo de aprendi‐</p><p>zagem. Desenvolveu o que ficou conhecido por</p><p>Condicionamento Operante, segundo o qual o</p><p>comportamento que produz efeitos agradáveis</p><p>tende a tornar-se mais frequente, enquanto que o</p><p>comportamento que produz efeitos adversos</p><p>tende a tornar-se menos frequente. Em síntese, se</p><p>uma resposta for compensada é fortalecida e</p><p>tende a manter-se; o que significa que a aprendi‐</p><p>zagem depende de consequências. O reforço, que</p><p>assume uma importância basilar na teoria de</p><p>Skinner, é uma consequência de um comporta‐</p><p>mento que condiciona a repetição ou a extinção</p><p>desse comportamento. Skinner identificou 3 tipos</p><p>de reforços:</p><p>ReforçoPositivo: consequência (feedback) de</p><p>um comportamento que tem consequências agra‐</p><p>dáveis para o indivíduo, pelo que funciona como</p><p>mecanismo para manter e fortalecer a resposta.</p><p>Exemplo: O elogio do tutor ao bom desempenho do</p><p>formando que executou corretamente uma tarefa,</p><p>Anotações:</p><p>26</p><p>em virtude da atenção que prestou, terá como con‐</p><p>sequência o fortalecimento da atenção e do</p><p>interesse do formando no período de FCT.</p><p>Reforço negativo: o reforço negativo é um</p><p>estímulo que prevê consequências não desejadas</p><p>pelo indivíduo. Esse tipo de reforço pretende</p><p>enfraquecer um comportamento em proveito de</p><p>outro, retirando um estímulo agradável. O estímulo</p><p>negativo é devolvido após a obtenção da resposta</p><p>pretendida. Exemplo: O chefe de equipe reclama</p><p>com o trabalhador até este cumprir uma certa</p><p>regra ou tarefa de forma correta. Após cumpri-la, o</p><p>trabalhador escapa às reclamações (reforçando o</p><p>comportamento desejado).</p><p>Punição/Castigo: a punição visa reduzir a</p><p>probabilidade que um determinado comporta‐</p><p>mento volta a ocorrer. Refere-se, em termos</p><p>conceptuais, a um estímulo que é dado após um</p><p>determinado comportamento não desejado, com</p><p>vista à extinção deste mesmo comportamento</p><p>através de consequências que são desagradáveis</p><p>para o indivíduo. Exemplo: Tomada de medidas</p><p>coercivas para uma pessoa que ignorou as normas</p><p>de higiene e segurança, gerando uma situação de</p><p>perigo para ela e para os colegas de trabalho.</p><p>A punição difere do reforço negativo no sen‐</p><p>tido que não modifica o comportamento de quem a</p><p>promove, nem - a longo prazo - de quem a recebe.</p><p>Por exemplo, a punição de ser preso nãomodifica o</p><p>comportamento do punido. Skinner defendeu o uso</p><p>de reforços positivos (recompensas), como uma</p><p>alternativa positiva às punições e aos esquemas</p><p>repressivos, perante um comportamento correto,</p><p>defendendo que émais eficaz pedagogicamente.</p><p>Anotações:</p><p>27</p><p>GESTALT</p><p>A Gestalt é uma corrente teórica dentro</p><p>da</p><p>história da Psicologia. Seus articuladores se</p><p>preocuparam em construir não só uma teoria</p><p>consciente, mas também uma base metodológica</p><p>forte, que garantisse a consistência teórica. É um</p><p>termo alemão. Em português, significa forma ou</p><p>configuração, porém não é muito utilizado em</p><p>Psicologia por não condizer com seu significado</p><p>nesta área especificamente.</p><p>O princípio da Gestalt foi desenvolvido no</p><p>início do século XX por dois famosos teóricos:</p><p>Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Eles observaram</p><p>que a mente humana tem um comportamento bem</p><p>padronizado ao perceber as formas vistas nos</p><p>objetos, nas pessoas, nos cenários e em tudo o que</p><p>enxergamos. O princípio básico da Gestalt, em</p><p>termos mais gerais, é um conjunto de entidades</p><p>físicas, biológicas, fisiológicas ou simbólicas que</p><p>juntas formam um conceito, padrão ou configura‐</p><p>ção unificado que é maior do que a soma de suas</p><p>partes.</p><p>Os gestaltistas afirmam que, ao receber um</p><p>estímulo visual, nosso cérebro não recebe uma</p><p>excitação sensorial isolada, mas vários sinais</p><p>complexos que agrupam todas as características</p><p>que consideramos semelhantes, somando rapida‐</p><p>mente todas as partes do item visto. Isso significa</p><p>que, à primeira vista, percebemos os objetos em</p><p>sua totalidade para só depois nos atentarmos aos</p><p>detalhes. Essa teoria é facilmente comprovada por</p><p>ações da nossa rotina: ver desenhos nas nuvens e</p><p>formas (de cruz, de animais e formas geométricas)</p><p>Anotações:</p><p>28</p><p>nas constelações são exemplos disso. A Gestalt</p><p>aplicada na percepção de objetos possui oito leis</p><p>básicas. Inclusive, é possível que você já as tenha</p><p>utilizado em alguma criação gráfica sem nem ter</p><p>ideia dos seus reais significados.</p><p>Lei da Unidade</p><p>Fonte:.</p><p>Acesso em: 28mai. 2020</p><p>A lei da unidade consiste em afirmar que a</p><p>percepção de umelemento pode ser construída por</p><p>uma ou até mesmo várias partes que constroem o</p><p>todo. Sendo assim, uma unidade é percebida como</p><p>um elemento único. Essa lei se faz presente em di‐</p><p>versas criações publicitárias famosas, uma delas é</p><p>o logo da Adidas. A disposição de faixas retangula‐</p><p>res cortadas do símbolo é um exemplo fiel de como</p><p>uma composição original pode ser feita a partir de</p><p>pequenas unidades já existentes.</p><p>Lei da Segregação</p><p>Fonte:. Acesso em: 28</p><p>mai. 2020</p><p>Mais estimulação</p><p>Máximo de contraste</p><p>Menos estimulação</p><p>Médio de contraste</p><p>Anotações:</p><p>29</p><p>Esta lei foca na capacidade perceptiva de</p><p>isolar, evidenciar ou identificar objetos, ainda que</p><p>sobrepostos, dentro de uma composição. Isso</p><p>acontece por causa da variação estética (cor,</p><p>textura, sombra, brilho, etc) que um elemento</p><p>possui em relação ao outro. Na construção de</p><p>anúncios, pôsteres e identidade visual demarcas é</p><p>muito comum o uso de contrastes para obtenção</p><p>de uma leitura visual impactante emelhor entendi‐</p><p>mento pelo público. Também é possível estabele‐</p><p>cer “níveis” de segregação, hierarquizando os</p><p>objetos na imagem para valorizar uma parte mais</p><p>importante em relação à outra.</p><p>Lei da Unificação</p><p>Fonte: Acesso em: 28</p><p>mai. 2020</p><p>A unificação pode ser definida pela igualdade</p><p>ou equilíbrio de estímulos em todos os elementos</p><p>de uma determinada composição, desta forma,</p><p>tem-se um objeto coerente e harmonizado. Símbo‐</p><p>los como o yin-yang e as mandalas são exemplos</p><p>desse tipo de lei. Eles utilizam uma proporção ba‐</p><p>lanceada de proximidade e semelhança para criar a</p><p>imagem de um todo harmônico e agradável aos</p><p>olhos.</p><p>Anotações:</p><p>30</p><p>Lei do Fechamento</p><p>Fonte: Acesso em: 28mai. 2020</p><p>Esta é uma dasmais aplicadas leis da gestalt.</p><p>É possível encontrá-la emdiversos logotipos famo‐</p><p>sos, tais como: Carrefour, NBC e Johnnie Walker,</p><p>entre outros. A lei do fechamento parte do princí‐</p><p>pio de que o nosso cérebro “fecha” a formação de</p><p>imagens completas quando vemos apenas formas</p><p>inacabadas ou silhuetas. Isso significa que, ao</p><p>deixar a mente se guiar pela continuidade de uma</p><p>forma, ela já é capaz de prever toda a sua estrutura</p><p>sozinha.</p><p>Lei da Continuidade</p><p>Fonte: Acesso em: 28mai. 2020</p><p>Anotações:</p><p>31</p><p>A continuidade diz respeito à forma como a</p><p>sucessão de elementos e o fluxo de informações</p><p>funciona em nosso cérebro. Ela representa, ainda,</p><p>a tendência de que objetos acompanhem outros no</p><p>sentido de alcançar uma forma — seja pelo uso de</p><p>cores, volumes, texturas e formas estruturalmente</p><p>estáveis. Muito presente na arquitetura de edifícios</p><p>grandes, escalas de cores e diagramação de textos,</p><p>a continuidade procura estabelecer a melhor</p><p>percepção possível aos olhos.</p><p>Lei da Proximidade</p><p>Fonte: Acesso em: 28mai. 2020</p><p>Elementos distintos que se posicionam de</p><p>formas muito próximas uns dos outros tendem a</p><p>ser percebidos juntos, consequentemente, tam‐</p><p>bém são interpretados como apenas uma unidade.</p><p>Essa impressão é ainda mais forte quando esses</p><p>elementos são semelhantes. Vários publicitários e</p><p>arquitetos usam esta estratégia para unificar for‐</p><p>mas. Os exemplos então tanto em algumas logos</p><p>famosas (como IBM e Unilever) quanto em detalhes</p><p>de construções — como cúpulas de igrejas ou gran‐</p><p>des edifícios com janelas padronizadas e paralelas.</p><p>Anotações:</p><p>3232</p><p>Lei da Semelhança</p><p>Fonte: Acesso em: 28mai. 2020</p><p>Aqueles objetos que possuem formas, cores</p><p>ou aparência geral semelhante também tendem a</p><p>ser interpretados como uma só unidade. Na publi‐</p><p>cidade, essa lei é utilizada para criar releituras a</p><p>partir do agrupamento de outras formas que são</p><p>iguais ou parecidas entre si.</p><p>Lei da Pregnância</p><p>Anotações:</p><p>3333</p><p>Essa lei (também conhecida como “boa</p><p>forma”) nada mais é do que o princípio básico da</p><p>percepção visual da Gestalt. Sempre enxergamos a</p><p>composição visual geral como um todo antes de</p><p>nos aprofundarmos nos seus elementos mais</p><p>complexos. Assim, existem composições que seu</p><p>cérebro consegue ler rapidamente e com clareza,</p><p>pois são homogêneas e harmônicas. Os objetos que</p><p>possuem essas características são classificados</p><p>como de alta pregnância. Por outro lado, um objeto</p><p>de baixa pregnância tende a ter uma organização</p><p>visual complicada e confusa. Sendo assim, é</p><p>possível afirmar que quanto maior for a pregnância</p><p>da forma, mais eficiente será a comunicação com o</p><p>seu receptor.</p><p>PSICANÁLISE</p><p>O pai da teoria da psicanálise é Sigmund</p><p>Freud (1856-1939). A psicanálise em primeiro lugar,</p><p>é uma teoria que pretende explicar o funcionamen‐</p><p>to da mente humana. Além disso, a partir dessa</p><p>explicação, ela se transforma num método de</p><p>tratamento de diversos transtornos mentais. São</p><p>dois os fundamentos da teoria psicanalítica: 1) os</p><p>processos psíquicos são em sua imensa maioria</p><p>inconscientes, a consciência não é mais do que</p><p>uma fração de nossa vida psíquica total; 2) os</p><p>processos psíquicos inconscientes são dominados</p><p>por nossas tendências sexuais.</p><p>Segundo Colich (2005), Freud procurou</p><p>construir uma ciência explanatória que pudesse</p><p>provar seus achados, encontrando seus fatores e</p><p>agentes causais, organizados em forma de leis e</p><p>Anotações:</p><p>34</p><p>princípios gerais. Olhava o cérebro e amente como</p><p>fenomenologicamente idênticos e estava preocu‐</p><p>pado com o modelo neurofisiológico, a hidrostase,</p><p>a termodinâmica e o conceito darwiniano de</p><p>evolução da mente. Isso influenciou de forma</p><p>decisiva o modelo de inconsciente construído por</p><p>Freud, estabelecendo a centralidade dos conceitos</p><p>de pulsão (formulação teórica para tentar expres‐</p><p>sar a transformação de estímulos em elementos</p><p>psíquicos) e recalque. Decorre daí formulações</p><p>sobre “investimento”,</p><p>“representação”, “resistên‐</p><p>cia”, “defesas”, fases do desenvolvimento da libido”,</p><p>“a teoria inicial sobre ansiedade”, a “transferência”</p><p>como revivência de uma memória passada, e a</p><p>“realidade psíquica”.</p><p>Primeiro fundamento da teoria</p><p>A primeira concepção do aparelho psíquico</p><p>formulado por Freud, conhecida como Primeira</p><p>Tópica, essa era dividida em Inconsciente, Pré-</p><p>Consciente e Consciente. O inconsciente é a ins‐</p><p>tância mais profunda e inacessível ao sujeito de</p><p>maneira voluntária, em que existem os conteúdos</p><p>"desconhecidos", aquilo que o sujeito sabe,mas não</p><p>sabe que sabe. No pré-consciente estão os conteú‐</p><p>dos que não estão na consciência no exato</p><p>momento, porém podem ser acessados, ou seja,</p><p>podem tornar-se facilmente conscientes. Segundo</p><p>Freud (1996), o estar consciente é um fenômenoque</p><p>repousa na percepção do caráter mais imediato,</p><p>sendo um estado transitório, caracteristicamente.</p><p>Uma ideia que esteja consciente em um momento,</p><p>em outro não o está mais, porém pode vir a tornar-</p><p>Anotações:</p><p>35</p><p>se consciente novamente em certas condições,</p><p>facilmente ocasionadas. Outro conceito central da</p><p>psicanálise desenvolvido ainda neste primeiro</p><p>momento, foi a ideia de uma energia erótica que</p><p>possibilita a vida, denominou-a libido.</p><p>Segundo fundamento da teoria</p><p>A segunda teoria do funcionamento do</p><p>psiquismo, a sua Segunda Tópica. Essa é, talvez, a</p><p>mais conhecida e popular atualmente por termos</p><p>que se popularizaram, como Id, Ego e Superego. A</p><p>Segunda Tópica se apresenta um tanto mais</p><p>complexa. O Id (ou Isso) é a fonte da energia pulsio‐</p><p>nal (libido), sendo inconsciente, é a instância que</p><p>busca a satisfação imediata/eliminação do des‐</p><p>prazer. O Superego (Super Eu) é em partes consci‐</p><p>ente e em partes inconsciente, sendo herdeiro do</p><p>Complexo de Édipo, é a instância da moral e da</p><p>cultura.</p><p>No meio das duas instâncias supramenciona‐</p><p>das encontra-se o Ego (Eu), regido pelo Princípio da</p><p>Realidade, é intermediador entre a busca imediata</p><p>de satisfação do Id, as sanções do Superego e as</p><p>possibilidades impostas pela realidade externa. O</p><p>Ego está ligado ao Princípio da Realidade, assim</p><p>como o Id está ao Princípio do Prazer. O Ego é que</p><p>mantém o equilíbrio psíquico, tendo como fito a au‐</p><p>topreservação, este não consente que algumas exi‐</p><p>gências sejam, nem mesmo, desejadas de maneira</p><p>consciente. Enquanto o superego acusa o id, o ego</p><p>tenta reprimi-las antes mesmo de chegarem à</p><p>consciência, gerando sentimento de culpa, em um</p><p>mecanismo conhecido como recalcamento.</p><p>36</p><p>Para manter o equilíbrio das tensões, o ego</p><p>lança mão de uma série de estratégias ou padrões</p><p>na forma como lida com as pulsões, conhecidos</p><p>como mecanismos de defesa do ego, que incluem</p><p>substituição do objeto do prazer por outro acessível</p><p>ou possível, ressignificação de desejos negativos,</p><p>dentre outros. O modo como esses mecanismos de</p><p>defesa atuam, podem ser mais ou menos funcio‐</p><p>nais e levar a níveis de sofrimento psíquicos mais</p><p>elevados pela não vivência da experiência da satis‐</p><p>fação dos desejos primordiais advindos do Id.</p><p>Anotações:</p><p>37</p><p>Videoaula 1</p><p>Videoaula 2</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>2</p><p>40</p><p>41</p><p>DEFINIÇÃO DA</p><p>PSICOLOGIA DA</p><p>SAÚDE</p><p>A Psicologia da Saúde é um ramo da</p><p>Psicologia que aplica princípios e pesqui‐</p><p>sas psicológicas para melhoria, trata‐</p><p>mento e prevenção de doenças. Inclui</p><p>como variáveis de interesse as condições</p><p>sociais (comodisponibilidade de serviços</p><p>de saúde), os fatores biológicos (como</p><p>longevidade da família e suas vulnerabili‐</p><p>dades hereditárias a certas doenças) e</p><p>atémesmo os traços de personalidade ou</p><p>padrões de personalidade ou padrões de</p><p>comportamentos (como extroversão e</p><p>sociabilidade) (STRAUB, 2005).</p><p>42</p><p>Anotações: AAssociaçãoAmericana dePsicologia definiu</p><p>a Psicologia da saúde como a área que aplica co‐</p><p>nhecimentos científicos sobre as inter-relações</p><p>entre componentes comportamentais, emocio‐</p><p>nais, cognitivos, sociais e biológicos da saúde e da</p><p>doença, para manutenção da saúde; prevenção,</p><p>tratamento, reabilitação da doença e da incapaci‐</p><p>dade; e para melhorar o sistema de saúde (APA,</p><p>2013).</p><p>A Psicologia da saúde abrange o ensino e a</p><p>prática de qualquer tipo de fenômeno de saúde e</p><p>interações entre pessoas, como as relações profis‐</p><p>sionais-pacientes, as relações humanas dentro de</p><p>umade instituição de saúde, a questão das doenças</p><p>agudas e crônicas, o papel das reações adaptativas</p><p>ao adoecer, a perda, amorte e os recursos terapêu‐</p><p>ticos (MIYAZAKI et al, 2011). Aplicada à saúde, a</p><p>Psicologia tem como objetivo apresentar como a</p><p>psicologia compreende o ser humano e sua relação</p><p>com os processos de saúde e doença; possibilitar a</p><p>compreensão das variáveis que interferem na</p><p>formação de sintomas e nos comportamentos de</p><p>saúde; e abrir espaço para discussão da relação</p><p>entre profissional de saúde e o paciente.</p><p>A PSICOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA</p><p>BIOPSICOSSOCIAL</p><p>Ela pode auxiliar na reflexão sobre o processo</p><p>saúde-doença, na compreensão do homem como</p><p>ser integral (biopsicossocial), na discussão sobre</p><p>os limites da atuação profissional e na problemati‐</p><p>zação de discursos científicos-hegemônicos,</p><p>buscando a construção de uma relação de vínculo</p><p>43</p><p>Anotações:profissional-paciente que gere novos discursos e,</p><p>com isso, construa novas prática profissionais e de</p><p>saúde. Segundo Straub (2005), reflete que procu‐</p><p>rar apenas um fator causal produz uma imagem</p><p>incompleta da saúde e da doença de uma pessoa.</p><p>Nesse âmbito, a Psicologia aplicada à saúde mos‐</p><p>tra que os profissionais de saúde precisam traba‐</p><p>lhar a partir de uma perspectiva biopsicossocial</p><p>(mente-corpo). Essa perspectiva reconhece que</p><p>forças biológicas, psicológicas e socioculturais</p><p>agem em conjunto para determinar a saúde e a</p><p>vulnerabilidade do indivíduo à doença; ou seja, a</p><p>saúde e a doença devem ser explicadas em relação</p><p>a contextos múltiplos.</p><p>De forma geral, a perspectiva biopsicossocial</p><p>garante-se uma visão holística do sujeito em suas</p><p>relações e em seu estado emocional, porém, sem</p><p>negar o biológico, no qual amaioria das doenças se</p><p>manifesta. Qualquer doença altera a atuação</p><p>interpessoal e social do indivíduo e tanto maior</p><p>será essa alteração conforme for o valor físico,</p><p>emocional e intelectual que a doença representa</p><p>para o paciente e seus familiares.</p><p>A PRÉ-HISTÓRIA DA PSICOLOGIA DA</p><p>SAÚDE, DA SAÚDE E DA DOENÇA</p><p>A Psicologia da Saúde foi criada com objetivo</p><p>de estudar, de forma científica, as causas e origens</p><p>de determinadas doenças, principalmente, as de</p><p>origens psicológicas, comportamentais e sociais</p><p>da doença. Ela busca investigar a razão das pesso‐</p><p>as se envolverem em comportamentos que com‐</p><p>prometem a saúde, como fumar e sexo inseguro, e</p><p>44</p><p>Anotações: como facilitar a prática de comportamentos que</p><p>pode preservar, restabelecer ou promover a saúde,</p><p>como ter uma alimentação saudável e praticar</p><p>exercícios físicos.</p><p>Também preocupa-se com a prevenção e tra‐</p><p>tamento de doenças, por meio de programas que</p><p>auxiliem no processo de adaptação à enfermidade</p><p>e estratégias para facilitar a adesão ao tratamento.</p><p>Alguns fatores contribuíram para o surgimento de</p><p>um campo da Psicologia que se ocupasse exclusi‐</p><p>vamente de investigar e promover saúde. Segundo</p><p>Straub (2005), são quatro tendências que desafiam</p><p>amedicina e a saúde pública e impulsionaram a cri‐</p><p>ação da psicologia da saúde:</p><p>Aumento da expectativa de vida: com a</p><p>melhoria dos serviços de saúde e os avanços da</p><p>medicina, a expectativa de vida aumentou na mai‐</p><p>oria dos países. Com as pessoas vivendo mais,</p><p>existe maior consciência pública das questões</p><p>relacionadas com saúde e a preocupação com as</p><p>questões psicológicas.</p><p>Surgimento de transtornos relacionados ao</p><p>estilo de vida: até o século 19, as pessoas morriam</p><p>de doenças que eram causadas por falta de água</p><p>potável, por alimentos contaminados, ou por infec‐</p><p>ções contraídas no contato com pessoas doentes.</p><p>Não era incomumque centenas oumesmomilhares</p><p>de pessoas morressem em uma única epidemia de</p><p>varíola, febre amarela, difteria, gripe ou sarampo.</p><p>Melhorias em higiene pessoal, nutrição e saúde</p><p>pública (como tratamentos de esgotos) levaram a</p><p>um declínio no número de doenças infecciosas. Po‐</p><p>rém, apenas após a descoberta da penicilina por</p><p>Alexander Fleming, em 1928, a saúde pública deu</p><p>um passo verdadeiramente decisivo. Isso levou a</p><p>45</p><p>Anotações:uma mudança no padrão das principais causas de</p><p>morte que, antes do século XX, eram transtornos</p><p>agudos, como tuberculose, gripe e pneumonia.</p><p>Atualmente, as causas que levamaóbito estão rela‐</p><p>cionadas à doenças crônicas, nas quais a pessoa</p><p>precisa tratar pormuitos anos para prevenirmortes</p><p>prematuras e manter a qualidade de vida (STRAUB,</p><p>2005).</p><p>Modificaçãonomodelo biomédico: os questi‐</p><p>onamentos em relação ao reducionismo do modelo</p><p>biomédico levaram à necessidade de pensar em</p><p>saúde e doença de formamais abrangente. Amedi‐</p><p>cina tradicional encontrou dificuldade para explicar</p><p>o motivo do mesmo conjunto de fatores de risco</p><p>algumas vezes desencadear doenças e outras não.</p><p>Isso induziu os pesquisadores a investigar os fato‐</p><p>respsicológicos, comoamaneira comocadapessoa</p><p>reage ao estresse, por exemplo, se combinam com</p><p>fatores de risco físicos para determinar o risco à</p><p>saúde do indivíduo (MIYAZAKI et al., 2011).</p><p>Aumento dos custos do atendimento em</p><p>saúde: o crescente aumento nos custos dos servi‐</p><p>ços de saúde ajudou a focar a atenção na eficácia</p><p>do custo de promover e manter a saúde. A ênfase</p><p>da psicologia da saúde emmodificar os comporta‐</p><p>mentos de risco das pessoas antes que eles</p><p>causem doenças, têm o potencial de reduzir os</p><p>custos com a saúde de forma expressiva (STRAUB,</p><p>2005).</p><p>O INTERESSE DA PSICOLOGIA PELA</p><p>SAÚDE E DOENÇAS NÃOMENTAIS</p><p>Algo interessante a se ressaltar é: por que o</p><p>aparente interesse inesperado da Psicologia pelas</p><p>46</p><p>Anotações: áreas tradicionais da saúde? SegundoMillon (1982),</p><p>desde os primórdios da Psicologia, havia exemplos</p><p>de colaboração entre os domínios médicos e</p><p>psicológicos: no final do século XIX, são conheci‐</p><p>das as colaborações de Wundt com Kraepelin, nos</p><p>EUA, e de Heymans com Weirsma, na Europa,</p><p>embora essas colaborações focassem primordial‐</p><p>mente as psicopatologias. Já dentro do século XX,</p><p>esboçaram-se relações institucionais entre a</p><p>Psicologia e a Medicina: em 1911, na reunião anual</p><p>da American Psychological Association, houve</p><p>encontros formais entre psicólogos e médicos</p><p>com o intuito de discutir a participação dos profis‐</p><p>sionais de Psicologia nos contextos tradicionais de</p><p>saúde e doenças.</p><p>Apesar destas tentativas, as relações entre</p><p>os dois domíniosmantiveram-se incipientes até ao</p><p>final da década de 70, concluindo o relatório da</p><p>APA task force on health research (1976), que os</p><p>psicólogos americanos não se sentiam atraídos</p><p>pelas áreas das doenças físicas e da saúde. Inespe‐</p><p>radamente, na década de 80, verifica-se uma</p><p>explosão do interesse da psicologia pela área. O</p><p>que é que aconteceu que provocou tal mudança?</p><p>Belar, Deardorff e Kelly (1987) enumeram algumas</p><p>das razões possíveis para este interesse:</p><p>a. Fracasso do modelo biomédico na explica‐</p><p>ção das doenças e da saúde;</p><p>b. Crescimento da preocupação com a</p><p>qualidade de vida e com a prevenção das</p><p>doenças;</p><p>c. Mudança da atenção dos profissionais de</p><p>saúde das doenças infecciosas para as</p><p>doenças crônicas, com o reconhecimento</p><p>47</p><p>Anotações:do papel fundamental que o estilo de vida</p><p>tinha naquelas;</p><p>d. Maturidade da investigação nas ciências</p><p>comportamentais;</p><p>e. Aumento dos custos dos cuidados de saú‐</p><p>de e procura de alternativas aos cuidados</p><p>de saúde tradicionais.</p><p>O PROFISSIONAL DA ÁREA DA SAÚDE</p><p>O conceito de trabalho em saúde poderia ser</p><p>sintetizado em uma única palavra que lhe confere</p><p>singularidade e grandeza: cuidar. O trabalho em</p><p>saúde produz o cuidado que as pessoas necessi‐</p><p>tam em algummomento da vida. Cuidar, diminuir o</p><p>sofrimento, salvar vidas, contribuir na construção</p><p>de uma vida produtiva e feliz, funciona como o</p><p>“cimento simbólico” das organizações de saúde.</p><p>Independentemente de se trabalhar em uma orga‐</p><p>nização muito complexa como um hospital de</p><p>ensino, ou atuando em uma equipe de saúde da</p><p>família, o que dá a identidade de trabalhadores de</p><p>saúde é o fato de que, de um modo ou de outro, o</p><p>trabalho resulta em cuidado.</p><p>São considerados profissionais da saúde toda</p><p>pessoa que trabalha em uma profissão relacionada</p><p>às ciências da saúde. Entre os diversos profissio‐</p><p>nais da área incluem-se os biólogos, nutricionistas,</p><p>médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, osteopa‐</p><p>tas, profissionais de educação física, assistentes</p><p>sociais, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocu‐</p><p>pacionais, psicólogos, biomédicos, farmacêuticos,</p><p>técnicos e tecnólogos em radiologia, agentes de</p><p>saúde pública, entre outros que podem atuar de</p><p>formamultidisciplinar.</p><p>48</p><p>Uma profissão que precisa de um compo‐</p><p>nente chamado “paixão”, sem dúvida nenhuma, é a</p><p>da saúde. A área da Saúde é conhecida pela rotina</p><p>de trabalho árduo e estressante e pela contínua</p><p>pressão de reduzir sofrimentos e salvar vidas. Tal‐</p><p>vez, como futuro profissional da saúde possa estar</p><p>se perguntando: Por que estudar psicologia? Por‐</p><p>que a prática dos profissionais que lidam com</p><p>saúde está intimamente relacionada ao cui‐</p><p>dado e relacionamento com o paciente,</p><p>e, logo, compreendê-lo pode facilitar</p><p>seu trabalho, como também melho‐</p><p>rar a sua qualidade de vida.</p><p>Além disso, a compreensão</p><p>do que é saúde, hoje, destaca</p><p>que, alémde fatores biológicos e</p><p>sociais, ela é determinada, tam‐</p><p>bém, por fatores psicológicos.</p><p>Conforme a Organização Mundial</p><p>de Saúde (OMS), o conceito de</p><p>saúde define-se por um estado</p><p>dinâmico de bem-estar físico, mental,</p><p>espiritual e social e não apenas a ausência</p><p>de doenças, ou seja, o profissional deve</p><p>observar a saúde do indivíduo de forma inte‐</p><p>gral, compreendendo sua complexidade e</p><p>analisando-a sistematicamente.</p><p>O PAPEL DO PROFISSIONAL DA ÁREA DA</p><p>SAÚDE</p><p>Nasúltimasdécadasomundodo trabalho vem</p><p>passando por constantes transformações, a partir</p><p>das quais as profissões vêm ganhando novos</p><p>49</p><p>Anotações:delineamentoseosprofissionais enfrentandonovos</p><p>desafios. Nesse cenário, são consideradas: auto‐</p><p>nomia, ética, vocação, identidade, status, posição</p><p>econômica e reconhecimento dos profissionais. No</p><p>caso da saúde, o trabalho tem especificidades que</p><p>se expressam na sua organização institucional, as</p><p>quais são: a forma de articulação da prestação de</p><p>serviços; o ritmo de avanço das inovações tecnoló‐</p><p>gicas; as atividades altamente especializadas. O</p><p>cuidado do olhar para o profissional da saúde é,</p><p>portanto, um componente fundamental no sistema</p><p>de saúde local, que apresenta os seus reflexos a</p><p>nível regional e nacional e, por isso, tambémmotivo</p><p>de crescentes debates e novas significações.</p><p>Trabalhar em saúde, nos dias atuais, tem se</p><p>tornado um grande desafio a ser superado, devido</p><p>à crescente demanda pelos serviços de saúde</p><p>prestados. Os profissionais de saúde devem</p><p>conhecer o contexto social no qual a população</p><p>está inserida, visto que se trata de um fator essen‐</p><p>cial, pois as ações devem analisar a relação entre a</p><p>saúde da população, as diferentes condições de</p><p>vida e o envolvimento da comunidade. As equipes</p><p>de saúde devem ter cada vezmais carátermultidis‐</p><p>ciplinar, adquirindo, assim, o objetivo de unir os</p><p>diferentes saberes com o propósito de aumentar a</p><p>capacidade resolutiva dos problemas identificados</p><p>pelas equipes de saúde, porque essa inter-relação</p><p>possibilita que a prática de um profissional possa</p><p>somar com a atividade do outro e os resultados</p><p>sejam alcançados demodomais satisfatório.</p><p>O trabalhomultidisciplinar na área da saúde é</p><p>importante, pois favorece o aumento da percepção</p><p>de problemas clínicos, visto que cada um deles</p><p>avalia o paciente objetiva e subjetivamente. Isso</p><p>50</p><p>Anotações: possibilita diferentes abordagens de questões</p><p>específicas e ajuda na escolha das terapias mais</p><p>adequadas. Quando a equipe é formada por muitos</p><p>profissionais, maiores serão as chances de que o</p><p>paciente tenha seu caso investigado demodomais</p><p>detalhado e com mais critério nas decisões. Por</p><p>consequência, essa forma de trabalho eleva a</p><p>qualidade da assistência e possibilita o alcance de</p><p>melhores resultados nos tratamentos.</p><p>Sob o âmbito hierárquico, a multidisciplinari‐</p><p>dade é vista como uma excelente estratégia para</p><p>otimizar</p><p>serviços e processos. Essa equipe precisa</p><p>ser composta por profissionais de diferentes áreas,</p><p>mas que possam somar habilidades e competên‐</p><p>cias para assegurar mais qualidade aos serviços</p><p>oferecidos. As equipes multiprofissionais de saúde</p><p>podem trabalhar diversas iniciativas em prol da</p><p>prevenção e da promoção da saúde. Vale destacar</p><p>mais uma vez, a importância do paciente ser visto</p><p>sob umcontexto biopsicossocial, já que a interação</p><p>mente e corpo influencia bastante os resultados do</p><p>tratamento. Assim, é de suma importância uma</p><p>interação singular e o envolvimento de todos na</p><p>adoção de medidas mais eficazes, uma vez que o</p><p>trabalho em equipe pode se tornar diferenciado ao</p><p>ponto de olhar para o paciente como um todo e</p><p>proporcionar um atendimento mais humanizado.</p><p>51</p><p>Anotações:</p><p>Videoaula 1</p><p>Videoaula 2</p><p>U</p><p>ni</p><p>da</p><p>de</p><p>3</p><p>54</p><p>55</p><p>INTRODUÇÃO SOBRE</p><p>SAÚDE PÚBLICA E</p><p>SAÚDE COLETIVA</p><p>Em 1920, Charles Edward A. Winslow,</p><p>então professor de Medicina Experimental</p><p>da Universidade de Yale, foi procurado por</p><p>dois estudantes da graduação que queriam</p><p>uma orientação sobre as carreiras a seguir.</p><p>Eles estavam particularmente interessados</p><p>em entender o significado de saúde pública.</p><p>Winslow sentiu a necessidade de formular</p><p>uma melhor definição que englobasse as</p><p>tendências e possibilidades dessa estimu‐</p><p>lante área.</p><p>56</p><p>Anotações: Assim, elaborou um artigo para a revista Sci‐</p><p>ence, em que definiu saúde pública da seguinte</p><p>forma:</p><p>Saúde Pública é a ciência e a arte de</p><p>prevenir a doença, prolongar a vida,</p><p>promover a saúde física e a eficiência</p><p>através dos esforços da comunidade</p><p>organizada para o saneamento do</p><p>meio ambiente, o controle das infec‐</p><p>ções comunitárias, a educação dos</p><p>indivíduos nos princípios de higiene</p><p>pessoal, a organização dos serviços</p><p>médicos e de enfermagem para o</p><p>diagnóstico precoce e o tratamento</p><p>preventivo da doença e o desenvolvi‐</p><p>mento damáquina social que assegu‐</p><p>rará a cada indivíduo na comunidade</p><p>um padrão de vida adequado para a</p><p>manutenção da saúde (WINSLOW,</p><p>1920, p. 20).</p><p>As origens da saúde coletiva são situadas por</p><p>Nunes (1994) na década de 1950. Vieira-da-Silva,</p><p>Paim e Schraiber (2014) reforçam o final da década</p><p>de 1970, utilizando como marco o surgimento do</p><p>termo saúde coletiva no Brasil e a criação da</p><p>Associação Brasileira de Pós-Graduação em saúde</p><p>coletiva, sem negar as raízes apontadas por Nunes</p><p>em períodos anteriores. A saúde coletiva consoli‐</p><p>dou-se, então, com esse nome e com suas especi‐</p><p>ficidades no Brasil. Apesar do nome não ter sido</p><p>adotado em outros países, muitos autores perce‐</p><p>bem a saúde coletiva como parte de ummovimento</p><p>mais amplo da América Latina, como aponta o</p><p>próprio Nunes (1994).</p><p>57</p><p>Anotações:No Brasil, as intervenções sobre a saúde da</p><p>coletividade ganham força durante a República</p><p>Velha como estratégia de saneamento dos espaços</p><p>de circulação da economia cafeeira. É a época de</p><p>Oswaldo Cruz e das campanhas sanitárias, em que</p><p>se destacam asmedidas de saneamento voltadas à</p><p>erradicação da febre amarela urbana e a vacinação</p><p>obrigatória contra a varíola. Então, a saúde coletiva</p><p>abrange as necessidades sociais de saúde (e não</p><p>apenas as doenças, os agravos ou os riscos) e</p><p>entende a situação da saúde como um processo</p><p>social (o processo saúde - doença) relacionado à</p><p>estrutura da sociedade. Por fim, a saúde coletiva</p><p>concebe as ações de atenção à saúde como práti‐</p><p>cas simultaneamente técnicas e sociais.</p><p>Ela propõe a superação das intervenções</p><p>sanitárias sob a forma de programas temáticos,</p><p>voltados para problemas ou grupos populacionais</p><p>específicos, combase emumaepidemiologiamera‐</p><p>mente descritiva e emumaabordagemnormativa de</p><p>planejamento e administração. Verifica-se, então,</p><p>que a saúde coletiva adota intervenções articuladas</p><p>de promoção, proteção, recuperação e reabilitação</p><p>da saúde, com base em uma abordagemmultidisci‐</p><p>plinar, com a contribuição das ciências sociais, da</p><p>epidemiologia crítica e do planejamento e da gestão</p><p>estratégicas e comunicativas.</p><p>Portanto, a Saúde Coletiva é um movimento</p><p>que surgiu na década de 70 contestando os atuais</p><p>paradigmas de saúde existentes na América Latina</p><p>e buscando uma forma de superar a crise no campo</p><p>da saúde. Ela surge devido à necessidade de cons‐</p><p>trução de um campo teórico-conceitual em saúde</p><p>frente ao esgotamento do modelo científico biolo‐</p><p>gista da saúde pública. Pode ser entendida a partir</p><p>58</p><p>Anotações: dos vários movimentos que surgiram tanto na</p><p>Europa quanto nas Américas como forma de con‐</p><p>trolar, a priori, as endemias que ameaçavam a</p><p>ordem econômica vigente e depois como controle</p><p>social, buscando a erradicação da miséria, desnu‐</p><p>trição e analfabetismo. Contudo, os vários modelos</p><p>de saúde pública não conseguiram estabelecer</p><p>uma política de saúde democrática efetiva e que</p><p>ultrapassasse os limites interdisciplinares, ou seja,</p><p>ainda permanecia centrado na figura hegemônica</p><p>domédico.</p><p>AS DIFERENÇAS DA SAÚDE PÚBLICA E</p><p>COLETIVA</p><p>A preocupação com a saúde da sociedade</p><p>remonta desde a antiguidade, a necessidade de</p><p>criar um conceito sanitário que abrangesse essas</p><p>necessidades foi se desenhando ao longo dos anos.</p><p>Atualmente, entre os inúmeros termos que permei‐</p><p>am a saúde da sociedade como um todo, podemos</p><p>citar a saúde pública e a saúde coletiva que são</p><p>facilmente confundidos, uma vez que as diferenças</p><p>entre eles são muito sutis, mas existentes.</p><p>A saúde pública consiste em um conjunto de</p><p>ações e serviços de caráter sanitário que têm</p><p>como objetivo prevenir ou combater patologias ou</p><p>quaisquer outros cenários que coloquem em risco</p><p>a saúde da população. Como é dever do estado</p><p>assegurar serviços e políticas voltadas para a pro‐</p><p>moção da saúde e bem-estar da população, o</p><p>termo saúde pública é consideravelmente mais</p><p>conhecido e utilizado que o termo saúde coletiva.</p><p>Na saúde pública, o homem é visto como um corpo</p><p>59</p><p>Anotações:biológico. Ele é tomado como um ser “em geral” e o</p><p>coletivo, um conjunto homogêneo de pessoas.</p><p>Está ligado ao diagnóstico e tratamento de doen‐</p><p>ças e a tentativa de assegurar que o indivíduo tenha</p><p>um padrão de vida que mantenha a boa saúde.</p><p>A saúde coletiva consiste em um movimento</p><p>sanitário de caráter social que surgiu no SUS, esse</p><p>movimento é composto pela integração das ciên‐</p><p>cias sociais com as políticas de saúde pública.</p><p>Identifica variáveis de cunho social, econômico e</p><p>ambiental que possam acarretar no desenvolvi‐</p><p>mento de cenários de epidemia em determinada</p><p>região, por meio de projeções feitas através da</p><p>associação dos dados socioeconômicos, portanto,</p><p>com os dados epidemiológicos é possível elaborar</p><p>uma eficiente política de prevenção de acordo com</p><p>ascaracterísticas da região. Vale ressaltar que tam‐</p><p>bémpossui aplicações dentro da iniciativa privada.</p><p>Na saúde coletiva, o homem é visto como ser</p><p>social. O coletivo é visto sob o aspecto de algo exte‐</p><p>rior ao indivíduo. A saúde coletiva vai mais do que a</p><p>observação, diagnóstico e tratamento do paciente</p><p>(como individual). Visa intervir na realidade, promo‐</p><p>ver mudanças e melhorias na qualidade de vida da</p><p>comunidade. Toda a saúde pública é coletiva, mas</p><p>nem toda saúde coletiva é pública. Assim, podemos</p><p>dizer que o planejamento da saúde pública é mais</p><p>amplo que o da saúde coletiva, além de dispor de</p><p>mais recursos do estado, ao passo que a saúde</p><p>coletiva é planejada de acordo com as particulari‐</p><p>dades da região, tornando-a mais funcional, em</p><p>especial no aspecto preventivo.</p><p>60</p><p>Anotações: O PAPEL DA PSICOLOGIA NA SAÚDE –</p><p>ABRANGÊNCIA E NÍVEIS DE APLICAÇÃO</p><p>Nessa parte do livro texto, será dada ênfase a</p><p>dois objetivos: o primeiro é demonstrar a importân‐</p><p>cia das ações da psicologia no nível da promoção de</p><p>saúde. O segundo, e principal, é apresentar, explicar</p><p>e justificar a pertinência da intervenção psicológica</p><p>na prevenção de enfermidades no âmbito da saúde</p><p>pública/coletiva. A partir do desenvolvimento des‐</p><p>ses dois argumentos, propõe-se, uma lista de</p><p>atividades voltadas à prevenção de doenças para</p><p>orientar minimamente as atuações da psicologia</p><p>nos três níveis de assistência de saúde.</p><p>A prevenção de doenças é, entre todas as no‐</p><p>vidades das intervenções psicológicas</p><p>na saúde</p><p>pública/coletiva, a menos desenvolvida e conheci‐</p><p>da. Motivo pelo qual lhe será dada maior ênfase. A</p><p>ênfase sobre a prevenção indica, por um lado, uma</p><p>pluralidade de ações e, por outro, uma dificuldade</p><p>em adequar cada ação a seu nível de pertinência.</p><p>Essa conjuntura deverá ter na Psicologia em Saúde</p><p>seu suporte epistemológico e prático.</p><p>PROMOÇÃO DE SAÚDE GERAL</p><p>Apesar de todos os debates e avanços obser‐</p><p>vados na formação acadêmica dos profissionais de</p><p>saúde, atualmente, ainda se registram dubiedades</p><p>quanto à compreensão dos conceitos de promoção</p><p>de saúde e prevenção de doenças. Fenômeno que</p><p>se explica pelo fato de que algumas vezes, uma</p><p>mesma intervenção sirva aos dois casos Godoy</p><p>(1999, p.61-62), preocupado em diferenciar a pro‐</p><p>61</p><p>Anotações:moção de saúde da prevenção de doenças, define a</p><p>promoção de saúde como:</p><p>O conjunto de atuações dirigidas à</p><p>proteção, manutenção e aumento da</p><p>saúde e, emoperativo, ao conjunto de</p><p>atuações (centradas no indivíduo</p><p>e/ou na comunidade) relacionadas</p><p>com o desenho, elaboração, aplica‐</p><p>ção e avaliação de programas e</p><p>atividades direcionadas à educação,</p><p>proteção, manutenção e acréscimo</p><p>da saúde (dos indivíduos, grupos ou</p><p>comunidades).</p><p>Definir estas duas etapas da intervenção é</p><p>um desafio, em razão da existência de uma relação</p><p>dialética entre elas e ainda a falta de consenso nos</p><p>meios acadêmicos, em relação à existência de uma</p><p>hierarquia entre si. Na perspectiva aqui estabele‐</p><p>cida, há de ficar claro uma relação hierarquizada</p><p>entre as ações de promoção de saúde e as de</p><p>prevenção de enfermidades, fato que implica em</p><p>ser a promoção da saúde uma intervenção anterior</p><p>à prevenção de doenças. Assim, a promoção deve</p><p>ser pensada sobre a base do perfil epidemiológico</p><p>da comunidade ou grupo específico no qual se</p><p>deseja intervir; voltada à proposição das assistên‐</p><p>cias antes mesmo do aparecimento das enfermi‐</p><p>dades; e, finalmente, que tenham um caráter</p><p>amplo e respondam ao compromisso ético de</p><p>melhorar o potencial de saúde socioecológico das</p><p>comunidades (ALVES, 2008).</p><p>62</p><p>Anotações: A PREVENÇÃO DE ENFERMIDADES</p><p>Como já foi explicado que a prevenção de</p><p>doenças é posterior à promoção da saúde. Assim,</p><p>depois de se com a promoção de saúde, as inter‐</p><p>venções psicológicas se voltam para a prevenção</p><p>de doenças nos diversos níveis de atenção. Costa e</p><p>López (1986), falando sobre prevenção, argumen‐</p><p>tam que esta pretende contribuir com a diminuição</p><p>da incidência de enfermidades, a diminuição da</p><p>prevalência, mediante o encurtamento do período</p><p>de duração da doença ou a diminuição das sequelas</p><p>e complicações da doença.</p><p>De acordo com a compreensão até aqui</p><p>desenvolvida, sobre os níveis de intervenção psico‐</p><p>lógicas na saúde, as ações que visam à diminuição</p><p>da incidência das enfermidades são consideradas</p><p>prevenção primária; as que visam à diminuição da</p><p>prevalência são prevenção secundária; e a diminui‐</p><p>ção de sequelas e complicações das enfermidades</p><p>são prevenção terciária (Alves, 2008; Alves et al,</p><p>2009).</p><p>PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO</p><p>PRIMÁRIAS</p><p>O primeiro nível de intervenção psicológica se</p><p>faz nos serviços de APS (Atenção Primária de saú‐</p><p>de) e deverá ser realizada em duas etapas: no nível</p><p>da prevenção primária e no da intervenção primá‐</p><p>ria. A Prevenção primária deve estar diretamente</p><p>relacionada e condicionada à promoção da saúde.</p><p>Suas ações não devemdirigir-se a um indivíduo, se‐</p><p>não aos planos de educação para a saúde, os quais</p><p>63</p><p>Anotações:devem ter como suporte conteúdos de outras áreas</p><p>de aplicação da Psicologia (Psicologia do Trabalho,</p><p>Psicologia Social, Psicologia Comunitária, Psicolo‐</p><p>gia Educacional).</p><p>Tem como característica central a atuação</p><p>nos problemas epidemiológicos da população be‐</p><p>neficiária e investe na construção de estilos de vida</p><p>saudáveis e na evitação de comportamentos de ris‐</p><p>cos. Busca desenvolver práticas de prevenção que</p><p>se prolonguem ou se utilizem durante toda a vida.</p><p>Assim, a prevenção primária deverá ser realizada</p><p>antes que se encontre um problema concreto. Para</p><p>tal intervenção, o conhecimento epidemiológico</p><p>prévio do coletivo social a ser assistido deverá ser</p><p>utilizado comoguia das ações de saúde, ou seja, se‐</p><p>ria trabalhar com as possibilidades de que possa</p><p>aparecer uma enfermidade.</p><p>O trabalho de Vázquez e Méndez (1999) sobre</p><p>os procedimentos comportamentais para o contro‐</p><p>le da diabetes pode ser aqui utilizado como exem‐</p><p>plo. Eles afirmam que os programas de educação</p><p>diabetológica não devem ser dirigidos somente aos</p><p>indivíduos afetados, como também aos seus famili‐</p><p>ares e cuidadores. Os objetivos deste programa se</p><p>voltam ao treinamento de estratégias tanto para</p><p>evitar a enfermidade, no caso de filhos e netos dos</p><p>enfermos, como ao desenvolvimento de condutas</p><p>favoráveis à adesão aos programas de tratamento</p><p>dos familiares enfermos. Ainda que se executem as</p><p>ações de saúdemediante a observância dos planos</p><p>elaborados a partir do conhecimento a priori do</p><p>coletivo social beneficiário do serviço, o plano deve</p><p>ter comometa o desenvolvimento da autonomia do</p><p>coletivo em relação aos temas trabalhados e a</p><p>serem melhorados. Quer dizer que o grupo deverá</p><p>64</p><p>Anotações: ser estimulado a tomar decisões no que se refere às</p><p>atividades programadas no plano.</p><p>Intervenção primária</p><p>A intervenção primária pode ser explicada</p><p>como uma intervenção direta sobre uma queixa</p><p>detectada em um indivíduo ou em um coletivo</p><p>social. Trata-se da primeira ação de saúde ante a</p><p>presença de um problema que deverá ser identifi‐</p><p>cado e orientado. Em seguida, se o caso necessitar</p><p>de uma intervenção psicológica especializada será</p><p>encaminhado a um dos outros níveis de atenção de</p><p>saúde, já que neste nível a intervenção nunca</p><p>deverá ser especializada.</p><p>A adequada abordagem dos problemas no</p><p>nível primário poderia descongestionar os serviços</p><p>de saúde nos níveis especializados. Nesses casos,</p><p>dedicar-se-ia mais tempo para solucionar proble‐</p><p>mas mais complexos que necessitam maior aten‐</p><p>ção, já que muitos dos problemas trabalhados em</p><p>APS seriam solucionados primariamente. Para se</p><p>trabalhar neste nível de atenção à saúde, necessita</p><p>transcender os conhecimentos de sua formação,</p><p>precisa-se ter conhecimentos psicológicos, de epi‐</p><p>demiologia, de políticas sociais, de antropologia da</p><p>saúde, de sociologia da saúde, de educação para</p><p>saúde, entre outros.</p><p>PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO</p><p>SECUNDÁRIAS</p><p>Prevenção Secundária</p><p>Faz-se nos ambulatórios e/ou centros de</p><p>especialidades. Seu principal objetivo é dar acom‐</p><p>65</p><p>Anotações:panhamentoaopaciente ajudando-onoseguimento</p><p>de seu tratamento, seja físico ou psicológico, como</p><p>objetivo de prevenir o agravamento da doença. Para</p><p>atuar bem neste nível, as intervenções psicológicas</p><p>devem lançar mão do conhecimento produzido</p><p>através das investigações das causas e fatores</p><p>associados à falta de adesão ao tratamento. Conhe‐</p><p>cer bem as características associadas à falta de</p><p>adesão a determinados tratamentos facilita a</p><p>formulação de programas preventivos, voltados à</p><p>proposição de diversas atividades dedicadas a</p><p>evitar comportamentos que reforcem a dificuldade</p><p>de seguimento do tratamento.</p><p>Vázquez e Méndez (1999) apresentaram uma</p><p>proposta de procedimentos comportamentais para</p><p>o controle da diabetes. Em seus estudos, mostram</p><p>a importância de conhecer os fatores que explicam</p><p>tanto a adesão ao tratamento como a falta de</p><p>seguimento do mesmo e apontam um conjunto de</p><p>meios pelos quais se pode valorizar o apoio familiar</p><p>no tratamento da diabetes e as habilidades de</p><p>afrontamento. Assim, eles propõem alguns proto‐</p><p>colos pertinentes às intervenções comportamen‐</p><p>tais para o manejo da diabetes, ou seja, para</p><p>promover e melhorar a adesão ao tratamento.</p><p>A condição crônica desse transtorno exige, de</p><p>fato, o seguimento de algumas condutas durante</p><p>toda a vida. Dentre os programas de Vázquez e</p><p>Méndez (1999), é possível destacar os protocolos</p><p>dedicados ao autocuidado para insulino-dependen‐</p><p>tes. O programa visa ao treinamento da autorregu‐</p><p>lação e o automanejo e consiste em reuniões</p><p>semanais de uma hora de duração durante seis</p><p>semanas Nessas reuniões, utilizam-se leituras e</p><p>discussões</p><p>de material informativo e exercícios de</p><p>modelado e “role playing” (técnica de dramatização).</p><p>66</p><p>Anotações: Depois do treinamento, pede-se aos adolescentes</p><p>que elaborem seu próprio programa de autorregula‐</p><p>ção para seu regime diabético.</p><p>O referido programa, aqui compreendido</p><p>como de prevenção secundária, é um exemplo do</p><p>nível de integração existente entre os demais ní‐</p><p>veis de saúde considerados em seus status tanto</p><p>de prevenção como de intervenção. Neste caso,</p><p>para que se chegasse à elaboração, foi necessário</p><p>antes uma investigação (intervenção de terceiro</p><p>nível de saúde) da enfermidade e dos processos</p><p>comportamentais que estariam em seu entorno.</p><p>Também, ter-se-ão realizado as assistências pri‐</p><p>márias de saúde, de tal modo que a integração das</p><p>assistências de saúde nos distintos níveis e seu</p><p>caráter interdisciplinar é a condição básica para</p><p>uma boa condução da saúde pública.</p><p>Intervenção Secundária</p><p>Tem nas assistências especializadas a princi‐</p><p>pal intervenção. Atende aos usuários derivados dos</p><p>outros níveis de assistência proporcionando-lhes</p><p>os tratamentos mais específicos. A atenção aos</p><p>problemas de saúde mental tem aqui seus trata‐</p><p>mentos mais específicos em lugares apropriados.</p><p>É o campo tradicionalmente mais conhecido e</p><p>desenvolvido tanto da Psicologia como das especi‐</p><p>alidades médicas em geral. Contraditoriamente, é</p><p>o campo mais problemático quando se propõe sua</p><p>aplicação em saúde pública/coletiva. Inúmeras</p><p>investigações concluem que existe uma sobreutili‐</p><p>zação das intervenções especializadas no nível de</p><p>APS.</p><p>67</p><p>Anotações:PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO</p><p>TERCIÁRIAS</p><p>Prevenção de Terceiro Nível</p><p>Está envolvida com a assistência aos proble‐</p><p>masdealtacomplexidadederivadosdosoutrosníveis</p><p>de atenção (1º e 2º) e com as pesquisas em saúde.</p><p>Em geral, faz-se nos hospitais. Entretanto, pode</p><p>também ser feita nos centros de especialidades. A</p><p>prevenção terciária inclui o seguimentodepacientes</p><p>em tratamento clínico, cirúrgico, quimioterápico e</p><p>radioterápico. De acordo comAntón eMéndez (1999,</p><p>p.227) “as intervenções cirúrgicas são situações</p><p>estressantes que implicam efeitos negativos ao</p><p>funcionamento psicológico do enfermo, originando</p><p>respostas de ansiedade, depressão, transtornos do</p><p>sono, da alimentação, etc”.</p><p>Assim, a preparação para as cirurgias é uma</p><p>atividademuito corrente nas assistências aos adul‐</p><p>tos, “a informaçãoproporcionada antes daoperação</p><p>que, além de modificar as respostas cognitivas,</p><p>pode produzir mudanças nas respostas psicofisio‐</p><p>lógicas” (op cit, p. 228). As técnicas de redução ou</p><p>enfrentamento da ansiedade são também muito</p><p>utilizadas nestas situações. Com as crianças</p><p>também se utilizam as informações preparatórias.</p><p>Somam-seàs informações, porexemplo, umpasseio</p><p>pelo hospital, a apresentação dos equipamentos</p><p>hospitalares utilizados nas assistências. Técnicas</p><p>que objetivam desmistificar a hospitalização e os</p><p>procedimentos a que se lhes submeterá.</p><p>As intervenções voltadas às famílias dos</p><p>pacientes é uma importante intervenção preven‐</p><p>tiva. Promover a orientação e o preparo dos</p><p>68</p><p>Anotações: familiares ajuda a diminuir os impactos da notícia</p><p>da doença e facilita a adaptação do grupo familiar à</p><p>nova situação. O trabalho com as famílias é essen‐</p><p>cial, sobretudo, nos casos em que as enfermidades</p><p>não são conhecidas pelas famílias. Considerando-</p><p>se a importância do papel familiar na recuperação</p><p>dos doentes, o trabalho desenvolvido junto a esta</p><p>enquadra, de forma positiva, a condição geral do</p><p>paciente.</p><p>Intervenção de terceiro nível</p><p>A intervenção de terceiro nível, no âmbito da</p><p>Psicologia da Saúde, tem na pesquisa uma de suas</p><p>mais importantes atividades. Nesse nível se inves‐</p><p>tiga os fatores biopsicossociais que intervêm na</p><p>etiologia dos problemas de saúde, analisando</p><p>comoo entorno sociocultural afeta a saúde/doença</p><p>/cuidado/vida/morte em consequência dos estilos</p><p>de vida. Através da epidemiologia é possível conhe‐</p><p>cer dados sobre a prevalência e incidência das</p><p>enfermidades. A prevalência remete ao número</p><p>total de casos de uma doençamanifestada em uma</p><p>população em um período específico de tempo.</p><p>A incidência indica a frequência de novos</p><p>casos em um determinado espaço de tempo deter‐</p><p>minado. A prevalência e incidência das doenças</p><p>são processos muito estreitos e o conhecimento</p><p>destes é uma condição básica de pesquisa em</p><p>Psicologia da Saúde já que “[…] permite ao pesqui‐</p><p>sador efetuar comparações entre diversos grupos</p><p>de indivíduos. Ademais, a quantificação do risco</p><p>constitui um elemento fundamental na formulação</p><p>de políticas sanitárias […]” (ANDRASIK et al 1999, p.</p><p>261).</p><p>69</p><p>Anotações:RELAÇÃO EQUIPE PROFISSIONAL DE</p><p>SAÚDE E PACIENTE/CLIENTE</p><p>A saúde passou por importantes mudanças</p><p>ao longo do tempo. Essas transformações influen‐</p><p>ciaram, também, o modo como entendemos o</p><p>cuidado e como compreendemos a formação dos</p><p>profissionais que cuidam da saúde. Segundo</p><p>Corradi-Webster e Carvalho (2015), pensar em</p><p>saúde de modo positivo representa uma mudança</p><p>grande de paradigma, já que o foco não é mais o</p><p>déficit, a ausência da saúde ou ausência de enfer‐</p><p>midade, e sim o bem-estar biopsicossocial.</p><p>Com base nesta visão, serviços de saúde vêm</p><p>sendo criados e reestruturados, aproximando-se</p><p>das comunidades, oferecendo cuidados que vão</p><p>além da cura, incluindo a promoção, a prevenção e</p><p>a reabilitação. Vem sendo ampliada a participação</p><p>de profissionais não-médicos no cuidado, já que o</p><p>médico deixou de ser a única figura central da as‐</p><p>sistência. Ainda para os autores, o cuidado também</p><p>começa a ser compreendido como integral, ou seja,</p><p>considera-se que as pessoas devam ter acesso a</p><p>todos os serviços de saúde necessários e que se‐</p><p>jam considerados os aspectos emocionais, físicos</p><p>e sociais dos usuários. Nesta perspectiva, o usuário</p><p>passa a ser considerado não como uma unidade in‐</p><p>dividual, mas como alguém que está inserido em</p><p>uma família, em uma comunidade, em um contexto</p><p>histórico e social definido.</p><p>Com o intuito de garantir a plenitude da assis‐</p><p>tência, osprofissionais daáreadaSaúdenãopodem</p><p>trabalhar sozinhos. O trabalho emequipe se faz fun‐</p><p>damental, no qual profissionais com formações e</p><p>70</p><p>Anotações: experiências diversas discutemsituações, ampliam</p><p>oolhareaspossibilidadesde intervenção (CORRADI-</p><p>WEBSTER;CARVALHO, 2011). Umaparte importante</p><p>das atribuições de um profissional da saúde, nesse</p><p>sentido, será gerenciar e efetuar o cuidado com os</p><p>pacientes. Esse cuidado por ser realizado de diver‐</p><p>sas formas, que vão desde um cuidado automático</p><p>e impessoal até o estabelecimento de uma relação</p><p>de ajuda. Existem diversas evidências científicas</p><p>que mostram que a relação estabelecida entre o</p><p>paciente e o profissional de saúde pode se tornar</p><p>um adjuvante no processo de cura desse enfermo.</p><p>Paciente</p><p>Imagine umapessoa que acaba de receber um</p><p>diagnóstico de uma doença grave. Apesar de ainda</p><p>estar chocada com a notícia, ela tem que tomar</p><p>decisões rapidamente, porque como precisa ser</p><p>operada com urgência, terá que ficar internada no</p><p>hospital, e não terá tempo nem de voltar para casa</p><p>para avisar sua família. Você consegue imaginar</p><p>como ela se sente? Será que, se ela puder contar</p><p>com algum profissional de saúde para ajudá-la a se</p><p>organizar, faria diferença neste momento?</p><p>Para o ser humano, a doença é a quebra da</p><p>harmonia orgânica, interferindo, com todos os se‐</p><p>tores da sua vida, especialmente, na convivência</p><p>com os familiares mais próximos. Quando a hospi‐</p><p>talização se faz necessária, o indivíduo é retirado</p><p>de seu ambiente familiar e no hospital encontra um</p><p>mundo completamente estranho, onde rotinas e</p><p>normas rígidas controlam e determinam suas</p><p>ações. Ao ser hospitalizado, o paciente deixa sua</p><p>71</p><p>Anotações:família e seu ambiente para ser inserido em um</p><p>mundo diferente, sendo obrigado, inclusive, a ter</p><p>seus hábitosmodificados para se ajustar às rotinas</p><p>do hospital (PAULA; FUREGATO, SCATENA, 2000, p.</p><p>45).</p><p>Quando uma pessoa precisa de um serviço de</p><p>saúde, ela se vê num ambiente totalmente dife‐</p><p>rente do que está acostumada, onde tem que</p><p>seguir regras e consequentemente adotar novas</p><p>atitudes. Nessas situações, a comunicação</p>