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AULA 1 COACHING NAS ORGANIZAÇÕES Prof. Marcelo Zanchi 2 TEMA 1 – CONCEITO DE COACHING A existência de problemas e desafios acompanhou o desenvolvimento da humanidade ao longo de toda a sua história conhecida, indiferentemente à modernização de processos e tecnologias. É verdade que os problemas mudaram de natureza de acordo com o movimento evolutivo, sobretudo o tecnológico. Isso, porém, nunca significou que sua existência tenha perdido qualquer impacto ou relevância nas organizações sociais, familiares ou comerciais. Definiremos problema, aqui, para fins didáticos, como a distância que separa uma pessoa ou organização do contexto em que deseja estar. A maior evidência de que um indivíduo ou organização está lidando com um problema é, portanto, o incômodo ou desconforto diante de qualquer espécie de insatisfação. Quando incomodado(a) pela insatisfação, você compreenderá com facilidade que se encontra numa situação diferente daquela em que desejaria estar. Daí, podemos extrair que todo problema só existe porque existe um objetivo – esteja esse último claro e definido ou subjetivo e despercebido. Sendo assim, percebe-se uma grande relevância em se propor um método estruturado que permita a um indivíduo ou organização identificar, discriminar e mapear com precisão os objetivos por trás dos problemas, permitindo uma nova e mais recursiva percepção situacional. Uma vez que se tenha em mãos um objetivo explícito e adequadamente definido, é possível elaborar um plano de ação e inventariar os recursos financeiros, humanos e estratégicos a serem garantidos para o sucesso da transição da condição atual para o objetivo realizado. Um novo desafio tende a surgir, porém, quando um plano de solução de um problema é posto em prática. Existem variáveis cuja possível existência precisa ser levada em consideração na verificação de riscos do processo, mesmo que não possam ser totalmente controladas e previstas de antemão. Poderíamos segmentar essas variáveis entre: a. Variáveis humanas: qualquer processo ou estratégia precisa ser executado(a) por pessoas e seres humanos. Segundo Chiavenato (2009), seres humanos estão expostos à variabilidade comportamental e à influência de sua visão de mundo, do ambiente e do contexto. Isso significa que pessoas diferentes podem possuir habilidades diferentes e respostas diferentes a contextos que sejam em natureza idênticos ou semelhantes 3 entre si. Muitas vezes, será impossível prever a resposta humana de todos os indivíduos envolvidos em todas as etapas e microetapas de um processo. Quando surgem, essas respostas podem ser diferentes do esperado e exigirem adequação do curso de ação. b. Variáveis de ambiente: enquanto o processo planejado para o alcance de um objetivo ocorre, inúmeros outros aparentemente não relacionados com o primeiro ocorrem, simultaneamente. Esses outros processos podem gerar eventuais mudanças no ambiente em que o primeiro processo está acontecendo, lhe adicionando ou alterando parâmetros que influenciam diretamente nas ações e resultados relacionados ao objetivo definido – como oscilações no dólar, mudanças na concorrência ou ranhuras no clima organizacional. Tão importantes quanto as variáveis compreensíveis são as que chamamos de randômicas. Em 2019, uma rede de hamburguerias fundada em 2011 começou uma estratégia de expansão em Curitiba, oferecendo um diferencial de experiência para seus clientes. O diferencial contava com ambientação e entretenimento. No ano seguinte, o mundo entrou em quarentena devido à pandemia do vírus da Covid-19, um evento completamente incontrolável do ponto de vista de mercado, para aquela empresa. Isso gerou uma mudança radical e completamente imprevisível no ambiente onde a nova estratégia estava sendo aplicada. c. Variáveis estratégicas: o terceiro e último tipo de variável potencialmente interferente num plano de ação inicialmente proposto é causado pela própria ação: em diversas ocasiões, ela pode ter resultados diferentes ou além dos previstos. Esses resultados podem ser elementos que impactam a validade daquela etapa do processo como fora planejada, podendo, em casos mais extremos, comprometer o plano de ação como um todo. Em algumas ocasiões, uma organização ou indivíduo pode ter uma mudança em sua matriz de prioridades, tornando o processo menos interessante (sobretudo se comparado a seus custos) ou até mesmo obsoleto. Se você considerar as variáveis apresentadas, poderá compreender que o processo de resolução de problemas e alcance de objetivos constitui-se, essencialmente, das etapas de: • identificação do problema; • definição de um objetivo claro e específico; 4 • elaboração de um plano de ação; • adaptação às variáveis do processo de execução do plano; • validação do resultado obtido. O coaching, assim denominado por W. Timothy Gallway (2019), em 1974, é um processo de reflexão direcionado à ação flexível para obtenção de resultados claros, que atendam a um objetivo. Esse objetivo pode ou não ser identificado e estruturado no próprio coaching. Durante o processo, o profissional, chamado de coach, auxiliará o cliente, chamado de coachee, na identificação e uso de recursos internos e externos para lidar com os feedbacks (sejam eles desafios, sejam oportunidades) sempre variáveis gerados pelo processo de aplicação de um plano de ação que, por sua vez, pode ser concebido durante o próprio processo. TEMA 2 – HISTÓRIA E MODELO SOCRÁTICO Como vimos anteriormente, processos de alcance de objetivos são necessários desde tempos muito anteriores ao surgimento de organizações comerciais complexas como as que você conhece hoje. Também já comprovamos a validade de se observar o contexto humano por trás da execução desses processos. Entretanto, não somos os primeiros a observar esses fatos. Durante o desenvolvimento da civilização, inúmeras abordagens foram criadas para observar e até utilizar a influência humana em direção ao alcance de objetivos. A exemplo de destaques nessa missão, podemos citar Sócrates (470 a.C. a 399 a.C.), na Grécia Antiga. O filósofo foi devoto defensor da ideia que concebeu, que sugeria a importância da reflexão, por parte do ser humano, a respeito do próprio pensamento humano. Daí, surgiu e se cristalizou o método ou modelo socrático, que propõe a um professor conduzir o aluno por um processo investigativo dos próprios pensamentos e caminhos mentais, como forma de gerar aprendizado. Essa reflexão sobre novas perspectivas a respeito dos mesmos elementos ou cenários abre portas para novas e mais organizadas percepções e linhas de ação possíveis, proporcionando maior acesso a recursos e a possibilidade de escolhas mais favoráveis. Por consequência, o aluno pode encontrar maiores possibilidades de resultados do que conseguiria com os limitados pensamentos a que teria acesso de outra forma. 5 Entre os discípulos de Sócrates estava Platão, que foi responsável por registrar os discursos e ensinamentos de seu professor. Platão foi, posteriormente, autor do mito da caverna, uma metáfora alusiva à limitada realidade que o ser humano pode criar para si, restrita apenas à sua própria noção do mundo como realmente é. Segundo o filósofo, para termos verdadeira liberdade de ação e poder de realização, é necessário sair da caverna, isto é, permitir-se observar o mundo e seus cenários de uma maneira nova. Isso permitiria a uma pessoa compreender mais os contextos e, portanto, tomar decisões mais inteligentes e eficientes. É um fato observável que a maioria dos processos de análise e resolução de problemas e consequente alcance de objetivos modernos observa o contexto de fora para dentro, mapeando a situação e inserindo o indivíduo ou organização nela. Se levadas em consideração as teorias de Sócrates e Platão, é possível evidenciar a grande validadee importância de um processo que observe o mecanismo do alcance de objetivos de uma perspectiva de dentro para fora: do indivíduo ou organização para o problema ou cenário. A proposta desses filósofos navegou através do tempo, tendo sido ensinada por Platão a seu discípulo Aristóteles, que, por sua vez, foi professor de Alexandre, O Grande, quando este tinha ainda seus 13 anos de idade. Ainda hoje, a psicologia se aproveita desses conceitos, abrangidos em grande parte pelo conceito de metacognição (a capacidade de se pensar sobre o pensamento) e pelo ainda chamado modelo socrático. Com o tempo, porém, acompanhando o surgimento de movimentos industriais e econômicos mais organizados e complexos, os interesses das potências e os períodos de guerras, o mundo passou a olhar para a necessidade de soluções de problemas com mais urgência. O imediatismo no alcance de objetivos levou à criação de padrões processuais e operacionais de replicação mais simples (ou ao menos assim se acreditava) e que seriam menos questionados por quem os praticasse. Em grande escala, a solução inteligente e generativa de problemas passou a dividir espaço com processos predefinidos aos quais qualquer novo operário ou gestor seria submetido numa organização fabril, por exemplo. Em muitos casos, esse foco na estratégia e nos processos praticamente deixou a humanidade das organizações de lado. Ainda no início do século XX, uma empresa do setor automobilístico que viria a se tornar uma das maiores de seu segmento implementava cargas de trabalho superiores a 12 horas por dia e tinha severas 6 restrições comportamentais: até mesmo o sorriso no ambiente de trabalho era desencorajado. Do final daquele período para o início do século XXI, porém, as propostas socráticas e platônicas foram novamente trazidas para jogo, talvez influenciadas pelos movimentos da psicologia e pelos momentos de maior paz vividos pelo mundo. Começa, então, um movimento de humanização e flexibilização do mercado e, pouco a pouco, da sociedade como um todo. Nesse processo, inicia- se a recuperação da relevância da abordagem do alcance de objetivos como processos executados por pessoas, com necessidade de flexibilidade – abordagem essa que já vimos anteriormente. Segundo Drucker (1990), considerado o pai da administração moderna, a cultura empresarial, isto é, o enredo comportamental é de suma importância. Sem a devida atenção a esse enredo, inclusive, a estratégia organizacional pode ser comprometida ou, no mínimo, se mostrar ineficiente se comparada a um cenário em que a cultura foi considerada. Percebemos uma concordância, entre Drucker (1990) e Chiavenato (2009), sobre a validade da valorização do humano como catalisador e meio para solidificação dos processos de alcance de resultados organizacionais. Em meio ao surgimento de abordagens mais flexíveis, destacaram-se a inteligência emocional defendida por Goleman (1995); a aprendizagem socioemocional adotada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); a psicologia positiva de Selingman; o coaching de Gallway (2019) e a metodologia Disc de Marston; além de outros métodos de análise e planejamento mais flexíveis em seus processos e métodos, com ou sem padronização, como o Scrum, de Sutherland; e a modelagem, como definida por Grinder e Bandler, aplicada às necessidades organizacionais. Desde sua concepção por Timothy Gallway (2019), o objetivo do processo de coaching permanece o mesmo. Sua estrutura e seu funcionamento, entretanto, foram moldados ao longo dos anos seguintes, sob relevante influência das demais abordagens que mencionamos. Hoje, o coaching é aplicado como meio de otimização de processos e alcance de objetivos em diversas áreas ao redor do mundo, sendo utilizado por grandes corporações, pequenas e médias empresas, startups, celebridades e até mesmo presidentes de países do Primeiro Mundo. É relevante saber que a popularização e a eficiência do método encorajaram, inclusive, o nascimento de diversos institutos, conselhos e outros órgãos especificamente dedicados a essa área, nas últimas décadas. 7 TEMA 3 – ESTRUTURA DO COACHING Como vimos anteriormente, o coaching foi estruturado e moldado ao longo do tempo, deixando de ser um conceito volátil, que implica somente uma forma de pensar, e transformando-se em uma forma de pensar aplicada a um processo estruturado e sistematizado. Vamos nos aprofundar nessa estrutura para que, mais à frente, você consiga compreender a sistemática e a funcionalidade do processo. Um processo de coaching é composto de, em média, 8 a 12 sessões. Excepcionalmente, podemos encontrar profissionais que estenderão esse processo para até 15 sessões, em contextos extraordinários. Da mesma forma, em alguns raros casos, o processo de coaching cumprirá sua função em menos de 8 sessões, mas isso não deve ser tomado como regra ou expectativa. Essas sessões podem distanciar-se em um intervalo de uma semana, uma quinzena ou um mês uma da outra, sendo a primeira possibilidade a periodicidade mais comum de aplicação. Podemos discriminar como componentes essenciais do processo o coach, o coachee, o estado desejado, o estado atual, os feedbacks, a flexibilidade e os recursos. 3.1 Coach Coach é o título atribuído ao profissional que conduz o processo de coaching. A função desse profissional é de estabelecer vínculo suficiente com o cliente para auxiliá-lo na constante organização de seus recursos, desafios e feedbacks, na forma de um plano de ação executável e funcional para o avanço na direção do objetivo definido. 3.2 Coachee Como já vimos, o coachee é o cliente do processo. Pode ser um indivíduo ou uma organização, de acordo com a modalidade de coaching. O papel do coachee, no processo de coaching, é executar os planos e atividades concebidos em cada sessão. Como você já aprendeu, a execução de planos gera feedbacks no ambiente – resultados que podem ser utilizados para medir, validar ou invalidar o plano de ação. Por isso, também é papel do coachee levar esses feedbacks 8 para as sessões, para que possam ser analisados e organizados na forma de novas etapas e ações, pelo coach. 3.3 Estado desejado O estado desejado é o objetivo do processo de coaching. Quando você contrata um coach, o faz porque tem um objetivo claro ou um objetivo subjetivo (na forma de problema) a ser esclarecido. Portanto, é impossível que o coaching seja bem-sucedido e funcional sem o esclarecimento e a especificação, antes ou no início do processo, de um cenário no qual se deseja estar, ao final desse processo. 3.4 Estado atual Se já definimos que objetivo é um cenário em que se deseja estar e problema é a distância a que se está desse cenário, é certo dizer que o coachee, ao contratar um profissional de coaching, está num cenário diferente do que gostaria. A esse cenário chamamos de estado atual. Quanto mais claro o estado desejado, mais preciso será o mapeamento do estado atual, porque o profissional e o cliente saberão que parâmetros utilizar para defini-lo. Se o objetivo de uma organização, num processo de coaching, foi consolidado como aumentar o volume médio de vendas mensais em 20% até setembro, fará pouco sentido observar as métricas de turnover no departamento jurídico daquela organização, por exemplo, mesmo que elas façam parte do estado atual da empresa. Portanto, coach e coachee poderão poupar energia ao focarem sua atenção na definição de um estado atual que enfatize os parâmetros relacionados às vendas. É válido lembrar aqui que isso não significa que o estado atual ignore variáveis aparentemente não relacionadas com o objetivo principal. Significa apenas que, na definição do cenário de partida, priorizaremos as variáveis mais relevantes. A importância verdadeira de outras variáveis será identificada no decorrerdo processo, com a utilização de outros métodos, como a verificação ecológica. 9 3.5 Feedbacks Já vimos, algumas vezes até aqui, que todo processo ativo gera resultados que podem ser interpretados como feedbacks direcionadores. A importância prática disso para o processo de coaching será vista mais à frente. Mas, os feedbacks são, portanto, essenciais para o direcionamento do processo, e devem ser observados e considerados, a cada sessão, pelo coachee, com o auxílio do coach. 3.6 Flexibilidade Os feedbacks gerados pela aplicação de planos de ação só são relevantes se forem utilizados para melhorar e parametrizar as próximas ações. Isso significa que nem sempre você terminará um curso de ação da mesma maneira que o planejou. Conforme os feedbacks surgirem no caminho, o coach auxiliará o coachee a refletir sobre o significado dos resultados obtidos. Essa reflexão direcionada à ação auxiliará o coachee a decidir quais as melhores ações a tomar a seguir, sejam elas corretivas, sejam generativas, sejam evolutivas. 3.7 Recursos O que levará o coachee do estado atual para o estado desejado, com o auxílio do coach, para atenção aos feedbacks e à flexibilidade serão os recursos que aquele primeiro utilizará. Resolvemos problemas quando investimos recursos práticos onde antes eles faltavam, por tempo suficiente. Esses recursos podem ser internos (como empatia, liderança e habilidades técnicas) ou externos (como capital, equipamentos e ambientes). Alguns autores da psicologia organizacional, como Zanelli, Borges- Andrade e Bastos (2004), defendem que os recursos internos serão de suma importância para dar sentido e utilidade a qualquer recurso externo. Também afirma Drucker (1990) a relevância da cultura organizacional e da consequente observação do recurso humano, no meio empresarial. Isso deixa uma sugestão sobre um dos papéis mais fundamentais do coach como auxiliador no processo de descoberta e aplicação inteligente dos recursos do coachee. Levando esses elementos em consideração, você poderá entender a estrutura do processo de coaching como sugerido no esquema a seguir (Figura 1), que se mantém até que o estado atual se torne o estado desejado. 10 Figura 1 – Relação entre os elementos do coaching TEMA 4 – PARA QUE SERVE E POR QUE USAR O COACHING Até aqui, você entendeu que o coaching é um processo voltado à resolução de problemas, que define e gera alcance de objetivos por meio da análise e organização dos recursos disponíveis ou criados e dos feedbacks do ambiente. Agora, podemos dar um passo além e compreender melhor a aplicação dessa ferramenta na realidade organizacional. Para isso, é importante começarmos esclarecendo que o coaching não pretende e não deve ser utilizado com os objetivos de aconselhamento, mentoria, consultoria, terapia, recrutamento ou semelhantes. Alguns dos métodos citados anteriormente serão estudados mais adiante. O que você deve entender agora é que o coaching é um processo singular e não deve ser confundido com outros processos, sob pena de danos graves ao objetivo do cliente, seja pela utilização de outra ferramenta numa situação que demande o uso do coaching, seja pelo engano inverso. É verdade, porém, que ferramentas e conceitos do coaching possuem grande potencial de aproveitamento e são utilizadas em muitos outros processos, incluindo os anteriormente descritos. Tendo clareza desses fatos, vamos à próxima fase, isto é, para o entendimento das aplicações práticas do método. O coaching é aplicável em circunstâncias e contextos que exigem maior flexibilidade e clareza, quando é possível e desejável a obtenção e utilização de pontos de vista novos a respeito dos processos atuais e do objetivo que se tem em mente. Uma evidência comum, embora não exclusiva, da necessidade do coaching é a percepção de estagnação ou lentidão de processo mesmo diante de Coach Coachee Recursos Feedbacks Estado atual é o desajado? Não? Continue Flexibilidade Estado atual 11 um objetivo considerado possível e alcançável pela organização. Tendo isso em mente, você conseguirá compreender que o coaching pode ser aplicado também em times e equipes, sendo o máximo de indivíduos envolvidos limitado pelo coach conforme sua capacidade e a demanda apresentada. Nesses casos, o grupo como um todo é considerado o coachee, e os pensamentos e recursos apresentados pelos indivíduos são tratados como pertencentes ao grupo como um todo. É importante ressaltar que o coaching é um processo de intensa atividade e geração de resultados. O coaching é um acelerador de resultados por otimizar o processo e reduzir margens de erro. Portanto, é necessário que o coachee esteja preparado para submeter-se ao processo. Isso porque, sendo o coaching um método prático e também reflexivo, ele pode oferecer diversas quebras de paradigma, necessárias para o rompimento de padrões que causam lentidão ou nulidade de resultados. Portanto, qualquer indivíduo submetido a um processo de coaching precisa estar disposto a assumir a responsabilidade pela aplicação dos planos desenvolvidos naquele, bem como estar disposto a abandonar convicções, comportamentos ou processos antigos, caso se perceba que esses são obsoletos e prejudiciais para o objetivo da organização. Mais à frente, você entenderá como o coaching atua em situações aparentemente caóticas para auxiliar o coachee a reorganizar os elementos em um cenário de fácil compreensão e de ação possível. Por enquanto, é importante que você tenha clareza de que o processo de coaching é principalmente aplicável nos seguintes tipos de situação, quando há: conflitos internos; sobrecarga de recursos; ou falta de recursos. 4.1 Conflitos internos O coaching pode ser utilizado como uma poderosa ferramenta de alinhamento de valores. Isso significa que indivíduos com comportamentos e pensamentos conflitantes, que têm sua produtividade afetada pelo clima organizacional, podem vir a trabalhar em conjunto quando, por meio de um processo de coaching, conseguem conciliar suas visões, pensando e agindo em conjunto e de maneira colaborativa. Esse tipo de mudança pode gerar uma maior disposição e comprometimento das equipes para aprimorar e executar processos. 12 4.2 Sobrecarga de recursos Chamaremos de sobrecarga de recursos as situações em que organizações possuem possibilidades financeiras, humanas e estratégicas, mas não conseguem gerar resultados com os recursos disponíveis. Em geral, esse tipo de situação se evidencia quando a empresa sente que alcançou uma espécie de limite de crescimento, com dificuldade para enxergar novos passos e oportunidades no mercado. Outra evidência recorrente dessa situação é a aplicação intensa de recursos com um resultado comparativamente muito pequeno, em resposta. A empresa parece estagnada, como se patinasse no mesmo lugar. 4.3 Falta de recursos A organização se vê num momento em que parece ser barrada pela escassez financeira, pelo mau comportamento ou pela falta de comprometimento do pessoal ou por um mau momento de mercado – como uma crise ou uma depressão do setor. Para líderes, essas situações se apresentam quando o indivíduo parece não ter o respeito e a autoridade necessários diante de sua equipe de liderados. Nessas ocasiões, o coaching pode auxiliar a organização a descobrir alternativas e a lidar com o contexto de modo a criar recursos ou utilizar estratégias onde aqueles são menos necessários. Em qualquer um dos contextos antes discriminados, é importante compreender que existem alguns fatos a se ter em mente no caso da decisão de se contratar um coach. A primeira coisa a se ter em mente é que, no Brasil, não existe uma regulamentação legal para a prática da profissão. Isso significa que, como na maioria das áreas do mercado, o cliente potencial pode se depararcom profissionais pouco qualificados ou sem qualificação alguma. Nesses momentos, é necessário discernimento para não permitir que o marketing bem executado custe resultados e despesas infrutíferas. Portanto, vamos a algumas sugestões para a contratação de um coach qualificado: • Verificação do preparo: o coach qualificado provavelmente terá sido formado por uma instituição ou profissional bem posicionado e com amplo histórico de resultados. 13 • Inventário de resultados: um bom coach utiliza o processo consigo mesmo e/ou contrata outros coaches. Portanto, pode-se esperar, embora não seja regra, que um coach organizacional competente terá em seu currículo algumas evidências da prática de sua competência. • Credenciais: para algumas demandas, algumas organizações costumam dar oportunidades a coaches sem um histórico de clientes. Todo coach teve um primeiro cliente, mas um coach mais experiente pode significar maior segurança de resultados em áreas mais complexas ou críticas. • Entrevista: um coach competente precisa saber demonstrar seu conhecimento aplicado a contextos reais. Se tiver a oportunidade, entreviste o potencial coach para expô-lo a situações hipotéticas e fazer outras perguntas que considere importantes. Nenhum dos pontos anteriores, à exceção do último, deve ser fator decisório sozinho – para aprovação ou para desaprovação de um profissional. Analisá-los em conjunto, juntamente com outras variáveis inerentes à organização, garante maior assertividade na contratação de profissionais da área. Outra coisa a se ter em mente é que um coach empresarial precisa ser altamente competente em coaching e em sua aplicação em organizações, mas não necessariamente precisa ser formado em administração ou áreas semelhantes. Eventualmente, formações em outras áreas técnicas podem, inclusive, ser um problema se o coach impuser seus conhecimentos e opiniões, adotando um papel de mentor ou conselheiro. Por fim, a última coisa a se ter em mente é que o profissionalismo e a humildade para o reconhecimento dos limites da competência são essenciais para o coach qualificado. Esses atributos são fundamentais para evitar falhas como a antes citada. TEMA 5 – COMO FUNCIONA O COACHING Com base em todo o conteúdo que expusemos até aqui, é possível compreender o coaching como um processo que demanda profissionalismo. Com ele, é possível reduzir o tempo e os riscos para alcance de resultados, além de se evitar falhas e breakdowns, ao se identificar riscos e oportunidades com antecedência. Vamos, agora, entender a aplicação do método. Conforme visto, o coaching é uma aplicação dos princípios socráticos de modo estruturado e validado para o alcance de resultados. Isso significa que, 14 durante o processo, o coachee será questionado pelo coach e conduzido à reflexão mais aprofundada dos fatos e das conclusões preestabelecidas. Durante as sessões, o coachee pode vir a dominar a vez de fala por até 90% do tempo, já que o papel fundamental do profissional será auxiliá-lo na escolha das direções para a qual projetará seu pensamento, bem como na escolha entre os pensamentos analítico ou criativo, a cada momento. Também faz parte das sessões a utilização de ferramentas. As ferramentas de coaching fazem parte do arsenal do profissional e são modelos-padrão de questionamento devidamente estruturados para gerar tipos específicos de reflexão. Em suma, portanto, num processo de coaching o profissional conduzirá o coachee, por meio de questionamentos e ferramentas, a direcionar seu foco de maneira inteligente, com o intuito de utilizar seu próprio conhecimento e expertise para identificar os melhores caminhos de ação a serem seguidos – mesmo que estes signifiquem procurar por novos conhecimentos ou recorrer ao auxílio de parceiros ou outros profissionais. 15 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Recursos humanos. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DRUCKER, P. O gestor eficaz. 1. ed. São Paulo: LTC, 1990. GALLWAY, W. T. O jogo interior do tênis: o guia clássico para o lado mental da excelência no desempenho. [S.l.]: SportBook, 2019. GOLEMAN, D. Inteligência emocional. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva: 1995. ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. AULA 2 COACHING NAS ORGANIZAÇÕES Prof. Marcelo Zanchi 2 TEMA 1 – CONCEITO DE CONSULTORIA A consultoria tem um papel importantíssimo no mundo executivo mundial. Por meio da consultoria, grandes métodos facilitadores de processos e resultados puderam ser difundidos, colaborando assim imensamente para a inteligência de processo e o ganho de produtividade. A consultoria tem suas origens desconhecidas, mas que remetem ao início das relações humanas, quando um ancião demonstrava uma certa sequência de ações para se chegar a um resultado. Essa busca de um padrão, mediante tentativa, acerto e erro, criava em alguns membros das “tribos” autoridade para que, no momento de apresentar suas descobertas, elas pudessem ser aceitas pelos demais. A criação das ferramentas de sobrevivência e de caça também pode ser o início dos processos de consultoria, na humanidade. Após a criação de uma ferramenta nova, a maior probabilidade era de que se criasse um “método” por tentativa, acerto e erro que pudesse extrair o melhor daquele novo aparato. Consultoria, em sua essência, é ato de reflexão, criação e conferência para deliberação de assuntos que requeiram prudência e controle. Na consultoria, a reflexão na busca de respostas gera uma metodologia, que, aplicada aos processos, tende a uma solução ou parecer. Durante toda a existência do ser humano na Terra, temos relatos, desde as sociedades mais complexas e bem-sucedidas até as mais simples e quase desconhecidas, da existência de indivíduos adotados como guias, que aconselhavam seus povos em todas as esferas do conhecimento, como nas ações de guerra, na caça, nos relacionamentos, no cuidado da saúde física e até da psicológica. Dessa forma, podemos concluir que a consultoria deriva da construção permitida pela tradição de um padrão de ações do ser humano, em torno da satisfação de suas necessidades. De acordo com o professor Paulo Roberto B. Jacintho, os homens sagrados, que posteriormente seriam o que conhecemos como sacerdotes, podem ser fruto dessa construção feita pela tradição, pois os assuntos ligados à espiritualidade sempre foram assuntos que demandam de líderes para apaziguar respostas que nem sempre estão na linha lógica de raciocínio. Na Grécia Antiga, segundo o professor Jacintho, os sacerdotes do Oráculo de Delfos já prestavam consultoria, considerando as leituras dos padrões humanos e pela observação dos fenômenos naturais, entendidos naquela época como predições de alguns 3 poucos homens escolhidos pelos deuses. Nesse ambiente, os primeiros filósofos surgiram e, com eles, a busca do conhecimento do ser humano e também do entendimento racional do mundo. Sempre pensando no encontro de uma solução para os problemas que surgiam, a consultoria evoluiu como negócio teórico, científico e prático, nas empresas, dos anos 1940 para cá. Empresas americanas e europeias usavam os estudos científicos feitos pelas universidades e aplicavam essas teorias, com uma metodologia, aos seus processos operacionais. Com isso, esse segmento que captava a teoria das universidades e a transformava em prática nas empresas começou a tomar corpo e desenhar-se como negócio promissor. Olhando para o panorama atual, a consultoria representa a transição do conhecimento adquirido pela teoria e sua transformação em prática operacional com foco no desenvolvimento do objetivo humano. Em sua essência, é a busca constante do saber, para implementação de um benefício comum. O princípio básico da consultoria é ser genuinamenteútil para os outros. Atualmente nos deparamos com o processo de consultoria realizado de forma homogênea, se vista pelos olhos do meio corporativo; mas, isso não quer dizer que ela não esteja também presente nos cenários pessoais e sociais. Empresas constituídas para esse fim apresentam ideias e metodologias que promovem o desenvolvimento de outras empresas ou pessoas que necessitam passar pelos mesmos processos já vividos por outros. A consultoria pode ser apresentada de quatro formas comerciais distintas, levando-se em consideração os seus critérios-chave, ou seja, aqueles critérios que fazem sentindo para o aprimoramento do produto, ora entendido como um produto comercial, um serviço ou um elemento de desenvolvimento humano. 1. serviço ou produto; 2. estrutura; 3. abrangência; 4. relacionamento adotado. Quando a consultoria apresenta seu trabalho, ela define qual o escopo a ser abordado, a sua ação e qual a metodologia será aplicada, nesse contexto. Para a definição do escopo, segmenta-se o trabalho em uma das quatro sessões expostas anteriormente. É importante esclarecer que cada consultoria pode apresentar seu próprio método. Então, para fins didáticos, fixamos as possibilidades entre essas quatro opções. Vale ressaltar, ainda, que encontramos, 4 no mercado, empresas de consultoria que têm um produto já formatado e atuam de forma igual para todos os seus clientes, apresentando-lhes uma expertise já testada e aprovada. Assim como, por outro lado, outras empresas de consultoria primeiramente definem qual o segmento a ser contemplado, depois aculturam seu conhecimento a respeito de seu cliente para, somente após isso, apresentar-lhe um produto personalizado, no estilo tailor maid. A consultoria, porém, somente define-se como consultoria caso ela tenha métodos ou produtos já aplicados ao mercado, que possam ter seus resultados comprovados por outras empresas. Em resumo, uma empresa de consultoria precisa necessariamente ter expertise no assunto a ser contratado, pois irá entregar um produto pronto para seus clientes. Ou seja, ela irá perceber que o problema do cliente implica um panorama que se encaixa nos problemas solucionados por sua ferramenta. Nesse caso, a consultoria implanta sua metodologia, entregando uma solução pronta para seu cliente. Muitas vezes, os clientes precisam se adaptar às novas rotinas implantadas pela metodologia da consultoria. A contratação de uma empresa de consultoria é muito indicada para resolução de problemas organizacionais de cunho padrão, como financeiros, de contabilidade e controladoria, de recursos humanos etc. Um dos pontos cruciais da consultoria, seja ela uma empresa, seja um consultor individual, é trabalhar a aceitação, a suas ideias, de uma companhia que tende a pensar que já sabe tudo sobre determinado assunto e agora terá que assimilar conceitos fornecidos por terceiros. A consultoria tem que aprender a lidar com a resistência por parte de executivos que não dão o devido crédito à expertise apresentada pela consultoria e, muitas vezes, a consideram até como um intruso em seu negócio. Quando o consultor é interno, ou seja, um colaborador que passa a exercer o papel de consultor, o problema de aceitação pode ser ainda maior: apesar de ele já estar inserido no negócio e conhecer as pessoas, muitas vezes não recebe os créditos de sua experiência pelo fato de estar em uma categoria hierárquica normalmente inferior à dos executivos, pois isso significa executivos de maior escalão na estrutura da empresa aceitar indicações de mudança de um subalterno. Considerando esse cenário muitas vezes conflitante e de embate, o consultor, seja ele interno, seja externo, seja empresa, seja indivíduo, deve ter um grande poder de persuasão e convencimento de sua proposta, uma vez que ela ocasionará mudanças na estrutura organizacional e nos processos do cliente. 5 TEMA 2 – CONCEITO DE MENTORIA Mentores existem no mundo há séculos. Os seres humanos sempre buscaram nas outras pessoas referências para suas atitudes e comportamentos, modelando assim seu modo de ser e agir. Para falar sobre mentoria, é importante você saber que esse método, inicialmente, é uma excelente ferramenta para que um profissional, seja ele funcionário, seja empresário, possa conhecer o mercado em que se encontra. O mentor, como é chamado quem aplica a mentoria, deverá necessariamente ter expertise no assunto, de preferência de maneira prática, para que possa oferecer estratégias assertivas para se alcançar os resultados desejados. Dessa forma, o mentorado, pessoa que recebe a mentoria, atingirá seus objetivos sem ter que passar pelo erro para compreender como as coisas funcionam. A mentoria é feita por um profissional com expertise em uma área específica em que, pessoalmente, já tenha adquirido experiência prática suficiente para conduzir seu cliente. O mentor conduz o mentorado apoiando-lhe, gerando reflexões e implementando rotinas e processos para que os resultados aconteçam com mais segurança e velocidade. No livro Coaching e mentoring: foco na excelência, Wunderlich e Sita (2014) apresentam mentoria como um método em que o profissional menos experiente faz uso dos conselhos de outro mais experiente, que é um modelo para o mais novo. “No mentoring, o mentor disponibiliza sua experiência, seus conhecimentos, sua perspectiva e visão dos fatos, para que o profissional mais novo possa progredir na carreira”, afirmam os autores (Wunderlich; Sita, 2014). A mentoria tem foco em ajudar a alcançar objetivos, melhorando e aprimorando processos e caminhos, tendo como alvo e propósito auxiliar o outro a adotar um percurso mais promissor, com menos possibilidades de erro de jornada. O processo de mentoria pode ser feito individualmente ou em grupo, para subordinados ou patrões, sempre com o objetivo de alcançar um objetivo. Se fizermos uma comparação entre mentor e consultor, o mentor tende a ser um profissional mais informal, pois suas conversas são normalmente estratégicas e demandam de muita confiança. O mentor deve ter sempre em seu radar que a conexão com seu mentorado deve ser autêntica, uma vez que suas indicações e sugestões tendem a ser o plano de ação de seu cliente. Em outras palavras, o mentorado receberá sugestões de um mentor mais experiente para alcançar um nível mais elevado. 6 Nos últimos anos, a mentoria vem se tornando uma ferramenta de suma importância, uma vez que encurta os caminhos do aprendizado. Imagine um empreendedor muito focado em seu novo negócio, com muita clareza, em sua mente, de aonde quer chegar, porém sem experiência em todos os segmentos pertinentes a essa nova empresa e conhecimento de toda a teoria sobre o assunto, pois vivemos no momento da informação, em que somos bombardeados com bilhões de informações e precisamos organizar tudo isso. Como saber onde focar primeiro, qual o primeiro passo e onde investir dinheiro e aprendizado? Se esse empreendedor for esperar saber tudo sobre o assunto, muito provavelmente morrerá de velho sem tirar seu negócio do papel. Então, nesse caso, entra o mentor, apontando os passos e sugerindo em que o empreendedor deve concentrar seus esforços. Com isso, o caminho se encurta, pois a trilha mais focada e com menos ruído permite o sucesso mais rapidamente e com menos esforço. O fato da mentoria é que você terá um forte aliado, que já trilhou o caminho que você está iniciando, tendo a certeza de que esse caminho lhe dará a estabilidade que você deseja para seu negócio. A mentoria, contudo, não auxilia somente a vida profissional. Muitas vezes, a experiência do mentor gera insights para a vida pessoal da mentorado. Isso é muito comum, pois sabemos que, apesar de separarmos a vida pessoal da profissional, somos o mesmo ser humano, ou seja, as dores pessoais de algumas decisões já vividas pelo mentorpodem fornecer experiência para o mentorado não passar por aquilo. Vivemos em um momento em que, se formos aprender tudo por acerto e erro, teremos a impressão de que não vai dar tempo para nada. Então, a mentoria diminui essa dor e encurta o caminho para se chegar aos objetivos traçados. Quando você opta por contratar uma mentoria, deve esperar ouvir muito do mentor, pois é disso que a mentoria se trata: o mentor lhe dar as dicas e conselhos e você analisá-las em sua vida e em seu contexto e daí, então, definir por empregá-las ou não. O mentor, por meio de suas vivências, acertos e erros, vai provocá-lo a tomar decisões e, quando você as tomar, vai apoiá-lo para chegar ao objetivo proposto. Imagine seu instrutor de autoescola, enquanto lhe ensinava a dirigir. Ele usava de todo o conhecimento teórico e mais sua experiência como motorista para conduzi-lo a seu objetivo, que era tirar sua habilitação. Outra forma de mentoria em nossa vida é como você aprendeu a se barbear, olhando seu pai fazendo isso, ou como você aprendeu a se maquiar, vendo sua mãe fazer isso. 7 Aqui, usamos exemplos bem informais, mas a mentoria profissional está alicerçada em uma comunicação imparcial, responsável e ética, porque é uma troca profissional com um objetivo. Na mentoria, o mentor mostra como faz e ainda ajuda a executar determinada ação. Alguns exemplos de utilização da mentoria contemplam situações como: a. desenvolvimento de um negócio; b. elaboração de um plano de carreira; c. aprimoramento de processos; d. alavancagem mercadológica; e. desenvolvimento e planejamento de processos; f. comunicação e relacionamento, dentro das organizações; g. capacitação de liderança etc. TEMA 3 – CONCEITO DE COUNSELING Conselheiros informais são encontrados desde a década de 1930, quando o médico austríaco Sigmund Freud apresentava seus estudos sobre a mente humana. Esses conselheiros, com conhecimento mais abrangente que os demais, aconselhavam as pessoas a buscarem a felicidade. O counseling profissional, por sua vez, tem origem nos Estados Unidos, nos anos 1950, por intermédio de um psicólogo chamado Carl Rogers. Rogers entendia que todo ser humano tem, dentro de si, os recursos necessários para a resolução de seus problemas. Tal conceito, contudo, teve origem bem mais cedo, em 450 a.C., por Sócrates, que constituiu a maiêutica socrática, tema estudado anteriormente. Partindo para um modelo de interiorização e autoconhecimento, o counseling, que significa aconselhamento, em inglês, tem um objetivo, antes pessoal, para que a pessoa tenha capacidade e clareza para efetuar escolhas acertadas na sua vida pessoal e profissional. Por esse motivo, o counseling é muito usado na área clínica, no âmbito psicológico e médico. Nos anos 1970, esse método de desenvolvimento humano chegou à Europa, reforçando ainda mais o seu uso clínico. Com o conceito de ajudar o ser humano a se ajudar, ele se difundiu entre psicólogos e psicanalistas e, consequentemente, logo foi incorporado pelo coaching e pelo mentoring, iniciando-se assim uma jornada também pelos meios executivos. O profissional de counseling, chamado de counselor, tem como objetivo identificar crises pessoais que refletem no desempenho profissional, ajudando de 8 forma direta e direcionada seu cliente com uso de técnicas de aconselhamento, muito procuradas por pessoas que estão com problemas emocionais ou fragilizadas profissionalmente. Por esse motivo, é comum se encontrar um counselor ligado à psicanálise ou alguma área correlata. Basicamente, encontramos três tipos de counseling: 1. Counseling na área de carreira, focado nos resultados profissionais e no desenvolvimento humano ligado ao desenvolvimento profissional. Não é raro o counseling iniciar com objetivos profissionais e finalizar trabalhando necessidades pessoais. 2. Counseling emocional, focado no equilíbrio emocional, nas fragilidades e dificuldades humanas. Esse tipo de counseling, mesmo quando focado em esferas emocionais, pode ter objetivo de autoconhecimento para desenvolvimento profissional. Por esse motivo, é comum ser liderado por um terapeuta, o que mostra, mais uma vez, a forte ligação desse tipo de counseling com a psicologia. 3. Counseling matrimonial, muito usado nos Estados Unidos e Europa e pouco difundido no Brasil. Nesse tipo de counseling, um casal procura auxílio de um counselor para apoiá-lo na solução de problemas relacionados ao casamento. As respostas obtidas nos processos de counseling são imediatas e normalmente precisas. Quase em um formato de terapia, os conselhos são passados aos clientes em forma de roteiro informando as ações necessárias a serem tomadas, inclusive apontando a possível solução para superar os obstáculos do caminho. TEMA 4 – DIFERENÇAS ENTRE AS MODALIDADES Saber a diferença entre as três modalidades aqui apresentadas é de suma importância para que você possa ter capacidade técnica para optar pela solução mais pertinente ao seu negócio. Muitas pessoas entendem que consultoria, mentoria ou aconselhamento são a mesma ferramenta ou tem a mesma metodologia. Apesar de, muitas vezes, esses métodos se cruzarem na prática, em sua essência eles são muito distintos. Cada um deles tem uma forma de abordagem e um resultado esperado. Muitas vezes, a escolha errada da ferramenta pode atrasar o desenvolvimento pessoal ou profissional do 9 interessado. É de suma importância entender as diferenças entre eles para que as suas soluções sejam efetivas, e que cada percalço da vida requer uma solução diferente. Por isso, cada metodologia pode flexibilizar para abranger o máximo possível do problema e construir para ele uma solução. Escolher a metodologia correta é o início da solução do problema. Vamos imaginar o seguinte panorama: que o ideal para solucionar um determinado problema fosse contratar uma mentoria, mas você, em sua avaliação, entendeu que o aconselhamento seria melhor. Nesse caso, o que acontece? A princípio, o aconselhamento pode chegar ao mesmo resultado; porém, o seu custo em tempo de trabalho e energia empregada será alto. Entenda que todas as ferramentas podem lograr êxito; porém, a forma de chegar ao resultado é que muda. Consideremos o conceito de mentoria, em que o mentor tem que ter a expertise suficiente para apoiar seu cliente, tem que ter vivenciado a situação a ser construída. Nesse caso, se você errar a contratação da metodologia e, em vez de contratar um mentor, contratar um consultor, muito provavelmente, em vez de construir seu próprio processo, vai recebê-lo pronto, já finalizado pela consultoria. Veja que, nessa situação, temos prós e contras. Ao mesmo tempo que a consultoria entregou pronta uma solução e você pode colocá-la em ação imediatamente, você não aprendeu o seu passo a passo e continuará sem saber como ela funciona em detalhes, deixando você incompetente no assunto, mesmo com o processo agora funcionando. Analisar bem o fato para, depois, definir qual o método a ser empregado pode ser o segredo entre o sucesso de médio prazo ou o fracasso. Cada ferramenta tem suas características e auxilia no desenvolvimento e nas habilidades, despertando uma nova consciência em seu usuário. Portanto, a escolha certa é primordial para a evolução. Perceba que a consultoria lhe entrega um produto normalmente pronto. Algum ajuste acontece, mas a espinha dorsal do projeto normalmente já se encontra formatada, precisando apenas de alguns ajustes. Em projetos de consultoria, é muito comum o emprego de um software para suportar a metodologia usada. Os processos de consultoria, para empresas, que visam aos departamentos com serviços comuns como os de recursos humanos, contabilidade, financeiro etc. são mais requisitados do que os métodos de mentoria ou aconselhamento. Já a mentoria é algo similar a um apadrinhamento. O seuconceito básico é usar o know-how de alguém que já passou por aquele 10 problema para apadrinhar os processos e facilitar a implementação de uma solução. Na mentoria, o mentor mostra como fazer e as vezes até executa essa solução junto ao mentorado, mostrando seu conhecimento na prática. O counseling já tem um viés mais emocional, em que o profissional que aplica o processo necessita de um conhecimento mais aprofundado da mente humana, uma vez que o aconselhamento normalmente se dá em âmbito pessoal. Vale ressaltar que, apesar desse viés psicológico, muitas vezes o assunto a ser resolvido pode ser profissional. É importante entender as diferenças entre as ferramentas identificando as potencialidades e fraquezas de cada uma para que a solução do problema seja efetiva. Cada situação-problema deve ter uma abordagem específica e sob medida, para que o seu resultado seja satisfatório. Todas as ferramentas são extremamente poderosas e podem levar ao sucesso de qualquer pessoa ou corporação. Àqueles três conceitos podemos ainda somar o coaching. Já falamos sobre ele anteriormente. Esse método também é muito eficaz no apoio à resolução de problemas e criação de planos de ação. O coaching trabalha além, com planos de ação extremante eficazes, impulsionamento de dons, talentos e habilidades já existentes. Enfim, em mentoring, consultoria, counseling ou coaching as habilidades sociais dos profissionais que atuam para o desenvolvimento de outras pessoas estão voltadas em 80% à capacidade de interagir e compreender o impacto das crenças limitantes e dos motivadores nas ações de seus clientes. Todas essas ferramentas têm suas preferências e particularidades, mas ao mesmo tempo todas convergem para uma meta em comum, que é auxiliar no desenvolvimento humano e profissional trilhando-se um caminho seguro e sustentável, de acordo com as convicções de vida de cada um. TEMA 5 – COMO APLICAR AS METODOLOGIAS A forma de aplicação de cada metodologia é importante, pois nem todas as pessoas ou empresas estão dispostas a trabalhar com certos formatos. Neste tema, apresentaremos de que forma cada metodologia é aplicada, abrangendo ainda o coaching, metodologia apresentada em conteúdos anteriores. Se considerarmos que todos os métodos e ferramentas apresentados nesta aula e o coaching, apresentado anteriormente, são processos para auxiliar no 11 desenvolvimento, alinhar possíveis divergências de conduta de processos ou então impulsionar os resultados, então podemos dizer, de uma forma mais generalista, que a aplicação de qualquer um dos métodos apresentados obrigatoriamente começará pela fase de conhecimento, referente às expectativas do cliente, ou seja, a qual o resultado esperado pelo cliente ao final do processo. A forma de levantamento de dados e informações, o que podemos chamar de aculturação, difere entre os quatro métodos, a saber: 1. Consultoria: a aculturação, em um processo de consultoria, visa buscar, além da modificação final de algum resultado, também encontrar melhores caminhos para os processos. A consultoria irá apresentar sugestões para novos processos e até novas formas de se fazê-los. Não é raro, já na aculturação feita pela consultoria, o cliente perceber que, mudando alguns caminhos e parâmetros, poderá obter muitos benefícios, sejam eles financeiros e econômicos, sejam eles de produtividade. Na aculturação, a consultoria deverá preocupar-se com alinhar sua metodologia de trabalho à cultura da empresa, uma vez que a cultura da empresa normalmente representa sua coluna de sustentação de negócio. Em caso de necessidade de se fazer alguma modificação de pilastra central na cultura da empresa, a consultoria deverá antecipar os impactos que essa modificação originará, para que o cliente decida se quer ou não continuar o processo. Ainda no momento da aculturação, a consultoria passará todo o conceito teórico de alguma inovação administrativa ou de processo que venha a implantar. Essa conceituação antecipada torna-se importante uma vez que novos conceitos podem não ser bem-aceitos, o que colocaria em risco todo o projeto. Um exemplo prático e muito atual que poderíamos citar, referente ao assunto novos conceitos, seria: uma consultoria indicar trabalho em home office a um determinado departamento. Repare que até aqui isso parece normal; mas, se considerarmos que a empresa cliente é uma empresa de 100 anos de existência, cujos donos ainda se encontram na segunda geração de liderança, podemos ter um conflito de conceitos e ideologias que muito provavelmente não agradariam ao cliente. Por mais que a consultoria tenha boas ideias e ótima metodologia, ela tem que estar alinhada com os conceitos culturais do cliente. 2. Mentoria: a aculturação, no processo de mentoria, tem um espoco um pouco diferente, se comparado com o da consultoria. Para o processo de 12 mentoria, a grande pergunta paira sobre conhecer se o mentorado sabe qual o caminho que o mentor percorreu enquanto construía seu legado de conhecimento. Lembre-se de que uma boa mentoria depende muito do conhecimento do mentor e do caminho que ele vai percorrer com o mentorado. No caso da aculturação da mentoria, o mentor irá, em forma de entrevista, captar o máximo possível de informações referentes à trilha de trabalho a ser percorrida pelo mentorado. Uma vez que o mentor perceba similaridade, por generalização, ele dará seu aceite ao processo. Muitas vezes, apesar de o mentorado e o mentor estarem no mesmo segmento de negócio, o que teoricamente faria com que o caminho do sucesso fosse o mesmo, o mentorado pode ter uma doutrina e cultura totalmente diferentes das do seu mentor, o que pode acarretar insucesso para o processo. É papel do mentor analisar essa situação minuciosamente, para dirimir ao máximo a possibilidade de conflito conceitual. O processo de aculturação fornecerá ao mentor informações para que ele possa gerar um plano de ação da forma mais produtiva para seu cliente. Nesse momento, se desenharão o caminho e todo o conteúdo de competência técnica a serem apresentado para o mentorado. É na aculturação que o mentor gerará a espinha dorsal do processo. 3. Counseling: nosso próximo processo é o counseling. O momento da aculturação do counseling, a exemplo da mentoria, ocorre por meio de entrevista ao cliente. A entrevista, no counseling, tem a intenção de buscar todas as dores que o cliente tem para alcançar seus resultados. Com um foco mais emocional, o counselor irá conduzir a entrevista extraindo de seu cliente aquilo que ele entenda ser o principal motivo a ser trabalhado no processo. Como o counseling tem uma linha de aproximação tênue com a terapia e, consequentemente, com a psicologia, o processo não será desenhado integralmente nesse momento, pois outras características e informações relevantes para o processo poderão aparecer durante os encontros. É muito comum, na aculturação do counseling, ocorrer uma leitura comportamental que poderá balizar uma primeira estratégia para o início do processo. 4. Coaching: acreditamos ser importante abordar neste tema, também, o coaching, que foi assunto de conteúdos anteriores. Por ser também um método, o coaching, seguindo o exemplo dos anteriores, também necessita 13 de aculturação, porém ele atua de uma forma um pouco diferente dos demais. Por ser um método que busca o entendimento interior do cliente, o coaching sempre será estimulado por perguntas, pois isso faz parte de sua estrutura. No momento da aculturação desse método, o coach irá extrair do seu coachee, nome que se dá a quem recebe o processo de coaching, qual seu objetivo final. Com essa informação, o coach irá traçar a melhor estratégia para que seu cliente tenha insights que o impulsionarão, no seu caminho. Na aculturação do coaching, será apontado o ponto de origem (atual)da situação-problema, normalmente denominado como ponto A, e qual será o ponto desejado a se atingir, denominado ponto B. O caminho para o cliente percorrer entre ponto A e ponto B poderá ser modificado a cada sessão, pois novas informações serão percebidas pelo coachee. Um dos pontos principais na aculturação do coaching é o momento chamado de rapport. Esse é o momento em que o coach estabelece conexão com seu coachee, conexão essa que gera a confiança necessária para que o processo avance. Na aculturação do coaching, ocorre ainda a análise do coach, em que este decide se realmente irá aceitar conduzir o processo, pois, para que um processo seja bem-sucedido, coach e coachee devem estar alinhados para que, juntos, busquem o objetivo proposto pelo coachee. Na aplicação, também temos algumas diferenças entre os quatro métodos: 1. Consultoria: na consultoria, o processo ocorre no formato de entrega, ou seja, todo o conteúdo a ser implantado naquela fase é preparado pela consultoria e, com data e horário marcados, se apresenta o assunto proposto para aquele momento. Logo após a entrega do módulo proposto, a consultoria passa para a fase de implantação, realizando a capacitação de todos os envolvidos. A capacitação poderá ocorrer em formato de treinamento ou mentoria. Normalmente, cada entrega de módulo ocorre com intervalo de tempo pertinente para seu desenvolvimento e aprendizagem, por parte da empresa. É comum a consultoria permanecer na empresa que está implantando a metodologia, para que possa calibrar e acompanhar as suas dificuldades com a implantação. 2. Mentoria: a aplicação acontecerá em formato de encontros diários, semanais ou mensais. É comum o mentor passar um tempo contínuo com o mentorado, principalmente no início do processo, em que as 14 características da mentoria ainda não estão bem estabelecidas. Com o passar do tempo, o mentor começará a espaçar o prazo dos encontros, pois seu mentorado já estará “andando com suas próprias pernas”. De acordo com a calibragem do mentor com relação ao aprendizado do mentorado e da realização do objetivo proposto na aculturação, o processo será encerrado. 3. Counseling: a aplicação se dará com encontros semanais ou quinzenais, em formato de sessões, normalmente de uma hora cada. A frequência dos encontros não segue um padrão pré-estabelecido, pois, pelo fato de muitas vezes se estar trabalhando situações emocionais referentes ao trabalho, o counselor analisará cada caso estabelecendo qual a frequência dos encontros, qual o seu tempo de duração e qual o seu número provável de sessões. Um número provável de sessões é dez, mas não é incomum um counselor permanecer nas empresas por anos. 4. Coaching: a aplicação se dará mediante encontros semanais, a exemplo do counseling, ou quinzenais, sempre em formato de sessões, normalmente de uma hora. Como existem vários tipos de coaching (coaching de vida, coaching executivo, coaching de time etc.), o tempo de sessão pode variar bastante, sendo um referencial que se realize entre uma a três horas. O número de sessões do coaching está balizado em dez, mas, muitas vezes, isso pode ser reduzido em função de o coachee já ter alcançado seu objetivo; como pode ser estendido, pelo fato de não tê-lo atingido. O coaching, por ser muito dinâmico, a cada sessão poderá ter uma aplicação diferenciada da anterior, ora com conteúdo, ora com dinâmica, ora com ferramentas. 15 REFERÊNCIAS WUNDERLICH, M.; SITA, M. Coaching e mentoring: foco na excelência. São Paulo: Ser Mais, 2014. AULA 3 COACHING NAS ORGANIZAÇÕES Prof. Marcelo Zanchi 2 TEMA 1 – LIDERANÇA MAIS HUMANIZADA, COM TÉCNICAS DE PNL O mercado e a civilização humana como um todo estão vivendo dois movimentos simultâneos. Por um lado, o foco se deslocando cada vez mais para o ser humano, tanto na forma do público, que passa a se tornar mais exigente, quanto na forma dos profissionais, que buscam, cada vez mais, conciliar carreira e saúde. Por outro lado, a urgência e o imediatismo vão se tornando cada vez mais presentes. A lei do primeiro a chegar parece estar se formando, privilegiando os capazes de entregar bons resultados no menor tempo possível. Mesmo sem levar em consideração o terceiro movimento, que permeia os dois primeiros, sendo esse o da automação da maioria dos processos manuais, é possível entender a importância da competência de multiplicar o potencial intelectual e produtivo de forma saudável, aumentando-se a produtividade, da forma mais agradável, ao mesmo tempo. Imagine a possibilidade de se utilizar toda a dedicação e o comprometimento de dez ou mais mentes trabalhando em conjunto, igual e intensamente interessadas no crescimento de um departamento, ao invés de se depender de uma única mente para comandar vinte braços. Criar esse movimento é, em essência, o papel e o desafio do líder moderno. Ter a habilidade de conduzir diversas pessoas diferentes para um pensamento e comportamento conjunto que seja funcional e frutífero, com espaço para correções técnicas e de conduta, sem a interferência no livre-arbítrio das pessoas: esse é um dos maiores desafios enfrentados por qualquer aspirante à liderança. Não bastasse a complexidade do comportamento e a volatilidade humana, o líder em ascensão precisa ainda considerar os conflitos de interesses entre indivíduo e organização. Se consideradas essas e tantas outras variáveis, torna-se indispensável considerar a relevância de, como já vimos anteriormente, se ocupar da boa gestão do recurso humano que operacionaliza os processos. Assim sendo, podemos concluir que o líder eficiente não é aquele mais competente no desenvolvimento de sistemas e processos, mas aquele com maior capacidade de relacionamento e influência produtiva sobre os indivíduos de uma equipe. Em 1975, na Universidade da Califórnia, o grupo de estudos do cientista de dados e então aluno de psicologia Richard Bandler (1982) e de seu professor de linguística John Grinder (1982) deu um passo importante no desenvolvimento de um conjunto de técnicas e filosofia comportamental voltado a identificar e 3 possibilitar a mudança de padrões em indivíduos. Esse conjunto, denominado programação neurolinguística (PNL ou NLP, na sigla original do inglês), em alusão à sua natureza, foi então descoberto como uma ferramenta excepcional a ser aplicada no contexto organizacional, sobretudo a fatores de liderança. Segundo O’Connor (2017), para liderar e influenciar, é necessário, primeiro, permitir-se ser influenciado. O líder competente terá a disposição de compreender os valores de seus liderados, isto é, compreender seus objetivos e motivações. Uma vez que um indivíduo se sinta compreendido e entenda que suas necessidades e anseios são respeitados pelo líder, ele mostrará uma predisposição muito maior a ser influenciado. A PNL trata esse relacionamento de qualidade e confiança, quando todos os envolvidos estão predispostos a ser influenciados em algum nível, pelo nome de rapport. O rapport pode ser construído em vários níveis, não sendo um elemento binário. Uma pessoa pode criar rapport com outra em nível somente suficiente para influenciar seus gestos em determinado contexto ou em nível suficiente para influenciar todo o seu posicionamento em relação à organização e/ou a suas demandas. Nesse contexto, construímos também um cenário autoexplicativo da importância da habilidade de empatia, na liderança. Uma razão para isso, digna de destaque, é embasada na proposta de Weick (1990, citado por Zanelli; Borges-Andrade; Bastos, 2004) sobre mapa cognitivo, conceito adotado pela PNL e integrado a outros conceitos e cuja sugestão é a de que o ser humano vive um mundo próprio, construído pela sua própria interpretação da realidade. Isso posto, percorremos um caminho importante ao compreender que só é possívelo trabalho conjunto e harmônico de indivíduos diferentes se estes conseguirem encontrar um pivô – algum significado atribuído à realidade que seja comum a todos os membros da equipe. Esse pivô, que chamaremos de elo da equipe, pode ser um objetivo comum, um inimigo comum, princípios em comum e semelhantes. Apresentamos essas informações para tornar mais compreensível a necessidade das soft skills e de ferramentas como a PNL para o exercício de uma liderança bem-sucedida. Agora, vamos desenvolver a aplicação prática delas. É necessário entender o trajeto de desenvolvimento do líder e os mecanismos que operam e elaboram as habilidades dos líderes influentes e que os tornam capazes de minimizar os atritos entre si e seus liderados e entre esses últimos. 4 TEMA 2 – A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO E DA PERCEPÇÃO DA EQUIPE Este é um momento propício para resgatarmos o conhecimento mais aprofundado das necessidades humanas conforme descritos por Abraham Maslow (1943, citado por Chiavenato, 2009), segundo o qual as necessidades do ser humano seguem uma determinada ordem hierárquica, em que uma necessidade não se torna uma prioridade (ainda que continue existindo) até que uma anterior tenha sido atendida. Maslow (1943, citado por Chiavenato, 2009) organizou essas necessidades em uma estrutura piramidal, a qual chamamos pirâmide de Maslow da hierarquia das necessidades humanas (para simplificar a didática, chamaremos apenas de pirâmide de Maslow). Nessa estrutura, as necessidades mais básicas e, portanto, prioritárias na hierarquia são as da base da pirâmide, de maneira que quanto mais alto o nível da necessidade, mais evolutiva a necessidade. Quanto mais baixo esse nível, no mesmo esquema, mais primitivo e necessário é o atendimento daquela necessidade. Figura 1 – Pirâmide de Maslow Fonte: Elaborado com base em Maslow, 1954, citado por Chiavenato, 2009. Vamos nos aprofundar um pouco mais na estrutura da pirâmide de Maslow mais à frente, quando discutirmos técnicas e estratégias práticas de liderança. Por ora, você deve compreender o que significa cada nível dela, para, então, avançarmos para o aprendizado principal desta aula. Para tanto, vamos discutir brevemente os conceitos de consciente e inconsciente conforme extraídos da 5 psicologia pela PNL. Chamaremos de consciente tudo aquilo em que uma pessoa está depositando sua atenção. É algo frequentemente dominado pela lógica. Chamaremos de inconsciente tudo aquilo em que uma pessoa não está depositando sua atenção, mas ainda está acontecendo em sua mente. Aqui residem, em constante dinâmica, as memórias, significados, importâncias, critérios, medos, sonhos e muito mais material de um indivíduo. Tendo isso em mente, vamos compreender um pouco mais sobre os níveis de Maslow, sabendo que todos eles residem no nível inconsciente e somente quando necessário se manifestam no consciente, das mais variadas formas. Os níveis da pirâmide de Maslow são: • Fisiologia: necessidades básicas animais do ser humano, como de alimentação, excreção e sono. • Segurança: a confiança de que o processo ou contexto não representa ameaça à sobrevivência ou existência. • Amor: a necessidade de pertencimento a uma família, representada nos relacionamentos amorosos, familiares e semelhantes. • Estima: a necessidade de pertencimento social, diante de amigos, colegas de trabalho, na construção de bons relacionamentos, no trato social realizado com gentileza, na busca de reconhecimento. • Realização pessoal: os objetivos, sonhos, metas, carreira; e também aspectos da moralidade, da criatividade e da mentalidade direcionados à busca de soluções para os problemas enfrentados pelo indivíduo. Tendo em mente os níveis da pirâmide de Maslow conforme descritos e lembrando do funcionamento hierárquico em que existem, você poderá compreender a necessidade da competência do aspirante à liderança em perceber com clareza a necessidade real de seus liderados, manifestada por seus comportamentos. Depois de abordar esse conhecimento, podemos avançar à próxima etapa do entendimento da liderança organizacional, abordando a dinâmica de campo de tudo o que foi visto até aqui. Segundo Hill (2018), o líder competente é o indivíduo capaz de organizar diversas mentes em um espírito de harmonia, em direção ao atendimento de um objetivo principal definido. Para isso, são necessários atributos individuais como entusiasmo, iniciativa (liderança, pelo exemplo); bem como habilidades sociais como tolerância, empatia e reconhecimento de emoções. 6 Sobre esses últimos, Rosenberg (2006) defende que todo comportamento agressivo ou evasivo exprime uma dor ou um medo não reconhecidos ou não admitidos pelo indivíduo que os manifesta. Se analisarmos a perspectiva de Goleman (1995) sobre o reconhecimento de emoções em si e no outro, poderemos compreender que as reações emocionais agressivas ou evasivas de um indivíduo ao comportamento observado em outro(s) indivíduo(s) exprimem, na verdade, uma dor ou um medo do próprio indivíduo observador. Isso significa que, a menos que reconheça e aprenda a lidar com seus próprios medos e dores, um indivíduo não estará preparado para lidar de maneira racional e lúcida com os comportamentos, medos e dores de outros indivíduos. O mesmo vale para os fatores de motivação, como veremos mais adiante. Não fosse suficiente essa constatação, deve-se ainda levar em consideração a concordância de Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004) com a proposta de Hill (2018) sobre a indispensabilidade da autoconfiança, dirigida pela autoestima, segundo Goleman (2009), no processo de desenvolvimento e aplicação do entusiasmo e do pensamento direcionado a objetivos e, consequentemente, à liderança. Em outras palavras, devemos considerar que o líder preparado conhece a si próprio e tem uma boa gestão emocional, a ponto de conseguir pensar com clareza e discernimento a respeito de objetivos, métodos, pessoas e comportamentos. Podemos reforçar essa constatação ao resgatar os já analisados níveis da pirâmide de Maslow para compreender a importância do conhecimento suficiente de si (para uma consequente melhor gestão do outro) para processos eficientes de análise de causa. Isso significa que o líder que dispõe de autoconhecimento e uma boa gestão emocional terá mais facilidade para identificar que necessidades de seus liderados não estão sendo atendidas e oferecer-lhes melhores recursos ou cursos de ação que favoreçam sua condição de focar nos objetivos da organização. Por consequência, esse líder terá uma competência muito maior para alinhar os interesses dos indivíduos aos interesses da organização, minimizando tanto quanto possível o atrito e aumentando a harmonia direcionada a um objetivo principal definido. TEMA 3 – SIGNIFICADO DE VALOR PESSOAL NA EQUIPE DE TRABALHO Falamos repetidas vezes sobre a importância de alinhar os interesses individuais dos liderados ao interesse global, ou seja, da organização ou 7 departamento. Vamos agora a uma abordagem mais aprofundada a respeito da estrutura dos interesses e métodos para se realizar o referido alinhamento. Para isso, precisamos discorrer a respeito de um conceito simples chamado valor pessoal. Segundo O’Connor (2017) e Grinder (1982), valores pessoais são os motivadores inconscientes dos comportamentos de um indivíduo. Quando falamos em criar motivação, nos referimos genericamente a criar motivos para uma ação. Quando os motivos para a ação são emocionalmente mais intensos do que os motivos para a inação, aí temos a saída da inércia por parte do indivíduo ou organização. Se um líder não conhece os motivadores de seu time, isto é, os motivos mais emocionalmente intensos que levariam cada indivíduo e o conjunto à ação, esse líder encontra-se despreparado em dois vieses. O primeiro é o viés da geraçãode resultados, já que o líder não tem recursos à disposição para estimular a atividade de seus liderados. O segundo viés é o da cooperação, já que é impossível encontrar motivadores em comum de toda a equipe para conduzi-la a olhar numa mesma direção. Em socorro ao líder que se vê aleijado no que diz respeito aos motivadores de seus liderados, vamos resgatar o conceito de valores pessoais (que, para fins didáticos, chamaremos daqui para a frente, simplesmente, de valores). Cada indivíduo, ao longo de sua vida, desenvolve seus próprios significados e interpretações do mundo, como já vimos. Com base nisso, é possível concluir que cada indivíduo atribui pesos diferentes a fatores como segurança, liberdade, reconhecimento, pertencimento, relacionamento, resultados, produtividade, organização e outros. Os valores por trás de um comportamento de um liderado poderiam, em um contexto ideal em que o líder e o liderado estão em estado intenso de rapport e o liderado sente-se à vontade e disposto a expor-se sobre o assunto, ser descobertos por meio do tipo de pergunta por quê. Em outras palavras, ao se questionar o porquê de um determinado comportamento, a resposta será potencialmente um valor pessoal daquele(a) que executa o comportamento ou estará intimamente atrelada a esse valor pessoal. 8 Figura 2 – A influência dos valores nos resultados Fonte: Zanchi, 2020. Supondo o cenário ideal hipotético em que um líder seria capaz de mapear todos os valores de um determinado liderado, seria possível perceber, com base nesse mapa, que alguns valores são superiores a outros, isto é, são prioridades emocionais se comparados a outros. Esse é um momento adequado para lembrarmos que o ser humano age por motivações emocionais e somente depois toma consciência dessas motivações, convertendo-as em explicações racionais e lógicas, que podem ou não ser distorções dos motivos emocionais. É interessante pontuar aqui que essa distorção não acontece, na grande maioria dos casos, por má-fé ou de forma intencionalmente negativa, mas por fenômeno natural e inconsciente. Isso significa que, em grande parte dos casos, o indivíduo não tem consciência de quais são os seus valores. Esse é um dos fatos que tornam a missão e o trabalho do líder um desafio. Também é uma boa oportunidade para a utilização de recursos de coaching e de PNL, pela liderança. Com base nisso, podemos concluir que, se existe uma hierarquia de valores para cada indivíduo, quanto mais alta a posição hierárquica de um valor, mais motivado estará o indivíduo a agir em sua função. Você poderá compreender desse fato que, quando se fala sobre a liderança humanizada com criação de um estado de cooperação harmônica, o trabalho essencial de um líder é o de identificar os valores em comum em sua equipe e/ou auxiliar cada membro da equipe a identificar um potencial atendimento de seu(s) valor(es) mais importante(s), nas atividades propostas. Quando consegue fazer isso, o líder funda um mecanismo de motivação poderoso que manterá o ímpeto dos liderados enquanto estes conseguirem enxergar seus valores como resultado da execução das atividades propostas. Ao levantar essa bandeira, geramos também uma atenção para a importância dos valores da organização. Isso porque, se o indivíduo e a organização divergirem em seus valores e, portanto, o indivíduo não for capaz de Valor (o porquê) Explicação lógica Comportamento Resultado 9 identificar seus valores sendo atendidos nos objetivos e no dia a dia da organização, cria-se um atrito altamente prejudicial para o resultado de ambos. O indivíduo tenderá à desmotivação intensa, podendo chegar a uma conduta danosa, que ocasione forte impacto no clima organizacional. O problema gerado por essa eventualidade foi ressaltado por uma proeminente empresa de consultoria empresarial norte-americana em 2016, que constatou que a maior parte do sucesso de uma empresa em médio e longo prazo deve-se à saúde organizacional. Indivíduos excessivamente expostos a um sistema conflitante com seus valores podem, inclusive, desenvolver ou agravar transtornos psicológicos como ansiedade e depressão, como sugere Zanelli, Borges-Andrade e Bastos (2004) e Cury (2013). Assim sendo, a atenção, por parte do líder, aos valores de seus liderados, bem como seu esforço para o alinhamento desses valores entre os membros da equipe e entre a organização com cada indivíduo, são fatores tanto de impacto para o aumento de resultados e da disposição da equipe quanto de prevenção e manutenção da saúde organizacional e do consequente sucesso da organização no médio e longo prazos. Estando claro que a liderança é um atributo comportamental e uma habilidade, parece importante destacar que a liderança nem sempre acompanha quem esteja no cargo hierarquicamente mais alto. Tanto é possível encontrar um gerente sem liderança, por exemplo, quanto é possível encontrar um vendedor final que, por seus atributos e habilidades, lidera uma equipe. Por essa razão, um indivíduo que deseja ter bons resultados ao assumir um cargo hierarquicamente superior e ter uma equipe sob sua supervisão deve se preocupar com, além de suas atribuições pessoal e de praxe, desenvolver os atributos de liderança e gestão de outros indivíduos, conforme descrito neste tema. TEMA 4 – LIDERANÇA LIGADA A UM OBJETIVO/PROPÓSITO Já vimos que a liderança é a capacidade de influenciar indivíduos a alcançarem um estado de cooperação harmônica direcionada a um objetivo principal definido. Na verdade, como falamos ao abordar a definição de coaching, qualquer processo de construção, solução de problemas ou mudança só acontece porque existe um objetivo; assim como abrangemos a importância da boa definição de objetivos para a elaboração da estratégia mais eficiente e com maior flexibilidade em seu processo de execução. 10 Agora, vamos nos aprofundar no assunto e compreender melhor sua prática na liderança. Para isso, você poderá se lembrar também de quando abordamos a flexibilidade. Flexibilidade é a habilidade de se adequar aos contextos mutáveis da vida e do processo de maneira a manter o mínimo de perda (e, em alguns casos, até gerar algum ganho) no resultado final, apesar das diferenças entre a previsão e a realidade. Não à toa, portanto, líderes são pessoas capazes de tomar decisões com assertividade e rapidez. Essa característica permite manter a fluidez do processo mesmo haja necessidades de adequação, em seu decorrer. Fica enfatizado, ainda, que a liderança, sobretudo a organizacional, só existe se houver um objetivo claro a ser alcançado pela via da cooperação harmônica. Sem objetivo, existe apenas potencial de liderança, muitas vezes na forma de influência despropositada. Assim sendo, vamos esclarecer, agora, o que caracteriza um objetivo bem definido, com o qual diversos indivíduos (e seus respectivos valores) podem ser alinhados por um ou mais líderes, e o qual permite um balizamento para tomadas de decisão mais ágeis e eficientes, por parte do líder ou equipe. De acordo com O’Connor (2017) e Marques (2015), a qualidade de um objetivo organizacional é avaliada pelos seguintes parâmetros: • Especificidade: objetivos bem definidos são específicos, geralmente contando com prazos, e são estipulados de maneira mensurável. Objetivos genéricos como aumentar o faturamento são mais difíceis de ser alcançados, porque é difícil criar uma estratégia para se alcançar um resultado abstrato. • Positividade: é importante que o objetivo esteja definido de forma positiva, isto é, em termos de ganho. Se uma empresa deseja, por exemplo, aumentar o lucro anual em 15% e para isso precisa reduzir as despesas em 10%, seu objetivo é o aumento de lucro e a estratégia é a redução da despesa. Isso não deve ser confundido. • Ecologia: a realização de objetivos, sobretudo no contexto
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