Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Sabe-se que para compreender qualquer realidade social, precisamos, antes de tudo, conhecer o contexto sócio-histórico que engloba todo esse meio. Por conta de vivermos numa sociedade a mercê da globalização e em constante transformação acelerada, no âmbito social, econômico, cultura, político e ideológico, o profissional responsável pelas intervenções sociais se depara com grandes dificuldades para exercer o seu papel, isso se da pelo fato dessas mudanças influenciarem diretamente a vida cotidiana dos indivíduos, na forma de pensar, agir, e nas suas relações interpessoais e intrapessoais. Além disso, por tempos o ser humano tenta prever dinâmicas sociais, e justamente por conta dessa transformação acelerada, esse método não se concretiza. Um bom exemplo disso seria as videoaulas e as aulas remotas intensamente utilizadas pelas instituições de ensino devido a pandemia da COVID-19, mesmo que já fossem usadas essas técnicas anteriormente, não se tinha a noção do quão importante seria esse método de ensino e muito menos o quanto isso prejudica e/ou auxilia no aprendizado. Muitos psicólogos se definem atuantes dentro das esferas microssociais, porém, sabe-se que as relações interpessoais também são realidades presentes nas esferas macrossociais. O nível macro é importante no sentido de criar vinculo entre pessoas. Além disso, estamos diariamente inseridos nas práticas de representações sociais majoritárias dentro do contexto social que se vive, estamos, por assim dizer, simpatizados com essas representações de maior predominância. As representações a respeito do grupo ou dos grupos afetados podem afirmar que programas de intervenção social, com exceção dos de prevenção primária, são pensados em função de grupos ou coletivos concretos, sob imagens compartilhadas. Cada grupo define um setor das políticas sociais como enfoque da intervenção, como, segurança, educação, saúde, etc. Essas são as políticas setoriais. Assim como ao longo da história o grupo vai mudando, também se altera a maneira coletiva de pensar a respeito de determinado grupo. A psicologia social europeia trouxe inúmeras contribuições nas ultimas décadas, nas pesquisas de endogrupos, ou seja, o sentimento de pertencimento e de identificação do grupo no qual estou inserido, porém, essas relações acabam promovendo um certo preconceito e exclusão daqueles de outros grupos, ditos exogrupos. Por conta disso, para driblar essas exclusões, são importantes as visões macrossociais das relações intergrupais, para prevenir e problematizar estereótipos e preconceitos. No século XX, começou um movimento o qual mudava a lógica de intervir apenas quando era observado algum problema social negativo, mas sim intervir simplesmente para melhorar, seguindo assim a lógica de prevenção e promoção (do bem-estar, da saúde, da segurança, etc.). Dito isso, quando se muda a lógica sobre onde intervir, se muda também a lógica de como é preciso fazê-lo. Na sociedade ocidental, desde a idade média, entendia-se que era preciso colocar-se a frente das necessidades e problemas sociais e tomar conta dessas pessoas que estão no contexto de vulnerabilidade e as levar a instituições especializadas em resolver suas necessidades. Já no século XX, a ciência avalia essa visão, reforça que é preciso calcular minuciosamente o problema, classifica-los adequadamente as pessoas, e desenvolver um programa de intervenção especializada. Ao final desse mesmo século, instaura-se um paradigma de direitos, que enfatiza o contexto no qual a pessoa ou usuário de um serviço mora, e se direciona aos seus interesses e pontos de vista e muda a tipologia e a configuração dos serviços. Dentro do contexto macropsicossocial, infelizmente, também há estereótipos e representações sociais majoritárias sobre o psicólogo e os profissionais de intervenção social. É preciso fazer o suficiente para mudar esses estereótipos para assim, alterar a identidade pregada ao psicólogo, a qual é estritamente atribuída a aqueles que o contratarem. Talvez, isso se de pelo fato da história da psicologia, cheia de lutas para conseguir um reconhecimento da cientificidade do conhecimento produzido e das pessoas efetivadas, o qual é acusado de estuar a realidade com dados e indicadores subjetivos. Porém, uma coisa é estudar uma realidade com técnicas subjetivas, e outra é o que determinas realidades existam objetivamente. A qualidade de vida como um campo de estudo cientifico, por exemplo, é de interesse tanto da objetividade quanto da subjetividade, porque isso envolve percepções, avaliações e aspirações do indivíduo dentro do seu contexto de inserção. Quando um especialista e um cidadão compartilham da mesma perspectiva de uma realidade, não há um debate sobre isso, estão todos de acordo. Porém, se essas perspectivas se diferem, então surge uma realidade diferente que deverá ser discutida. Ter uma visão em positivo frente a realidade, faz com que o profissional enxergue a prevenção não apenas como um trabalho contra os fatores de risco, mas também como um a favor dos fatores de proteção e resiliência. Porém, mesmo tendo essa visão, as politicas sociais não tem palco nessa dinâmica da globalização e transformação constante. Os profissionais passam a se preocupar com a forma com que é tratada as informações sobre a situação dos indivíduos vulneráveis, as vezes com preconceito e indiferença, principalmente nos meios de comunicação social. Então, é necessário um acordo mutuo entre o profissional que realiza a intervenção com o profissional da informação, para assim, fixar as mudanças sociais positivas. Um esquema resume para continuar a reflexão sobre os desafios da intervenção social: Mudar o que? Sobre uma perspectiva de uma psicologia da categorização / construção psicossocial das realidades sociais e da ação social e as políticas sociais. Mudar para qual direção? Sobre uma psicologia de antecipação e planificação (mostrar a importância do agir; dispor conhecimento e influencia; limites do contexto social; definir objetivos; praticar imaginação de outras realidades possíveis; etc.) Mudar como? Refere-se a uma psicossociologia dos métodos e técnicas de intervenção social (paradigmas de especialização, normalização e dos direitos; mecanismos de influencia social; cultura de avaliação; interações com outros agentes sociais; representações sociais; intervir para melhorar; função do psicólogo dos serviços sociais; promover o bem-estar e qualidade de vida; etc.). Casas, Ferrán. Desafios atuais da psicologia na intervenção social. Psicologia & Sociedade [online]. 2005, v. 17, n. 2 [Acessado 16 Setembro 2021] , pp. 42-49. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-71822005000200007>. Acesso em 16 de setembro de 2021.
Compartilhar