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A RELAÇÃO FAMÍLIA, ESCOLA E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoras: Ana Maria Dias Antonius CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 376 A635r Antonius, Ana Maria Dias A relação família, escola e deficiência intelectual / Ana Maria Dias Antonius. Indaial : Uniasselvi, 2013. 106 p. : il ISBN 978-85-7830-705-9 1. Educação inclusiva. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Profa. Ana Paula Fischer Hort Revisão Pedagógica: Profa. Patrícia Cesário Pereira Offial Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa Alves Bona Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ana Maria Dias Antonius Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau - FURB. Blumenau - SC. Na linha de Processos de Ensinar e Aprender. Com dissertação sobre In(ex)clusão no Serviço de Atendimento Educacional Especialização (SAEDE). Especialização em Psicopedagogia - Faculdade Christus – Fortaleza - CE.Licenciatura / Letras: língua portuguesa e suas literaturas pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Fortaleza-CE.Funcionária Pública da Secretária de Educação do Estado de Santa Catarina. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual .............................................................................. 9 CAPÍTULO 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual ............................................................................ 29 CAPÍTULO 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual ..................... 51 CAPÍTULO 4 Reflexões Sobre a Inclusão Escolar .............................. 63 CAPÍTULO 5 Deficiência Intelectual, Escola e o Mercado de Trabalho ................................................................................ 85 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Nessa disciplina, cujo título é O contexto família, escola e deficiência intelectual, você estudará aspectos da deficiência intelectual, dentre tantas deficiências existentes. Apresentaremos algumas informações que buscamos na área de Medicina, da Biologia e da Sociologia, porém é necessário que predomine os fundamentos pedagógicos relacionados sobre a área da deficiência intelectual e suas implicações na família escola e sociedade. No primeiro capítulo apresentamos as concepções de como a sociedade vem ao longo dos tempos definindo o que é normal e anormal; as mudanças ocorridas na sociedade que aos poucos vem alterando os paradigmas desses conceitos; os processos de relação família e escolas para educandos com deficiência intelectual; as nomenclaturas anteriores a Deficiência Intelectual, seus aspectos e seus conceitos, e normalidade e anormalidade na coletividade. O segundo capítulo trata da relação família, escola e deficiência intelectual, da influência do ambiente familiar na personalidade do deficiente intelectual, e o mito na deficiência intelectual. O terceiro capítulo aborda a sexualidade e educação para as pessoas com deficiência intelectual. No quarto capítulo discutir-se-á em torno da inclusão escolar e por fim, no quinto capítulo sobre a deficiência intelectual, escola e o mercado de trabalho. A autora. CAPÍTULO 1 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Proporcionar a compreensão da relação familiar e escolar e deficiência intelectual. 3 Conhecer as nomenclaturas e os aspectos que diferenciam a deficiência intelectual de deficiência mental. 3 Compreender o conceito de normal e anormal na sociedade. 10 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 11 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 Contextualização Para tornar efetiva a inclusão escolar e social julgamos necessário apresentar aspectos que podem influenciar no desenvolvimento do Deficiente Intelectual, como a atenção e acompanhamento da família e escola no processo de desenvolvimento da aprendizagem. Um ambiente escolar que busca a parceria com a família, abre espaço para um entendimento de comum linguagem, permitindo que juntos trabalhem em prol do desenvolvimento da criança ou jovem com deficiência intelectual. Nesse sentido, a escola estará contribuindo para tornar possível uma educação pautada nos direitos humanos e na democratização do ensino. Segundo Farrel (2008, p. 17), destinar as práticas pedagógicas (...) “em estreita colaboração com os pais é uma aspiração de todas as escolas e um tema constante na orientação governamental.” Nesse sentido, percebemos a necessidade promover novas estratégias de inserção desses sujeitos no âmbito da instituição escolar, com apoio da família. Processos de Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual O acompanhamento da família no processo escolar da criança pode trazer grandes contribuições para seu progresso, a presença dos pais na escola, abre caminhos para o diálogo e entendimento de suas necessidades, limitações e potencialidades. Mas, a história nos mostra que nem sempre foi assim o entendimento da relação do deficiente intelectual com escola, comunidade e família. Traçando um rápido percurso sobre o tempo, vimos que as pessoas com deficiência eram abandonadas por seus próprios familiares. Na Idade Média, eram consideradas, “obra do demônio”. Somente a partir do século XIX, por meio de estudos médicos, perceberam que o deficiente intelectual era capaz de aprender. Os estudos sobre as deficiências iniciaram a partir do século XVI como uma preocupação da medicina em classificar os indivíduos que se desviavam do padrão de normalidade definido para época. É só no século XIX que entram em cena também os pedagogos, interessados no estudo da deficiência mental e nas possibilidades de educação dos indivíduos considerados deficientes. (CARNEIRO, 2008, p. 13). Os estudos sobre as deficiências iniciaram a partir do século XVI como uma preocupação da medicina em classificar os indivíduos que se desviavam do padrão de normalidade definido para época. 12 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Esse novo olhar para o deficiente fez surgir em 1960 as primeiras instituições voltadas ao atendimento de pessoas com deficiências. Mas somente a partir da deflagração das Conferências Mundiais essas pessoas passaram a ter direitos, culminando nos anos de1990 com o processo de Inclusão Escolar. Percebemos então, que a família e sociedade ao longo da história modificaram sua forma de conceber as deficiências, e essa mudança de pensamento, ou paradigma trouxeram significativos avanços quanto às adaptações nas escolas e meio social. Conforme Art. 227(BRASIL 2006) É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao \adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, além de colocá- los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade opressão. O processo de aceitação das pessoas com deficiência está amparado por lei, e com isso deixa de ser vista apenas como uma questão de benignidade. Como vimos, as mudanças não ocorreram de um dia pro outro, foi necessário muito apoio de todos os envolvidos, família, escola e sociedade. Vamos agora discutir sobre o processo da aprendizagem com o deficiente intelectual. A Deficência Intelectual e A Aprendizagem A aprendizagem é decorrente de um conjunto de fatores genéticos, sociais, emocionais e cognitivos. Esse conjunto de fatores podem ser estimulados a favor do aprendizado do deficiente intelectual se receberem o apoio necessário da família, escola e sociedade. Vygotsky (1997) em seus estudos nos faz compreender que o processo mental do sujeito se faz por meio do seu contexto social, segundo o autor, [...] as funções psicológicas superiores (o pensamento em conceitos, a linguagem racional, a memória lógica, a atenção voluntária, etc.) se formam durante o período histórico do desenvolvimento da humanidade e devem sua origem, não à evolução biológica, [...] mas a seu desenvolvimento histórico como ser social. VYGOTSKY, (1997, p. 214-215) 13 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 No processo de desenvolvimento de aprendizagem da pessoa com deficiência intelectual os contextos sociais no qual estão inseridos podem apresentar grande relevância no desenvolvimento escolar desse sujeito. Para (Vygotsky, apud Leontief e Luria, 2007, p. 163) “O processo de educação escolar é qualitativamente diferente do processo de educação em sentido amplo”. A aprendizagem primordialmente deve começar no seio familiar e a escola deve ser a continuação dessa aprendizagem. Os processos de aprendizagem escolar e social estão intrinsecamente ligados a família e escola. A sociedade participa dessa educação quando aceita esse sujeito como membro efetivo dela com direitos e deveres, na forma da lei. Segundo Almeida (2007), as crianças que apresentam deficiência intelectual podem progredir em suas ações, se receberem apoio e estímulo para suas conquistas. Esses sujeitos poderão ser muito úteis, se neles for confiado a responsabilidade de alguns trabalhos e produções em benefício a comunidade em que vivem, considerando seus limites e estimulando seus potenciais. Segundo Araújo é no convívio com seus pares que a criança aprende a A grande maioria das crianças com deficiência intelectual consegue aprender a fazer muitas coisas úteis para a sua família, escola, sociedade e todas elas aprendem algo para sua utilidade e bem-estar da comunidade em que vivem. Para isso precisam, em regra, de mais tempo e de apoios para lograrem sucesso. (ARAÚJO, 2009) O papel da instituição escolar nesse aspecto deve ser de oferecer condições que possibilitem uma aprendizagem para todos os alunos, com respeito ao tempo de aprender e de amadurecer de cada um, que tenha como princípio a igualdade e o respeito humano acima de qualquer ação. Nomenclaturas As nomenclaturas das deficiências vem ao longo dos tempos sendo melhor compreendidas e modificadas conforme estudos e pesquisas. Nessa esteira, esclarece Sassaki, (2009) que o conceito de deficiência não pode ser confundido com o de incapacidade, palavra que é uma tradução, também histórica, do termo “handicap”. O conceito de incapacidade denota um estado negativo de funcionamento da pessoa, resultante do ambiente humano e físico inadequado ou inacessível, e não um tipo de condição. Como exemplo, a incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em braile, a incapacidade de uma O processo de educação escolar é qualitativamente diferente do processo de educação em sentido amplo. 14 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual pessoa com baixa visão para ler textos impressos em letras miúdas, a incapacidade de uma pessoa em cadeira de rodas para subir degraus, a incapacidade de uma pessoa com deficiência mental/intelectual para entender explicações conceituais, a incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas. Configura-se, assim, a situação de desvantagem imposta às pessoas COM deficiência através daqueles fatores ambientais que não constituem barreiras para as pessoas SEM deficiência. Foram necessárias muitas discussões para que os pesquisadores chegassem a uma terminologia que pudesse definir o que atualmente se compreende como deficiência intelectual, e uma forma que não preconizasses o preconceito, acerca das terminologias. Acrescenta Sassaki, (2009, p. 2), [...] sobre os vocábulos deficiência mental e deficiência intelectual. Ao longo da história, muitos conceitos existiram e a pessoa com esta deficiência já foi chamada, nos círculos acadêmicos, por vários nomes. Mas, atualmente, quanto ao nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar o termo deficiência intelectual. O termo deficiência intelectual foi gradativamente surgindo, por meio de estudos e discussões, e hoje é um conceito oficializado, aponta Sassaki, (2009, p.3), A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada já em 1995, quando a Organização das Nações Unidas (juntamente com The NationalInstituteofChild Health andHumanDevelopment, The Joseph P. Kennedy, Jr. Foundation, e The 1995 SpecialOlympics World Games).” Ainda esclarece Sassaki (2009 p.3) “...realizou em Nova York o simpósio chamado INTELLECTUAL DISABILITY: PROGRAMS, POLICIES, AND PLANNING FOR THE FUTURE (Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e Planejamento para o Futuro). Desde a década de 1995, o termo Deficiência Intelectual já é usado, começando a fazer parte do cotidiano das classes médica, familiar e escolar. Acrescenta ainda Sassaki (2005) que o termo deficiência intelectual é principalmente em virtude especificamente ao funcionamento intelectual e não o da mente como um todo. A partir de 2006 o termo utilizado é PcD - Pessoa com Deficiência, ou seja, o ser humano vem antes da deficiência é uma procura de valorização desses sujeitos. Acrescenta ainda Sassaki (2005) que o termo deficiência intelectual é principalmente em virtude especificamente ao funcionamento intelectual e não o da mente como um todo. 15 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 Mesmo sendo uma convergência mundial, demorou para que o uso da nomenclatura deficiência intelectual passasse a ser implementada alguns países, e mesmo no Brasil ainda existe uma tendência da utilização do termo “deficiência mental” à deficiência intelectual. Você estudou sobre os processos que envolvem a relação da família, escola e as nomenclaturas sobre pessoas com deficiência intelectual. A seguir, convidamos você a refletir sobre o que aprendeu , realizando as atividades de estudos. Na continuidade estudaremos a relação família e escola coligada a sociedade. Atividades de Estudos: 1) No decorrer desse capítulo, apresentamos um breve resgate sobre o histórico da deficiência intelectual na relação com a sociedade e família. A partir de seus estudos descreva como os indivíduos com deficiência intelectual eram tratados pelos seus familiares. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) A criançacom deficiência intelectual aprende a partir do momento que se cria condições para ele se desenvolver. Liste algumas práticas que poderão contribuir para esse desenvolvimento. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 3) Em suas leituras você percebeu que o conceito de incapacidade estava ligado diretamente as pessoas com deficiência intelectual. E hoje, como é compreendida essa deficiência pela sociedade? Descreva suas conclusões. __________________________________________________ __________________________________________________ 16 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Relação Família, Escola e Sociedade A família muda a cada nova geração, desde a Idade Média (século V ao século XV). Antigamente as famílias com poder aquisitivo melhor tinham condições de pagar professores particulares para que seus filhos recebessem a educação formal, dentro de suas próprias residências. Com a disseminação da instituição escolar em esferas particulares e públicas, esse tipo de educação passou a ser institucionalizada. Com isso as famílias passaram para a agência social, “escola” ,a tarefa que antes era feito dentro de seus próprios domicílios. Até chegarmos aos patamares de uma coletividade em que a pessoa com deficiência intelectual pudesse conviver com os demais membros da sociedade, muitos estudos e discussões aconteceram. Nesse sentido sustenta Marques (1994, p. 97) [...] Implicitamente para a mudança da condição de subalternidade de seus internos em relação à sociedade em geral, que teve difundido e fortalecido seu poder de controle e discriminação sobre os desviantes, que representavam, em última instância, uma ameaça à ordem social ideologicamente estabelecida. A sociedade que antes chamava o deficiente intelectual com o termo “desviante” ainda não estava “pronta” para conviver com esses sujeitos. O medo era de que a ordem social que consideravam adequadas pudesse ser ameaçada por essas pessoas. Diante dessas circunstâncias, sustenta-se o direito de que todo cidadão seja respeitado, pois segundo NISKIER (1997, p. 31),[...] “o direito a educação tem suas raízes remotas nas especulações filosóficas e científicas dos séculos XVII e XVIII, que se desenvolveram de tal forma que provocaram a mais fecunda revolução intelectual de que se tem notícia.” Nesse contexto, a educação deixa de ser apenas um “bem” da família com estrutura econômica adequada, passando a pertencer a todos independente a condição econômica, conforme escreve NISKIER (1997, p. 31), “Mais precisamente, no século XVIII, um novo modo de agir e de pensar determinou outras concepções sobre o mundo e a liberdade, sobre as instituições e a igualdade”. [...] “o direito a educação tem suas raízes remotas nas especulações filosóficas e científicas dos séculos XVII e XVIII, que se desenvolveram de tal forma que provocaram a mais fecunda revolução intelectual de que se tem notícia.” 17 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 A partir do momento que o conceito de igualdade começa a refletir na estrutura social, a escola como instituição começa a se estabelecer. A sociedade e as famílias buscam compreender o deficiente, e romper preconceitos. O texto a seguir convida você a refletir sobre a influência dos aspectos sociais, na formação do sujeito. Escolhas e repercussão social Toda sociedade grande e complexa tem, na verdade, as duas qualidades: é muito firme e muito elástica. Em seu interior, constantemente se abre um espaço para as decisões individuais. Apresentam-se oportunidades que podem ser aproveitadas. Aparecem encruzilhadas em que as pessoas têm de fazer escolhas, e de suas escolhas, conforme sua posição social pode depender seu destino pessoal imediato, ou de uma família, ou ainda, em certas situações, de nações inteiras, ou de grupos dentro delas.Pode depender de suas escolhas que a resolução completa das tensões existentes ocorra na geração atual ou somente na seguinte. Delas pode depender a determinação de qual das pessoas ou grupos em confronto, dentro de um sistema particular de tensões, se tornará o executor das transformações para as quais as tensões estão impelindo, e de que lado e em que lugar se localizará os centros das novas formas de integração rumo às quais se deslocam as mais antigas em virtude, sempre, de suas tensões. Mas as oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê forçada a optar não são em si mesmas criadas por essa pessoa. São prescritas e limitadas pela estrutura especifica de sua sociedade e pela natureza das funções que as pessoas exercem dentro dela. E, se for à oportunidade que ela aproveite, seu ato se entremeará com os de outras pessoas; desencadeará outras sequências de ações, cuja direção e resultado provisório não dependerão desse indivíduo, mas da distribuição do poder e da estrutura das tensões em toda essa rede humana móvel. ELIAS(1994). 18 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Atividade de Estudos: 1) Conforme vimos, a escola busca subsídios para tornar possível a aprendizagem para a pessoa com deficiência intelectual. Nesse contexto, como a escola vem abordando a aprendizagem da pessoa com deficiência intelectual? Descreva suas observações.. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Santaela apud Jaspers. (1978, p.59) “O mundo é normal pelo que representa em objetividade na união entre os homens, na mutualidade em que estes colaboram, desenvolvendo, estimulando e exaltando a vida. É anormal se, em vez de aproximar, separa e isola os homens; se restringe e atrofia; e se desaparece o sentimento de poder, de domínio sobre o espaço, em que o animo e a vontade podem distribuir a sua capacidade e utilizar os bens advindos dessa posse” Do Leprosário ao Manicômio - O Sujeito Normal e Anormal na Sociedade Para darmos continuidade a aprendizagem do processo de inclusão seja social ou escolar para as pessoas que são consideradas com deficiência intelectual, abordando como a sociedade ainda dita os conceitos do que é normal ou anormal. Se o sujeito não se encontra dentro dos padrões considerados normais, já é considerado fora do contexto social. A maneira do sujeito se comportar nas suas vivências sociais, familiares e 19 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 escolares, portando-se de acordo com o que a sociedade espera dele, classifica- se automaticamente como normal. A partir do momento que o sujeito contrasta com esse padrão já muda a maneira de compreensão da sociedade, da família e principalmente da escola, que espera e quer sempre uma homogeneidade em suas salas de aula. Mesmo que numa sociedade em que os valores são alterados de acordo com o que os membros dessa mesma esfera,que considerada natural nos procedimentos de seus membros a convivência com as pessoas que se desviam dessas estruturas segundo as regras da normalidade que esses mesmos membros impõem. KRAUZ (1989) escreve que ao nos posicionarmos nos sentidos cognitivos, ou morais, ou mesmoestéticos sejam nos valores como verdade, e até mesmo a significação do correto são relativos aos contextos nos quais estão inseridos. O que a sociedade antes entendia como desviante, louco, hoje a sociedade o entende com um sujeito com deficiência intelectual, apto mediante as possibilidades que essa mesma sociedade a ponha a seu dispor. Já que estudamos sobre as diversas nomenclaturas e como a sociedade, família e a escola vêm lidando com a pessoa com deficiência inserimos o texto abaixo sugere uma reflexão sobre como as instituições estão redefinindo e diferenciando deficiência intelectual, deficiência mental e doença mental. Definição de Deficiência Intelectual da AAIDD American Associationon Intellectual and Develop mental Disabillities (Associação Americana de Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento). Deficiência Intelectual É definida como limitações importantes que afetam o funcionamento intelectual, significativamente abaixo da média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, competência doméstica, habilidades sociais, interpessoais, uso de recursos comunitários, auto- suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. O inicio deve ocorrer antes dos 18 anos. O que a sociedade antes entendia como desviante, louco, hoje a sociedade o entende com um sujeito com deficiência intelectual, apto mediante as possibilidades que essa mesma sociedade a ponha a seu dispor. 20 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Essa definição, adotada para diagnóstico de deficiência intelectual, não considera apenas o QI baixo como até a pouco era diagnosticado, mas também, uma avaliação abrangente das habilidades e dificuldades da pessoa deficiente em se relacionar com o meio ambiente, na execução das atividades diárias, nos cuidados pessoais, no aprendizado acadêmico e na atuação no meio onde vive. Exemplificando, as pessoas com deficiência intelectual se relacionam com o mundo de forma diferenciada da maioria das pessoas. São mais lentas, levam mais tempo para aprender, ou seja, precisam de apoio na escola e no trabalho. Essas dificuldades variam de intensidade podem ser leves ou mais acentuadas. As mais leves são mais difíceis de serem identificadas, porque não são evidentes. São observadas pelas famílias e posteriormente diagnosticadas na idade escolar. Assim, nas diversas formas que se apresentam, vão precisar de mais ou menos apoio. A deficiência intelectual não é uma doença, mas, uma incapacidade intelectual, em determinadas áreas de acordo com o comprometimento de cada pessoa. A deficiência mental Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade nos seguintes aspectos: Há uma tendência a mudar o termo Deficiência Mental por Transtorno Mental. (BRASIL, 2004). 21 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 Doença Mental Não deve ser confundida com deficiência intelectual, a diferença é que na doença mental a pessoa perde a noção de si mesma e da realidade a sua volta. Pode ser mais branda ou mais severa ocasionando muitas vezes dificuldade de raciocínio lógico e concentração. Essas pessoas apresentam humor variado e grande dificuldade de relacionamento. São as psicoses, as depressões, a síndrome do pânico, as esquizofrenias. Esses casos devem ser tratados com medicação e com atendimento terapêutico. A doença mental não é caracterizada como deficiência, mas como doença. Apesar de ser um quadro diferente da deficiência mental, algumas pessoas possuem as duas patologias. Por exemplo, é possível que uma pessoa tenha deficiência intelectual associada a um quadro depressivo, assim como a doença mental mais grave pode ocasionar um limite intelectual. Fonte: Disponível em: <http://novaprojeto.blog.terra.com.br>. Acesso em: 31 jul. 2012. Agora que você já estudou sobre as diversas nomenclaturas que diferenciam a pessoa com deficiência mental e intelectual e da doença mental, já é capaz de discernir, as características de cada uma e resolver a seguir as: Atividade de Estudos: 1) Estudamos os diferentes conceitos sobre a deficiência mental e intelectual e a doença mental. De acordo com o que foi estudado como você vê compreende essas diferenças? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 22 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual A Padronização do Sujeito A padronização do sujeito é definida pela construção social da época em que a sociedade está inserida. A sociedade atual vem se ajustando as novas formas de enfrentamento pelo respeito e dignidade ao ser humano, mesmo que seja de uma forma vagarosa. Compreende-se que mudar a subjetividade das esferas familiares, sociais e escolares requer tempo e muitos estudos, para que o se deseje seja alcançado. Como o ser humano é único e padrão para a humanidade não existe, o que se procura é uma busca de igualdade, e justiça social para todos e também para a pessoa com deficiência. Assim sabemos que você educando já tem conhecimento das diversas declarações que de alguma forma estão voltadas para a inserção da pessoa com deficiência no âmbito social, escolar e voltadas para a dignidade dessas pessoas. Para contextualizar o que estamos estudando, apresentaremos seguir a Declaração de Montreal. DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Montreal – Canadá OPS/OMS - 06 DE OUTUBRO DE 2004 TRADUÇÃO: Dr. Jorge Márcio Pereira de Andrade, Novembro de 2004 [...]DECLARAMOS QUE: As Pessoas com Deficiência Intelectual, assim como outros seres humanos, nascem livres e iguais em dignidade e direitos. [...] A deficiência intelectual é entendida de maneira diferenciada pelas diversas culturas o que faz com a comunidade internacional deva reconhecer seus valores universais de dignidade, autodeterminação, igualdade e justiça para todos. Os Estados têm a obrigação de proteger, respeitar e garantir que todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais e as 23 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 liberdades das pessoas com deficiência intelectual sejam exercidos de acordo com as leis nacionais, convenções, declarações e normas internacionais de Direitos Humanos. Os Estados têm a obrigação de proteger as pessoas com deficiências intelectuais contra experimentações científicas ou médicas, sem um consentimento informado, ou qualquer outra forma de violência, [...] maus tratos ou castigo cruel, desumano ou degradante. (como as torturas). [...]. 5-A.[...]. B [...] 6- A. As pessoas com deficiências intelectuais têm os mesmos direitos que outras pessoas de tomar decisões sobre suas próprias vidas. Mesmo que algumas pessoas possam ter dificuldades de fazer escolhas, formular decisões e comunicar suas preferências, elas podem tomar decisões acertadas para melhorar seu desenvolvimento pessoal, seus relacionamentos e sua participação nas suas comunidades. Em acordo consistente com o dever de adequar o que está estabelecido no parágrafo 5 B, as pessoas com deficiências intelectuais devem ser apoiadas para que tomem suas decisões, as comuniqueme estas sejam respeitadas. Conseqüentemente, quando os indivíduos têm dificuldades para tomar decisões independentes, as políticas públicas e as leis devem promover e reconhecer as decisões tomadas pelas pessoas com deficiências intelectuais. Os Estados devem providenciar os serviços e os apoios necessários para facilitar que as pessoas com deficiências intelectuais tomem decisões significativas sobre as suas próprias vidas. B.[...] Qualquer interdição deverá ser por um período de tempo limitado, sujeito as revisões periódicas e, com respeito apenas a estas decisões, pelas quais será determinada uma autoridade independente, para determinar a capacidade legal.Montreal, 06 de outubro de 2004. Fonte: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/ mpv/2163-41.htm>. Acesso em: 2 ago. 2012. 24 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Atividade de Estudos: 1) Você acabou de ler alguns trechos que são muitos pertinentes sobre nossos estudos da deficiência intelectual. Como você percebe a aplicabilidade dessa declaração no atual momento social e escolar da pessoa com deficiência intelectual? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Algumas Considerações Caro pós graduando, neste capítulo você aprendeu sobre as relações familiares escolares, as nomenclaturas, e os parâmetros estabelecidos sobre o que é ser normal e anormal. Convido-o para o próximo capítulo com certeza, com os subsídios do que foi estudado no capítulo II, você estará mais envolvido com o termo deficiência intelectual, então você irá aprender mais sobre como o ambiente pode influenciar a personalidade, o mito e o papel da família. Para refletirmos sobre o capítulo estudado temos duas sugestões: um filme e um livro. Filme: Meu nome é Rádio Na Carolina do Sul, o técnico de futebol americano Harold Jones (Ed Harris) faz amizade com Radio (Cuba Gooding Jr.), um estudante de colegial que é deficiente mental. O relacionamento dos dois dura décadas e Radio se transforma de um garoto tímido e atormentado a uma inspiração para a comunidade onde vive. 25 A Conjuntura da Tríade Família, Escola e Deficiência Intelectual Capítulo 1 Livro: A história da loucura. Autor: Michel Foucault. 26 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Referência ARAÚJO, Emmerson Morvam Conceição de. Informática como instrumento de intervenção psicopedagogia em crianças com síndrome de down. Salvador, 2009. Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br/resumo_ artigo_37479/artigo_sobre_inform%C3%81tica_como_instrumento_de_ interven%C3%87%C3%83o_psicopedag%C3%93cia_em_crian%C3%87as_ com_s%C3%8Dndrome_de_down>. Acesso em: 21 jul. 2012. ALMEIDA, M. da S.R. O que é deficiência intelectual ou atraso cognitivo? 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CAPÍTULO 2 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 A influência da família no desenvolvimento da personalidade do deficiente intelectual. 3 Perceber o deficiente intelectual como sujeito capaz de se desenvolver. 3 Mediar família, deficiente intelectual e escola. 30 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 31 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior você estudou sobre aspectos que envolvem deficiência intelectual, seu contexto familiar, escolar e social. Também contemplamos um breve histórico sobre as nomenclaturas e paradigmas envolvidos. Você já deve ter ouvido falar de alguns rótulos sobre as pessoas que apresentam deficiência intelectual, não é? Esses sujeitos são considerados muitas vezes como incapazes, perturbadores e inconvenientes por seus colegas de classe, seus professores e até mesmo pelos próprios familiares. Sobre essa situação convidamos você a refletir: • Será que é isso mesmo que acontece? • Nas residências,eles realmente perturbam ou é apenas fruto das frustrações da família? • Na escola, as práticas pedagógicas estão voltadas para a inserção desse estudante com deficiência intelectual? • O que fazer para desmistificar esses paradigmas? Para responder essas questões, iremos estudar, com base em autores, os mitos e verdades sobre o comportamento do deficiente intelectual e a influência que o ambiente familiar exerce no desenvolvimento de sua personalidade. Boa leitura! A Influência Familiar no Desenvolvimento da Personalidade do Deficiente Intelectual A relação das pessoas com deficiência intelectual no seu ambiente familiar deve ser tranquila e de aconchego, para que o sujeito com deficiência reconheça que esse espaço para ele é natural e faz parte de sua convivência. Vygotsky (1997) enfatiza que o deficiente Intelectual só conseguirá evoluir nos aspectos do desenvolvimento da linguagem Vygotsky (1997) enfatiza que o deficiente Intelectual só conseguirá evoluir nos aspectos do desenvolvimento da linguagem e do pensamento quando houver a qualidade das interações interpsicológicas. 32 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual e do pensamento quando houver a qualidade das interações interpsicológicas. Este aspecto pode configurar-se de forma problemática na situação das crianças com necessidades especiais, cujo histórico aponta com frequência para situações de isolamento social. Se a pessoa com deficiência não tem no ambiente familiar ou escolar o conforto psicológico, e sua necessidade física atendida, poderá sentir-se excluída. E esse sentimento poderá levar ao isolamento, a agressividade e a distúrbios intelectuais. Segundo Ballone (2008) Para adaptar-se ao ambiente satisfatoriamente, o indivíduo deve se utilizar da capacidade de integrar várias modalidades sensoriais (os sentidos), de modo a constituir uma noção (consciência) da situação presente. Além disso, deve desenvolver uma capacidade de aprendizagem. Finalmente, deve desenvolver uma capacidade de agir objetivamente. O ambiente de convivência do deficiente intelectual é um dos grandes responsáveis pelo seu comportamento. Um ambiente em que as pessoas desferem suas angústias e frustrações, que demonstram falta de respeito e discussão, pode se tornar impróprio para uma relação saudável. Sempre que você, caro pós-graduando, sentir necessidade de alguma consulta para ampliar seus conhecimentos sobre a condição da mente humana, consulte o site http://www.psiqweb.med.br/ , lá inúmeros artigos podem vir a auxiliá-lo. O meio familiar e a ação de seus membros, pode influenciar a maneira como a pessoa com deficiência intelectual atua nos demais ambientes que possa vir a frequentar. Compreendemos com isso, segundo Abenhaim (2009, p. 237) que: O grau de comprometimento intelectual não é fator determinante da não aprendizagem. A crença no limite do outro é muito mais danosa pois resulta numa autoimagem negativa em baixa autoestima. As pessoas identificadas como incapazes geralmente assumem essa condição e acreditam que jamais poderão modificar esse resultado. 33 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 Alguns pais, com a intenção de proteger os filhos com deficiência intelectual, de olhares preconceituosos e deboches acabam por limitar ainda mais seu desenvolvimento. Uma das preocupações dos pais é em relação ao bullying, não apenas na escola, mas também na sociedade. Esse tipo de preconceito pode piorar o desenvolvimento do sujeito com deficiência, fazendo se sentir inseguro e prejudicando assim sua autonomia e confiança nas pessoas. Bullying é uma palavra inglesa sem tradução para o português, mas que é compreendida como todo tipo de violência que o sujeito pode vir a sofrer, seja física ou verbal. Atualmente é muito discutida nos espaço escolar. É interessante pensar em uma perspectiva de desenvolvimento satisfatório, com o intuito de que o ambiente familiar em que se encontra o deficiente intelectual possa estar apropriado para que esse sujeito possa desenvolver suas potencialidades, pois segundo Abenhaim (2009, p. 154), “A educação familiar dos filhos, sobretudo daqueles que apresentam necessidades educativas especiais, representa um requisito social decisivo para a sua formação escolar(...).” Nesse sentido Piletti (1986) esclarece que as famílias muitas vezes são caracterizadas por situações injustas, de desigualdade econômica e social, que lutam por vários razões, principalmente, financeiras. Deixando não por negligência, mas, às vezes, por falta de conhecimento de como atuar no sentido de inserir adequadamente seus filhos nas esferas sociais, culturais e escolares. A ideia de que essas famílias sejam necessariamente abaladas em sua qualidade de vida deve ser revista. Núñez (2003), pesquisando as famílias com filhos deficientes, descreve os conflitos presentes nos vínculos e os indicadores de risco nessas famílias, conclui que os conflitos familiares não surgem em resultado direto da deficiência, mas em função das possibilidades de a família adaptar-se ou não a essa situação. Estresse Estado emocional negativo que ocorre em resposta a eventos Piletti (1986) esclarece que as famílias muitas vezes são caracterizadas por situações injustas, de desigualdade econômica e social, que lutam por vários razões, principalmente, financeiras. 34 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual percebidos como uma sobrecarga ou que excedam as habilidades ou recursos da pessoa para gerenciá-los. Estressores Eventos ou situações que são percebidos como perigosos, ameaçadores ou desafiadores (HOCKENBURY E HOCKENBURY, 2002, p.444). A família desempenha um papel primordial no desempenho da pessoa com deficiência intelectual na escola e na sociedade, quando cria nesse sujeito capacidades e o envolve nas atividades essenciais da família. (...) Segundo mostram os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 1999, nas escolas que contam com a participação dos pais, por meio de trocas de informações com os professores e os diretores, os alunos tendem a aprender mais e melhor. (ABENHAIM, 2009, p. 154), O texto a seguir trata da relação familiar e da influência nas atitudes das pessoas com deficiência intelectual. FAMÍLIA E TRANSTORNOS EMOCIONAIS No meio familiar, a crueldade e a maldade disfarçadas se apresentam como chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade... É dispensável relacionar aqui as situações familiares bizarras e extremas, capazes de prejudicar o bom desenvolvimento emocional de seus membros, incluindo os filhos, cônjuge, netos, sobrinhos e até o cachorro da casa. Normalmente essas situações dizem respeito ao alcoolismo, droga dicção, histerias de várias formas, violência doméstica, chantagens emocionais, enfim, toda sorte de excessos capazes de perturbar o bom andamento das coisas familiares. Pode parecer estranho, mas, de fato, o que interessa considerar aqui é o exercício da maldade, tortura e crueldade. Mas não se trata da maldade, tortura e crueldade clássicas e francas. Aí ficaria muito fácil diagnosticar a dinâmica familiar deturpada. Mas não, 35 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 o que nos interessa é o exercício da maldade, tortura e crueldade exercidas velada e dissimuladamente. Esse tipo disfarçado de crueldade e maldade inclui toda espécie de chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade, desrespeito, omissões e opressões que familiares dirigem uns contra os outros de forma surda, calada e, muitas vezes, socialmente irreprimível. Esse tipo de família onde existem pessoas capazes degerar ansiedade e mal estar emocional em outros familiares constitui aquilo que chamamos de Família de Alta Emoção Expressa. O termo Alta Emoção Expressa foi adotada, inicialmente, para indicar características de famílias que favoreciam a recaída dos sintomas de pacientes psiquiátricos. Hoje em dia, podemos empregar o termo para designar famílias que favorecem o desenvolvimento de estados emocionais desconfortáveis. Na maior parte das vezes, o discurso de tais famílias nos dá a impressão de que todos são ótimos e desejam ardentemente o bem estar dos demais. Mas, avaliando com mais cuidado, surdamente, nas entrelinhas e dissimuladamente, veremos que as coisas são feitas de forma a piorar o estado emocional dos demais ou de alguém, especificamente. Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=29>. Acesso em: 14 ago. 2012. O texto que você leu, discute como a influência familiar pode alterar a personalidade de uma pessoa e o quanto o uma pessoa com deficiência intelectual está mais suscetível a sofrer essa influência negativa. Mas o que é personalidade? Segundo Hockenbury e Hockenbury (2002, p.369), “personalidade é definida como os padrões únicos e relativamente consistentes de pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo”. Quando esses padrões não correspondem às expectativas, as coerências desses pensamentos e comportamentos já começam demonstrar anomalias por parte dos que estão próximos desses sujeitos, que são os familiares, já que o princípio básico de início de vida é a estrutura familiar. Segundo Hockenbury e Hockenbury (2002, p.369), “personalidade é definida como os padrões únicos e relativamente consistentes de pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo”. 36 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual As particularidades de cada indivíduo e principalmente da pessoa com deficiência intelectual, sua maneira de agir e interagir no contexto que está inserido traz de suas vivências familiares uma carga da formação de sua identidade. É uma influência que está intrinsecamente arraigada na subjetividade desse sujeito. Quando os familiares não estão preparados para lidar com a deficiência intelectual e agem como se os mesmos fossem incapazes, cria-se uma forte relação de dependência dessas pessoas. A suspeita da existência de famílias com características psiquiatricamente mórbidas ocorreu de forma científica em 1959. As conclusões do primeiro estudo de George Brown, em 1959, apontaram para uma possível associação entre a qualidade das relações familiares e o desenvolvimento da doença mental do paciente Ballone (2008) fez uma lista de razões que fazem com que os filhos sofram uma alguma angústia ou sofrimento, e que podem vir a originar um distúrbio emocional. Segundo o autor há alguns fatores que podem desencadear esses sentimentos. O quadro a seguir orientar-lhe-á na melhor compreensão desses fatores. Todos esses fatores podem causar muito estresse tanto nos filhos como nos pais, gerando assim angústias que podem vir a desenvolver distúrbios emocionais que poderão afetar sua vida social, escolar e afetiva. Causariam sofrimento emocional os pais... 37 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 1 – omissos e ausentes. 2 – tiranos e opressores. 3 – que exigem muito. 4 – que não exigem nada. 5 – que nutrem fortes expectativas sobre os filhos. 6 – que não se interessam tanto pelos filhos. 7 – que se separam para não brigarem mais. 8 – que não se separam, mas brigam. 9 – que só pensam em dinheiro. 10 – que não ensinam a valorizar o dinheiro. 11 – muito enérgicos (que limitam muito). 12 – muito camaradas (não dão limites). 13 – que não entendem (ou não querem entender) os filhos. 14 – que interferem muito e querem saber de tudo. 15 – que proíbem muito. 16 – que permitem muito. 17 – que nunca estão satisfeitos. 18 – que acham que está sempre tudo muito bom. 19 – etc. Fonte: Disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=195>. Acesso em: 14 ago. 2012. A figura a seguir é analisada na obra de Hockenbury e Hockenbury (2002, p.450): “Vias do Sistema Endócrino no Estresse – Duas vias estão envolvidas nas respostas ao estresse”. A via endócrina, apresentada à esquerda do diagrama, é a via envolvida na resposta lutar ou fugir (fightorflight response) para ameaças imediatas. A via endócrina à direita tem uma função importante quando lidamos com estressores prolongados ou crônicos. A seguir, duas formas de como o estresse pode se manifestar, e como ele pode agir no seu organismo. 38 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Figura 1 - Como se processa o estresse no corpo Fonte: Hockenbury e Hockenbury (2002, p.450). De acordo com a ilustração podemos perceber que a influência familiar é a maior responsável pelo desenvolvimento integral da criança, apresente ela alguma deficiência ou não. E o papel da família é proporcionar ao sujeito que apresenta deficiência um laço de confiança e amor. Esperamos que as discussões até então apresentadas possam ajudá-lo a repensar em uma prática que valorize um ambiente profissional tranquilo e acolhedor para a pessoa com ou sem deficiência intelectual. 39 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 Atividades de Estudos: 1) Sobre a definição de Personalidade desenvolvido por Hockenbury e Hockenbury (2002), reflita e responda, você concorda com esse conceito? Justifique sua opinião. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Aprendemos que vários fatores, como sociais, familiares e escolares podem causar estresse. Você já passou por alguma situação que desencadeou essa emoção? Pense sobre isso. Agora, com base em seus estudos, defina: a) Estresse: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Estressores: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Caro pós-graduando, os estudos que você realizou até aqui têm como objetivo auxiliá-lo em sua prática pedagógica de um fazer inclusivo. Nessa perspectiva, esperamos que essa leitura se torne um “saber fazer”, tornando-se relevante nos contornos sociais e escolares em que você, profissional da educação, está inserido. 40 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual As Novas Sociopatias Novas sociopatias: são alguns distúrbios como: dificuldades de relacionamentos mesmo com colegas de sala de aula, ou de trabalho, lidar com pai ou mãe ou irmãos depois da separação. São desenvolvidos pelas pessoas, que não necessariamente sejam crianças ou jovens, o adulto também não está imune, podendo acarretar, dentre outros problemas, sérias falhas nos relacionamentos interpessoais e de aprendizagem e falta de concentração (grifo da autora). Atualmente denominam-se novas sociopatias o que está relacionado às estruturas ou desestruturas familiares. As relações nas famílias podem vir a causar danos emocionais e, caso o sujeito seja um deficiente intelectual,pode essa falta de harmonia na família piorar seu desempenho nas relações exteriores, principalmente na instituição escola, pois é onde haverá a convivência por mais tempo e com um número maior de pessoas, gerando, dessa forma, um aumento dos atritos com os colegas de sala e demais alunos. A Agressão Emocional é especialidade do meio familiar, chegando-se ao requinte de agredir intencionalmente com um falso aspecto de estar fazendo o bem ou de não saber que está agredindo. Muitas vezes, esses desacordos familiares podem vir a gerar um desequilíbrio da personalidade que vai muito além apenas de falta de relacionamentos saudáveis, sendo que um dos fatores é o desencadeamento de violência física. De acordo com Ballone (2008), o termo “desequilíbrio da personalidade sociopática”, que substituiu “psicopatia”, foi incluído no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Primeira Edição (DSM-I), compêndio de distúrbios mentais reconhecidos As relações nas famílias podem vir a causar danos emocionais e, caso o sujeito seja um deficiente intelectual, pode essa falta de harmonia na família piorar seu desempenho nas relações exteriores. 41 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 publicado em 1952. Os psiquiatras usavam o termo “distúrbio da personalidade psicopática” para descrever pessoas que exibiam comportamento anormal em relação ao seu ambiente De acordo com Lorenzini (1999), as crianças que apresentam deficiência intelectual reagem de forma branda aos incentivos que são proporcionados pelo espaço doméstico, e suas respostas aos estímulos podem ser muito demoradas ou muitas vezes díspares do que se espera. Assim, precisam de estímulos ininterruptos para que possam vislumbrar o emprego das informações que possam assimilar. A autora relata que, para que a criança possa desenvolver suas habilidades, ela necessita ser auxiliada de maneira que os estímulos respeitem as suas necessidades. Segundo Belloni (2008), a Codependência é um transtorno emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionado aos familiares dos dependentes químicos e atualmente estendido também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e outros problemas sérios da personalidade. A Codependência se caracteriza por uma série de sintomas e atitudes mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa. Há muitas pessoas com transtornos emocionais derivados de sintomas descritos e suas atitudes que podem vir a interferir nas suas atividades e relações sociais. Quando as dificuldades se apresentam no âmbito escolar, é necessário que o profissional da educação esteja apto a lidar com a situação. Creio, caro educando, que o conhecimento da deficiência intelectual e de como ela se manifesta possam ajudá-lo nas práticas que você desenvolverá no dia a dia. Para que você possa entender melhor algumas características dos transtornos de personalidade, o texto a seguir pode ajudá-lo. 42 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 1. Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro. 2. Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o codependente, mantém- se com a serenidade própria dos mártires. 3. Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um perfeccionismo que, na realidade, ele queria que a pessoa problemática tivesse. 4. Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre superssolícito com quase todos (assim ele justificaria que sua solicitude não é apenas com a pessoa problemática). 5. Condutas pseudocompulsivas. Se o codependente paga as dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez isso”, diz que não consegue se controlar. 6. Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também pela conduta dos outros. 7. Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório. 8. Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua. 9. Baixa autoestima. 10. Dependência da aprovação externa, até por uma questão da própria autoestima. 11. Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como somatização da ansiedade. 43 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 12. Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e conflito. 13. Depressão. Resultado final. Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=24->. Acesso em: 14 ago. 2012. Como você percebeu, são várias as possibilidades de acontecerem os sintomas descritos acima. Com o conhecimento deles, você entenderá o que acontece e poderá aplicar o diagnóstico na sua técnica pedagógica, de maneira a interferir para beneficiar o deficiente intelectual no seu desempenho da aprendizagem e nas relações, especialmente dentro do universo escolar. Atividades de Estudos: 1) Sobre as novas sociopatias, você deve ter percebido que as pessoas podem alterar seu comportamento, e um dos fatores é que os deficientes intelectuais tem a dificuldade em criar e manter relações íntimas sadias e normais, sem que se crie uma relação em que um dependa muito do outro. Como você compreende essa dificuldade de estabelecer relações sociais saudáveis? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Você estudou que a “codependência” é um transtorno emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionado aos familiares. Como você entende a “codependência” na pessoa com deficiência intelectual com seus familiares? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 44 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual ____________________________________________________ ____________________________________________________ Você acabou de estudar sobre as novas sociopatias e os transtornos de aprendizagem. Agora, convidamos você a realizar a leitura sobre mitos com relação à capacidade do deficiente intelectual. Deficiencia Intelectual e o Mito da Incapacidade O deficiente intelectual durante muito tempo foi considerado como um ser incapaz, um inválido, e esses conceitos foram sendo difundidos na sociedade e a mesma introduziu na sua subjetividade. No ambiente familiar e escolar é muito comum ouvir pais e professores falarem sobre a pessoa deficiência intelectual “não saber” fazer isso ou aquilo. O termo incapacidade muitas vezes é evitado, embora inconscientemente seja lembrado. No entanto, queremos que fique claro que essa incapacidade é mito. Nesse sentido enfatiza (ABENHAIM 2008, p.243) “A visão excludente e alienada do ser humano está sendo substituída por um reconhecimento de todo ser humano como ser social que aprende na relação com o mundo, com o outro.” A pessoa com deficiência intelectual apresenta algumas impossibilidades, mas não incapacidades.“A aprendizagem e o desenvolvimento das pessoas não podem ser determinados pela aparência. O que realmente limita é a sociedade” (ABENHAIM 2008, p.243). Por isso o que família e escola devem procurar é criar condições de autonomia para esse sujeito. O fragmento de texto a seguir irá esclarecer alguns pontos de mito e verdade para sua maior compreensão sobre o tema. MITOS E VERDADES SOBRE DEFICIÊNCIA MENTAL/INTELECTUAL [...] 45 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 O mito: as pessoas com deficiência intelectual são muito ou totalmente dependentes. A verdade: a pessoa com deficiência intelectual habilitada para o trabalho geralmente já frequentou uma escola regular e/ou instituição especializada que a preparou para ser o mais independente possível. Portanto, em um ambiente corporativo, ela deve fazer sozinha tudo o que puder, e ser ajudada somente se for realmente necessário. Não se pode subestimar nem superestimar a capacidade dessa pessoa, porque suas habilidades não estão vinculadas, exclusivamente, às suas limitações. Existem pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, que são muito independentes, estudam, trabalham, andam sozinhas pelas ruas, se casam, tem vida sexual ativa e ajudam a família. Existem também muitas pessoas com deficiência intelectual que vão e voltam do trabalho com total independência, além de terem autonomia para decidirem sobre sua carreira dentro de uma empresa. O mito: as pessoas com deficiência intelectual necessitam de superproteção. A verdade: não. Impedi-las de experimentar a vida é negar sua possibilidade de alcançar níveis cada vez maiores de independência e de autonomia. [...] O mito: as pessoas com deficiência intelectual são mais agressivas e/ou muito carinhosas (“grudentas”). A verdade: a agressividade é uma forma de a pessoa administrar sua convivência na realidade, desenvolvida no período de sua história de vida. Não está associada a qualquer deficiência e pode ser característica de qualquer pessoa, tendo ou não uma deficiência. As pessoas com deficiência intelectual podem ou não ser muito carinhosas, como uma pessoa sem deficiência. Os comportamentos podem ser alterados de acordo com a necessidade de um grupo de pessoas, portanto, é interessante explicar ao novo funcionário com deficiência intelectual, caso seja necessário, que naquele ambiente de trabalho ele deve agir de determinada forma. Isso é fundamental para um bom relacionamento com essa pessoa. O mito: as pessoas com deficiência intelectual são como crianças. Não se pode subestimar nem superestimar a capacidade dessa pessoa, porque suas habilidades não estão vinculadas, exclusivamente, às suas limitações. 46 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual A verdade: uma pessoa com deficiência intelectual é uma pessoa com qualidades e defeitos. Quando criança, deve ser tratada como a criança que é. Quando adolescente, ou adulto, deve-se tratá-la de acordo com sua faixa etária. A capacidade de interagir em sociedade, e consequentemente no ambiente de trabalho, deve ser avaliada hoje de acordo com os critérios da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade - que equilibra fatores clínicos, comportamentais e sociais. O mito: as pessoas com deficiência intelectual são “muito” inteligentes. A verdade: muitas pessoas esperam menos da pessoa com deficiência, especialmente, a pessoa com deficiência intelectual. Assim, quando constatam nela capacidades e produtividade, é comum dizerem “são muito inteligentes!” Na verdade, super avaliar a inteligência da pessoa é tão discriminatório quando subavaliá-la. A pessoa com deficiência intelectual pode vir a apresentar dificuldade para aprender, especialmente quando se trata de conteúdos e conceitos abstratos, ou que dela exigem maior memorização. Seu ritmo de aprendizagem também pode vir a ser menor. Porém, o mais importante a se saber é que, para cada característica identificada, há uma forma para compensar a limitação e promover sua produtividade e funcionamento [...]. Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianápolis. Fonte: Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/ posts/mitos-verdades-sobre-deficiencia-mentalintelectual/>. Acesso em: 26 ago. 2012. Mesmo com as Declarações para a Inclusão, que começaram a ser deflagradas, esse conceito de incapacidade passa a ser reinterpretado, principalmente para a família, profissionais da saúde e da educação, o que principia num entendimento do deficiente intelectual como um indivíduo que tem suas capacidades, que necessita que elas sejam compreendidas e exploradas de maneira correta. Ainda é necessário que aconteçam mais mudanças significativas no que se refere à atuação dessas pessoas nos meios em que estão inseridas. Como você percebeu, a maneira como a pessoa com deficiência é tratada 47 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 pelos familiares e pelos professores refletirá em seu comportamento e percebida no meio em que estão inseridas. Respeitá-las é uma forma de fazê-las sentir-se parte do contexto. Você já deve ter lido sobre as Declarações que buscam os diretos das pessoas com deficiência: não se esqueça de ler sobre a Declaração de Montreal para deficiência intelectual. Apesar de haver um pequeno texto no capítulo I, existe muito mais para você aprender. Atividades de Estudos: 1) Estudamos nesse capítulo sobre capacidades e mitos das pessoas com deficiência intelectual. Qual sua opinião sobre o mito da capacidade da pessoa com deficiência intelectual? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Como você compreende as possibilidades de alcance da autonomia das pessoas com deficiência intelectual? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 48 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Algumas Considerações Caro pós-graduando, chegamos ao fim de mais um capítulo, no qual estudamos sobre as relações da família com a deficiência intelectual e suas implicações; as relações entre família escola e pessoa com deficiência intelectual e o mito da incapacidade. Já no próximo capítulo abordaremos a sexualidade da pessoa com deficiência intelectual. Faremos um estudo para melhor compreender como a sociedade, escola e família enfrentam essa questão. Até lá. Livro: Ciúme. Autor: Eduardo Ferreira-santos Editora: EDITORA AGORA Ano de Edição: 2007 Nº de Páginas: 112 Referências ABENHAIM, Evanir. Educação Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009. BALLONE,G,J.Ortolani IV – A Família faz bem ou mal Saúde Mental? 2008. Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012. _____, G.J., OrtolaniIV - A Família e Transtornos Emocionais,. 2008. Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012. _____, G.J. Deficiência Mental, 2007. Disponível em: <http://www.psiqweb. 49 O Papel da Família no Desenvolvimento do Deficiente Intelectual Capítulo 2 med.br>. Acesso em: 22 ago. 2012. _____, G.J., MOURA E.C. Transtornos da Linhagem Sociopática, 2008. Disponívelem: <http.//www.psiqweb.med.br>. Acesso em: 23 ago. 2012. _____, G.J.–Codependência, 2008. Disponível em: <http://www.psiqweb.med. br>. Acesso em: 14 ago. 2012. BEYER, Otto, Hugo. Por que Lev Vygotsky quando se propõe uma educação inclusiva? Ed.: 2005 - N° 26. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce/ ceesp/2005/02/a7.htm>. Acesso em: 8 mar. 2012. CID 10. Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm>. Acesso em: 14 ago. 2012. CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS – CID. Disponível em: <http://www. psicnet.psc.br/v2/site/dicionario/registro_default.asp>. Acesso em: 26 ago. 2012. HOCKENBURY, Dom H., &HOCKENBURY,Sandra. Descobrindo a Psicologia. São Paulo. SP. Editora. Monole. 2002. INSTITUTO MID. Mitos e verdades sobre deficiência mental/intelectual. Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/posts/mitos-verdades- sobre-deficiencia-mentalintelectual/>. Acesso em: 26 ago. 2012. LORENZINI, M. V. (1999). Brincando no ambiente natural: uma contribuição para o desenvolvimento sensório-motor da criança portadora de paralisia cerebral. Campinas: Universidade Estadual de Campinas (Tese de Doutorado). NÚÑEZ, B. La Família com um Hijo com Discapacidad: sus Conflictos Vinculares. Archives Argentinian of Pediatry, Buenos Aires: Sociedad Argentina de Pediatria, 101(2), pp. 133-42, 2003. PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. Editora Ática. São Paulo. 1986. VYGOTSKY, L.S. Obras Escogidas V – Fundamentos de Defectología. Madrid: Visor, 1997. 50 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual CAPÍTULO 3 Educação Sexual e Deficiência Intelectual A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Refletir sobre o processo da educação sexual na escola do deficiente intelectual. 3 Discutir concepções de sexualidade na deficiência intelectual. 3 Abordar a descendência e o matrimônio de pessoas com deficiência intelectual. 52 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 53 Educação Sexual e Deficiência Intelectual Capítulo 3 Contextualização O sexo na Idade Média era tido como pecado, com fim apenas de concepção em virtude dos dogmas religiosos. Essa compreensão do sexo no ocidente vem se alterando lentamente e culmina com a revolução sexual dos anos de 1960 e 1970, com o advento da pílula anticoncepcional e outros métodos de prevenção da gravidez. Com o surgimento da AIDS, nos anos de 1980, a questão sexual entra em debate e agora já não se trata apenas de prevenção contra gravidez e sim uma questão de saúde e risco de morte. Quando se trata da sexualidade da pessoa com deficiência intelectual, inúmeras dúvidas surgem. Diante disso discutiremos no decorrer dos capítulos como esses processos vêm se desdobrando, com todas as implicações do desenvolvimento da esfera social, que acaba influenciando a esfera privada. Outro ponto em discussão será o matrimônio entre pessoas com deficiência intelectual, que gera a preocupação por parte dos familiares quanto à questão da descendência que esses sujeitos irão gerar. Boa leitura! Educação Sexual: Deficiência Intelectual, Família E Escola Afinal, como debater na família e na escola sobre a educação sexual e os processos da sexualidade para a pessoa com deficiência intelectual? Pois, “Diferente da sexualidade dos adolescentes tidos como normais, a sexualidade dos deficientes não é um tema esclarecido nas salas de aula e nem é comumente tido como assunto em debates ou palestras.” (MACEDO; TERRASSI, 2009). Nesse aspecto, a educação sexual na escola torna-se uma tarefa complexa, pois traz em questão preceitos religiosos, falta de conhecimento e vergonha por parte das próprias famílias, deixando a escola numa posição vulnerável. É importante compreendermos como vem sendo discutido a sexualidade em ambientes familiares e escolares. Além disso, vamos refletir sobre como a escola aborda o tema para as pessoas com Diferente da sexualidade dos adolescentes tidos como normais, a sexualidade dos deficientes não é um tema esclarecido nas salas de aula e nem é comumente tido como assunto em debates ou palestras. (MACEDO; TERRASSI, 2009). 54 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual deficiência intelectual, sobre a forma como ocorre à sexualidade nesses sujeitos e suas implicações no cotidiano. Conforme Foucault (1998, p.9), O termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário. O uso desta palavra é estabelecido em relação a outros fenômenos, como o desenvolvimento de campos de conhecimento diversos; a instauração de um conjunto de regras e de normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas; mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor à sua conduta, desejos, prazeres, sentimento, sensações e sonhos. O termo já existe há muito tempo e tem outras implicações que não apenas uma referência ao contorno sexual, ao sexo em si, mas uma implicação de construção histórica e social. A sexualidade, nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Pluralidade Cultura e Orientação Sexual, é entendida como uma concepção biológica inerente ao ser humano está na sua subjetividade, faz parte de suas vidas e deve ser encarada com naturalidade. É preciso desmistificar a relação sexual como um ato pecaminoso e abominável. Sobre isso, salienta Ballone (2008) que é importante lidar com questões sexuais como um instrumento de relacionamento, e não somente ao ato sexual. Diante disso, as famílias devem buscar um entendimento sobre a sexualidade das pessoas com deficiência intelectual, respeitando sua privacidade. Numa perspectiva histórico-cultural, a família tende a imprimir, geralmente, aos portadores de deficiências, a ideia de que são incapazes, inábeis, inseguros e assim vão sendo “educados” para serem indefesos, dependentes e até considerados por alguns como assexuados e desinteressantes (TOLEDO 2000 apud MACEDO; TERRASSI, 2009, p. 205) Ao tratar da sexualidade devemos considerar a questão do preparo do corpo, a idade que é mais adequada para o início de uma relação sexual e todas as implicações que podem vir com o início das relações sexuais, como gravidez não desejada e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). O texto a seguir irá auxiliá-lo no entendimento da crença da sexualidade relacionada à deficiência intelectual O termo sexualidade surgiu no século XIX, marcando algo diferente do que apenas um remanejamento de vocabulário. 55 Educação Sexual e Deficiência Intelectual Capítulo 3 Algumas das crenças mais comuns, relacionadas à sexualidade e deficiência: Crença 1: jovens com deficiência não são sexualmente ativos. Embora alguns adolescentes, com deficiência profunda possam ser menos aptos que seus pares para serem sexualmente ativos, a crença é infundada, pois não se deve assumir que a condição de deficiência por si só preveja o comportamento sexual. Crença 2:as aspirações sociais e sexuais de pessoas com deficiência são diferentes dos seus pares. Apesar do isolamento social que muitos deficientes vivenciam, estudos demonstram que estes jovens gostariam de ter relações sexuais, de casar e de ter filhos. Na verdade, o que ocorre é que essas pessoas têm menos oportunidades de explorar alguma relação com seus semelhantes, o que dificulta o alcance de suas aspirações. Crença 3:problemas quanto à expressão sexual do deficiente ocorrem em função de sua deficiência. Estudos demonstram que problemas físicos e mentais têm menor influência sobre a expressão sexual do deficiente do que sua integração social. Os deficientes têm maior