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Indaial – 2021 Prestações da Previdência social: Benefícios em esPécie i Prof.a Gabriela Wolff 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Gabriela Wolff Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: W855p Wolff, Gabriela Prestações da previdência social: benefícios em espécie I. / Gabriela Wolff – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 208 p.; il. ISBN 978-65-5663-723-5 ISBN Digital 978-65-5663-724-2 1. Seguro-desemprego. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 340 aPresentação Prezado acadêmico, seja bem-vindo à esta nova disciplina em seu curso, na qual trataremos das questões inerentes à Previdência Social e seus benefícios em espécie – Parte I. Como o tema é bastante abrangente, futuramente veremos os benefícios em espécie – Parte II. Na Unidade 1, trabalharemos temas relevantes ao estudo da Previdência Social, iniciando com um breve histórico. Perceberemos a relação da Previdência Social com a saúde e a função de assistência social. Visando um maior aprofundamento, analisaremos os princípios previdenciários, para com isso compreender a essência da instituição, da disciplina e dos seus benefícios. Na Unidade 2, o estudo terá como objetivo conhecer os diversos tipos de beneficiários do regime próprio da Previdência Social. Observaremos os conceitos e as diferenças entre os segurados obrigatórios e facultativos, bem como as diversas classes de dependentes e a necessidade (ou não) de dependência econômica. Ainda nesta unidade, demonstraremos quais as hipóteses de manutenção, perda e restabelecimento da qualidade de segurado, o que poderá acarretar o deferimento (ou não) de um benefício pleiteado. Por fim, na Unidade 3, iniciaremos nossos estudos nas prestações da Previdência Social. Analisaremos acerca dos auxílios doença e reclusão, as variadas formas de aposentadorias, salário-maternidade, salário-família e pensão por morte. Destacamos que, para estudarmos cada benefício em espécie, é preciso conhecer as regras fundamentais trabalhadas nas unidades anteriores, pois só assim será possível vislumbrar o direito a tal prestação. Preparados? Vamos adiante... Bons estudos! Prof.a Gabriela Wolff Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL .................................................................................. 1 TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL .................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ............................................................ 3 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 — DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ..................................... 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 DA PREVIDÊNCIA SOCIAL .......................................................................................................... 20 3 DOS REGIMES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ............................................................................ 23 4 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA (2019) ...................................................................................... 26 5 SALÁRIO DE BENEFÍCIO x SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO ............................................... 27 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 32 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS PREVIDENCIÁRIOS ......................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35 2 CARÁTER CONTRIBUTIVO E FILIAÇÃO OBRIGATÓRIA .................................................. 36 3 EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL ................................................................................. 37 4 UNIVERSALIDADE DE PARTICIPAÇÃO NOS PLANOS PREVIDENCIÁRIOS .............. 38 5 UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS.......................................................................................... 39 6 SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS .............. 40 7 CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS CONSIDERANDO OS SALÁRIOS DE CONTRIBUIÇÃO CORRIGIDOS MONETARIAMENTE ........................................................ 40 8 IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS ............................................................ 41 9 VALOR DA RENDA MENSAL DOS BENEFÍCIOS SUBSTITUTOS DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO OU DO RENDIMENTO DO TRABALHO DO SEGURADO NÃO INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO ................................................................................... 43 10 PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR FACULTATIVA, CUSTEADA POR CONTRIBUIÇÃO ADICIONAL ................................................................................................... 45 11 CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA GESTÃO ADMINISTRATIVA, COM A PARTICIPAÇÃO DO GOVERNO E DA COMUNIDADE, EM ESPECIAL DE TRABALHADORES EM ATIVIDADES, EMPREGADORES E APOSENTADOS ....................................................................................... 46 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................48 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 51 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 55 UNIDADE 2 — BENEFICIÁRIOS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) ....................................................................................................... 61 TÓPICO 1 — SEGURADOS OBRIGATÓRIOS E FACULTATIVOS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ..................................................................... 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 SEGURADOS OBRIGATÓRIOS ................................................................................................... 67 2.1 SEGURADOS EMPREGADOS ................................................................................................... 72 2.2 EMPREGADOS DOMÉSTICOS .................................................................................................. 74 2.3 CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS ............................................................................................. 76 2.4 TRABALHADORES AVULSOS .................................................................................................. 78 2.5 SEGURADOS ESPECIAIS ........................................................................................................... 79 3 SEGURADOS FACULTATIVOS..................................................................................................... 82 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 86 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 87 TÓPICO 2 — OS DEPENDENTES DOS SEGURADOS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ........................................................................................... 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 89 2 DEPENDENTES DE PRIMEIRA CLASSE .................................................................................... 91 2.1 CÔNJUGE ...................................................................................................................................... 92 2.2 COMPANHEIRO(A) ..................................................................................................................... 93 2.3 FILHO MENOR DE 21 ANOS..................................................................................................... 94 2.4 FILHO INVÁLIDO, DEFICIENTE INTELECTUAL OU MENTAL OU DEFICIÊNCIA GRAVE................................................................................................................. 95 3 DEPENDENTES DE SEGUNDA CLASSE ................................................................................... 95 4 DEPENDENTES DE TERCEIRA CLASSE .................................................................................... 96 5 DEPENDÊNCIA ECONÔMICA ..................................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 104 TÓPICO 3 — DA MANUTENÇÃO, PERDA E RESTABELECIMENTO DA QUALIDADE DE SEGURADO .............................................................................. 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 107 2 PERÍODOS DE GRAÇA ................................................................................................................. 107 3 PERDA DA QUALIDADE DE SEGURADO .............................................................................. 109 4 CARÊNCIA ....................................................................................................................................... 110 4.1 PERÍODOS DE CARÊNCIA ...................................................................................................... 110 4.2 PRESTAÇÕES QUE NÃO EXIGEM CARÊNCIA .................................................................. 112 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 114 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 127 UNIDADE 3 — DAS PRESTAÇÕES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL I ...................................... 129 TÓPICO 1 — AUXÍLIOS PAGOS AOS SEGURADOS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ......................................................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 DO AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA (AUXÍLIO-DOENÇA) ................... 131 2.1 BENEFICIÁRIOS DO AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA ......................... 134 2.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DO AUXÍLIO POR INCAPACIDADE TEMPORÁRIA .... 135 2.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 136 2.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 137 3 DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ............................................................................................................ 138 3.1 BENEFICIÁRIOS DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ........................................................................ 139 3.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO .............................................. 140 3.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 141 3.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 141 4 DO AUXÍLIO-ACIDENTE ............................................................................................................. 142 4.1 BENEFICIÁRIOS DO AUXÍLIO-ACIDENTE ......................................................................... 143 4.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DO AUXÍLIO-ACIDENTE ............................................... 144 4.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 144 4.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 145 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 150 TÓPICO 2 — APOSENTADORIAS DOS SEGURADOS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL .......................................................................................... 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................153 2 APOSENTADORIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ......................................................... 153 2.1 BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ................ 154 2.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ............................................................................................................................. 155 3 APOSENTADORIA ESPECIAL .................................................................................................... 155 3.1 BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL ......................................................... 158 3.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA ESPECIAL ............................... 159 3.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 160 3.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 160 4 APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE (APOSENTADORIA POR INVALIDEZ) ........................................................................................................................... 160 4.1 BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE ...... 162 4.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE PERMANENTE ........................................................................................................................... 162 4.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 164 4.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 165 5 APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL ........................................ 165 5.1 BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL ..... 166 5.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA POR IDADE DO TRABALHADOR RURAL ......................................................................................................... 166 6 APOSENTADORIA PROGRAMADA ........................................................................................ 167 6.1 BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA PROGRAMADA .............................................. 168 6.2 DA RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA PROGRAMADA .................... 168 6.3 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO.......................................................................................... 168 6.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 169 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 TÓPICO 3 — DO SALÁRIO-MATERNIDADE, SALÁRIO-FAMÍLIA E DA PENSÃO POR MORTE ............................................................................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 2 DO SALÁRIO-MATERNIDADE .................................................................................................. 181 2.1 BENEFICIÁRIOS DO SALÁRIO-MATERNIDADE ............................................................... 183 2.2 DO VALOR DO SALÁRIO-MATERNIDADE ........................................................................ 184 2.3 DO PROGRAMA EMPRESA CIDADà ................................................................................... 184 2.4 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 185 3 DO SALÁRIO-FAMÍLIA ................................................................................................................ 185 3.1 BENEFICIÁRIOS DO SALÁRIO-FAMÍLIA ............................................................................ 186 3.2 DO VALOR DO SALÁRIO-FAMÍLIA ...................................................................................... 186 3.3 DO PAGAMENTO DO SALÁRIO-FAMÍLIA ......................................................................... 187 3.4 DA CESSAÇÃO DO SALÁRIO-FAMÍLIA .............................................................................. 187 4 DA PENSÃO POR MORTE ........................................................................................................... 188 4.1 BENEFICIÁRIOS DA PENSÃO POR MORTE ....................................................................... 189 4.2 DA RENDA MENSAL DA PENSÃO POR MORTE .............................................................. 190 4.3 DATA DE CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO ................................................................................. 191 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 193 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 204 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 207 1 UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer a Previdência Social como instituição e sua história; • compreender a relação da instituição em análise com a população; • entender a função da assistência social e seus efeitos; • estudar os princípios previdenciários e perceber a sua influência na essência da Previdência Social e no pagamento de benefícios; • dimensionar a importância da instituição para a população em geral. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL TÓPICO 2 – DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS PREVIDENCIÁRIOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO A evolução da sociedade tem nos mostrado um dos maiores problemas que temos a enfrentar: a desigualdade social. Num contexto socioeconômico, não podemos fechar os olhos para a situação, pois a pobreza não é um problema individual, mas sim social. A falta de condições essenciais para a maior parte da população sobreviver acaba acarretando um verdadeiro caos. Diante disso, o homem não consegue sair dessa circunstância sozinho e acaba necessitando do amparo do Estado para prevenir e remediar as suas necessidades. Uma dessas formas de ajuda vem através da Previdência Social, ao conceder benefícios e auxílios à população. Para conhecermos esse instituto de forma aprofundada, iniciaremos agora pelo estudo da sua história. 2 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Com forte influência da evolução do Estado Social nos territórios europeu e norte-americano, no Brasil, a ideia de uma interferência estatal surgiu na época do império. Os primeiros registros expressos de uma ajuda securitária na legislação brasileira, segundo Kertzman (2009), foi o artigo 179, inciso XXXI, da Constituição do Império do Brasil de 1824. Tais ajudas eram reconhecidas por “socorros públicos”. Após o registro anterior, vários socorros mútuos foram criados, como: Socorro Mútuo Previdência em 1875; o Socorro Mútuo Vasco da Gama em 1881; e o Socorro Mútuo Marquês de Pombal em 1882. Todavia, Leitão (2018) assegura que a primeira legislação regulamentando a temática foi o Decreton° 9.912-A, de 26 de março de 1888, o qual versava sobre o direito à aposentadoria dos funcionários dos Correios, fixando em 30 anos de serviço e idade mínima de 60 anos para aposentadoria. No mesmo ano, foi editada a Lei n° 3.397, que criava a Caixa de Socorros. Ainda, em 1889, surgiu o Decreto n° 10.269, que criou o Fundo de Pensões do Pessoal das Oficinas de Imprensa Nacional. E nos anos seguintes, foram sendo criadas diversas legislações a respeito do tema, como: UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 4 • Aposentadoria aos ferroviários do Estado, em 1890. • Montepio Obrigatório dos Empregados do Ministério da Fazenda, em 1890. • Aposentadoria por invalidez e a pensão por morte dos operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, em 1892. • Caixa de Pensões dos Operários da Casa da Moeda, em 1911. • Caixa de Pensões e Empréstimos para o pessoal das Capatazias da Alfândega do Rio de Janeiro, em 1912. Na Constituição brasileira de 1891, podíamos observar dois artigos que versavam sobre o tema. Agostinho (2020, p. 36) menciona a respeito: [...] art. 5° e art. 75, sendo que o primeiro dispunha sobre a obrigação de a União prestar socorro aos Estados em calamidade pública, caso estes solicitassem. Já o art. 75 dispunha sobre a aposentadoria por invalidez dos funcionários públicos. Vale ressaltar que o art. 75 da Constituição de 1891 previa que a aposentadoria era concedida aos funcionários públicos que viessem a ficar inválidos, não dependendo de qualquer contribuição por parte do trabalhador, sendo custeada integralmente pelo Estado. Depois de todo esse avanço, Leitão (2018) acrescenta que um dos maiores marcos na legislação brasileira foi a edição da Lei n° 3.724, de 1919, que tornou compulsório o seguro contra acidentes do trabalho em determinadas atividades. A lei que tornou compulsório o seguro contra acidentes do trabalho é considerada a primeira LEI ACIDENTÁRIA NO BRASIL. ATENCAO Entretanto, para a doutrina majoritária, o marco da Previdência Social brasileira foi a edição do Decreto n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido como Lei Eloy Chaves. O Decreto mencionado determinou a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para os empregados de cada empresa ferroviária. Em 1926, o regime da Lei Eloy Chaves estendeu tal benefício aos portuários e marítimos e, posteriormente, em 1928, aos trabalhadores dos serviços telegráficos e radiotelegráficos. No ano de 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tendo como principal atribuição orientar e supervisionar a Previdência Social. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 5 Com isso, nos anos seguintes, novas legislações foram sendo criadas expandindo os direitos assegurados na Lei Eloy Chaves à outras diversas categorias profissionais, por exemplo, serviços públicos, empresas de mineração, serviços de luz e entre outros. Para Leitão (2018), outro importante acontecimento na história da Previdência Social no Brasil foi a edição do Decreto n° 22.872, de 29 de junho de 1933, que criou o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos. Para ele, a relevância se dá, pois foi a partir desse que foram criados diversos Institutos de Aposentadoria e Pensões, organizados por categorias profissionais, como bancários, comerciários, industriários, servidores do Estado e transportes e cargas. As aposentadorias dos servidores públicos, nessa época, eram todas custeadas pelo erário, pois, nas lições de Silva (2003, p. 16), “[...] o servidor era considerado um bem do Estado: como tal deveria ser protegido pelo mesmo”. A palavra erário é oriunda do latim. Em termos jurídicos, aplica-se o vocábulo erário para designar o tesouro público, o conjunto de bens ou valores pertencentes ao Estado. NOTA Já na Constituição de 1934, pode-se observar a primeira utilização do termo “previdência”. Foi nela também que foi prevista a forma tríplice de custeio, ou seja, mediante recursos do Poder Público, das empresas e dos trabalhadores. Previa ainda, aos funcionários públicos, a aposentadoria compulsória com 68 anos de idade, a aposentadoria por invalidez e os proventos integrais em algumas situações. Avançando no tema, a Constituição Federal de 1937 trouxe a previsão dos seguros em decorrência de acidentes de trabalho, como: seguro de vida, de invalidez e de velhice. Assim, após todo contexto, em 1943, com a aprovação da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) foi ordenado também o primeiro projeto de Consolidação das Leis da Previdência Social. Cabe ressaltar, que somente na Constituição de 1946, é que houve a expressão “Previdência Social”, eis que na de 1934 constava tão-somente “previdência”. Pouco trouxe de inovações a respeito do tema. UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 6 Em 1952, o Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União – Lei n° 1.711 – apresentou regras sobre o cômputo do tempo de serviço para fins de aposentadoria e disponibilidade. Trouxe também a concessão de salário-família e auxílio-doença. Santos (2020, p. 387-388) afirma que o salário-família daquela época era diferente do que temos previsto hoje. Vejamos: O salário-família era garantido ao funcionário ativo ou inativo, em razão da existência de filho menor de 21 anos, filho inválido, filha solteira sem economia própria e filho estudante, de até 24 anos de idade, que frequentasse curso secundário ou superior em estabelecimento de ensino oficial ou particular, e que não exercesse atividade lucrativa. Equiparavam-se os filhos de qualquer condição, os enteados, os adotivos e o menor que, mediante autorização judicial, vivesse sob a guarda e sustento do funcionário. De igual modo, destaca-se também que o auxílio-doença era concedido ao funcionário após 12 meses consecutivos de licença para tratamento de saúde, devido à tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia ou cardiopatia grave (SANTOS, 2020). Diante disso, pelo Decreto n° 48.959-A/1960 houve a aprovação do Regulamento Geral da Previdência Social, seguido, em 1963, pela criação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL). Em 1966, houve a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) com o fito de unificar os Institutos de Aposentadorias e Pensões. No ano seguinte, a Lei n° 5.316/1967, integrou o seguro de acidentes do trabalho na Previdência Social. Com a Constituição de 1967, a idade para se aposentadoria compulsoriamente foi mantida em 70 anos, bem como por invalidez. A voluntária era permitida aos homens com 35 anos de serviço, e, para as mulheres, aos 30 anos de serviço, com proventos integrais. A sua maior inovação foi a instituição do seguro-desemprego. Ainda em constante avanço, podemos observar que, em 1969, a Previdência Social foi estendida ao trabalhador rural. Não descuidando da classe doméstica, estes foram inseridos em 1972. Nos anos de 1970 a 1976, tivemos as edições das seguintes leis: • Lei Complementar n° 7, que criou o PIS (Programa de Integração Social). • Lei Complementar n° 8, que criou o PASEP (Programa de Integração Social). • Lei n° 6.036/1974, que desmembrou o Ministério do Trabalho e Previdência Social, dando origem ao Ministério da Previdência e Assistência Social. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 7 • Lei n° 6.125/1974, que criou a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV). • Decreto n° 77.077/1976, que instituiu a Consolidação das Leis da Previdência Social. No ano de 1977, tivemos a promulgação de legislações que dispunham sobre a previdência privada e a instituição do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social. A atual Carta Magna fundamentada em um Estado Democrático de Direito e os objetivos fundamentais da República trouxeram de forma expressao conceito de justiça social. O seu artigo 3°, inciso IV, nos diz que seu objetivo é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988), o que somente será possível com a efetivação dos direitos sociais. Com a sua promulgação, em 1988, podemos observar a reunião das três disciplinas (previdência, assistência social e saúde) em um único sistema de proteção social, chamado de seguridade social. Precisamente, o instituto da Previdência Social possui uma seção específica na CFRB/1988, nos artigos 201 e 202 da CFRB/1988, que disciplina a matéria: Art. 201. A Previdência Social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: I- cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada; II- proteção à maternidade, especialmente à gestante; III- proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV- salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V- pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2°. § 1° É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados: I- com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar; II- cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação. § 2° Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 8 § 3° Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei. § 4° É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. § 5° É vedada a filiação ao regime geral de Previdência Social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência. § 6° A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano. § 7° É assegurada aposentadoria no regime geral de Previdência Social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: I- 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição; II- 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. § 8° O requisito de idade a que se refere o inciso I do § 7° será reduzido em 5 (cinco) anos, para o professor que comprove tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar. § 9° Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de Previdência Social e os regimes próprios de Previdência Social, e destes entre si, observada a compensação financeira, de acordo com os critérios estabelecidos em lei. § 9°-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o tempo de contribuição ao Regime Geral de Previdência Social ou a regime próprio de Previdência Social terão contagem recíproca para fins de inativação militar ou aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre as receitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de contribuição aos demais regimes. § 10. Lei complementar poderá disciplinar a cobertura de benefícios não programados, inclusive os decorrentes de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de Previdência Social e pelo setor privado. § 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei. § 12. Lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária, com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores de baixa renda, inclusive os que se encontram em situação de informalidade, e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda. § 13. A aposentadoria concedida ao segurado de que trata o § 12 terá valor de 1 (um) salário-mínimo. § 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 9 § 15. Lei complementar estabelecerá vedações, regras e condições para a acumulação de benefícios previdenciários. § 16. Os empregados dos consórcios públicos, das empresas públicas, das sociedades de economia mista e das suas subsidiárias serão aposentados compulsoriamente, observado o cumprimento do tempo mínimo de contribuição, ao atingir a idade máxima de que trata o inciso II do § 1° do art. 40, na forma estabelecida em lei. Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de Previdência Social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. § 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará ao participante de planos de benefícios de entidades de previdência privada o pleno acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos planos. § 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. § 3° É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado. § 4° Lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de planos de benefícios previdenciários, e as entidades de previdência complementar. § 5° A lei complementar de que trata o § 4° aplicar-se-á, no que couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de planos de benefícios em entidades de previdência complementar. § 6° Lei complementar estabelecerá os requisitos para a designação dos membros das diretorias das entidades fechadas de previdência complementar instituídas pelos patrocinadores de que trata o § 4° e disciplinará a inserção dos participantes nos colegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto de discussão e deliberação.FONTE: BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 19 ago. 2021. UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 10 Mais adiante, em 1990, se deu a criação do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com a Lei n° 8.029/1990, o qual tem como suas principais atribuições: • criar, processar e atualizar os cadastros de contribuintes e os cadastros de contribuintes e beneficiários com o auxílio da DATAPREV (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social); • cobrar e fiscalizar as contribuições sociais devidas pelas empresas e trabalhadores; • analisar o preenchimento dos requisitos legais e conceder os direitos previdenciários aos beneficiários. Todavia, foi em 2007, que o INSS obteve atribuição exclusiva para analisar o direito ao recebimento de um benefício administrado pela Previdência Social, a fim de garantir rapidez, comodidade e ampliação do controle social. Já em 1991, houve um grande avanço com a regulamentação da matéria no plano infraconstitucional, com a aprovação e publicação das Leis n° 8.212/1991 e 8.213/1991, que dispõem, respectivamente, sobre a organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, e, sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e outras providências. A fim de melhor exemplificar essas alterações, colacionamos o Quadro 1 com os feitos históricos apresentados: QUADRO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL FONTE: Leitão (2018, p. 38) A evolução histórica da Previdência Social no Brasil 1824: a Constituição Imperial previu os “socorros públicos”. 1923: a Lei Eloy Chaves (Decreto-Lei n° 4.682) criou as caixas de aposentadorias e pensões para os ferroviários, mantidas pelas empresas. Considerado o marco da Previdência Social no Brasil. 1934: a Constituição previu a tríplice forma de custeio, com contribuição do Poder Público, dos trabalhadores e do Governo. 1937: a Constituição utilizou, pela primeira vez, o termo “seguro social” como sinônimo de Previdência Social. 1946: a Constituição inseriu textualmente a expressão “Previdência Social”, em substituição a “seguro social”. 1977: criação do SINPAS, integrando as áreas de saúde, assistência e Previdência Social. 1988: a Constituição Federal previu o sistema de seguridade social, de caráter tridimensional, visto que integrado por saúde, previdência e assistência social. 1990: criação do INSS, a partir da fusão do IAPAS com o INPS. 1998: Emenda Constitucional n° 20. 2003: Emenda Constitucional n° 41. 2005: Emenda Constitucional n° 47. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 11 Nos últimos tempos, outra mudança significativa no sistema previdenciário foi a Emenda Constitucional n° 20/1998. Tanto os trabalhadores públicos como privados foram atingidos pelas novas regras. A citada emenda constitucional determinou a instituição de regime previdenciário, de caráter contributivo, para os titulares de cargos efetivos das entidades federativas, suas autarquias e fundações. Diante disso, todos os servidores titulares de cargo efetivo, bem como os magistrados, membros do MP e tribunais de conta passaram a ser segurados obrigatórios de regime próprio. A tão discutida Reforma da Previdência foi aprovada recentemente por meio da Emenda Constitucional n° 103/2019. Seu objetivo era contornar uma crise econômica e equilibrar o sistema financeiro e atuarial, instituindo alterações no sistema da Previdência Social e estabelecendo regras de transição e disposições transitórias. Nela, o sistema de aposentadorias e pensões dos servidores públicos, aproximou-se das regras do RGPS. Entretanto, diversas mudanças na forma de cálculo foram aprovadas para a iniciativa privada. Podemos perceber diversas mudanças ao longo do tempo, inclusive, esta última, muito debatida como ‘a reforma da previdência’, que, por fim, acabou aprovada. É certo que o sistema previdenciário ainda passará por novas mudanças. É preciso atualizar a legislação em conformidade com as transformações da sociedade, seja ela econômica ou não. Sobre o tema, destaca Leitão (2018, p. 37): É indispensável que o sistema também avalie cuidadosamente o contexto fático, ponderando outras variáveis fundamentais para o equilíbrio atuarial das contas públicas, tais como o crescimento vegetativo, o envelhecimento da população (aumento da expectativa de vida dos brasileiros) e o mercado informal de trabalho. O embate entre a vedação ao retrocesso e a reserva do possível nos leva a afirmar que as mudanças adaptadoras não podem desvirtuar a vertente traçada pela Constituição, desfigurando o estado Social e Democrático de Direito construído e lastreado no Sistema de Seguridade Social. Deve-se ponderar, ademais, que a aferição do grau de desenvolvimento de um Estado não deve limitar-se a uma análise estritamente quantitativa. O desenvolvimento precisa ser analisado também sob o aspecto qualitativo, afinal o crescimento econômico dissociado de justiça social não passa de uma quimera restrita a poucos em detrimento do bem-estar da maioria. Seria uma afronta ao texto da Constituição Federal da República, mediante violação de normas de elevada carga axiológica [...]. UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 12 No ponto de vista de Nassar (2014), as reformas estruturais decompõem o sistema previdenciário, transformando regimes de repartição em regimes de capitalização. Assevera no sentido de que reformas podem ser essenciais, porém desde que não modifiquem o seu objetivo. Leia-se: A retórica da reforma é acentuada pela utilização de linguagem técnica e fundamentada, essencialmente, em argumentos financeiros e atuariais. Conceitos como eficiência, ativos, reserva técnica, capitalização, investimentos e poupança interna substituíram os conceitos de políticas distributivas, mecanismos de Solidariedade Social, proteção social pública, cobertura de riscos, preservação de direitos adquiridos etc. (NASSAR, 2014, s. p.). Acadêmico, perceba que novas alterações legislativas são esperadas, o que não se pode admitir é o prejuízo social em prol do crescimento econômico, pois feriria fatalmente as regras constitucionais acerca do Estado Social e Democrático de Direito. O REGIME DA PREVIDÊNCIA SOCIAL Breve Histórico João Donadon David Pinheiro Montenegro A Previdência Social, como política de proteção social, teve sua evolução, no Brasil, marcadamente ao longo do século XX, tendo como contexto e motor as grandes transformações sociais, políticas, econômicas e institucionais por que passou o país nesse período. Com a edição do Decreto n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido como “Lei Eloy Chaves”, a Previdência Social despontou como política pública de caráter permanente e geral consubstanciada em um sistema de filiação obrigatória, voltado ao resguardo de situações de risco social decorrentes de enfermidade, velhice ou morte dos seus beneficiários. Surgindo, inicialmente, na forma de caixas de aposentadoria e pensões vinculadas a certas empresas, logo o sistema iniciaria o seu processo de universalização, adquirindo, a partir do governo Vargas, caráter corporativo, com a implantação dos institutos de aposentadoria e pensões organizados por categorias profissionais. Muito criticado pela heterogeneidade dos planos de custeio e de benefícios oferecidos aos trabalhadores e pela grande dispersão de esforços e recursos que implicava, esse modelo perdurou até a edição da Lei n° 3.807, de 26 de agosto de 1960, conhecida como Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, que instituiu planos de benefícios e de custeio únicos para o conjunto dos trabalhadores não submetidos a regimes próprios de previdência, impondo-lhes filiação obrigatória decorrente do mero exercício de atividade remunerada. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL13 Detalhe importante dessa Previdência Social unificada foi que as regras concernentes aos direitos previdenciários nela previstos foram traçadas tendo em vista um modelo atuarial sustentável, ou seja, voltadas à manutenção do equilíbrio entre benefícios e custeio. Marcado por forte agitação política decorrente da resistência ao regime militar que se implantou, no Brasil, a partir de 1964, esse período foi palco de importantes transformações na Previdência Social. Além da unificação institucional advinda com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, em 1966, foi ampliado, nesse período, o universo de filiados, tendo-se incluído o trabalhador rural (1969), o empregado doméstico (1972), o jogador profissional de futebol (1973) e o trabalhador temporário (1974), dentre outras categorias. Foram também instituídos novos benefícios, dentre os quais o salário-maternidade, e flexibilizadas as regras que garantiam a manutenção de equilíbrio na relação custeio/benefício, generalizando-se, dentre outras práticas, a contagem de tempo de trabalho fictício, fatores que compuseram parte da gênese dos déficits financeiro e atuarial enfrentados pelo sistema a partir dos anos 1980. Observe-se que o decrescimento ou quase extinção dos direitos políticos nesse período foi, com frequência, compensado por benesses na área social, tendo sido a Previdência Social a principal moeda de troca dos governantes militares, para obtenção de apoio popular. Transformações significativas ocorreram, ainda no plano administrativo, como decorrência da crescente importância da Previdência Social no contexto das políticas públicas. Assim é que, em 1971, foi criada a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social – DATAPREV, e, em 1974, foi instalado o Ministério da Previdência e Assistência Social, pasta que resultou da separação das atribuições do antigo Ministério do Trabalho e da Previdência e Assistência Social. Considera-se, porém, como a grande mudança ocorrida nesse período, a implantação de um novo modelo organizacional para a previdência, que integrava, no Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – SINPAS, os mais diversos segmentos da atuação estatal no âmbito da proteção social, inclusive a referente à previdência dos servidores públicos. O SINPAS foi instituído pela Lei n° 6.439, de 1° de setembro de 1977, pela qual foram criados o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social – INAMPS, órgão destinado aos serviços de assistência médica, e o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social – IAPAS, entidade responsável pela administração financeira e patrimonial, compondo, também, o sistema, dentre outras entidades, o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS. UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 14 Sob o aspecto orgânico-funcional, o novo modelo adotado prenunciava, ainda que timidamente, uma aproximação ao que viria a ser a fórmula tripartite de seguridade social criada com a Constituição da República de 1988, integrando-se, em um mesmo sistema nacional, as funções de saúde, previdência e assistência social. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi instituído o sistema da seguridade social, formado pela previdência, pela saúde e pela assistência social, cuja regulamentação geral ocorreu em 24 de julho de 1991, com a aprovação da Lei n°. 8.212 – que trata da organização da seguridade social e institui o seu plano de custeio –, e com a edição da Lei n° 8.213, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social. Nesse contexto, a Previdência Social passou por profundas transformações, dentre as quais se destacam a instituição de regime jurídico único para os servidores públicos e o reconhecimento de isonomia previdenciária ao trabalhador rural. Mas o aprofundamento do desequilíbrio nas contas da Previdência Social e a elevação dos desequilíbrios crescentes por ela apresentados ao longo dos anos 90, aliados a significativas alterações no perfil sociodemográfico do brasileiro, impuseram mudanças profundas nas regras recém implantadas com a nova Carta. Assim, foi aprovada a Emenda Constitucional n° 20, de 1998, que, dentre outras, implementou as seguintes disposições principais: (a) imposição de observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema; (b) destinação do auxílio-reclusão apenas à população de baixa renda; (c) proibição de filiação ao regime geral, como segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de Previdência Social; e (d) exclusão da autorização para que o regime geral instituísse previdência complementar. Para introduzir aspectos sociodemográficos no cálculo da aposentadoria por idade e por tempo de contribuição, a Lei n° 9.876, de 26 de novembro de 1999, instituiu o fator previdenciário, considerando-se, na apuração do salário de benefício, além do tempo de contribuição, a expectativa de sobrevida e a idade do beneficiário no momento da aposentadoria. Aprofundando os ajustes necessários à sustentabilidade da Previdência Social brasileira, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n° 41, de 2003, que, relativamente à previdência do servidor público, promoveu, além de outras alterações, a instituição da contribuição do servidor inativo. Em 2005, mais um ajuste foi implementado, resultante da promulgação da Emenda Constitucional n° 47, que, no âmbito do RGPS, trouxe a condição de deficiente como nova hipótese para a concessão de aposentadoria especial, dentre outras inovações de relevo. TÓPICO 1 — A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 15 Em âmbito da legislação ordinária, podem-se destacar duas importantes inovações promovidas, recentemente, no campo do direito previdenciário: a instituição do contrato de trabalho por pequeno prazo e a criação da figura do microempreendedor individual – MEI. Com a aprovação da Lei n° 11.718, de 20 de junho de 2008, que acrescentou o art. 14-A à Lei n° 5.889, de 8 de junho de 1973, foi introduzido, no ordenamento jurídico brasileiro, o contrato de trabalho por pequeno prazo, objetivando-se, com ele, desburocratizar e facilitar os trâmites e encargos na contratação de trabalhadores por produtor rural pessoa física, de forma a se reduzir a grande incidência de trabalho informal no campo. Sob essa nova forma de contratação, podem esses empregadores contratar trabalhador rural por até 2 (dois) meses dentro do período de um ano, dispensando-se o registro em carteira profissional ou em registro de empregado, caso a contratação esteja formalizada por contrato escrito e mediante a inclusão do contratado na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP. Já a figura do MEI foi objeto da Lei Complementar n° 128, de 19 de dezembro de 2008, que, alterando dispositivos da Lei Complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006, conferiu tratamento previdenciário diferenciado ao empresário individual cujo faturamento anual é de até R$ 36 mil, ou R$ 3 mil mensais. Por essas novas regras, praticamente todos os trabalhadores classificados como “por conta própria”, tais como camelôs, ambulantes, vendedoras de cosméticos, verdureiros, cabeleireiros, eletricistas, pintores, pipoqueiros, carroceiros, feirantes, encanadores, doceiros e outros profissionais que vivem sem poder comprovar uma renda formal, poderão pagar tributo em valor fixo, sendo, para a União, no montante equivalente a 11% do salário-mínimo, destinado exclusivamente à Previdência Social; para o município de situação do empreendimento, a importância fixa de R$ 5,00 (cinco reais) a título de Imposto Sobre Serviços – ISS, se este for o ramo de atividade do empreendedor; e, para o Estado, apenas R$ 1,00 (um real), como Imposto sobre Circulaçãode Mercadorias – ICMS. FONTE: BRASIL. Ministério da Previdência Social. Previdência Social: reflexões e desafios. Brasília, DF: MPS, 2009. p. 17-19. Disponível em: http://sa.previdencia.gov.br/site/arquivos/ office/3_100202-164641-248.pdf. Acesso em: 19 ago. 2021. 16 Neste tópico, você aprendeu que: • A história da Previdência Social no Brasil não á tão recente assim. • O marco da Previdência Social brasileira foi a edição do Decreto n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido como Lei Eloy Chaves. • Foi na Constituição de 1946 que houve a expressão “Previdência Social”, eis que na de 1934 constava tão-somente “previdência”. • O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é o órgão responsável para analisar o direito ao recebimento de um benefício administrado pela Previdência Social. RESUMO DO TÓPICO 1 17 AUTOATIVIDADE 1 Historicamente, percebemos alguns marcos no decorrer da sociedade a respeito da criação da Previdência Social. Sobre o assunto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na primeira Constituição do Império do Brasil, em 1924, já eram reconhecidas determinadas ajudas chamadas “socorros públicos”. b) ( ) Um dos maiores marcos da legislação brasileira foi com o advento da Lei que tornou opcional o seguro contra acidentes do trabalho. c) ( ) Nos primórdios, a Previdência Social era reconhecida por atender somente a população desempregada. d) ( ) O Brasil é reconhecido mundialmente por ser o pioneiro no quesito da Previdência Social. e) ( ) O primeiro registro de uma ajuda securitária no Brasil se deu com a criação do INAMPS (Instituto Nacional de Previdência Social). 2 A Previdência Social é um seguro social em que o trabalhador participa através de contribuições mensais a fim de assegurar sua qualidade de segurado. Acerca da sua história, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A Lei Eloy Chaves foi revolucionária no Brasil, pois foi através dela que houve a exigência de estipulação do salário mínimo nacional. ( ) No ano de 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tendo como principal atribuição orientar e supervisionar a Previdência Social. ( ) Um dos grandes marcos da história da Previdência Social no Brasil foi a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, pois foi a partir dele que foram criados diversos Institutos de Aposentadoria e Pensões, organizados por categorias profissionais. ( ) O intuito da Previdência Social é somente garantir ao trabalhador segurado uma renda na hora em que ele se aposentar. Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA: a) ( ) F, V, V, F. b) ( ) F, V, V, V. c) ( ) V, F, F, V. d) ( ) F, V, F, V. e) ( ) V, V, V, F. 18 3 A Previdência tem como missão, além de assegurar ao trabalhador a sua aposentadoria, proteger os trabalhadores contra os chamados riscos econômicos: como a perda de rendimentos por conta de doença, invalidez, entre outros infortúnios. Sobre a sua criação, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na Constituição de 1937, podemos observar a utilização da expressão “Previdência Social” pela primeira vez. b) ( ) Foi no Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União que houve a concessão de salário-família e auxílio-doença. c) ( ) Em 1963, houve a criação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). d) ( ) Na Constituição Federal de 1988, podemos observar a Previdência Social como um único sistema de proteção social. e) ( ) O regime previdenciário adotado no Brasil possui caráter gratuito. 4 A Previdência Social possui um papel fundamental diante do estado social ao conceder benefícios e auxílios à população. Em função dessa perspectiva, discorra sobre a importância desse instituto. 5 O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é o órgão responsável para analisar o direito ao recebimento de um benefício administrado pela Previdência Social. Diante da sua concepção, disserte acerca da sua criação e da sua função. 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 1 INTRODUÇÃO Agora que já estudamos a história da Previdência Social e todo o contexto em que ela foi criada, vamos entender, afinal, o que é a Previdência Social? Muita gente acredita que Previdência Social é sinônimo de Seguridade Social, de Assistência Social ou, até mesmo, da autarquia do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Puro equívoco! A seguridade social, como vimos anteriormente, é um sistema de proteção com três espécies diferentes. Ou seja, seguridade social é gênero, é o pilar, porém, composta por três espécies, isto é, Saúde, Assistência Social e o nosso objeto de estudo, a Previdência Social. FIGURA 1 – SEGURIDADE SOCIAL E A PREVIDÊNCIA SOCIAL FONTE: A autora SEGURIDADE SOCIAL SAÚDE PREVIDÊNCIA SOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL Sabemos que não há como se falar apenas de Previdência Social, sem falar de seguridade. Todavia, para a presente disciplina, focaremos apenas na espécie da Previdência Social, pois as demais serão estudadas em apartado. 20 UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 2 DA PREVIDÊNCIA SOCIAL A Constituição Federal de 1988, a fim de garantir o bem-estar e a justiça social, criou o título da ordem social em seu artigo 193, permitindo a intervenção do Estado em diversos ramos da sociedade. Essa intervenção visa garantir os direitos sociais previstos no artigo 6°, do mesmo diploma legal, tentando harmonizar as relações de trabalho com a dignidade humana e a ordem econômica. Mas, quais direitos são esses? Vejamos: “Art. 6° São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988). Silva (2016, p. 288) considera os direitos sociais como: Prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade. A nível mundial, vários instrumentos jurídicos foram criados e ratificados pelos países com o objetivo de concretizar os direitos sociais. Citamos: • Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948). • Declaração Universal dos Direitos humanos (1948). • Carta Social Europeia (1961). • Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais (1966). • Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969). O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos dos Homens, dispõe a respeito da Previdência Social: 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar- lhe a saúde, e o bem-estar próprio e da família, especialmente no tocante à alimentação, ao vestuário, à habitação, à assistência médica e aos serviços sociais necessários; tem direito à segurança no caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou em qualquer outro caso de perda dos meios de subsistência, por força de circunstâncias independentes de sua vontade (ONU, 1948, p. 4). A Previdência possui uma importante função social, pois favorece o crescimento da participação da renda dos inativos e consequentemente alavanca o PIB de um país. Ela tem se consolidado como a maior distribuidora de renda do Brasil. Martinez (2013, 329) retrata melhor como funciona essa distribuição de renda: [...] a Previdência Social, em razão de amealhar recursos em certa parcela da população e entregá-los a outra, não necessariamente coincidentes, acaba compartilhando rendas. não é seu papel, histórico nem científico, mas em razão da má divisão jacente acaba tornando-se efetivo instrumento de justiça social. TÓPICO 2 — DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 21 Santos (2020, p. 35) complementa: Trata-se de normasde proteção social, destinadas a prover o necessário para a sobrevivência com dignidade, que se concretizam quando o indivíduo, acometido de doença, invalidez, desemprego, ou outra causa, não tem condições de prover o seu sustento ou de sua família. É com a proteção dada por uns dos institutos componentes da seguridade social que se garantem os mínimos necessários à sobrevivência com dignidade, à efetivação do bem-estar, à redução das desigualdades, que conduzem à justiça social. As mutações sociais e econômicas decorrentes do avanço tecnológico conduzem a novas situações causadoras de necessidades, fazendo com que a proteção social tenha que se adequar aos novos tempos. Como se vê, a Previdência Social é parte integrante da ordem social e sua finalidade, em conformidade com o artigo 1° da Lei n° 8.213/1991, é assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Ainda, o artigo 3° da Lei n° 8.212/1991, estabelece acerca da sua finalidade e seus princípios: Art. 3° A Previdência Social tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Parágrafo único. A organização da Previdência Social obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: a) universalidade de participação nos planos previdenciários, mediante contribuição; b) valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário-de- contribuição ou do rendimento do trabalho do segurado, não inferior ao do salário mínimo; c) cálculo dos benefícios considerando-se os salários-de-contribuição, corrigidos monetariamente; d) preservação do valor real dos benefícios; e) previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional (BRASIL, 1991a). Observa-se, acadêmico, que a Previdência Social é um seguro público e compulsório de forma obrigatória, e a Constituição Federal objetiva que todas as pessoas estejam protegidas, e essa proteção adequada se dá em razão do custeio e da necessidade. O necessitado que não possui a qualidade de segurado, mas preenche os requisitos legais, terá direito à assistência social. Já o necessitado que for segurado da Previdência Social, terá sua proteção resguardada pela concessão do benefício previdenciário. Das três espécies que compõem a seguridade social, somente a Previdência Social tem caráter contributivo, isto é, para ter direito às prestações previdenciárias, o segurado deve contribuir com o pagamento de um tributo específico. Do contrário, ele não terá direito a tal benefício. Rodrigues (2002, p. 10, grifo do original) explana sobre essa forma de custeio: 22 UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL [...] é um sistema de custeio em regime de caixa, pelo qual o que se arrecada é imediatamente pago, sem que haja, obrigatoriamente, um processo de acumulação. Este regime de custeio, também conhecido como pay-as-you-go (PAYG), pressupõe que um grupo de indivíduos mais jovens arcará com os custos da aposentadoria dos mais velhos; e os mais jovens, acreditam que o mesmo será feito ao se tornarem idosos, montando-se aí o que se denominou ‘pacto entre gerações’, de forma que a geração anterior custeia os benefícios previdenciários da seguinte. Nos demais institutos que compreendem a seguridade social (assistência social e saúde) não é preciso contribuição, ou seja, não é necessário o pagamento de um tributo específico para que o cidadão usufrua do benefício. Elas são ofertadas a quem delas necessitarem, independentemente de contribuição à seguridade social. E como a Previdência Social exerce esse papel? Ora, acadêmico, ela assegura alguns benefícios e serviços aos seus segurados e dependentes, em razão de uma incapacidade momentânea ou vitalícia, da idade avançada, desemprego, restrição da liberdade e, inclusive na morte, com a cobertura de: • BENEFÍCIOS: ◦ auxílio-doença; ◦ auxílio-acidente; ◦ auxílio-reclusão; ◦ aposentadoria por idade; ◦ aposentadoria por invalidez; ◦ aposentadoria por tempo de contribuição; ◦ aposentadoria especial; ◦ pensão por morte; ◦ salário-maternidade; ◦ salário-família; e ◦ seguro-desemprego. • SERVIÇOS: ◦ reabilitação profissional; ◦ serviço social; e ◦ perícia médica. Destes, apenas os benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão são pagos aos dependentes e os serviços de reabilitação profissional e serviço social. Esse sistema previdenciário se mantém devido ao seu caráter contributivo, como vimos anteriormente, eis que os recursos recolhidos de forma compulsória dos trabalhadores e da sociedade são direcionados para si. TÓPICO 2 — DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 23 3 DOS REGIMES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL A Previdência Social divide-se em dois regimes previdenciários: os regimes básicos ou obrigatórios e os regimes complementares. Ainda, os regimes básicos são subdivididos em previdência dos trabalhadores em geral e regime de Previdência Social específico para servidores de cargos efetivos dos entes federativos. Diante disso, podemos afirmar que os regimes básicos de Previdência Social no Brasil são: o Regime Geral de Previdência Social e os Regimes Próprios de Previdência Social. Vejamos o esquema apresentado na Figura 2 para uma melhor compreensão: FIGURA 2 – REGIMES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA REGIMES PREVIDENCIÁRIOS REGIMES BÁSICOS OU OBRIGATÓRIOS REGIMES COMPLEMENTARES REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (trabalhadores em geral) REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (ente federativo que institui um regime próprio aos seus servidores) REGIME DOS MILITARES FONTE: A autora Portanto, nos regimes básicos ou obrigatórios da Previdência Social estão inseridos o Regime Geral de Previdência Social, previsto no artigo 201; o Regime Próprio de Previdência, tratado no artigo 40 e; o Regime dos militares, artigo 142, §3°, inciso X, todos da Constituição Federal de 1988. As diferenças entre eles vão além. O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é organizado pela União, enquanto os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) são organizados pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e Município, caso os entes federativos os tenham criado. 24 UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL São filiados ao Regime Próprio de Previdência Social os servidores titulares de cargos de provimento efetivo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações. Ainda, os servidores titulares de cargos vitalícios, como os Magistrados e os membros do Ministério Público e o servidor estável, abrangido pelo artigo 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e o admitido até 5 de outubro de 1988, que não tenha cumprido, naquela data, o tempo previsto para aquisição da estabilidade no serviço público. Caso esses servidores anteriormente citados não tenham amparo de um regime próprio de Previdência Social instituído pelo seu ente responsável, automaticamente eles estarão inseridos na regra do RGPS. O RGPS é regulado pelas Leis n° 8.212 e 8.213, ambas de 1991, que dispõem sobre o Plano de Custeio da Seguridade Social e Plano de Benefícios da Previdência Social, respectivamente. E ainda, regulado também pelo Decreto n° 3.048/1999, Regulamento da Previdência Social. É gerenciado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e nele estão inseridos os trabalhadores assalariados urbanos, autônomos, domésticos e rurais, ou seja, é o regime da previdência dos trabalhadores da iniciativa privada e dos funcionários públicos celetistas. A Emenda Constitucional n° 103/2019 – Reforma da Previdência – alterou significativamenteo regime de aposentadorias e pensões do RGPS e também do RPPS, dos servidores públicos federais. Muitas situações ainda dependem de legislação ordinária e complementar ainda não editadas. O Regime dos Militares das Forças Armadas são destinados aos servidores públicos militares e, apesar da prestação de serviço à coletividade, possui uma forma de contribuição diferenciada em relação aos valores e tempo de contribuição. Já nos regimes complementares, temos a previdência complementar privada, muito discutida atualmente, prevista no artigo 202 e, a previdência complementar pública, no artigo 40, §§ 14 a 16, ambos da CF/1988. Os fundos de investimento de previdência privada são formas de poupar para complementar a aposentadoria oficial ou para atingir objetivos a longo prazo. Agostinho (2020, p. 63) esclarece o tema: Os fundos de previdência têm de ser oferecidos por seguradoras, que se comprometem no fim de determinado período de contribuição a dar ao investidor a opção de comprar uma renda por toda a vida (ou por determinado número de anos) ou sacar o dinheiro gradualmente. Há um compromisso da seguradora com o investidor. TÓPICO 2 — DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 25 Sua forma de funcionamento é através dos planos de previdência, nos quais o interessado calcula quanto quer e/ou pode guardar mensalmente para acumular um valor que garanta a renda desejada por determinado número de anos. Essa contribuição é debitada de uma conta corrente, caso o plano venha ser feito com algum banco. Para a constituição e funcionamento de uma empresa que administre a previdência privada, a legislação vigente prevê a necessidade de autorização prévia do governo. Esse controle é exercido pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), uma autarquia de natureza especial criada pela Lei n° 12.154/2009. Dito isto, voltando ao RGPS, destacamos que ele é conduzido por princípios essenciais para a sua instrumentalização, como da obrigatoriedade de vínculo, contributividade e solidariedade. A obrigatoriedade de vínculo está na imposição de filiação dos segurados obrigatórios, para que haja a possibilidade de fruição dos benefícios. Relacionado com a obrigatoriedade de vínculo está a contributividade, pois é imprescindível contribuir para estar vinculado e ser garantida a qualidade de segurado. Por fim, a solidariedade, que é o princípio basilar do Regime Geral de Previdência Social. Quem financia o pagamento dos benefícios ativos são os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho formal, mediante as suas contribuições. E quem administra o RGPS? Podemos afirmar que o órgão responsável por administrar esses regimes é o INSS? Correto? NÃO, acadêmico! Vejamos o porquê. O INSS é uma autarquia federal. É um órgão integrante da Administração Pública Indireta, ou seja, sua atividade foi descentralizada da Administração Direta. Ele foi criado para exercer atividade estatal, com autonomia gerencial e administrativa, para conferência dos requisitos legais para a concessão de benefícios e serviços do Regime Geral de Previdência Social. Leitão (2018, p. 90) é claro ao afirmar que o INSS afere os pressupostos legais para deferimento ou não dos benefícios e serviços do RGPS, mas “não administra o Regime Geral de Previdência Social”. 26 UNIDADE 1 — DA PREVIDÊNCIA SOCIAL O Regimento Interno do INSS, atualizado pela Portaria n° 414, de 28 de setembro de 2017, nos diz: Art. 1° O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, autarquia federal com sede em Brasília, Distrito Federal, instituída com fundamento no disposto no art. 17 da Lei no 8.029, de 12 de abril de 1990, é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social. (grifo nosso) Parágrafo único. O Conselho Nacional de Previdência estabelecerá as diretrizes gerais previdenciárias a serem seguidas pelo INSS (BRASIL, 2017). Sendo assim, o INSS não administra o RGPS. A administração cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social, sendo exercida pelos órgãos e entidades a ele vinculados. A administração do Regime Geral de Previdência Social cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social. O INSS apenas confere a possibilidade ou não de concessão de benefícios e serviços do RGPS. ATENCAO 4 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA (2019) No decorrer do nosso Livro Didático, podemos perceber algumas informações esparsas a respeito da Reforma da Previdência. Contudo, em decorrência, da novidade da matéria e das recentes alterações trazidas sobre o objeto do nosso estudo, elas serão trabalhadas de forma específica na Unidade 3, diretamente quando abordarmos os benefícios previdenciários. Contudo, aqui cabe esclarecer quais foram os motivos que levaram a ocorrer a tão discutida e famigerada Reforma da Previdência. Na exposição de motivos da Proposta de Emenda Constitucional n° 6/2019, transformada depois na EC n° 103/2019, diz que: A presente proposta estabelece nova lógica mais sustentável e justa de funcionamento para a Previdência Social, regras de transição, disposições transitórias e dá outras providências. A adoção de tais medidas mostra-se imprescindível para garantir, de forma gradual, a sustentabilidade do sistema atual, evitando custos excessivos para as futuras gerações e comprometimento do pagamento dos benefícios dos aposentados e pensionistas, e permitindo a construção de um novo modelo que se fortaleça a poupança e o desenvolvimento no futuro (BRASIL, 2019a, p. 1). TÓPICO 2 — DISPOSIÇÕES ACERCA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 27 Uma das propostas inicial da reforma era a promessa de economia de R$ 1.236,5 trilhão em dez anos. Após a tramitação do texto na Câmara dos Deputados, a economia projetada para dez anos caiu para R$ 933,5 bilhões. E, com a tramitação no Senado, a economia no mesmo período caiu para R$ 800,3 bilhões. O assunto foi bastante discutido no cenário nacional, de um lado, defensores das contas públicas e, de outro, os que achavam a mudança prejudicial aos trabalhadores. Certo é que, o projeto foi aprovado em 12 de novembro e resultou na Emenda Constitucional n° 103 de 2019. Diante disso, estudaremos essas alterações nos campos específicos das prestações beneficiárias, de forma pormenorizada. 5 SALÁRIO DE BENEFÍCIO x SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO Como utilizaremos bastante as nomenclaturas “salário de benefício” e “salário de contribuição” é essencial que não paire dúvidas a respeito de seus conceitos. Salário de contribuição pode ser conceituado como o salário base que o cidadão recebe por exercer as suas atividades e sobre o qual será calculado a contribuição a ser paga junto ao INSS. Alencar (2018, p. 18) conceitua: Regrado no art. 28 da Lei n° 8.212/1991, o salário de contribuição (SC), por sua vez, é o valor sobre o qual se faz incidir a alíquota da contribuição previdenciária. Dito de outra maneira, SC é a base de cálculo do tributo. Equivale, grosso modo, à remuneração do segurado obrigatório na categoria: empregado, trabalhador avulso, empregado doméstico e contribuinte individual (at. 11 da Lei n° 8.213, de 1991). Para o segurado facultativo (art. 13 da Lei n° 8.213/1991) o SC é o valor por ele declarado. O artigo 201 da CF/1988 nos diz que “os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei” (BRASIL, 1988). Já o salário de benefício é a base de cálculo da renda mensal inicial da maioria dos benefícios previdenciários. Alencar (2018, p. 18) continua: Dos arts. 29 a 32 da LB encontram-se os contornos acerca do salário de benefício (SB), consistente na base de apuração da renda mensal inicial do benefício e correspondente à média aritmética simples de determinado número de salários de contribuição, quantidade de salários de contribuição a ser estabelecida conforme a época do implemento
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