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Resenha Música "Cota não é esmola"

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FERREIRA, Bia. Cota não é esmola. Youtube, 2018
RESENHA SOBRE A MÚSICA “COTA NÃO É ESMOLA”
VÍVIAN CINTRA GRASSIS
Universidade Federal da Bahia
Professor Maurício Matos
O notável sociólogo brasileiro, Florestan Fernandes, foi um dos principais responsáveis pelo reconhecimento da teoria “O mito da Democracia racial”, a qual se opõe a fantasiosa ideia que no Brasil estabeleceu-se uma igualdade entre as raças no período pós escravidão, através de uma miscigenação “natural”. No entanto, o que se vê hodiernamente é uma realidade que ratifica o viés mitológico da igualdade racial, visto que ainda é muito claro e perceptível a estruturalização do racismo e do preconceito na sociedade, e, consequentemente, o sofrimento recorrente da população negra com os reflexos da entidade racista que é nossa conjuntura social.
Adentrando esse viés, a música “Cota não é esmola”, da cantora brasileira Bia Ferreira, demonstra, de forma muito competente e intensa, os desdobramentos trazidos pela discriminação racial à vida de uma jovem, negra, pobre e periférica, desde a sua infância até o momento de ingresso em uma universidade – algo que é alegado por muitos como impossível. Os primeiros versos da canção são constituídos no apagamento da real situação destes jovens, sempre inferiorizados e lidando com a frequente deslegitimização dos percalços encontrados por eles, dentre esses destaca-se na canção o ato de chegar – fisicamente e intelectualmente - a escola. 
Outro ponto da problemática é a contribuição da comunicação de massa para nutrir as raízes racistas da sociedade atual. “O que acontece com preto e pobre não aparece na TV”. Esses versos evidenciam que o apagamento, citado anteriormente, se trata de um projeto, com intenção de ligar o jovem negro a situações intrinsicamentes ruins, provocando uma marginalização que soa natural para a sociedade. A partir disso, tem-se uma movimentação velada, mas muito eficiente, do racismo no conjunto social hodierno, a qual fixa no imaginário popular a existência de uma meritocracia, sugerindo que as ocupações de certos lugares – altos cargos, universidade etc. – deve seguir a hierarquia de aptidão e “merecimento”, algo impossível para a realidade do país haja visto que essas posições já são preestabelecidas em decorrência do abismo social entre as oportunidades de diferentes classes e raças, perpetuando o privilégio dentre os já privilegiados.
Dessa forma, o corpo social se sente livre e no direito de questionar a existência do sistema de cotas, como retratado na música, categorizando a luta antirracista como vitimista e inválida, o que ratifica o sucesso do projeto do racismo velado sustentado pelas grandes mídias de massa e propagado pela sociedade. Sob esse viés, no intuito de começar a solucionar o imbróglio, a cantora clama nos versos finais a revolução, citando personalidades fundamentais desse processo de supressão do racismo, utilizando como subterfúgio a identificação do povo negro e não negro – aqueles que possuírem consciência de classe e social - a unir-se para criar um respeito mútuo e uma luta conjunta. Assim, poder-se-á chegar a significativas mudanças nesse sistema que tem o povo como seu maior inimigo.

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