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Resistência à Escravidão: Religiosidade e Sincretismo

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HISTÓRIA DOS POVOS
INDÍGENAS E
AFRODESCENDENTES
Aula 4 - A RESISTÊNCIA À ESCRAVIDÃO -
RELIGIOSIDADE
INTRODUÇÃO
A religiosidade foi - de diferentes formas - um importante elemento de resistência à escravidão na América Portuguesa.
Essa aula tem como objetivo compreender alguns dos diversos usos que as práticas religiosas tomaram em meio ao
processo colonial destacando: a)o papel da Igreja católica na implementação do projeto colonial; b) a importância da
conversão ao catolicismo como meio de inserção social; c) o reconhecimento das religiões africanas e as religiões
indígenas; para, for �m, re�etir sobre como a religião foi usada por ambas as etnias como forma de resistência: o
sincretismo religioso.
OBJETIVOS
Compreender o papel da Igreja Católica na implementação do projeto colonial;
Identi�car a importância da conversão ao catolicismo como meio de inserção social;
Reconhecer as religiões africanas e as religiões indígenas;
Re�etir sobre o uso da religião por ambas as etnias como forma de resistência: o sincretismo religioso.
Festa de Nossa Senhora do Rosário – patrona dos negros
A imagem é uma litogravura pintada pelo viajante alemão Johann Moritz Rugendas, que viajou pelo Brasil entre os anos
de 1822 e 1825. Nela, o viajante registrou um evento comum na história do Brasil escravista: as festas das irmandades
negras.
Tais festividades reuniam negros e mestiços, escravos e libertos, na comemoração do Santo Padroeiro. Era um dos
poucos momentos em que esses homens e mulheres podiam se reunir e festejar, pois essas festividades tinham o aval
da Igreja para ocorrer.
Fonte da Imagem:
A Igreja Católica foi uma das mais importantes instituições da história do Brasil. É possível a�rmar que ela foi uma das
responsáveis pela chegada dos portugueses no Novo Mundo, bem como por parte das políticas coloniais adotadas
pela metrópole.
Dito de outra forma, a colonização das Américas também era um movimento de conversão, de catequese dos
autóctones do continente e, mais tarde, dos africanos escravizados que aqui chegavam. O fervor religioso chegou,
inclusive, a colocar Igreja Católica e Coroa portuguesa em posições antagônicas (como no uso de indígenas como
escravos).
Dessa forma, todos os que habitassem a América portuguesa – índios, africanos, portugueses, escravos e livres –
deveriam ser católicos. As intervenções da Inquisição durante o período colonial apontam que a Igreja levava a sério a
obrigação de cuidar de seu e de assegurar que ninguém desviaria dos propósitos divinos.
Fonte da Imagem:
Diferentes grupos indígenas passaram (muitas vezes, à força) pelo processo de catequese. Já os africanos recém-
chegados eram batizados e recebiam um nome cristão que deveriam levar até a sua morte e, quando comprados por
senhores religiosos, recebiam os primeiros ensinamentos católicos.
No entanto, se a Igreja tinha seus propósitos, africanos e indígenas souberam ler nas entrelinhas o que era dito e
pregado, dando outro signi�cado às práticas religiosas como formas de resistência.
Em alguns casos (como nas irmandades negras), tais práticas pareciam conviver com o sistema escravista, mas, em
outros, a escolha religiosa transformou-se em ferramenta efetiva de luta e resistência.
Resistência
A resistência foi uma constante na vida de índios e africanos escravizados. Ainda que as formas, tidas como clássicas,
de resistir à escravidão passem pela luta aberta ― que muitas vezes levavam ao embate físico.
A instauração do sistema escravista na colonização da América portuguesa (e sua manutenção no Império do Brasil)
acabou abrindo �anco para outras formas de resistências; formas essas que, muitas vezes, utilizavam as instituições
coloniais como muleta.
Para a grande maioria, a resistência ao cativeiro se fazia dia a dia, da hora em que se levantava para trabalhar até o
momento de se recolher para dormir. Onde quer que tenha existido escravidão também houve resistência escrava. E tal
resistência foi experimentada em diferentes níveis durante toda a história da escravidão no Brasil.
No caso indígena, uma das formas mais frequentes de resistência foi o isolamento. Depois dos primeiros anos de
contato, das mortes volumosas por epidemias vindas do Velho Continente, da catequização e da escravização, muitas
sociedades indígenas decidiram rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Contudo,
conforme anunciado, muitos índios resolveram ir para a luta aberta e �zeram da religião uma importante arma.
Fonte da Imagem:
Religiosidade
Antes do contato com os portugueses, a maior parte dos povos indígenas tinha um homem responsável pelos cultos
religiosos.
Tal homem recebia o título de pajé ou de xamã e, graças à sua relação com forças sobrenaturais, ele gozava de
posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos principais inimigos do movimento de catequese. Ainda
que os missionários tentassem acabar com os poderes (simbólicos e políticos) que os pajés tinham, eles não
conseguiram desconstruir o panteão e os rituais religiosos de muitas sociedades indígenas com as quais entraram em
contato.
Do sincretismo entre os dizeres e propósitos cristãos com as crenças e práticas religiosas indígenas originou-se a
“Santidade” (nome dado pelos portugueses). Esse fenômeno era um culto sincrético e messiânico, no qual os índios
questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. Segundo Schwartz e Vainfas, esse
movimento era uma combinação de crenças dos tupinambás no paraíso terrestre, com a hierarquia e os símbolos do
cristianismo. Havia o culto em ídolos com poderes sagrados feitos de cabaça (glossário) e pedra que, segundo os
seguidores, dotariam os �éis de força para lutar contra os brancos.
Esses “santos” teriam ainda poder de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas. Para tanto, era
necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam durar dias seguidos (regados do alto consumo de bebidas
alcóolicas e infusão de tabaco), muitas vezes levando os �eis ao estado de transe. O mais interessante é reconhecer
as contribuições católicas deste movimento.
Além dos ídolos receberem o nome de santos, os líderes do movimento proclamavam-se como “papas”, chegando a
nomear bispos e organizar os “missionários”, que tinham a incumbência de difundir o culto em outras localidades.
Houve até mesmo um caso no qual os seguidores da Santidade criaram uma igreja destinada ao culto de “Maria”.
(SCHWARCTZ:1993, 54-55)
Fonte da Imagem:
A “Santidade” foi muito comum durante o século XVI, demonstrando como os índios que entraram em contato com os
portugueses souberam reler os interesses e crenças cristãs sob uma nova ótica. Visão que lhes favorecia e que
questionava as bases do sistema colonial que estava sendo montado. Com o passar dos anos, a morte crescente por
epidemias e a entrada cada vez mais volumosa de africanos escravizados, a “Santidade” foi perdendo parte de seus
seguidores, dando lugar a outras formas de resistência indígena, que serão abordadas na próxima aula.
Fonte da Imagem:
Casamentos entre escravos ou de cativos com libertos também ocorriam nessas organizações. As irmandades negras
ainda garantiam enterro e cortejo fúnebre digno para todos os seus membros.
Além disso, em alguns casos, as irmandades negras ou irmandades de “homens pretos” eram formadas por africanos
escravizados da mesma origem. Escravos e libertos angola ou congo se reuniam e formavam uma irmandade,
reforçando, assim, identidades oriundas do outro lado do Atlântico.
Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas africanas ou atribuíam as
mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos católicos, como a forte relação estabelecida entre
São Jorge e o orixá Ogum.
Mais do que ampliar as redes de parentesco, as irmandades negras tiveram papel importante na luta pela liberdade de
muitos escravos. Diversos escravos africanos e crioulos conseguiram obter sua liberdade graças à poupança feita por
seus “irmãos”de credo. Assim que comprava a alforria de um membro, a irmandade começava uma nova poupança
para ajudar outra pessoa.
Anualmente, cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais importante de cada
irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão, missa solene e grande festa com muita música,
dança e batuque. Também era nessa festa que a irmandade coroava seu rei e sua rainha. Para os escolhidos, esse era
um momento de grande prestígio frente a seus companheiros.
A devoção de escravos e libertos fez com que algumas irmandades negras ganhassem muito prestígio e se
transformassem em organizações com muito dinheiro. Um exemplo disto está no fato de que, no Rio de Janeiro, tanto
a Igreja de Nossa Senhora do Rosário como a Igreja de São Elesbão e Santa E�gênia terem sido construídas na região
central da cidade.
Famílias
Mais do que a formação de famílias segundo o modelo ocidental (ou a família nuclear composta pelo casal e seus
�lhos), os africanos e crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de família muito próxima daquela
encontrada em diferentes regiões africanas: a família extensa.
Já que os laços de parentesco originais haviam sido rompidos pelo processo de escravização, muitos cativos
encontraram no apadrinhamento uma forma e�caz e legítima (frente os olhos dos senhores, da Igreja Católica e do
Estado) de reconstruírem suas redes de parentesco.
Escravos e libertos batizavam os �lhos de seus companheiros sob o juramento de se responsabilizar pela criança caso
algum incidente ocorresse com seus pais. O compadrio também foi utilizado como uma das estratégias na luta pela
liberdade, tendo em vista que os padrinhos e madrinhas, principalmente os alforriados e livres, se comprometiam em
empenhar-se pela obtenção da liberdade de seus a�lhados.
Diferentes deuses e entidades africanas
As famílias extensas também estiveram presentes em muitas das religiões de matriz africana criadas em solo
brasileiro. Africanos que vinham de regiões islamizadas da África, como o Golfo da Guiné, continuaram acreditando em
Alá e, quando chegaram em solo brasileiro, �zeram o possível para encontrar outros muçulmanos e cultivar suas
tradições e costumes. Os escravos e libertos islamizados criaram verdadeiras redes de contato e, em diversas
situações eles, aqui no Brasil, sabiam de episódios importantes que estavam acontecendo em território africano ou em
outras colônias e países da América.
Religiões que cultuassem diferentes deuses e entidades africanas também foram comuns ao longo da história
brasileira, embora os senhores, a Igreja Católica e as autoridades governamentais tentassem proibir essas práticas.
No Maranhão, africanos minas iniciaram o culto dos voduns; na Bahia, africanos jejes e nagôs reverenciavam os orixás.
Tanto os voduns como os orixás eram deuses ancestrais ou heróis de diferentes sociedades africanas.
Conforme ocorria na religião de diversos povos africanos, cada pessoa tinha um orixá que lhe acompanhava durante
toda a vida e, para entrar em contato com seu orixá, a pessoa deveria passar por um ritual de possessão que era
acompanhado de música e dança.
Durante o período em que estava em transe, a pessoa entrava em contato com a força divina e, muitas vezes,
conseguia resolver os problemas que lhe a�igiam. Muitos escravos e libertos faziam isso. Aos poucos, a crença nos
orixás foi se desenvolvendo e, no século XIX, deu origem ao Candomblé. Essa religião era formada por “irmãos de fé”
― pessoas que acreditavam nos orixás e que se reuniam em torno a uma mesma casa ou terreiro. Nesse espaço,
comandado por uma mãe de santo ou um pai de santo, além de realizar suas cerimônias religiosas, entrar em contato
com seus deuses e buscar repostas por meio de jogos de adivinhação (como o jogo de búzios), muitos escravos e
libertos conseguiram formar outra família, que muito se assemelhava com as grandes linhagens existentes em
diversas localidades africanas.
Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período escravista e foram fortemente
combatidas, como o caso da Umbanda. Os especialistas não sabem ao certo a origem da Umbanda (que mistura
cultos religiosos de matriz africana, indígena e kardecista), mas as pesquisas levam a crer que os primeiros cultos
surgiram no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.  Juca Rosa ― liberto e �lho de uma escrava da Costa
ocidental africana ― é apontado pela historiogra�a como um dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde,
daria origem à Umbanda. Tido como feiticeiro, Juca Rosa era visitado não só por escravos e libertos, mas também por
muitas pessoas ilustres da Corte do Império do Brasil que recorriam às suas “feitiçarias” para curar doenças do corpo e
da alma.
Sua fama logo ganhou a cidade e Juca Rosa passou a ser perseguido pelas autoridades. Assim como Juca Rosa,
outros homens e mulheres negros �zeram da religião não só uma ferramenta de construção de identidade, mas
também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.
//cap-dep.blogspot.com/2009
Glossário
CABAÇA
substantivo feminino 
1. 
angios design. comum a plantas da fam. das cucurbitáceas e a uma da fam. das bignoniáceas, cujas cascas dos frutos, muito
duras, são us. no fabrico de diferentes objetos; cabaceira, cabaceiro. 
2. 
angios design. comum aos frutos dessas plantas, ovoides nas bignoniáceas e, nas cucurbitáceas, subglobosos ou elipsoides, e
ainda mais freq. dotados de dois bojos globosos, de tamanhos bastante desiguais, unidos por uma seção estreita; cabaço

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