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PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 TUTORIA 3 – PROBLEMA 3 OBJETIVOS 1. ANALISAR A ANATOMIA DO BULBO. 2. DESCREVER OS NERVOS DO BULBO E SUAS FUNÇÕES. 3. EXPLICAR AS VIAS ASCENDENTES E DESCENDENTES DO BULBO. 4. EXPLICAR AS PRINCIPAIS SÍNDROMES BULBARES E SUA CORRELAÇÃO COM OUTRAS ESTRUTURAS. ANALISAR A ANATOMIA DO BULBO TRONCO ENCEFÁLICO Definição: A parte mais caudal do encéfalo, que conecta as estruturas subcorticais e a medula espinhal. Ele controla as funções vitais (ex.: ciclo sono-vigília, consciência, frequência cardíaca e respiratória). Partes: bulbo, ponte e mesencéfalo. Suprimento sanguíneo: artérias cerebelares anterior inferior e posterior inferior, artéria espinhal anterior, ramos pontinos da artéria basilar, artérias perfurantes. Bulbo O bulbo é a porção mais inferior do tronco cerebral, que fica na fossa posterior do crânio. LIMITES Superior: Sulco Bulbopontino, separa o bulbo da ponte. Dele emergem, em ambos os lados, da frente para trás, os nervos ABDUCENTE (VI), FACIAL (VII) (e seu componente sensitivo, o nervo intermédio), e VESTIBULOCOCLEAR (VIII). Inferior: impreciso, acima da emergência da primeira raiz do primeiro nervo espinhal (correspondente ao nível do forame magno). ESTRUTURA DO BULBO Caudalmente a estrutura interna do bulbo é semelhante à da medula, à medida que se afasta cranialmente nota-se diferenças cada vez maiores e ao nível da oliva, não existe mais semelhança estrutural. As diferenças estruturais do bulbo em relação à medula se deve principalmente aos seguintes fatores: a) Aparecimento de novos núcleos próprios do bulbo: sem correspondentes na medula, como os núcleos grácil, cuneiforme e o núcleo olivar inferior. b) Abertura do IV ventrículo: Não havendo mais nenhuma estrutura no funículo posterior, abre-se o canal central formando o IV ventrículo, cujo assoalho é constituído principalmente de substância cinzenta homóloga à medula, ou seja, núcleos de nervos cranianos. c) Decussação dos lemniscos: as fibras do fascículo grácil e cuneiforme da medula terminam fazendo sinapse em neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme, que aparecem no funículo posterior. As fibras que se originam nesses núcleos são chamadas de fibras arqueadas internas. Elas passam através da coluna posterior, cruzam o plano mediano e infletem-se cranialmente para constituir de cada lado o lemnisco medial. Os impulsos que esse lemnisco leva ao tálamo relacionam-se com a propriocepção consciente, tato epicrítico e sensibilidade vibratória. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 d) Decussação das pirâmides ou decussação motora: as fibras do trato córtico-espinhal percorrem as pirâmides bulbares e a maioria delas decussa, ou seja, muda de direção cruzando o plano mediano para continuar como trato córtico-espinhal lateral. SUBSTÂNCIA CINZENTA DO BULBO SUBSTÂNCIA CINZENTA HOMÓLOGA À DA MEDULA (NÚCLEOS DE NERVOS CRANIANOS) a) Núcleo do hipoglosso: núcleo motor onde emerge fibras eferentes somáticas para os músculos da língua. Localiza-se no trígono do hipoglosso, no assoalho do IV ventrículo. b) Núcleo ambíguo: núcleo motor para a musculatura estriada, de origem branquiomérica. Dele saem as fibras eferentes viscerais especiais do IX, X e XI pares cranianos, destinados à musculatura da laringe e faringe. c) Núcleos vestibulares: são núcleos sensitivos que recebem as fibras que penetram pela porção vestibular do VIII par. Localizam-se na área vestibular do assoalho do IV ventrículo, atingindo o bulbo apenas os núcleos vestibulares inferior e medial. d) Núcleo dorsal do vago: núcleo motor pertencente ao parassimpático. Situa-se no trígono do vago, no assoalho do IV ventrículo. e) Núcleo do trato solitário: núcleo sensitivo que recebe fibras aferentes viscerais gerais e especiais que entram pelo VII, IX e X pares cranianos. Antes de penetrarem no núcleo, as fibras têm trajeto descendente no trato solitário, que é quase totalmente circundado pelo núcleo. As fibras aferentes viscerais especiais estão relacionadas com a gustação. f) Núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo: para este núcleo chegam as fibras aferentes somáticas gerais, trazendo a sensibilidade de quase toda a cabeça pelos nervos V, VII, IX e X. Contudo, as fibras que chegam pelos nervos VII, IX e X trazem apenas a sensibilidade geral do pavilhão e conduto auditivo externo. g) Núcleo salivatório inferior: dá origem a fibras pré- ganglionares que emergem pelo nervo glossofaríngeo para inervação da parótida. SUBSTÂNCIA CINZENTA PRÓPRIA DO BULBO a) Núcleos grácil e cuneiforme: Dão origem a fibras arqueadas internas que cruzam o plano mediano para formar o lemnisco medial. b) Núcleo olivar inferior: é uma grande massa de substância cinzenta que corresponde à formação macroscópica oliva. Recebe fibras do córtex cerebral, da medula e do núcleo rubro. Liga-se ao cerebelo através das fibras olivocerebelares que cruzam o plano mediano, penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior. c) Núcleos olivares acessórios medial e dorsal: Possui basicamente as mesmas estruturas, conexão e função do núcleo olivar inferior, constituindo com ele o complexo olivar inferior. SUBSTÂNCIA BRANCA DO BULBO FIBRAS TRANSVERSAIS São também chamadas de fibras arqueadas e podem ser divididas em internas e externas. Fibras Arqueadas Internas: formam dois grupos principais: algumas são constituídas pelos axônios dos neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme no trajeto entre estes núcleos e o lemnisco medial; outras são constituídas pelas fibras oliocerebelares que, do complexo olivar inferior, cruzam o plano mediano, penetrando no cerebelo do lado oposto pelo pedúnculo cerebelar inferior. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 Fibras Arqueadas Externas: originam-se do núcleo cuneiforme acessório e penetram no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior. DESCREVER OS NERVOS DO BULBO E SUAS FUNÇÕES Antes de detalhar cada nervo craniano e seus componentes funcionais, deve-se entender alguns conceitos que auxiliarão no entendimento sistemático dos mesmos: Origem real do nervo craniano: diz respeito aos núcleos (homólogos aos da medula) cujos neurônios entram na composição do respectivo nervo craniano. Um mesmo nervo pode ser formado por fibras originadas em vários núcleos e, portanto, pode apresentar várias origens reais e, com isso, funcionalidade diversa. Origem aparente no encéfalo: região topográfica da peça anatômica onde, aparentemente, o nervo craniano se origina. Origem aparente no crânio: acidente anatômico por onde o nervo craniano deixa o crânio. Tipo de fibra: é a forma mais didática, do ponto de vista funcional, de classificar as fibras do nervo craniano. Tal classificação é feita com relação ao tipo de órgão inervado pelo nervo motor ou aos receptores de onde se origina o nervo sensitivo (de um modo geral, os receptores dos órgãos dos sentidos são denominados “especiais” para distingui-los dos demais receptores que, por serem encontrados em todo o resto do corpo, são denominados “gerais”). Desta forma, em resumo, temos: Fibras eferentes: levam o impulso nervoso do SNC ao órgão-alvo. Podem ser classificadas da seguinte maneira: Fibras eferentes somáticas: inervam músculos de origem miotômica (musculatura extrínseca dos olhos e da língua). Fibras eferentes viscerais gerais: estão relacionadas com a inervação autonômica parassimpática (componente craniano do sistema nervoso parassimpático ou crânio- sacral) de músculos lisos, cardíaco ou glândulas. Fibras eferentes viscerais especiais: estão relacionadas com a inervação de músculos com origem branquiomérica (originados dos arcos faríngeos durante a vida embrionária). Fibras aferentes: levam oimpulso nervoso de algum receptor periférico ao SNC. Podem ser classificadas da seguinte maneira: Fibras aferentes somáticas gerais: originam- se em exteroceptores e proprioceptores, conduzindo impulsos de temperatura, dor, pressão, tato e propriocepção relacionados com a cabeça, de um modo geral. Fibras aferentes somáticas especiais: originam-se na retina e no ouvido interno, relacionando-se, pois, com a visão e a audição (sentidos físicos). Fibras aferentes viscerais gerais: originam-se em visceroceptores e conduzem, por exemplo, impulsos diversos relacionados com a dor visceral, plenitude gástrica, pressão arterial, osmolaridade, oxigenação arterial, etc. Em resumos, são os estímulos com origem em sistema viscerais. Fibras aferentes viscerais especiais: originam- se em receptores gustativos e olfatórios (considerados sentidos químicos). NC IX - NERVO GLOSSOFARÍNGEO O nervo glossofaríngeo é um importante nervo sensorial e motor. Origem real (núcleos): Núcleo ambíguo (motor); Núcleo salivatório inferior (parassimpático); Núcleo do tracto solitário (sensibilidade especial e visceral); Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo (sensibilidade somática do pavilhão auditivo). Origem aparente no encéfalo: Sulco lateral posterior, entre a oliva e o tubérculo cuneiforme. Passagem através do crânio: Forame jugular (junto ao X e XI) Tipos de fibras: Fibras eferentes viscerais especiais (para a musculatura da deglutição); Fibras eferentes viscerais gerais (para a glândula parótida); Fibras aferentes somáticas gerais (para parte da pele do pavilhão auditivo, junto ao VII e PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 X); Fibras aferentes viscerais especiais (gustação); Fibras aferentes viscerais gerais (sensibilidade visceral para o seio carotídeo). FUNÇÕES SENSITIVA: o SENSITIVA SOMÁTICO (GERAL) o SENSITIVO ESPECIAL (PALADAR) o SENSITIVO VISCERAL MOTOR o MOTOR SOMÁTICO (BRANQUIAL) o MOTOR VISCERAL (PARASSIMPÁTICO) para derivados do 3º arco faríngeo. Funções (Resumo): Motor: Mm. da faringe (porção cranial ou motora); M. levantador do véu palatino; M. da úvula, M. do palatoglosso, palatofaríngeo, M. constrictor da faringe e M. estilofaringeo Parassimpático: glândula parótida e glândulas linguais. Sensitivo (geral): túnica mucosa da faringe, tonsila palatina, plexo timpânico, seio carotídeo e pavilhão auditivo. Sensorial especial: língua (1/3 posterior) O nervo glossofaríngeo é um nervo misto cujas funções podem ser explicadas ao conhecermos seus núcleos: Núcleo ambíguo: este é o núcleo motor principal do glossofaríngeo, estando localizado no bulbo e, ao receber as fibras do tracto córtico-nuclear, torna-se responsável por inervar músculos da deglutição (M. constrictor da faringe e M. estilofaríngeo). Núcleo salivatório inferior: localizado no bulbo, este núcleo é responsável pelas fibras parassimpáticas que, por meio do nervo glossofaríngeo, inerva a glândula parótida. Contudo, assim como ocorre com a glândula lacrimal, a trajetória destas fibras é um pouco complexa: o neurônio parassimpático pré- ganglionar atinge o gânglio ótico por meio do ramo timpânico do nervo glossofaríngeo, do plexo timpânico e do nervo petroso menor. As fibras pós- ganglionares passam, então, para a glândula parótida através do nervo aurículo-temporal (que, por sua vez, é um ramo do nervo mandibular do trigêmeo). Núcleo do tracto solitário: recebe informações gustatórias (do 1/3 posterior da língua) que trafegam desde os prolongamentos periféricos do gânglio inferior do glossofaríngeo. Este núcleo envia as informações até o tálamo e para o córtex do giro pós-central. O núcleo do tracto solitário recebe ainda informações viscerais gerais responsáveis pela sensibilidade geral do 1/3 posterior da língua, faringe, úvula, tonsila, tuba auditiva, além do seio e corpo carotídeos (responsáveis pela percepção da pressão arterial captada por barorreceptores). Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo: recebe informações aferentes relacionadas à sensibilidade geral do pavilhão auditivo e meato acústico interno, que cursam por neurônios localizados no gânglio superior do glossofaríngeo. Anatomicamente, o N. glossofaríngeo emerge do sulco lateral posterior do bulbo, sob a forma de filamentos radiculares, que se dispõem em linha vertical. Estes filamentos reúnem-se para formar o tronco do nervo glossofaríngeo, que sai do crânio pelo forame jugular (junto ao X e XI pares cranianos). Próximo ao forame jugular, percebe-se os dois gânglios do glossofaríngeo: o superior (cujos neurônios estão relacionados com a via exteroceptiva trigeminal) e o inferior (cujos neurônios estão relacionados com a via gustativa). Em seguida, o nervo desce pela parte superior do pescoço, junto com a veia jugular interna e com a artéria carótida interna, até atingir a borda posterior do músculo estilofaríngeo, que inerva. O nervo, então, passa adiante, entre os músculos constrictores superior e médio da faringe, para emitir ramos PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 sensoriais para a membrana mucosa da faringe e para o terço posterior da língua. Correlações: Das afecções do nervo glossofaríngeo, merece destaque apenas a nevralgia. Esta caracteriza-se por crises dolorosas semelhantes às que ocorrem com o nervo trigêmeo, mas manifestando-se na faringe e no terço posterior da língua, podendo irradiar para o ouvido. NC X – NERVO VAGO O nervo vago, o maior dos nervos cranianos (que desce até o abdome), é misto e essencialmente visceral. Em resumo, suas principais características estão dispostas na seguinte tabela: Origem real (núcleos): Núcleo ambíguo (motor); Núcleo dorsal do vago (parassimpático); Núcleo do tracto solitário (sensibilidade visceral especial e geral); Núcleo do tracto espinhal do trigêmeo (sensibilidade somática do pavilhão auditivo). Origem aparente no encéfalo: Sulco lateral posterior do bulbo. Passagem através do crânio: Forame jugular (junto ao IX e XI) Tipos de fibras: Fibras eferentes viscerais especiais (para músculos da faringe e da laringe); Fibras eferentes viscerais gerais (para vísceras torácicas e abdominais); Fibras aferentes somáticas gerais (para parte da pele do pavilhão auditivo, junto ao VII e IX); Fibras aferentes viscerais especiais (gustação na região da epiglote); Fibras aferentes viscerais gerais (parte da faringe, laringe, traqueia, esôfago e vísceras torácicas e abdominais). Função Motor: Mm. da faringe (porção caudal), M. levantador do véu palatino, M. da úvula Sensorial: base da língua (região da epiglote) Sensitivo: meato acústico externo Parassimpático: órgãos do abdome, pescoço e tórax. O nervo vago é misto e essencialmente visceral, apresentando origem real em, basicamente, quatro núcleos: Núcleo ambíguo: localizado profundamente, na formação reticular do bulbo, recebe fibras córtico- nucleares e envia axônios que inervam os músculos constrictores da faringe e dos músculos intrínsecos da laringe. Núcleo dorsal do vago: é um núcleo parassimpático localizado abaixo do trígono do vago, no assoalho do quarto ventrículo. Este núcleo dá ao nervo vago fibras que são distribuídas para músculos involuntários dos brônquios, do coração, do esôfago, do estômago, dos intestinos delgados e grosso, até o terço distal do cólon transverso. Ele recebe também fibras do hipotálamo e do nervo glossofaríngeo (integrando o reflexo do seio carotídeo). Núcleo do tracto solitário: recebe as sensações gustatórias que trafegam pelos axônios periféricos das células nervosas situadas no gânglio inferior do nervo vago. Este núcleo também recebe informações viscerais gerais relacionadas com a sensibilidade geral de víscerastorácicas e abdominais. Núcleo espinhal do trigêmeo: recebe informações somáticas gerais do pavilhão auditivo e do meato acústico interno que trafegam por neurônios localizados no gânglio superior do nervo vago. Anatomicamente, o nervo vago emerge do sulco lateral posterior do bulbo sob a forma de filamentos radiculares que se reúnem para formar o nervo vago. Ele emerge, então, do crânio através do forame jugular, percorre o pescoço e o tórax, terminando no abdome. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 Neste trajeto o nervo vago dá origem a vários ramos que inervam a faringe e a laringe, entrando na formação dos plexos viscerais que promovem a inervação autônoma das vísceras torácicas e abdominais. O vago possui dois gânglios sensitivos: o gânglio superior, situado ao nível do forame jugular; e o gânglio inferior, situado logo abaixo desse forame. Entre os dois gânglios reúne-se ao vago o ramo interno do nervo acessório (que formará o nervo laríngeo recorrente). O nervo vago desce, verticalmente, pelo pescoço, dentro da bainha carotídea, junto com a veia jugular interna e com as artérias carótidas interna e comum. O nervo vago direito entra no tórax, passa posterior ao pulmão direito e, ao entrar no abdome, forma o tronco vagal posterior; O nervo vago esquerdo entra no tórax, cruzando o lado esquerdo do arco aórtico e desce para raiz do pulmão esquerdo para depois alcançar o abdome (pela abertura esofágica do diafragma) e formar o tronco vagal anterior. Correlações: O palato mole é inervado pelo IX e X pares. Caso haja lesão em algum desses, a úvula, localizada no palato mole, devido à paralisia das fibras do lado acometido, vai se projetar para o lado contralateral à lesão. O exame é realizado solicitando-se ao paciente que abra a boca e diga “ah”. Observa-se que há simetria na elevação do palato, se a úvula continua na linha mediana e se a rafe mediana da faringe se eleva. Em lesões unilaterais, o palato do lado afetado não sobe e a úvula desvia-se para o lado oposto ao da lesão devido à contração normal do palato. A rafe da faringe é desviada para o lado são, lembrando o movimento de uma cortina puxada para um lado (sinal da cortina). NC XI – NERVO ACESSÓRIO Classicamente, o nervo acessório é formado por uma raiz craniana (ou bulbar) e uma raiz espinhal. Origem real (núcleos): Núcleo ambíguo (motor) e Núcleo do nervo acessório. Origem aparente no encéfalo: o Raiz craniana: sulco lateral posterior do bulbo. o Raiz espinhal: cinco primeiros segmentos da medula cervical. Passagem através do crânio: Forame jugular (junto ao IX e X) Tipos de fibras: Fibras eferentes viscerais especiais (para músculos da laringe através do nervo laríngeo recorrente e para os músculos trapézio e estenocleidomastoideo); Fibras eferentes viscerais gerais (inervação de vísceras torácicas juntamente com fibras vagais). Função: Motricidade para músculos do palato mole, da faringe e da laringe, controlando também os movimentos dos dois grandes músculos do pescoço. Anatomicamente, o nervo acessório, essencialmente motor, é formado pela união de uma raiz craniana com outra espinhal. Ao se unirem, o nervo acessório propriamente dito sofre nova divisão, formando um ramo interno e outro externo. A raiz craniana é formada pelos axônios das células nervosas do núcleo ambíguo e dá origem a fibras que, após passarem do forame jugular, se separam do tronco principal do nervo acessório, formam o ramo interno do nervo acessório e se unem ao nervo vago. Tais fibras logo se destacarão do nervo vago para compor o nervo laríngeo recorrente, inervando músculos da laringe relacionados à fonação. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 A raiz espinhal, por sua vez, é formada por filamentos que emergem da face lateral dos cinco a seis primeiros segmentos cervicais da medula, constituindo um tronco que penetra no crânio pelo forame magno. A este tronco, unem-se filamentos da raiz craniana que emergem do sulco lateral posterior do bulbo. O tronco divide-se, então, em um ramo interno e um externo. O ramo interno, como vimos, une-se ao vago e distribui- se com ele (para formar o nervo laríngeo recorrente); o externo inerva os músculos trapézio e esternocleidomastoideo. Funcionalmente, em resumo, as fibras oriundas da raiz craniana, que formam o ramo interno do nervo acessório, apresentam fibras eferentes viscerais especiais (inervam os músculos da laringe através do nervo laríngeo recorrente) e fibras eferentes viscerais gerais (inervam viscerais torácicas juntamente com fibras vagais); a raiz espinhal, que forma a raiz externa do nervo acessório, apresenta fibras eferentes viscerais especiais por inervar os músculos trapézio e esternocleidomastoideo (que, embora haja controvérsias, diz-se que tais músculos apresentam origem branquiomérica). NC XII – NERVO HIPOGLOSSO O nervo hipoglosso, essencialmente motor. Origem real (núcleos): Núcleo do nervo hipoglosso (na região do trígono do hipoglosso, medialmente ao trígono do vago no assoalho do IV ventrículo). Origem aparente no encéfalo: Sulco lateral anterior do bulbo (entre a piramide e a oliva bulbar) Passagem através do crânio: Canal do nervo hipoglosso Tipos de fibras: Fibras eferentes somáticas (para a musculatura da língua) Função Motor: Mm. da língua; M. estiloglosso, M. hioglosso e M. genioglosso. Anatomicamente, o nervo hipoglosso é um nervo motor, inervando todos os músculos intrínsecos da língua e, além desses, os músculos estilo-hioideo, o hioglosso e genioglosso. O núcleo do hipoglosso, situado próximo à linha média, está localizado profundamente ao trígono do hipoglosso (medialmente ao trígono do vago, no assoalho do quarto ventrículo). Ele recebe fibras córtico-nucleares dos dois hemisférios cerebrais. Contudo, vale a pena ressaltar que as células responsáveis pela inervação do músculo genioglosso só recebem fibras córtico- nucleares do hemisfério do lado oposto. As fibras do nervo hipoglosso passam anteriormente pelo bulbo, emergindo na como uma série de raízes pelo sulco lateral anterior, entre a pirâmide e a oliva bulbar. Cruza, então, a fossa craniana posterior para entrar no canal do hipoglosso. Depois de sair do crânio e passar entre a artéria carótida interna e a veia jugular interna, ele alcança os músculos relacionados com a língua, onde distribui seus ramos. Correlações: Quando o nervo hipoglosso é acometido por lesões, há paralisia de metade da musculatura da língua. Este fator faz com que a língua, ao ser projetada para fora, se desloque no mesmo sentido da lesão. Isso acontece por ação da musculatura do lado normal não contrabalanceada pela musculatura da metade paralisada. Além disso, pode haver atrofia e fibrilação (por caracterizar uma síndrome do neurônio inferior) da musculatura paralisada, o que evidencia ainda mais o deslocamento para o lado lesado. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 Deve-se lembrar que a maior parte do núcleo do hipoglosso recebe fibras do tracto córtico-nuclear dos dois hemisférios cerebrais; contudo, a parte do núcleo que inerva o músculo genioglosso só recebe fibras córtico-nucleares do hemisfério cerebral oposto. Se o paciente tiver lesão das fibras córtico- nucleares, não haverá atrofia ou fibrilação da língua (por caracterizar uma síndrome do neurônio motor superior) e, ao ser protraída, a língua vai se desviar para o lado oposto ao da lesão (note que o genioglosso é o músculo que puxa a língua para diante). Os demais músculos não estarão paralisados pois também recebem fibras do tracto córtico-nuclear do outro lado. OBS: A inervação da língua se dá pelos seguintes nervos: Trigêmeo: sensibilidade geral (dor, temperatura, pressão, tato, propriocepção)nos 2/3 anteriores. Facial: sensibilidade gustativa nos 2/3 anteriores Glossofaríngeo: sensibilidade geral e gustativa no terço posterior Vago: sensibilidade gustativa na base da língua (epiglote). Hipoglosso: motricidade em geral. OBS: Cabe ressaltar que, embora sejam quatro os nervos cranianos cujas fibras inervam a língua (o vago não entra nesta contagem pois é destinado à epiglote), apenas três nervos alcançam este órgão: o hipoglosso, o glossofaríngeo e o lingual. Este último, que é um ramo da divisão mandibular do nervo trigêmeo, também e responsável por captar fibras que serão enviadas para o nervo facial (nervo intermédio, especificamente) por meio de uma anastomose nervosa denominada nervo corda do tímpano. EXPLICAR AS VIAS ASCENDENTES E DESCENDENTES DO BULBO FIBRAS LONGITUDINAIS Formam as vias ascendentes, descendentes e de associação do bulbo. VIAS ASCENDENTES São constituídos pelos tratos e fascículos ascendentes derivados da medula, que terminam no bulbo ou passam por ele em direção ao cerebelo ou ao tálamo. Acrescenta-se a eles o lemnisco medial, originado no próprio bulbo. a) Fascículos grácil e cuneiforme: visíveis na porção fechada do bulbo; b) Lemnisco medial: forma uma fita compacta de fibras de cada lado do plano mediano. Suas fibras encerram-se no tálamo. c) Trato espinotalâmico lateral: está situado na área lateral do bulbo, medialmente ao trato espinocerebelar anterior. d) Trato espinotalâmico anterior: tem no bulbo uma posição correspondente à sua posição na medula, sobe junto com o trato espinotalâmico lateral. e) Trato espinotalâmico anterior: localiza-se superficialmente na área lateral do bulbo, entre o núcleo olivar e o trato espinocerebelar posterior. Continua na ponte, pois entra no cerebelo pelo pedúnculo superior. f) Trato espinocerebelar posterior: localiza-se superficialmente na área lateral do bulbo, entre o trato espinocerebelar anteiopr e o pedúnculo inferior. g) Pedúnculo cerebelar inferior: são feixe de fibras ascendentes que perrem as bordas laterais da metade inferior do IV ventrículo até o nível dos recessos laterais, onde penetram no cerebelo. Constituem as fibras olivocerebelares, fibras do trato espinocerebelar posterior e fibras arqueadas externas. VIAS DESCENDENTES As principais são: Tratos do Sistema Lateral da Medula a) Trato corticoespinhal: formado por fibras originadas no córtex cerebral, que passam no bulbo para a medula, ocupando as pirâmides bulbares. Também é denominado de trato piramidal. É motor voluntário. b) Trato rubroespinhal: formado de neurônios do núcleo rubro do mesencéfalo, chega à metade por trajeto que não passa pelas pirâmides. É motor voluntário. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 TRATOS DO SISTEMA MEDIAL DA MEDULA Formado por fibras originadas em várias áreas do tronco encefálico e que se dirigem para a medula. São os tratos corticoespinhal anterior, trato tetoespinhal, tratos vestibuloespinhais e tratos reticuloespinhais. TRATO CORTICONUCLEAR Constituído por fibras originadas no córtex cerebral e que terminam em núcleos motores do tronco encefálico. No caso do bulbo, estas fibras terminam nos núcleos ambíguo e do hipoglosso, permitindo o controle voluntário dos músculos da laringe, da faringe e da língua. TRATO ESPINHAL DO NERVO TRIGÊMEO Constituídos por fibras sensitivos que adentram na ponte pelo nervo trigêmeo e tomam trajeto descendente ao longo do núcleo do trato espinhal do nervo trigêmeo, onde terminam. TRATO SOLITÁRIO Constituído por fibras aferentes viscerais que adentram no tronco encefálico pelos nervos VII, IX e X. Assumem um trajeto descendente ao longo do núcleo do trato solitário onde terminam. VIA DE ASSOCIAÇÃO São constituídos por fibras que formam o Fascículo Longitudinal Medial, e encontram-se por todo o tronco encefálico e em região mais cranial da medula. O fascículo longitudinal medial liga todos os núcleos motores dos nervos cranianos, sendo especialmente importantes suas conexões com os núcleos dos nervos relacionados com o movimento do bulbo ocular (III, IV, VI) e da cabeça (núcleo de origem da raiz espinhal do nervo a acessório que inerva os músculos trapézio e esternocleidomastóideo). Recebe fibras dos núcleos vestibulares que informam sobre a posição da cabeça. Dessa forma, conclui-se que o fascículo longitudinal medial é importante para a realizam dos reflexos que coordenam os movimentos da cabeça com os do olho. EXPLICAR AS PRINCIPAIS SÍNDROMES BULBARES E SUAS CORRELAÇÕES COM OUTRAS ESTRUTURAS Estas lesões, em geral, comprometem a pirâmide e o nervo hipoglosso A lesão da pirâmide compromete o trato corticoespinhal (córtex > medula espinhal, motricidade) e, como este se cruza abaixo do nível da lesão, causa hemiparesia do lado oposto ao lesado. Quando a lesão se estende dorsalmente, atingindo os demais tratos motores descendentes, o quadro é de hemiplegia. A lesão do hipoglosso causa paralisia dos músculos da metade da língua situada do lado lesado, com sinais de síndrome de neurônio motor inferior, que, no caso, se manifesta principalmente por atrofia desses músculos. Como a musculatura de uma das metades da língua está paralisada, quando o doente faz a protrusão da língua, a musculatura do lado normal desvia a língua para o lado lesado. Síndrome da artéria cerebelar inferior posterior (Síndrome de Wallemberg) o A artéria cerebelar inferior posterior, ramo da vertebral, irriga a parte dorsolateral do bulbo. Tromboses desta artéria comprometem várias estruturas, resultando sintomatologia complexa: Lesão do pedúnculo cerebelar inferior - incoordenação de movimentos na metade do corpo situada do lado lesado. Lesão do trato espinhal do trigêmeo e seu núcleo - perda da sensibilidade térmica e dolorosa na metade da face situada do lado da lesão; Lesão do trato espinotalâmico lateral - perda de sensibilidade térmica e dolorosa na metade do corpo situada do lado oposto ao da lesão; Lesão do núcleo ambíguo - perturbações da deglutição (disfagia) e da fonação (disfonia) por paralisia dos músculos da faringe e da laringe. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 LESÃO DO GLOSSOFARÍNGEO Lesões isoladas do NC IX ou de seus núcleos são raras e não estão associadas a incapacidade perceptível. Mais frequentemente o traumatismo do nervo é iatrogênico (causado por profissional de saúde, por exemplo, lesão inadvertida durante uma tonsilectomia). O paladar está ausente no terço posterior da língua, e o reflexo do vômito está ausente no lado da lesão. A fraqueza ipsilateral pode causar alteração perceptível à deglutição. As lesões do NC IX resultantes e infecção ou tumores geralmente são acompanhadas por sinais de acometimento dos nervos adjacentes. Como o NC IX, X e o NC XI atravessam o forame jugular, os tumores nessa região causam múltiplas paralisias do nervos cranianos, denominado Síndrome do Forame Jugular, em que disfagia (dificuldade à deglutição) e disartria (dificuldade motora na produção de fonemas) são mais evidentes. O palato mole e a parede posterior da faringe se desviam para o lado oposto ao da lesão quando o reflexo faríngeo é inicado (sinal da cortina). A dor na distribuição do NC IX pode estar associada ao acometimento do nervo em um tumor no pescoço. NEURALGIA DO GLOSSOFARÍNGEO A neuralgia do glossofaríngeo (tique do glossofaríngeo) é rara e sua causa não é conhecida. A intensificação súbita da dor é do tipo queimação ou em punhalada. Muitas vezes essas crises de dor (espasmos ou crises súbitas) são iniciadas pela deglutição, protusão da língua, fala ou pelo toque na tonsila palatina. As crises de dor ocorrem durante a alimentação, quando são estimuladas áreas-gatilho. LESÃO DO VAGOLesões isoladas do nervo vago são raras. A lesão dos ramos faríngeos do NC X causa disfagia (dificuldade à deglutição) moderada ou grave. As lesões do nervo laríngeo superior provocam anestesia da parte superior da laringe e paralisia do músculo cricotireóideo. A voz é fraca e cansa com facilidade. A lesão de um nervo laríngeo recorrente pode ser causada por aneurismas do arco da aorta e pode ocorrer durante cirurgias do pescoço. A lesão do nervo laríngeo recorrente causa rouquidão e disfonia (rouquidão ou fraqueza da voz) secundária à paralisia das pregas (cordas) vocais. A paralisia dos dois nervos laríngeos recorrentes causa afonia (perda da voz) e estridor inspiratório (ruído respiratório rude e agudo). A paralisia dos nervos laríngeos recorrentes geralmente é causada por CA da laringe e tireoide e/ou por lesão durante cirurgia de tireoide, pescoço, esôfago, coração e pulmões. Em vista do seu trajeto mais longo, as lesões do nervo laríngeo recorrente esquerdo são mais comuns do que as do direito. LESÃO DO ACESSÓRIO Em decorrência de sua passagem quase subcutânea através da região cervical lateral (trígono cervical posterior), pode ocorrer lesão iatrogênica do NC XI durante procedimentos cirúrgicos como biopsia de linfonodos, canulação da veia jugular interna e endarterectomia carotídea. Uma lesão resulta em paralisia do músculo trapézio ipsilateral, que se manifesta como incapacidade unilateral de encolher o ombro, comprometimento da rotação para o lado afetado ou escápula alada em repouso. PEDRO SANTOS – MEDICINA 2021.1 LESÃO DO HIPOGLOSSO Traumatismo do NC XII também é mais frequentemente iatrogênico (p.ex., lesão durante procedimentos inclusive endarterectomia carotídea, intubação endotraqueal ou uso e inserção de outro dispositivo para manter as vias respiratórias desobstruídas). A compressão do NC XII durante a rotação da cabeça pode resultar de um processo estiloide alongado ou direcionado medialmente, algumas vezes associado a ossificação do ligamento estilohióideo (Síndrome de Eagle). A lesão do NC XII paralisa a metade ipsilateral da língua, causando disartria. Depois de algum tempo, ocorre atrofia da língua, fazendo-a parecer retraída e enrugada. Ao protrair a língua, o ápice desvia-se em direção ao lado paralisado em consequência da ação sem oposição do músculo genioglosso no lado normal da língua.