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Microeconomia II Resolução da Lista de Exercícios 4 Sérgio André Castelani, Lígia Lopes Gomes, Fernando Parmagnani e Maximiliano Barbosa da Silva Universidade de São Paulo 28 de Setembro de 2011 Questão 1: Suponha que haja apenas dois indivíduos na sociedade. A curva de demanda do indivíduo A por controle de mosquitos é dada por: qA = 100− P. Já para o indivíduo B a curva de demanda por controle de mosquitos é dada por: qB = 200− P. (a) Suponha que o controle de mosquitos é um bem público puro; isto é, uma vez produzido, todo mundo pode usufrui-se dele. Qual seria o nível ótimo dessa atividade se ela pudesse ser produzida a um custo marginal constante e igual a $120 por unidade? Um bem público é provisionado quando a quantia total que os indivíduos da sociedade estão dispostos a pagar para sua aquisição é maior ou igual ao custo que será incorrido. A curva de demanda de cada indivíduo nos informa qual é o valor máximo que cada indivíduo está disposto a pagar pelo bem público. Também podemos interpretar a curva de demanda como uma função do preço de reserva do indíviduo em relação a quantidade provisionada do bem público, ou seja, qual o valor atribuido pelo agente à provisão de determinada quantidade de controle de mosquitos. Note que como o controle de mosquitos é um bem público ambos os individ- uos usufruem de qa e qb igualmente, dessa forma é possível reescrever as funções de demanda como: Q = 100− PA, para o indivíduo A e Q = 200− PB , para o indivíduo B. 1 Portanto PA (Q)é quanto o indivíduo A estaria disposto a contribuir para a aquisição de Q (que neste exercício pode ser interpretado a intensidade do con- trole de mosquitos) e PB (Q) quanto o indivíduo B estaria disposto a contribuir para a aquisição de Q. Então: P = PA (Q) + PB (Q) = 100−Q+ 200−Q = 300− 2Q, será a curva de demanda da sociedade por controle de mosquitos. Como o custo marginal é constante e igual a 120, temos que: 120 = 300− 2Q∗ ⇔ Q∗ = 90 (b) Se o controle de mosquitos fosse deixado para o mercado privado, qual seria a produção? Sua resposta depende do que cada pessoa assume que a outra irá fazer? No mercado competitivo os indivíduos agem individualmente e dessa forma não consideram o que o outro indivíduo irá fazer para tomar suas decisões, observam portanto, apenas sua curva de demanda individual. Como o mercado é competitivo o preço é dado: p = CMg = 120, temos assim: qA = 100− P ; qB = 200− P ; P = 120. Chegamos então que a produção não seria eficiente pois o indivíduo A não demandaria quantidade alguma enquanto o indivíduo B demandaria qB = 80.O controle de mosquitos seria menor do que o ótimo encontrado no item (a). (c) Se o governo fosse responsável pela produção da quantidade ótima de con- trole de mosquitos, qual seria esse custo? Qual deveria ser o imposto cobrado de cada indivíduo de forma a repassar o custo do controle de mosquitos levando em consideração a participação de cada indivíduo no benefício gerado? Para que a provisão de bem público pelo governo seja eficiente Q = 90, como visto no item (a). Como o custo marginal do controle de mosquitos é constante e igual a 120, o governo deve impor um imposto total tal que T = tA+tB = 120. Para determinar qual o imposto a ser cobrado o governo leva em consideração qual o preço de reserva de cada indivíduo. Quando Q = 90, o preço de reserva de A é 10 (pA = 100 − 90) e portanto tA = 10 e o preço de reserva de B é 110 (pB = 200− 90) e portanto tB = 110. Questão 2: Tragédia dos Comuns. O lago Ec pode ser livremente utilizado por pescadores. O custo de mandar um barco para o lago é dado por r > 0. Quando b barcos são mandados para o lago, f (b) peixes são pescados no total 2 (de modo que cada barco pesca f (b) /b peixes), onde f ′ (b) > 0 e f ′′ (b) < 0 para todo b ≥ 0. O preço do peixe é p > 0, que não é afetado pela quantidade de peixes pescados no lago Ec. (a) Caracterize o número de equilíbrio de barcos que são mandados ao lago. Neste problema, como o Lago é um recurso comum, há uma externalidade negativa no seu uso, já que os indivíduos não internalizam, ao decidir o quanto irão pescar, o custo social que cada um gera ao reduzir a quantidade de peixes disponíveis para os outros indivíduos no lago (é o mesmo caso de uma rodovia congestionada: cada individuo, ao decidir utilizar a rodovia, não leva em conta que seu carro aumenta o trânsito no local). No caso do equilíbiro competitivo, os indivíduos irão pescar até esgotar toda a possibilidade de lucros positivos que o lago oferece, e portanto o equilíbrio se dará no ponto em que o lucro é zero. O Lucro Total desta economia é dado por: pi = pf (b)− rb. Note que a Receita total é dada pela receita total da venda dos f (b) peixes produzidos pelos b barcos, e o custo total de b barcos pescando é de rb. Igualando o Lucro a zero, temos que o equilíbrio competitivo é tal que f (b∗) b∗ = r p . (b) Caracterize o número ótimo de barcos que deveriam ser mandados ao lago. Compare a resposta com a do item (a) O número ótimo de barcos é tal que maximiza o Lucro da produção de peixes (note que isto é diferente de esgotar todo o lucro, como no item (a)): max b pf (b)− rb. A condição de primeira ordem é: pf ′ (bo) = r, ou f ′ (bo) = rp . Juntando os resultados de (a) e (b), temos que f(b∗) b∗ = r p = f ′ (bo). Temos agora que comparar b∗e bo. Como f ′ (b) é decrescente (pois f ′′ (b) < 0), então f (b) /b também tem que ser decrescente (para notar isto, lembre-se, que pela própria definição de Produto Marginal, quando o Produto Marginal é decrescente, o Produto médio também deve ser decrescente). Além disso, para um mesmo valor de b > 0, temos que ter f ′ (b) < f (b) /b . Para verificar isto, note que, em primeiro lugar: f (b+ 1) b+ 1 = f (b) + f ′ (b) b+ 1 . (1) E em segundo lugar, se f (b) /b é decrescente: f (b+ 1) b+ 1 < f (b) b . (2) 3 Substituindo (1) em (2), temos que: f (b) + f ′ (b) < f (b) b b + f (b) b ⇒ f ′ (b) < f (b) b . Deste modo, a situação em que ocorre f(b∗) b∗ = r p = f ′ (bo), graficamente representada, fica: E como podemos ver neste gráfico, teremos que b∗ > bo. (c) Qual taxa de pesca �por barco� restauraria o equilíbrio ao nível eficiente? O nível eficiente de barcos é bo. A função de Lucro quando é cobrado uma taxa t por barco é: pi = pf (b)− (r + t) b. Esgotando o lucro todo, teremos que a produção de equilíbrio com a taxa t deverá ser tal que f(b) b = r+t p . Para que a taxa seja tal que a quantidade de barcos seja ótima, temos que ter então que: f (bo) bo = r + t p . (3) em que boé tal que rp = f ′ (bo) , conforme encontramos no item (b). Manip- ulando (3), chegamos em: f (bo) p bo − r = t, onde boé tal que rp = f ′ (bo) . (d) Suponha agora que o lago é de propriedade de um único indivíduo, que pode escolher quantos barcos mandar para pescar. Qual será o número de barcos que este proprietário vai escolher? 4 Se apenas um único indivíduo é o proprietário do lago, ele age como um mo- nopolista e é maximizador de Lucro. Se ele maximiza lucro, resolve exatamente o mesmo problema do item (b), e portanto, a solução deste item é exatamente a do item (b). Note que este resultado é o Teorema de Coase: quando o direito de propriedade é bem definido, e os custos de transação (negociação) são nulos (que é o caso aqui, em que não há disputa entre os indivíduos para ver quem será o beneficiado em ser o dono do lago), a externalidade é internalizada e a produção de equilíbrio torna-se eficiente. Questão 3: Suponha que existam dois agentes decidindo a qual velocidade eles dirigirão seus respectivos carros. O agente i ∈ {1, 2} escolhe a velocidade xi e tem utilidade vi (xi, ci) = ui (xi) − ci, onde ui (xi) é estritamente côncava. Os agentes podem colidir com probabilidade p (x1, x2) e, neste caso, ci > 0; caso contrário, ci = 0. Assuma que u ′ (xi) > 0 e que ∂p(x1,x2) ∂xi > 0. (a) Encontre a condição de primeira ordem de cada agente, que define a veloci- dade escolhdida por cada um deles. O problemado indivíduo 1 é: max x1 p (x1, x2) (u1 (x1)− c1) + (1− p (x1, x2))u1 (x1) max x1 u1 (x1)− p (x1, x2) c1, sendo que x2 é a velocidade que o indivíduo 1 supõe que o indivíduo 2 irá escolher. A condição de primeira ordem do agente 1 é portanto: ∂u1 (x1) ∂x1 − ∂p (x1, x2) ∂x1 c1 = 0⇔ ∂u1(x1) ∂x1 ∂p(x1,x2) ∂x1 = c1. O problema do indivíduo 2 é análoga ao do indivíduo 1: max x2 u2 (x2)− p (x2, x1) c2. A condição de primeira ordem é: ∂u2 (x2) ∂x2 − ∂p (x2, x1) ∂x2 c2 = 0⇔ ∂u2(x2) ∂x2 ∂p(x¯1,x2) ∂x2 = c2. (b) Suponha uma função de bem-estar social seja W = v1 + v2. Encontre as condições de primeira ordem, que definem as velocidades socialmente desejadas. Compare-as com as obtidas no item (a). Para encontrar as velocidades socialmente ótimas devemos resolver o seguinte problema: max x1,x2 u1 (x1)− p (x1, x2) c1 + u2 (x2)− p (x1, x2) c2 5 As condições de primeira ordem são portanto: ∂u1 (x1) ∂x1 − ∂p (x1, x2) ∂x1 (c1 + c2) = 0; ∂u2 (x2) ∂x2 − ∂p (x1, x2) ∂x2 (c1 + c2) = 0. Chegamos a: ∂u2(x2) ∂x2 ∂p(x1,x2) ∂x2 = c2 + c1; ∂u1(x1) ∂x1 ∂p(x1,x2) ∂x1 = c2 + c1. No item (a), o indivíduo i ignora que ao andar em velocidade mais alta além de aumentar o seu custo esperado devido a uma colisão, aumenta também o custo esperado do indivíduo j. Isso acontece porque o motorista ao dirigir mais rápido deixa o transito mais perigoso, pois aumenta a probabilidade de coalisão, gerando uma externalidade negativa para o outro motorista. No item (b), a maximização da função de bem estar social faz com que a externalidade que os motoristas geram um sobre o outro seja internalizada e portanto que a solução seja socialmente ótima. Além disso como a função de utilidade é estritamente côncava, as velocidades socialmente ótimas de ambos motorisas serão menores que as encontradas no item (a). (c) Se o agente i é multado em uma quantidade ti no caso de um acidente acon- tecer, qual deve ser o valor desta multa tal que a externalidade seja internalizada pelo agente. max xi ui (x1)− p (xi, xj) (ci + ti) A condição de primeira ordem do problema acima é: ∂ui (xi) ∂xi − ∂p (xi, xj) ∂xi (ci + ti) = 0⇔ ∂ui(xi) ∂xi ∂p(xi,xj) ∂xi = ci + ti Para que a externalidade seja internalizada pelo agente i, ∂ui(xi) ∂xi ∂p(xi,xj) ∂xi deve ser igual a c1 + c2. Para que isso ocorra a multa ti deve ser definida de forma que: c1 + t1 = c1 + c2; c2 + t2 = c1 + c2. 6 O valor da multa que internaliza a externalidade portanto: t1∗ = c2 e t2∗ = c1. Questão 4: Existem dois bens, X e Y , e dois indivíduos, 1 e 2. As funções utilidade são as seguintes: U1 = ln (x1)+ln (y1)+ln (x2) e U2 = ln (x2)+ln (y2). As dotações iniciais são exi = 0 para todo i, e y 1 = 4 e e y 2 = 2. O bem X pode ser produzido a partir de Y por firmas competitivas de acordo com a seguinte função de produção: x = z, em que z é a quantidade de y utilizada na produção. (a) Encontre o equilíbrio competitivo. Fixe o preço do bem X em px = 1 e denote o preço do bem Y por py. O problema do indivíduo 1 é: max x1,y1≥0 ln (x1) + ln (y1) + ln (x2) sujeito a: x1 + pyy1 ≤ 4py. Como esta função utilidade é do tipo Cobb-Douglas, sabe-se que a resolução deste problema gera as seguinte funções demanda marshallianas: x1 = 1 2 4py = 2py; (4) y1 = 1 2 4py py = 2. (5) Note que, para o cálculo das demandas do indivíduo 1, pelo fato de x2 ser decidido pelo indivíduo 2, trata-se ln (x2) como uma constante no problema do indivíduo 1. O problema do indivíduo 2 é: max x2,y2≥0 ln (x2) + ln (y2) sujeito a: x2 + pyy2 ≤ 2py. Como esta função utilidade é do tipo Cobb-Douglas, sabe-se que a resolução deste problema gera as seguinte funções demanda marshallianas: x2 = 1 2 2py = py; (6) y2 = 1 2 2py py = 1. (7) 7 O bem X é produzido por firmas competitivas que possuem uma função de produção com retornos contantes de escala e, portanto, elas devem ter lucro zero, ou seja: pi = xs∗ − p∗yz∗ = 0. (8) Logo: xs∗ = p∗yz ∗. (9) Como existem 6 unidades do bem Y e os agentes demandam 3 unidades, pelas equações (5) e (7), sabe-se que z∗ = 3 será a quantidade deste vem empregada na produção do bem X. Pela função de produção, conclui-se que x∗ = 3. Pela condição de market clearing no mercado do bem X, encontra-se que: 2p∗y + p ∗ y = 3⇔ p∗y = 1. (10) Portanto, pelas equações (4) e (6), obtém-se que x∗1 = 2 e x ∗ 1 = 1. (b) Mostre que as condições para eficiência de Pareto não envolvem a igualdade usual entre as taxas marginais de substituição entre X e Y dos dois indivívuos. Uma forma de encontrar as condições de eficiência consiste em resolver o seguinte problema de Pareto: max x1,x2,y1,y2,z≥0 λ1 [ln (x1) + ln (y1) + ln (x2)] + λ2 [ln (x2) + ln (y2)] sujeito a: x1 + x2 ≤ z; (11) z + y1 + y2 ≤ 6. (12) Como a função objetivo é estritamente crescente, as restrições (11) e (12) valem com igualdade. Além disto, é claro que x1, x2, y1, y2, z > 0. Sendo assim, substituindo as restrições na função objetivo, o problema pode ser expresso da seguinte maneira: max x2,y1,y2≥0 λ1 ln(6− y1 − y2 − x2︸ ︷︷ ︸ ) =x1 + ln (y1) + ln (x2) + λ2 [ln (x2) + ln (y2)] . As condições de primeira ordem estabelecem que: −λ1 x1 + λ1 x2 + λ2 x2 = 0; (13) −λ1 x1 + λ1 y1 = 0; (14) −λ1 x1 + λ2 y2 = 0. (15) 8 Pela equação (14), encontra-se que: TMgS1 = − y1 x1 = −1. (16) Pelas equações (14) e (15): λ1 = λ2y1 y2 . (17) Pelas equações (13) e (15): λ1 + λ2 = λ2x2 y2 . (18) Substituindo (16) e (17) em (18) e usando TMgS2 = − y2x2 : −x1 x2 TMgS1 − TMgS2 = 1. (19) (c) Quais modificações, de mercado ou não, você sugere para melhorar as pro- priedades de eficiência da alocação obtida no item (a)? Discuta. Para melhorar a eficiência da alocação obtida no item (a), uma possibilidade consiste em o indivíduo 1 subsidiar o consumo do bem X do indivíduo 2. Seja s o valor do subsídio que o indivíduo 1 paga ao indivíduo 2 por quantidade de X que este último consome. Então o problema do indivíduo 1 é: max x1,y1,x2≥0 ln (x1) + ln (y1) + ln (x2) sujeito a: x1 + pyy1 + sx2 ≤ 4py. Como esta função utilidade é do tipo Cobb-Douglas, sabe-se que a resolução deste problema gera as seguinte funções demanda marshallianas: x1 = 1 3 4py = 4 3 py; (20) y1 = 1 3 4py py = 4 3 ; (21) x2 = 1 3 4py s = 4 3 py s . (22) 9 Já o problema do indivíduo 2 torna-se: max x2,y2≥0 ln (x2) + ln (y2) sujeito a: (1− s)x2 + pyy2 ≤ 2py. Como esta função utilidade é do tipo Cobb-Douglas, sabe-se que a resolução deste problema gera as seguinte funções demanda marshallianas: x2 = 1 2 2py 1− s = py 1− s ; (23) y2 = 1 2 2py py = 1. (24) Pela equação (9), sabe-se que xs∗ = p∗yz ∗ . Como existem 6 unidades do bem Y e os agentes demandam 73 unidades, pelas equações (21) e (24), sabe-se que z∗ = 113 será a quantidade do bem Y empregada na produção do bem X. Pela função de produção, conclui-se que x∗ = 113 . A condição de eficiência (19) diz que y∗1 + y ∗ 2 = x ∗ 2. Logo: x ∗ 2 = 7 3 e, consequentemente, x ∗ 1 = 4 3 . Portanto, pela equação (20), p∗y = 1 e, por fim, pela equação (23) s ∗ = 47 . Questão 5: Uma cidade tem 1000 habitantes, os quais consomem apenas um bem privado: sorvete. Será construído nesta cidade um bem público: uma praça. Suponha que todos os habitantes tenham a mesma função utilidade u (xi, G) = xi − 10G , em que xi é a quantidade de sorvete consumida por cada habitante e G = ∑1000 i=1 gi é o tamaho da praça em m 2 . Suponha que o preço do sorvete seja R$1,00 por unidade e o preço do metro quadrado construído da praça seja R$100,00. Qual é a quantidade Pareto eficiente do bem público ofertada nesta economia? O nível de provisão eficiente do bem público é dado por: CMg (G∗) = 1000∑ i=1 [−TMgSi (G∗, xi)] . Aplicando esta fórmula aos dados do exercício, tem-se que CMg (G) = 100. Além disto: −TMgSi (G, xi) = 10 G2 . Portanto: 100 = 1000 10 G∗2 ⇔ G∗ = 10. 10 Questão 6: Suponha uma ilha habitada por dois náufragos, indexados por i ∈ {1, 2}. Estes indivíduos consomem apenas cocos, que são usados de duasformas: tanto para alimentarem-se quanto para fazerem sinais de fumaça (de maneira a chamar a atenção de alguma embaracação que os resgatem), queimando co- cos. Cada indivíduo tem uma dotação inicial de cocos wi > 0. Seja xi ≥ 0 a quantidade de cocos que o naufrágo i usa em sua alimentação e gi ≥ 0 a sua contribuição para a fogueira de cocos. O número total de cocos usado na fogueira é G = g1 + g2. A função utilidade do indvíduo 1 é dada por u1 (x1, G) = x1 + a1 lnG, onde a1 > 0. Já a função utilidade do indivíduo 2 é dada por u2 (x2, G) = a2x2 + lnx2, onde a2 > 0. (a) Qual será a quantidade de equilíbrio do bem-público? Cada morador da ilha deve decidir qual a quantia de cocos com que deve con- tribuir para fazer sinais de fumaça. Para decidir sua contribuição cada náufrago faz suposições em relação com quantos cocos o outro náufrago vai contribuir. Então a quantidade de equilíbrio de bem público será definida levando em conta que cada morador escolhe sua contribuição ótima dado o comportamento do outro. Portanto o morador se depara com o seguinte problema de otimização: max x1,g1 x1 + a1 ln (g1 + g2) sujeito a: x1 + g1 ≤ w1; g1 ≥ 0, sendo que g2é a contribuição que o náufrago 1 supõe que o náufrago 2 irá fazer. Substituindo a restrição em x1temos: max g1 w1 − g1 + a1 ln (g1 + g2) . A condição de primeira ordem diz que: g1 : −1 + a1 g1 + g¯2 . Então: g1 + g¯2=a1, como G = g1 +g2, a provisão de bem público ótima para o náufrago 1 é G = a1. O problema de otimização do náufrago 2 é: max x2,g2 a2x2 + ln (g1 + g2) sujeito a: x2 + g2 ≤ w2; g2 ≥ 0. 11 Substituindo a restrição em x1temos: max g2 a2 (w2 − g2) + ln (g1 + g2) . Condição de primeira ordem: g2 : −a2 + 1 g1 + g2 = 0. Resolvendo a igualdade acima temos que g2 +g1 = 1 a2 e, portanto, a provisão ótima de bem público para o náufrago 2 é G = 1a2 . Após o náufrago ter dado os cocos para sinalização, ele não pode voltar atrás e reduzir sua contribuição já que as restrições g1 ≥ 0 e g2 ≥ 0 foram impostas. Nesse problema há a possibilidade de carona. Primeiro suponha que a1 > 1 a2 .Neste caso o morador 1 demanda uma pro- visão superior de bem público (sinalização) que 2. Se o morador 2 resolver não contribuir (g¯2 = 0), o morador 1 contribuirá com g1 = a1 = G, que é uma quan- tidade de sinalização superior a ótima para 2 (G = 1a2 ). Dessa forma 2 pode pegar carona na sinalização gerada por 1 e ainda consumir toda sua dotação de cocos em alimentação. Note que se o morador 1 resolvesse não contribuir, a quantidade ótima de fumaça para sinalização que maximiza a utilidade desse consumidor não seria obtida, portanto quando a1 > 1 a2 a solução é g1 = a1 = G e g2 = 0. Seguindo o mesmo raciocínio a1 < 1 a2 , a solução seria g2 = 1 a2 e g1 = 0. (b) Qual é a quantidade Pareto eficiente do bem-público ofertada nesta econo- mia? Compare esta solução com a solução obtida no item (a). maxx1 + a1 lnG sujeito a: a2x2 + lnG = u2; G+ x1 + x2 = w1 + w2. sabemos que a solução desse problema de maximização é:∣∣∣∣ UmgGUmgx1 ∣∣∣∣+ ∣∣∣∣ UmgGUmgx2 ∣∣∣∣ = Cmg (G) . Portanto: a1 G + 1 a2G = 1. Assim, a quantidade de pareti do bem público ofertada nessa economia é : G = 1 + a1a2 a2 = a1 + 1 a2 . 12 A provisão de bem público de pareto é sempre superior a provisão encontrada no item (a) pois neste caso é excluída a possibilidade de carona. Questão 7: Considere o problema de provisão eficiente de um bem público contínuo com dois consumidores, indexados por i ∈ {1, 2}. Seja ui (G, xi) = lnG + 12xi a utilidade do consumidor i sobre o bem público e o bem privado, em que G é a quantidade do bem público e xi é a quantidade do bem privado consumido pelo consumidor i. A produção do bem público depende das con- tribuições g1 e g2 dos consumidores 1 e 2, respectivamente, e é dada pela função de produção G = ln (g1 + g2). Cada consumidor possui uma dotação inicial de 2 unidades de bem privado. Calcule a quantidade eficiente de bem público que deve ser produzida. O nível eficiente de bem público é dado por: CMg (G∗) = I∑ i=1 [−TMgSi (G∗, xi)] . É fácil ver que CMg (G) = g, onde g = g1 +g2. O problema de minimização de custo é o seguinte: min g≥0 g sujeito a: ln (g) ≥ G. A função lagrangeana correspondente é: L (G,λ) = g − λ [ln (g)−G] . A condição de primeira ordem é a seguinte: 1− λ1 g = 0⇔ λ = g. Como se sabe, o multiplicador de Lagrange mede o impacto marginal so- bre a função valor decorrente de uma variação exógena marginal da restrição. Portanto, λ = g = CMg (G). De fato G = ln (g)⇔ g = eG. Logo: C (G) = eG ⇒ CMg (G) = eG = λ. Retornando a questão, a taxa marginal de substituição do consumidor i é: TMgSi (G, xi) = − 1 G 1 2 = − 2 G . 13 Assim, aplicando a fórmula que define o nível eficiente de provisão do bem píblico, obtém-se que: g∗ = 2 2 G∗ = 4 ln (g∗) ∼= 3, 33. Portanto: G∗ ∼= ln (3, 33) . Questão 8 (Prova 1 de 2010): Em uma economia competitiva há 1000 indivíduos, cada um deles com uma dotação de 1 unidade de terra, que pode ser alocada para a produção de 2 bens, girassol ou milho. As preferências do indivíduo i são caracterizadas por: U i = ln ( xig ) + 2 ln ( xim ) + ln ( yg 1000 ) , sendo xig o consumo de girassol pelo consumidor i, x i m o consumo de milho pelo indivíduo i e yg a produção total de girassol. Note que, dada a beleza dos campos de girassol, sua produção gera uma externalidade positiva sobre os indivíduos. No entanto, cada consumidor não tem poder de decisão sobre a quantidade agregada de girassol produzida, yg. As tecnologias disponíveos para a produção de girassol e milho são simples, dadas por: yg = tg e ym = tm, sendo ym a produção total de milho, tm o montante de terra usado na produção de milho e tg o montante total de terra usado na produção de girassol. (a) Escreva o problema que determina as alocações eficientes de terra e consumo. Determine a alocação eficiente simétrica, na qual todos os indivívuos têm o mesmo consumo (e, portanto, pesos de Pareto iguais). Para achar a alocação eficiente, vamos montar o problema de Pareto (geral, imporemos a condição de simetria posteriormente): max ({xig}1000i=1 , {xim}1000i=1 , tg, tm) 1000∑ i=1 λi [ ln(xig) + 2 ln(x i m) + ln ( yg 1000 )] sujeito a: 1000∑ i=1 xig = yg = tg; 14 1000∑ i=1 xim = ym = tm; tg + tm = 1000. A fim de obter a alocação eficiente simétrica, impomos iguais pesos de Pareto para todos os indivíduos: λi = λ,i = 1, 2, ..., 1000. Além disso, a simetria também implica que todos os consumidores consomem a mesma quantidade de cada bem, o que por sua vez significa que ∑1000 i=1 x i g = 1000x i g. Assim, podemos escrever o problema de Pareto simétrico como: max {xig}1000i=1 , {xim}1000i=1 , tg, tm λ 1000∑ i=1 [ ln ( xig ) + 2 ln ( xim ) + ln ( 1000xig 1000 )] sujeito a: 1000∑ i=1 xig = yg = tg; (25) 1000∑ i=1 xim = ym = tm; (26) tg + tm = 1000. (27) As condições de primeira ordem ficam: xig : λ ( 1 xig + 1 xig ) = µ1; (28) xim : λ ( 2 xim ) = µ2; (29) tg : µ1 = µ3; (30) tm : µ2 = µ3. (31) (30)→(28): λ ( 2 xig ) = µ3; (32) (31)→(29): λ ( 2 xim ) = µ3. (33) Logo, igualando (32) e (33), temos que xig = x i m → ∑1000 i=1 x i m = ∑1000 i=1 x i g → tg = tm. O único modo de termos tg = tmé com tg = tm = 500. Com isso, temos que xig = 0, 5 e x i m = 0, 5. (b) Determine o equilíbrio competitivo (preços e alocações). Mostre que tal alocação não é eficiente. Como essa alocação se compara à alocação eficiente? Dê uma intuição para esta comparação. Dica: Use terra como numerário. 15 Para derivar o equilíbrio competitivo, vamos fazer o problema do consumidor e o problema da firma, com cada consumidor agindo individualmente, e o mesmo valendo para as firmas. O problema do consumidor i é: max xig,x i m ln ( xig ) + 2 ln ( xim ) + ln ( yg 1000 ) sujeito a: pgx i g + pmx i m = 1. Note que agora ygnão é uma variável de escolha do problema. A condição de primeira ordem fica: xig : 1 xig = λpg; (34) xim : 2 xim = λpm. (35) Fazendo (34)/(35),temos: xim 2xig = pg pm ⇒ pmxim = 2pgxig. (36) Substituindo na restrição orçamentária temos: 3pgx i g = 1→ xig = 1 3pg . Com isto, xim = 2 3pm . O problema da firma produtora de Girassol é (note que já substituímos yg = tg e pt = 1): max tg pgtg − tg. A condição de primeira ordem resulta em pg = 1. De modo análogo, temos que pm = 1 também. Assim, x i g = 1 3 , x i m = 2 3 , para todo i. Além disso, yg = 1000 3 e ym = 2000 3 . Para comparar com a alocação eficiente, vejamos o nível de utilidade que esta alocação gera ao consumidor, comparando com o nível de utilidade do item (a): U i ( 1 2 , 1 2 , 500 ) = −2, 773 > U i ( 1 3 , 2 3 , 1000 3 ) = −3, 008. Deste modo, o equilíbrio competitivo gera uma situação pior para todos os indivíduos, ou seja, o equilíbrio competitivo não é eficiente de Pareto. Isto ocorre pois no equilíbrio competitivo, o consumidor não internaliza a externalidade positiva da produção de Girassol. 16 (c) Mostre que um subsídio de 100% sobre o valor da produção de girassol, financiado por um imposto lump-sum para os consumidores, gerará eficiência em uma alocação competitiva. Qual será o montante de impotto lump-sum pago por cada um dos indivíduos? Um imposto de 100% sobre a produção de Girassol faz com que o preço do Girassol vá para o nível p ′ g = 2pg. Com isso, o problema da firma produtora de Girassol passa a ser: max tg 2pgtg − tg. A condição de primeira ordem resulta em pg = 0, 5. O problema da firma produtora de milho não se altera. Do problema do consumidor, tínhamos a equação (12). Substituindo pg = 0, 5 em (12), temos: xig = x i m → yg = ym = tg = tm = 500 → xim = xig = 0, 5. Como o montante do imposto é de 100% do valor da produção de Girassol, ou seja, é igual a pgtg, o montante Lump-sum a ser pago por todos os individuos será: pgtg = 500(0, 5) 1000 = 0, 25. Note que a renda dos individuos sera de 0,75 (Substitua os valores na Re- strição Orçamentária e note isto. Questão 9 (Prova 1 de 2010): Suponha uma economia com N indivíduos indexados por i ∈ {1, 2, . . . , N} e dois bens, x e z. O bem x é público e o bem z é privado. A utilidade do indivíduo i é dada por U i = U i ( x, zic ) , onde x e zic denotam as quantidade de x e z consumidas pelo indivíduo i. Cada indivíduo i possui uma dotação inicial do bem z dada por z∗i. A função de produção do bem público x é dada por x = f (∑N i=1 z i d ) , onde zid denota a quantidade a quantidade do bem z empenhada na produção de x pelo indivíduo i. (a) Explique porque o bem x consumido pelo indivíduo i não é indexado por i. Pela definição de bem público, o mesmo nível de x deve ser consumido por todos os indivíduos da sociedade, de modo que não faz sentido indexar o consumo deste bem por individuo, ao mesmo tempo em que x dve aparecer na função de utilidade de cada um. (b) Monte e resolva o problema de Pareto desta economia. Mostre qual é a condição para haver produção eficiente do bem público. O problema de Pareto é: max ({zic}Ni=1,{zid}Ni=1,x) λ1U 1 ( x, z1c ) + λ2U 2 ( x, z2c ) + ...+ λNU N ( x, zNc ) sujeito a: 17 x = f ( N∑ i=1 zic ) ; N∑ i=1 ( zic + z i d ) = N∑ i=1 zi∗. Montando o Lagrangeano, temos: L = λ1U 1 ( x, z1c ) + λ2U 2 ( x, z2c ) + ...+ λNU N ( x, zNc ) + +µ [ f ( N∑ i=1 zic ) − x ] + γ [ N∑ i=1 zi∗ − N∑ i=1 ( zic + z i d )] . A condição de primeira ordem fica: x : λ1 ∂U1(x, z1c ) ∂x + λ2 ∂U2(x, z2c ) ∂x + ...+ λN ∂UN (x, zNc ) ∂x − µ = 0; (37) zic : λi ∂U i ∂zic = γ; (38) zid : µf ′ = γ. (39) Substituindo (38) e (39) em (37), obtemos: N∑ i=1 ∂Ui ∂x ∂Ui ∂zic = 1 f ′ . Ou seja, a produção eficiente de bem privado se dá no ponto em que a soma da Utilidade marginal relativa (em relação à utilidade marginal do bem privado) do bem público para todos os individuos (ou seja, o benefício marginal do bem público medido em termos do benefício marginal do bem privado) é inversamente proporcional à produtividade da produção do bem público. Isto ocorre porque o bem privado é usado como insumo para a produção de bem público, e portanto para se produzir f' unidades adicionais de bem público, deve-se abrir mão de uma 1 unidade do bem privado, e assim sendo, enquanto o benefício marginal total (para todos os indivíduos, uma vez que é um bem público) do bem público for maior do que a soma dos benefícios marginais do bem privado vale a pena continuar produzindo este bem em detrimento de cada indivíduo consumir o bem privado. (c) A curva de demanda agregada para bens privados é obtida através da soma horizontal (i.e. para um mesmo preço devemos somar as quantidades consum- idas do bem privado por cada indivíduo). A demanda por um bem público também pode ser obtida desta forma? Justifique sua resposta. (ver Nicholson, pág. 682): No caso de bens privados, a curva de demanda obtida por meio da soma horizontal das demandas individuais reporta de modo 18 correto o valor marginal do bem para a sociedade: uma unidade adicional pode- ria ser consumida por alguém que atribua a ela o valor que corresponde ao preço de mercado. No caso de bens públicos, o valor de uma unidade adicional é, na verdade, a soma dos valores que cada indivíduo atribui a tal unidade, uma vez que todos os individuosirão se beneficiar com esta unidade. Portanto, nesse caso, as demandas individuais deveriam ser somadas verticalmente: o preço nessa curva de demanda �vertical� reflete, parta cada nível de produção, o quanto uma unidade adicional do bem público seria valorizada por todos os consumidores, conjuntamente. A curva de mercado usual (soma horizontal) não reflete essa valoração marginal total. 19
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