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UTI COVID Guia de sobrevivência para o médico plantonista Ana Paula de Carvalho Canela Balzi, Bruno Shigueru Yasumura, Catherine Cely Oliveira, Fabiane Aliotti Regalio, Laína Bubach Carvalho, Luiz Marcelo Sá Malbouisson, Paula Carolina Bombonati, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Roberta Vieira da Silva Bento, Sérgio Roberto Silveira da Fonseca, Thiago Henrique dos Santos Silva, Victor Oliveira Novais Coordenadores: Luiz Marcelo Sá Malbouisson Maria José Carvalho Carmona José Otávio Costa Auler Jr. Preparação, capa e editoração eletrônica Empatheia [2021] Todos os direitos desta edição reservados à Anestesiologia USP Versão digital: agosto de 2021 UTI COVID [livro eletrônico]: guia de sobrevivência para o médico plantonista/ Coordenadores: Luiz Marcelo Sá Malbouisson, Maria José Carvalho Carmona e José Otávio Costa Auler Jr.; autores: Ana Paula de Carvalho Canela Balzi, Bruno Shigueru Yasumura, Catherine Cely Oliveira, Fabiane Aliotti Regalio, Laína Bubach Carvalho, Luiz Marcelo Sá Mal- bouisson, Paula Carolina Bombonati, Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Roberta Vieira da Silva Bento, Sérgio Roberto Sil- veira da Fonseca, Thiago Henrique dos Santos Silva, Victor Oliveira Novais. - São Paulo: Anestesiologia USP; Empa- theia, 2021. 97 p. ISBN 978-65-994492-1-5 1. UTI COVID 2. UTI 3. COVID-19 4. Anestesia 5. Intubação 6. UTI - Procedimentos 7. Guia - UTI 8. Intubação - Procedi- mentos 9. Anestesia - Procedimentos CDU: 616-08 Ficha Catalográfica Bibliotecária: Denise Peres Sales CRB/8 nº SP-008556/O Sumário Prefácio .............................................................. 05 1. Introdução ...................................................... 07 2. Diagnóstico .................................................... 09 3. Pré-admissão na UTI ...................................... 12 4. Admissão na UTI ............................................ 15 5. Protocolo de via aérea - covid-19 .................. 23 6. Paciente Intubado - e agora? ......................... 42 7. Desmame difícil de sedação e controle do delirium .............................................................. 70 8. Tratamentos ................................................... 76 9. Particularidades no atendimento à paciente gestante ............................................................. 82 Apêndice 1 - Medicações mais usadas e suas diluições ............................................................. 84 Apêndice 2 - Checklist para mudança de posicionamento em prona/supina ..................... 90 Sobre os coordenadores .................................... 91 Sobre os autores ................................................ 93 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 5 Prefácio A pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) to- mou o mundo de surpresa e a rapidez do contágio e gra- vidade dos casos de insuficiência respiratória levaram a necessidade crescente de leitos hospitalares, principal- mente em Unidades de Terapia Intensiva. Face à doença desconhecida, os primeiros meses foram marcados por muitas dúvidas entre os profissio- nais de saúde, preocupados com o melhor cuidado aos pacientes, com os riscos à própria saúde e de seus fa- miliares. No início de 2020 seguimos de perto e apren- demos muito com os relatos de colegas chineses e ita- lianos, os primeiros a trabalhar com as UTIs lotadas de pacientes com covid-19. Em pouco tempo esgotaram-se nossos recursos humanos habituais e mais leitos de UTI precisavam ser disponibilizados para o atendimento do número crescente de casos. Para fazer frente às neces- sidades, médicos de várias especialidades foram recru- tados para trabalhar nas UTIs COVID. Se o plantão já era desgastante para o intensivista, tornava-se pior para os colegas não-especialistas, atuando em ambiente muito diferente do seu habitual. Movidos por um grande espí- rito de cooperação, esses profissionais se juntaram aos UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 6 nossos para vencer o grande desafio. Este “Guia de Sobrevivência” é um resumo das prá- ticas e protocolos de condutas que foram adotadas nas UTIs do Instituto Central do Hospital das Clínicas sob co- ordenação da Divisão de Anestesia, quando os 17 leitos da UTI cirúrgica foram ampliados para atendimento de até 138 leitos de UTI-COVID, sendo 76 destes leitos den- tro do Centro Cirúrgico, onde foram atendidos de dois a quatro pacientes por sala. As condutas aqui descritas são baseadas nas melho- res evidências científicas e em nossa vivência clínica, após mais de um ano de pandemia, com o objetivo de fornecer referências rápidas para dúvidas frequêntes nos plantões. Esperamos que possa ser útil! Com respeito e admiração dedicamos este livro a você, profissional de saúde que atua na linha de frente da crise do covid-19! Os autores UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 7 1. Introdução A infecção pelo vírus SARS-CoV-21, chamado de novo coronavírus, causador da doença do coronavírus, ou coronavirus disease (covid-19), foi descrita pela primei- ra vez em novembro de 2019 na província chinesa de Wuhan, na China, e, em pouco tempo, alcançou status de pandemia, causando inúmeras infecções, mortes e imensa sobrecarga ao sistema de saúde mundial. No Brasil, o primeiro caso de covid-19 foi detectado em 25 de fevereiro de 2020 e vem se espalhando de maneira muito rápida, causando estresse nos sistemas nacionais de logística e fornecimento de cuidados de saúde (de Souza, 2020 #40). Em razão da elevada demanda de cuidados de saúde, em particular a necessidade de suporte intensivo, uma grande quantidade de profissionais que não tem treina- mento específico em emergência ou terapia intensiva está ajudando na linha de frente do combate a essa do- ença sistêmica que causa intensas disfunções orgânicas e acarreta elevada mortalidade. 1 SARS = severe acute respiratory syndrome (em português, síndrome res- piratória aguda grave); CoV-2 = coronavírus 2. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 8 Diante desse cenário, tornou-se impreterível a elabo- ração de um guia prático de condutas a beira-leito que proporcione aos profissionais de saúde diretrizes mais uniformes e menos complexas no que diz respeito aos cuidados prestados aos pacientes vítimas de covid-19 na unidade de tratamento intensivo (UTI). Este manual busca sumarizar o conhecimento adqui- rido ao longo desses meses de pandemia, com base nos estudos mais relevantes. Referências Azzolina D, Lorenzoni G, Silvestri L, Prosepe I, Berchialla P, Gregori D. Regional differences in mortality rates during the covid-19 epidemic in Italy. Disaster Medicine and Public Health Preparedness. 2020;1-7. doi.org/10.1017/dmp.2020.486. Huang C, Wang Y, Li X, Ren L, Zhao J, Hu Y, et al. Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet. 2020 Feb;395:15-21. doi.org/10.1016/ S0140-6736(20)30183-5. http://doi.org/10.1017/dmp.2020.486 http://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30183-5 http://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30183-5 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 9 O diagnóstico da infecção pelo SARS-CoV-2 é feito pelo exame de transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR) específico para o ví- rus. De acordo com a meta-análise publicada em 2020 pela Cochrane Database (Dinnes et al.), a sensibilidade do exame é de 78,3% (IC 95%: 71,1-84,1) na primeira semana de sintomas e de 51% (IC 95%: 40,8-61,0) na segunda semana. Nos pacientes assintomáticos, a sen- sibilidade é ainda mais baixa. Exames iniciais negativos podem refletir a ocorrência de resultados falsos-negati- vos, devendo o exame ser colhido novamente. Com ou sem a presença de sintomas, a especificidade é elevada, acima de 99%. Métodos de diagnóstico por imagem podem ajudar no diagnóstico da pneumonia por covid-19, particular- mente atomografia computadorizada (TC) de tórax, que pode mostrar infiltrado predominantemente periférico com padrão em “vidro fosco”, conforme mostrado na Figura 1. Na meta-análise publicada em 2021 pela Co- chrane Database (Islam et al.), sobre o papel da TC de tórax para diagnóstico de covid-19, a sensibilidade foi de 87,9% (IC 95%: 84,6-90,6) e a especificidade foi de 2. Diagnóstico2. Diagnóstico UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 10 80% (IC 95%: 74,9-84,3). As imagens observadas na TC de tórax são classificadas pelo escore CO-RADS, apre- sentado na Figura 2. Figura 1 - Tomografia computadorizada de tórax. Figura 2 - Escore CO-RADS Outros métodos de imagem que podem contribuir para o diagnóstico da pneumonia por covid-19 são a radiografia (RX) de tórax e a ultrassonografia (USG) pul- monar. Para a RX de tórax, a meta-análise publicada em 2021 pela Cochrane Database (Islam et al.) detectou sensibilidade de 80,6% (IC 95%: 69,1-88,6) e especifi- cidade combinada de 71,5% (IC 95%: 59,8-80,8). Para a USG pulmonar, nesse mesmo estudo, a sensibilidade foi de 86,4% (IC 95%: 72,7-93,9) e a especificidade, de 54,6% (IC 95%: 35,3-72,6). Salienta-se que o uso da USG UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 11 pulmonar como exame auxiliar para diagnóstico de co- vid-19 é operador dependente. A seguir, são apresen- tados exemplos característicos de RX de tórax e USG pulmonar de pacientes com pneumonia por covid-19. Referências Dinnes J, Deeks JJ, Adriano A, Berhane S, Davenport C, Dittrich S, et al. Rapid, point-of-care antigen and molecular- based tests for diagnosis of SARS-CoV-2 infection. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2020;8:CD013705. doi. org/10.1002/14651858.cd013705. Islam N, Ebrahimzadeh S, Salameh J-P, Kazi S, Fabiano N, Treanor L, et al. Thoracic imaging tests for the diagnosis of covid-19. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2021;3:CD013639. doi. org/10.1002/14651858.CD013639.pub4. http://doi.org/10.1002/14651858 http://doi.org/10.1002/14651858 http://doi.org/10.1002/14651858.CD013639.pub4 http://doi.org/10.1002/14651858.CD013639.pub4 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 12 3. Pré-admissão na UTI3. Pré-admissão na UTI Para casos leves de covid-19, parece ser adequada a monitorização da SpO2 (saturação periférica de oxi- gênio), aferida por meio da oximetria de pulso do pa- ciente. Caso o indivíduo apresente falta de ar ou SpO2 < 94%, significa que ele está com infecção moderada ou grave e que deve procurar atendimento médico. No serviço de saúde, deve ser administrado ao pa- ciente oxigênio suplementar para tentar manter a SpO2 entre 92 e 96%. O oxigênio pode ser administrado das seguintes formas: a. Cateter nasal de O2 “tradicional”: até cerca de 4 a 5 L/min, garante uma FiO2 em torno de 40%. b. Máscara de Venturi: garante FiO2 de 24 a 50%, porém é um dispositivo aberto, que aumenta a geração de aerossóis. c. Máscara de O2 não reinalante, com fluxo de cerca de 15 L: garante de 80 a 100% de FiO2, com pouca geração de aerossóis, sem gerar pressão positiva. d. Cateter nasal de alto fluxo, com uso de fluxo de até 60L/min e FiO2 que pode chegar a 100%: é um UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 13 dispositivo confortável para o paciente, porém também é um sistema aberto e gerador de aeros- sóis. Fornece oxigênio a alto fluxo, umidificado e aquecido, via cânula nasal, e esse alto fluxo é suficiente para gerar pressão positiva. Utilizada para casos de insuficiência respiratória aguda hipoxêmica, podendo reduzir a necessidade de ventilação não invasiva (VNI) ou de intubação traqueal, seu uso ganhou ainda maior amplitude na pandemia da covid-19. Pode ser usado em período pré, peri ou pós-extubação. Entre seus benefícios estão acentuar a oxigenação, eliminar mais CO2, diminuir o esforço respiratório, reduzir a resistência inspiratória e melhorar a compla- cência pulmonar, o que permite mais conforto ao paciente. e. Ventilação não invasiva (VNI) com pressão positi- va: também pode gerar FiO2 de até 100% e PEEP (pressão positiva expiratória final), permitindo melhor recrutamento alveolar. Se for bem adap- tada, gera poucos aerossóis, porém pode gerar distensão gástrica importante. Tem a vantagem de ser administrada por máscaras ou outras interfaces, sem uso de prótese traqueal; utilizada em situações de insuficiência respiratória, como tentativa de melhorá-la, impedindo, em alguns casos, a ventilação mecânica invasiva. É indicada nas seguintes situações: bom nível de consciên- cia (Glasgow > 9), estabilidade hemodinâmica, tosse eficaz, presença de hipercapnia não muito grave (pH > 7,10 e PaCO2 entre 50 e 90), condi- ção clínica reversível e ausência de traumas ou deformidades de crânio ou de face que impeçam a adaptação da máscara. Está contraindicada em casos de: desorientação ou agitação psicomotoras intensas (Glasgow ≤ 8), risco de parada cardior- respiratória (PCR) iminente, choque, incapacidade de proteger vias aéreas, hemorragia digestiva UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 14 alta, pneumotórax não drenado, abdome agudo e recusa do paciente ao procedimento. A VNI promove auxílio mecânico direto à musculatura respiratória, uma vez que reduz tanto o coman- do neural quanto o trabalho respiratório. Assim, alcança-se um padrão respiratório mais adequa- do, em virtude do aumento de volume corrente e da redução da frequência respiratória, e promove melhora no sistema cardiovascular, pois dimi- nui o tônus adrenérgico pré e pós-carga. A PEEP pode beneficiar a relação ventilação-perfusão, já que pode abrir pequenas vias aéreas e unidades alveolares colapsadas, favorecendo a troca gasosa e a impedância (resistência e complacência) do sistema respiratório, com consequente melhora clínica da dispneia. f. Ventilação invasiva com pressão positiva, ad- ministração de O2 através de um tubo traqueal e ventilador mecânico: permite FiO2 de 100% e recrutamento alveolar. A escolha do método de suplementação de oxigênio depende de uma série de fatores, como grau da hipoxe- mia, nível de consciência e capacidade de colaboração do paciente. O paciente que será admitido na UTI é aquele que não consegue manter uma oxigenação adequada com a máscara não reinalante acima de 8 a 10 L/min, res- saltando que esse critério pode variar de acordo com a realidade do serviço da instituição de saúde. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 15 4. Admissão na UTI 4.1 Critérios de admissão em UTI • Cateter nasal de oxigênio > 5 L/min e SpO2 < 92%. • Necessidade de escalonamento de oxigeniotera- pia (máscara não reinalante acima de 8 a 10 L/ min). • Esforço ventilatório aumentado (uso de muscula- tura acessória, tiragem intercostal, batimento de asa nasal), apesar da oferta de O2. • Necessidade de suporte ventilatório invasivo. • Instabilidade hemodinâmica. • Uma ou mais disfunções orgânicas ativas (hipo- tensão, oligúria, rebaixamento do nível de consci- ência, discrasia sanguínea, etc.). 4.2 Sugestão de prescrição inicial • Jejum: nas primeiras 24h; depois, reavaliar. • Metilprednisolona 1 mg/kg de peso corporal, di- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 16 vidido em duas tomadas (40 mg endovenosa [EV] de 12/12h); ou dexametasona 10 mg EV 12/12 horas: nos primeiros 5 dias. • A partir do sexto dia: dexametasona 10 mg 1x/dia por mais 5 dias ou até a alta da UTI. • Sem acesso central: soro glicosado (SG) 10%, 500mL em 24h. • Com acesso central: SG 50%, 250 mL em 24h. • Noradrenalina 1 mg/mL, 16 mL EV em BIC ACM1 e SG 5% 234 mL. • Ceftriaxona 2 g EV 1x ao dia (apenas se for iden- tificada infecção bacteriana diagnosticada em exames de imagem). • Enoxaparina 40 mg subcutânea (SC) 1x/dia. *Se ClCr < 30: administrar heparina não fracionada (HNF) 5.000 UI SC 8/8h.2 • Dipirona 1 g EV 6/6h, se necessário (S/N). • Ondansetrona8 mg EV 8/8h S/N. • Omeprazol 40 mg EV 1x/dia. • Fentanil 0,05 mg/mL, 50 mL ACM. • Midazolam 5 mg/mL, 100 mg EV em BIC ACM e SG 5% 80 mL. • Cisatracúrio 2 mg/mL, 100 mg EV em BIC ACM e SG 5% 50 mL. 1 BIC ACM = bomba de infusão contínua a critério médico. 2 Em alguns grupos especiais, como gestantes, puérperas e IMC > 40, consi- deraremos enoxaparina 60 mg/dia ou HNF 10.000 UI 12/12h. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 17 Atenção 1. Suspender os antibióticos se já tiver o resultado positivo para covid-19 e não houver evidência de infecção bacteriana secundária (os pacientes fi- cam muito tempo em ventilação mecânica, o que torna necessário usar os antibióticos para tratar infecções secundárias com alta suspeita). 2. Oseltamivir deve ser prescrito para pacientes com suspeita de H1N1: se covid-19+ ou painel viral negativo para H1N1, suspender. 3. Fentanil, midazolam e cisatracúrio apenas para pacientes intubados. 4. *Em alguns grupos especiais, como gestantes, puérperas e IMC > 40, consideraremos enoxapari- na 60 mg/dia ou HNF 10.000 UI 12/12h. 4.3 Rotina de exames - admissão • Raio X de tórax e tomografia computadorizada de tórax (preferencialmente realizados antes da ad- missão em UTI ou de acordo com avaliação clínica criteriosa). • Hemograma completo. • Proteína C reativa. • Ureia e creatinina. • Na, K, Mg, P, Cl, Ca iônico. • Gasometria arterial com lactato. • TGO, TGP, GGT, FA; bilirrubinas totais e frações e albumina. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 18 • Coagulograma com fibrinogênio e D-dímero. • Troponina; CK-MB. • Desidrogenase láctica (DHL). • Creatinofosfoquinase (CPK). 4.4 Rotina de exames - diária (coletados em horário pré-definido pela equipe) • Raio X de tórax conforme necessidade. • Hemograma completo. • Proteína C reativa. • Ureia e creatinina. • Na, K, Mg, P, Cl, Ca iônico. • Gasometria arterial com lactato. • Coagulograma. 4.5 Sugestão de rotina de gasometria para pacientes intubados • 10h: gasometria arterial com lactato. • 16h: gasometria arterial com lactato. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 19 4.6 Sugestão de rotina para troca de posição prona/supina • 10h. • 16h. 4.7 Na admissão do paciente e ao longo da internação, ATENÇÃO! Algumas vezes, os pacientes apresentam franca hi- poxemia, mas não referem dispneia, porém eles NÃO estão lúcidos, e sim apresentando o estado de “foggy mind”, isto é, respondem a estímulos, mas estão muito sonolentos, não iniciam uma conversa, apenas respon- dem vagarosamente. Esses pacientes devem ser pronta- mente submetidos à intubação traqueal. 4.8 Mas quando intubar o paciente? Essa provavelmente é a pergunta mais difícil de responder. De maneira geral, quando o paciente não consegue manter oxigenação acima de 90% com cateter nasal de alto fluxo ou está dependente de VNI contínua. Se ele já está no limite de oferta de O2 por métodos não inva- sivos, provavelmente necessitará de intubação orotra- queal (IOT). As exceções (que são comuns) devem ser discutidas caso a caso. As indicações de intubação traqueal incluem, mas não se limitam a: UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 20 • Insuficiência respiratória. • Sinais de desconforto respiratório: pacientes que mantêm SpO2 limítrofe às custas de uso de mus- culatura acessória, batimentos de asa de nariz e taquipneia importante tendem a apresentar que- da abrupta de saturação quando se cansam, além de estarem mais sujeitos a apresentar lesões pulmonares (pneumotórax, pneumomediastino) relacionadas ao esforço. • Necessidade de ventilação mecânica não invasiva prolongada. • Proteção de vias aéreas (escala de coma de Glas- gow < 9). • Incapacidade de manipular secreções respiratórias. • Obstrução de vias aéreas (anafilaxia, queimadu- ras de vias aéreas, infecções como, por exemplo, epiglotite). 4.9 Decidi intubar o paciente - como fazer? Para avaliar o grau predito de dificuldade de intuba- ção traqueal, a Difficult Airway Society (DAS) sugere a utilização do escore MACOCHA. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 21 Tabela 1 - Escore MACOCHA Parâmetro Pontuação Mallampati 3 ou 4 5 Apneia obstrutiva do sono 2 Mobilidade Cervical reduzida 1 Abertura de cavidade Oral < 3cm 1 Coma 1 SpO2 < 80% (saturação de Hemoglobina) 1 Médico não Anestesiologista 1 O escore MACOCHA varia de zero (muito fácil) a 12 (extremamente difícil). Um valor de 4 ou mais indica via aérea difícil e, nes- se caso, um segundo médico deve ser chamado para ajudar. Outros fatores que predizem via aérea difícil são: • Cirurgia de cabeça e pescoço. • Radioterapia cervical. • Paciente gestante. Atenção 1. Idealmente, em toda intubação (seja para co- vid-19 ou não), devem estar presentes dois médicos, visto que as consequências de um cenário “não intubo, não ventilo” podem ser catastróficas. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 22 2. Outra recomendação é realizar a marcação da membrana cricotireóidea antes da primeira ten- tativa de intubação, em caso de via aérea difícil (VAD) predita, a fim de facilitar a realização de uma cricotireostomia de emergência. 3. Sempre checar o material antes da intubação (laringo acende? Aspirador funciona? Tem tubos um tamanho abaixo e um tamanho acima do que você pediu?) e ter disponível a caixa de via aérea difícil. Referências Apfelbaum JL, Hagberg CA, Caplan RA, Blitt CD, Connis RT, Nickinovich DG, et al.; American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Practice guidelines for management of the difficult airway: an updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Anesthesiology. 2013 Feb;118 (2):251-270. doi.org/10.1097/ALN.0b013e31827773b2. PMID: 23364566. Dhont S, Derom E, Van Braeckel E, Depuydt P, Lambrecht BN. The pathophysiology of ‘happy’ hypoxemia in covid-19. Respiratory Research. 2020 Jul;21:198. doi.org/10.1186/s12931-020-01462-5. Frerk C, Mitchell VS, McNarry AF, Mendonca C, Bhagrath R, Patel A, et al. Difficult Airway Society 2015 guidelines for management of unanticipated difficult intubation in adults. British Journal of Anaesthesia. 2015 Dec;115(6):827-848. doi.org/10.1093/bja/ aev371. Higgs A, McGrath BA, Goddard C, Rangasami J, Suntharalingam G, Gale R, et al. Guidelines for the management of tracheal intubation in critically ill adults. British Journal of Anaesthesia. 2018 Feb;120(2):323-352. doi.org/10.1016/j.bja.2017.10.021. http://doi.org/10.1097/ALN.0b013e31827773b2 http://doi.org/10.1186/s12931-020-01462-5 http://doi.org/10.1093/bja/aev371 http://doi.org/10.1093/bja/aev371 http://doi.org/10.1016/j.bja.2017.10.021 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 23 5. Protocolo de via aérea - covid-19 5.1 Objetivos Garantir o acesso rápido e seguro à via aérea, dimi- nuindo a geração de aerossóis, visando à segurança da equipe multiprofissional e do paciente. 5.2 Paramentação Controlar o número de profissionais no procedimen- to (Figuras 3 e 4): • 1 médico no manejo da via aérea (profissional mais experiente); • 1 enfermeiro; • 1 fisioterapeuta; • 1 médico paramentado fora do leito – para auxílio na via aérea, se necessário. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 24 Figura 3 - Paramentação individual. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 25 Figura 4 - Paramentação da equipe. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 26 5.2.1 Posicionamento do paciente a. Coxim occipital – alinhar o tragus do paciente ao esterno do próprio paciente (Figuras 5 e 6). Figura 5 - Alinhamento do tragus. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 27 Figura6 - Alinhamento do tragus em relação ao médico. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). 5.3 Pré-oxigenação 5.3.1 Ofertar oxigênio a. Cateter nasal de O2 a 3L/min em uma fonte de oxigênio (Figura 7). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 28 Figura 7 - Colocação do cateter nasal. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). b. Sistema bolsa-válvula-máscara ofertado por duas pessoas. Uma pessoa acoplando e ajustando a máscara, e a segunda, segurando a bolsa (Ambu), sem comprimir, em uma segunda fonte de O2. Atenção ao filtro entre a válvula e a máscara (Figura 8). Garantir o selo adequado da máscara na face do paciente. Como opção, colocar um plástico trans- parente por cima do rosto do paciente, a fim de diminuir a dispersão de gotículas e aerossóis. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 29 Figura 8 - Sistema bolsa-válvula-máscara. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). 5.4 Checklist de material para intubação Os seguintes equipamentos devem estar disponíveis para a intubação (Figura 9): 1. Eletrocardiograma contínuo (ECG). 2. Oximetria de pulso (SpO2). 3. Pressão arterial não invasiva (PNI), mensurada em intervalos regulares. 4. Capnografia (CO2 expirado). 5. Termômetro. 6. Fonte de oxigênio. 7. Sistema bolsa-valva-máscara para ventilação. 8. Máscara facial de tamanho adequado. 9. Cânula orofaríngea de 2 tamanhos (Guedel). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 30 10. Tubo endotraqueal de 2 tamanhos. 11. Fio-guia maleável para intubação. 12. Material para aspiração de vias aéreas (checar o circuito de “vácuo”) e sonda de aspiração (prefe- rência pelo aspirador rígido, tipo Yankauer). 13. Drogas para indução anestésica e relaxamento muscular (a presença de uma maleta para seda- ção e intubação é sugerida, a fim de diminuir a espera). 14. Laringoscópio com 2 tamanhos de lâmina testa- dos – preferência ao videolaringoscópio. 15. Lençóis e/ou coxim. 16. Estetoscópio. 17. Material para fixação da cânula. Como os pacientes com covid-19 tendem a apresen- tar queda rápida de SpO2, provavelmente por serem mais hipoxêmicos previamente, quando comparados a outros pacientes, é recomendável tratá-los como pos- sível via aérea difícil. Assim, como tal, convém incluir: • Guia “Bougie” de intubação traqueal. • Máscara laríngea de 2 tamanhos. • Lâmina de laringoscópio articulada (tipo McCoy), se disponível. • Pedir auxílio à equipe de Anestesiologia, se necessário. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 31 Figura 9 - Alguns materiais mandatórios para intubação. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). 5.5 Intubação em sequência rápida A sequência rápida deve ser iniciada com a infusão de opioide, hipnótico e bloqueador neuromuscular (BNM), em sequência, respeitando a ordem das etapas, a seguir, e o tempo de ação das drogas, apresentado no próximo item. • Primeira tentativa: médico-assistente mais experiente. • Se falhar, segunda tentativa: médico anestesista. • Se falhar, dispositivo supraglótico (máscara laríngea). • Se falhar, avaliar cricotireostomia. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 32 5.6 Drogas utilizadas na sequência rápida de intubação (SRI) 5.6.1 Pré-indução (avaliar) Fentanil 1,5 a 3 mcg/kg: analgésico; diminui o reflexo de tosse. Início de ação: 2 a 3 minutos. 5.6.2 Indução (considerando paciente adulto 70 kg) a. Etomidato: 0,3 mg/kg, 20 mg. Início de ação: 30 segundos. OU b. Cetamina 1 a 2 mg/kg. Início de ação: 30 a 60 segundos. 5.6.3 Bloqueio neuromuscular a. Succinilcolina 1,5 mg/kg, 100 mg. Início de ação: 30 segundos; OU b. Rocurônio 1,2 mg/kg, 1,5 a 2 ampolas. Início de ação: 1 minuto. Na SRI, as drogas são administradas em sequência, em um curto intervalo de tempo. Assim que perceber o relaxamento muscular do paciente e a responsividade pelo sedativo, deve-se proceder a IOT. Utilizar sempre o fio-guia para aumentar a chance de UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 33 sucesso na primeira tentativa. Exemplo de intubação em sequência rápida: • Fentanil 0,5 a 3 mcg/kg; aguardar 1 minuto. • Etomidato 0,3 mg/kg; aguardar 30 segundos. • Succinilcolina 1,5 mg/kg; aguardar 30 segundos (assim que pararem as fasciculações musculares induzidas pelo bloqueador despolarizante). • Proceder a intubação. 5.6.4 Técnica de Intubação Segurar o laringoscópio com a mão esquerda, o mais próximo possível da lâmina a fim de evitar o movimento de báscula (Figura 10). Figura 10 - Como segurar o laringoscópio Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 34 Figura 11 - Visualização da epiglote Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Laringoscopia iniciada com a introdução da lâmina pelo canto direito da boca do paciente, deslocando a base da língua do paciente para esquerda. Progredir a ponta da lâmina, em direção à valécula, deslizando sobre a superfície da língua com força leve em direção anterior e para cima (Figuras 11 e 12 ). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 35 Figura 12 - procedimento com videolaringoscopia Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Com a ponta da lâmina do laringoscópio na valécula, levantar a epiglote e visualizar as cordas vocais (Figuras 13 e 14). Figura 13 Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 36 Figura 14 - Visualização da epiglote e aritenóides, com visualiza- ção parcial das pregas vocais. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Realizar a passagem da cânula orotraqueal sob visu- alização direta, entre as cordas vocais (Figuras 15 e 16). Figura 15 - Procedimento com videolaringoscópio. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 37 Figura 16 - Visualização completa das pregas vocais. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Utilizar o fio-guia para aumentar chance de sucesso do procedimento (Figuras 17 e 18). Figura 17 - Visualização da passagem da cânula traqueal entre as pregas vocais. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 38 Atenção Utilizar êmbolo de seringa de 20 ml, perfurada com agulha 40x12 mm para tentativa de manutenção de sis- tema fechado. Figura 18 - Utilização do Bougie no auxílio a intubação. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). 5.6.5 Preferência à videolaringoscopia Avançar com a lâmina sob a superfície mediana da língua até a valécula, visualizando toda epiglote sob o vídeo. Evitar introdução demasiada na qual perde-se visu- alização da valécula com risco de posteriorizar a passa- gem da cânula. Ocorrendo isso, tracione a lâmina. Dê preferência à Videolaringoscopia sempre que ti- ver disponibilidade do aparelho, é um método mais se- guro e menos passível de erros. Atentar para pacientes UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 39 com muita secreção em cavidade oral ou sangue, que podem sujar a câmera do Videolaringoscópio (que fica na ponta) e impossibilitar a visualização. Figura 19 - Exemplo de visualização inadequada - laringoscópio muito introduzido, atrapalhando a inserção do tubo traqueal. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Figura 20 - Visualização adequada após retroceder com a lâmina. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 40 Figura 21 - Passagem do Bougie entre as cordas vocais. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). Referências Apfelbaum JL, Hagberg CA, Caplan RA, Blitt CD, Connis RT, Nickinovich DG, et al.; American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Practice guidelines for management of the difficult airway: an updated reportby the American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Anesthesiology. 2013 Feb;118(2):251-270. doi.org/10.1097/ALN.0b013e31827773b2. PMID: 23364566. Brown III CA, Sakles JC, Mick NW (orgs.). Manual de Walls para o manejo da via aérea na emergência. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. 478 p. Frerk C, Mitchell VS, McNarry AF, Mendonca C, Bhagrath R, Patel A, et al. Difficult Airway Society 2015 guidelines for management of unanticipated difficult intubation in adults. British Journal of http://doi.org/10.1097/ALN.0b013e31827773b2 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 41 Anaesthesia. 2015 Dec;115(6):827-848. doi.org/10.1093/bja/ aev371. Higgs A, McGrath BA, Goddard C, Rangasami J, Suntharalingam G, Gale R, et al. Guidelines for the management of tracheal intubation in critically ill adults. British Journal of Anaesthesia. 2018 Feb;120(2):323-352. doi.org/10.1016/j.bja.2017.10.021. Scordamaglio PR, Del ManTO R, Guimarães HP. Guia prático de acesso às vias aéreas. São Paulo: Atheneu, 2014. 200 p. http://doi.org/10.1093/bja/aev371. http://doi.org/10.1093/bja/aev371. http://doi.org/10.1016/j.bja.2017.10.021 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 42 6. Paciente intubado - e agora? 6.1 Ventilação mecânica Após a intubação, deve-se atentar para o manejo da ventilação mecânica, visto que, normalmente, os pa- cientes com covid-19 eleitos para IOT já manifestam al- gum grau de síndrome do desconforto respiratório agu- do (SDRA), definida pela presença dos critérios apresen- tados na Tabela 2. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 43 Tabela 2 - Critérios da SDRA Instalação (tempo) Uma semana do insulto clínico ou piora dos sintomas respiratórios Imagem (RX ou TC) Opacidades bilaterais, não totalmente explica- dos por edema, colapso lobar/pulmonar e/ou nódulos Origem do edema Insuficiência respiratória não totalmente expli- cada por insuficiência cardíaca ou sobrecarga volêmica. Se houver dúvida sobre sobrecarga de vo- lume, avaliar com ECO para excluir edema hidrostático. Classifica- ção pela Oxigenação Leve P/F* entre 200 e 300 com PEEP/ CPAP de 5 cm de H2O Moderada P/F entre 100 e 200 Grave P/F menor que 100 *P/F = índice de oxigenação. P/F = pO2 (gaso)/FiO2 (ventilador). CPAP: pressão positiva contínua nas vias aéreas (continuous positive airway pressure). Passo 1. Calcular o peso predito/ideal do paciente (normalmente, calculado pela equipe de Fisioterapia). Homens: 50 + 0,91 x (altura em cm – 152,4) Mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura em cm - 152,4) Passo 2. Ajustar os parâmetros da ventilação, aten- tando para a estratégia de ventilação protetora. • Modo inicial: VCV (volume controlled ventillation; em português, ventilação controlada a volume). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 44 • Volume corrente (Vt): manter entre 4 a 6 mL/kg (paciente de 70 kg x 6 mL = 420 mL). • Ventilar acima de 6 mL/kg em pacientes com SDRA é exceção. Estudos mostram que o parâmetro mais importante da ventilação protetora é manter o volume corrente em até 6 mL/kg, pois isso melhora os desfechos, evita o volutrauma por hiperdistensibilidade alveolar e protege do barotrauma (enfisema subcutâneo, pneumomediastino, pneumotó- rax, etc.) e do biotrauma (desenvolvimento de síndrome da resposta inflamatória sistêmi- ca [SIRS] por liberação de fatores inflamató- rios liberados pelo alvéolo distendido). • FiO2 (fração Inspirada de O2): iniciar a 100% imediatamente após a intubação e reduzir rapi- damente, com meta de manter menor ou igual a 60%. Titular de acordo com a Saturação, manten- do a SpO2 maior ou igual a 92%. • FR (frequência respiratória): iniciar a 25 irpm. • CUIDADO! Pacientes entubados com covid-19 frequentemente estão taquidispneicos para tentar compensar uma acidose e “lavar” o CO2; logo, ao serem entubados e colocados com uma FR baixa, podem rapidamente apre- sentar acidose respiratória severa. Se neces- sário, deve-se subir até 35 a 45 irpm. • Meta de pH entre 7,15 e 7,20. Podemos tole- rar uma hipercapnia permissiva com pH nessa faixa, mas, cuidado! Se houver componente metabólico (BIC baixo, base excess abaixo de – 3,0), deve-se tentar corrigir as causas-base da acidose metabólica concomitante, a fim de evitar queda brusca do pH e parada cardíaca. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 45 • PEEP: proceder conforme tabela de PEEP de nosso serviço (Figuras 22 a 24) ou por titulação. Iniciar em 8 a 10 cm H2O antes de titular de acor- do com qualquer dos métodos. Figura 22 Figura 23 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 46 Figura 24 Após ajustar os parâmetros basais, com o pacien- te sedado e preferencialmente em uso de bloqueador neuromuscular (BNM), calcular a mecânica respiratória. 6.2 Mecânica respiratória básica (Figura 25) Figura 25 - Esquema gráfico da mecânica respiratória básica UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 47 6.2.1 Conceitos (Figura 26) PEEP: pressão positiva ao final da expiração; é forne- cida pelo ventilador para manter o sistema respiratório minimamente pressurizado e os alvéolos abertos. Pressão de pico (PPico): maior pressão no sistema respiratório; é alcançada durante a inspiração, enquan- to há passagem de ar nas vias aéreas (circuito + tubo + vias aéreas do paciente). É a somatória da PEEP + pres- são de platô + pressão resistiva das vias aéreas. • Manter a PPico < 45 cm H2O. • Normalmente, é mostrada no ventilador no canto superior esquerdo como PPeak. Pressão de platô (PPlat): pressão medida quando não há fluxo de ar no sistema, durante uma pausa ins- piratória, sem movimento de ar passando por paredes do sistema e gerando pressões resistivas. Relata a pres- são uniformemente distribuída em todo sistema res- piratório, inclusive nos alvéolos. Representa a pressão alveolar. • Manter a PPlat < 28 a 30 cm H2O. • Definida pelo ventilador após a manobra de pau- sa inspiratória por 2 segundos. • Normalmente, aparece na tela do monitor como Ppl. Driving pressure (DP): pressão necessária para reali- zar o drive respiratório, ou seja, para ventilar os alvéolos funcionantes, elevando a pressão da PEEP (pressão ba- sal do sistema) até a PPlat, que é a pressão de distensão alveolar. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 48 • DP = Pplat – PEEP. Um platô de 24 com uma PEEP de 10 resulta em uma DP de 14. • Meta da DP ≤ 15 cm H2O para ventilação protetora. Complacência pulmonar estática (Cest): capacidade do tecido pulmonar (que é elástico) de se distender para acomodar o ar insuflado em suas vias. Quanto maior a capacidade daquele pulmão de se distender, menor será a pressão necessária para que isso ocorra; por isso, ela é inversamente proporcional à driving pressure. Quan- to mais volume insuflado em uma inspiração, maior a distensão; por isso, ela é diretamente proporcional ao volume Corrente (Vt). Logo: • Cest = Vt / DP; ou • Cest = Vt / PPlat – PEEP. • Alguns ventiladores, ao fazermos a manobra de pausa inspiratória, mostram a Cest na tela, mas nem sempre de forma correta. Para calcular cor- retamente, anote a driving pressure e o volume corrente, e, então, calcule pela fórmula. • Em alguns ventiladores, pode vir representada como Cstat (nomenclatura em inglês). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 49 Figura 26 6.2.2 Após a IOT, proceder à titulação de PEEP. Como fazer? O que você vai precisar? • Papel e caneta. • Capnógrafo instalado no paciente. • Oxímetro de pulso. • Pressão arterial invasiva. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 50 Subindo a PEEP • Ajustar em 6 mL/kg de Vt e subir 2 pontos de PEEP a cada 30 segundos, atentando para a PPico e PPlat, para não ultrapassar os limites descritos anteriormente. • Caso aumente a PPico ou PPlat, reduzir ovolume corrente (de 6 para 5,5; 5,0; 4,5; 4.0 mL/kg), a fim de continuar subindo a PEEP, sem “estourar” as pressões. Definir a maior PEEP até chegar no platô máximo de 30 cm H2O. • Ao chegar neste PPlat, anotar todos os dados de mecânica ventilatória, EtCO2 e SpO2. Descendo a PEEP • Após chegar nesse valor máximo de PPlat, decre- mentar a PEEP de 2 em 2 pontos a cada 2 minu- tos, realizando pausas inspiratórias ao final desse tempo e anotando os parâmetros da mecânica (PPlat, Cest, DP), a EtCO2 e a SpO2. • Encontrar a melhor PEEP, que é aquela que apre- senta consigo a melhor Cest mantendo a DP em parâmetros protetores (< 15). Ao definir a melhor PEEP, ajustar sempre com 2 pontos acima (melhor PEEP de 10, deixar em 12). • Anotar a mecânica respiratória e repassar essa anotação para o prontuário/passagem de plantão. Pioras súbitas na mecânica ventilatória podem ter várias causas, entre elas, mobilização no leito, embolia maciça, intubação seletiva, pneumotórax hipertensivo. Piora lenta porém progressiva da mecânica pode significar fibrose pulmonar secun- dária à SDRA. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 51 6.3 Quais as metas de oxigenação? Na prática diária nas emergências ou UTIs, é um conceito equivocado acreditar que os parâmetros da gasometria arterial, em especial a pressão parcial de oxigênio (pO2), é mais importante que a SpO2 vista no oxímetro de pulso. O conteúdo arterial de oxigênio, que é o que real- mente importa para o “delivery” de oxigênio para as cé- lulas, tem a seguinte fórmula: CaO2 = (pO2 x 0,0031) + (SpO2 x Hb x 1,34) Por essa fórmula, a pO2 (que significa a pressão de oxigênio diluída no plasma, que não está nas hemácias sob a forma de oxiemoglobina) contribui muito me- nos para o conteúdo arterial do que a SpO2 e a taxa de hemoglobina. Logo, desde que não haja fatores que a alterem, para a maioria dos nossos pacientes em terapia intensiva, a curva de dissociação da oxiemoglobina correlaciona-se, de forma previsível, com a pressão parcial de O2 vista na gaso (Figura 27). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 52 Figura 27 - Curva de dissociação de oxiemoglobina. Percebam que uma pO2 de 60 mmHg se relaciona com uma SpO2 de 90% em condições de pH na faixa do normal. Quanto mais ácido é o plasma, mais pO2 é ne- cessário para manter a mesma saturação, evidencian- do menor afinidade da hemoglobina pelo oxigênio (ela abandona fácil o O2). Quanto mais alcalino é o plasma , uma pO2 menor demonstra uma SpO2 maior, às custas de maior afinidade da hemoglobina (Hb) pelo oxigênio, ou seja, a Hb dificilmente abandona o O2, prejudicando a entrega aos tecidos. Em janeiro de 2021, o estudo HOT-ICU (Schjørring Ol, et al., 2021) tentou provar que menos oxigênio levaria à menor mortalidade na terapia intensiva, ao comparar metas de pO2 de 60 mmHg com metas de 90 mmHg. Ao final, o estudo foi negativo, ou seja, não conseguiu provar sua hipótese. Entretanto, deixou um recado im- portante: de que a mortalidade entre essas duas metas UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 53 é equivalente. Então, no cotidiano da UTI, a meta é ga- rantir uma pO2 acima de 60, mantendo os parâmetros da ventilação protetora. Em pacientes gestantes, utilizamos uma meta de oxi- genação de 95% de SpO2 e pCO2 máxima de 45 mmHg. Valores mais baixos de SpO2 e mais altos de paCO2 po- dem estar associados a sofrimento fetal, o que constitui urgência obstétrica. 6.4 Paciente saturando mal - e agora? Muitas vezes, após a intubação de pacientes com sín- drome de aflição respiratória aguda (ARDS1) decorrente da covid-19, podem ocorrer quadros em que a satura- ção de O2 se mantém ruim, mesmo com altas taxas de FiO2. Deve-se considerar que a fisiopatologia da ARDS expressa efeito shunt2 em boa parte do pulmão, cujas áreas mais perfundidas (notadamente bases pulmona- res) estão com os alvéolos fechados, cheios de líquido, comprimindo as regiões gravidade-dependentes, en- quanto as áreas menos perfundidas, notadamente ápi- ces e regiões anteriores, ficam hiperaeradas, uma vez que estão submetidas a menos pressão, gerando o cha- mado efeito espaço morto, com consequente desbalan- ço na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que acaba gerando hipoxemia severa. Nesse sentido, em casos de hipoxemia refratária, 1 Acute respiratory distress syndrome. 2 Shunt é o termo utilizado para descrever o sangue que entra no leito arterial sistêmico sem passar pelas áreas ventiladas do pulmão, levando à redução da pressão arterial parcial de oxigênio (PaO2). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 54 podemos recorrer à manobra conhecida como posição prona,3 na qual as pressões na superfície corporal são mais bem distribuídas, a partir da migração do colapso das áreas mais dependentes, favorecendo a aeração das áreas mais perfundidas, o que resulta em consequente melhora da hipoxemia. 6.5 Quando indicar a manobra de prona? • Relação P/F < 150. • FiO2 ≥ 60%. • Pode ser considerada também em casos de hiper- capnia severa. 6.6 Quando contraindicar a posição prona e quais as complicações? Tabela 3 Complicações da posição prona Deslocamento de Sondas, cateteres e Drenos Edema facial ou periorbital Necessidade de aumento da sedação Úlceras de pressão 3 Posição em decúbito ventral que se coloca o paciente quando ocorre a síndrome do desconforto respi-ratório agudo (SDRA). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 55 Tabela 4 Contraindicações da posição Prona Lesões instáveis da Coluna Vertebral Trauma de crânio com elevação importante da pres- são intracraniana Arritmias cardíacas graves, que possam requerer des- fibrilação ou ressuscitação cardiopulmonar Infecção grave de partes moles ou abdominal 6.7 Quando interromper a manobra de posição prona? • Após 16 a 20h em pacientes respondedores. • Em pacientes que mantêm a relação P/F > 150 usando FiO2 de 60% com PEEP de, pelo menos, 10 cm H2O após 4h da última supina. • Queda da relação P/F maior que 20% em compa- ração com a relação da posição supina. • Complicações durante a posição prona, como arritmias instáveis, lesões, entre outras. 6.8 Como realizar a manobra de posição prona? a. Com o paciente em posição supina (Figura 28), colocar protetores de pressão nas áreas de maior pressão e contato (ombros, joelhos, mamilos e rosto). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 56 b. Posicionar os coxins em região da cintura escapular e da cintura pélvica. Observação: alguns artigos contraindicam a utilização de coxins; portanto, para avaliar sua manuten- ção, recomenda-se consultar e seguir o pro- tocolo de cada UTI, bem como certificar-se de que o paciente esteja em posição confortável. c. Com o paciente em posição supina (Figu- ra 28), fazer um “envelope” com travessas (lençóis) abaixo do paciente e por cima dos coxins, com a equipe segurando de ambos os lados, juntando as travessas superiores e inferiores na mão. d. Posicionar o médico ou o fisioterapeuta na cabeceira do leito, pois ele é o responsável por manter a estabilização cervical e pela manutenção do tubo endotraqueal e dos cateteres. e. Fazer movimento em 3 tempos: i. Puxar paciente para o lado contralateral ao movimento de prona. ii. Elevar o dorso do paciente, de modo que fique deitado de lado, mantendo-o a 90° em relação ao leito (Figura 29). Nesse momento, a equipe troca de mãos. iii. Pronar o paciente (Figura 30). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 57 Figura 28. Paciente em posição supina. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 58 Figura 29. Paciente posicionado de lado, a 90° em relação ao leito. Troca de mãos. Crédito: Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 59 Figura 30. Paciente pronado. Crédito:Sergio Roberto S. Fonseca (fotógrafo). UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 60 Atenção • Titular a PEEP preferencialmente após a posição prona, pois é o momento que os pulmões do pa- ciente estão submetidos a menos efeito shunt. • Sempre que possível, manter a PEEP titulada na posição prona, mesmo após supinar o paciente. • Após a prona, é possível realizar o desmame da FiO2 sem a necessidade de gasometrias arteriais repetidas, sempre com a meta de SpO2 acima de 92%, enquanto se desmama para o menor nível de FiO2 possível. Após estabilização no menor ní- vel de FiO2 para garantir uma SpO2 acima de 92%, coleta-se nova gasometria arterial. 6.8.1 - Hipoxemia refratária - e agora? Óxido nítrico inalatório O óxido nítrico (NO) inalatório é um potente vasodi- latador seletivo. O intuito do tratamento é o potencial efeito de melhorar o fluxo sanguíneo regional em áreas bem ventiladas, com consequente melhora da relação ventilação/perfusão (V/Q), principalmente nos porta- dores de covid-19 que cursam com shunt significativo secundário, muitas vezes, ao mecanismo de vasocons- trição hipóxica. A aplicação do NO inalatório pode favorecer imedia- tamente a oxigenação e estimular eventual redução na pressão arterial pulmonar. Até o presente momento, os estudos publicados sobre síndrome do desconfor- to respiratório agudo (SDRA) falharam em demonstrar UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 61 desfechos clínicos mais otimistas, como decréscimo da mortalidade e diminuição dos tempos de ventilação mecânica, de UTI e de internação hospitalar. Apesar da falta de evidências, o NO inalatório tem sido recomendado na hipoxemia refratária. Durante a epidemia de SARS-CoV-1, ocorrida em 2002, um peque- no estudo chinês a respeito do uso de NO inalatório, uti- lizado em dose inicial de 20 ppm no primeiro dia, segui- da por 15 ppm no segundo dia e 10 ppm no terceiro dia, constatou melhora na oxigenação no grupo que utilizou NO inalatório, em compraração com o grupo controle. Nesse contexto, a recomendação é utilizar o NO ina- latório em pacientes com covid-19 e evidências de SDRA e que apresentam relação PaO2/FiO2 < 150. Acredita-se que o benefício maior ocorra em pacientes de perfil H (baixa complacência) e naqueles com evidência de hi- pertensão pulmonar. 6.8.2. Oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) A oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) é um sistema de oxigenação através de uma membrana extracorpórea, que visa a oxigenar o sangue nos casos de hipoxemia refratária. Pode ser venovenosa (ECMO VV), quando existe apenas disfunção pulmonar, ou ve- noarterial (ECMO VA), quando há choque associado e necessidade de assistência ventricular. No caso específico da covid-19, o sistema mais co- mumente utilizado é a ECMO VV. A ECMO VV consiste em um sistema de dois acessos venosos, calibrosos, por onde o sangue é drenado da veia cava (superior ou inferior), é sugado por uma bom- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 62 ba, passa por uma membrana de oxigenação e é devol- vido oxigenado ao átrio direito. Esse “pulmão artificial” promove a troca gasosa (oxigenação e remoção de CO2), permitindo que o pulmão do paciente “repouse”, uti- lizando menos FiO2, menor volume corrente e menor frequência respiratória; dessa forma, reduz a lesão pul- monar induzida pela ventilação (VILI; ventilation-indu- ced lung injury). Indicações de ECMO As indicações da ECMO podem ser divididas, didati- camente, em quatro categorias: 1. Insuficiência respiratória hipoxêmica: VV. 2. Insuficiência respiratória hipercápnica: VV. 3. Choque cardiogênico: VA. 4. Parada cardíaca: VA. Vamos focar nas indicações de ECMO VV, em que PaO2 = pressão parcial de oxigênio no sangue arterial; FiO2 = fração inspirada de oxigênio; FR = frequência res- piratória; e PD = pressão de distensão. Insuficiência respiratória hipoxêmica (causa primária ou secundária) • PaO2/FiO2 < 100, com FiO2 > 90% e/ou escore de Murray 3 a 4 (Tabela 5), por mais de 6h. • PaO2/FiO2 < 80, com FiO2 > 80% por mais de 3h. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 63 Insuficiência respiratória hipercápnica • pH ≤ 7,20 com FR de 35 irpm, volume corrente de 4 a 6 mL/kg de peso predito. E • PD ≤ 15 cm H2O. ECMO como ponte para transplante pulmonar A ECMO pode ser utilizada como ponte para trans- plante pulmonar. Tabela 5 - Escore de Murray - lesão pulmonar Escore de Murray- Lesão Pulmonar Raio X de Tórax Escore de Hipoxemia Sem consolidação Alveolar - 0 pontos PaO2/FIO2 ≥ 300 - 0 pontos Consolidação 1 quadrante - 1 ponto PaO2/FIO2 - 225-299 - 1 ponto Consolidação 2 quadrantes - 2 pontos PaO2/FIO2 - 175-224 - 2 pontos Consolidação 3 quadrantes- 3 pontos PaO2/FIO2 - 100-174 - 3 pontos Consolidação 4 quadrantes- 4 pontos PaO2/FIO2 <100 - 4 pontos PEEP Complacência pulmonar Até 5 cm H2O - 0 pontos Acima de 80 mL/cm H2O - 0 pontos 6 - 8 cm H2O - 1 ponto 60 a 79 mL/cm H2O - 1 ponto UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 64 9 - 11 cm H2O - 2 pontos 40 a 59 mL/cm H2O - 2 pontos 12 - 14 cm H2O - 3 pontos 20 a 39 mL/cm H2O - 3 pontos > 15 cm H2O - 4 pontos Menor que 9 mL/cm H2O - 4 pontos Fonte: adaptada de Chaves et al., 2019. O escore final é obtido calculando a média dos 4 pa- râmetros, variando de zero a 4: • zero = sem lesão; • 0,1 a 2,5 = lesão pulmonar leve a moderada; • > 2,5 = lesão pulmonar grave. 6.9 Desmame da ventilação mecânica O desmame da ventilação mecânica invasiva (VMI) é o processo de retirada do suporte ventilatório. Os pacientes cuja doença evoluiu com a forma mais gra- ve da covid-19 podem se apresentar mais hipoxêmicos, fazerem uso de ventilação mecânica por tempo prolon- gado e necessitarem de parâmetros ventilatórios mais elevados. De todo modo, preconiza-se a realização de avaliação diária da possibilidade de progredir a ventilação mecâ- nica para uma modalidade de ventilação espontânea. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 65 6.9.1 Considerações da condição clínica do doente • Nível de consciência adequado (escala de coma de Glasgow ≥ 8). • Presença de drive ventilatório. • Oxigenação adequada: PaO2 60 mmHg com FiO2 ≤ 0,40 e PEEP < 103. • Estabilidade hemodinâmica: pressão arterial média ≥ 60 mmHg sem necessidade de vasopres- sores (ou em doses baixas). • Ausência de secreções excessivas (p.ex., mais do que uma aspiração a cada 2 horas). • Capacidade de proteção de vias aéreas: pico de fluxo expiratório > 60 L/min. • Não apresentar suspeita de edema de vias aéreas. 6.9.2 Uso de preditores simples Preditores simples, listados a seguir, devem ser cal- culados apenas em situações de difícil decisão, e não como um instrumento isolado na tomada de decisão para se realizar o teste de respiração espontânea (TRE). • Índice de ventilação superficial rápida (IVSR), obti- do pela divisão da frequência respiratória (f) pelo volume corrente (f/VC). • Índice de desmame integrado (integrative wea- ning index [IWI]). • Parâmetros como pressão inspiratória máxima (PIMAX) e pico de fluxo de tosse. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 66 6.9.3 Teste de respiração espontânea (TRE) em ventilação com suporte pressórico (PSV) Ajustar o ventilador mecânico na modalidade PSV com parâmetros ventilatórios mínimos: pressão de su- porte (PS) 5 a 7 cm H2O, PEEP 5 a 8 cm H2O, FiO2 ≤ 40%. Os parâmetros não devem ser elevados durante o teste. Se for necessário o aumento da FIO2 ou PS, in- terromper o teste e considerar como falha. Para casos selecionados, é possível fazer o TRE com PS mais baixa ou no modo CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas). Durante os 30 minutos do teste, o fisioterapeuta de- verá observar os parâmetros respiratórios e hemodinâ- micos do paciente e, caso ocorra algum critério de falha, deve interromper o teste e retornar à ventilação mecâ- nicainvasiva (VMI) com os parâmetros anteriormente ajustados. Ao observar algum dos seguintes critérios de falha, interromper o TRE: • Frequência respiratória > 35 irpm (para pacientes com doença pulmonar prévia, avaliar o valor de corte caso a caso). • SpO2 < 90%. • Frequência cardíaca > 140 bpm ou aumento de 20% do basal. • Pressão arterial sistólica > 180 mmHg ou aumento de 20% do basal ou < 90 mmHg. • Agitação, sudorese e/ou alteração de nível de consciência. • Sinais de desconforto respiratório (uso de muscu- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 67 latura acessória, padrão paradoxal, batimento de asa de nariz). Se houver falha no TRE, retornar à VMI, resetar os parâmetros de acordo com o conforto do paciente e procurar identificar causas da falha, a fim de realizar possíveis correções. Aguardar o dia seguinte para nova tentativa, caso o paciente continue a preencher os cri- térios de desmame. Se o TRE for bem-sucedido, o fisioterapeuta deve dis- cutir o caso com a equipe multiprofissional, para que tomem decisão acerca da extubação. As indicações para realização do teste de permeabi- lidade de vias aéreas (cuff leak test) antes da extubação incluem: • intubação traqueal prolongada; • intubação difícil; • relato de trauma e lesão de vias aéreas; • lesão inalatória; • falha prévia de extubação associado a edema de vias aéreas. Referências ARDS Definition Task Force, Ranieri VM, Rubenfeld GD, Thompson BT, Ferguson ND, Caldwell E, Fan E, et al. Acute respiratory distress syndrome: the Berlin definition. JAMA Journal of the American Medical Association. 2012 Jun;307(23):2526-2533. doi. org/10.1001/jama.2012.5669. PMID: 22797452. Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Orientações sobre o manuseio do paciente com pneumonia e insuficiência http://doi.org/10.1001/jama.2012.5669 http://doi.org/10.1001/jama.2012.5669 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 68 respiratória devido a infecção pelo coronavírus (SARS-CoV-2) – Versão n. 05/2020. Disponível em: https://www.amib.org. br/fileadmin/user_upload/amib/2020/abril/24/Orientac__o__ es_para_o_Manuseio_do_paciente_com_coronavirus_-V6_ Junho_2020.pdf. Acesso em: 27 jul. 2021. Chaves RCF, Rabello Filho R, Timenetsky KT, Moreira FT, Vilanova LCDS, Bravim BA, et al. Oxigenação por membrana extracorpórea: revisão da literatura. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2019 Oct 14;31(3):410-424. doi.org/10.5935/0103-507x.20190063. PMID: 31618362; PMCID: PMC7005959. Chen L, Liu P, Gao H, Sun B, Chao D, Wang F, et al. Inhalation of nitric oxide in the treatment of severe acute respiratory syndrome: a rescue trial in Beijing. Clinical Infectious Diseases. 2004 Nov;39(10):1531-1535. 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In: Schettino G, Cardoso LF, Mattar Junior J, Ganem F (eds.). Paciente crítico: diagnóstico e tratamento. 2.ed. Barueri: Manole, 2010. Schjørring OL, Klitgaard TL, Perner A, Wetterslev J, Lange T, Siegemund M, et al.; HOT-ICU Investigators. Lower or higher oxygenation targets for acute hypoxemic respiratory failure. New England Journal of Medicine. 2021 Apr 8;384(14):1301-1311. Epub 2021 Jan 20. doi.org/10.1056/nejmoa2032510. PMID: 33471452. Scholten EL, Beitler JR, Prisk GK, Malhotra A. Treatment of ARDS with prone positio-ning. Chest. 2017 Jan;151(1):215-224. Epub 2016 Jul 8. doi.org/10.1016/j.chest.2016.06.032. PMID: 27400909; PMCID: PMC6026253. http://doi.org/10.1056/nejmoa2032510 http://doi.org/10.1016/j.chest.2016.06.032 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 70 7. Desmame difícil de sedação e controle do delirium Muitos pacientes infectados com o novo coronavírus (covid-19) podem apresentar despertares difíceis da ventilação mecânica por conta de delirium. O delirium pode ser uma manifestação decorrente de: invasão di- reta do sistema nervoso central (SNC), indução de me- diadores inflamatórios do SNC, um efeito secundário de falha de outro sistema de órgãos, um efeito de estraté- gias sedativas, tempo prolongado de ventilação mecâ- nica ou fatores ambientais, incluindo isolamento social (Kotfis et al., 2020). Nesses pacientes, é mandatório o rastreio ativo de delirium, por meio do uso de ferramentas de avaliação como a escala confusion assessment method in a inten- sive care unit (CAM-ICU). Em pacientes que necessitam de suporte de ventila- ção mecânica, esse quadro pode se agravar, dificultan- do o desmame e prolongando o tempo de ventilação. As taxas de delirium entre as populações de UTI meca- nicamente ventiladas foram consistentemente de 70 a 75%, e a duração do delirium tem se mostrado, também consistentemente, um preditor independente de longos UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 71 períodos de internação, maior mortalidade, maior custo de atendimento e taxas alarmantes de demência adqui- rida que dura anos após a doença (Kotfis et al., 2020). A Society of Critical Care Medicine (SCCM) propõe um bundle (pacote de medidas) para o manejo do deli- rium, conforme apresentado na Tabela 6. Caso não haja sucesso no controle do delirium por meio de medidas não farmacológicas, deve-se avaliar a necessidade de instituir medidas farmacológicas, visan- do também um bom resultado no desmame da venti- lação mecânica. Em nosso serviço, damos preferência ao controle com dexmedetomidina endovenosa, em vir- tude de sua curta meia-vida e facilidade de desmame; porém, neurolépticos enterais podem ser necessários. As doses utilizadas são: • Dexmedetomidina: 0,2 a 1,4 mcg/kg/min; • Haloperidol: 5 mg EV em bolus, repetir a cada 30 minutos até atingir sedação leve; • Quetiapina: 12,5 a 100 mg via oral/ sonda naso- enteral (VO/SNE), até a cada 8h (dose máxima entre 300 e 400 mg); • Risperidona: 0,5 a 2 mg VO/SNE, a cada 12h. Atenção Contenção mecânica dos pacientes em delirium hi- perativo deve ser usada apenas em último caso, quando o controle químico do delirium ainda não foi eficaz e o paciente se coloca em risco pelaagitação. Conter os pa- cientes no leito agrava o quadro de delirium e deve ser evitado sempre que possível. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 72 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 73 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 74 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 75 Referência Kotfis K, Williams Roberson S, Wilson JE, Dabrowski W, Pun BT, Ely EW. Covid-19: ICU delirium management during SARS- CoV-2 pandemic. Critical Care. 2020;24:176. doi.org/10.1186/ s13054-020-02882-x. http://doi.org/10.1186/s13054-020-02882-x. http://doi.org/10.1186/s13054-020-02882-x. http://doi.org/10.1186/s13054-020-02882-x UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 76 8. Tratamentos 8.1 Corticoterapia Preferencialmente em pacientes internados em UTI, em se tratando de doença grave, a opção de corticote- rapia que utilizamos é: metilprednisolona EV, na dose de 1 mg/kg/dia, dividido em 2 tomadas, por 10 dias. A escolha da metilprednisolona por nosso serviço é justificada por ela ser um dos corticosteroides já consa- grados no tratamento da SDRA e por ter boa penetração no tecido pulmonar, além de a literatura apresentar evi- dências consistentes de seu uso. Trials recentes publi- cados sobre SDRA no contexto da covid-19 constataram benefício no uso dessa classe de medicamentos, seja da hidrocortisona, metilprednisolona ou dexametaso- na. Estudos observacionais mais recentes indicam uma possível superioridade da metilprednisolona, em com- paração com a dexametasona, no contexto da SDRA por covid-19. Em caso de desprovimento de metilprednisolona, pode-se optar, nessa ordem de prioridade, pela dexa- metasona 20 mg/dia (Codex trial), dexametasona 6 mg/ UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 77 dia (Recovery trial), hidrocortisona 200 mg/dia (CAPE Covid, REMAP-CAP) – as duas primeiras são as doses mais usualmente utilizadas em nosso serviço. Em gestantes, caso seja necessário realizar matura- ção pulmonar fetal (risco de resolução da gestação em até 7 dias e idade gestacional de 24 a 34 semanas), po- demos lançar mão da dose de 6 mg, 2 vezes/dia, por 48h de dexametasona. Após os 2 dias, em dose de ma- turação pulmonar fetal, preferimos a metilprednisolo- na para essa população, pois não atravessa a barreira placentária. Ressalta-se que a administração da corticoterapia não deve ocorrer antes de 7 dias da instalação da doen- ça, visto que, inicialmente, ela pode favorecer a replica- ção viral, piorando a gravidade da doença. Entretanto, está indicada em todo paciente que necessita de supor- te adicional de oxigênio, seja através de cateter de baixo fluxo ou de máscara. 8.2 Outros imunomoduladores 8.2.1 Inibidores de interleucina-6 Tocilizumabe - ineficaz como monoterapia. O benefício do tocilizumabe foi demonstrado quan- do associado ao uso de corticoide (dexametasona). A dose utilizada de tocilizumabe variou de 400 a 800 mg, de acordo com o peso do paciente. O momento de iniciar o tratamento seria antes da UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 78 necessidade de O2 em fluxos mais altos, em que são recomendadas de 1 a 2 doses, com intervalo entre 12 e 24h, sempre definida em conjunto com a equipe de infectologia. Dois estudos publicados recentemente no New England Journal of Medicine mostraram resultados conflitantes: 1. O estudo COVACTA não demonstrou nem melhora do estado clínico nem diminuição de mortalidade em 28 dias em pacientes tratados com tocilizu- mabe, em comparação com o grupo placebo. 2. O estudo REMAP-CAP demonstrou que o trata- mento com inibidores da Interleucina-6 (IL-6), no caso, tocilizumabe ou sarilumabe, melhorou alguns desfechos (número de dias sem suporte orgânico, mortalidade intra-hospitalar e mortali- dade geral em 90 dias). Em resumo, se existir algum benefício, ocorre quan- do o uso de tocilizumabe é iniciado de forma precoce (logo antes da transferência para a UTI) e apenas quan- do associado ao corticoide. São necessários novos estu- dos para maiores esclarecimentos. 8.2.2 Inibidor do fator de necrose tumoral (TNF) Etanercept Algumas sociedades de Reumatologia sugerem in- cluir no tratamento medicamentoso da covid-19 o ini- bidor do fator de necrose tumoral (TNF) etanercept, visto que alguns pacientes com doença inflamatória intestinal apresentam melhor resposta após o seu uso. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 79 No entanto, até o presente momento, faltam evidências cientificamente comprovadas que justifiquem, de fato, seu uso no tratamento da covid-19. 8.3 Anticoagulação Considerando que ainda não encontramos nenhum trial com número expressivo de pacientes sobre a indi- cação de anticoagulação plena ou dose intermediária e que mostrasse resultados melhores quando comparado a doses de profilaxia, sugerimos dose profilática de an- ticoagulação: enoxaparina 40 mg subcutânea (SC), 1x/ dia. Atenção Se ClCr < 30, administrar heparina não fracionada 5.000 UI SC 8/8h. Em alguns grupos especiais, como gestantes, puér- peras e IMC > 40, consideraremos enoxaparina 60 mg/ dia ou HNF 10.000 UI 12/12h. Se houver algum evento tromboembólico ou trom- boembolismo pulmonar (TEP) presumido, seguimos a indicação de anticoagulação plena. Referências Angus DC, Derde L, Al-Beidh F, Annane D, Arabi Y, et al. Effect of hydrocortisone on mortality and organ support in patients with severe covid-19: The REMAP-CAP covid-19 corticosteroid domain randomized clinical trial. JAMA. Journal of the American Medical Association. 2020 Oct;324(13):1317-1329. doi.org/ 10.1001/ jama.2020.17022. PMID: 32876697. PMCID: PMC7489418. http://doi.org/ 10.1001/jama.2020.17022 http://doi.org/ 10.1001/jama.2020.17022 UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 80 RECOVERY Collaborative Group, Horby P, Lim WS, Emberson JR, Mafham M, Bell JL, Linsell L, et al. Dexamethasone in hospitalized patients with covid-19. New England Journal of Medicine. 2021 Feb;384(8):693-704. Epub 2020 Jul 17. doi.org/10.1056/ nejmoa2021436. PMID: 32678530. PMCID: PMC7383595. Ko JJ, Wu C, Mehta N, Wald-Dickler N, Yang W, Qiao R. A comparison of methylprednisolone and dexamethasone in intensive care patients with covid-19. Journal of Intensive Care Medicine. 2021 Jun;36(6):673-680. Epub 2021 Feb 25. doi. org/10.1177/0885066621994057. PMID: 33632000. Tortajada C, Colomer E, Andreu-Ballester JC, Esparcia A, Oltra C, Flores J. Corticosteroids for covid-19 patients requiring oxygen support? Yes, but not for everyone: Effect of corticosteroids on mortality and intensive care unit admission in patients with covid-19 according to patients’ oxygen requirements. Journal of Medical Virology. 2021 Mar;93(3):1817-1823. Epub 2020 Nov 10. doi.org/10.1002/jmv.26635. PMID: 33107607. Suleyman G, Fadel RA, Malette KM, Hammond C, Abdulla H, Entz A, et al. 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Para intubação, as gestantes devem ser consi- deradas sempre como “estômago cheio”, em razão do aumento do volume abdominal e da gastroparesia. 3. Gestantes também devem ser consideradas sem- pre como “via aérea difícil”, em razão do edema. A classificação de Cormack-Lehane tende a piorar com a evolução do trabalho de parto. 4. Gestantes têm necessidades metabólicas mais UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 83 altas. A hipoxemia materna pode causar lesões irreversíveis no feto e, até mesmo, óbito. Des- sa forma, devemos ser menos tolerantes com a hipoxemia, e foi estipulada uma meta de SpO2 materna acima de 95%. 5. Fetos com menos de 20 semanas são considera- dos inviáveis, e o tratamento deve focar exclusiva- mente na mãe. 6. Em fetos com mais de 20 semanas, temos dois pacientes: mãe e feto. Ainda assim, o tratamento deve ser focado primariamente na mãe, até o feto alcançar uma idade gestacional que permita a sobrevivência fora do ambiente uterino. 7. Em fetos viáveis (a idade gestacional para isso varia de acordo com a experiência do serviço de neonatologia da instituição), deve-se pensar em interromper a gestação quando houver risco materno iminente ou sofrimento fetal, sendo fundamental a presença da equipe de Obstetrícia. A cardiotocografia e o ultrassom fetal devem ser frequentemente repetidos, a fim de determinar o momento mais adequado para o parto. Todas as pacientes com covid-19 moderado e grave já devem estar em uso de corticoide, de forma que a maturação pulmonar fetal não deve ser um pro- blema. Em casos leves, iniciar corticoide se hou- ver o planejamento de interrupção da gestação. 8. A gravidez NÃO contraindica o uso da posição prona. 9. Em casos selecionados, a tomografia de impedân- cia elétrica pode ser usada na monitorização da ventilação. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 84 Apêndice 1 - Medicações mais usadas e suas diluições A – Vasopressores (ministrar em cateter central, exceto pela dopamina) 1. Noradrenalina (ampola = 4 mL, 1 mg/mL): a. Diluir 4 ampolas (16 mL) em 234 mL de SG 5% - diluição = 64 mcg/mL. b. Volume 250 mL. c. Dose: 0,01 a 3 mcg/kg/min. 2. Vasopressina (ampola = 1 mL, 20 UI/mL): a. Diluir 2 ampolas (40 UI) em 98 mL de SF 0,9% - diluição = 0,4 UI/mL. b. Volume 100 mL. c. Dose: 0,01 a 0,04 UI/min. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 85 3. Dopamina (ampola = 10 mL, 5 mg/mL): a. Diluir 5 ampolas (250 mg) em 200 mL de SG 5% - diluição = 1.000 mcg/mL. b. Volume 250 mL. c. Dose: 5 a 10 mcg/kg/min (efeito beta-agonista). d. Dose: > 10 mcg/kg/min (efeito alfa-agonista - vasopressor). 4. Adrenalina (ampola = 1 mL, 1 mg/mL): a. Diluir 5 ampolas (5 mg) em 95 mL de SG 5% - diluição = 50 mcg/mL. b. Volume 100 mL. c. Dose: 0,05 a 1 mcg/kg/min. B – Inotrópicos 1. Dobutamina (ampola = 20 mL a 12,5 mg/mL = 250 mg): a. Diluir 20 mL em 80 mL de SG 5% - diluição = 2.500 mcg/mL. b. Volume 100 mL. c. Dose: 5 a 20 mcg/kg/min. Obs.: também é um vasodilatador. 2. Milrinone (ampola 20 mL, 1 mg/mL): a. Diluir 20 mL em 80 mL de SG 5% - diluição = UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 86 200 mcg/mL. b. Volume 100 mL. c. Dose: 0,375 a 0,75 mcg/kg/min. Obs.: dose máxima na insuficiência renal = 0,375 mcg/ kg/min. C – Vasodilatadores 1. Nitroprussiato de sódio (ampola 2 ml, 25 mg/mL). 2. Droga de escolha para emergências hipertensivas: a. Diluir 2 mL em 248 mL de SG 5% - diluição = 200 mcg/mL. b. Volume 250 mL; c. Dose: 0,5 – 8 mcg/kg/min. Obs.: • Deve ser mantido em equipo fotossensível. • Doses elevadas - intoxicação por cianeto, princi- palmente na insuficiência renal aguda (IRA). 3. Nitroglicerina (ampola 10 mL, 5 mg/mL) a. Diluir 10 mL em 240 mL de SG 5% - diluição = 200 mcg/mL. b. Volume 250 mL. c. Dose: 0,5 a 8 mcg/kg/min. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 87 D. Sedação e analgesia 1. Propofol (ampola 20 mL, 10 mg/mL): a. Sem diluição. Preparar 60 mL de droga pura. b. Dose: 25 a 200 mcg/kg/min. 2. Midazolam (ampola 10 mL, 5 mg/mL): a. Diluir 20 mL em 80 mL de SG 5% - diluição = 1 mg/mL. b. Volume 100 mL. c. Dose: 0,05 a 0,2 mg/kg/h. 3. Fentanil (ampola 10 mL, 50 mcg/mL): a. Sem diluição. Preparar 50 mL de droga pura. b. Dose: 25 a 200 mcg/h (0,5 a 4 mL/h). 4. Dexmedetomedina (ampola 2 mL, 100 mcg/ mL): droga de escolha para desmame de seda- ção quando há refratariedade ao tratamento do delirium. a. Diluir 4 mL em 96 mL de SF 0,9%. b. Volume 100 mL. c. Dose: 0,2 a 1,4 mcg/kg/h. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 88 E. Bloqueio neuromuscular 1. Cisatracúrio (ampola 10 mL, 2 mg/mL): dro- ga de escolha para manutenção do bloqueio neuromuscular. a. Dose recomendada: 1 a 2 mcg/kg/min, des- critos uso de até 10 mcg/kg/min, dose média de 0,5 a 1 ampola/h. b. 12 ampolas (240 mg) puro, sem diluição a cada 12 ou 24h. 2. Rocurônio (ampola de 5 mL, 10 mg/mL): a. Para intubação em sequência rápida: 1,2 mg/ kg, geralmente 2 ampolas. Início de efeito de 30 segundos a 1 minuto. b. Para manutenção: 0,01 a 0,012 mg/kg/min, dose média de 1 ampola/h. c. 24 ampolas (1.200 mg) puro, sem diluição. F. Reposição de eletrólitos 1. Potássio (KCl 19,1%, ampola de 10 mL = 25 mEq): manter acima de 4 mEq/L. a. Em veia profunda: diluir 20 mL em 230 mL de SF 0,9% e administrar em 2 horas. a. Em veia periférica: diluir 20 mL em 480 mL de SF 0,9% e administrar em 4 a 6 horas. Obs.: sempre que possível, iniciar também a reposi- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 89 ção por via oral com comprimidos de 600 mg 3x/dia ou via enteral com 10 mL de xarope a 6% de 8/8h. 2. Magnésio (sulfato de magnésio a 10%, ampola 10 mL): a. Diluir 20 mL em 180 mL de SF 0,9% e adminis- trar em 2 horas. b. Atenção para NÃO prescrever sulfato de mag- nésio a 50%. 3. Cálcio: a. Duas apresentações: gluconato de cálcio 10% e cloreto de cálcio 10%, ampolas com 10 mL. b. Diluir 10 mL em 90 mL de SF 0,9%, adminis- trar em 1 hora. c. No caso de pacientes hepatopatas, usar o cloreto de cálcio. Obs.: cloreto de cálcio não pode ser usado em infu- são rápida,administrar em 1 hora. 4. Fósforo: a. Diversas apresentações: fosfato monobásico, bibásico, glicerofosfato. Usar o glicerofosfato apenas quando houver hipercalemia. b. Apresentações de 10% e 50%. Prescrever SEMPRE a 10%. c. Diluir 10 mL em 240 mL de SF 0,9% e adminis- trar em 6 horas. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 90 Apêndice 2 - Checklist para mudança de posicionamento em prona/supina Figura 31 - Checklist para procedimento da técnica de Pronação Crédito: Arquivo pessoal de Maria Carmonas. UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 91 Sobre os coordenadores Luiz Marcelo Sá Malbouisson, MD, PhD Professor Livre-docente da FMUSP Orientador do Programa de Pós-graduação em Anes- tesiologia, Ciências Cirúrgicas e Medicina Perioperató- ria da FMUSP Especialista em Anestesiologia pela Sociedade Brasi- leira de Anestesiologia Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB Médico coordenador das UTIs Cirúrgicas da Divisão de Anestesia, da UTI de Emergência Cirúrgica da Divisão de Clínica Cirúrgica III e da UTI do Departamento de Gastroenterologia do HCFMUSP Maria José Carvalho Carmona, MD, PhD Professora-associada da Disciplina de Anestesiologia da FMUSP Diretora da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Coordenadora e orientadora do Programa de Pós-gra- duação em Anestesiologia, Ciências Cirúrgicas e Medi- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 92 cina Perioperatória da FMUSP Membro do Programa de Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica e de Processos Assistenciais Pe- rioperatórios da FMUSP Membro da Comissão de Inovação do Hospital das Clí- nicas (InovaHC) Presidente do Centro de Inovação Tecnológica do Ins- tituto Central do HCFMUSP (CITIC-InovaHC) Editora chefe do periódico Brazilian Journal of Anesthesiology Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB José Otávio Costa Auler Jr., MD, PhD Professor Titular da Disciplina de Anestesiologia da FMUSP Vice-coordenador do Programa de Mestrado Profis- sional em Inovação Tecnológica e de Processos Assis- tenciais Perioperatórios da FMUSP Supervisor do Programa de Residência Médica em Anestesiologia da FMUSP Coordenador das atividades de Anestesiologia do Complexo HC e da Terapia Intensiva Cirúrgica do Insti- tuto do Coração (InCor), do Instituto do Câncer do Es- tado de São Paulo (ICESP) e da UTI Cirúrgica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HC FMUSP Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 93 Sobre os autores Ana Paula de Carvalho Canela Balzi, MD Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Anes- tesiologia, Ciências Cirúrgicas e Medicina Perioperató- ria da FMUSP Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica pela AMIB Especialista em Neurointensivismo pelo Hospital Sírio-Libanês Médica intensivista diarista da UTI Cirúrgica Pediá- trica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Bruno Shigueru Yasumura, MD Especialista em Cirurgia Geral Especialista em Medicina Intensiva Adulto pela AMIB Médico intensivista diarista da UTI Cirúrgica da Divi- são de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 94 Catherine Cely Oliveira, Ft Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória e Te- rapia Intensiva pela Faculdade de Medicina do ABC Fisioterapeuta coordenadora da UTI Cirúrgica Pediá- trica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Fabiana Aliotti Regalio, MD Médica infectologista Médica assistente do Serviço de Controle de Infecção do Hospital do Instituto Central do HCFMUSP Médica plantonista da UTI Cirúrgica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Laína Bubach Carvalho, MD Médica infectologista; Médica assistente do Serviço de Controle de Infecção Hospital do Instituto Central do HCFMUSP; Médica plantonista da UTI Cirúrgica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP. Luiz Marcelo Sá Malbouisson, MD, PhD Professor Livre-docente da FMUSP Orientador do Programa de Pós-graduação em Anes- tesiologia, Ciências Cirúrgicas e Medicina Perioperató- ria da FMUSP Especialista em Anestesiologia pela Sociedade Brasi- UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 95 leira de Anestesiologia Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB Médico coordenador das UTIs Cirúrgicas da Divisão de Anestesia, da UTI de Emergência Cirúrgica da Divisão de Clínica Cirúrgica III e da UTI do Departamento de Gastroenterologia do HCFMUSP Paula Carolina Bombonati, MD Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Mi- sericórdia de São Paulo Especialista em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do HCFMUSP Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB Médica intensivista diarista da UTI Cirúrgica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Rossana Pulcineli Vieira Francisco, MD, PhD Professora-associada da Disciplina de Obstetrícia da FMUSP Vice-chefe do Departamento de Obstetrícia e Gineco- logia da FMUSP Presidente da Comissão de Pesquisa da FMUSP Presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) Chefe da Divisão de Obstetrícia e Ginecologia do Hos- pital Universitário (HU) da USP UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 96 Roberta Vieira da Silva Bento, MD Titulada em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica Especialista em Terapia Intensiva Adulto pelo Hospital Israelita Albert Einstein Médica intensivista diarista da UTI Cirúrgica da Divisão de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Médica intensivista diarista da UTI do Hospital do Mandaqui Sérgio Roberto Silveira da Fonseca, MD Especialista em Cardiologia pela Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência de São Paulo Especialista em Terapia Intensiva pelo Instituto do Co- ração (InCor) do HCFMUSP Médico intensivista diarista da UTI Cirúrgica da Divi- são de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Médico intensivista diarista da UTI do Hospital Mu- nicipal Vila Santa Catarina da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE) Thiago Henrique dos Santos Silva, MD, MSc Médico diarista da UTI Cirúrgica da Divisão de Aneste- sia do Instituto Central do HCFMUSP Médico da Equipe de Terapia Intensiva do Hospital Sírio-Libanês Mestre em Saúde Pública pela USP Médico de Família e Comunidade pelo Hospital das Clínicas da Universidade de Pernambuco (HC-UFPE) UTI COVID - Guia de sobrevivência para o médico plantonista 97 Victor Oliveira Novais, MD Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Mi- sericórdia de São Paulo Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva pelo Instituto do Coração (InCor) do HCFMUSP Médico intensivista diarista da UTI Cirúrgica da Divi- são de Anestesia do Instituto Central do HCFMUSP Prefácio 1. Introdução 2. Diagnóstico 3. Pré-admissão na UTI 4. Admissão na UTI 5. Protocolo de via aérea - covid-19 6. Paciente Intubado - e agora? 7. Desmame difícil de sedação e controle do delirium 8. Tratamentos 9. Particularidades no atendimento à paciente gestante Apêndice 1 - Medicações mais usadas e suas diluições Apêndice 2 - Checklist para mudança de posicionamento em prona/supina Sobre os coordenadores Sobre os autores