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Evangelho Segundo João


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1
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA 
LITERATURA JOANINA – 2012 
 Profª. Katia Rejane Sassi 
 
 
EVANGELHO SEGUNDO JOÃO 
 
Durante muito tempo o evangelho de João ficou esquecido por ser considerado espiritualista e 
pouco ligado à realidade e à história. Ultimamente estamos redescobrindo seu valor e sua força 
transformadora para o atual momento histórico. 
Os sinóticos tiram fotografias, João tira raio-X. Pode ainda ser comparado com uma 
tomografia ou com uma ressonância magnética, uma vez que estes exames mostram com maior nitidez 
o interior de nossos corpos. Ele tenta revelar na vida de Jesus uma dimensão escondida que a olho nu 
não se vê, mas que só a fé revela. Esta linguagem vai mais a fundo, revela o sentido, o significado que 
está além das palavras. 
O Quarto Evangelho é um evangelho refletido e comentado pelo próprio autor. Seus 
comentários induzem o leitor a superar o nível de narrativa, a reconhecer sentidos mais profundos no 
texto, a perceber o simbolismo e procurar um sentido de atualidade, em uma palavra, a interpretar o 
texto. 
 
AUTOR 
Não sabemos exatamente quem escreveu o Quarto Evangelho. Por trás de qualquer texto da 
Bíblia está sempre uma comunidade de fé. É uma obra coletiva como o deixam transparecer alguns 
trechos do livro (1,14.16; 21,24). Isto indica ser um grupo ou comunidade que recebeu um testemunho 
de alguém sobre Jesus. Este testemunho, desde o século II é chamado de João. Porém, é muito estranho 
que o líder da comunidade fosse um dos Doze discípulos, uma vez que os Doze aparecem raras vezes 
no evangelho e em situações pouco decisivas para progressão do mesmo (6,67-71). 
Na conclusão do evangelho lemos: “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e foi 
quem as escreveu; e sabemos que o seu testemunho era verdadeiro” (Jo 21,24). A autoria do evangelho 
é, assim, atribuída a um discípulo anônimo, conhecido como o discípulo que Jesus amava. 
Lázaro, Marta e Maria, representando a comunidade de Betânia, aparecem no evangelho como 
pessoas amigas, que Jesus amava (11,5.36). Este dado reforça a tendência atual de não considerar o 
Discípulo Amado como uma personalidade histórica individual, mas coletiva. Neste caso, na sua 
origem estaria a própria comunidade joanina. 
 
DATA E LOCAL 
O Quarto Evangelho é tido como aquele que levou mais tempo para encontrar a sua forma 
definitiva. Provavelmente no fim do 1º século que se deu a sua última redação. 
A obra levou vários anos para estar pronta. Vários também são os lugares onde ela foi sendo 
elaborada. É quase certo que começou na Palestina, lá onde ocorrem os acontecimentos narrados. 
Depois espalhou-se pela Judeia e Samaria. A partir da guerra judaico-romana as comunidades joaninas 
migraram para a Síria ou para a Ásia Menor. É provável que o Quarto Evangelho foi elaborado em 
Éfeso (Ásia Menor). 
 
OBJETIVO 
Jo 20,30-31 – O Evangelho foi escrito para narrar alguns sinais realizados por Jesus, que se 
tornaram significativos na história da comunidade, a fim de levar a própria comunidade e os leitores a 
crer em Jesus Cristo a participar da vida em seu nome. Pretende assim a integração entre FÉ e VIDA, a 
partir de SINAIS concretos. A palavra crer ou acreditar encontra-se 89 vezes neste evangelho. É 
interessante notar que nenhuma vez usam a palavra fé, tão comum nos Sinóticos e em Paulo. O objetivo 
 2
é mostrar que o ato de crer é algo dinâmico, é adesão à pessoa e ao projeto de vida de Jesus, tendo uma 
prática consequente. 
O anúncio da Boa Nova, narrada na forma de evangelho, foi escrito como uma forma de 
resistência, sobretudo, em duas situações decisivas para a vida da comunidade: contra os ataques 
vindos de fora (sinagoga judaica, gnosticismo, império romano) e para uma animação da comunidade 
que corre perigo de desagregação interna e perda da identidade. 
As comunidades estavam sendo influenciadas por interpretações errôneas sobre Jesus e sua 
doutrina. Na região da Ásia Menor crescia com maior força os movimentos religiosos como a religiões 
dos mistérios e a gnose. A doutrina gnóstica afirmava que a pessoa humana se salva graças a um 
conhecimento religioso especial, secreto e individual. Os gnósticos afirmavam-se iluminados e livres 
do pecado e das tentações do mundo. Não davam nenhuma importância à prática comunitária do amor 
ao próximo (13,17). O docetismo negava a encarnação do Filho de Deus. Afirmava a doutrina da 
aparente humanidade de Jesus. Era escândalo admitir que Deus tivesse assumido nossa condição 
humana. 
O Evangelho também critica pessoas das próprias comunidades que não assumiam publicamente 
sua fé em Cristo, talvez por causa da perseguição das autoridades. A insistência de Jesus na unidade é 
sinal de que havia divisões na comunidade (17,11.20-23). 
 
HISTÓRIA DA REDAÇÃO 
Por baixo da redação final do Quarto Evangelho escondem-se camadas mais antigas, que 
deixaram seu traço no texto atual. Algumas restituições: 
-um estágio inicial de pregação oral por um discípulo de Jesus, nos âmbitos judaicos e afins 
(Jerusalém, Galileia, Samaria, círculos batistas, diáspora), até a metade do século I. 
-Antes da destruição de Jerusalém (70 d.C) pode ter havido uma primeira redação escrita dessa 
pregação, que, além do anúncio de Jesus ressuscitado como Messias e Senhor, continha elementos de 
iniciação cristã e de explicações das Escrituras para membros já integrados. Este evangelho já tinha as 
feições específicas que o tornam diferente dos demais: os “sinais”, o simbolismo, a cristologia da cruz e 
da glória, a escatologia “inaugurada”. Os relatos dos feitos prodigiosos de Jesus são acompanhados – 
antes e depois – por diálogos ou discursos que dão o sentido do gesto de Jesus. 
-Depois da destruição do Templo, que ensejou a reestruturação do judaísmo (Jâmnia) nos anos 
80-100, situar-se-á a redação final da obra como chegou até nós, acentuando a referência à comunidade 
e seu conflito com o nascente judaísmo rabínico. À redação final parecem pertencer certas releituras e 
complementos (Jo 3,16-21.31-36; 6,51-58; 12,37-50; cap. 15-16, talvez o 17 e, provavelmente, o 
Prólogo). 
-Alguns retoques e o cap. 21 pertencem a um acabamento dado no momento em que o escrito 
foi posto em circulação entre as comunidades. Podemos suspeitar disso não apenas através da 
conclusão que temos (20,30-31), mas também pela linguagem e estilo. 
-O trecho 7,53-8,11, a perícope da adúltera, é ainda mais tardio; não está nos manuscritos mais 
antigos; foi inserida no século IV. 
 
O QUARTO EVANGELHO E OS SINÓTICOS 
João retoma os títulos cristológicos de Jesus que já se encontram nos Sinóticos. No entanto, 
considera-os insuficientes. Por isso, insiste em dizer que Jesus de Nazaré é o filho de Deus, a presença 
do próprio Deus entre nós. Jesus assume o nome de YHWH (8,24.28.58). Diz que é um como o Pai 
(10,30), que é sua própria encarnação (1,14). 
A maior parte do 4º Evangelho é material exclusivo dessas comunidades. Há poucos textos 
comuns aos Sinóticos. Os principais deles são: o testemunho de João Batista e o batismo de Jesus 
(1,19-34), a expulsão dos vendilhões do templo (2,13-16), a partilha dos pães (6,1-13), Jesus 
caminhando sobre as águas (6,16-21), a unção em Betânia (12,1-8), a entrada triunfal em Jerusalém 
(12,12-19), o anúncio da traição (13,21-30) e a paixão-ressurreição (18-20). 
 3
Todo o resto é material próprio onde, mais do que descrever a prática de Jesus, realça-se o 
significado de sua vida. Há diferenças entre João e os Sinóticos que chamam a atenção: 
-Diferentemente dos Sinóticos, a expulsão dos vendilhões no templo está no início da vida 
pública (2,13-16), por inspiração de Ml 3,1-5. 
-Faltam em João os exorcismos que estão tão bem testemunhados nos Sinóticos. No entanto, 
também as comunidades joaninas entendem a prática de Jesus e das igrejas como enfrentamento e 
superação das forças do demônio, das estruturas injustas da sociedade, movidas pelo príncipe deste 
mundo, o pai da mentira. É a luta daluz contra as trevas (8,12). Quem trai o projeto de Deus, encarna o 
diabo (6,70-71; 13,2.27). Para desacreditar Jesus, as lideranças judaicas diziam que ele tinha o demônio 
em si (7,20; 8,48-49.52; 10,20-21). 
-A maior parte de sua missão se desenrola em Jerusalém e não na Galileia, como nos 
Sinóticos. João se estrutura aludindo às grandes festas judaicas. Apresenta a pregação de Jesus 
distribuída pelo menos durante mais de dois anos (três festas da Páscoa). 
-Nos Sinóticos temos em torno de 35 milagres e, em João, temos somente sete sinais. Dos sete 
sinais em João, cinco são exclusivos: as bodas de Caná, a cura do filho do funcionário do rei, a cura do 
paralítico de Betesda, a cura do cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. 
-Temos mais de 40 parábolas nos Sinóticos e, em João, nenhuma delas aparece. E as duas que 
normalmente chamamos de parábolas são, na verdade, alegorias exclusivas do 4º Evangelho: a do Bom 
Pastor (10,1-18) e a da videira (15,1-17). 
-Nos Sinóticos há referência a somente uma Páscoa e João cita três vezes (2,13; 6,4; 11,55), 
além da festa das Tendas (7,2), uma festa sem nome (5,1) que leva a pensar em Pentecostes e a festa da 
Dedicação do Templo (10,22). 
-Nos Sinóticos, a expressão preferida de Jesus para se referir à sua missão é o anúncio do 
Reino de Deus ou Reino dos Céus. Em João, a expressão preferida é vida eterna ou simplesmente vida. 
-O Evangelho do Discípulo Amado omite o título de apóstolo, justamente porque polemiza 
com comunidades hierarquizadas. A palavra apóstolo (enviado) somente aparece em Jo 13,16 no 
sentido de mensageiro e não como título, justamente no texto em que se discute a forma de exercer a 
autoridade, isto é, no lava pés (13,1-17). Já o verbo enviar aparece várias vezes (9,7; 17,3.18; 20,21). 
Os autores do 4º Evangelho preferem a palavra discípulos para se referir aos membros das igrejas de 
iguais (1,37; 2,11; 3,25; 4,1; 6,66; 8,31; 9,28; 13,23.35; etc). 
 
ESTRUTURA 
Há várias propostas de organização do evangelho de João. Optamos por aquela que divide o 
evangelho em duas partes: 
Prólogo: (1,1-18) – Programa de ação de Jesus 
Livro dos Sinais: (1,19-11,54) – São sete sinais que confirmam a missão de Jesus. 
Dobradiça: (11,55-12,50) 
Livro da Glória: (13,1-20,31) – Nele revela-se o amor e a bondade de Deus, na face do Pai. 
Epílogo: (21,1-25) – A missão da comunidade de Jesus 
 
EVANGELHO SEGUNDO JOÃO 
1,1-18 1,19 a 11,54 11,55 a 12,50 13,1 a 20,31 21,1-25 
Prólogo 
Do Pai ao 
mundo, do 
mundo ao Pai 
1ª Parte 
LIVRO DOS SINAIS 
Obras-sinais perante o mundo 
“Ainda não é Hora” (2,4) 
Dobradiça 
Faz ligação 
entre a 
1ª e a 2ª parte. 
“Está 
chegando a 
Hora” (12,23) 
2ª Parte 
LIVRO DA GLORIFICAÇÃO 
Revelação perante a comunidade 
“Chegou a Hora” (13,1) 
Epílogo 
O 
Ressuscitado 
 e a 
Comunidade 
 Início dos 
Sinais 
Conflito 
crescente e 
opção de fé 
Despedida dos 
“seus” 
Testamento de 
Jesus 
Oração 
A obra 
consumada 
1,19 a 4,54 5,1 a 11,54 13,1 a 14,31 15,1 a 17,26 18,1 a 20,31 
 
 4
A primeira parte do evangelho é chamada “Livro dos Sinais”. “Sinais” em João significam 
os milagres que confirmam a missão de Jesus, o Enviado de Deus. São sinais perpassados de uma 
linguagem teológica, baseada na tradição judaica do AT. Os sete sinais, narrados no Quarto Evangelho, 
são uma manifestação do tempo messiânico, que se realizará plenamente na hora de Jesus, que é a hora 
do Pai: 
-Bodas de Caná (2,1-11) = falta de vinho x vinho em abundância = Nova Aliança 
-Cura do filho de um funcionário real (4,46-54) = doença x saúde/vida 
-Cura de um enfermo na piscina de Betesda (5,1-18) = paralisia x liberdade 
-Multiplicação dos pães (6,1-15) = fome x pão em abundância 
-Jesus anda sobre o mar (6,16-21) = medo, ausência x coragem, encontro 
-Cura de um cego de nascença (9,1-41) = cegueira, trevas x visão, luz 
-Ressurreição de Lázaro (11,1-44) = morte x vida, ressurreição 
Em todos os sete sinais há uma carência e Jesus vai colocando vida onde está 
irreversivelmente perdida. Sinal indica, aponta uma realidade mais profunda. O número sete significa 
totalidade, plenitude. Eles são suficientes para levar as pessoas à fé. No final de cada sinal se encontra 
uma reação positiva ou negativa em relação a Jesus: adesão ou rejeição. 
Os sinais são quase sempre complementados por discursos (6,22-71), para evidenciar a força 
da Palavra de Jesus que é a encarnação da Palavra do Pai (1,1-18). O principal objetivo dos sinais é dar 
glória a Deus e levar a fé em Jesus, seu Filho. Levam a fé, mas precisa ter fé para compreendê-los. 
 
Após o sinal da Ressurreição de Lázaro temos uma Transição (11,55-12,50) que conclui a 
primeira parte e introduz a segunda parte do evangelho. A hora de Jesus se aproxima porque ele é fiel 
ao Pai que quer a vida para todos os marginalizados. Isto provoca a rejeição, por parte das autoridades 
judaicas e do império romano (11,45-52). Os sinais só são compreendidos dentro desta perspectiva da 
hora de Jesus. Jesus passa pela crise da “hora” e sente-se conturbado diante dela (12,23-24). A hora de 
Jesus é a hora da sua morte–glorificação, para que todos tenham vida em abundância. E ele assume 
livremente por amor. 
 
A segunda parte (13,1-20,31) é uma realização e plenificação da primeira. É chegada a 
“hora”! Jesus revela o verdadeiro rosto de Deus, que é Amor (1 Jo 4,8.16), em oposição ao rosto do 
deus legislador de alguns pretensiosos (9,24). Na raiz do conflito entre Jesus e os judeus está a imagem 
de Deus. Jesus mostra através de palavras e gestos que Deus é Pai de Amor, engajado na libertação de 
todos os marginalizados. A obra de Jesus, que é a obra do Pai, é levada até o fim como obra de amor 
(13,1). Esta segunda parte do Evangelho subdivide-se em três secções: 
-O Livro da Comunidade (cap. 13-17). É o testamento de Jesus, porque os discursos de 
despedida são o espaço próprio para a comunidade fazer a memória oral e escrita de seu líder que 
partiu. Antes de entregar sua vida Jesus reúne os seus para um jantar de despedida no qual realiza um 
gesto simbólico e profético: o lava-pés (13,1-30). O mestre e Senhor lava os pés dos discípulos. Nessa 
prática, se afirma toda a revolução do projeto de Jesus: o Senhor é aquele que se dispõe por toda a sua 
vida a estar a serviço dos irmãos. O partilhar o pão é sinal de comunhão, mas nem todos estão nessa 
comunhão (Judas se deixou levar pela ambição do dinheiro: “Era noite” (13,30). 
 Depois faz um longo discurso de despedida (13,31-17,26): 
-dá aos “seus” o novo mandamento do amor mútuo (13,34s e 15,12.17). Jesus apela para a 
fraternidade entre seus discípulos, fazendo até desse relacionamento o sinal visível do discipulado 
(13,35). A comunidade cristã se torna o lugar do compromisso com a prática do projeto, ela se torna 
sinal de uma sociedade alternativa. Viver o amor fraterno como ele nos deixou o exemplo. 
-promete o Paráclito o Espírito da Verdade (14,26; 16,12-15). Para sustentar o compromisso 
temos duas seguranças: o Pai e o Espírito de Verdade. O Deus revelado em Jesus é o Pai (14,9). O 
discípulo de Jesus é amparado pelo Pai, ele é acolhido como filho. O Paráclito, defensor, permanece 
para sempre e a comunidade não fica órfã. 
 5
-faz uma avaliação de sua vida e missão e reza ao Pai pela unidade (cap.17). Depois de ter 
deixado seu testamento, e ter preparado sua comunidade, Jesus reza por ela e por todos aqueles que vão 
por causa do seu testemunho aderir a Palavra. É o Pai Nosso de Jesus segundo o Evangelho de João. 
-Relato da Paixão (cap. 18-19): A narrativa da paixão e morte de Jesus está muito bem 
organizada. É fruto de muita fé, oração, partilha e esperança. São cinco grandes cenas: 
-começa no jardim (18,1-11). Jesus diz “Quem é que vocês estão procurando?” As mesmas 
palavras do início do Evangelho (1,38). As resistências de Pedro. Jesus está disposto a dar a vida, mas 
Pedro não aceita. Não aprendeu a lição do lava-pés. 
-Jesus diante dos sumos sacerdotes e Sinédrio (Caifás), o poderreligioso (18,12-27). Jesus dá 
testemunho diante do poder religioso. 
-Jesus diante de Pilatos, o poder político (18,28-19,16a). Os poderem matam. Jesus, ao 
contrário dá a vida. Jesus é Rei no diálogo com Pilatos, mas não é como deste mundo. 
-Jesus no “Lugar da Caveira” (19,16b-37). Jesus é apresentado como rei e a cruz como trono. 
Na relação mãe-filho, o Evangelho mostra a unidade e a continuidade do povo de Deus, fiel à promessa 
e herdeiro de sua realização. 
-termina no jardim (19,38-42). É sepultado. Éden – paraíso onde o ser humano não saiu 
vitorioso. 
Esta parte culmina com uma última palavra de Jesus “Tudo está consumado” (19,30). Ao pé 
da cruz, está de novo a mãe de Jesus. Em Caná, a mãe estava lá. São as duas únicas vezes que o 
Evangelho nos relata a presença de Maria: no início da vida púbica e no fim. O novo povo da Aliança 
está nascendo: o discípulo amado. É na cruz que se sela a nova e definitiva Aliança. A Mãe de Jesus 
representa o povo fiel da Antiga Aliança que soube reconhecer em Jesus a manifestação da glória do 
Pai e acolher a novidade que vinha junto com ela. 
*Cenas da Ressurreição (cap. 20): João privilegia a narração do encontro de Jesus com 
Maria Madalena (20,11-18). Ela busca desesperadamente um cadáver. O ressuscitado a chama pelo 
nome e ela o re-conhece como seu Mestre. E dele ela recebe o envio de apóstola da ressurreição: “Vai 
aos meus irmãos e dize-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus (20,17). A 
vida triunfou e é oferecida para quem escolhe o testemunho de Jesus: crer e ter vida. O Shalom é a 
certeza de um mundo cheio de vida para todos e vida plena. 
No resplandecer da madrugada desse primeiro dia da semana, tudo ainda não está tão evidente 
para todos: 
-diante do túmulo vazio, o discípulo que Jesus amava, vê e crê, mas Pedro permanece na 
dúvida (21,1.9); 
-Tomé não crê no testemunho da comunidade. Quer ver os sinais da glorificação, que para ele 
são sinais de paixão e morte. Ele não pode dar testemunho porque não viu, ao contrário do discípulo 
amado que “viu e dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro” (19,35). 
 
O Prólogo (1,1-18) e o Epílogo (21,1-35) foram acrescentados mais tarde ao evangelho. 
Constituem a moldura do evangelho todo. 
 
 
CHAVES DE LEITURA 
 
Há várias maneiras de ler e interpretar o Evangelho segundo João. São diversas portas de 
entrada. Eis algumas: 
 
1. Prólogo como porta de entrada do evangelho. No início do evangelho, encontramos as 
mesmas palavras do Gênesis: “No princípio” (1,1). Com isso somos convidados a fazer uma releitura 
de toda a Bíblia a partir dos sinais da presença de Deus na história do seu povo. A chave para fazer esta 
releitura é o próprio Jesus Cristo, a palavra do Pai. “A palavra se fez carne e fez sua tenda no meio de 
 6
nós” (1,14). Jesus Cristo é o hermeneuta de Deus, a sua presença viva, encarnada na história humana. 
Esta PALAVRA manifesta-se como projeto criador e doador da VIDA. 
 
2. O programa dos sinais: Os sete sinais relatados no evangelho não podem ser 
compreendidos como ações isoladas do messianismo de Jesus. Eles fazem parte de seu programa de 
revelação e manifestação de Deus, o Pai. O próprio autor do livro lembra, em Jo 23,30-31, que foi 
através dos sinais que Jesus se revelou Messias e Filho de Deus. 
 
3. Atenção ao simbolismo. O redator do Quarto Evangelho atribui valor simbólico a: 
-personagens: noivo (2,1-12), a samaritana (4,1-42), o paralítico (5,1-18), o cego (5,1-9); 
-números: o 6 (2,6=imperfeição); o 5 (4,18= os cinco maridos simbolizam as cinco divindades 
dos cinco povos forçados a migrar para a Samaria no oitavo século a.C. – 2 Rs 17,24-41; os cinco 
pórticos simbolizam os cinco livros da Lei, incapazes de promover a cura); o 38 (5,5=38 anos 
equivalem a uma geração, de acordo com Dt 2,14); o 7 (5+2=7; 6,9=totalidade, perfeição), etc. 
É preciso dar muita atenção à linguagem teológica e simbólica: bodas, talhas, vinho, templo, 
poço, maná, pastor, mundo, videira, noite, trevas, luz, água, caminho, perfume... 
 
4. As referências temporais: As horas e, sobretudo, a hora de Jesus: da paixão e da 
glorificação. Os dias e as semanas, sobretudo a semana inaugural da Paixão e da Ressurreição, 
marcando o tempo da Salvação. O evangelho de João se abre com uma sequência inicial marcada 
cronologicamente pelas expressões “no dia seguinte” (1,29.35.43), seguida pela notícia das Bodas de 
Caná que se realiza três dias depois (2,1). 
 
5. As referências geográficas: o 1º e 2º sinal se dão em Caná da Galileia. Entre os dois, temos 
a expulsão dos vendilhões do Templo, em Jerusalém e o diálogo com a mulher, na Samaria. 
 
6. As memórias do Antigo Testamento: a criação, a Torah, os Patriarcas, mas sobretudo o 
Êxodo, destacando Moisés, o maná, o cordeiro pascal, a água do rochedo, a luz, a coluna de fogo, a 
serpente de bronze, o bezerro de ouro, entre outros. 
 
7. O nome de Jesus: “Eu sou”. Jesus se auto-apresenta, no Evangelho de João, com o mesmo 
nome de YHWH: “EU SOU” (cf. Ex 3,14). Como Javé, Jesus não se deixa enquadrar em esquemas, 
imagens ou nomes fixistas. Ele é o Deus conosco. O “Eu Sou” introduz sete discursos de Jesus: Eu sou 
o pão da vida (6,35.48.51); a luz do mundo (8,12; 9,5); a porta das ovelhas (10,7.9); o bom pastor 
(10,11.14); a ressurreição e a vida (11,25); a videira verdadeira (15,1.5). 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
CEBI. Evangelho de João e Apocalipse. 4ª ed. São Leopoldo, 2000. 
CRB. Caminho para a vida em abundância – Uma leitura de João em perspectiva de festa. Porto 
Alegre: Editora Pallotti, 2009. 
CRB. Seguir Jesus: os Evangelhos. São Paulo, v.5.1994. 
GASS, Ildo Bohn. As comunidades cristãs a partir da segunda geração. São Paulo: Paulus; São 
Leopoldo: CEBI, v. 8. 2005. 
KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: Amor e Fidelidade. Petrópolis: Vozes/Sinodal, 2000. 
TUÑI VANCELLS, José O. O testemunho do Evangelho de João. Petrópolis: Vozes, 1989. 
RUBEAUX, Francisco. “Mostra-nos o Pai” – Uma leitura do quarto evangelho. São Leopoldo: CEBI, 
nº 20. 1989.