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Educação em saúde – EAD UNIDADE 1 O profissional de saúde atua no desenvolvimento de programas de Educação em Saúde em diversos ambientes. Imagine que você fosse esse profissional e recebesse a tarefa de desenvolver programas de Educação em Saúde em uma comunidade carente em sua cidade. Como você começaria essa atividade? • Conhecendo e compreendendo o ambiente onde as atividades seriam desenvolvidas. • Fazendo o levantamento dos hábitos e condições de vida dos moradores da comunidade. • Realizando um workshop de hábitos saudáveis, seguido de diversos outros cursos. Reflexão: o conhecimento e a compreensão do ambiente, nas diferenças culturais e dos hábitos de uma comunidade e de seus indivíduos fazem parte das atividades de enfermeiros e outros profissionais de saúde. Alguns hábitos e condições estão vinculados a aspectos histórico-culturais e socioeconômicos e necessitam ser desvelados e compreendidos antes da proposição de um programa que vise ao desenvolvimento de hábitos saudáveis. ENTENDO OS CONCEITOS Educação em saúde: É uma atividade a ser desenvolvida pelos profissionais da saúde, entre os quais está o enfermeiro, que é o principal ator no cuidado por meio da Educação em Saúde. A Educação em Saúde estabelece a relação dialógico-reflexiva entre profissional e cliente e visa à conscientização do cliente sobre sua saúde e à percepção como participante ativo na transformação de vida. (Adaptado de SOUZA, 2010). Saúde: “Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença e de enfermidade." Essa compreensão enfatiza, também, a percepção de fatores mais amplos que influenciam na saúde. (Organização Mundial da Saúde – SIGERIST, 1941). Educação bancária: “Transmissão de conhecimentos sem reflexão crítica”, assim denominada, pois, “na visão dos professores, a mente do educando era como um banco no qual o educador depositava conhecimentos para serem arquivados (decorados) sem serem questionados a respeito do seu teor. Assim, o conteúdo desse tipo de educação é dissociado da realidade do educando servindo apenas para manter a dominação sobre a massa”. (FREIRE, 2004) FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE Antes e depois da educação em saúde: A concepção de Educação em Saúde representa um marco nas iniciativas brasileiras voltadas para a saúde da população. Podemos dizer que existe um antes e um depois da Educação em Saúde. O antes: Observe a imagem abaixo e saiba como se deu a evolução das iniciativas em saúde antes da formulação do conceito de Educação em Saúde. Primeiras abordagens pedagógicas: segundo silva (2010). As primeiras abordagens pedagógicas em saúde no Brasil tiveram inicio na segunda metade do século XIX. Sob forte influência europeia. O público- alvo era a elite e as famílias ricas da sociedade brasileira. • Foco na elite Brasileira: iniciava-se uma cruzada para europeizar os costumes e urbanizar os hábitos da elite brasileira, com objetivo de transformar o perfil sanitário da antiga família colonial composta de agregados. Escravos, domésticos e serviçais em uma instituição conjugal/nuclear marcada pelo sentimento de privacidade. Sua maior intenção era legitimar a classe social por meio de seus atributos físicos, psíquicos e sexuais. Tal fato alimentou indiretamente, ideologias racistas e preconceituosas, servindo para a manutenção da exploração das classes subalternas, em nome da superioridade racial e social das elites brancas. As questões de saúde não eram direcionadas as populações pobres e periféricas, apenas quando as condições de vida se tornavam tão críticas a ponto de extrapolar as fronteiras e alcançar outras classes sociais. Primeiras intervenções sistemáticas: a crise devido à falta de condições de saúde e à insalubridade obrigou o estado brasileiro a desenvolver as primeiras intervenções sistemáticas voltadas às classes populares, visando combater as epidemias de febre amarela, varíola e peste, que pelo aumento da incidência, começaram a causar transtornos econômicos à exportação de café, pois os estrangeiros, com medo das doenças não aportavam por aqui. Como era interesse das elites que negociavam o café a manutenção dos seus negócios, houve pressão para que o governo iniciasse algum tipo de estratégia visando garantir a atividade econômica prioritária no país. • Política sanitária: o combate as epidemias da época eram denominadas campista, isto é, como se fosse uma operação militar, uma estratégia de ação seguindo o modelo dos serviços de saúde dos exércitos coloniais, com organização centralizada, autoritária e controle coercitivo como práticas de ação e educação. Seguindo o modelo da polícia médica alemã da era Bismarck, foi criada no Brasil a Polícia Sanitária, e as ações, de acordo com Silva (2010), “eram baseadas no discurso da higiene, que desconsiderava as relações entre doença e condições de vida – predominava a imposição de normas e medidas de saneamento consideradas científicas pelos técnicos e burocratas”. • Práticas autoritárias e coercitivas: O modelo de manejo das ações em prol da saúde envolvia práticas autoritárias e coercitivas, em que as pessoas eram obrigadas a obedecer às ações impostas sem questionamento ou sem serem considerados seu modo de vida e a relação deste com o aparecimento da doença. Epidemias e ações sem saúde sem resultados: Em 1903, o médico Oswaldo Cruz (figura) foi nomeado para assumir a Diretoria Geral de Saúde Pública no governo de Rodrigues Alves. Devido à epidemia de febre amarela, Oswaldo Cruz “passou a enfrentar as epidemias que grassavam a cidade do Rio de Janeiro através das brigadas sanitárias, compostas de mata- mosquitos, operários de limpeza pública, geralmente acompanhadas de soldados da polícia. Essas equipes percorriam as ruas e visitavam as casas, desinfetando, limpando, exigindo reformas, interditando prédios, removendo doentes. Visitavam obrigatoriamente todas as casas e removiam do seu interior tudo que fosse julgado prejudicial à saúde da população” (SILVA, 2010). • Ignorância do povo como causa das doenças: Nessa época, o governo considerava a ignorância do povo como a grande causa das doenças e epidemias, e não a falta de condições sanitárias e de vida. Por este motivo, as ações em saúde nem sempre surtiam o efeito necessário. • Tentativa de “branqueamento” da população: Com o fim da escravidão e da sociedade baseada na força do trabalho escravo como modelo econômico, a entrada do imigrante europeu no Brasil também teve como objetivo o “branqueamento” da população, visando acabar com a “indolência” e a falta de produtividade. Parecia ser esta a “única alternativa que poderia limpar os brasileiros da nódoa do passado escravocrata e dos efeitos perniciosos da miscigenação, ou seja, o ‘sangue bom’ permitiria ao nosso povo redimir-se e purificar-se da contaminação de raças supostamente inferiores” (SILVA, 2010). • Pouco alcance das campanhas de saúde: O governo e os agentes sanitários determinavam o que deveria ser dito ou seguido pela população. Isso era bastante complexo, pois, segundo Silva (2010) e Levy (2018), 60 a 70% da população era analfabeta. Muitas iniciativas governamentais não consideravam esse fato, promovendo campanhas de saúde com folhetos e informativos que, no máximo, alcançavam um pequeno número de pessoas alfabetizadas. Surgimento da saúde pública: Com o fortalecimento econômico da era do café e o início da industrialização, ocorreram mudanças na percepção do conceito de saúde no Brasil. A partir dessa nova percepção sobre a saúde, a função dos serviços de saúde e o crescente entendimento da conexão entre ambiente e doença, surge a Saúde Pública. • Educaçãosanitária: Ao mesmo tempo em que a Saúde Pública muda a forma de organizar e operacionalizar aspectos dos serviços de saúde que vão se tornando mais coletivos e populares, uma nova prática de educação em saúde com forte influência norte-americana começa a ser desenvolvida, sendo denominada Educação Sanitária. Este tipo de pensamento influenciou o novo olhar para a complexidade da saúde brasileira e de seus problemas, que envolvia uma população heterogênea e perfis diferenciados (criança, saúde dos trabalhadores etc.). Primeira reforma sanitária: Em 1923, Carlos Chagas impulsionou a primeira Reforma Sanitária Brasileira e criou o Departamento Nacional de Saúde, ligado ao Ministério da Justiça. Esse departamento, diferente do modelo campanhista e fiscalizatório de Oswaldo Cruz, que desenvolvia as ações de saúde por meio da imposição, trazia agora a Educação Sanitária e a propaganda como ações de rotina em saúde. (SILVA, 2010) • Primeiros centros de saúde: Nessa época, na capital federal (Rio de Janeiro), foram criados os primeiros centros de saúde brasileiros. As ações de saúde ocorriam nos centros de saúde, mas a Educação Sanitária deveria ser assumida pelas escolas. Sob esse aspecto, Silva (2010) afirma que “a educação sanitária urge com um papel de substituir os métodos repressivos das campanhas sanitárias pela persuasão e conscientização dos métodos educativos e preventivos junto a indivíduos e à coletividade”. • Educação sanitária nas escolas: A Educação Sanitária tinha a criança como foco das ações educacionais a partir de uma visão positivista do que é educar para a saúde. “A visão positivista subjacente baseava-se na hipótese de que a instituição educacional poderia corrigir, através da higiene, a ignorância familiar que comprometia a saúde da criança e, portanto, as escolas seriam, além de espaço de ensino e controle social, espaços terapêuticos, recaindo sobre o professor a tarefa de transformar o mundo.” (SILVA, 2010). Nessa época, acreditava-se que apenas as crianças podiam aprender algo e modificar comportamentos, sendo impossível para adultos algum tipo de aprendizado. Com esse pensamento, a formação de professores necessitava de uma base mais sólida e maior padronização, então foi criado o curso de Educação Sanitária na Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Seu objetivo era formar professores para a “veiculação de mensagens de higiene no universo escolar, e o processo saúde-doença era analisado apenas sob a ótica de disciplinas biologicistas” (SILVA, 2010). Toda a responsabilidade sobre a educação em saúde era imputada aos professores. No entanto, essa tentativa educacional iniciada na década de 1920 falhou, porque ainda se atribuía mais importância ao agente etiológico como responsável único pelas doenças em detrimento das condições de vida da população. Início da educação em saúde: A Educação em Saúde no Brasil teve início a partir de 1924, por meio dos programas criados e ministrados por Carlos Sá e Cesar Leal Ferreira. Em 1924, o município de São Gonçalo (RJ) criou o primeiro Pelotão de Saúde em uma escola estadual. Este primeiro modelo de organização de programas de educação em saúde foi adotado posteriormente no ano seguinte nas escolas primárias do, até então, Distrito Federal, por Antonio Carneiro Leão, Diretor de Instrução Pública. (LEVY, 2018) Durante muito tempo, apenas a elite brasileira era alvo das campanhas e das iniciativas de saúde. A grande maioria da população, além de ser considerada causadora das epidemias, não era devidamente inserida no contexto das ações preventivas e educacionais de saúde. Veja um exemplo disto a seguir. A obra de Monteiro Lobato causou grande impacto e influenciou o direcionamento de campanhas de saneamento para o interior do país e os sertões no final da primeira República, sem a participação popular efetiva. Nessa época, a população era vista como um elemento sem conhecimento ou vontade, prevalecendo um modelo de educação em saúde denominado “toca boiada”, isto é, “se antes se preocupava em tocar a boiada com o ferrão da polícia sanitária, agora era com o berrante, ou seja, com as palavras dos educadores sanitários” (SILVA, 2010). A Educação Sanitária nas escolas foi baseada na teoria do positivismo. Você já ouviu falar desta teoria? O depois: Agora que você já sabe como se deu a evolução das iniciativas voltadas para a saúde da população brasileira até a criação do conceito de Educação em Saúde, conheça a linha do tempo que marca o período que vem depois disto. 1925 - O educador sanitário e as novas entidades de Educação Sanitária Neste período, Horácio de Paula Souza criou a Inspetoria de Educação Sanitária e os Centros de Saúde do Estado de São Paulo com o objetivo de formar a consciência sanitária da população e dos serviços de profilaxia. Além disso, criou-se o título de educador sanitário. O educador sanitário era preparado pelo Instituto de Higiene do Estado de São Paulo para divulgar noções de higiene para alunos das escolas primárias estaduais. Também houve a criação da Inspetoria de Educação Sanitária do Departamento de Saúde e Assistência em Pernambuco por Amaury Medeiros. 1930 – Criação do ministério da educação e saúde e as iniciativas federais Após a revolução de 1930 e a criação do Ministério da Educação e Saúde, as iniciativas estaduais perderam força, e iniciou-se um movimento de centralização e unificação, com a reestruturação do Departamento Nacional de Saúde e a criação do Serviço Nacional de Educação Sanitária e sua replicação nos estados seguindo o modelo federal. E como funcionavam esses serviços naquela época? Por meio da transmissão do conhecimento, seguindo um modelo de educação muito restrito e inadequado à realidade da população, com alto índice de analfabetismo. Os serviços de Educação Sanitária realizados naquela época consistiam em “publicação de folhetos, livros, catálogos e cartazes; publicação de pequenas notas e artigos sobre assuntos de saúde na imprensa e de periódicos sobre saúde; promoção de concursos de saúde e de recursos audiovisuais para difusão dos conceitos fundamentais da saúde e da doença” (LEVY, 2018). 1942 – Criação do serviço especial de saúde pública O Serviço Especial de Saúde Pública avançou nas iniciativas de Educação em Saúde ao implementar as seguintes medidas: • reconhecimento da Educação Sanitária como base para suas atividades e planos de trabalho; • atribuição, aos profissionais de saúde, de desenvolvimento de atividades educativas com grupos específicos da população (gestantes, mães, adolescentes e comunidade); • preparação de professoras da rede pública de ensino como agentes educacionais da saúde. Estas atividades, além das fronteiras do serviço de saúde, foram adotadas por outros órgãos, como o Departamento Nacional de Endemias Rurais – DNERu – e o Departamento Nacional da Criança. (LEVY, 2018) Sob o comando de militares americanos, foram organizadas ações voltadas para a saúde, “primeiramente na Região Amazônica e Vale do Rio Doce, significando para o Brasil a vinda de novas tecnologias de medicina preventiva e formas de gerenciamento institucional. As ações do SESP visavam à proteção dos trabalhadores envolvidos na extração da borracha e de minério, mas também trouxe novas técnicas educacionais na área de saúde e recursos audiovisuais sofisticados de tendência tecnicista de educação” (SILVA, 2010). 1945 – ONU pós-guerra O papel da Organização das Nações Unidas trouxe um avanço na mudança de paradigmas na saúde e no entendimento da saúde como um direito universal. Segundo Lafer (1995), a influência da guerra e todos os horrores por elacausados foram fundamentais na busca da paz entre as nações e na criação de um documento: a Carta de Direitos Humanos. Essa carta traz uma série de intenções e conceitos que visam reconhecer o direito à vida e à saúde, o reconhecimento da condição social e econômica, da estabilidade, da paz e do ambiente como promotores da saúde das populações. 1953 – saúde e educação passam a ter ministério independentes Aconteceu a 12a Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, que reforçou a ideia da importância da Educação Sanitária e a sua influência nas condutas de saúde dos indivíduos. Nessa época, o Ministério da Educação e Saúde se dividiu, originando os ministérios que conhecemos atualmente: Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Essa mudança trouxe uma série de consequências para a saúde e a Educação Sanitária e a reformulação da estrutura do Serviço Nacional de Educação Sanitária e a integração das atividades de educação no planejamento das ações dos demais órgãos do Ministério da Saúde (LEVY, 2018). O conceito de Educação em Saúde ganhou força com proposta de participação popular. Esta participação, ainda restrita e direcionada a determinadas áreas, tinha como objetivo a supressão da marginalidade, utilizando a força de trabalho da comunidade sem, no entanto, atuar para compreender a realidade da população. 1960 e 1970 – mudança de paradigma: início das iniciativas mais abrangentes de saúde Aconteceu a 5a Conferência de Saúde e Educação Sanitária, na Filadélfia, em 1962. Neste evento, houve a afirmação da importância da Educação em Saúde para transpor o abismo entre o conhecimento científico, os avanços tecnológicos e a população. O ambiente político-social que envolveu a ditadura no Brasil influenciou na organização da saúde. Nessa época, “a política de saúde imposta pelos militares voltou-se para a expansão de serviços médicos privados, especialmente hospitais, nos quais as ações educativas não tinham espaço significativo” (SILVA, 1995). Da mesma maneira, a participação popular se limitou a apoiar e obedecer às orientações dos agentes de saúde e obter colaboração irrestrita da população. A simples ampliação da rede não trouxe o resultado esperado para a população, e doenças infectocontagiosas coexistiam com doenças crônico-degenerativas. Com a falta de políticas públicas de saúde e de acesso da população ao sistema de saúde vigente (INPS), grupos vulneráveis, desempregados e outras minorias, ficavam sem acesso à saúde, aumentando o abismo e a desigualdade social (SILVA, 1995). A fotografia abaixo ilustra bem este aspecto. Nessa época, a saúde consistia em atender a demandas específicas com enfoque na assistência médica individualizada; não havia programas de saúde coletiva ou populares. Esta situação só começou a mudar a partir da década de 1970, com o ressurgimento e a reorganização de movimentos populares visando ao acesso à saúde e aos programas de saúde coletivos. Em 1967, a Educação Sanitária, como era denominada na época, foi renomeada para Educação em Saúde e incluiu novos atores, como os profissionais de saúde, e não apenas os educadores (SILVA, 1995). A obrigatoriedade da Educação em Saúde nas escolas brasileiras de ensino médio e fundamental (antigos primeiro e segundo graus), estabelecida pelo artigo 70 da Lei nº 5.692/71, tinha o objetivo de estimular o conhecimento e a prática da saúde básica e da higiene nos ambientes escolares (SILVA, 1995). Na “carona” da oposição à ditadura, o movimento em prol da saúde – a Reforma Sanitária – iniciou muito lentamente a sua luta pela saúde para todos e pelo acesso universal às informações dos serviços de saúde. Aos poucos, lideranças comunitárias, sindicais e parlamentares juntaram-se ao movimento em prol do acesso à saúde. Até o final de 1970, esses movimentos concomitantes à luta pela democracia foram fortalecidos pela instabilidade econômica e pelo descontentamento popular. Em paralelo aos movimentos populares crescentes e com base nas recomendações da Conferência da Alma-Ata, surgiram a participação comunitária, a cooperação entre os diferentes setores da sociedade na saúde e os cuidados primários de saúde, que vieram preencher uma lacuna na saúde brasileira (SILVA, 1995). O conhecimento de todo o contexto histórico e social é importante para a compreensão do processo de implantação da saúde e da Educação em Saúde que existe hoje, bem como a reflexão sobre as necessidades de mudanças que ocorreram nesse processo. A Constituição Brasileira, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua regulamentação pela Lei Orgânica da Saúde, formada pelas Leis nº 8.080 e nº 8.142, de 1990, vieram a solidificar os princípios de saúde para todos. 1980 – Saúde como direito de todos e dever do estado. Deste período, destacam-se os seguintes pontos: • Houve o sucateamento do sistema de previdência social vigente, devido à ingerência, à corrupção e à total desconexão com o atendimento das demandas sociais. • A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um evento de transição entre a ditadura e a democracia, no qual o debate sobre a saúde, a Reforma Sanitária e a democratização do sistema de saúde teve muitas de suas propostas incorporadas na Nova Constituição • Todo o cenário de mudança política e busca pela democracia culminou com o final da ditadura, as eleições diretas e a nova Constituição. A Constituição de 1988, que ficou conhecida como “Cidadã”, incluiu, no capítulo da seguridade social, a saúde como direito de todos e dever do Estado e moldou as diretrizes do Sistema Único de Saúde, o SUS. • A regulamentação do SUS se deu pelas Leis no 8.080 e no 8.142, de 1990. Estas leis estabelecem a conquista do direito à saúde pela população e a regulamentação da participação popular no SUS. • Ampliação do fortalecimento da educação popular em contraponto à Educação em Saúde centrada nos profissionais de saúde. Após 20 anos da criação do SUS, de seus princípios e diretrizes, é importante reconhecer que, apesar de todas as conquistas, ainda há muito a ser feito, principalmente na gestão do SUS e de seus recursos e na adequação da Educação em Saúde com acesso aos diferentes grupos da população e com a ampliação do tipo de assistência prestada. A compreensão da heterogeneidade da população e dos grupos vulneráveis e das minorias é um dos desafios do SUS e da Educação em Saúde, que deve adequar-se às necessidades individuais e coletivas e desenvolver a autonomia e a capacidade de tomada de decisão. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada pelos representantes dos países no pós-guerra, mostra uma mudança paradigmática que serviu como base para construir novos conceitos de saúde, educação e qualidade de vida. A união das nações- membro contra a pobreza e as condições de vida sub-humanas dos países mais pobres é um dos objetivos de todos os esforços. Importante - Observando a evolução do conceito e das práticas que envolvem a Educação em Saúde, percebe-se que este processo engloba muitos aspectos que vão além da saúde. Como exemplo, podemos citar o modo de vida, a religião, a cultura, o nível socioeconômico, o poder e a política. Tudo isto torna a Educação em Saúde bem mais complexa do que simplesmente transmitir informações ou implementar ações de saúde. Resumo da trajetória da educação em saúde no Brasil EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM TRANSFORMAÇÃO Transformação contínua Há um processo de transformação contínua desde que a saúde começou a ser organizada no Brasil. A transformação ocorre porque o processo é dinâmico, isto é, as necessidades em saúde são cada vez maiores e mais complexas, bem como a percepção do conceito de saúde para diferentespopulações e grupos de um país como o Brasil. Observe o gráfico abaixo e analise os itens destacados: Paulo Freire foi um dos educadores que contribuíram para que a educação assumisse esse papel “libertário”. Sobre isto, veja o que diz Rangel (2009): A conscientização (de valores, de direitos) associa-se à libertação de fatores que oprimem os seres humanos e limitam a sua qualidade de vida. Essa perspectiva freireana fundamenta a importância do processo educativo para o desenvolvimento da consciência social sobre os direitos da vida cidadã, A ONU tem um importante papel na promoção da paz e no desenvolvimento mundiais. A seguir, conheça a declaração universal dos direitos humanos, criada em dezembro de 1948. Este documento estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. podendo-se entender e realçar a saúde como um desses direitos. Desenvolver a consciência e a razão crítica, necessárias à vida cidadã é, portanto, uma finalidade e um compromisso que definem o significado humano e social do processo educativo e as dimensões, ou planos, em que esse processo se realiza. As diferentes dimensões da educação como base para a transformação, de acordo com os estudos de Rangel (2009), indicam como desenvolver propostas e planos para a execução do ato educacional. Dimensão humana: • Tem a finalidade de ensinar e formar profissionais de saúde visando fomentar os valores pela vida e todos os valores humanizantes como base para a prática pessoal. • É a base de atos, decisões e práticas dos educadores, alunos, profissionais e usuários do serviço de saúde. • Atua na interação de educadores com alunos, criando um ambiente educativo, acolhedor, cordial e que ultrapassa os limites da sala de aula. • Fomenta uma relação de respeito, sensibilidade, atenção, acolhimento e diálogo entre profissionais de saúde e usuários. • Influencia a informatização das informações e o acesso aos dados necessários para os recursos em saúde e para a tomada de decisão consciente. Dimensão política • Envolve o compromisso dos governos e educadores com a formação de profissionais de saúde e cursos adequados ao atendimento da população. • Incentiva a qualidade dos cursos de formação em saúde visando à compreensão da essência social e política da saúde. • Fomenta o conceito de qualidade de vida na população, percebendo os aspectos do conhecimento em saúde como um direito e uma dimensão cidadã da vida do profissional e do usuário. • Enfatiza o conceito de qualidade de vida, ampliando o conceito de saúde visando ao bem-estar individual e coletivo. • Garante os direitos públicos fundamentais (por exemplo, saúde) e as condições de acesso aos serviços de saúde e uso destes. Dimensão didática • Valoriza a percepção do ato de ensinar e aprender que ocorre como resultado da relação entre professores e alunos e profissionais e usuários em saúde. • Viabiliza os recursos necessários para o aprendizado e o reconhecimento de que o processo de aprendizagem é uma via de mão dupla. • Incentiva e motiva o aprendizado qualificado, isto é, prepara o professor e os alunos, com o foco nos saberes acadêmico e do senso comum, reconhecendo a construção do saber coletivo, dos diferentes grupos sociais. No início As mudanças sociais e, consequentemente, a transformação constante se intensificaram devido às mudanças políticas do país – a abertura democrática trouxe novas demandas sociais e econômicas, levando a mudanças de paradigmas na educação e na saúde. Além disso, a educação libertária e dialógica, concomitante ao processo democrático, levou as pessoas e as comunidades a repensarem seus papéis na sociedade e sua autonomia. Nos dias de hoje Atualmente essas mudanças sociais consideram as necessidades específicas em saúde de grupos com opções sexuais diferenciadas, minorias étnicas e raciais, bem como os movimentos migratórios. Outros aspectos da necessidade constante de mudança são as questões econômicas, o desenvolvimento tecnológico e sua inserção na rotina das pessoas, sem contar as consequências das alterações no meio ambiente e sua degradação. Determinantes sociais em saúde Os determinantes de saúde são importantes para manter a informação e a Educação em Saúde em constante transformação e para atender às necessidades das pessoas e da coletividade. Lei n° 8.080 – a leu n° 8.080, em seu artigo 3° determina: "A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País." (BRASIL, 1990) Visão ampliada e complexa Quando ampliamos a visão de saúde e toda a sua complexidade, é possível perceber que há fatores que determinam a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas em diversas faixas etárias e grupos. Essa visão influencia como o processo educacional e de formação de recursos em saúde deve ser direcionado, inclusive. Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) A Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS) estabelece como determinantes sociais em saúde (DSS) os seguintes fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde na população, além de outros riscos: • sociais; • econômicos; • culturais; • étnico-raciais; • psicológicos; • comportamentais. A CNDSS ainda faz um alerta: é muito importante que os governos criem políticas sociais que garantam o acesso da população a melhores condições de vida e igualdade de acesso à saúde. Conceito abrangente De acordo com Carvalho (2012), outra possibilidade sobre os DSS seria considerá-los como os “fatores que influenciam, afetam e/ou determinam a saúde dos povos e cidadãos”. Três tipos de determinantes De acordo com Carrapato (2017), são três os determinantes sociais de saúde: • Determinantes ambientais: agentes químicos, físicos e biológicos, que causam impacto no meio ambiente, e suas consequências na saúde dos indivíduos. Alguns riscos são locais ou regionais, mas outros são globais, como a modificação do clima, a destruição da camada de ozônio e a contaminação dos oceanos. • Determinantes econômicos: a privação material tem impacto direto na saúde, pois determina questões como o acesso aos recursos e à prevenção, aos serviços e tratamentos. O acesso a melhores condições de vida favorece diretamente não apenas a qualidade, mas a expectativa de vida. • Determinantes sociais: abrangem as questões de cultura e inserção social de indivíduos. Envolvem os grupos minoritários étnicos, raciais e de opção sexual, bem como grupos de maior vulnerabilidade também. Observe a seguir o modelo de Dahlgren e Whitehead, com suas respectivas camadas, e o modelo de Diderichsen e Hallqvist. Os principais aspectos de cada modelo são comparados e, a partir daí, é possível compreender a complexidade das relações entre os DSS TEORIAS DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE Educação e saúde A Saúde e a Educação são duas áreas que “conversam” entre si: A Educação auxilia os indivíduos na análise crítica, no julgamento, na tomada de decisão e na mudança de comportamentos. A Saúde depende da análise, do julgamento e da capacidade de mudar comportamentos para a manutenção de um estilo de vida saudável de cada indivíduo. Para Levy (2009), a Educação tem funções que estão amplamente contempladas na Educação em Saúde. São elas: • Estimulativa: busca atrair o indivíduo para participar do processo educativo. • Exercitativa: envolve a aquisição e a formação de hábitos,assim como a assimilação, a construção e a reconstrução de experiências. • Orientadora: enfoca os aspectos de liberdade, autoridade, autonomia e independência. • Didática: responsabiliza-se pela transmissão e veiculação dos conhecimentos. • Terapêutica: torna possível retificar os eventuais descaminhos do processo educativo. Base e eixo norteador da Educação em Saúde Serve como base e eixo norteador da prática educativa em saúde a formação permanente de profissionais de saúde para atuação: • no contexto de múltipla complexidade; • no desenvolvimento da capacidade dos indivíduos e da coletividade para que obtenham qualidade de vida apoiada e assistida pelos serviços de saúde. Esse eixo norteador é fundamentado na Política Nacional de Promoção da Saúde e tem por princípio as diretrizes também estabelecidas pela Carta de Ottawa. Em 1986, a Carta de Ottawa foi um marco para a promoção da saúde e da igualdade de acesso da população, visando alertar os governos dos países sobre a importância da igualdade de condições econômicas e sociais para a saúde individual e coletiva. Três destaques da Carta de Ottawa: • Educação e Saúde são práticas sociais inseparáveis e interdependentes que sempre estiveram articuladas. • A articulação entre Educação e Saúde é elemento fundamental no processo de trabalho dos profissionais da saúde. • A formação profissional afeta profundamente a qualidade dos serviços prestados e o grau de satisfação dos usuários. Antes de prosseguir com seus estudos, reflita sobre estes três pontos e sobre o que você viu até aqui. Perceba que, para atuar em ambientes extremamente complexos, envolvendo pessoas das mais variadas origens e com histórias de vida muito peculiares, é importante que você, como profissional de saúde, esteja sempre disposto a aprender e a ensinar. Bases teóricas dos processos educacionais Modelo andragógico O processo educacional não consiste apenas na transmissão de conteúdo; além de produzir conhecimento, leva à reflexão e à mudanças nos indivíduos. Cabe ressaltar que grande parte dos programas de Educação em Saúde visa à educação tendo como público-alvo o adulto. Diferentemente da Pedagogia, que tem como foco o ensino de crianças e jovens, a Andragogia, definida por Knowles, é a arte e a ciência de ajudar os adultos a aprender (GONTIJO, 2016). O papel do professor, que era apenas o de transmissor de conteúdo para adultos que não tiveram acesso quando crianças, modificou-se com o tempo. Veja: Necessidade de saber: necessidade de entender o significado do conhecimento para a vida prática e os benefícios do esforço para a enfermagem. Autoconceito do aprendiz ou autodirecionamento: desenvolver a autonomia e reconhecer o indivíduo como capacitado para ser autônomo, inclusive no processo de aprendizagem. Experiências dos aprendizes: a troca de experiencias entre os aprendizes, o facilitador e o processo de colaboração e comunicação estabelece uma relação de confiança e um maior comprometimento para o processo de aprendizagem, tanto dos aprendizes quanto dos professores mediadores Prontidão para aprender: adultos estão prontos a aprender aquilo que irá auxiliá-los na resolução de problemas reais do cotidiano e na melhora do desempenho no trabalho e na vida. Motivação para aprender: a motivação de uma melhora de salário, emprego ou cargo, somada à necessidade de reconhecimento, qualidade de vida e autoestima, leva à constante busca pelo conhecimento. Orientação para a aprendizagem: o aprendizado é focado na resolução de problemas, não apenas nos conteúdos como é feito na pedagogia. Na sequência, conheça as possíveis abordagens para a Educação em Saúde e aprenda a identificar a melhor. Abordagem para educação em saúde Vamos conhecer duas das principais abordagens que podem ser utilizadas na Educação em Saúde como método para alcançar os objetivos educacionais: a abordagem tradicional e a abordagem com foco no aprendiz. 1. Abordagem tradicional com foco na transmissão do conteúdo: Segundo Machado (2010), a abordagem tradicional, com foco na transmissão do conteúdo, pode ser feita de duas maneiras: transmissão ou condicionamento. • Transmissão: O método de transmissão pressupõe um emissor e um receptor, isto é, alguém que ensina a uma pessoa que nada sabe. O foco é total no processo de transmissão, e a responsabilidade maior é do professor, que assume o papel de transmitir todo o conteúdo, de ser a fonte de toda informação, visão de mundo, aconselhamento e direcionamento do aprendizado. O processo de aprendizado ocorre também pela repetição e não tem preocupação com a realidade social, as crenças ou a cultura daquele que “aprende” • Condicionamento: Esta abordagem tem como base a escola do Behaviorismo, cujos representantes são Watson e Skinner e o condicionamento reflexo de Pavlov. Este tipo de abordagem propõe que, ao receber estímulos e recompensas, o aprendiz é capaz de ser condicionado a emitir respostas específicas e programadas. Neste tipo de abordagem, o mais importante é a resposta programada, mais do que a troca de conhecimento. A mudança de atitude não é resultado de uma escolha ou reflexão, mas de um condicionamento programado. 2. abordagem com foco no aprendiz: Machado (2010) também afirma que a abordagem com foco no aprendiz pode ser de três tipos: humanista, cognitivista ou sociocultural. • Humanista: a abordagem humanista é centrada no aluno, em suas experiencias e em sua personalidade. o Abordagem: o conhecimento é abordado subjetivamente a partir da visão do aluno e da sua ressignificação do conhecimento o Processo de aprendizagem: O processo de aprendizagem, neste tipo de abordagem, é democrático. O papel do professor é de facilitador do processo e de estimulador das relações interpessoais, proporcionando um ambiente acolhedor e favorável à aprendizagem. A metodologia problematizadora criada por Paulo Freire explora as circunstâncias favoráveis para o aprendiz e para o educador, pois, ao refletir sobre os problemas do cotidiano em busca de soluções, aparecerão oportunidades de levantamento de hipóteses e soluções para os problemas encontrados, resultando em um processo de “ação - reflexão - ação” que leva ao crescimento pessoal e coletivo. Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 e morreu em São Paulo em 1997. Como educador, filósofo e pedagogo, contribuiu para mudar o paradigma do modelo bancário de educação, que entendia o aprendiz como uma conta bancária zerada e vazia e que deveria ser preenchida pelo professor. Freire se opunha ao conceito dos aprendizes como receptores apenas e defendia a necessidade da construção dialógica, da consciência social e da reflexão crítica. Que abordagem deve ser escolhida? Não existe uma metodologia melhor, mas a mais adequada ao objetivo educacional e ao perfil do aprendiz. Desta forma, é importante que, ao pensar e ao planejar ações educacionais em saúde, o profissional faça uma reflexão sobre o verdadeiro objetivo de tais ações. Em alguns momentos, a necessidade será atendida com a abordagem tradicional; em outros, será necessário desenvolver habilidades reflexas e condicionadas; e, em outros, a reflexão crítica e a capacidade de resolução de problemas. Importante: Uma dica importante na elaboração de objetivos educacionais em seus diferentes níveis é a utilização da taxonomia de Bloom, que auxilia no modo de expressá-los corretamente. Taxonomia de bloom: Como dito anteriormente, a taxonomia de Bloom é uma importante ferramenta para a elaboração de objetivos educacionais. Segundo Mamede (2018), para que os objetivos educacionais estejam completos, é necessárioque: 1. possuam um verbo de ação (cujo sujeito, via de regra, é o aluno) indicador de uma competência (conhecimentos, habilidades e atitudes) almejada e relacionado a um objeto direto ou indireto; 2. indiquem o conteúdo sobre o qual se empreende a ação; 3. possuam um referencial de avaliação, representado, muitas vezes, por um verbo no gerúndio, que exprime, geralmente, o meio pelo qual se pretende expressar a competência objetivada e pode, algumas vezes, representar a circunscrição definida para alcance do fim; e 4. possuam um parâmetro que indique uma referência qualitativa ou quantitativa para avaliação do sucesso de alcance do objetivo Observe o diagrama abaixo, que detalha a metodologia da taxonomia de Bloom: A seguir, veja uma representação gráfica das categorias do domínio cognitivo propostas por Bloom, Englehart, Furst, Hill e Krathwolh, como se tornaram conhecidas em 1953. 1. Conhecimento: Definição: habilidade de lembrar informações e conteúdos previamente abordados, como fatos, datas, palavras, teorias, métodos, classificações, lugares, regras, critérios, procedimentos etc. A habilidade pode envolver lembrar uma significativa quantidade de informação ou fatos específicos. O objetivo principal desta categoria é trazer à consciência esses conhecimentos. Subcategorias: 1.1 Conhecimento específico (conhecimento de terminologia; conhecimento de tendências e sequências); 1.2 Conhecimento de formas e significados relacionados às especificidades do conteúdo (conhecimento de convenção; conhecimento de tendência e sequência; conhecimento de classificação e categoria; conhecimento de critério; conhecimento de metodologia); e 1.3 Conhecimento universal e abstração relacionado a um determinado campo de conhecimento (conhecimento de princípios e generalizações; conhecimento de teorias e estruturas). Verbos: enumerar, definir, descrever, identificar, denominar, listar, nomear, combinar, realçar, apontar, relembrar, recordar, relacionar, reproduzir, solucionar, declarar, distinguir, rotular, memorizar, ordenar e reconhecer. 2. Compreensão Definição: habilidade de compreender e dar significado ao conteúdo. Esta habilidade pode ser demonstrada por meio da tradução do conteúdo compreendido para uma nova forma (oral, escrita, diagramas etc.) ou contexto. Nesta categoria, encontra-se a capacidade de entender a informação ou fato, captar seu significado e utilizá-la em contextos diferentes. Subcategorias: 2.1 Translação; 2.2 Interpretação; e 2.3 Extrapolação. Verbos: alterar, construir, converter, decodificar, defender, definir, descrever, distinguir, discriminar, estimar, explicar, generalizar, dar exemplos, ilustrar, inferir, reformular, prever, reescrever, resolver, resumir, classificar, discutir, identificar, interpretar, reconhecer, redefinir, selecionar, situar e traduzir. 3. Aplicação Definição: habilidade de usar informações, métodos e conteúdos aprendidos em novas situações concretas. Isso pode incluir aplicações de regras, métodos, modelos, conceitos, princípios, leis e teorias. Verbos: aplicar, alterar, programar, demonstrar, desenvolver, descobrir, dramatizar, empregar, ilustrar, interpretar, manipular, modificar, operacionalizar, organizar, prever, preparar, produzir, relatar, resolver, transferir, usar, construir, esboçar, escolher, escrever, operar e praticar. 4. Análise Definição: habilidade de subdividir o conteúdo em partes menores com a finalidade de entender a estrutura final. Esta habilidade pode incluir a identificação das partes, a análise de relacionamento entre as partes e o reconhecimento dos princípios organizacionais envolvidos. Identificar partes e suas inter-relações. Neste ponto, é necessário não apenas ter compreendido o conteúdo, mas também a estrutura do objeto de estudo. Subcategorias: 4.1 Análise de elementos; 4.2 Análise de relacionamentos; e 4.3 Análise de princípios organizacionais. Verbos: analisar, reduzir, classificar, comparar, contrastar, determinar, deduzir, diagramar, distinguir, diferenciar, identificar, ilustrar, apontar, inferir, relacionar, selecionar, separar, subdividir, calcular, discriminar, examinar, experimentar, testar, esquematizar e questionar. 5. Síntese Definição: habilidade de agregar e juntar partes com a finalidade de criar um novo todo. Esta habilidade envolve a produção de uma comunicação única (tema ou discurso), um plano de operações (propostas de pesquisas) ou um conjunto de relações abstratas (esquema para classificar informações). Combinar partes não organizadas para formar um “todo”. Subcategorias: 5.1 Produção de uma comunicação original; 5.2 Produção de um plano ou propostas de um conjunto de operações; e 5.3 Derivação de um conjunto de relacionamentos abstratos. Verbos: categorizar, combinar, compilar, compor, conceber, construir, criar, desenhar, elaborar, estabelecer, explicar, formular, generalizar, inventar, modificar, organizar, originar, planejar, propor, reorganizar, relacionar, revisar, reescrever, resumir, sistematizar, escrever, desenvolver, estruturar, montar e projetar. 6. Avaliação Definição: habilidade de julgar o valor do material (proposta, pesquisa, projeto) para um propósito específico. O julgamento é baseado em critérios bem definidos que podem ser externos (relevância) ou internos (organização) e podem ser fornecidos ou conjuntamente identificados. Julgar o valor do conhecimento. Subcategorias: 6.1 Avaliação em termos de evidências internas; e 6.2 Julgamento em termos de critérios externos. Verbos: avaliar, averiguar, escolher, comparar, concluir, contrastar, criticar, decidir, defender, discriminar, explicar, interpretar, justificar, relatar, resolver, resumir, apoiar, validar, escrever um review sobre detectar, estimar, julgar e selecionar. Ao longo do tempo, ocorreram mudanças nas subcategorias da categoria conhecimento da taxonomia de Bloom. Taxonomia original: Categoria: 1.0 - Conhecimento Subcategorias: • 1.1 Conhecimento específico (conhecimento de terminologia; conhecimento de tendências e sequências). • 1.2 Conhecimento de formas e significados relacionados às especificidades do conteúdo (conhecimento de convenção; conhecimento de tendência e sequência; conhecimento de classificação e categoria; conhecimento de critério; conhecimento de metodologia). • 1.3 Conhecimento universal e abstração relacionado a um determinado campo de conhecimento (conhecimento de princípios e generalizações; conhecimento de teorias e estruturas). Taxonomia revisada Taxonomia revisada Categoria: 1.0 - Conhecimento Subcategorias: • 1.1 Conhecimento efetivo/factual: relacionado ao conteúdo básico que o discente deve dominar a fim de que consiga realizar e resolver problemas apoiados nesse conhecimento. Relacionado aos fatos que não precisam ser entendidos ou combinados, apenas reproduzidos como apresentados. Conhecimento da terminologia e conhecimento de detalhes e assuntos específicos. • 1.2 Conhecimento conceitual: relacionado à inter-relação dos elementos básicos num contexto mais elaborado que os discentes seriam capazes de descobrir. Elementos mais simples foram abordados e agora precisam ser conectados. Esquemas, estruturas e modelos foram organizados e explicados. Nessa fase, não é a aplicação de um modelo que é importante, mas a consciência de sua existência. Conhecimento de classificação e categorização; conhecimento de princípios e generalizações; e conhecimento de teorias, modelos e estruturas. • 1.3 Conhecimento procedimental/procedural: relacionado ao conhecimento de “como realizar alguma coisa” utilizando métodos, critérios, algoritmos e técnicas. Nesse momento,o conhecimento abstrato começa a ser estimulado, mas dentro de um contexto único e não interdisciplinar. Conhecimento de conteúdo específicos, habilidades e algoritmos; conhecimento de técnicas específicas e métodos; e conhecimento de critérios e percepção de quando e como usar um procedimento específico. • 1.4 Conhecimento metacognitivo: relacionado ao reconhecimento da cognição em geral e da consciência da amplitude e profundidade de conhecimento adquirido de um determinado conteúdo. Em contraste com o conhecimento procedural, este conhecimento é relacionado à interdisciplinaridade. A ideia principal é utilizar conhecimentos previamente assimilados (interdisciplinares) para resolução de problemas e/ou escolha do melhor método, teoria ou estrutura. Conhecimento estratégico; conhecimento sobre atividades cognitivas, incluindo contextos preferenciais e situações de aprendizagem (estilos); autoconhecimento. Além disso, segundo Ferraz (2010), Anderson, Krathwohl e Airasian propuseram uma nova categorização da taxonomia de Bloom em 2001. Veja. Após a revisão em 2001, um novo modelo foi criado. Esse novo modelo tem como estrutura uma tabela bidimensional denominada Tabela Bidimensional da Taxonomia de Bloom, que “deve ser utilizada com o intuito de melhor estruturar os objetivos educacionais, ao mesmo tempo em que auxilia os educadores na melhor elaboração do planejamento e na escolha adequada de estratégias e tecnologias educacionais” (FERRAZ, 2010). Observe a seguir: Determinação dos objetivos educacionais: A determinação dos objetivos educacionais utilizando a taxonomia de Bloom como modelo e direcionamento requer o conhecimento de como utilizar adequadamente a ferramenta. No modelo revisado, são utilizadas duas dimensões: • dimensão do conteúdo – tipo de material a ser aprendido; • dimensão do processo – como será o processo de aprendizagem. Vejamos uma situação prática. Etapa 1 Praticando: Imagine que você necessite desenvolver um treinamento para os agentes de saúde entrevistarem o usuário e preencherem o cadastro corretamente. Vamos praticar? Primeiro, vamos separar o processo em dois momentos: 1 Treinamento dos agentes de saúde para que saibam entrevistar os usuários e preencher corretamente o formulário de cadastro. Este é o momento instrucional, em que deve ser utilizada uma abordagem cognitivista. 2 Entrevista para que os agentes de saúde façam as perguntas. Este é o momento de contato, análise e relacionamento com o usuário, em que deve ser utilizada uma abordagem sociocultural. Etapa 2 Objetivos do treinamento dos agentes de saúde O momento 1, treinamento dos agentes de saúde, caracteriza-se por ter objetivos educacionais. Ao final do treinamento, espera-se que os agentes saibam: • aplicar corretamente o formulário de identificação do usuário e de seus problemas de saúde; • escrever os dados no formulário. Etapa 3 Objetivos da entrevista O momento 2, entrevista com os usuários, caracteriza-se por ter objetivos voltados para a análise do contexto educacional. Ao final da entrevista, espera-se que os agentes tenham conseguido: • reconhecer os principais problemas de saúde encontrados na fala e no ambiente do usuário, seu contexto familiar e de trabalho; • relacionar os problemas percebidos aos principais agravos em saúde e comportamentos de risco; • relatar os problemas encontrados no formulário descrevendo-os resumidamente; • recordar as principais recomendações sobre o acesso ao serviço de saúde. Relatório Flexner A Educação em Saúde nos EUA no século XIX No século XIX, nos EUA, havia muitas escolas de medicina que seguiam linhas terapêuticas diversas, e muitas dessas correntes de cura não tinham bases científicas, a maioria tinha bases empíricas. Ideal positiva de saúde x práticas usuais da medicina: acreditava-se que a ciência melhoraria as condições de vida do homem, ideal seguido pelas escolas europeias. O ideal positivista de saúde, entretanto, opunha-se às práticas usuais da medicina americanas em fins do século XIX. Médicos reguladores x práticos ou empíricos: no país considerado o berço da medicina científica, havia um constante conflito entre os médicos reguladores, que eram egressos das universidades europeias e das inúmeras escolas americanas que proliferaram nos EUA após a guerra da independência, e os práticos ou empíricos, denominação geral para pessoas com algum treinamento em habilidades curativas. Seitas curativas: havia também inúmeros adeptos de seitas curativas surgidas no século XIX igualmente vistos com ressalvas pelos médicos reguladores. Quem era Abrahem Flexner? “Americano, nasceu em Lousville, Kentucky, em 13 de novembro de 1866. Era o sexto de nove filhos de Moritz Flexner e de Esther Abraham. Seus pais, judeus alemães, imigraram para os EUA em 1853.” -(PAGLIOSA, 2008) A seguir, conheça um pouco da trajetória de Abraham Flexner. 1886 – 1906: graduação e pós-graduação Flexner estudou na Universidade Johns Hopkins. Aos 17 anos, graduou-se em artes e humanidades, em 1886, trabalhando como professor. Logo a seguir, fundou sua própria escola: Mr. Flexner’s School. Após um casamento que lhe abriu algumas portas, Flexner fechou a escola, voltou para a Universidade Hopkins, para pós graduar-se em 1906, e mudou-se para Berlim com a família. 1907-1908: publicação do primeiro livro Em 1907, em Heidelberg, escreveu o primeiro livro sobre educação: The American college: a criticism, fazendo análise e crítica ao sistema de ensino norte- americano. A publicação desse livro em 1908 resultou em um convite do presidente da Carnegie Foundation, Henry S. Pritchet, para realizar um estudo sobre a educação médica nos EUA e no Canadá. Durante seis meses, Flexner visitou e avaliou 155 escolas de medicina americanas e canadenses. 1912: Flexner se tornou membro do general education board Devido à sua dedicação ao ensino e às pesquisas educacionais, em 1912, Flexner foi incorporado à equipe do General Education Board, fundado em 1902 por John D. Rockfeller. O General Education Board foi a primeira fundação com atividades estritamente educacionais dos EUA. A instituição assumiu a função regulatória de examinar a condição das universidades da América do Norte e, principalmente, a educação médica. (PAGLIOSA, 2008) 1912-1925: publicação de relatórios, boletins e estudos comparativos Após a publicação do seu relatório, Flexner retornou à Europa para aprofundar os estudos sobre educação médica, incluindo especialmente a educação médica da Alemanha, da Inglaterra e da França. Publicava boletins e relatórios para a Carnegie Foundation e, em 1912, produziu o Medical education in Europe – A report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching. Em 1925, elaborou um estudo comparativo entre a educação médica norte-americana e a de certos países europeus: Medical education – A comparative study. (PAGLIOSA, 2008) 1930: publicação do segundo livro Em 1930, Flexner publicou outro livro, Universities: American, English, German, uma análise das universidades norte-americanas e europeias. Até aqui você conheceu o cenário da Educação em Saúde nos Estados Unidos e a trajetória de Abraham Flexner. Agora, conheça o relatório elaborado por Flexner, seus resultados e desdobramentos. Relatório Flexner e suas recomendações A realidade retratada pelo Relatório Flexner foi a carência de didática adequada e de metodologia científica para a formação médica de muitas escolas. Como o relatório foi feito? O Relatório Flexner, conforme dito anteriormente, foi resultado da visita e da avaliação de 155 escolas de medicina americanase canadenses. Como eram essas visitas? • As visitas eram feitas durante um dia; logo, conclui-se que, em 180 dias, nem todas as escolas tenham sido adequadamente verificadas. • No entanto, a mudança para um processo de ensino com base no método cientifico já estava ocorrendo no país. O relatório apenas a apressou, indicando um novo formato necessário para que os cursos pudessem ser adequados e a formação deixasse o empirismo • As visitas de Flexner não consistiam no preenchimento de algum instrumento, mas em uma inspeção das instalações e da forma de organização dos cursos. • Memo assim, nos cem anos seguintes, este relatório teve grande influencia na organização de cursos de formação médica, a ponto de diminuir e fechar escolas nos EUA Sobre os resultados do relatório Flexner, Pagliosa (2008) afirma: Nos EUA, o número de escolas de Medicina caiu de 131 para 81 nos 12 anos posteriores ao informe. O número de escolas médicas homeopáticas diminuiu de 20 para 4 entre 1910 e 1920. Muitas se converteram ao modelo biomédico. A última escola de fisiomedicalismo foi fechada em 1911. Cinco das sete escolas para negros foram fechadas. A escola médica se elitizou e passou a ser frequentada pela classe média alta. Segundo Aguiar (2007), a proposta de Flexner para a organização dos cursos médicos consistia em: • Definição de padrões de admissão e ampliação, para quatro anos, da duração dos cursos. • Introdução do ensino laboratorial. • Estímulo à docência em tempo integral. • Expansão do ensino clínico, especialmente em hospitais. • Ênfase na pesquisa biológica. • Vinculação das escolas médicas às universidades. • Estímulo à especialização médica. • Controle do exercício profissional pela profissão organizada. Paradigmas dos diferentes modelos de saúde O modelo flexneriano é o modelo hegemônico, biomédico, baseado no modelo econômico norte- americano. Com características que centralizavam a saúde no médico e nas ações curativas, influenciou fortemente a saúde brasileira em detrimento do reconhecimento da saúde pública e de outras áreas de cuidado como válidas e importantes, como o conhecimento e as práticas em saúde. Este modelo biomédico influenciou sobremaneira a organização e a didática dos cursos médicos e, posteriormente, de outras profissões da saúde. Este tipo de ensino, autoritário, unidisciplinar, centralizado nas ações curativas e no aparato hospitalocêntrico, visava ao lucro por meio do processo da doença. Seus componentes eram hospitais, exames, remédios e medicina altamente especializada – o denominado complexo médico- industrial. Conheça a seguir os principais paradigmas da medicina flexneriana, de acordo com os estudos de Aguiar (2007). Mecanicismo: Comparação do funcionamento do corpo humano com o de uma máquina, em que as fragilidades e os danos podem ser provocados por influência de processos químicos, físicos e elétricos. Fragmentação dos processos biológicos. Essa visão fragmentada auxilia na compreensão dos processos corporais e no treinamento dos profissionais. Biologicismo: Explicação do processo da doença por meio das alterações biológicas, com base nas descobertas da microbiologia e foco na interação dos microrganismos com os seres humanos. Os microrganismos são vistos como causadores das doenças, sem que sejam considerados os contextos social e econômico dos pacientes. Individualismo: Indivíduo como causa do processo da doença e único responsável por ele. O tratamento é focado na pessoa, e não no coletivo. Especialização: Ocorre no âmbito médico, em que o aprofundamento em determinadas áreas é o foco do conhecimento. Exclusão das práticas alternativas: Falta de estudos que pudessem comprovar cientificamente algumas práticas alternativas de cuidados com a saúde. Tecnificação do ato médico: Essa tecnificação legitima o mecanicismo e o biologicismo, fundamentando o processo de trabalho apenas em bases científicas. Ênfase na medicina curativa: A doença é o agravo, e não o motivo; é a expressão de que algo não está adequado no organismo. Pelo reducionismo, as formas de tratamento também ficam limitadas. Concentração de recursos: Medicina voltada para consumidores pagantes pelos recursos. Os que podem pagar nem sempre são aqueles que têm necessidade. “Pelos paradigmas apresentados, pode-se compreender a influência do Relatório Flexner na formação dos recursos humanos. Em paralelo, percebe-se a influência dos respectivos médicos e demais agentes de saúde na organização dos serviços de saúde e na concepção de saúde adotada. Por fim, o Relatório Flexner também influencia a relação da medicina com os indivíduos e a Educação em Saúde. Nesta unidade, você conheceu alguns aspectos históricos da saúde no Brasil e da Educação em Saúde, bem como da organização das ações educativas e suas bases teóricas. Além disso, conheceu o Relatório Flexner, que influenciou a formação de profissionais de saúde e as práticas educacionais em saúde por mais de 100 anos, nos EUA e no mundo. É possível que você tenha percebido como foi complexo e difícil o caminho da saúde no Brasil até o momento.
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