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PROBLEMA 2- INTERMEDIÁRIA RELAÇÕES ENTRE HOSPEDEIRO E MICRORGANISMO - A atividade de todo indivíduo muda o ambiente em que ele vive. Assim, ele pode alterar as condições, adicionando ou subtraindo recursos do ambiente, que poderiam ficar disponíveis a outro organismo, ou não trazendo nenhuma alteração. As categorias são: Neutralismo Comensalismo Mutualismo Amensalismo Predação Competição interespecífica Parasitismo - Não se considera que a microbiota normal faça parte da primeira linha de defesa do sistema imune inato, mas ela é discutida por conta da proteção que oferece. Algumas dessas relações ajudam a prevenir o crescimento excessivo de patógenos. No antagonismo microbiano, a microbiota normal impede que os patógenos colonizem o hospedeiro por competição pelos nutrientes (exclusão competitiva), produção de substancias que são prejudiciais aos patógenos e alteração das condições que afetam a sobrevivência dos patógenos, como o pH e a disponibilidade de oxigênio. A presença da microbiota normal na vagina, por exemplo, altera o pH, impedindo, desse modo, a superpopulação por Candida albicans, levedura patogênica que causa a vaginite. No intestino grosso, a bactéria E. coli produz bacteriocinas que inibem o crescimento da Salmonella e da Shigella. RELAÇÕES HAMÔNICAS NEUTRALISMO - É a associação duplamente neutra entre duas espécies, na qual a dinâmica de nenhuma população é afetada pela presença e/ou a associação com a outra. Assim, há uma ausência de interação entre duas populações. SIMBIOSE - Inicialmente, o termo Simbiose foi definido como diferentes espécies que vivem com, pelo menos, uma espécie sendo beneficiada. Segundo essa definição, existem 3 relações simbiônticas: Comensalismo Mutualismo Parasitismo - Atualmente, a definição de simbiose exclui os parasitas e os comensais, isso porque ela é entendida como a associação mutualística entre dois organismos de espécies diferentes (simbiontes), na qual cada parceiro proporciona algo que o outro não possui. Consequentemente, essa definição deixa termo Simbiose reservado para interações nas quais existe, ao menos, um indício de “mutualismo”. COMENSALISMO - Interação na qual uma população é beneficiada, enquanto a outra não é afetada. No nosso caso, quando o tempo comensal é utilizado num sentido mais amplo, ele se refere a interações em que o ganho não é o acesso direto aos alimentos fornecidos pelo hospedeiro, mais sim, uma combinação de transporte, apoio ou abrigo -> inquilinismo. - Muitos micróbios que fazem parte da microbiota comensal são encontrados na pele e no trato gastrintestinal. A grande maioria é composta por bactérias que apresentam mecanismos de fixação altamente especializados e necessidades ambientais precisas para a sua sobrevivência. Em geral, esses são inofensivos, mas podem causar doenças caso as condições ambientais em que vivem sofram mudanças. Esses patógenos oportunistas incluem: E. coli, S. aureus, S. epidermitis, Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa Estreptococos orais. Probióticos - O recente interesse na importância das bactérias para a saúde humana levou ao estudo dos probióticos, os quais consistem em culturas microbianas vivas, que podem ser aplicadas ou ingeridas, com o objetivo de exercerem um efeito benéfico. Os probióticos podem ser administrados juntamente com os prebióticos, que são substancias químicas que promovem seletivamente o crescimento de bactérias benéficas. Se essas bactérias colonizam o intestino grosso, o ácido láctico e as bacteriocinas produzidas por elas podem inibir o crescimento de certos patógenos. MUTUALISMO - É a interação obrigatória ou facultativa entre duas espécies com benefício mútuo de trocas diretas de bens ou serviços. Resulta na aquisição ou melhorias das aptidões dos indivíduos de ambas as espécies, do que quando elas se encontram isoladas. RELAÇÕES DESARMÔNICAS - São relações em que ocorre prejuízo para ao menos um dos participantes. AMENSALISMO - Uma espécie é prejudicada, e a outra não sofre prejuízos e nem benefícios. Algumas espécies de fungos liberam antibióticos, para impedir crescimento de bactérias. PREDAÇÃO - É a interação na qual um organismo (predador) consome parte ou o todo de um organismo vivo (presa), benéfica para o primeiro e prejudicial para o último. PARASITISMO - Interação na qual uma espécie de parasita se associa a outra espécie, que é a hospedeira, e causa prejuízos porque se alimenta à sua custa, ou seja, retirando nutrientes de outro ser. O parasita, mantém-se temporária ou permanentemente no interior, sobre ou perto do interior do hospedeiro. Geralmente, os parasitas são muito menores que seu hospedeiro, e são específicos. Parasitas podem igualmente ser caracterizados como: Microparasitas - Incluem organismos causadores de doenças, como vírus, bactérias, fungos e protozoários. Normalmente, aumentam em número no seu hospedeiro vertebrado para a reprodução. A resposta do hospedeiro é através da recuperação com o desenvolvimento de uma resposta imunológica de longa-duração ou mesmo a morte. Macroparasitas - São os vários vermes parasitas e artrópodes. Eles, geralmente, produzem ovos ou larvas que são expelidos. A resposta do hospedeiro é mais variável, dependendo, entre outras coisas, da carga parasitária. Divide-se em: Parasitas Completos: vivem no hospedeiro durante a vida toda Parasitas Incompletos: vivem no hospedeiro durante um certo período da vida. Podem ser: Endoparasitas: vivem na parte interna do hospedeiro como as tênias, vermes e alguns micro-organismos; Ectoparasitas: vivem na parte externa do animal ou planta como fungos, piolhos, pulgas e carrapatos. DIFERENTES LOCAIS DO CORPO Pele: a maioria dos micróbios em contato direto com a pele não se torna residente, uma vez que as secreções das glândulas sudoríparas e sebáceas têm propriedades antimicrobianas. Olhos: A conjuntiva, uma continuação da membrana mucosa, contém basicamente a mesma microbiota encontrada na pele. As lágrimas e o ato de piscar eliminam alguns micróbios ou inibem a colonização por outros. Nariz e garganta: Embora alguns membros da microbiota normal sejam potenciais patógenos, sua habilidade para causar doenças é reduzida pelo antagonismo microbiano. As secreções nasais matam ou inibem o crescimento de muitos micróbios, e o muco e o movimento ciliar também removem muitos micróbios. Boca: A umidade abundante, a atmosfera quente e a presença constante de alimentos tornam a boca um ambiente ideal para os micróbios. Ela é capaz de abrigar populações microbianas grandes e diversas na língua, bochechas, dentes e gengiva. Os atos de morder, mastigar, movimentar a língua e salivar desalojam os micróbios. A saliva contém várias substâncias antimicrobianas. Sistema reprodutivo e urinário: O muco e a descamação periódica previnem que muitos microrganismos colonizem o revestimento do trato urogenital; o fluxo de urina remove os micróbios mecanicamente. Além disso, o pH da urina e a ureia são antimicrobianos HIPÓTESE DA HIGIENE - Foi postulada incialmente pelo Dr. Strachan e sugeria que irmãos mais novos apresentavam menos rinite alérgica do que seus irmãos mais velhos, porque tinham infecções mais frequentes e, portanto, menos alergia. É a ideia de que as infecções e contatos “não higiênicos” poderiam conferir proteção contra o desenvolvimento de doenças alérgicas. - Nos anos subsequentes, essa hipótese se expandiu para a incluir a exposição a microrganismo e os seus produtos, animais domésticos, aumento da prescrição de antibióticos e vacinas, alteração da dieta e colonização intestinal da criança. BASE IMUNOLÓGICA- A hipótese pode ser explicada por meio dos mecanismos de ação dos linfócitos Th1 e Th2, os quais são diferenciados de acordo com as citocinas produzidas pela resposta do sist. imune inato. Nessa hipótese, o desequilíbrio da resposta Th1/Th2 justifica o aumento de doenças crônicas e alérgicas. Eles afirmam que sociedades desenvolvidas, cujas famílias possuem maior renda apresentam melhores e maiores condições de higiene, isolamento social, uso frequente de antibióticos e vacinação, contato com agrotóxicos e com menos exposição rural > Todos esses fatores citados limitam o contato das crianças com os patógenos diversos e impedem a manifestação de doenças. infecciosas agidas na primeira infâncias. A inibição da ação de linfócitos Th1 favorece a ativação dos linfócitos Th2, que são os responsáveis pelas manifestações alérgicas crônicas. Ponto forte da hipótese - As Tregs protegem o organismo dos efeitos da inflamação decorrente da destruição dos patógenos ao reduzir a resposta imune, necessitando para isso de uma estimulação precoce por agente infeccioso. Sendo assim, as infecções por micro-organismos no início da vida proporcionam o equilíbrio de respostas Linfócitos Th1: responsáveis pela resposta a ameaças infecciosas virais ou bacterianas, produz citocinas pró-inflamatórias. Linfócitos Th2: estimulados por ameaças parasitárias e produzem citocinas anti-inflamatórias, compõem a imunidade humoral e estão implicados nas alergias > Essas células mudam a classe de Ig para IgE, imunoglobulina que possui papel fundamental na alergia, pois, possuem atividade eosinofilica e a produção de muco nas vias do trato respiratório e TGI. pró-alérgicas de células Th2 através do amadurecimento da resposta Th1. - Outro ponto forte para o embasar essa teoria é a questão da existência dos receptores Toll-Like (TLR) das células dendríticas, epiteliais e B, em que a maturação permite a estimulação das células Th1, Tregs e a “down-regulation” de algumas respostas alérgicas Th2 (redução). Assim, existe um equilíbrio contínuo do sistema imunológico e polimorfismos genéticos nesses receptores estão associados a diferentes riscos e aumento de severidade de doenças alérgicas, sendo que, as alterações são dependentes do contexto ambiental que o indivíduo está inserido. - O conjunto de citocinas (IL-2, IFN-gama, IL-10, etc) existe quando o sistema imune é submetido a estimulação crônica e reincidente. Sendo assim, a hiper reatividade Th2 pode ser uma consequência da falta de resposta Th1, da supressão das Tregs, ou, ambas. Ponto fraco da hipótese - Muitos autores ao argumentarem sobre as fragilidades da hipótese lembram que o declínio em doenças infecciosas - devido à melhora nas condições de habitação e ao uso de antibióticos - teria ocorrido muitos anos antes da epidemia de doenças autoimunes Th1 e alérgicas Th2. DESENVOLVIMENTO IMUNOLÓGICO - No período neonatal o sistema imune tende para uma resposta Th2, em seguida esse desvio da resposta Th2 é revertido pelo desenvolvimento da resposta Th1 através do estímulo microbiano. Esse equilíbrio será rápido, de uma forma que evita o desencadeamento de uma resposta alérgica. Uma falta de estimulação microbiana levará a uma resposta Th inapropriada (Th2) ou desregulada (falta de células Tregs) resultando em uma doença atópica -> provocada por reação alérgica causada pela ativação da IgE As infecções por helmintos estimulam a resposta imune Th2, comum às alergias. As infecções desencadearão uma down regulation compensatória dessa resposta diminuindo assim a incidência das alergias. - Existem algumas exposições que estão mais concretamente envolvidas na redução da atopia: infecções por bactérias, vírus e parasitas, endotoxinas Exposição a endotoxinas com doses altas e crônicas será mais eficaz na diminuição do risco de atopia do que exposições mais baixas, esporádicas e intermitentes Países com alta prevalência de tuberculose tendem a ter números mais baixos de atopia, que pode refletir o favorecimento da resposta Th1 pela bactéria A proteção pela amamentação é aparentemente paradoxal, dado que o leite materno previne infecções intestinais e respiratórias, apesar de transmitir algumas infecções víricas. No entanto, a composição da flora intestinal das crianças amamentadas, mais rica em bactérias lácticas, poderá ser o mecanismo protetor. Se o bebê é amamentado exclusivamente, é importante não realizar a higiene após cada mamada: o leite materno possui imunoglobulinas, organismo), que permanecem na boca, na faringe, no trato gastrointestinal, passando por todo o intestino. Se retirarmos o leite, estamos também retirando esses fatores de proteção, que previnem doenças, alergias, infecções, neste caso para a mucosa oral. O aumento do risco de dermatite atópica em crianças com níveis mais elevados de higiene pessoal pode estar sujeito ao viés de que estes cuidados podem irritar a pele já seca. IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA - É deficiência no sistema imune que está presente desde o nascimento. Defeitos ou ausências de uma série de genes hereditários podem resultar em imunodeficiência primarias. Existem 10 sinais de alerta para imunodeficiência primária nas crianças, como por exemplo duas ou mais pneumonias no último ano; infecções intestinais de repetição/diarréia crônica; efeito adverso ao BCG e/ou infecção por micobactéria; etc. IMUNODEFICIÊNCIA SECUNDÁRIA - Ocorre em crianças e adultos e não possui relação com os defeitos genéticos. É caracterizada pelos desenvolvimentos de processos patológicos infecciosos e inflamatórios prolongados -> os sintomas são devido à baixa imunidade. É basicamente a perda da função do sistema imune como resultado da exposição a agentes de doenças, fatores ambientais, imunossupressão ou envelhecimento. ANÁLISE CRÍTICA - Em um indivíduo já sensibilizado, a exposição aos alérgenos favorece o risco de crises alérgicas. Porém, de acordo com a Hipótese, quando ainda não sensibilizado, a exposição a alguns micro- organismos, o contato com outras pessoas e vivência ao ar livre favorece o amadurecimento do sistema imune. Estudo feito com 155 crianças de 6 e 7 anos e adolescentes de 13 e 14 anos de uma instituição particular de ensino e um bairro popular da cidade de Itajubá (MG): a hipótese da higiene foi relevante quanto aos fatores associados à renda familiar, ao contato com animais de fazenda e animais domésticos nos primeiros anos de vida, ao uso de antibióticos nos primeiros anos de vida e à quantidade de horas gastas assistindo TV ou utilizando computadores. - O efeito da assepsia do ambiente sobre a saúde humana segue uma curva em U invertido, ou seja, necessita um nível ideal intermediário para ter seu melhor efeito. Pouca limpeza é ruim, assim como muita também. TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA - Os mecanismos de tolerância eliminam ou inativam linfócitos que expressam receptores de alta afinidade para autoantígenos. Essa tolerância é antígeno- específica e resulta do reconhecimento antigênico pelos clones individuais de linfócitos. Qualquer antígeno pode ser um imunógeno ou um tolerógeno e isso depende de numerosos fatores, como a exposição ao antígeno durante a maturação dos linfócitos. - A indução da tolerância imunológica é uma potencial abordagem terapêutica para a prevenção de respostas imunes prejudiciais -> tratamento de doenças autoimunes e alérgicas, prevenir a rejeição de órgãos transplantados, etc. Contudo, ainda não se sabe quais autoantígenos induzem tolerância central ou periférica (ou quais são ignorados). TOLERÂNCIA CENTRAL - É a autotolerância induzida em linfócitos imaturos autorreativos nos órgãos linfoides que os geraram, sendo o timo para ascélulas T, e a medula óssea para os linfócitos B -> os dois são chamados de órgãos linfoides centrais. Essa tolerância garante que os linfócitos naive (nunca encontraram um antígeno) maduros se tornem incapazes de responder a autoantígenos que são expressos nos órgãos linfoides geradores. Apesar disso, muitos linfócitos autorreativos completam sua maturação, e é nesse momento que são necessários os mecanismos de tolerância periférica para prevenir a ativação desses linfócitos. - Ocorre durante o estágio da maturação dos linfócitos, quando o encontro com o antígeno pode levar à morte celular ou à substituição de um receptor antigênico autorreativo por outro não autorreativo. Nos órgãos linfoides geradores, os linfócitos imaturos que reconhecem antígenos são tipicamente células específicas para autoantígenos e não para antígenos estranhos. Tolerância central nas células T - O principal mecanismo é a seleção negativa ou deleção. Essa seleção ocorre em células T duplo- positivas no córtex tímico e em células T simples- positivas recém-geradas na medula. Em ambos os locais, timócitos imaturos com receptores de alta afinidade para autoantígenos morrem por apoptose. Afeta as células T restritas ao MHC de classe I e de classe II, sendo importante para a tolerância nas populações de linfócitos CD8 + e CD4 +. Resumo do processo 1- Linfócito T imaturo reage ao antígeno próprio apresentado pelo MHC 2- Recebe sinais do TCR que estimulam apoptose e morre antes de completar a maturação. - Fatores que determinam se o autoantígeno induzirá a deleção: Presença do antígeno no timo (por expressão local ou transporte pelo sangue) Afinidade dos receptores de célula T (TCRs) dos timócitos que reconhecem o antígeno - Algumas células T CD4+ imaturas que reconhecem autoantígenos no timo não morrem, mas se desenvolvem em células T reguladoras (tregs) e entram nos tecidos periféricos. Proteína reguladora autoimune (AIRE): regula a expressão de antígenos tecido- restritos (TRAs) nas células epiteliais da medula do timo (MTECs). Os peptídeos derivados desses antígenos são reconhecidos por células T antígeno-específicas imaturas, levando à deleção de muitas células T autorreativas. Tolerância central nas células B - Os linfócitos B imaturos que reconhecem autoantígenos na medula óssea com alta afinidade mudam sua especificidade ou são deletados: Edição dos receptores: ocorre um rearranjo na célula B imatura autorreativa e uma nova cadeia leve de Ig é expressa associada à cadeia pesada prévia, criando um receptor de células B (BCR) com nova especificidade. Deleção: se a edição falhar, as células B imaturas podem morrer por apoptose. Anergia: ocorre quando as células B em desenvolvimento reconhecem autoantígenos fracamente, assim, elas se tornam funcionalmente não responsivas e saem da medula óssea nesse estado. TOLERÂNCIA PERIFÉRICA - É a autotolerância em linfócitos maduros nos órgãos linfoides periféricos (linfonodos, baço e tecidos linfoides associados às mucosas). Linfócitos maduros que reconhecem autoantígenos nos tecidos periféricos se tornam incapazes de serem ativados pela reexposição àquele antígeno ou morrem por apoptose. - Os mecanismos de tolerância periférica são importantes para: Manutenção da não responsividade a autoantígenos expressos em tecidos periféricos Tolerância a autoantígenos expressos somente na vida adulta, depois que muitos linfócitos maduros específicos para esses antígenos já tenham sido gerados. Complemento para os mecanismos centrais. - Essa tolerância pode ser mantida pelas células T reguladoras (Tregs) que suprimem a ativação dos linfócitos específicos para antígenos próprios; essa supressão ocorre nos órgãos linfoides secundários e nos tecidos não linfoides. Tolerância periférica nas células T - Possui 3 mecanismos responsáveis pela tolerância das células T a autoantígenos tecido-específicos: Anergia (inativação funcional) - Os linfócitos T virgens precisam de no mínimo 2 sinais para sua diferenciação em células efetoras: Sinal 1: reconhecimento do antígeno pelo TCR Sinal 2: coestimuladores expressos nas APCs em resposta a microrganismos - Dessa forma, quando as células TCD4+ maduras são expostas ao antígeno sem a presença dos coestimuladores, ocorre a anergia, ou seja, essas células se tornam incapazes de responder àquele antígeno. - O processo é o seguinte: 1. APC apresenta o antígeno para a célula T virgem, que recebe o 1º sinal de seus receptores (TCR) 2. A célula T não recebe coestimulação -> não ocorre resposta imune inata 3. Os TCRs podem perder a habilidade de transmitir sinais ativadores ou englobar receptores inibitórios, resultando na anergia de longa duração -> a célula T se torna incapaz de responder ao autoantígeno Supressão imune pelas Tregs - As Tregs são uma subpopulação de células TCD4+ cuja função é suprimir as respostas imunes e manter a autotolerância. Elas causam inibição da ativação da célula T virgem em efetora e inibição de funções da célula T efetora. Deleção (morte celular induzida por ativação) - Os linfócitos T que reconhecem autoantígenos com alta afinidade ou que são repetidamente estimulados por antígenos podem morrer por apoptose. Há duas vias principais: Via mitocondrial (intrínseca): 1. Células T reconhecem autoantígenos sem coestimulação 2. Ocorre produção excessiva de proteínas pró- apoptóticas Na resposta a microrganismos, há a produção de proteínas antiapoptóticas induzidas pelos coestimuladores e pelos fatores de crescimento, que neutralizam as proteínas pró-apoptóticas. 3. Surgem proteínas mitocondriais que ativam as caspases -> enzimas citosólicas que induzem apoptose através da fragmentação do DNA e a outras alterações Via do receptor de morte (extrínseca): 1) Reconhecimento de autoantígeno e coexpressão de receptores para a morte e seu ligante 2) As interações ligantes-receptor geram sinais através dos receptores de morte que ativam as caspases, causando a apoptose. Tolerância periférica nas células B - Linfócitos B maduros que reconhecem autoantígenos em tecidos periféricos na ausência de células T auxiliares (TCD4+) podem ser considerados funcionalmente não responsivos ou morrer por apoptose. Os sinais das TCD4+ podem estar ausentes se essas células T tiverem sido deletadas, estiverem anérgicas ou se os autoantígenos forem não proteicos. - Os mecanismos de tolerância periférica também eliminam clones de células B autorreativos que podem ser gerados como uma consequência não intencional da mutação somática nos centros germinativos. 1) Linfócito B maduro reconhece antígeno próprio e não recebe estímulo da TCD4+, tornando-se anérgico ou parcialmente ativado. 2) Célula B é excluída do folículo linfoide. 3) A ausência de estímulos de sobrevivência leva à morte da célula. TOLERÂNCIA A MICRORGANISMOS COMENSAIS E OUTROS ANTÍGENOS - Microrganismos comensais induzem pouca ou nenhuma resposta imune inata, e, assim, não induzem coestimuladores para estimular as respostas imunes adaptativas. Além disso, eles induzem e ativam Tregs, que previnem o desenvolvimento de células efetoras e de memória. - Antígenos estranhos podem ser administrados de maneira que induzam a tolerância, em vez de respostas imunológicas. A administração oral de um antígeno proteico frequentemente leva à supressão das respostas imunológicas humorais e celulares em resposta à imunização com esse mesmo antígeno. Esse fenômeno é chamado tolerância oral. TOLERÂNCIA ORAL - A tolerância oral é a não responsividade sistêmica a antígenos ingeridos ou administrados por via oral. Acredita-se que o seu papel fisiológico é a prevenção de respostasimunes potencialmente prejudiciais a proteínas alimentares e bactérias comensais. A administração oral de antígeno no contexto de estimulação da imunidade inata pode levar a respostas imunes adaptativas, como ocorre no uso de vacinas orais (gotinha) para induzir respostas de anticorpo protetoras contra poliovírus por exemplo. - A alergia alimentar predomina nos primeiros meses de vida, e o desenvolvimento da tolerância oral depende de exposições repetidas desse antígeno, isso porque a ingestão de uma dose única sensibiliza (não ocorre a tolerância), em especial nos primeiros dias de vida. - O sistema imune poderá ser considerado como constituído por 2 sistemas associados: o sistêmico (atua no meio interno identificando, eliminando ou neutralizando moléculas estranhas) e o mucoso (MALT), que atua como fronteira, buscado que a absorção de elementos estranhos, indispensáveis para a nutrição, não perturbe a fisiologia do indivíduo. - Os enterócitos (células da mucosa intestinal), além da absorção, possuem função de APC, induzindo a tolerância. As células do sistema imune mucoso se diferenciam em contato com antígenos do lume intestinal (microbianos ou alimentares), ficando instruídas na produção de anticorpos da classe IgA -> ele não ativa o Sistema Complemento, mas sim impede a aderência dos microrganismos sem os destruir, permitindo manter as mucosas colonizadas pela flora comensal. No caso da mulher, os plasmócitos recrutados no intestino, irão colonizar não só a mucosa entérica como também a da glândula mamária, assim, o recém-nascido amamentado ingeriria não só os nutrientes adequados, como anticorpos IgA secretores, que irão colonizar o intestino imunologicamente inexperiente, minimizando os riscos desse primeiro contato. - Nas doenças autoimunes, nem sempre o antígeno alvo é conhecido e o processo pode ser mediado por linfócitos T e/ou B, assim, a solução terapêutica ideal seria a indução de tolerância. Doenças autoimunes, nas quais ocorre quebra da tolerância ao próprio, tem sido possível a regeneração da tolerância através da administração oral de antígenos ou de peptídeos contra os quais a resposta imunológica ocorre. - A utilização da via oral para tolerização se baseia no fato de que o TGI entra em contato diariamente com variados tipos de produtos alimentícios, bacterianos, parasitários, e químicos, e que para contornar esse constante estímulo antigênico seria estimulada a regulação negativa às respostas imunes sistêmicas. Entretanto, a tolerância oral não se desenvolve em situações de antígenos que persistem e replicam na mucosa intestinal, ou frente a viroses patogênicas e bactérias que invadem diretamente esse ambiente. A indução e manutenção desse estado de tolerância depende de alguns fatores: Natureza e dose do antígeno Frequência das exposições e intervalos entre as mesmas Experiências imunológicas prévias Idade do primeiro contato com o antígeno Fatores genéticos MECANISMOS IMUNOLÓGICOS DA TOLERÂNCIA - A tolerância imunológica aos autoantígenos ocorre principalmente no timo por mecanismos que destroem ou inativam linfócitos T autorreativos através de deleção clonal, anergia clonal ou supressão. Acredita-se que apenas 5% linfócitos T imaturos provenientes da medula óssea que chegam ao timo atingem a circulação periférica, sendo intensa a taxa de apoptose. As células que chegam na periferia são imunocompetentes contra antígenos estranhos. Assim, o desenvolvimento de processos autoimunes poderia estar vinculado aos linfócitos T autoreativos que não foram deletados no timo, e a inativação dessas células na periferia seria a condição necessária para a manutenção da tolerância imunológica. - A evolução da doença autoimune se relaciona com: infiltração de células Th1 no sítio alvo com secreção de citocinas como IL-2, IFN-γ, além do aumento de expressão do receptor de IL-2 (IL-2R). Já a supressão dessa doença está ligada com a secreção de IL-4 e TGF-beta. De acordo com o antígeno, a dose, e o protocolo de imunização utilizado, a tolerização oral pode ficar restrita ao compartimento de linfócitos T, já que a tolerização ao sistema de células B pode requerer doses de antígeno 100 a 1000 vezes maiores. - Tem se mostrado que um dos mecanismos primários associados a tolerância oral é a supressão ativa, obtida pela administração de baixas doses do antígeno, que induz a ativação de vias supressivas dependentes de linfócitos Th2 e TGF-β. Essa supressão é mediada pelas Tregs, que são capazes de suprimir a resposta de células efetoras que reconhecem o mesmo antígeno. - Já a anergia é caracterizada pela ausência de proliferação, e da produção de IL-2, com expressão diminuída do receptor dessa interleucina. Essa forma de tolerização depende da administração de altas doses de antígenos, culminando na paralisia das células T capazes de reação a tais antígenos, e inibição da imunidade humoral. - Assim, a tolerância periférica induzida por ingestão de antígenos pode ser mediada por anergia e supressão, sendo definido o mecanismo de acordo com a dose do antígeno. TECIDOS ENVOLVIDOS Sistema imune comum de mucosa - São os sítios indutivos de IgA, via de migração circulatória celular, e sítios efetores de IgA. Sítios efetores de IgA são tecidos e glândulas que formam as secreções externas das membranas mucosas do corpo (regiões oral e intestinal, trato respiratório superior e geniturinário e tecidos glandulares associados) -> glândulas salivares são o principal tecido efetor de IgA na região oral Tecido linfoide associado à mucosa (MALT) - Pode ser dividido em 2 subsistemas: o GALT, encontrado no sistema digestivo, e o BALT, presente no sistema respiratório. - O GALT é formado pelas placas de Peyer, linfócitos intraepiteliais e linfócitos de lâmina própria. As células do intestino capazes de apresentarem antígenos são: Macrófagos Células dendríticas nas Placas de Peyer e lâmina própria Linfócitos B Células epiteliais -> expressando MHC de classe II no epitélio do intestino delgado - Quando ministrados em baixas doses, os antígenos estimulam o GALT e geram preferencialmente resposta imune do tipo Th2 -> é a supressão ativa, que gera as Tregs, as quais migram para órgãos linfóides e podem inibir a geração de células efetoras, liberando no órgão alvo citocinas capazes de suprimir a doença. Altas doses de antígeno administradas oralmente resultam na sua passagem pelo intestino, com posterior apresentação sistêmica. Nesse caso, as células com função Th1 apresentam ausência de resposta imune -> anergia. Placas de Peyer (PP) - É o tecido linfoide mais organizado do intestino, apresentando maior ocorrência de folículos no íleo do que no jejuno. Constituem um centro germinativo de linfócitos B, sendo fonte de células precursoras, as quais, quando submetidas à estimulação antígeno- específica, podem migrar, multiplicar e diferenciar, além de repopular tecidos de mucosa distantes através do sistema imune comum de mucosa. Linfócitos intraepiteliais (IELs) - Os IELs são encontrados em superfícies basolaterais das células epiteliais e são predominantemente do fenótipo CD8+.