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Nefrologia Exame físico: • Palpação: o Manobra de Guyon: paciente em decúbito dorsal, médico coloca a mão esquerda no rebordo costal, empurrando o rim para cima e com a mão direita tenta palpar o rim. o Manobra de Israel: mesma manobra, só que o paciente em decúbito lateral. Utilizada em pacientes obesos. • Percussão: o Sinal de Giordano: com a mão aberta, espalmada, dá leves batidinhas no dorso do paciente o Percussão de Murphy: punho percussão no dorso do paciente. • Ausculta: o Ausculta do abdome, diante da presença de paciente que possui hipertensão por estenose de uma ou ambas artérias renais leva a um quadro de diminuição da perfusão renal e, consequentemente, aumento da produção de renina, sendo então chamado de hipertensão renovascular. Quando ocorre estenose, há presença de sopro. Solicita-se um eco doppler renal ou angiotomografia renal para confirmação de diagnóstico e observa em qual grau está. • Qualquer alteração no sumário de urina pode ser devido a uma alteração renal ou doença sistêmica (glicosúria sugere diabetes, bilirrubina na urina pode ser uma doença hepática) • Também é chamado de Urina tipo 1, urinálise, uroanálise, EAS. • Coleta da urina: deve ser bem colhida e armazenada para que não haja erros na interpretação do exame. o Recomendações: 1. A urina deve ser coletada em recipiente preferencialmente esterilizado ou no mínimo lavado com sabão neutro. 2. A amostra de urina deve ser enviada ao laboratório nas primeiras 2 horas após a coleta. A presença de uratos e fosfatos pode deixar a urina turva, podendo caracterizar como patológica. 3. Caso haja necessidade de ultrapassar este período, o material deve ser conservado na geladeira 4. É aconselhável a colheita do jato médio e matinal, após uma noite de desidratação, aferindo desta forma a capacidade de concentração urinária. 5. O primeiro jato está indicado quando se deseja pesquisar patologias de uretra (uretrites) uma vez que a primeira parcela eliminada da micção contém material da uretra anterior e anexo (próstata). 6. Nas mulheres, orientamos higiene cuidadosa com sabão neutro da genitália externa. 7. Evitar coleta durante o período menstrual 8. Nos homens e recomendável a limpeza da glande com água e sabão neutro. 9. Recém-nascidos e criança menores aconselha-se coletores de urina em saquinho plástico. 10. A amostra de urina pode ser obtida por diurese espontânea, saco coletor ou punção supra púbica (casos excepcionais) • Características físicas: o Aspecto: límpida e transparente. Urina turva está relacionada a deposito de substâncias, dentre eles eritrócitos, leucócitos, bactérias, fungos, cristais, lipídios. o Cor e odor: amarelo citrino (presença de pigmento chamado urocromo). Pode variar de amarelo mais intenso a um amarelo mais claro dependendo da concentração urinária e do estado de hidratação da pessoa. ▪ Alterações na cor da urina: ▪ Ausência de cor: hiper- hidratação, D. Insipido, D. Mellitus, IRC. ▪ Urina leitosa, turva: lipidúria, quiluria, fungo ▪ Laranja: urobilina, bilirrubina, fenazopiridina ▪ Vermelha-rosa: hemácias, hemoglobina, porfirina, beterraba, ruibarbo. Urato, fenolftaleína, rifampicina ▪ Vermelho-marrom: hemoglobina, mioglobina hemácias, melanina, metildopa metronidazol ▪ Azul-verde: pseudomonas (síndrome da fralda azul), indometacina amitriptilina, propofol. ▪ Preta: alcaptonúria (ocronose). o Densidade: capacidade de concentração urinária (mede a quantidade de partículas e o volume dessa partícula diluído na urina). Quanto mais concentrada a urina, maior é sua densidade. Quanto maior o volume de líquido, mais diluída a urina, menor sua densidade. VR: 1010 a 1025. Acima de 1025 a urina está concentrada, o paciente pode estar desidratado, hipovolêmico. Abaixo de 1010 o paciente está hiper hidratado ou o rim perdeu a capacidade de concentrar urina. ▪ Densidade baixa: hiper hidratação, IRC, Diabetes Insípido ▪ Densidade elevada: desidratação, presença de solutos (glicose, proteínas, contraste) • Características químicas: o pH: controle acidobásico (cálculo renal se desenvolve a partir de pH ácido, pela cristalização de ácido úrico). ▪ Urina ácida <5,0: Acidose metabólica, ingesta aumentada de proteína, estado febril, intoxicação por metanol ▪ Urina alcalina >7,0: Alcalose metabólica, dieta vegetariana, acidose tubular renal, infecção por bactérias desdobradoras de ureia (proteus, pseudomonas), medicamentos (acetazolamida, tiazídicos) o Glicose: normalmente não aparece na urina. Só aparece quando a glicose se eleva no sangue, geralmente acima de 180, pois ultrapassa a capacidade de reabsorção. A glicose é reabsorvida nos túbulos proximais, no segmento S1 (90%), através do cotransportador SGLT2. Quando há uma mutação no gene que codifica esse cotransportador, ele não irá atuar e ocorrerá perda de glicose, como na glicosúria renal. Existe também uma droga que inibe esse cotransportador, ajudando a diminuir a hiperglicemia, pois aumenta a excreção de glicose na urina. Paciente em insuficiência renal avançada pode ter glicose na urina e não ser detectada, pois como há a diminuição da filtração de urina, a quantidade que passa de glicose, muitas vezes bem pequena, não é detectada. ▪ Pré renal: relacionada com condições que induzem hiperglicemia: DM, síndrome de Cushing. ▪ Renal: Alteração na absorção renal (glicosúria com glicemia normal): Glicosúria renal, síndrome de Fanconi, glomerulopatia. ▪ Glicosúria fisiológica ou transitória: estresse (catecolaminas): emocional, trauma, infecção; gravidez: diminui limiar de reabsorção; corticoide: ação glicogenolítica; ingestão aumentada de glicose. o Corpos cetônicos: aparece na cetoacidose diabética e significa descompensação diabética. Pode aparecer também em casos de jejum prolongado, dieta para redução de peso, exercício físico intenso e estados febris. o Bilirrubinúria e urobilinogênio: não deve aparecer na urina. Caso apareça, pesquisar doença hepática ou sistêmica. ▪ Pré-hepática: hemolítica: transfusão incompleta; eritropoiese irregular: talassemia, anemia falciforme; síndromes hemolíticas: malária, SHU. ▪ Hepática: Cirrose, congestão, defeito genético. ▪ Pós hepática: Carcinoma, cálculo, fibrose. ▪ Doenças hemolíticas: Bilirrubinúria negativa e urobilinogênio positivo ▪ Doença hepática (hepatite, cirrose, congestão): Bilirrubinúria e urobilinogênio positivo ▪ Obstrução biliar (Câncer, cálculo, fibrose): Bilirrubinúria positiva e urobilinogênio negativo. o Hemoglubinúria: ▪ Hemólise (reação transfusional; infecção: malária, sepses por bacillus perfringens; intoxicação: naftaleno; acidente ofídico (jararaca, cascavel); derivados de hidroquinona (reveladores de fotografia); sulfonamidas. ▪ Hematúria: perda de sangue na urina. Se demorar para levar ao laboratório pode ocorrer rompimento das hemácias. o Proteinúria: ausentes. Se presente, procurar a causa. Estima-se que 10mg/100ml ▪ Testes semiquantitativos. ▪ Relação do grau de proteinúria: • Traços: 10mg/dl • Proteína +: 15 a 30 mg/dl • Proteína++: 40 a 100 mg/dl • Proteína +++: 150 a 350 mg/dl • Proteína ++++: >500mg/dl ▪ Proteinúria funcional e transitória: estados febris, exposição ao calor e ao frio intenso, exercício físico intenso, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial: geralmente é de caráter leve. o Nitrito: evidência indireta de infecção urinária, presença de bactéria que converte nitrato em nitrito (E. coli). o Esterase leucocitária: evidência de infecção urinária. Pode apresentar piúria, inflamação aguda e cálculo renal. • Sedimentoscopia: o Analisadapelo microscópio. Observa a presença de células epiteliais, leucócitos e piócitos, bactérias, hemácias, cilindros (hialinos, granulosos, céreos, hemáticos, leucocitários) e cristais. o Elementos celulares: podem ser fisiológicos quando em pequena quantidade. Se em grande quantidade pode ser um processo inflamatório. o Leucocitúria: acima de 3 pode ser considerado infecção (não há concordância na literatura 2 ou 5). o Bacteriúria: pode ser por contaminação, mas quando associado a outras coisas, como nitratos, pode ser infecção. o Hemácias: hematúria – acima de 3 hemácias por campo através de análise semiquantitativa. Acima de 5000 hemácias/ml de urina por meio de câmara de contagem. ▪ Classificação: De acordo com padrão morfológico das hemácias. ▪ Glomerular: cilindros hemáticos, dismorfismo eritrocitário, proteinúria. ▪ Não glomerular: Ausência ou discreta proteinúria, ausência de cilindros, isomorfismo eritrocitário. ▪ Presença de codócitos e acantócitos (hemácias dismórficas) na urina é sugestivo de hematúria glomerular. ▪ Cilindros: têm grande importância nas doenças renais, principalmente nas glomerulares. Eles são estruturas formadas por precipitados proteicos moldados na luz tubular (túbulo distal), tendo como matriz ou esqueleto a mucoproteína de Tramm-Hosfall (uromodulina). Podem ser cilindros hemáticos, cilindros leucocitários etc. ▪ Classificação dos cilindros: • Hialinos: Morfologia e composição: homogêneo, extremidades redondas, formados por uromodulina. Significado: fisiológico, febre, ICC, exercício físico, uso de diuréticos, estase urinária, síndrome nefrótica. • Granulosos: patológico. Morfologia e composição: células epiteliais, leucócitos, albumina e gordura. Significado: lesão tubular, inflamação, síndrome nefrótica. • Leucocitários: Morfologia e composição: células hialinas com leucócitos no interior. Significado: inflamação renal (alto – pielonefrites e glomerulonefrites) • Cilindros hemáticos: morfologia e composição: hemácias dentro da matriz proteica. Significado: glomerulonefrites, nefrite intersticial. • Cilindros céreos: Morfologia e composição: formados por degeneração de células tubulares e gordura. Significado: nefropatias crônicas. • Cilindros lipídicos: Morfologia e composição: transparente, inclusão de gotas lipídicas, refringentes, cruz de malta em luz polarizada. Significado: síndrome nefrótica. • Cristalúria: presença de cristais na urina, nem sempre patológico. Aparecem devido a dieta. Ingesta de ácido úrico e cálcio. Funções dos rins: • Excreção de metabólitos • Controle hidroeletrolítico • Controle acidobásico • Controle da pressão arterial • Secreção de eritropoietina • Secreção de 1,25 dihidroxicolicalciferol Marcadores de função renal: • Ureia: é o principal produto do catabolismo proteico. Sintetizado pelo fígado e não se liga as proteínas plasmática. o Aminoácidos das proteínas são degradados resultando na produção de amônia → Amônia é convertida em ureia no fígado → Ureia é transportada pelo sangue até os rins, onde é filtrada → 40% reabsorvida nos túbulos → Urina. o Dependente da ingesta de proteína. Há interferência hepática na sua dosagem. o A dosagem deve ser feita juntamente com a creatinina. Quando há insuficiência hepática e renal, a creatinina que se eleva mais, a ureia não se eleva tanto. Na hipovolemia a ureia se eleva e a creatinina não. o É um marcador indireto da filtração glomerular (função renal). o VR: 40-50mg% o Vantagens: não se liga às proteínas plasmáticas; é livremente filtrada pelos rins; fácil análise laboratorial. o Desvantagens: reabsorvida no túbulo renal, depende do fluxo urinário, depende da quantidade de proteína (dieta), depende da função hepática. o Fatores extra renais que influenciam na dosagem de ureia: o Catabolismo aumentado: sepse, uso de corticoide. • Creatinina: é o produto final do catabolismo muscular. o VR: H: 0,8 a 1,3mg%; M: 0,6 a 1,0mg%; Crianças: 0,3 a 0,8mg% o Vantagens: livremente filtrada pelos glomérulos, não se liga as proteínas plasmáticas, não sofre reabsorção pelos túbulos, produção e liberação muscular é constante (não se perde massa muscular de um dia para o outro). o Desvantagens: secretada pelos túbulos renais, depende da função hepática, depende da ingesta proteica (10%), depende da massa muscular e do sexo, volume de distribuição corporal. o Fatores extra renais que influenciam na dosagem de creatinina: • Clearence de creatinina (Depuração de creatinina endógena): é a quantidade de plasma que é totalmente depurada de uma substância na unidade de tempo. o Normais: 90 a 120ml/min o Inulina: totalmente filtrada, não é reabsorvida, não secretada e aparece na urina de forma plena. (não se usa, é muito trabalhosa, é exógena, tem que ser utilizada de forma endovenosa durante 24h de forma constante) o Creatinina: avaliar a taxa de filtração glomerular. o Quanto maior a creatinina, mais baixa é a taxa de filtração glomerular. o Vantagens: fácil análise, substância endógena. o Desvantagens: Coleta inadequada de 24h; secreção tubular de creatinina; na IR, a fração secretada aumenta muito, alterando o resultado dos valores. o Técnica para determinação da DCE: esvaziar a bexiga; coletar a urina de 24h para determinar o volume; coletar a amostra de sangue e da urina; determinar o peso e altura do paciente. o A taxa de filtração glomerular é mais sensível para se observar a função renal que a creatinina. A creatinina quando chega a se elevar, já perdeu em torno de 50 a 60% da função renal. o Fórmula de Cockcroft-Gault (1976): ▪ Sexo feminino multiplicar por 0,85 o Equação do estudo de MDRD (1999): Modification of Diet in Renal Disease. Utiliza idade, sexo, raça e creatinina. Aplicativo Qx calculate (tem problemas. Só dá a taxa de filtração em pacientes abaixo de 60%). o Mais utilizado: Equação CKD-EPI (2009) o Em criança: TGF= Kx estatura(cm)/ creatinina sérica. ▪ Lactente <1 ano: K=0,45 ▪ Criança de 1 a 12 anos: K=0,55 • Cistatina C: proteína de baixo peso molecular, produzida por todas as células nucleadas em ritmo constante, para corrigir a creatinina. o Vantagens: Não depende de massa muscular; não depende do estado nutricional; não depende do sexo, raça e idade. o Desvantagens: ainda não existe um padrão de referência internacional; corticoide aumenta os valores; disfunção da tireoide altera resultado; preço. Importância da avaliação da função renal: • Diagnosticar a insuficiência renal • Estadiar o grau de IR • Administrar doses adequadas de medicamentos • Tomar decisões quanto ao tipo de tratamento Estadiamento da doença renal: • Estágio 0: presença de fatores de risco: DCE>90 ml/min → hipertensão, diabetes, história familiar. • Estágio 1: presença de lesão renal: DCE>90 ml/min → proteinúria, rim policístico • Estágio 2:IR leve: DCE 60-89ml/min • Estágio 3: IR moderada: DCE 30-59 ml/min • Estágio 4: IR grave: DCE 15-59 ml/min • Estágio 5: IR terminal: DCE <15 ml/min Quando solicitar rotineiramente as provas de função renal? • Hipertensão arterial • Diabetes • História familiar de doença renal • Uso de drogas nefrotóxicas (AINH) • Anemia • Edema sem causa definida • Hematúria • ITU de repetição Marcadores de lesão: • Proteinúria: o Métodos de avaliação laboratorial: ▪ Avaliação por meio das fitas reagentes (sumário de urina): semiquantitativo. • Traços: 10 mg/dl • +: 15 a 30 mg/dl • ++: 40 a 100 mg/dl • +++: 150 a 350 mg/dl • ++++: acima de 500 mg/dl ▪ Medida de proteinúria de 24h: método quantitativo.• Valores normais: 150mg/24h. • Objetivo: avaliar o grau de proteinúria; prognóstico; intervenção terapêutica. ▪ Índice de proteinúria/ creatinúria (IPC) em amostra isolada de urina: quantitativo. • Utiliza-se uma amostra isolada de urina • Vantagens: criança, dificuldade em coletar urina 24h • Boa correlação com a proteinúria 24h • <0,2 normal • 0,2-0,5 proteinúria mínima • 0,5-2,0 proteinúria moderada • >2,0 proteinúria nefrótica • Importância: proteinúria é um marcador de lesão renal; muitas vezes ocorrendo como primeira manifestação de doença renal; desempenha um papel importante na progressão da doença renal Interpretação da proteinúria: • Tipos de proteinúria: o Funcional: o Glomerular: o Tubular: o De sobrecarga: • NGAL: lipocalina associada a gelatinase de neutrófilos: proteínas produzidas por células tubulares; eleva 2h após insulto isquêmico ou tóxico • Interleucina – 18: citocina pró- inflamatória; eleva 6h após insulto • KIM – 1: molécula de injuria renal: proteína produzida por células tubulares; eleva 12h após insulto