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Ciência e Higiene dos Alimentos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Maria Lucia Peralla de Carvalho Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária • Fundamentos de Microbiologia • Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) e Surtos • Perigos dos Alimentos: Físicos, Químicos e Biológicos • Apresentação das Boas Práticas de Manipulação dos Alimentos (BPMA) e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) · Listar os aspectos físicos, químicos e biológicos relacionados a con- taminação dos alimentos. · Relacionar o uso das BPMA e dos POPs com a Segurança Alimentar. OBJETIVO DE APRENDIZADO Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Fundamentos de Microbiologia A microbiologia dos alimentos é a parte da microbiologia que trata dos processos em que os microrganismos influenciam nas características dos produtos de consumo alimentício humano ou animal, ou seja, ela se preocupa com todos os microrganismos que contaminam os alimentos, como também com aqueles que são importantes na produção de alimentos e bebidas, isto é, aqueles que são benéficos e não causam contaminação (SILVA Jr.,2007). Assim como existem microrganismos benéficos, também têm aqueles que são agentes de deterioração do alimento tornando sua aparência, aroma e sabores impróprios, revelando que o alimento está estragado. Já outros microrganismos atuam como agentes patogênicos, ou seja, o alimento apresenta aparência, aroma e sabor que parecem bons, sem problemas, uma vez que suas características sen- soriais não estão alteradas, entretanto a pessoa que o consumir vem a sentir indis- posição, mal estar e doença, dependendo pode levar até a óbito (SILVA Jr.,2007). Entre os microrganismos de interesse aos alimentos destacam-se: • Fungos ( bolores e leveduras ) • Bactérias • Vírus • Os Fungos são divididos em bolores e leveduras (CANDIDO, 2008). Os bolores são fungos multicelulares que apresentam as suas células organiza- das como filamentos muito longos e ramificados, sendo, por isso, chamados de fungos filamentosos ou ramificados. Os bolores também são conhecidos como mofos. Os bolores têm a capacidade de diminuir o ph dos alimentos facilitando o crescimento de bactérias. Entre os alimentos que facilitam o crescimento de bolores temos: as frutas ácidas, como laranja e morango; as frutas ricas em açúcar, como banana e uva e finalmente os alimentos ricos em sal, como carnes salgadas, bacon, salame e presunto (GERMANO e GERMANO,2010). As leveduras são fungos os quais constituem um grupo de microrganismos uni- celulares, que desenvolvem a fermentação alcoólica. São largamente encontradas na natureza: são comuns no solo, nas superfícies de órgãos dos vegetais, princi- palmente em flores e frutos, no trato intestinal de animais, em líquidos açucarados, e numa grande série de outros locais e em sua grande parte são sapróbios, isto 8 9 é, nutrem-se de matéria orgânica em decomposição. Por serem fermentadores, as leveduras quando colocadas nos alimentos ou bebidas, transformam e modificam sua função sem causar doença. Por exemplo, leveduras acrescentadas a massa atuam na fabricação de pães, ou ainda, a ação de leveduras sobre as uvas ou suco promove a fabricação do vinho(CANDIDO, 2008). As bactérias (do grego bakteria, bastão) são organismos unicelulares, que podem ser encontrados na forma isolada ou em colônias. São microrganismos constituídos por uma célula, sem núcleo celular nem organelas membranares. Possuem vida própria e preferem ambientes úmidos, ou seja, alimentos com molho ou caldos, embora algumas delas vivam em alimentos mais secos, porém não desidratados. Vale lembrar que também tem afinidade por alimentos ricos em proteínas, como carnes, aves, peixes, moluscos, além de ovos, leite e queijos. As bactérias podem ser classificadas segundo a sua forma, como também quanto a sua capacidade de formar colônias (SILVA Jr.,2007). Em relação a sua Forma, elas podem ser: • Coco: de forma esférica ou subesférica; • Bacilo: em forma de bastonete (do género Bacillus); • Vibrião: em forma de vírgula (do género Vibrio); • Espirilo: de forma espiral/ondulada (do género Spirillum); • Espiroqueta: Em forma acentuada de espiral. GERMANO e GERMANO,2010. Apenas as bactérias em forma de bacilo ou de coco se organizam em colônias, a saber: • Diplococo: de forma esférica ou subesférica e agrupadas aos pares; • Estreptococos: formam cadeia semelhante a um “colar”; • Estafi lococos: uma forma desorganizada de agrupamento, formando cachos; • Sarcina: de forma cúbica, formado por 4 ou 8 cocos simetricamente postos; • Diplobacilos: bacilos reunidos dois a dois; • Estreptobacilos: bacilos alinhados em cadeia. GERMANO e GERMANO, 2010. A seguir pode-se visualizar as Formas pelas quais as bactérias são encontradas, assim como as Colônias que caracterizam sua organização em grupo: 9 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Figura 1 Fonte: Wikimedia commons As Colônias de bactérias quando visualizadas a olho nu por meio de uma lâmina, revelam a aparência da figura a seguir, porém quando vistas por meio da lente de um microscópio revelam as Formas e Colônias apresentadas na figura anterior. Figura 2 Fonte: iStock/Getty images 10 11 As bactérias podem ser classificadas, segundo a sua relação com o oxigênio, a saber: • Aeróbias: sobrevivem na presença do oxigênio; • Anaeróbias: sobrevivem sem a presença do oxigênio; • Facultativas: vivem com ou sem oxigênio (SILVA Jr.,2007). Vírus é uma palavra originária do latim, que significa toxina ou veneno. O vírus é um organismo biológico com grande capacidade de automultiplicação, porém se não estiverem dentro da célula de um animal ou do homem, não se reproduzem. É um agente capaz de causar doenças em animais e vegetais. O homem adquire esse microrganismo por meio da ingestão de água, leite ou outro alimento contaminado, e também pelo ar ou junto à pessoas doentes, por intermédio do contato direto,ou da manipulação dos alimentos. Algumas das doenças relacionadas aos vírus são a hepatite, o sarampo, a dengue, a AIDS e a febre amarela (SILVA Jr.,2007). Existem diferentes fatores que influenciam na multiplicação das bactérias . Assim as condições que agem favorecendo o crescimento ou a morte das bactérias são agrupados em fatores intrínsecos e fatores extrínsecos (CANDIDO, 2008). Entre os fatores intrínsecos, ou seja, relacionados às condições internas dos alimentos, encontram-se o ph (1), a quantidade de água livre encontrada nos alimentos (2), o oxigênio (3) e a composição química dos alimentos (4). Portanto a seguir serão enumeradas algumas considerações a respeito de cada um deles (CANDIDO, 2008). Em relação ao ph (1) sabe-se que está relacionado a medida de acidez , neutralidade e alcalinidade dos alimentos. As bactérias multiplicam-se melhor em um alimento cujo ph interno aproxima-se da neutralidade, já os fungos preferem alimentos cujo ph interno seja inferior a neutralidade. Abaixo são expostos valores de ph de diversos alimentos, como forma de se relacionar o tipo de microrganismo que pode vir a se multiplicar nele (CANDIDO, 2008). PH Classifi cação Alimentos e Produtos > 4,5 Pouco ácido Leite, carnes, pescados, vegetais, melão, laranja e uva 4,0 – 4,5 Ácidos Frutas e hortaliças < 4,0 Muito ácidos Sucos de frutas, maçã e limão Fonte : Silva Jr, E. A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Serviço de Alimentação 2007 Quanto a quantidade de água livre/ atividade de água (2) encontrada nos alimentos, pode-se afirmar que ela favorece a sobrevivência dos microrganismos, assim alguns alimentos podem se deteriorar mais rapidamente que outros. Comparando-se os microrganismos entre si, verifica-se que as bactérias necessitam de maior quantidade de água para sua multiplicação quando comparadas a bolores e leveduras. Em razão da quantidade de água de livre (CANDIDO, 2008), os alimentos são classificados em: • Alimentos não perecíveis: são alimentos cuja atividade de água é baixa, não favorecendo o crescimento dos microrganismos, por exemplo farináceos, cereais, leguminosas e óleos. 11 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária • Alimentos semiperecíveis: são alimentos cuja atividade de água é mediana, favorecendo o crescimento dos microrganismos , por exemplo frutas, legumes, verduras e ovos. • Alimentos perecíveis: são alimentos cuja atividade de água é elevada propi- ciando o rápido crescimento dos microrganismos, por exemplo carnes, leite e derivados e embutidos não defumados (CANDIDO, 2008). O oxigênio (3) é um fator determinante para o crescimento ou não das bacté- rias, logo são classificadas em: • Bactérias aeróbicas: multiplicam-se na presença de oxigênio • Bactérias anaeróbicas: multiplicam-se na ausência de oxigênio • Bactérias facultativas: multiplicam-se na presença ou na ausência de oxigênio (CANDIDO, 2008). Os nutrientes como carboidratos, lipídeos e proteínas fazem parte da com- posição química dos alimentos (4) influenciando no crescimento das bactérias, uma vez que atuam como substratos para a sua sobrevivência. De forma geral as bactérias revelam excelente crescimento em alimentos ricos em nutrientes, já os bolores e leveduras crescem melhor em alimentos ricos em carboidratos (açúcares) (CANDIDO, 2008). Entre os fatores extrínsecos, ou seja, relacionados as condições externas dos alimentos, encontram-se a temperatura (1), umidade relativa do ambiente (2), e presença de dióxido de carbono, ozônio e oxigênio no ambiente (3). Portanto a seguir serão enumeradas algumas considerações a respeito de cada um deles (CANDIDO, 2008). A temperatura (1) é considerada um dos fatores mais influentes no crescimen- to das bactérias, logo o seu controle prolonga a vida útil dos alimentos. A seguir apresenta-se a classificação das bactérias, segundo a temperatura relacionada a sua sobrevivência (SILVA Jr.,2007): As bactérias podem se multiplicar em uma faixa que varia de -35ºC a 90ºC. • Psicrófila: abaixo de 3° C • Psicrotrófica: –3° a 25° C • Mesófila: >25° a 40° C • Termófila: >40° a 60° C • Termodúrica: >60° C SILVA Jr.,2007. Um alimento cujo término da cocção, alcançar temperatura no centro geométrico em torno de 74° C, terá a eliminação de bactérias patogênicas não esporuladas. Logo recomenda-se o uso habitual de um termômetro, para monitorar a temperatura ao final do cozimento dos alimentos (SILVA Jr.,2007). 12 13 Os alimentos podem desencadear o crescimento ou não de bactérias e altera- ções sensoriais em razão da alta ou baixa quantidade de umidade (relativa) do ambiente (2) em que eles se encontram. Os alimentos, quando armazenados em ambientes secos, podem sofrer desidratação em sua superfície, ocorrendo mudan- ça em suas características sensoriais (CANDIDO, 2008). Enquanto que alimentos armazenados em ambientes úmidos podem sofrer efeito contrário, permitindo a multiplicação de bactérias, além de alterações nas características sensoriais (CAN- DIDO, 2008). Verifica-se que os alimentos podem sofrer ou não interferência de certos microrganismos em razão da quantidade de dióxido de carbono, ozônio e oxigênio (3). Assim os efeitos podem ser: • Ozônio: inibe a multiplicação dos microrganismos deteriorantes • Oxigênio: desenvolvem-se comumente os bolores, as bactérias e as leveduras • Dióxido de Carbono: retarda o desenvolvimento de fungos (CANDIDO, 2008). Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) e Surtos As doenças transmitidas por alimentos (DTA) englobam todas as ocorrências clínicas consequentes a ingestão de alimentos que podem estar contaminados com microrganismos patogênicos (infecciosos, toxinogênicos e infestantes), substâncias químicas, objetos que provocam lesões ou que contenham em sua composição estruturas naturalmente tóxicas, ou seja, são doenças decorrentes da ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos presentes nos alimentos (GERMANO e GERMANO,2010). A toxinose é definida como o quadro clínico decorrente da ingestão de toxinas bacterianas pré-formadas nos alimentos, em consequência da multiplicação de bactérias toxinogênicas nos alimentos como o Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum e Baccilus cereus emético (GERMANO e GERMANO,2010). A infecção é caracterizada por um quadro clínico decorrente da ingestão de microrganismos patogênicos que se multiplicam no trato gastrintestinal, produzindo toxinas ou agressão ao epitélio, como a Salmonella sp, Shigella sp, Escherichia coli patogênica, Vibrios patogênicos, etc, (GERMANO e GERMANO,2010). As infecções podem ser divididas (CANDIDO, 2008), em: (1) Não Invasiva – Toxicidade • Produção de toxina no intestino (Bacillus cereus clássico, Vibrio cholerae) • Liberação de toxina no intestino (Clostridium perfringens) 13 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária (2) Invasiva – Agressividade • Celular: destruição das células locais (Salmonelose, Shigelose etc) • Sistêmica: penetração através do intestino e disseminação pelo sangue (Salmonella typhi etc) (CANDIDO, 2008). A infestação é caracterizada por parasitose não invasiva de interesse médico. Também enquadram-se nesse caso helmintos e protozoários com ação patogênica intestinal (SILVA Jr.,2007). O surto por doença transmitida por alimentos é caracterizado pela ocor- rência de quadros clínicos gastrentéricos ou alérgicos em número superior às ocorrências endêmicas locais, consequentes à ingestão de alimentos em uma mesma comunidade ou coletividade, configurando uma origem de fonte comum (SILVA Jr.,2007). A seguir serão apresentadas as características relacionadas às bactérias causa- doras de toxinose (CANDIDO, 2008): Bactéria Características Contaminação Alimentos Quadro Clínico Clostridium botulinum Bactéria anaeróbica com crescimento em temperatura de 3⁰ a 50⁰ C Ocorre por contaminação cruzada ou por uso de processos térmicos inadequados Enlatados, conservas caseiras,carne cozida e mel preparado comercialmente Diarreia, vômito, sem febre, paralisia respiratória e morte. Staphylococcus aureus Bactéria anaeróbica facultativa com crescimento em temperatura de 7⁰ a 50⁰ C A contaminação ocorre por meio dos manipuladores com tosse, saliva, cabelo, feridas, queimaduras, unhas e secreções provenientes do corpo Carne e frango cozidos, presunto, batata, leite e derivados, tortas e cremes Diarreia, náusea, pulso fraco, vômito, dores abdominais, sem febre, tendo seu período de incubação de uma a seis horas A seguir serão apresentadas as características relacionadas as bactérias causa- doras de infecção (CANDIDO, 2008): Bactéria Características Contaminação Alimentos Quadro Clínico Salmonella sp Bactéria anaeróbica facultativa com crescimento em temperatura de 36⁰C Ocorre por contaminação cruzada ou por cocção inadequada Aves, carnes, produtos À base de ovos crus, ou não pasteurizados, doces, cremes, mousses, salada de maionese, ovos mal passados com gema mole. Diarreia, mal-estar, cólica, vômitos, com ou sem febre, tendo seu período de incubação de 08 a 22hs Escherichia coli Bactéria anaeróbica facultativa com crescimento em temperatura de 38⁰ C Ocorre por contaminação cruzada, mãos de manipuladores e cocção inadequada Hortaliças regadas com água contaminada e carnes, aves, pescados e vísceras de animais (principalmente bovina, sendo o intestino do animal reservatório natural), salada de maionese, purê de batata, lasanha e sobremesas manipuladas Diarreia, cólica, com ou sem febre, e vômitos 14 15 Perigos dos Alimentos: Físicos, Químicos e Biológicos Perigos Físicos Enquadram-se nesta categoria, corpos estranhos como pedaços de metal, de borracha, de plástico, e de madeira, além de areia, parafusos, cacos de vidro ou pedras. Tais elementos podem ser incorporados aos alimentos de forma acidental, por exemplo durante o processamento ou preparo caracterizando uma contaminação física. Tais contaminações são oriundas principalmente dos equipamentos utilizados durante o preparo das refeições, que podem em razão de manutenção inadequada, soltar partes de metais ou outro tipo de material, como plástico, borracha ou parafusos, principalmente quando for uma batedeira ou masseira. Também é importante estar atento às embalagens dos alimentos, as quais podem trazer consigo sujidades aderidas durante a colheita ou transporte, nesse caso a atenção está voltada a presença de terra e pedras (GERMANO e GERMANO,2010). Portanto quando é realizada a inspeção visual e a lavagem de produtos de origem vegetal, durante o pré-preparo dos alimentos, executa-se a eliminação dos perigos físicos. Perigos Químicos Os agrotóxicos, rodenticidas (composto químico usado para exterminar roedores em geral), hormônios (sintéticos), antibióticos, detergentes, metais pesados, como mercúrio e chumbo, e óleos lubrificantes, entre outros são considerados perigos químicos. A contaminação química dos alimentos pode ocorrer desde a etapa de produção até o consumo. Portanto a contaminação química pode ocorrer no campo por intermédio da aplicação de agrotóxicos, hormônios, dentre outros agentes, com o propósito de controlar as pragas na agricultura. Outra via de contaminação a se considerar é a contaminação do solo por metais pesados, os quais podem passar de organismo em organismo que formam a cadeia alimentar até atingir o homem. A dioxina é um composto altamente tóxico, sendo resultante de processos industriais, e que por sua vez se atingir animais de abate pode chegar até o homem quando do consumo dessa carne contaminada. E finalizando existem os poluentes orgânicos persistentes, os quais são decorrentes de processos industriais e que são capazes de se espalharem até locais distantes do seu ponto de origem por serem fácilmente levados pelo ar. Tais substâncias são tóxicas aos seres vivos em geral e por consequência até ao homem, não bastasse essa periculosidade, não são eliminados pelos organismos com o tempo, sendo também considerados bioacumulativos. São ,portanto, resistentes a degradação química, biológica e fotolítica (da luz), afetando a saúde humana e dos ecossistemas, mesmo em pequenas proporções (GERMANO e GERMANO,2010). Portanto a higienização aplicada no pré-preparo de um alimento, não garante a total remoção de um perigo químico, sendo recomendada a aplicação do conceito da rastreabilidade, no sentido de identificar a origem do produto/alimento e se for o caso trocar de fornecedor. 15 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Perigos Biológicos Nesta categoria enquadram-se os microrganismos que valendo-se de condições satisfatórias e a sua reprodução contaminam os alimentos. Entre os microrganismos que representam perigo biológico, como mencionado anteriormente, encontram- -se os fungos, as bactérias e os vírus (GERMANO e GERMANO,2010). Portanto quando é realizada a desinfecção de produtos de origem vegetal, durante o seu pré-preparo, executa-se a eliminação dos perigos biológicos. Vale lembrar que a de- sinfecção dos vegetais é primordial quando são consumidos alimentos de origem ve- getal crus, porém quando se realiza a cocção, pode ser aplicada somente a lavagem. Fechando o tópico relativo aos perigos físicos, químicos e biológicos salienta- se a importância dos cuidados de segurança alimentar, entre eles a utilização de insumos, cuja origem pode ser atestada por meio do rastreamento aplicado. Isso significa que tais alimentos foram acompanhados ao longo da sua cadeia produtiva até o momento da comercialização. Essa prática combate a falsificação pela qual alguns produtos são submetidos (azeites), atua na utilização inapropriada de agrotóxicos, como também se preocupa com a manipulação, acondicionamento e transporte da matéria prima alimentar. Apresentação das Boas Práticas de Manipulação dos Alimentos (BPMA) e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) Boas Práticas de Manipulação dos Alimentos (BPMA) As Boas Práticas de Manipulação dos Alimentos (BPMA) são traduzidas pelas 10 “Regras de Ouro” da Organização Mundial da Saúde (OMS), a seguir elas serão apresentadas (SILVA Jr.,2007): Escolher alimentos tratados de forma higiênica Preferir alimentos tratados com objetivos higiênicos. Apesar de muitos alimen- tos serem melhores em seu estado natural (por exemplo, as frutas e as hortaliças), outros só são seguros quando estão tratados. Assim convém sempre adquirir o leite pasteurizado em vez do leite cru e, se possível comprar aves (frescas ou congeladas) que tenham sido tratadas por irradiação ionizante. Ao se fazer compras, deve-se ter em mente que os alimentos são tratados não somente para que se conservem melhor, mas para se tornem mais seguros sob o ponto de vista sanitário. Alguns alimentos que se consomem crus como os legumes, devem ser lavados cuidadosa- mente (SILVA Jr.,2007). 16 17 Cozinhar bem os alimentos Muitos alimentos crus (em particular as aves, as carnes e o leite não pasteurizado) estão a princípio, em meios contaminados por agentes patogênicos. Tais agentes podem ser eliminados apenas por uma boa cocção. Não se deve esquecer que a temperatura aplicada deve chegar pelo menos a 70°C em toda a massa do alimento (internamente e externamente). Se o frango assado se encontrar todavia cru junto ao osso, deverá se proceder novo aquecimento. Os alimentos congelados (carne, frangos e pescados) devem ser descongelados completamente antes de serem cozidos (SILVA Jr.,2007). Consumir imediatamente os alimentos cozidos Quando os alimentos cozidos são deixados à temperatura ambiente para esfriarem, os microrganismos começam a se multiplicar. Quanto mais se espera, maior o risco. Para não se correr perigos desnecessários, convém comer os alimentos imediatamente após a cocção (SILVA Jr.,2007). Armazenar cuidadosamente os alimentos cozidos Caso se queira ter em estoque de alimentos preparados,ou simplesmente guardar as sobras, deve-se planejar o seu armazenamento em condições de calor (acima de 60° C ) ou de frio ( abaixo de 10° C ). Esta norma é vital se pretendemos armazenar alimentos prontos por mais de 4 ou 5 horas. No caso de alimentos para lactentes, o melhor é não armazená-los. Um erro muito comum e principal causa de muitas intoxicações alimentares é armazenar no refrigerador uma quantidade excessiva de alimentos quentes. Em um refrigerador lotado, os alimentos cozidos não podem resfriar por dentro tão depressa como seria de desejar. Se o interior do alimento permanecer quente a mais de 10° C, por demasiado tempo, os microrganismos proliferam e alcançam rapidamente uma concentração capaz de causar doenças (SILVA Jr., 2007). Reaquecer bem os alimentos cozidos Esta regra é a melhor medida contra os microrganismos que podem ter se proliferado durante o armazenamento (um armazenamento correto retarda a proliferação microbiana, mas não destrói os microrganismos). Também nesse caso, um bom reaquecimento implica em todas as partes do alimento alcançarem, pelo menos, uma temperatura de 70° C (SILVA Jr.,2007). Evitar o contato entre os alimentos crus e os cozidos Um alimento bem cozido pode contaminar-se unicamente com um mínimo contato com alimentos crus. Essa contaminação cruzada pode ser direta, como acontece quando a carne crua de ave entra em contato com alimentos cozidos, mas pode ser mais sutil. Assim, por exemplo, não se deve jamais pré-preparar uma ave crua e utilizar depois a mesma tábua para trinchar e o mesmo cutelo para cortar a ave cozida. Caso isso ocorra, poderiam reaparecer todos os possíveis riscos de proliferação microbiana e consequentes enfermidades (SILVA Jr.,2007). 17 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Lavar as mãos constantemente Deve-se lavar as mãos antes de iniciar a preparação de alimentos e após qual- quer interrupção (em particular se forem trocar as fraldas do bebê e amamentar). Se estiver preparando certos alimentos crus, tais como, pescados, carne ou frango, é preciso lavar as mãos antes de manipular outros produtos alimentícios. Em caso de infecção das mãos, deve cobri-las antes de entrar em contato com os alimentos. Não se deve esquecer de que certos animais de companhia (cães, pássaros e, prin- cipalmente tartarugas), albergam frequentemente patógenos que podem passar às mãos das pessoas e dessas aos alimentos (SILVA Jr.,2007). Manter cuidadosamente limpas todas as superfícies da cozinha Como os alimentos contaminam-se facilmente, convém manterem-se limpas todas as superfícies utilizadas para prepará-los. Não se deve esquecer de que qualquer desperdício, migalha ou mancha pode ser um reservatório de germens. Os panos que entram em contato com pratos ou utensílios devem ser trocados diariamente e fervê-los antes de voltar a usá-los. Também devem lavar-se com frequência os panos de chão (SILVA Jr.,2007). Manter os alimentos fora do alcance de insetos, roedores e outros animais Os animais podem transportar patógenos que originam enfermidades alimen- tares. A melhor medida de proteção é guardar os alimentos em recipientes bem fechados (SILVA Jr.,2007). Utilizar a água pura A água pura é tão importante para a preparação dos alimentos quanto a de be- ber. Se a fonte de água não é confiável, convém ferver a água antes de utilizá-la nos alimentos ou de transformá-la em gelo para refrescar bebidas. Deve-se sobretudo ter cuidado com a água para o preparo de comida para lactante (SILVA Jr.,2007). Portanto a aplicação das regras de ouro na rotina diária de um restaurante, colabora com a prevenção da contaminação alimentar. Procedimentos Operacionais Padronizados (Pops) Os Pops podem ser definidos como procedimentos operacionais padronizados, ou seja, procedimentos escritos de forma objetiva que estabelece instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e especificas na produção, armazenamento e transporte de alimentos (SILVA Jr.,2007). 18 19 A legislação que orienta a elaboração dos oito Pops é a RDC nº 275 (SILVA Jr.,2007), são eles: 1. Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios; 2. Controle da potabilidade de água; 3. Higiene e saúde dos manipuladores; 4. Manejo de resíduos; 5. Manutenção preventiva e calibração de equipamentos; 6. Controle integrado de vetores e pragas urbanas; 7. Seleção das matérias–primas, ingredientes e embalagens; 8. Programa de recolhimento dos alimentos. SILVA Jr.,2007. Os requisitos gerais que norteiam a elaboração dos Pops são: • Devem ser: » aprovados, assinados e datados. » é necessário: responsável legal - e/ou responsável técnico - e/ou responsável pela operação - e/ou proprietário do estabelecimento (CANDIDO, 2008). • Deve constar na sua estrutura: » Sequência das operações; » Responsáveis pela execução: nome, cargo e/ou função; » Relação dos materiais necessários (EPIs), quando aplicável (CANDIDO, 2008). É muito importante em relação aos Pops que: • o funcionário que for aplicá-lo esteja devidamente capacitado (CANDIDO, 2008). • estejam junto ao Manual de Boas Práticas de Fabricação ( MBPF ) (CANDIDO, 2008). • estejam acessíveis para os executores e autoridades sanitárias (CANDIDO, 2008). A estrutura detalhada de um Pop deve ser redigida de forma clara e objetiva, evitando-se ao máximo que tenham grande volume. A intenção deve ser a de evidenciar facilmente a maneira que o restaurante executa o procedimento (CANDIDO, 2008). Itens a serem descritos na elaboração de um Pop (CANDIDO, 2008): Cabeçalho • assinaturas do responsável técnico ou legal, sendo este o responsável por todos os controles; • indicação da data de emissão do Pop; • indicação do número de revisão; 19 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária • indicação do número de folhas; • apresentar o número de revisões realizadas; • identificação do Pop. Corpo do Pop • Objetivo do procedimento operacional » Devem ser definidos os objetivos para realizar esse Pop. • Campo de aplicação » Serão determinados os locais e as áreas onde se aplica o procedimento. • Definições » Serão relacionadas às siglas ou palavras contidas no Pop para em seguida serem conceituadas de forma clara e expressiva. • Documentos de referência » Devem ser descritos todos os documentos e bibliografias relacionadas no Pop. • Responsabilidade » Há necessidade da determinação dos cargos que serão responsáveis pelo cumprimento do Pop. • Descrição Nesta fase devem ser descritas as atividades peculiares de cada Pop, e ainda: » Como proceder; » Quando realizar o Pop; » Quem deve realizar o Pop; » Ação corretiva (para eventuais falhas do Pop). Esta descrição deve ser de forma simples, objetiva e clara para aqueles que vão utilizar o Pop. • Monitoramento » Especificação dos pontos a serem monitoradas. • Registro » Devem ser criadas planilhas para a confecção do Pop. As planilhas são usa- das para registrar os procedimentos executados (CANDIDO, 2008). Vale lembrar que existem consultorias na área de nutrição que são especializadas em elaborar os Pops e treinar a mão de obra , para que todas as instruções contidas nos procedimentos sejam aplicadas pelos manipuladores de alimentos na rotina diária do restaurante. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Microbiologia 2.0: Aula 2 - Tipos de microrganismos Para melhor compreensão a respeito dos fundamentos da microbiologia. Durante a apresentação do vídeo observe a enumeração dos diferentes tipos de microrganismos e suas principais características. https://youtu.be/v5LbqQg9q-I Higienização de Verduras, Legumes e Frutas Para melhor compreensão a respeito do conteúdo de um Pop. Durante a apresentação do vídeo, observe a descrição prática do Pop sobre Higienização de Verduras, Legumes e Frutas, e verifique como é importante a padronização dosprocedimentos dentro de um restaurante, e como prevenir a contaminação alimentar . https://youtu.be/Ao69h-VgXao Curso de Boas Práticas para Manipulação de Alimentos https://youtu.be/zf5hxuBMhJQ Boas Práticas na Manipulação dos Alimentos https://youtu.be/zWcD6JjfGkI Para melhor compreensão a respeito das BPMA, assim como os riscos de contami- nação dos alimentos e sua prevenção. Durante a apresentação do 1º vídeo observe as 10 regras da OMS relacionadas às BPMA, já na apresentação do 2º vídeo observe as condições que favorecem a contaminação alimentar e com base nas BPMA como combatê-las. Leitura Conhecimento dos manipuladores de alimentos sobre boas práticas nos restaurantes públicos populares do Estado do Rio de Janeiro Aline Gomes de Mello, Mauricio de Pinho Gama, Victor Augustus Marin, Luciléia Granhen Tavares Colares. Braz. Food Technol., Campinas, v. 13, n. 1, p. 60-68, jan./ mar. 2010 DOI: 10.4260/BJFT2010130100008J. https://goo.gl/zfRlYX Análise microbiológica dos alimentos envolvidos em surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) ocorridos no estado do Rio Grande do Sul, Brasil Cassiano Aimberê Dorneles Welker, Jane Mari Corrêa Both, Solange Mendes Longaray, Simone Haas, Mara Lúcia Tiba Soeiro, Rosane Campanher Ramos. R. bras. Bioci., Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 44-48, jan./mar. 2010. https://goo.gl/adKL9j Para aprofundar os seus conhecimentos leia os artigos a seguir, os quais tratam dos temas relativos à Conhecimento dos Manipuladores de Alimentos, sobre BPM e Doen- ças Transmitidas por Alimentos. 21 UNIDADE Higiene dos Alimentos, Controle de Qualidade e Vigilância Sanitária Referências CANDIDO,C.C. et al. Nutrição Guia Prático. 2ªed. São Paulo: Iátria, 2008. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. S. Higiene e Vigilancia Sanitaria de Alimentos. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. SILVA Jr, E.A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Serviços de Alimentação. 6ªed. São Paulo : Livraria Varela, 2007 22
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