Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Higiene e Microbiologia dos Alimentos UNIDADE 1 - Microrganismos: morfologia e significância nos alimentos Aula 1 Morfologia, necessidades e crescimento microbiano, fontes de contaminação Aula 1 - Unidade 1 Introdução da Unidade Objetivos da Unidade Ao longo desta Unidade, você irá: • descrever a morfologia, as necessidades e o crescimento microbiano e as fontes de contaminação; • identificar os microrganismos patogênicos, deteriorantes e produtores de alimentos; • definir as transmissões de microrganismos pela água e alimentos e micotoxinas em alimentos. Introdução da Unidade Boas-vindas à disciplina Higiene e Microbiologia dos Alimentos! O conteúdo que estudaremos é de grande relevância para profissionais nutricionistas porque envolve aspectos importantes de segurança dos alimentos. Profissionalmente, você poderá atuar liderando uma equipe que manipula alimentos e será responsabilizado por qualquer inadequação ou doença que uma preparação contaminada possa causar. Dessa forma, é de suma importância conhecer e compreender a natureza dos microrganismos, os malefícios que podem causar e como evitá-los. Nesta unidade, compreenderemos a morfologia dos microrganismos e a sua relação com os alimentos. Ao concluir esta unidade, você deverá sintetizar os conhecimentos sobre morfologia dos microrganismos para elaborar um guia de fatores relacionados à proliferação de microrganismos em Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA), com suas respectivas formas de prevenção. Você acompanhará o dia a dia de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) para compreender, na prática, como os microrganismos podem representar um risco à saúde. Heloísa está no último ano da faculdade de nutrição e, para concluir o curso, deverá cumprir os estágios obrigatórios. Ciente de que essa etapa é uma excelente oportunidade para ingressar no mercado de trabalho, ela separou o material das disciplinas relacionadas para estudar e causar uma boa impressão na nutricionista supervisora do estágio. Heloísa iniciará suas atividades na empresa La Cucina, uma concessionária de refeições situada em um hospital de grande porte. Tal estudante ficou pensando como seria o comportamento dos colaboradores da cozinha e na responsabilidade de atender um público enfermo. Úrsula, nutricionista responsável técnica pela Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN), explicou à Heloísa que colaboradores da cozinha não dão muita importância às atividades necessárias para o controle de microrganismos do ambiente. Ela designou as tarefas pertinentes ao estágio e solicitou que a estudante elaborasse uma orientação a colaboradores com informações básicas sobre os microrganismos. De posse dessa informação, a jovem estagiária pensou como poderia transmitir informações técnicas em linguagem acessível e como sensibilizaria colaboradores sobre os perigos que alguns microrganismos podem causar. Nesse contexto, como Heloísa poderia transmitir informações técnicas aos colaboradores? Qual linguagem e abordagem ela deveria utilizar? Para ajudar a estudante nessa tarefa, estudaremos, nesta unidade, os microrganismos e a sua significância com os alimentos. Na primeira aula, você compreenderá a morfologia, as necessidades e o crescimento microbiano e as fontes de contaminação. Com os conhecimentos da segunda aula, poderá identificar os microrganismos patogênicos, deteriorantes e produtores de alimentos, além dos surtos alimentares e das doenças veiculadas por alimentos. Além disso, na terceira aula verá as infecções e intoxicações alimentares, doenças veiculadas por bactérias, viroses transmitidas pela água e alimentos e micotoxinas em alimentos. Introdução da aula Qual é o foco da aula? Nesta aula, você irá compreender a morfologia, as necessidades e o crescimento microbiano e as fontes de contaminação. Objetivos gerais de aprendizagem Ao longo desta aula, você irá: • descrever a morfologia, as necessidades e o crescimento microbiano; • definir as fontes de contaminação; • identificar formas de prevenção de contaminação. Situação-problema O conhecimento sobre os microrganismos é de grande importância para nutricionistas porque muitos deles podem causar malefícios à saúde. Uma das suas atribuições profissionais será orientar a população a armazenar e preparar os alimentos de forma segura, para evitar a proliferação de microrganismos, ou liderar uma equipe de colaboradores que preparam refeições e que devem colocar em prática as suas orientações para oferecer produtos seguros. Esse momento inicia no primeiro contato com o mundo profissional, que pode ser um estágio, como a situação relatada por Heloísa, que exercerá atividades em uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) sob a supervisão da nutricionista Úrsula. Heloísa observou que colaboradores mais antigos apresentavam uma série de comportamentos inadequados e que poderiam favorecer a proliferação de microrganismos nos alimentos. Para evitar antipatias, a estudante procurou verificar qual era o grau de conhecimento de colaboradores, se eles sabiam o que eram microrganismos e quais seriam as consequências do consumo de um alimento contaminado pelos pacientes do hospital. De posse dessa informação, elaborou o material e planejou conversas de quinze minutos com grupos de três colaboradores de cada vez. Pensando nas informações básicas a serem repassadas a funcionários, Úrsula fez três perguntas à Heloísa: • como você poderia explicar quais são as condições ideais para a proliferação de microrganismos? • de que maneira os fatores intrínsecos e extrínsecos podem favorecer ou dificultar essa proliferação? • uma colaboradora perguntou quais são os principais meios de contaminação e como evitá-los, quais exemplos você usaria para ilustrar essa situação? Úrsula explicou que tal estudante deveria saber responder essas questões com segurança para transmitir as informações corretamente a colaboradores da UAN. Para responder às interrogações, você deverá aplicar os conhecimentos adquiridos nesta aula: • características morfológicas dos microrganismos; • crescimento microbiano e necessidades nutricionais; • fatores intrínsecos e extrínsecos determinantes do crescimento dos microrganismos; • contaminação de alimentos; • e prevenção da contaminação. A seguir, passaremos a estudar a fundamentação teórica necessária para resolver a situação anteriormente apresentada. Os microrganismos do nosso ecossistema Os microrganismos são seres vivos microscópicos que fazem parte do nosso ecossistema e que podem afetar nossa saúde positiva ou negativamente. A disciplina que estuda esses seres vivos é a microbiologia, a qual compreende a morfologia, fisiologia, reprodução, classificação e interação dos microrganismos com os alimentos. A percepção da existência dos microrganismos pelos humanos é muito antiga, acredita-se que a deterioração dos alimentos devido às técnicas incorretas de preparo ou conservação, bem como a produção de alimentos fermentados, são evidenciadas desde 9000 a.C. Contudo, a identificação e classificação desses seres vivos só foi possível após o advento do microscópio, no final do século XVI e início do século XVII. Os microrganismos estão presentes em todos os ambientes e têm uma relação com os alimentos porque dependem dos nutrientes para o crescimento e a multiplicação. Fazem parte desse grupo os vírus, as bactérias, os fungos (leveduras e bolores) e os protozoários. Veja a figura a seguir que ilustra as características de cada tipo de microrganismo. Classificação e características dos microrganismos. Fonte: a autora. As bactérias são os principais microrganismos responsáveis pela contaminação e pelas doenças veiculadas por alimentos. A célula bacteriana apresenta uma estrutura que a protege em condições adversas como ausência de nutrientes, extremos de temperatura e umidade, para que ocorra o crescimento e a multiplicação quando as condiçõesforem favoráveis. Veja na próxima figura a ilustração da estrutura de uma célula procarionte bacteriana, com destaque a cada um dos seus componentes. Estrutura da célula procarionte. Fonte: Google Imagens. A célula bacteriana é composta pelas seguintes estruturas: • membrana plasmática, formada por uma bicamada lipídica (fosfolipídios) e moléculas de proteína em um modelo de mosaico fluido; • parede celular, formada por glicopeptídeo ou mucopeptídeo, cuja função é evitar que o inchaço e a alta absorção de líquidos explodam a célula. A partir da composição e estrutura da parede celular dessas bactérias, é possível classificá-las em Gram-positivas e Gram-negativas As bactérias Gram-positivas apresentam parede celular mais espessa e são compostas, majoritariamente, por peptidoglicano. Já as bactérias Gram-negativas têm parede celular menos espessa e mais complexa, devido à diversidade de componentes. Além da camada de peptidoglicano, a parede celular apresenta uma membrana externa, composta por uma dupla camada lipídica, sendo a interna composta por fosfolipídios e a externa por lipopolissacarídeos e proteínas. Cápsula, camada mucosa e camada S cuja função é proteger e aderir a célula. Esses componentes também dificultam a desidratação celular. Componentes de um microrganismo. As fímbrias, pelos ou pili, auxiliam na locomoção e fixação da célula. Os plasmídeos contêm informações genéticas com capacidade reprodutiva independente do DNA. O citoplasma é composto por ribossomos, grânulos e vacúolos, que mantêm o formato, a estrutura e o local de todas as reações bioquímicas celulares. No que se refere às bactérias, estas podem ser classificadas de acordo com o seu formato em: cocobacilo, coco, bacilo, espirilo e espiroqueta. A maior parte delas apresenta um formato predeterminado geneticamente, chamado monomórfico. Entretanto, por questões adaptativas e de sobrevivência, algumas bactérias podem apresentar formatos distintos. Veja a figura a seguir que ilustra os principais formatos e a classificação das bactérias. Morfologia bacteriana. Fonte: Google Images. Crescimento microbiano e necessidades nutricionais As necessidades nutritivas dos microrganismos são muito semelhantes às dos demais seres vivos, ou seja, eles necessitam de nutrientes, água e condições climáticas favoráveis. Esses organismos apresentam uma alta capacidade adaptativa e permanecem em estágio de latência ou baixa taxa de crescimento quando as condições não são favoráveis. O crescimento das bactérias é tido em nível individual e populacional, dividido em quatro fases com as seguintes características: • fase de lag: não ocorre divisão celular nem aumento de massa, porque, geralmente, as condições ambientais não são favoráveis; • fase log ou logarítmica (exponencial): ocorre divisão regular em uma velocidade máxima e constante; • fase estacionária: redução gradual da velocidade de multiplicação, equilíbrio entre as bactérias que nascem e as que morrem; • fase de declínio ou decaimento: redução do número de bactérias até a extinção completa no meio de cultura. Nesse contexto, vale acrescentar que o aumento de tamanho da célula não é uma condição de crescimento, mas sim apenas quando há multiplicação celular. A próxima figura ilustra uma curva de crescimento bacteriano com a distinção das fases de acordo com o tempo. Curva de crescimento bacteriano em concentração de células por tempo. Fonte: Google Images. Os microrganismos necessitam de elementos químicos presentes nos nutrientes alimentares para que as reações químicas de crescimento e multiplicação celular aconteçam. Os elementos químicos essenciais para o desenvolvimento dos microrganismos são: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N) e oxigênio (O). Algumas células necessitam de pouca quantidade ou nenhuma de oxigênio, que são, respectivamente, os microrganismos classificados como microaerofílicos e anaeróbios. O carbono, hidrogênio e oxigênio são abundantes nos carboidratos, lipídios e nas proteínas. Esses nutrientes são considerados energéticos por fornecerem combustível para as reações de crescimento dos microrganismos. Para que aconteça a multiplicação da informação genética, é necessária a presença de nitrogênio, por isso, esse nutriente é considerado um fator de crescimento. Além disso, vitaminas do complexo B, fósforo, ferro, cálcio, enxofre, potássio e zinco também são necessários, em menor quantidade, para o crescimento e a multiplicação dos microrganismos. _______ 📝 Exemplificando O leite é um alimento cuja composição química compreende proteína de alto valor biológico, carboidrato, gordura, vitaminas e minerais. Trata-se de um excelente meio de cultura e crescimento de microrganismos porque contém os nutrientes necessários para a multiplicação celular. Fatores intrínsecos e extrínsecos determinantes do crescimento de microrganismos A multiplicação e proliferação dos microrganismos acontecem de acordo com a combinação de condições favoráveis. Essas circunstâncias podem ser referentes ao alimento (intrínsecas) ou ao ambiente externo (extrínsecas). Quando o microrganismo entra em contato com o alimento, a velocidade de multiplicação celular dependerá desses fatores e, sabendo disso, podemos evitar que a proliferação aconteça. São considerados fatores intrínsecos: atividade de água, potencial de hidrogênio (pH), potencial de óxido-redução e tensão de oxigênio, presença de nutrientes e de fatores inibidores. Atividade de água (Aw) é uma relação entre a pressão entre a água livre do alimento e a pressão da água pura. Quanto maior a pressão da água livre, maior a atividade de água. Os microrganismos necessitam de espaço no alimento para proliferação, locomoção e acesso aos nutrientes. Isso ocorre na água que não está ligada a nenhum composto do alimento, ou seja, a água livre. Os valores de Aw variam de 0 a 1 (0< Aw < 1), sendo que o valor 1 corresponde à água pura e 0 é encontrado somente em alimentos dissecados em laboratório para análise. O quadro a seguir ilustra a necessidade de Aw dentre diferentes tipos de microrganismos. Valores mínimos de Aw para o crescimento de microrganismos. Fonte: adaptado de Germano (2011). _______ 📖 Vocabulário Halofílico: microrganismo que se desenvolve em ambiente com alta concentração de sal. Xerofílico: microrganismo que se desenvolve em ambiente com baixa concentração de água. Osmofílico: microrganismo que se desenvolve em condições de alta pressão osmótica. _______ Os alimentos que apresentam maior quantidade de água livre e, consequentemente, maior Aw são os de origem animal, como o leite, os ovos e as carnes. As frutas e verduras também apresentam alta atividade de água. Os cereais e as leguminosas apresentam menor Aw, por isso, eles têm maior durabilidade quando comparados às verduras e aos legumes, por exemplo. O quadro a seguir ilustra os valores de Aw de alguns alimentos. Valores de atividade de água (Aw) de alguns alimentos. Fonte: adaptado de Germano (2011). O potencial de hidrogênio (pH) expressa a concentração de íons de hidrogênio em uma solução aquosa. Um meio é considerado neutro quando o pH está próximo ao valor 7, quanto maior a concentração de íons H+,mais ácido será o meio e, consequentemente, menor será o pH. Valores de pH superiores a 7 indicam que a concentração de hidrogênio é baixa e que o meio é alcalino. A proliferação dos microrganismos acontece, preferencialmente, em condições próximas à neutralidade. A faixa ideal de pH para o crescimento de microrganismos é, segundo Germano: • bactérias 6,0 – 7,0; • leveduras fermentativas 4,0 – 4,5; • fungos (bolores) 2,0 – 8,5. Outro fator intrínseco importante para o crescimento de microrganismos nos alimentos é o potencial de óxido-redução, que é a capacidade de doar e receber elétrons, e a tensão de oxigênio (O2 ). Os microrganismos podem ser classificadoscomo aeróbios quando dependem do O2 e têm potencial de óxido-redução positivo. Os anaeróbios têm comportamento oposto, ou seja, não precisam de O2 e o potencial de óxido-redução negativo. Os microrganismos classificados como facultativos podem sobreviver com ou sem O2 e se adaptam de acordo com outras condições, intrínsecas ou extrínsecas. Os microrganismos microaerofílicos multiplicam-se em ambientes com baixa concentração de O2 . A presença de nutrientes é primordial para o crescimento microbiano, pois são necessários energia e elementos químicos para que ocorra a divisão e multiplicação celular. Isso explica o fato de os alimentos de origem animal serem muito suscetíveis à proliferação de microrganismos. _______ 🔁 Assimile As condições ideais para a proliferação de bactérias nos alimentos são: alta atividade de água, pH neutro ou próximo à neutralidade, presença de oxigênio e nutrientes. Por isso, o leite é mais suscetível à deterioração, quando comparado ao iogurte. Ambos apresentam alta atividade de água e são ricos em nutrientes, mas o iogurte tem um pH inferior ao do leite. Contudo, isso não significa que não ocorra proliferação bacteriana em iogurtes. Apesar de apresentar uma condição desfavorável, os microrganismos podem se adaptar e a proliferação pode ocorrer em menor velocidade. É importante ressaltar que existem casos como os das bactérias lácticas, responsáveis pela fermentação do leite e obtenção do iogurte, que sobrevivem e proliferam em maior velocidade em meio ácido (pH inferior a 4,5) _______ Alguns alimentos apresentam, naturalmente, compostos químicos que inibem a proliferação de microrganismos como a lisozima, que é uma enzima encontrada no leite e nos ovos, o eugenol, encontrado na canela, a alicina, encontrada no alho, e o timol, encontrado no orégano. Os fatores extrínsecos dizem respeito às condições externas como a temperatura ambiente, a umidade relativa do ar e a composição gasosa do meio. A maior proliferação de microrganismos ocorre no intervalo de temperatura de 15º a 45º C, sendo que os microrganismos que causam doenças (patogênicos) crescem em temperatura entre 25º e 45º C. A seguir, conheça a classificação dos microrganismos de acordo com a faixa ótima de temperatura: • psicrotrófico: 0 - 7 º C; • psicrófilo: 10 -15 º C; • mesófilo: 25 - 45 º C; • termófilo: 45 - 65 º C. A umidade relativa do ar é outro fator que interfere no crescimento microbiano porque está diretamente relacionada com a atividade de água (Aw) do alimento. Um meio em que a umidade relativa é igual à Aw, haverá pouca interferência na proliferação de microrganismos porque há um equilíbrio entre o ambiente externo e o alimento. Um ambiente com alta umidade relativa favorece a absorção de água pelo alimento e consequente aumento de Aw, circunstância que pode favorecer a proliferação microbiana. Por outro lado, um ambiente com baixa umidade relativa favorece a perda de água pelo alimento, consequente redução de Aw e dificuldades para a propagação. A concentração de O2 no meio pode facilitar a propagação de microrganismos aeróbios, mas a simples redução dele não implica, necessariamente, em proteção do alimento, porque irá torná-lo suscetível à proliferação de microrganismos anaeróbios. Um meio eficaz de dificultar a multiplicação microbiana é o uso de CO2 para alterar a composição gasosa do ambiente. Contaminação de alimentos Todos os alimentos, com exceção da água e do sal, são perecíveis, ou seja, são suscetíveis à deterioração e alteração. É importante deixar claro que em microbiologia o termo perecível está diretamente relacionado com a deterioração microbiana, por isso, a água e o sal não são perecíveis, pois não deterioram. Apesar disso, ambos são passíveis de contaminação por microrganismos patogênicos, como todos os outros alimentos. Usualmente, os termos perecível e não perecível estão relacionados com a forma de armazenamento do alimento; diz-se não perecível aquele que tem maior durabilidade e pode ser armazenado em temperatura ambiente, como os grãos e as farinhas. Entretanto, esses alimentos sofrem deterioração microbiana e apresentam prazo de validade no rótulo. A contaminação dos alimentos acontece de várias maneiras, principalmente porque os microrganismos estão largamente distribuídos no meio ambiente. O solo é a primeira fonte de contaminação; os alimentos de origem vegetal apresentam uma carga microbiana inicial e, por isso, não é aconselhável o consumo destes diretamente da colheita, sem uma higienização prévia. Os animais e humanos também são uma importante fonte de contaminação; os microrganismos estão presentes nos pelos, na pele, no couro, nas unhas e no trato intestinal. São considerados contaminantes de alimentos: • biológicos: bactérias, vírus, parasitas e toxinas microbianas; • químico: toxinas de origem biológica, pesticidas, aminas biogênicas, tintas, antibióticos, produtos de limpeza, lubrificantes e aditivos; • físico: fragmentos de vidros, metais, madeiras e pedras, espinhas de peixe, cabelos, dentes e unhas. Os contaminantes podem ser provenientes das matérias-primas empregadas para a produção de um alimento ou ocorrer em qualquer uma das etapas do processamento. O uso da mesma tábua de corte para carnes e verduras, ou a manipulação de alimentos por um indivíduo que não faz a higiene das mãos corretamente, são exemplos de risco de contaminação. A criação de animais e o cultivo de hortaliças para o consumo devem ser feitas de maneira cuidadosa. As áreas de plantio devem ser distintas das áreas de criação de animais para que as fezes destes não contaminem o solo e os alimentos. O abate dos animais deve ser cuidadoso para que o conteúdo intestinal não contamine as carnes e a ordenha deve ser feita após higienização dos úberes, das mãos do ordenhador ou do aparelho de ordenha mecânica. Prevenção da contaminação Para prevenir a contaminação dos alimentos, as regras básicas de higiene pessoal e o saneamento básico são de extrema importância. Os indivíduos que manipulam alimentos devem atentar ao asseio como lavar as mãos com sabão após o uso dos sanitários, manter as unhas limpas e bem aparadas, não conversar, tossir ou espirrar sobre os alimentos. O ambiente de manipulação dos alimentos deve ser limpo e os alimentos devem ser armazenados em temperatura inferior ou superior ao intervalo ótimo de proliferação microbiana. Os utensílios devem estar sempre limpos e não devem ser utilizados. Além disso, pode-se destacar as seguintes formas para a prevenção da contaminação: • higiene em todas as etapas da cadeia alimentar, desde o fabricante até o consumo (englobando ambiente, equipamentos, utensílios e funcionários); • armazenamento dos alimentos de forma a evitar a atração de pragas, contaminação de alimentos e multiplicação de microrganismos prejudiciais à saúde; • processamento adequado para a eliminação de microrganismos prejudiciais à saúde e fatores antinutricionais. A maior parte dos microrganismos patogênicos são classificados como mesófilos, ou seja, que se multiplicam em temperaturas entre 30 e 45º C. Os microrganismos responsáveis pela deterioração da maior parte dos alimentos são classificados como psicrotróficos, cujo intervalo ótimo de temperatura é de 20 a 30º C. Por isso, é importante manter os alimentos em temperatura de refrigeração (abaixo de 15ºC) ou acima de 60º C como forma de garantir a inocuidade e evitar a proliferação desses seres vivos; • manutenção e manuseio do produto de forma adequada durante a distribuição; • treinamento dos funcionários quanto às boas práticas de fabricação. _______ 💭 Reflita Os microrganismos estão presentes em todos os ambientes, quando entram em contato com os alimentos encontram os nutrientes e as condições favoráveis à sua proliferação. A presença de compostos antimicrobianos em sua composição, como a lisozima no leite e nos ovos, não garantem a inocuidadedesses alimentos. _______ ➕ Pesquise mais Para saber mais sobre o assunto, você pode ler a Percepção sobre a higiene dos manipuladores de alimentos e perfil microbiológico em restaurante universitário, artigo publicado em 2017. Conclusão Vamos ajudar Heloísa, a estudante de nutrição, que precisa orientar os funcionários do La Cucina a explicar aos colaboradores os riscos da contaminação dos alimentos. Tal estudante dentificou vários comportamentos inadequados e favoráveis à contaminação dos alimentos, mas também percebeu que os colaboradores têm baixa escolaridade. Heloísa precisa traduzir termos técnicos como microscópico, procarionte, pH e atividade de água para explicar quais são as condições ideais para a proliferação de microrganismos. Como possíveis abordagens e respostas ao primeiro questionamento de Heloísa, podemos mostrar que alguns alimentos têm mais água e, por isso, decompõem-se mais rápido, comparar alimentos com sabor naturalmente azedo aos que têm gosto doce ou neutro e perguntar qual decompõe mais rápido. Heloísa deverá responder à Úrsula e explicar a colaboradores que as condições ideais de proliferação de microrganismos são em alimentos frescos, com alta atividade de água, que têm pH neutro e exemplificar quais são eles (leite, frutas, verduras), temperatura ambiente e alta umidade relativa. Heloísa também precisa esclarecer que fatores intrínsecos, como pH ácido e baixa atividade de água, podem dificultar a proliferação de microrganismos, e que fatores extrínsecos, como temperatura de 25 º C, são muito favoráveis ao crescimento dos microrganismos. Para evitá-los, devemos armazenar alimentos frescos em temperatura de refrigeração, reduzir a atividade de água pela adição de sal ou açúcar, por exemplo, e reduzir o pH do alimento pela adição de ácidos, não misturando alimentos crus de origem animal com os de origem vegetal. Por fim, seria interessante falar sobre higiene pessoal e ambiental como forma de prevenção da contaminação. Aula 2 Microrganismos patogênicos, deteriorantes e produtores de alimentos. Surtos alimentares Aula 2 - Unidade 1 Introdução da aula Qual é o foco da aula? Nesta aula você verá os prejuízos e os benefícios que os microrganismos causam aos alimentos e à saúde dos comensais. Objetivos gerais de aprendizagem Ao longo desta aula, você irá: • identificar os principais microrganismos patogênicos e suas principais características; • descrever microrganismos que conservam alimentos e mantêm a saúde; • definir as principais características das doenças veiculadas por alimentos. Situação-problema Nesta aula, faremos a distinção entre contaminação e deterioração dos alimentos, fato de grande importância, uma vez que um alimento contaminado apresenta, muitas vezes, características sensoriais semelhantes ao de um não contaminado e, por isso, é consumido tranquilamente pelos indivíduos. As consequências do consumo de um alimento contaminado serão observadas horas ou dias depois e, se não tratadas adequadamente, podem levar ao óbito. Para ajudar a contextualização desse conteúdo, estamos acompanhando a rotina da Heloísa no seu estágio curricular obrigatório na UAN. Tal estudante percebeu que o local é um perigo em potencial quando as medidas higiênico-sanitárias de prevenção da contaminação não são aplicadas corretamente. Após uma semana de estágio, Heloísa já estava familiarizada e menos receosa. Percebeu como abordar e conversar com colaboradores e como cumpriria as tarefas designadas pela supervisora. Além disso, era necessário pensar no trabalho de estágio que deveria ser aplicado no local e apresentado na faculdade às professoras orientadoras. Ela pensou que poderia dar continuidade ao treinamento dos colaboradores e explicar sobre as diferenças entre contaminação e deterioração de alimentos. Dessa forma, ela poderia abordar como os alimentos podem veicular doenças e da responsabilidade de toda equipe em evitar que isso aconteça. Heloísa ficou um pouco atrapalhada porque os sintomas das doenças veiculadas por alimentos eram muito parecidos, e ela também não estava familiarizada com os nomes dos microrganismos. Vendo a aflição de Heloísa, a professora Luiza fez três perguntas para ajudá-la a organizar o conteúdo e as ideias: • quais são os principais microrganismos patogênicos e suas principais características? • os microrganismos deteriorantes podem causar doenças? • existem microrganismos responsáveis pela conservação dos alimentos e manutenção da saúde, quais são eles? • quais são as principais características das doenças veiculadas por alimentos? Para responder essas questões, estudaremos como ocorre a proliferação dos microrganismos nos alimentos, quais são os principais microrganismos patogênicos, os deteriorantes e os benéficos, e a fermentação. Por fim, para finalizar, apresentaremos as Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA). Agora que você já sabe o que são microrganismos, quais fatores favorecem a sua proliferação e entendeu quais são as fases de crescimento desses seres vivos, estudaremos quais são os principais contaminantes dos alimentos e os malefícios que podem causar. Muitas pessoas imaginam que alimento contaminado é aquele que apresenta sinais de deterioração ou decomposição, por isso, é preciso esclarecer que um alimento com aparência adequada ao consumo também pode estar contaminado. Nesse sentido, estudaremos os microrganismos que podem causar doenças, os que podem deteriorar e aqueles que podem promover transformações benéficas aos alimentos Bons estudos! Proliferação de microrganismos nos alimentos Todos os alimentos apresentam uma carga microbiana inicial, não existindo algum que seja estéril. A exigências de nutrientes pelos microrganismos é um fator determinante na colonização e contaminação de alimentos, isso porque esses seres vivos se organizam e se distribuem conforme condições mais favoráveis para o desenvolvimento. Geralmente, os vegetais apresentam maior quantidade de microrganismos devido ao contato direto com o solo. Outro veículo de contaminação importante para os alimentos é a água, portanto, a lavagem com água pura não é garantia de descontaminação. O modo e a velocidade de propagação dos microrganismos dependem de uma combinação de condições favoráveis. Por isso, a maior suscetibilidade à contaminação dos vegetais não necessariamente resulta em maior deterioração ou risco de proliferação de microrganismos patogênicos. Um alimento ideal para a proliferação de microrganismos é aquele que apresenta alta atividade de água, pH neutro e nutrientes como proteína, carboidratos, vitaminas e minerais. Se esse mesmo alimento ficar exposto a condições de umidade e temperatura favoráveis, mais rápida será a proliferação dos microrganismos. Os alimentos de origem animal são os mais frequentemente relacionados a surtos e doenças. Além disso, os alimentos crus apresentam maior carga microbiana inicial e, quando armazenados em condições que favorecem a sua proliferação, tornam-se um risco à saúde das pessoas. Ovos rachados, pescados, carne vermelha e de aves deterioram rapidamente quando expostas em temperatura ambiente. Isso porque apresentam fatores intrínsecos ideais à multiplicação dos microrganismos. _______ 🔁 Assimile Para evitar a proliferação dos microrganismos nos alimentos é necessário armazená-los em condições desfavoráveis à sua proliferação, como baixas temperaturas, baixa umidade relativa do ar ou alterar o pH do meio. Essa última alternativa deve ser feita de maneira cuidadosa para evitar a descaracterização e o prejuízo às características organolépticas do alimento. _______ A análise microbiológica dos alimentos é um parâmetro de qualidade muito utilizado para verificar se houve contaminação. Os principais grupos estudados, também chamados de microrganismos indicadores, elucidam se houve contaminação por meio de fezes, se são patogênicosou deteriorantes. Para ser classificado como microrganismo indicador é preciso ser de fácil detecção, de fácil distinção de outros microrganismos, e apresentar velocidade de crescimento semelhante ao microrganismo patógeno. Um teste habitualmente realizado é a contagem de bactérias mesófilas, que são as bactérias cujo intervalo de temperatura ideal para proliferação é 25 a 45º C, porque indicam que houve contaminação da matéria-prima. Esse indicador é utilizado devido ao fato de a maior parte das bactérias patogênicas serem mesófilas. Principais microrganismos patogênicos em alimentos Os principais microrganismos associados às doenças são aqueles que habitam o trato gastrointestinal dos animais, denominadas enterobactérias. A contaminação dos alimentos por esse tipo de microrganismo acontece por meio do contato das fezes com o alimento, seja em áreas de cultivo dos vegetais, ou após o abate do animal, ou por meio dos manipuladores dos alimentos. Esse último caso ocorre pelos maus hábitos de higiene pessoal, como, por exemplo, não lavar as mãos após o uso do sanitário. Um alimento contaminado com microrganismos patogênicos pode ter aspecto semelhante ao não contaminado, ou seja, não há qualquer alteração organoléptica que permita a detecção desses agentes. O organismo humano tem alguns mecanismos de defesa para evitar os malefícios causados pelos microrganismos como, por exemplo, o pH ácido do estômago, a mucosa intestinal, os ácidos biliares e o próprio movimento peristáltico que também auxilia na eliminação de agentes patogênicos. O indivíduo só será afetado pela presença dos microrganismos patogênicos quando estes forem suficientes para sobrepujar as defesas, e isso explica o porquê de nem todas as pessoas manifestarem sintomas ou adoecerem ao consumir um alimento contaminado. ______ 💭 Reflita Uma dificuldade no treinamento de manipuladores de alimentos é o convencimento sobre os riscos de contaminação por microrganismos patogênicos, principalmente àqueles que apresentam bom estado de saúde e nunca manifestaram sintomas de alguma doença veiculada por alimentos. Muitas pessoas acreditam que não há mal algum, mas a desidratação causada pela diarreia e pelos vômitos pode levar ao óbito ______ Os microrganismos patogênicos podem causar uma infecção alimentar ou uma intoxicação alimentar. Tratam-se de eventos diferentes, uma vez que a infecção é a presença de células vivas, adesão ao tecido intestinal e proliferação microbiana. Já a intoxicação é causada por um metabólito tóxico, produzido durante a proliferação do microrganismo no alimento. Microrganismos patogênicos. Muitos desses microrganismos são altamente resistentes e formam esporos. A esporulação ou esporogênese ocorre em situações adversas como a ausência de nutrientes, temperatura desfavorável à proliferação microbiana ou desidratação celular. A formação do esporo ocorre pelo isolamento do DNA celular e pela formação de uma parede interna ao redor da membrana plasmática. Os principais microrganismos patogênicos e suas principais características estão listadas a seguir: • Bacillus cereus; É uma bactéria Gram-positiva, do tipo bacilo, altamente resistente e encontrada na forma de esporos termorresistentes. Encontrada no solo e meio ambiente, está relacionada com a contaminação de grãos, verduras, legumes e alimentos de origem animal. Pode causar tanto infecção quanto intoxicação alimentar, esta por meio de uma enterotoxina. A contaminação dos alimentos acontece em temperaturas entre 10º C e 50º C, sendo que a temperatura ideal de multiplicação é de 25º a 45º C. Essa bactéria tem um alto potencial patogênico porque produz toxinas termorresistentes e termoestáveis, isso significa que o aquecimento do alimento contaminado não é capaz de inativá-las. Os principais sintomas, 28 diarreia e crise emética, manifestam-se a partir de 8 a 16 horas após a ingestão do alimento. • Campylobacter jejuni; Os principais alimentos relacionados à contaminação pelo Campylobacter jejuni são as carnes e o leite. O consumo de água não tratada também está relacionado com a contaminação por essa bactéria. A proliferação ocorre em pH acima de 4,9 e temperatura ideal próxima de 42º C. Os principais sintomas aparecem a partir de dois dias de contato com a bactéria e são semelhantes aos de uma gripe, como dor de cabeça, dores no corpo e febre. Em seguida, um quadro de diarreia sanguinolenta e fortes dores abdominais se manifestam. O Campylobacter está relacionado com a síndrome de Guillain-Barré. • Clostridium botulinum; A contaminação do mel por esse microrganismo só apresenta risco às crianças, principalmente as menores de um ano de vida. Isso porque a colonização do intestino pelas bactérias benéficas demora, isto é, acontece ao longo do primeiro ano de vida. Por isso, não é recomendável o consumo de mel por menores de 1 ano. Para inativar o clostridium é necessário reduzir a umidade do alimento para 30%, reduzir o pH do meio para 4,5 e adicionar cloreto de sódio para a conservação. Os sintomas de intoxicação são midríase, ausência ou redução da saliva, ausência de sudorese, entre outros relacionados à perda de motricidade. Clostridium botulinum e Campylobacter jejuni. • Clostridium perfringens; Clostridium perfringens. • Escherichia coli; Escherichia coli. • Salmonella sp; Bacilos Gram-negativos, não esporulados e anaeróbios facultativos. Essa bactéria está associada aos surtos de febre tifoide e quadros de diarreia aguda. O habitat natural é o intestino das aves e animais silvestres e os principais alimentos relacionados à contaminação são os ovos, as carnes e os produtos lácteos. A salmonela é uma bactéria mesófila cuja temperatura ótima de proliferação é 37º C, mas observa-se a multiplicação em temperaturas entre 7º e 49º C. A taxa de multiplicação é tão elevada que em menos de cinco horas um alimento contaminado por esse microrganismo torna-se infectante. • Staphylococcus aureus. Staphylococcus aureus. A principal medida de prevenção de contaminação pelo S. aureus é o treinamento dos manipuladores dos alimentos e a aplicação dos bons hábitos de higiene pessoal. ______ 💪 Faça você mesmo Faça um quadro resumo com as seguintes características das bactérias Listeria monocytogenes, Shigella sp, Vibrio cholerae e Yersinia enterocolitica: • características morfológicas; • condições ideais de multiplicação; • alimentos veículos de contaminação; • sintomas. Principais microrganismos deteriorantes em alimentos A deterioração dos alimentos pode ser percebida pelas alterações das características organolépticas, como a aparência, o odor e o sabor. Os microrganismos deteriorantes consomem os nutrientes dos alimentos e os produtos do metabolismo são percebidos por consumidores. Os agentes envolvidos na deterioração dos alimentos não provocam doenças e são distintos dos patogênicos, sendo principalmente os fungos e as bactérias. As principais alterações sensoriais percebidas pelo consumidor são a rancidez, provocada pela hidrólise dos lipídeos, o sabor azedo, provocado pela fermentação, e a putrefação, produto da proteólise e liberação de produtos sulfurados. A proliferação de microrganismos deteriorantes está diretamente relacionada com as perdas e o desperdício dos alimentos. A ação do mesmo microrganismo pode apresentar resultados diferentes, dependendo do alimento em que está inserido. Um exemplo é o da levedura responsável pela fermentação da massa do pão e das bebidas alcoólicas, nesses dois casos o alimento e a bebida são próprios para o consumo. Essa mesma levedura em contato com outro vegetal e um suco de fruta pode ser responsável pela redução dos nutrientes e consequente deterioração. A determinação, identificação e contagem dos microrganismos deteriorantes pode ser feita por meio de contagem de placas em meio de cultura. Entretanto, essa prática não é muito comum porqueos microrganismos de interesse são os patogênicos, pelo risco que apresentam à saúde de consumidores. Microrganismos benéficos e fermentação A preocupação com a contaminação dos alimentos é pertinente e necessária porque muitos microrganismos colocam em risco a saúde das pessoas. Contudo, alguns microrganismos exercem um papel transformador nos alimentos, tornando- os mais apetitosos e duradouros. A fermentação é o uso do alimento para uma reação de obtenção de energia pelo microrganismo. As principais fontes de energia são os carboidratos ou o álcool e os tipos de fermentação são a alcoólica, lática e acética. O ser humano conhece os benefícios dessa reação desde a antiguidade, muito antes do advento da microscopia e da identificação dos microrganismos. A fermentação alcoólica ocorre pela ação da levedura Saccharomyces cerevisiae que converte a sacarose em etanol e gás carbônico. Essa fermentação ocorre na produção de pães e bebidas como a cerveja e o vinho. A fermentação acética é a ação da bactéria Acetobacter sp, o principal substrato energético é o etanol que é convertido em ácido acético para a produção do vinagre. A fermentação láctica ocorre no leite pelo consumo da lactose e pela produção de ácido lático pelas bactérias Streptococcus thermophilus e Lactobacillus bulgaricus. As consequências dessa reação são a redução do pH do leite, precipitação proteica e inibição da proliferação de microrganismos patogênicos. A produção de pães, iogurte, queijos e bebidas alcóolicas é largamente empregada na indústria de alimentos e de maneira artesanal e caseira. Os agentes de fermentação promovem a alteração do pH, além da textura e do sabor dos alimentos, e dificultam a proliferação de outros microrganismos. Além dos efeitos benéficos nos alimentos, os microrganismos exercem um papel muito importante no trato intestinal das pessoas. Bactérias e fungos atuam inibindo a proliferação de microrganismos patogênicos e promovem reações importantes para o hospedeiro, como a produção de ácidos graxos de cadeia curta, que são responsáveis pela redução do pH intestinal, e inibição da produção de compostos potencialmente tóxicos. A nomenclatura desses agentes é probiótica e a principal característica é a capacidade de sobrevivência ao pH estomacal e ao muco intestinal para habitar a região do cólon. Os principais benefícios dos probióticos são uma relação simbiótica com o organismo humano, aumento da motilidade intestinal, prevenção da constipação, melhora no estado de humor e concentração (ainda em estudo). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconheceu os efeitos benéficos dos probióticos e os classificou como alimento funcional. Além disso, a indústria alimentícia utiliza esses microrganismos principalmente na fabricação de iogurtes e bebidas lácteas. ________ 📝 Exemplificando O estudo dos probióticos têm avançado nos últimos anos e a comprovação dos benefícios desses microrganismos despertou o interesse da indústria alimentícia e dos consumidores. Como o principal substrato energético dos probióticos é a lactose, o carboidrato do leite, os produtos probióticos mais comuns são os iogurtes e as bebidas lácteas. Em outros países são comercializados chocolates, biscoitos e até mesmo corte de aves com probióticos. Nesses casos são adicionados os esporos das bactérias, que se desenvolverão e colonizarão o intestino dos consumidores. Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) As Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) são provocadas por agentes químicos, microrganismos ou parasitas. Os agentes químicos podem ser resultado de reações próprias dos alimentos ou pela adição/ incorporação acidental. Os principais agentes químicos de adição encontrados nos alimentos são resíduos de agrotóxicos, fármacos e hormônios. Outro exemplo de agente químico são as toxinas produzidas pelos microrganismos patogênicos. As DVAs provocadas por microrganismos representam mortalidade em várias regiões do planeta. Os principais sintomas são crises eméticas e diarreia, provocando uma desidratação importante. Quando esses sintomas são ignorados, ou há demora nos cuidados e na reidratação dos doentes, o óbito é quase uma certeza. As regiões com altos índices de DVAs são as que têm condições precárias de saneamento e oferta de água. Um centro de saúde notificará um surto de DVA quando mais de duas pessoas que consumiram o mesmo alimento apresentarem os sintomas característicos ou a doença manifestada. Como os sintomas são muito parecidos e há urgência em recuperar os indivíduos com DVAs, não é comum a coleta das fezes ou vômitos para análise e identificação do agente etiológico em serviços de emergência de um indivíduo. Uma identificação geralmente é conduzida quando muitas pessoas de uma região apresentam os sintomas, o que pode indicar problemas de abastecimento de água ou de algum alimento. O tratamento das DVAs tem como foco a hidratação e o monitoramento dos sintomas até que desapareçam. Em casos mais graves, como febre persistente, é recomendada a antibioticoterapia. A identificação do alimento contaminado e a retirada de exposição e consumo de terceiros são meios eficazes de controlar e evitar que mais pessoas adoeçam. _______ ➕ Pesquise mais Agora que você já sabe dos males causados pelos microrganismos patogênicos, dos riscos à saúde dos consumidores e de como evitar a proliferação, chegou a vez de acessar um conteúdo que fará entender melhor o que foi abordado nesta aula. Leia os seguintes materiais para aprofundar seus conhecimentos: • a Resolução RDC nº 14, 28 de março de 2014, que dispõe sobre matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e bebidas, seus limites de tolerância e dá outras providências; • as páginas 3-13 da Resolução RDC nº 12, 02 de janeiro de 2001, que dispõe sobre Regulamento Técnico Sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos • leia também os Aspectos tecnológicos de alimentos funcionais contendo probióticos, publicado por Oliveira em 2002. • Conclusão • Neste momento, ajudaremos Heloísa a realizar o seu trabalho de estágio. Ela pretende concluir um treinamento dos funcionários em busca de engajamento na prevenção da contaminação e de surtos. No entanto, a jovem ficou um pouco atrapalhada, visto que os sintomas das doenças veiculadas por alimentos eram muito parecidos, e não estava familiarizada com os nomes dos microrganismos. • Os principais microrganismos patogênicos são as enterobactérias. Nesse contexto, Heloísa precisa descrever os nomes e associar às características morfológicas e a um alimento facilmente contaminado. Heloísa deve explicar que os microrganismos deteriorantes não causam doenças e que o consumo de um alimento em deterioração pode ser evitado ao sentir o odor ou ao fazer uma avaliação da aparência. • Além disso, a estudante deve explicar os benefícios da fermentação e ação dos microrganismos probióticos. As DVAs, de modo geral, causam crises de diarreia e eméticas agudas, resultando em desidratação importante que precisa ser revertida. Algumas DVAs provocam dores no corpo, febre e, em casos mais graves, o comprometimento do sistema nervoso. Aula 3 Infecções e intoxicações alimentares, doenças veiculadas por bactérias, viroses transmitida Aula 3 - Unidade 1 Introdução da aula Qual é o foco da aula? Nesta aula, você verá as consequências da contaminação de um alimento na saúde dos comensais. Objetivos gerais de aprendizagem Ao longo desta aula, você irá: • diferenciar infecção e intoxicação alimentar; • definir aspectos da prevenção da contaminação e a proliferação de microrganismos nos alimentos; • identificar os principais vírus, fungos e micotoxinas presentes nos alimentos e na água. Situação-problema Até agora você viu a estrutura dos microrganismos e como e porque esses seres vivos estão presentes nos alimentos e podem nos causar malefícios. É importante lembrar que todos os seresvivos necessitam de água, nutrientes e uma combinação favorável de fatores para a sua sobrevivência e, durante o processo de nutrição e multiplicação, ocorre a formação de compostos químicos. Nesta aula você verá as consequências da contaminação de um alimento na saúde dos comensais. Para nos ajudar a compreender como os microrganismos podem causar doenças e a importância da prevenção da contaminação, estamos acompanhando a rotina de Heloísa. A jovem estudante de nutrição está no último ano da graduação, na etapa de realização dos estágios obrigatórios. Ela se deparou com uma UAN em que os colaboradores não são muito conscientes em relação aos perigos que a proliferação de microrganismos pode representar à saúde dos comensais. Um dos objetivos de Heloías é auxiliar Úrsula, nutricionista responsável técnica, a treinar os colaboradores e garantir a qualidade das refeições servidas. Na terceira semana de estágio, a nutricionista chefe Úrsula foi chamada na direção do hospital para dar explicações a respeito de um episódio de 18 pacientes e 23 colaboradores que apresentaram quadro de diarreia e vômitos. Ela explicou que são coletadas amostras dos alimentos e que estas poderiam ser encaminhadas ao laboratório para análise. A nutricionista convocou uma reunião com colaboradores, explicou o ocorrido e cobrou atenção redobrada da equipe. Heloísa ficou pensando se a causa do surto estava na cozinha e qual seria o agente contaminante. Pensando nos sintomas e nas manifestações de DVAs, Heloísa foi conversar com a técnica responsável pela coleta das amostras que fez as seguintes perguntas para estudante: • quais são as diferenças entre infecção e intoxicação alimentar? • quais microrganismos presentes na água poderiam provocar os sintomas descritos? • como elas poderiam elaborar meios de prevenção da contaminação de alimentos? Para ajudar Heloísa a responder as perguntas da técnica, estudaremos a seguir a definição, a manifestação e os sintomas de infecções alimentares; os microrganismos produtores de toxinas e intoxicações alimentares; os principais vírus presentes na água e nos alimentos; os fungos e as micotoxinas nos alimentos; e, para finalizar, a prevenção da contaminação e a proliferação de microrganismos nos alimentos. Bons estudos! Necessidades dos microrganismos Os microrganismos necessitam de uma combinação de fatores para a sobrevivência e proliferação. A presença de água, nutrientes e um pH próximo à neutralidade seriam as condições ideais encontradas nos alimentos para a maior parte dos microrganismos, principalmente aos que provocam doenças. Além disso, a temperatura ambiente, presença de oxigênio e umidade relativa do ar exercem papel importante, inibindo ou favorecendo a proliferação. Durante o processo de obtenção de energia e nutrientes, os microrganismos produzem uma série de compostos químicos e liberam gases (CO2 é o mais comum). Esses produtos do metabolismo têm por finalidade garantir a sobrevivência do microrganismo e fazem parte de seu ciclo de vida. Um alimento pode conter diferentes tipos de contaminantes, que competem entre si pelos nutrientes e pelo espaço disponível. A produção de algum composto que inibirá o crescimento daqueles que necessitam das mesmas condições de sobrevivência é uma maneira de eliminar a concorrência e garantir ao microrganismo mais quantidade de nutrientes e espaço nos alimentos. A presença de certos tipos de microrganismos, ou de algum produto do seu metabolismo, nos alimentos e na água de consumo representam um risco à saúde da população. As Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA) representam altos índices de morbidade e mortalidade em vários países, principalmente naqueles em que as condições de saneamento e o acesso à água potável são precários. Para fins de registro e notificação, considera-se um surto quando duas ou mais pessoas apresentam os sintomas característicos das DVA após o consumo de água ou alimento cuja origem é a mesma ou muito próxima. Essas doenças levam a um quadro de rápida desidratação, que deve ser tratada e revertida a tempo, para evitar o óbito. Para identificar o agente etiológico, ou seja, o causador do surto, é necessário realizar uma análise microbiológica do alimento ou de uma amostra de água. A avaliação é feita em laboratórios especializados e com reagentes adequados. Os testes tradicionais consistem em deixar o alimento em condições ideais de crescimento, em meio de cultura seletivo, e aguardar a confirmação da presença do microrganismo, o que pode demorar até 48 horas. Existem disponíveis no mercado kits rápidos de avaliação, nos quais os reagentes indicam a presença do microrganismo. Definição, manifestação e sintomas de infecções alimentares As infecções alimentares são causadas pela fixação e multiplicação de microrganismos no intestino delgado ou grosso. São mais comuns em menores de um ano de vida e indivíduos imunocomprometidos (que têm menor capacidade de resposta imunológica). O organismo humano possui defesas naturais que dificultam e, muitas vezes, impedem a fixação de microrganismos no trato gastrointestinal. As crianças, principalmente as menores de um ano, são mais vulneráveis porque ainda não têm a colonização completa do intestino, tornando-as muito vulneráveis às infecções microbianas. Os indivíduos com o sistema imunológico comprometido apresentam menor capacidade de defesa, facilitando a fixação de hospedeiros indesejáveis. Os agentes causadores de infecções alimentares são, principalmente, bactérias e protozoários. _______ ⚠️ Atenção Os protozoários são microrganismos eucariontes, com núcleo celular delimitado, encontrados na água ou no solo. Alguns necessitam de um organismo hospedeiro para a obtenção de nutrientes e condições necessárias ao crescimento e à multiplicação. _______ A principal via de transmissão dos protozoários é a água, mas a transmissão por alimentos contaminados também acontece. Ao contrário das bactérias, leveduras e fungos, os protozoários não se multiplicam nos alimentos. Eles estão na forma de cisto e multiplicarão no intestino do hospedeiro. O quadro a seguir ilustra os principais protozoários causadores de infecções alimentares e suas características. Características dos principais protozoários contaminantes dos alimentos. Fonte: adaptado de Germano (2011). As infecções alimentares apresentam sintomas agudos que devem ser tratados rapidamente para evitar a desidratação. Os principais meios de evitar infecções alimentares são saneamento básico e hábitos básicos de higiene, por exemplo, lavar as mãos com sabão após o uso dos sanitários. Microrganismos produtores de toxinas e intoxicações alimentares As intoxicações alimentares são causadas por um composto químico, denominado toxina, produzido pelos microrganismos. Estes geralmente são moléculas de lipopolissacarídeos (LPS) e a sua atividade resulta em danos às células do trato gastrointestinal. As bactérias produzem toxinas em diferentes estágios do ciclo reprodutor para evitar competição e garantir condições favoráveis à sua perpetuação. A classificação das toxinas bacterianas está descrita no quadro abaixo. Características das toxinas produzidas pelos microrganismos. Fonte: adaptado de Forsythe (2013). As toxinas produzidas pelos microrganismos podem atuar de diferentes formas, mas a principal consequência é a perda acentuada de líquidos, que precisa ser contida e tratada. O Clostridium botulinum produz uma exotoxina cujo efeito neurotóxico é irreversível. Essa intoxicação acontece por meio da ingestão da toxina que é produzida durante a multiplicação da bactéria no alimento. O seu efeito é letal porque a absorção é rápida e, na corrente sanguínea, começa a agir nos neurônios periféricos. A melhor maneira de evitar as intoxicações alimentares é esquivar-se da contaminação e proliferação dos microrganismos. Isso porque a maior parte das toxinas será produzidadurante a proliferação no intestino do hospedeiro. Alimentos associados às bactérias mais perigosas, como os ovos, as carnes e o leite, devem ser manipulados em condições higiênicas e mantidos em temperaturas de menor risco (refrigeração ou cocção). A cocção dos alimentos deve ser feita em temperaturas superiores a 70º C e devem ser mantidos nessas condições. A temperatura de refrigeração recomendada para evitar o crescimento microbiano é inferior a 5º C. ______ 📝 Exemplificando O palmito é um alimento muito associado ao botulismo, por isso, recomenda-se que, antes de servir, ele seja submetido a temperaturas superiores a 100º C, durante 15 minutos, a fim de inativar a toxina. Principais vírus presentes na água e nos alimentos Existe uma grande discussão entre os cientistas sobre a classificação e natureza dos vírus. Isso acontece pelo fato de serem muito rudimentares e não apresentarem uma estrutura celular. Por serem dotados somente de material genético, dependem da hospedagem em outras células para a proliferação. Assim como as bactérias, estes seres vivos estão amplamente distribuídos na natureza e podem causar uma série de doenças aos humanos, especialmente aos que estão com a imunidade baixa. Os vírus são contaminantes dos alimentos e da água e podem causar os mesmos sintomas das gastroenterites provocadas pelas bactérias. A eliminação dos vírus é mais difícil porque os procedimentos de higiene foram desenvolvidos para eliminar bactérias e, na maioria das vezes, não são suficientes para os vírus. A classificação dos vírus pode ser feita de acordo com o tipo de doença que provocam: Classificação dos vírus. Os principais agentes de gastroenterites são o norovírus e o rotavírus e a água contaminada com esgoto é uma das principais causas da infecção. Além disso, pescados provenientes de águas contaminadas, contaminação por má higiene pessoal dos manipuladores de alimentos e o contato com superfícies contaminadas são outros meios de infecção por vírus. A detecção dos vírus nos alimentos ou na água não é feita no laboratório de microbiologia porque o teste utilizado é o do tipo Elisa, uma reação imunoenzimática para a identificação de anticorpos. A manifestação dos sintomas provocados pelos vírus gastroentéricos é semelhante à provocada por bactérias, ou seja, os primeiros sintomas aparecem após 12 horas de ingestão do produto contaminado. A contaminação pelo vírus da hepatite apresentará os primeiros sintomas após duas semanas, por exemplo, náusea, urina escura, fezes pálidas e icterícia. Os demais causam sintomas como diarreia, vômitos, febre e perda de apetite. O norovírus e o rotavírus estão associados aos surtos de DVA em escolas, hospitais, asilos e restaurantes. O principal veículo de contaminação é a água, por isso, pode atingir um número maior de pessoas de uma região. As infecções por esses agentes são denominadas autolimitantes porque apresentam um período limitado de infestação e manifestação dos sintomas, que dura no máximo 6 dias nas crises gastroentéricas e 4 semanas na hepatite. O melhor meio de prevenção dessas doenças é o controle da água para o consumo, higiene pessoal e ambiental. Fungos e micotoxinas nos alimentos Os fungos são microrganismos com células do tipo eucarionte, ou seja, apresentam o núcleo celular delimitado protegendo o DNA. Na maioria das vezes, esses seres vivos atuam de forma benéfica nos alimentos e na saúde dos comensais. Entretanto, alguns fungos produzem toxinas durante a sua proliferação nos alimentos. Esses compostos produzidos pelos fungos têm um nome específico, micotoxinas, e algumas delas têm potencial carcinogênico. Os principais fungos produtores são o Aspergillus sp, Fusarium e Penicillium. _______ 🔁 Assimile Ao contrário das toxinas produzidas pelas bactérias, as micotoxinas não têm uma função específica na proliferação dos fungos. Não são um meio de inibir a proliferação de microrganismos concorrentes. _______ O número de micotoxinas identificadas, bem como as suas diferentes estruturas químicas catalogadas, e os efeitos podem ser em diferentes órgãos-alvo como rins, sistema nervoso e fígado. Além disso, as micotoxinas podem provocar alergias e danos maiores como câncer de fígado. A categoria mais estudada é a aflatoxina, que está presente nos cereais, nas sementes oleaginosas, no leite e derivados. Os principais alimentos relacionados a intoxicações são o milho e o amendoim. Os efeitos da ingestão desses compostos são observados em médio e longo prazo e, portanto, a melhor medida de prevenção é o cuidado no plantio, na colheita e no armazenamento dos grãos. A limpeza do ambiente e dos equipamentos utilizados na colheita é fundamental para evitar a proliferação de fungos. O controle de temperatura e umidade durante o armazenamento dos grãos é necessário para a inibição da proliferação e o controle das micotoxinas. O consumo habitual do milho é por meio de preparações em que em algum momento houve o aquecimento do alimento, portanto pode parecer mais inofensivo. Contudo, quando o milho contaminado é utilizado como ração animal, produtos como carnes e leite podem apresentar contaminação. O alimento fortemente associado ao risco de ingestão de aflatoxinas é o amendoim, por ser uma leguminosa cuja vagem é mais lenhosa e, aparentemente, mais resistente. É recomendado somente o consumo de amendoim de origem confiável, sem sinais de acúmulo de umidade e que passou por algum processo térmico. Prevenção da contaminação e proliferação de microrganismos nos alimentos A melhor maneira de prevenção das infecções e intoxicações alimentares é a aplicação de procedimentos que impeçam a contaminação e a proliferação dos microrganismos nos alimentos. Porém, é importante ressaltar que a oferta de um alimento estéril, isto é, livre de qualquer microrganismo, não condiz com a realidade. _______ 💭 Reflita Não existem alimentos livres de microrganismos porque a eliminação completa desses seres vivos implicaria em submetê-los a condições extremas. Isso resultaria em prejuízo das características organolépticas e consequente rejeição do alimento pelos comensais. _______ Um local que produz refeições deve adotar uma série de condutas para prevenir a contaminação e oferecer alimentos que não tragam riscos à saúde dos comensais. Uma das primeiras medidas seria providenciar uma infraestrutura de abastecimento de água e de rede de esgoto adequadas. A escolha de fornecedores de matéria-prima deve ser cuidadosa, é necessário verificar a procedência e as condições de transporte, além da embalagem e do armazenamento dos ingredientes. Deve-se também respeitar as indicações de temperatura de armazenamento dos alimentos e controlar a umidade relativa do estoque. Além disso, é de extrema importância treinar e acompanhar a equipe de manipuladores de alimentos, para que mantenham o asseio e a higiene pessoal, lavando as mãos com sabão constantemente. Manter o ambiente de manipulação dos alimentos limpo, com equipamentos e utensílios devidamente higienizados e com locais distintos para a manipulação de alimentos crus e cozidos. As facas de corte e tábuas das carnes devem ser de uso exclusivo, assim como os utensílios para a manipulação dos vegetais crus. O controle da temperatura dos alimentos servidos em balcão de distribuição deve ser monitorado com termômetros, para avaliar e assegurar que alimentos cozidos estejam sempre acima de 60º C. Os alimentos que foram expostos para consumo não devem retornar à panela ou serem reaproveitados. A oferta de um alimento considerado seguro, de acordo com as normas higiênico-sanitárias, é regulamentada por uma série de leis que visam padronizar as etapas de produção e, dessa forma, minimizar riscos à saúde. _______ ➕ Pesquise mais Agora que você já compreendeu como ocorrem as infecções e intoxicações alimentares, é importante estudar como detectar e prevenir a contaminaçãodos alimentos. Acesse o site do Ministério da Saúde e leia com atenção o texto Doenças transmitidas por alimentos: causas, sintomas, tratamento e prevenção. Aproveite e leia também o texto de Siqueira, chamado Avaliação microbiológica da água de consumo empregada em unidades de alimentação de 2010. Conclusão Agora que você já sabe as características das DVA, ajudaremos Heloísa a responder às questões da técnica responsável pela coleta das amostras dos alimentos. A estudante precisa responder quais são as diferenças entre infecção e intoxicação alimentar, para ajudá-la você pode informar que as infecções são causadas pela proliferação dos microrganismos no trato gastrointestinal. Os agentes das infecções podem ser bactérias ou protozoários, que vulgarmente são chamados de vermes. Já as intoxicações são provocadas pelas toxinas produzidas pelos microrganismos, sendo as bactérias os principais agentes de intoxicação. Os sintomas apresentados eram de diarreia e vômitos, comuns a vários tipos de microrganismos. Mas se for comprovado que a fonte de contaminação foi a água, é muito provável que o agente seja um vírus como o rotavírus ou o norovirus. https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-transmitidas-por-alimentos https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-transmitidas-por-alimentos Para finalizar, é preciso responder como elas poderiam elaborar meios de prevenção da contaminação dos alimentos. A melhor estratégia é o treinamento dos colaboradores e estabelecer rotinas de controle de qualidade dos trabalhos. UNIDADE 2 - Higienização e legislação sanitária Aula 1 Métodos de higiene na cadeia produtiva de alimentos, higiene e controle de qualidade e Aula 1 - Unidade 2 Introdução da Unidade Objetivos da Unidade Ao longo desta Unidade, você irá: • descrever métodos de higienização na cadeia produtiva; • definir o controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição; • enunciar as portarias e as resoluções sanitárias de alimentos; • apontar os pontos críticos de controle, higiene e sanitização. Introdução da Unidade Você verá nesta unidade os métodos de higienização e a legislação sanitária. Você já sabe que os microrganismos estão presentes em todos os ambientes e podem causar muitos prejuízos. Sabemos que não é possível eliminá-los dos alimentos, mas algumas medidas são fundamentais para evitar a proliferação e, consequentemente, as doenças que podem ser causadas. Para tanto, existe uma série de técnicas e procedimentos padronizados que devem ser seguidos pelos locais que produzem refeições. Nesta unidade, a competência a ser desenvolvida é conhecer os principais conceitos de higienização e a legislação sanitária de âmbito nacional. Para complementar seus estudos, será necessário consultar e comparar com a legislação do seu estado e município de residência e/ou atuação. Acompanharemos a aplicação da legislação na rotina da UAN La Cucina, local em que a estudante de nutrição Heloísa realiza o seu estágio obrigatório. Heloísa foi à faculdade para uma reunião com as professoras orientadoras na qual deveria mostrar os relatórios e o andamento do trabalho acadêmico que desenvolve no local de estágio. Heloísa relatou um surto ocorrido na semana anterior, no qual colaboradores e pacientes apresentaram sintomas compatíveis com intoxicação alimentar. A La Cucina aguardava o resultado das análises, mas a nutricionista acreditava que o arroz poderia estar contaminado com Bacillus cereus. Heloísa comentou que colaboradores não eram muito comprometidos e não seguiram corretamente as orientações e os treinamentos da nutricionista. A professora sugeriu à Heloísa que usasse a legislação sanitária para reforçar a importância da adequação às normas. Ela também explicou para estudante que o trabalho de supervisão é constante, e deve ser reforçado até a mudança de comportamento. Heloísa queixou-se de problemas corriqueiros como o uso de pano de limpeza, colaboradores que trabalhavam com ferimentos sem proteção e o uso incorreto dos desinfetantes. Diante disso, a professora a questionou sobre o que ela estava fazendo para ajudar na mudança de comportamento dos colaboradores. • como Heloísa poderia ajudar o local a cumprir as exigências da legislação? • por que é preciso seguir as recomendações? • como convencer os colaboradores da importância de cada ação preventiva de contaminação? Na primeira aula, você verá os métodos de higienização na cadeia produtiva e no controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição. Com a segunda aula, você aprenderá as portarias e as resoluções sanitárias de alimentos. Para finalizar, abordaremos na terceira aula os pontos críticos de controle, higiene e sanitização. Observe que o conteúdo tem alta aplicabilidade prática, os conhecimentos aqui adquiridos são muito importantes para a sua vida profissional. Bons estudos! Introdução da aula Qual é o foco da aula? Nesta aula, você verá os principais métodos de higienização. Objetivos gerais de aprendizagem Ao longo desta aula, você irá: • descrever conceitos de higienização, os produtos de limpeza e sanitização; • apontar a documentação e o uso de produtos químicos em locais de manipulação de alimentos; • definir os métodos de higienização em Unidades de Alimentação e Nutrição e lactários. Situação-problema Nesta aula você verá os principais métodos de higienização. Você deve ter aprendido, em casa com a sua família, por exemplo, que não podemos consumir frutas e verduras antes de lavar, que a cozinha deve ser limpa periodicamente, que os produtos de limpeza devem ser armazenados em local diferente do armazenamento dos alimentos, entre outras recomendações. Além disso, é comum ouvir que é perigoso comer salada fora de casa porque os vegetais podem estar contaminados. Mas você sabe qual é o método correto de higienização? Quais produtos podem ser utilizados diretamente nos alimentos? Estudaremos, nesta aula, os métodos de higienização dos alimentos e do ambiente de preparo. Continuamos acompanhando a rotina de Heloísa, que faz estágio na UAN La Cucina. Após o surto da semana anterior, ela percebeu que Regina, funcionária do lactário, solicitou uma quantidade maior de hipoclorito de sódio do que o habitual. Intrigada com a situação, foi visitar o local e sentiu um cheiro forte de cloro no recinto. Ao questionar Regina, ouviu como resposta que disseram nos corredores que os colaboradores da cozinha e do lactário seriam demitidos caso acontecesse outro surto no hospital. Com medo de perder o emprego, Regina disse que estava comprometida a garantir que não haveria contaminação ou proliferação de microrganismos no seu local de trabalho. Heloísa fez três perguntas para Regina a fim de verificar quais eram seus conhecimentos sobre limpeza e desinfecção: • quais são os principais produtos de sanitização e suas finalidades? • como deve ser a diluição e o uso do hipoclorito para ambientes e alimentos? • quais são os métodos de higienização de um local que produz refeições? Heloísa deve compreender muito bem os métodos de higienização, os produtos recomendados e as diluições corretas para auxiliar a colaboradora do lactário. Para ajudar Heloísa nessa missão, estudaremos: • os conceitos de higienização, os produtos de limpeza e sanitização; • a documentação e o uso de produtos químicos em locais de manipulação de alimentos; • veremos o cálculo de concentração de produtos utilizados nesses procedimentos; • os métodos de higienização em Unidades de Alimentação e Nutrição e lactários. Bons estudos! Conceitos de higienização, produtos de limpeza e sanitização Você verá, nesta aula, os principais conceitos de higienização e a melhor forma de tornar o ambiente de preparo limpo e os alimentos mais seguros para o consumo. A eliminação completa dos microrganismos é muito difícil, nem sempre é possível contar com um meio estéril para a produção de alimentos.Entretanto, medidas simples devem ser incluídas na rotina, pois são de extrema importância para evitar a contaminação e a proliferação dos microrganismos nos alimentos. Nesse sentido, impedir doenças e alterações indesejáveis nos alimentos, indicativas de deterioração, é de suma importância. Para controlar o crescimento dos microrganismos, existem métodos mecânicos, como: • filtragem; • uso de extremos de temperatura (baixa ou elevada); • alteração da composição atmosférica do meio ou uso de embalagens a vácuo; • remoção da água do alimento para diminuir o espaço de crescimento; • uso de conservantes e compostos químicos que eliminam os microrganismos. Diante desse cenário, veremos os métodos de higienização, os produtos mais indicados e como usá-los adequadamente. Quando falamos em higienizar, estamos nos referindo aos procedimentos que visam eliminar os agentes causadores de doenças. A higienização pode compreender uma limpeza simples, a desinfecção ou um procedimento de antissepsia. Essas atividades abrangem pessoas, instalações, utensílios, equipamentos, matéria- prima, recipientes e reservatórios de acondicionamento. As principais definições e termos de uso constante estão descritos no quadro a seguir: Termos amplamente utilizados em higienização e suas respectivas definições. Fonte: Adaptado de Forsythe (2013); Germano e Germano (2011). Para que a higienização seja adequada e os microrganismos, principalmente os patogênicos, sejam eliminados, a escolha do método e dos agentes químicos são fundamentais. É importante destacar a diferença entre um ambiente higiênico e um esteticamente limpo. A ausência de sujidades aparentes não significa que o ambiente está livre de contaminantes. Um ambiente que produz refeições deve adotar procedimentos que não interfiram nas qualidades sensoriais e nutricionais do alimento e controlar os riscos físicos, químicos e biológicos. As etapas de higienização consistem em: Etapas da higienização. Documentação e uso de produtos químicos em locais de manipulação de alimentos Os produtos químicos utilizados em ambientes de preparo de refeições devem ser registrados e com uso pré-definido. O rótulo dos produtos deve conter a fórmula padrão, descrição, lista de matérias-primas e quantidades percentuais das fórmulas. Além disso, o modo de uso e a diluição devem estar descritos na embalagem do produto. As quantidades utilizadas devem ser registradas em documentos específicos para que os colaboradores possam consultar sempre que tenham qualquer dúvida. Além do registro dos produtos químicos utilizados, todos os colaboradores devem receber treinamento para o uso correto dos produtos de limpeza e desinfecção. Os produtos químicos devem apresentar uma ficha técnica, fornecida pela empresa que os comercializa, contendo as seguintes informações: • nome do produto (registrado); • nome comercial; • agentes utilizados. • forma de utilização; • recomendações; • equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários; • precauções; • procedimento caso haja contaminação; • validade; • telefones para contato; • registro no Ministério da Saúde e/ou Agricultura; • registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A limpeza geralmente é feita com detergentes ou qualquer outro agente químico que cumpra essa função. Os agentes de limpeza precisam ter as seguintes características: dispersantes; emulsificantes; solubilizantes; complexantes; desengordurantes. Além disso, devem ser atóxicos, ou seja, inofensivos ao homem. ______ 🔁 Assimile • dispersante é a propriedade de desagregar sujidades e as manter em suspensão; • emulsificante é a propriedade de dispersar gordura em meio líquido; • solubilizante é capacidade de dissolver compostos orgânicos e inorgânicos; • complexante é a capacidade de combinar os minerais, impedindo-os de incrustar nos materiais e superfícies; • desengordurante é a capacidade de emulsificar e dispersar a gordura. O detergente é o agente de limpeza mais utilizado e, uma crença muito comum é a de que um bom produto deve produzir espuma, que seria a responsável pela remoção das sujidades. Na verdade, existem diferentes composições de detergentes que atenderão a finalidades específicas. Os detergentes podem ser do tipo tensoativos, alcalinos e ácidos; • detergentes tensoativos: são formados por componentes que alteram a tensão superficial e, para tanto, têm em sua composição química agentes que possuem afinidade com a água (hidrofílicos) e com a gordura (lipofílicos). ______ 📝 Exemplificando Detergentes tensoativos: são classificados em aniônicos, catiônicos, não iônicos e anfóteros. Um tensoativo aniônico possui um íon negativo como forma ativa, geralmente derivado do ácido sulfônico ou sulfúrico. Faz parte dessa categoria a maior parte dos detergentes comerciais. Geralmente produz espuma. Um tensoativo catiônico possui um íon positivo como forma ativa, possui menor capacidade de limpeza e possui melhor efeito bactericida. Não forma espuma. Um tensoativo não iônico, conforme a nomenclatura, não libera íons ao solubilizar. São compostos álcoois e ácidos carboxílicos, considerados bons removedores. Não forma espuma.Um tensoativo anfótero é aquele que pode liberar íons positivos ou negativos, de acordo com o pH do meio. Forma pouca espuma. ______ • detergentes alcalinos têm em sua composição uma base forte, geralmente o hidróxido de sódio (soda cáustica), e atuam na remoção de resíduos gordurosos e proteicos. O bicarbonato, que é uma base fraca, também pode ser utilizado como detergente na remoção de compostos orgânicos, mas não tem a mesma eficiência das bases fortes na remoção de resíduos gordurosos.; • detergentes ácidos são utilizados somente em condições especiais, nas quais observa-se incrustação de minerais como depósitos calcários. São mais caros e devem ser manuseados com cuidado porque apresentam maiores riscos aos manipuladores. A concentração dos detergentes varia de acordo com a composição do produto e a finalidade de uso. A concentração média dos tensoativos é de 3 a 5% e os alcalinos são utilizados em concentração entre 1 e 2%. A desinfecção é a etapa de eliminação dos microrganismos e pode ser feita por meios físicos ou químicos. O calor é o meio físico mais utilizado, tanto úmido quanto o seco, para desinfecção de utensílios e equipamentos: • água quente: temperatura mínima 77º C e exposição de 2 a 5 minutos; • vapor d’água: temperatura mínima 77º C, durante 15 minutos. Se a temperatura for superior a 90º C, o tempo de exposição diminui; • ar quente: temperatura mínima 90º C e exposição de 20 minutos. Os agentes químicos com ação desinfetante são largamente utilizados porque apresentam melhor custo-benefício. São divididos em categorias de acordo com a sua composição química: clorados; iodados; derivados do ácido peracético; quaternários de amônio e peróxido de hidrogênio. Desses, o mais comum e amplamente utilizado é o hipoclorito de sódio. ______ ➕ Pesquise mais O uso de produtos químicos se faz necessário porque são eficientes na remoção da sujeira e dos microrganismos. A aplicação deve ser cuidadosa e seguir as recomendações da vigilância sanitária. Para saber mais sobre os produtos de limpeza, leia com atenção a RDC nº 40, de 05 de junho de 2008, que aprova o regulamento técnico para produtos de limpeza e afins harmonizado no âmbito do Mercosul através da Resolução GMC nº 47/07. Cálculo de concentração dos produtos utilizados nos procedimentos de higienização A eficácia dos produtos de higienização depende da concentração e do uso das quantidades corretas, para que não provoquem intoxicações nos manipuladores e não fiquem resíduos nos equipamentos e utensílios. A concentração vai depender do composto químico utilizado. Os desinfetantes à base de cloro são os mais utilizados na higienização de ambientes e de alimentos. O hipoclorito de sódio, cuja
Compartilhar