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Segurança Alimentar e Bases da Técnica Dietética Professora Me. Flavia Helena Franco de Moura EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof Ms. Diretor de Ensino Prof Ms. Diretor Financeiro Prof Diretor Administrativo Secretário Acadêmico Prof Coordenação Adjunta de Ensino Prof a Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof Coordenação Adjunta de Extensão Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Web Designer Revisão Textual e Diagramação UNIFATECIE Unidade 1 UNIFATECIE Unidade 2 ( UNIFATECIE Unidade 3 UNIFATECIE Unidade 4 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock 20 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 20 Os autores Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof Sbardeloto Tatiane Viturino de Oliveira André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M929s Moura, Flávia Helena Franco de Segurança alimentar e bases da técnica dietética / Flávia Helena Franco de Moura. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 218 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-65-6 1. Segurança alimentar. 2. Alimentos – Manuseio – Medidas de segurança. 3. Alimentos – Microbiologia. 4. Dietética. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 664.07 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORA Professora Me. Flavia Helena Franco de Moura ● Mestranda em Ciência, Tecnologia e Segurança Alimentar (UniCesumar). ● MBA em Gastronomia (UniCesumar) ● Tecnóloga em Gastronomia (UniCesumar) ● Farmaceutica-bioquímica (UEM) ● Docente de Gastronomia - UniCesumar. ● Docente de Gastronomia - UniFatecie ● Docente de Farmácia - UniFatecie ● Professora conteudista de Pós Graduação EAD - VG Educacional Ampla experiência como docente em diversas áreas da gastronomia, produtora de conteúdos para pós graduação EAD, com diversas pesquisas na área de segurança alimentar e a saúde. CV: http://lattes.cnpq.br/4202699722257454 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre a importância da produção de alimentos seguros, preservando a saúde dos consumidores e dos manipuladores de alimentos. Na unidade I começaremos a nossa jornada pelo conceito das principais doenças transmitidas pelos alimentos, as principais fontes de contaminação e quais os requisitos de boas práticas necessários para produção de um alimento seguro, além dos cuidados com a saúde dos manipuladores de alimentos. Esta noção é necessária para que possamos trabalhar a segunda unidade do livro, onde trataremos dos procedimentos operacionais padronizados e os cuidados com a estrutura das UANs. Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a os cuidados com a estrutura física de uma cozinha industrial e os procedimentos padronizados de higiene e de produção. Para isso, vamos detalhar cada uma das etapas de produção de alimentos seguros desde a escolha dos insumos até a embalagem e rotulagem, além de analisarmos os perigos químicos, físicos e biológicos que podem contaminar os alimentos e a Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle. Depois, na unidade III tratar especificamente dos requisitos de Boas Práticas desde a escolha dos insumos, preparo, armazenamento, transporte, embalagem e rotulagem.. Na unidade IV, vamos apresentar a introdução à técnica dietética, com informações fundamen- tais sobre as mudanças ou transformações químicas, físicas e sensoriais pelas quais os alimentos passam durante o pré-preparo e o preparo, permitindo assim um aproveitando mais efetivo tanto em termos de rendimentos como no sentido de melhor utilizar os nutrien- tes existem em cada alimento. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ......................................................................................................3 Noções de Microbiologia de Alimentos UNIDADE II ................................................................................................... 41 Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição UNIDADE III .................................................................................................. 89 Boas Práticas na Fabricação de Alimentos UNIDADE IV ................................................................................................ 135 Introdução à Técnica Dietética 3 Plano de Estudo: ● Microbiología de alimentos, doenças transmitidas por alimentos e sua classificação; ● Doenças transmitidas por alimentos, intoxicações e toxinfecções alimentares; ● Fatores que influenciam a multiplicação dos microrganismos e suas fontes de contaminação; ● Requisitos de boas práticas aplicáveis aos manipuladores de alimentos e saúde do manipulador. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as doenças transmitidas por alimentos e suas principais causas; ● Conhecer os perigos químicos, físicos e biológicos, que podem contaminar os alimentos e causar doenças transmitidas por alimentos; ● Identificar os principais fatores que influenciam na multiplicação dos microrganismos que contaminam os alimentos e as doenças que eles causam; ● Estabelecer a importância da aplicação das normas de higiene dos manipuladores para evitar contaminações alimentares. UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 4UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos INTRODUÇÃO Alimentos seguros são aqueles que não causam dano à saúde do consumidor, mas isso não significa que o alimento esteja isento de todo tipo de contaminação. As pessoas de um modo geral, consideram que alimento seguro é aquele que apresenta risco igual a ZERO; entretanto os profissionais de saúde e manipuladores de alimentos devem conside- rar que RISCO ZERO não existe. A ingestão de perigos químicos, físicos ou biológicos através dos alimentos, pode afetar gravemente a saúde humana, o que tem levado o Brasil e muitos outros países a grandes avanços na área de segurança de alimentos, demonstrando que é possível diminuir e prevenir muitas Doenças Causadas por Alimentos (DTA). A área da Segurança de Alimentos envolve fatores econômicos, culturais, ambien- tais, políticos, tecnológicos, além de muitos outros, desafiando os profissionais que atuam nesse setor. O desenvolvimento de novos produtos alimentares exige um incontável número de tecnologias das mais variadas áreas, mas mesmo como todo essa tecnologia muitas indústrias e Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) tem sido envolvidas em surtos alimentares, demonstrando que apesar de toda a tecnologia e controles severos as conta- minações patogênicas podem ocorrer na linha de produção. Nosso objetivo é abordar as principais doenças que podem ser transmitidas por alimentos, suas fontes de contaminação e seus agentes etiológicos, bem como as formas de controle da multiplicação de microrganismos nos alimentos. Além disso, entender como as boas práticas quanto a higiene pessoal dos manipuladores de alimentos, bem como a adoção de atitudes higiênicas em todo processo de manipulação de alimentos, podem controlaro risco de contaminação alimentar. BONS ESTUDOS ! 5UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1. MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS, DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E SUA CLASSIFICAÇÃO Alimentos seguros e saudáveis são extremamente importantes para a manutenção da saúde e bem-estar da população. Com o processo de industrialização e a consequente inserção das mulheres no mercado de trabalho, a dinâmica da alimentação sofreu grandes mudanças. Uma das principais mudanças foi o hábito de se alimentar fora de casa, que causou um aumento no número de bares, restaurantes e padarias, que precisaram se adequar para produzir um alimento seguro para o consumidor. Um dos principais objetivos de uma Unidade de Alimentação e Nutrição é produzir um alimento seguro, que não ofereça risco à saúde do consumidor, e para que isso seja possível é imprescindível conhecer quais os principais agentes causadores de doenças transmitidas por alimentos e como os alimentos são contaminados por eles. O gastrólogo é um profissional que trabalha diretamente com a produção de ali- mentos e está exposto a vários agentes de contaminação, é essencial que você, aluno, compreenda como identificar os perigos químicos, físicos e biológicos que colocam os ali- mentos em risco, bem como as manipulações adequadas para garantir um alimento seguro. Os alimentos podem ser contaminados em diferentes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável, e o manipulador de alimentos deve conhecer os contaminantes microbiológicos para saber como evitá-los. 6UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos A contaminação dos alimentos ocorre devido à presença de microrganismos (bactérias, fungos, vírus, parasitas). Qualquer material, objeto, substância, microrganismo ou elemento presente em um alimento, e que não faça parte de sua composição, pode ser considerado um contaminante alimentar. Nos mais diferentes serviços de alimentação, garantir qualidade e segurança alimentar ao alimento é uma tarefa difícil. Vamos conhecer quais são as medidas de segurança para que tenhamos um alimento seguro e manipuladores de alimentos saudáveis. A crescente industrialização está provocando diversas mudanças no setor alimentí- cio, tanto na produção quanto na comercialização. Até meados dos anos noventa, o conceito de segurança alimentar estava relacionado com a disponibilidade e acesso aos alimentos. O conceito de segurança alimentar, como conhecemos hoje, surgiu após alguns surtos alimentares ocorridos no final da década de noventa, quando alguns contaminantes químicos e bactérias foram encontrados nos mais diversos alimentos. A partir destes acontecimentos, aumentou a preocupação com a qualidade sanitária dos alimentos (SILVA; AMARAL, 2004). Segurança alimentar, higiene, qualidade e confiabilidade dos produtos passaram a ser itens primordiais para o consumidor. Atualmente, o consumidor está preocupado em saber de onde vem o alimento consumido e como ele é produzido, e os anseios deste novo consumidor devem ser levados em consideração pelos produtores de alimentos. “Mais do que nunca, compreender o consumidor é reconhecida como uma necessidade vital não apenas para as empresas, mas para toda a organização que se assuma como orientada para o mercado” (VIEIRA, 2004, p. 3). O controle sanitário dos alimentos é feito através de um conjunto de normas e técni- cas utilizadas para verificar se os produtos alimentícios estão sendo produzidos, manipulados e distribuídos de acordo com as Boas Práticas (BP), sendo que no Brasil esse conjunto de normas técnicas é elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Quan- do este conjunto de normas e técnicas não é aplicado, microrganismos patogênicos podem causar doenças, como infecções e intoxicações de origem alimentar (HOFFMANN, 2001). Os perigos microbiológicos são as principais causas de contaminação dos alimen- tos e os manipuladores são os grandes responsáveis por esta contaminação (SOUZA, 2006). Mas afinal, alunos, quais são esses perigos? A International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) definiu o conceito de perigo como qualquer contaminação por substância ou crescimento de bactéria, toxinas e enzimas em alimentos, que possa afetar sua qualidade (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 7UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Os três principais perigos que podem contaminar os alimentos são: perigos mi- crobiológicos (micróbios e parasitas), perigos físicos (objetos físicos) e perigos químicos (substâncias tóxicas). FIGURA 1: OS TRÊS PRINCIPAIS PERIGOS QUE PODEM CONTAMINAR OS ALIMENTOS Fonte: ANVISA (2004, p. 7) Os perigos físicos são qualquer objeto físico que possa colocar em risco a saúde do consumidor, a exemplo de: pedras, plástico, metal, parafuso ou parte de algum equipa- mento, madeira, fragmento de vidro (PEREIRA et al., 2013). Os principais fatores de risco são: 1 - Deficiências ao nível das infra-estruturas das instalações. 2 - Presença de objetos estranhos à atividade nas instalações. 3 - Instalações/ veículos/ equipamentos/ utensílios em mau estado de limpeza e/ou conservação. Os perigos químicos podem estar naturalmente presente nos alimentos, como as micotoxinas, histamina, toxinas das plantas, algas ou moluscos, espécies de cogumelos tóxicos, ou serem introduzidos por engano ou excesso no processamento dos alimentos, como pesticidas, produtos químicos para lubrificação, agentes de limpeza, alguns metais pesados, medicamentos veterinários, nitritos, tintas e revestimentos, entre outros (AFON- SO, 2008, p. 28). 8UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Os principais fatores de risco são: 1 - Instalações mal projetadas que favorecem a permanência de resíduos químicos (exemplo: superfícies que não permitem o enxaguamento e drenagem de detergen- tes). 2 - Deficiência na manutenção dos equipamentos. 3 - Práticas que favoreçam a contaminação cruzada (exemplo: armazenamento de detergentes e produtos alimentares no mesmo local e sem separação física). 4 - Equipamento, agentes e/ou procedimentos de limpeza inadequados. 5 - Não cumprimento dos procedimentos de limpeza e desinfecção definidos no Plano de Higienização. Os perigos biológicos e microbiológicos incluem bactérias, fungos, vírus, para- sitas e toxinas microbianas (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Agora, vamos conhecer cada um dos perigos biológicos mais conhecidos. Os principais fatores de risco são: 1 - Cuidados de higiene pessoal insuficientes. 2 - Cuidados insuficientes de higiene na manipulação dos produtos. 3 - Binómio tempo/temperatura inadequado à conservação do produto. 4 - Condições de umidade propícias ao desenvolvimento microbiológico. 5 - Práticas que favoreçam as contaminações cruzadas (exemplo: armazenamento de produtos crus e cozidos sem separação física entre ambos). 6 - Higienização de instalações, equipamentos e utensílios inadequados. 7 - Controle de pragas inadequado. 1.1. Bactérias As bactérias encontram-se no meio ambiente, e assim, podem estar presentes nas principais matérias-primas vegetais ou animais, utilizadas na produção de alimentos, ou ainda nos manipuladores de alimentos. As bactérias preferem alimentos ricos em água e proteínas, como carne, aves, peixes, moluscos, ovos, leite, queijo , etc (SILVA JR., 2014). As bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos surtos e casos de doenças transmitidas por alimentos (DTA). Bactérias são seres vivos não visíveis a olho nu, que em condições adequadas, se multiplicam rapidamente nos alimentos (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 9UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1.2. Vírus Os vírus podem ser veiculados através dos alimentos, água ou outras fontes. Eles necessitam de uma célula viva para se reproduzirem, por isso não se multiplicam em ali- mentos; mas utilizam osalimentos como meio para alcançar seu hospedeiro. Segundo Franco e Landgraf (2008), os principais vírus presentes em alimentos que podem estar associados à ocorrência de doenças, como gastroenterites, são: ● Vírus da hepatite A. ● Os vírus (tipo) Norwalk. ● O rotavírus. ● Os astrovírus. ● Os calicivírus. ● Os adenovírus entéricos. 1.3. Parasitas A maioria dos parasitas tem animais hospedeiros específicos e podem incluir o homem no seu ciclo de vida. Eles utilizam o hospedeiro para sua sobrevivência (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). FIGURA 2: CICLO DE CONTAMINAÇÃO DE UM PARASITA Os parasitas causadores de giardíase, toxoplasmose, teníase, ascaridíase (lombriga) etc., vivem em hospedeiros Como suínos, bovinos etc. Ao consumir frutas, carnes mal passadas, hortaliças e água, que possam estar contaminadas, a pessoa pode ser infectada. A pessoa infectada pode contaminar outras pessoas, animais ou alimentos Através das suas fezes contaminadas (falta de higiene), dando início a um novo ciclo de contaminação. Fonte: A autora. 10UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1.4. Fungos Os fungos são divididos em bolores e leveduras, e se multiplicam em alimentos mais secos, que tenham quantidades maiores de açúcar, como frutas e doces em geral. Segundo Silva Jr. (2014), quando colocados em alimentos ou bebidas, eles transformam e modificam sua função sem causar doença, sendo utilizados na produção pão, queijos, vinho, saquê, cerveja, entre outros. Entretanto, alguns fungos podem produzir substâncias tóxicas (micotoxinas), que são prejudiciais ao homem e aos animais. Estas substâncias já são consideradas perigos químicos devido a sua natureza química (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Agora que você já conhece os principais contaminantes dos alimentos, vamos conhecer as principais Doenças Transmitidas pelos Alimentos. 11UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 2. DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA), INFECÇÕES E TOXINFECÇÕES ALIMENTARES As Doenças Transmitidas por Alimentos podem ser causadas por “fatores de natureza química, física e biológica, que em quantidades suficientes e com capacidade para se manterem no curso da cadeia alimentar podem causar agravo à saúde” (BRASIL, 2010, p. 99). Alimentos contaminados não têm uma aparência definida, podendo apresentar odor e sabor normais e, como o consumidor não está devidamente esclarecido ou mesmo consciente dos perigos envolvidos, não consegue identificar um alimento contaminado somente pelas suas características físicas ou organolépticas (FORSYTHE, 2000). De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (ABERC, 2013), as doenças transmitidas pelos alimentos podem ser classificadas como: ● Intoxicação ou toxinose: ingestão de toxinas bacterianas pré-formadas nos alimentos, decorrente da multiplicação microbiana com produção de toxina no alimento. Exemplo de algumas bactérias toxinogênicas: Staphylococcus aureus. Clostridium botulinum. Bacillus cereus emético. 12UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Infecção: ingestão de microrganismos patogênicos que se multiplicam no trato gas- trointestinal, produzindo agressão ao epitélio. Exemplo de alguns microrganismos infectantes: Bacillus cereus clássico. Clostridium perfringens. Salmonella sp. Escherichia coli patogênica. ● Toxinfecção: ingestão de alimentos contaminados de microrganismos patogê- nicos que se multiplicam no trato gastrointestinal, e liberam toxinas. Exemplo de microrga- nismos infectantes: Vibrio cholerae 2.1 Dose infectante A dose infectante consiste no número de microrganismos capaz de desencadear uma doença. O nível da dose infectante mínima é muito difícil de determinar, pois varia muito de pessoa para pessoa, dependendo das condições fisiológicas de cada indivíduo como: imunidade, estado nutricional, nível de estresse, flora intestinal e grau de acidez gástrica. Ainda existem os grupos especiais de risco, que são as crianças, os idosos, as gestantes e os imunodeprimidos, que podem adoecer com uma dose infectante menor do que o necessário para causar doença em um adulto saudável (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 2.2 Características dos principais agentes causadores de DTA Staphylococcus aureus: ● Proveniente do nariz, região orofaríngea e mãos de manipuladores de alimentos. ● Período de incubação (aparecimento dos primeiros sintomas após o consumo): 1 a 6 horas. ● Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, dores musculares, raras diarreias, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados por manipulado res, que apresentaram condições adequadas para a proliferação destes micror ganismos (ABERC, 2013). Bacillus cereus emético: ● Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. ● Período de incubação: 1 a 6 horas. ● Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, raras diarreias, sem febre. 13UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, como arroz, carnes, verduras, pudins etc., armazenados em condições inadequadas de temperatura por algumas horas (FRANCO; LANDGRAF, 2008; SILVA JR., 2014). Clostridium botulinum: ● Proveniente do solo, água, vegetais, aves e pescados. ● Período de incubação: 8 a 36 horas. ● Sintomas: visão dupla, dificuldade de falar, deglutir, respirar, mucosa da boca ressecada, insuficiência respiratória e morte. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos mantidos em anaero biose e deixados por várias horas em temperatura inadequada, como: carnes, embutidos não refrigerados, enlatados mal processados e conservas caseiras de vegetais e pescados (ABERC, 2013). Bacillus cereus clássico: ● Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, armazenados em con dições inadequadas de temperatura por algumas horas (SILVA JR., 2014). Clostridium perfringens: ● Proveniente do solo, água e vegetais. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos ou refogados que man tém condições de anaerobiose, armazenados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Escherichia coli patogênica: ● Proveniente das fezes do homem ou de animais de sangue quente. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. 14UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados no ambiente ou na manipulação, que foram cozidos e deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (SILVA JR., 2014). Salmonella sp (infecção): ● Proveniente de carnes, aves, produtos lácteos, frutos do mar, gema de ovo, hortaliças plantadas em locais adubados com fezes e também manipuladores que possam estar contaminados. ● Período de incubação: 12 a 72 horas. ● Sintomas: cólicas, diarreia, vômitos e febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos mal cozidos, deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Os sintomas apresentados pelo portador de DTA dependerá do agente causador en- volvido e pode variar de um leve desconforto intestinal até quadros mais sérios, podendo oca- sionar desidratação grave, diarreia sanguinolenta e insuficiência renal aguda (BRASIL, 2016). O quadro a seguir apresenta alguns exemplos de perigos que têm classificação de risco alta, ou seja, que podem causar efeitos graves para a saúde, obrigando ao interna- mento para reverter a situação, podendo, inclusivamente, provocar amorte. QUADRO 1: PERIGOS COM CLASSIFICAÇÃO ALTA Classificação Exemplos Alta Biológico: toxina do Clostridium botulinum, Salmonella Typhi,, Shigella dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Vibrio vulnificus, Brucella melitensis, Clostridium perfringens tipo C, vírus da hepatite A e E,, Escherichia coli, Trichi- nella spiralis,Taenia solium (em alguns casos). Químico: contaminação direta de alimentos por substân- cias químicas proibidas ou determinados metais, como mercúrio, ou aditivos químicos que podem causar uma intoxicação grave em número elevado ou que podem causar danos a grupos de consumidores mais sensíveis. Físico: objectos estranhos e fragmentos não desejados que podem causar lesão ou dano ao consumidor, como pedras, vidros, agulhas, metais e objetos cortantes e perfurantes, constituindo um risco à vida do consumidor. FONTE: Baptista e Venâncio (2003, p. 17) 15UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos O Ministério da Saúde define surtos causados por doenças transmitidas por alimen- tos como “episódios em que duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sinais/sintomas após ingerir alimentos e/ou água da mesma origem” (BRASIL, 2016, p. 5). No Brasil, desde 1999 faz-se controle e vigilância dos surtos, e é importante fazer a notificação quando há casos de doenças transmitidas por alimentos. Essa notificação permite a investigação do estabelecimento e/ou produto causador do surto e a elaboração de estatísticas, tornando possível o conhecimento do perfil epidemiológico dos surtos cau- sados por DTA no Brasil. Segundo estatísticas, no ano de 2018 o Brasil apresentou 503 surtos com 6803 pessoas doentes,731 hospitalizados e 9 óbitos - número menor de surtos e doentes se comparados aos dados do ano anterior. Em um período histórico de 2007 a 2017, homens e mulheres na faixa etária de 20 a 49 anos foram os mais acometidos com DTA no Brasil. O principais locais de ocorrência dos surtos foram residências, restaurantes e padarias Dentre os agentes etiológicos identificados como únicos responsáveis pelos surtos confirmados laboratorialmente (80 surtos), a Escherichia coli (27,5%/22 surtos) foi o mais comum, seguida por Norovírus (25,0%/20 surtos). Dos alimentos suspeitos identificados (167 surtos), a água foi a mais incriminada (29,9% / 50 surtos), seguida pelos alimentos mistos (23,4%/39 surtos), cuja composição possui mais de um grupo alimentar. Conforme notificações de anos anteriores, as resi- dências (35,8%/179 surtos) continuaram sendo o local de ocorrência mais associado aos surtos de DTA. (BRASIL, 2018). A figura a seguir apresenta os principais alimentos envolvidos em surtos de DTA no Brasil, o que oferece uma ideia dos alimentos que são potencialmente mais perigosos, embora façam parte dessa estatística alimentos que não foram identificados pelos doentes. FIGURA 3: OS PRINCIPAIS ALIMENTOS ENVOLVIDOS EM SURTOS DE DTA NO BRASIL FONTE: Brasil (2016, p. 13) 16UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos A Australian New Zealand Food Autorithy (ANZFA, 2001) define como alimentos potencialmente perigosos aqueles que necessitam de controle de temperatura para mi- nimizar o crescimento de microrganismos que possam estar no alimento, ou prevenir a formação de toxinas no alimento. A organização ainda classifica os alimentos, segundo termos de risco para a saúde, em alto, médio e baixo. Segundo a ANZFA (2001), alimentos de risco alto são alimentos que suportam o crescimento de microrganismos patogênicos e produção de toxinas, como: ● carne; ● carne de aves; ● salsichas frescas; ● salames; ● peixes; ● ostras; ● leite; ● arroz cozido; ● lasanha; ● ovos. Para a ANZFA (2001), alimentos de médio risco são alimentos que podem conter microrganismos patogênicos, mas geralmente não suportam o seu crescimento, o que pode estar relacionado às características do próprio alimento, devido a sua natureza ou ao seu processamento, tais como: ● frutas; ● vegetais; ● sucos de laranja; ● carnes enlatadas; ● leites pasteurizados; ● produtos lácteos; ● produtos de confeitaria à base de leite. Os alimentos de baixo risco são aqueles alimentos que não suportam o crescimento microbiano e que a presença de microrganismos é improvável (ANZFA, 2001), são eles: ● cereais; ● farinhas; ● produtos de panificação; ● refrigerantes; ● produtos de confeitaria à base de açúcar; ● bebidas alcoólicas; ● óleos e gorduras. 17UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 3. FATORES QUE INFLUENCIAM A MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS E SUAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO O manipulador de alimentos precisa conhecer os principais fatores de multiplicação dos microrganismos para conseguir evitá-los e manipular os alimentos de forma segura. In- felizmente, muitos manipuladores de alimentos não apresentam conhecimento sobre esse assunto e executam as práticas de manipulação de alimentos através de conhecimentos obtidos de outros colaboradores ou em conhecimentos empíricos. Quando se adota uma prática não fundamentada, as atividades desenvolvidas pelo manipulador de alimentos podem não ser corretas. A multiplicação microbiana depende de alguns fatores relacionados aos alimentos ou não, como condições intrínsecas ou extrín- secas, que podem permitir ou favorecer o crescimento de microrganismos. O manipulador de alimento é o principal responsável pelo controle de dois principais fatores para a multiplicação dos microrganismos: o tempo de exposição dos alimentos e a temperatura, e o tempo dos tratamentos térmicos empregados em alimentos. Os microrganismos são seres vivos muito pequenos, mas que realizam todas as ati- vidades que os outros seres vivos realizam. Também necessitam de alimentos, de oxigênio, de água etc para sobreviverem. Por isso, em condições adequadas, ou seja, em ambientes ou alimentos que fornecem suas condições vitais, eles se reproduzem mais facilmente. Em condições adequadas, uma célula (microrganismo) pode se multiplicar em duas células idênticas, cada célula, em seguida, continua a se multiplicar num crescimento expo- 18UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos nencial. Segundo Baptista e Venâncio (2003), as condições ideais, ou fatores intrínsecos e extrínsecos que favorecem o crescimento dos microrganismos são: ◊ Fatores intrínsecos – relacionados a características do próprio alimento: ● acidez; ● atividade de água do alimento; ● composição química do alimento; ● fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento; ● estrutura biológica do alimento. ◊ Fatores extrínsecos – relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra: ● umidade; ● composição gasosa do ambiente (oxigênio); ● temperatura/tempo. Alguns fatores de multiplicação podem ser controlados pelos manipuladores de alimentos, e precisamos saber mais sobre esses fatores e como controlá-los. 3. 1 Fatores intrínsecos Alguns fatores que podem favorecer ou dificultar o crescimento dos microrganis- mos, são chamados de fatores intrínsecos, e estão diretamente relacionados aos aspectos dos próprios alimentos, como o nível de acidez do alimento, composição química, fatores antimicrobianos naturalmente presentes nos alimentos e sua estrutura biológica. 3. 1. 1 Acidez A maioria dos microrganismos têm dificuldade de se reproduzir em alimentos ácidos, como conservas, sucos ácidos, molhos de tomate, refrigerantes, frutas ácidas. Geralmente, os fungos, bolores e leveduras (fermentos) multiplicam-se nesse tipo de alimento e podem estragá-lo. Já os alimentos considerados pouco ácidos (leites, carnes, pescados, aves, feijão) são os preferidos pelos microrganismos, especialmente pelas bactérias. Por isso, estragam mais rapidamente (SILVA JR., 2014). A indústria de alimentos sabe trabalhar muito bem com o efeito da acidez sobre os microrganismos, e assim consegue preservar os alimentos por mais tempo. No caso dos alimentos fermentados, osmicrorganismos responsáveis pela fermentação produzem ácidos, o que acidifica o alimento, como é o caso de leites, iogurtes, carnes e vegetais. “A indústria ainda utiliza acidulantes como ácido cítrico, láctico, acético e outros, para, com 19UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos isso, evitar o risco de deterioração ou atenuar os tratamentos térmicos, como no caso de picles, chucrute, champignon e palmitos” (HOFFMANN, 2001, p. 25). No quadro a seguir serão apresentados os alimentos considerados pouco ácidos, ácidos e muito ácidos. QUADRO 2: ALIMENTOS CONSIDERADOS POUCO ÁCIDOS, ÁCIDOS E MUITO ÁCIDOS Classe Exemplo Pouco ácidos Leite Manteiga Creme de leite Alface Milho Batata Melão Aves Pescados Carne bovina Presunto Peixes e frutos do mar Ácidos Beterraba Berinjela Figo Uva Muito ácidos Refrigerantes Azeitona Maçã Limão Laranja FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 3. 1. 2 Atividade de água do alimento Assim como todo o ser vivo, os microrganismos também necessitam de água para sobreviver e se reproduzir. As bactérias preferem alimentos com alta atividade de água para a sua multiplicação, já os fungos precisam de menos água para se multiplicarem, por isso eles têm mais afinidade por alimentos secos ou mesmo por objetos (GERMANO; GERMANO, 2011). O parâmetro que usamos para medir a disponibilidade de água de um alimento de- nomina-se atividade de água. Os microrganismos necessitam de água na forma disponível, livre, para a sua sobrevivência. A adição de sais, de açúcar e de outras substâncias podem provocar a redução do valor de atividade de água de um alimento, assim como a secagem ou desidratação, 20UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos portanto, alimentos com bastante açúcar ou sal, como doces, charque, peixes secos e os salgados não têm muita água disponível para a multiplicação dos microrganismos. Alimentos com baixa atividade de água são menos susceptíveis à deterioração, mas podem apresentar mofo na sua superfície. Quanto mais água livre tiver o alimento, mais perecível e melhor para as bactérias, principalmente (FRANCO; LANDGRAF, 2008). QUADRO 3: OS VALORES DE ATIVIDADE DE ÁGUA, CONHECIDOS DE ALGUNS Alimentos Atividade da água Leite Peixe Carne fresca Vegetais em salmoura Fruta em calda leve Alimentos perecíveis, alta quantidade de água livre. Leite condensado Queijo cheddar Linguiça fermentada Carne seca Presunto cru Bacon Alimentos de média perecibilidade Farinhas Cereais Nozes Vegetais secos Leite e ovos em pó Gelatinas Geleias Peixes salgados Chocolate Macarrão Biscoitos Alimentos pouco perecíveis, não existe mais água livre. FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 3. 1. 3 Composição química do alimento Para que a multiplicação microbiana seja possível, os microrganismos precisam se alimentar. De acordo com Jay (2005), os seguintes nutrientes devem estar disponíveis: ● água; ● fonte de energia; ● fonte de nitrogênio; ● vitaminas e sais minerais. 21UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Como fonte de energia, os microrganismos podem utilizar açúcares, álcoois e ami- noácidos. Alguns microrganismos podem utilizar carboidratos complexos transformando-os em açúcares, mas poucos microrganismos são capazes de utilizar gorduras como fonte de energia. Como fonte de nitrogênio, os microrganismos utilizam os aminoácidos (proteínas) presentes nos alimentos. Eles também necessitam de pequenas quantidades de vitaminas e minerais. As vitaminas atuam diretamente no crescimento dos microrganismos, principalmente as vitaminas do complexo B, naturalmente presentes na maioria dos alimentos (FRANCO; LANDGRAF, 2008). 3. 1. 4 Fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento Os alimentos apresentam constituintes antimicrobianos que podem retardar ou mesmo impedir a multiplicação de alguns microrganismos. Alguns condimentos contém fa- tores antimicrobianos, representados por óleos essenciais constituintes desses alimentos, tais como o cravo, o alho, a canela, a mostarda e o orégano. O ovo, em especial a clara, também contém diversos agentes antimicrobianos, ou- tros alimentos como o leite bovino, frutas que contêm ácidos orgânicos e óleos essenciais também apresentam esse fator (JAY, 2005). 3. 1. 5 Estrutura biológica do alimento Alguns alimentos possuem uma cobertura natural que constitui uma excelente barreira física contra a entrada de microrganismos e posterior dano causado pela ação deles. A casca das frutas, das nozes, do ovo, por exemplo, são uma importante barreira contra os microrganismos. De modo geral, estes revestimentos têm baixa atividade de água, poucos nutrien- tes e frequentemente contêm compostos antimicrobianos. Uma vez quebrada ou rompida a película do alimento, os microrganismos têm acesso ao interior do alimento, rico em nutrientes. Um exemplo disso são as frutas ou vegetais que têm sua película lesionada, estas estão sujeitas à deterioração com maior rapidez (GERMANO; GERMANO, 2011). 3. 2 Fatores extrínsecos O ambiente onde o alimento se encontra pode auxiliar no aparecimento ou cresci- mento de microrganismos. Dentre as características do ambiente existem alguns fatores, chamados de fatores extrínsecos, que podem determinar a contaminação de um alimento. São eles: a umidade, quantidade de oxigênio do ambiente e a temperatura do ambiente. 22UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 3. 2. 1 Umidade Quando a umidade relativa do ambiente (ar) em torno do alimento é superior à atividade de água do alimento, a superfície do alimento pode ficar suscetível à ação de microrganismos. Quando a umidade relativa do ar, em torno do alimento, for menor que a sua ativi- dade de água, o alimento perderá umidade provocando o ressecamento de sua superfície, o que constitui uma barreira contra a multiplicação de microrganismos. Alimentos que sofrem deterioração por fungos e bactérias em sua superfície devem ser armazenados em condições de baixa umidade (JAY, 2005). A indústria faz uso de alguns métodos de conservação para driblar a umidade relativa e aumentar o tempo de validade dos alimentos, como a utilização de atmosfera modificada, com possibilidade de retardar o crescimento de microrganismos na superfície do alimento, sem modificar a umidade do meio. 3. 2. 2 Oxigênio A presença ou ausência de oxigênio favorece a multiplicação de alguns microrganis- mos, a composição gasosa do ambiente pode determinar quais os tipos de microrganismos crescem em alguns tipos de alimentos. QUADRO 4:CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS MICRORGANISMOS QUE DEPENDEM OU NÃO DE OXIGÊNIO PARA SE MULTIPLICAREM. Classificação Microrganismos Aeróbios = necessitam de oxigênio para se reproduzirem. Bolores e a maioria das leveduras. Anaeróbios = não necessitam de oxigênio livre para se reproduzirem. Leveduras fermentativas. Facultativos = independe da exis- tência ou não de oxigênio para se reproduzirem. Maioria dos patógenos em alimentos. Fonte: Adaptado de Germano e Germano (2011) Modificações na composição gasosa dos alimentos são capazes de causar altera- ções na microbiota que se multiplicam em determinado alimento. A indústria de alimentos utiliza alguns procedimentos para modificar a atmosfera dos produtos, utilizando embalagens impermeáveis ao oxigênio, uso de vácuo (em que se retira o oxigênio do alimento), atmosfera modificada com gases (o oxigênio é total ou parcialmente substituído por outros gases). 23UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Esses recursos são utilizados na produção de queijos, vegetais, produtos cárneos e outros, a fim de evitar também os mofos superficiais. No caso dos enlatados e conservas, o ambiente anaeróbio favorece a multiplicação de bactérias esporuladas, anaeróbias ou facultativas (HOFFMANN, 2001). 3. 2. 3 Binômio Temperatura/tempo O fator temperatura e a possibilidade da diminuição de tempode exposição do alimento são meios mais eficazes que os profissionais de cozinha podem utilizar para com- bater os microrganismos. O manipulador pode controlar a temperatura do alimento na cocção, refrigeração ou congelamento. Os microrganismos podem se desenvolver em temperaturas variadas de 2 a 70 °C, contudo já se constatou multiplicação a temperaturas extremas como -35 °C ou próximas a 100 °C (GERMANO; GERMANO, 2011). No geral, os microrganismos apresentam maior facilidade de reprodução em temperaturas ambientes, o que configura uma zona de perigo. FIGURA 4:TEMPERATURA DE MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Fonte: ANVISA (2004, p. 11) 24UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Como ilustrado na figura anterior, na temperatura acima de 60 °C os microrganismos morrem, essa temperatura é empregada na cocção de alimentos. Na zona de temperatura que fica abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, os microrganismos se reproduzem, essa geral- mente é a temperatura ambiente das cozinhas, por isso a cozinha é um ambiente ideal para a multiplicação de microrganismos. Além da temperatura, esse ambiente ainda dispõe de nutrientes, oxigênio e água. Abaixo de 10 °C os microrganismos dormem, diminuindo sua capacidade de reprodução, essas condições de temperatura são atingidas em refrigeradores e freezers. A correta cocção dos alimentos consegue inativar a maioria dos microrganismos patogênicos. O correto cozimento do alimento é aquele que o atinge por completo até o seu centro geométrico. Para assegurar que os alimentos atingiram temperaturas seguras pelo tempo estimado, é necessário conhecer a relação de tempo e temperaturas capazes de eliminar os microrganismos patogênicos não esporulados (SCHILLING, 1995). No quadro abaixo, apresentamos o tempo de vida de microrganismos patogênicos, de acordo com a temperatura a que são expostos: QUADRO 5: TEMPO DE VIDA DE MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS, DE ACORDO COM A TEMPERATURA A QUE SÃO EXPOSTOS Temperatura °C no centro geomé- trico do alimento Tempo 74 Poucos segundos (5) 70 Poucos minutos (2) 66 Alguns minutos (10) 65 Alguns minutos (15) 60 Varios minutos (30) 55 Algumas horas (4) 52 Várias horas (12) <50 Não há morte de patógenos Fonte: Adaptado de Silva Jr. (2014) Para o profissional de gastronomia, é fundamental conhecer o tempo mínimo neces- sário de exposição de um alimento ao calor para destruir os microrganismos patogênicos. Sabe-se que algumas técnicas culinárias aplicam temperaturas baixas por algumas horas, e outras não permitem o cozimento até o centro geométrico do alimento ou não trabalham com temperaturas altas. Essas preparações que utilizam técnicas diferenciadas podem representar um ponto crítico para o serviço de alimentação. 25UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos É necessário saber identificar essas técnicas e aplicar os demais métodosde segu- rança alimentar. Os outros fatores extrínsecos e intrínsecos também exercem fundamental importância na multiplicação dos microrganismos. Os microrganismos se reproduzem com muita facilidade se encontram condições ideais, principalmente de tempo e temperatura. Alimentos expostos na faixa de temperatura que constitui a zona de perigo, abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, necessitam de apenas poucas horas para serem contaminados. As temperaturas baixas também podem ser utilizadas para a manutenção dos alimentos, sem ocorrer multiplicação rápida dos microrganismos. Na refrigeração ou no congelamento, alguns patógenos podem morrer, mas nem todos são eliminados. As tempe- raturas baixas são as mais indicadas para armazenar alimentos, sendo considerado, ainda hoje, o ideal de 4 °C para a maioria dos alimentos. É bem provável que, futuramente, o congelamento seja o recurso mais utilizado (-18 °C). Um dos grandes problemas, quando se utiliza alimentos ou matérias-primas cruas congeladas, é o descongelamento (SILVA JR, 2014). No quadro a seguir, podemos verificar o intervalo de temperatura / tempo necessário para a multiplicação de microrganismos e/o produção de toxinas em alimentos QUADRO 6: INTERVALO DE TEMPERATURA / TEMPO NECESSÁRIO PARA A MULTIPLICAÇÃO DE MICRORGANISMOS E/O PRODUÇÃO DE TOXINAS EM ALIMENTOS Condições Potenciais de Risco Temperatura do Produto Tempo Máximo Acumulado de Exposição Crescimento e formação de toxinas de Bacilus cereus 4 - 6 °C 7 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21°C 5 dias 17 horas** 6 horas* 3 horas* Crescimento de Campylo- bacter jejuni 30 - 34 °C Acima de 34°C 48 horas 12 horas Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo A, e proteolítico B e F 10 - 21 °C Acima de 21 °C 11 horas** 2 horas* Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo E, e não proteolítico B e F 3.3 - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias > 2 dias 11 horas 6 horas 26UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Crescimento Clostridium perfringens 10 - 12 °C 13 - 14 °C 15-21 °C Acima de 21 °C 21 dias 1 dia 6 horas* 2 horas* Crescimento de esporos patogênicos de Escherinchia coli 7 - 10 °C 11 - 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento da Listeria monocitogenes - 04. - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias 2 dias 12 horas** 3 horas* Crescimento de espécies Salmonella 5.2 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento de espécies Shigella 6.1 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias* 12 horas* 3 horas* Crescimento e formação de toxinas por Staphylococcus aureus 7 10 °C 11 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 12 horas* 3 horas Fonte: Baptista e Venâncio (2003, p. 51) Segundo Silva Jr. (2014), os microrganismos chegam até os alimentos através das fontes de contaminação a seguir: ● manipulador de alimentos; ● animais de estimação; ● pragas (roedores, insetos); ● pássaros; ● solo; ● água; ● ar; ● utensílios; ● plantas; ● ambientes de manipulação. O ideal é que os microrganismos não tenham acesso aos alimentos, porém é im- possível garantir isso. Alguns métodos de conservação são bastante eficazes no auxílio ao controle do crescimento de microrganismos, conforme afirmam Franco e Landgraf (2008) e Schilling (1995): 27UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● uso de métodos mecânicos para a remoção de microrganismos (filtragem, por exemplo); ● manutenção em condições atmosféricas desfavoráveis à multiplicação microbiana; ● uso de temperaturas elevadas; ● uso de baixas temperaturas; ● remoção de água do alimento, desidratação ou secagem; ● uso de conservadores químicos; ● a aumento da acidez do alimento; ● adição de sais; ● manutenção de um ambiente limpo e adequado para a produção de alimentos; ● manutenção dos alimentos em temperatura segura; ● combinação de dois ou mais métodos, frequentemente utilizado pelas indústrias. Como pudemos ver, os manipuladores de alimentos representam uma fonte de contaminação aos alimentos. A seguir veremos quais os princípios de higiene e boas práti- cas devem ser adotados pelos manipuladores para prevenir uma contaminação alimentar. 28UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4. REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS AOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS E SAÚDE DO MANIPULADOR Atualmente, além da preocupação com a saúde na escolha de alimentos saudáveis, os alimentos devem ser totalmente livres de agentes que possam causar doenças alimentares. O manipulador de alimentos é o profissional que produz diretamente todos os ali- mentos de um serviço de alimentação. Este profissional recebe, higieniza, prepara, distribui e armazena os alimentos. Para garantir processos executados de forma segura, o manipu- lador de alimentos deve seguir requisitos de boas práticas quanto a sua higiene pessoal, uniformização e a adoção de atitudes higiênicas. Os requisitos de boas práticas delimitam regras de higiene, saúde, uniformização eatitudes de segurança alimentar a serem seguidas pelos manipuladores de alimentos. Um manipulador de alimentos precisa conhecer os requisitos de boas práticas e os pro- cedimentos necessários para a manipulação segura de um alimento. Os requisitos de higiene e boas práticas são apresentados através de resoluções, portarias e leis. A seguir, apresentaremos parte de algumas legislações e o que elas estabelecem, acompanhadas de texto explicativo. 29UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4. 1 Saúde do Manipulador A Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997 diz que: A constatação ou suspeita de que o manipulador apresenta alguma enfermi- dade ou problema de saúde que possa resultar na transmissão de perigos aos alimentos ou mesmo que sejam portadores ou sãos, deve ser impedido de entrar em qualquer área de manipulaçã o ou operaçã o com alimentos se existir a probabilidade da contaminaçã o destes. Qualquer pessoa na situa- ção acima deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento, de sua condição de saúde. (Referente ao item 7.2). A direção tomará as medidas necessárias para que não se permita a nin- guém que se saiba ou suspeite que padece ou é vetor de uma enfermidade suscetível de transmissão aos alimentos, ou que apresentem feridas infecta- das, infecçõ es cutâneas, chagas ou diarreias, trabalhar em qualquer área de manipulaçã o de alimentos com microrganismos patógenos, até que obtenha alta médica. Toda pessoa que se encontre nestas condições deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento. (Referente ao item 7.3). Ninguém que apresente feridas pode manipular alimentos ou superfícies que entrem em contato com alimentos até que se determine sua reincorporação por determinação profissional. (Referente ao item 7.4) (BRASIL, 1997, p. 6). Segundo Rosa e Monteiro (2014), diante do exposto pela legislação, não podem manipular alimentos os colaboradores que apresentam: ● lesões de pele; ● lesões de mucosas e unhas; ● feridas ou cortes nas mãos e braços; ● diarreias; ● infecções pulmonares, bucais; ● resfriados fortes; ● doenças infectocontagiosas. Referente à saúde dos manipuladores de alimentos, a Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, estabelece: As pessoas que mantêm contato com alimentos devem submeter-se aos exa- mes médicos e laboratoriais que avaliem a sua condição de saúde antes do início de sua atividade e/ou periodicamente, após o início das mesmas. O exame médico e laboratorial dos manipuladores deve ser exigido também em outras ocasiões em que houver indicação, por razões clínicas ou epidemioló- gicas. (Referente ao item 7.2) (BRASIL, 1997, p. 6). Conforme a Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977, os colaboradores devem fazer exames médicos periódicos para assegurar que se encontram em condições de saúde adequadas para manipular alimentos. Os exames médicos devem ser realizados na admissão, periodicamente (anualmente), na demissão, no retorno ao trabalho e na mudan- ça de função. Estes compreendem exames laboratoriais como: hemograma, coprocultura e coproparasitológico. 30UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Ainda é importante salientar que todo o serviço de alimentação deve ter o Progra- ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), determinado pelo Ministério do Trabalho através da Norma regulamentadora NR-7, de 29 de dezembro de 1994. 4.1.1 Capacitação É importante que os colaboradores de alimentos recebam treinamentos periódicos, que abordem temas como: contaminantes de alimentos, doenças transmitidas por alimen- tos e boas práticas na manipulação de alimentos. A capacitação conscientiza o colaborador de sua responsabilidade para alcançar a produção de um alimento seguro. Geralmente este é um ponto negligenciado pelo serviço de alimentação, princi- palmente no que se refere a colaboradores novos, pois mesmo com a urgência para o preenchimento da vaga, um treinamento prévio fará com que o novo colaborador aplique os requisitos de boas práticas já no início das suas atividades. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: “A direção do estabelecimento deve tomar providências para que todas as pessoas que manipulem alimentos recebam instrução adequada e contínua em matéria higiênicasanitária, na manipulaçã o dos alimentos e higiene pes- soal, com vistas a adotar as precauçõ es necessárias para evitar a contami- naçã o dos alimentos. Tal capacitação deve abranger todas as partes perti- nentes deste regulamento “(Referente ao item 7.1) (BRASIL, 1997, p. 5). 4.1.2 Lavagem e antissepsia das mãos Higienizar as mãos deve ser entendida como uma tarefa das mais complexas e impor- tantes para os manipuladores de alimentos. A higiene correta das mãos dos colaboradores é fundamental para impedir que os microrganismos presentes naturalmente na pele dos manipu- ladores contaminem os alimentos, ou mesmo na prevenção de contaminação cruzada. Por isso, esta é uma etapa importante na manipulação dos alimentos e a higiene das mãos deve ser realizada com produtos apropriados, respeitando os passos necessários para a completa higiene, caso contrário, será apenas uma lavagem das mãos e não uma higienização completa. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Toda pessoa que trabalhe numa área de manipulação de alimentos deve, enquanto em serviço, lavar as mãos de maneira frequente e cuidadosa com um agente de limpeza autorizado e com água corrente potável fria ou fria e quente. Esta pessoa deve lavar as mãos antes do início dos trabalhos, imediatamente após o uso do sanitário, após a manipulação de material con- taminado e todas as vezes que for necessário. Deve lavar e desinfetar as mãos imediatamente após a manipulação de qualquer material contaminante que possa transmitir doenças. Devem ser colocados avisos que indiquem a obrigatoriedade e a forma correta de lavar as mãos. Deve ser realizado um controle adequado para garantir o cumprimento deste requisito. (Referente ao item 7.5) (BRASIL, 1997, p. 6). 31UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Ainda segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, os locais para higienização das mãos devem estar disponíveis na áreas de produção: Instalações para lavagem das mãos nas áreas de produção: Devem ter insta- lações adequadas e convenientemente localizadas para lavagem e secagem das mãos sempre que a natureza das operações assim o exija. Nos casos em que sejam manipuladas substâncias contaminantes ou quando a natureza das tarefas requeira uma desinfecção adicional à lavagem devem estar disponíveis também instalações para desinfecção das mãos. Deve-se dispor de água fria ou fria e quente e de elementos adequados (sabonete líquido, detergente, desinfetante, entre outros) para limpeza das mãos. Deve haver também um meio higiênico adequado para secagem das mãos (BRA- SIL, 1997, p. 4). As recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, proíbem o uso de toalhas de tecido em UANs. Não é permitido o uso de toalhas de tecido . No caso de se usar toalhas de papel, deve haver um controle de qualidade higiênico-sanitária e dispositivos de distribuição e lixeiras que não necessitem de acionamento manual para essas toalhas. As instalações devem estar providas de tubulações devida- mente sifonadas que transportem as águas residuais até o local de deságue (Referente ao item 5.3.15). (BRASIL, 1997, p. 4). Conforme descreve a legislação, o produto indicado para a higienização das mãos é o sabonete líquido bactericida (antisséptico) ou sabonete líquido e solução antisséptica para finalização. Segundo Rosa e Monteiro (2014), o local para a higienização das mãos deve conter: pias exclusivas, providas de produto e papel toalha, com torneira e lixeira com acionamento não manual. De acordo com o Ministério daSaúde (BRASIL, 1998), para uma correta higieniza- ção o manipulador deve seguir alguns passos: 1. Utilizar água corrente para molhar as mãos e o antebraço até a altura dos cotovelos. 2. Esfregar a palma, o dorso das mãos e o antebraço com sabonete líquido bacte ricida, inclusive as unhas e os espaços entre os dedos, por aproximadamente 30 segundos. 3. Enxaguar bem com água corrente retirando todo o sabonete, do cotovelo para as mãos. 4. Secar com papel toalha ou outro sistema de secagem. 5. Esfregar as mãos com um pouco de produto antisséptico. 32UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos FIGURA 5: ETAPAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS Fonte: ANVISA (2004, p. 26) Neto (2005) salienta que o manipulador de alimentos deve higienizar as mãos a cada 1 hora e sempre que: ● Chegar ao trabalho ou retornar após o intervalo. ● Utilizar os sanitários. ● Tossir, espirrar ou assoar o nariz. ● Tocar nos olhos ou cabelos. ● Usar esfregões, panos e materiais de limpeza. ● Manusear lixo e outros resíduos. ● Antes de manipular alimentos. ● Antes de iniciar um novo serviço. ● Quando manipular simultaneamente alimentos crus e cozidos. ● Após pegar em dinheiro. ● Após comer. ● Após tocar em embalagens, caixas ou sapatos. ● Após recolher material que tenha caído no piso. ● Antes de tocar em utensílios higienizados. 33UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Antes de tocar em alimentos não higienizados ou crus. ● Antes de tocar em alimentos prontos, cozidos ou higienizados. ● Antes e após o uso de luvas. ● Sempre que mudar de atividade. ● Sempre que as mãos estiverem sujas. 4.1.3 Hábitos higiênicos dos manipuladores Para Jucene (2013), os manipuladores de alimentos, conscientes da sua respon- sabilidade na manipulação de alimentos seguros, devem seguir regras claras de higiene pessoal e hábitos higiênicos, como: ● Banhos diários. ● Higiene bucal a cada refeição. ● Cuidados com a higiene dos cabelos. ● Manter unhas curtas, limpas e sem esmalte. ● Não utilizar barbas. ● Não utilizar nenhum tipo de adorno (brinco, colar, anel, pulseira, piercings, cílios ou unhas postiças). ● Não utilizar nenhum tipo de maquiagem. ● Não utilizar perfumes, loções, cremes. ● Não tocar em dinheiro durante a produção ou manipulação de alimentos. ● Não realizar refeições nos locais onde se manipulam alimentos. ● Não tossir, cantar, assobiar, coçar-se durante a manipulação dos alimentos. ● Não experimentar alimentos diretamente nos utensílios de preparo dos alimentos e nem nas mãos. Os manipuladores devem: a) ter asseio pessoal, manter as unhas curtas, sem esmalte ou base, não usar maquiagem e adornos, tais como anéis, brincos, dentre outros; b) usar cabelos presos e protegidos por touca, boné, rede ou outro acessório apropriado para esse fim; c) utilizar vestimenta apropriada, conservada e limpa. d) lavar cuidadosamente as mãos antes e após manipular alimentos, após qualquer interrupção da atividade, após tocar materiais contaminados, após usar o sanitário e sempre que se fizer necessário; Ainda, segundo requisitos da RDC n° 218, de 29 de julho de 2005: e) não fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar,cuspir, tos- sir, comer ou praticar outros atos que possam contaminar o alimento e ou a bebida durante o preparo; f) utilizar instrumentos e ou utensílios limpos ao realizar as operações de corte, fatiamento, dentre outras; g) adotar procedimentos que minimizem o risco de contaminação dos alimen- tos e bebidas preparados, por meio da lavagem das mãos e pelo uso de luvas descartáveis ou utensílios (Referente ao item 4.2.1). (BRASIL, 2005, p. 6). 34UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4.1.4 Itens de vestuário utilizados na manipulação de alimentos Os serviços de alimentação devem garantir que os manipuladores de alimentos utilizem, durante as atividades de manipulação, itens de vestuário que promovam a segu- rança dos alimentos. Uniforme: Jucene (2013) afirma que todos os colaboradores, inclusive os que traba- lham com expedição, embalagem, almoxarifado dos serviços de alimentação, devem utilizar: ● uniformes fornecidos pela empresa e padronizados, em quantidade suficiente para a execução das atividades; ● uniformes adequados a cada atividade; ● uniformes de coloração clara (para visualizar a sujeira); ● uniformes sem bolsos ou botões acima da cintura (para impossibilitar que algum objeto caia na comida ou que o botão fique enganchado em algum utensílio ou equipamento); ● utilizar o uniforme exclusivamente nas áreas de manipulação dos alimentos (colocá-lo na chegada ao trabalho e retirá-lo na saída); ● uniforme conservados, limpos, bem passados, sem rasgos, manchas e troca dos diariamente; ● se a empresa optar por fornecer uniformes descartáveis aos manipuladores, os uniformes devem ser descartados imediatamente após o uso. ● Pode-se adotar como uniforme ideal os seguintes itens: ● calça comprida, de cor clara; ● camiseta de cor clara; ● avental de pano opcional (sem bolsos ou botões acima da cintura) ou avental de napa para atividades molhadas; ● sapato fechado, de preferência de segurança, e botas para atividades molhadas; ● toucas descartáveis, redes ou itens que previnam a disseminação dos cabelos e que possam conter a totalidade dos cabelos do usuário, a utilização de bonés não dispensa a utilização de toucas. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Toda pessoa que trabalhe em uma área de manipulação de alimentos deve manter uma higiene pessoal esmerada e deve usar roupa protetora, sapatos adequados, touca protetora. Todos estes elementos devem ser laváveis, a menos que sejam descartáveis e mantidos limpos, de acordo com a natureza do trabalho. Durante a manipulação de matérias-primas e alimentos, devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal (Referente ao item 7.6) (BRASIL, 1997, p. 6). 35UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4.1.5 Uso de equipamentos de proteção individual De acordo com Jucene (2013) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio- nal – NR-7 (BRASIL, 1994), para preservar a integridade física dos manipuladores de alimentos e eliminar ou minimizar riscos, utilizam-se equipamentos de proteção individual, como: ● Luvas (descartáveis, térmicas, de malha de aço): luvas descartáveis podem ser utilizadas na manipulação de alimentos prontos, que tenham ou não sofrido tratamento térmico, na manipulação de alimentos crus, na preparação do salão, colocação de pratos, talheres, ou em qualquer situação que constitua um perigo para os alimentos. O uso de luvas ainda pode ser empregado na utilização de produtos químicos. O uso de luvas é facultativo e não exime o colaborador da higienização das mãos antes e após o uso das luvas. ● Luvas térmicas devem ser utilizadas no manuseio de equipamentos quentes. ● Luvas de malha de aço devem ser utilizadas no pré-preparo de produtos cárneos (corte e desossa) ou em atividades que utilizam serras fitas, o utensílio deve ser higienizado após o uso. ● Avental impermeável: tem a função de proteger o colaborador contra a ação da água em atividades de higienização ou manipulação de pescados e carnes. Não deve ser utilizado em atividades quentes. ● Avental térmico: é constituído de material isolante e utilizado para proteger os manipuladores contra a ação do calor. ● Calçado impermeável: deve ser fechado, lavável, antiderrapante, utilizado exclusivamente para a manipulação de alimentos. ● Roupas para a proteção contra o frio: são compostas por calça térmica, casaco, luvas, utilizadas por manipuladores que trabalham permanentemente em câmaras frias ou ambientes climatizados. ● Óculos de segurança: utilizados obrigatoriamente para profissionais que trabalham com manuseio de produtos químicos. ● Máscara: a utilizaçãode máscara é opcional, ela pode ser utilizada pelo colabo rador para utilização de produtos químicos ou para a segurança do alimento. É importante ressaltar a necessidade de troca da máscara durante a atividade. 36UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos SAIBA MAIS Não deixe de acompanhar a atualização da Legislação Alimentar no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). ANVISA. Cartilha sobre boas práticas para serviço de alimentação Resolução RDC n° 216/2004. 3 ed. Brasília: Anvisa, 2004, 44 p. Disponível no link: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Car- tilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc- -4071-b516-d59598701af0>. A resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - RDC Nº 12, de janeiro de 2001, dispões sobre o Regulamento Técnico dos Padrões Micro- biológicos para Alimentos e acrescenta ainda que existe a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos, com o intuito de proteger a saúde da população e regulamenta padrões microbiológicos para alimentos. (BRASIL, 2001) Conheça mais sobre esta resolução por meio do link disponível em: <https://portal.anvisa.bov.br O caso de uma cozinheira norte-irlandesa com febre tifóide, mas sem sintomas, foi em- blemático no século 19. Disponível em: https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de- -50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ REFLITA “O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos é uma oportunidade única para aumentar a conscientização sobre os perigos dos alimentos não seguros com governos, produto- res, manipuladores e consumidores. Da fazenda ao prato, todos nós temos um papel a desempenhar para tornar a comida segura”. Fonte: Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, durante a primeira celebração do Dia Mun- dial da Segurança dos Alimentos das Nações Unidas, em 07 de junho de 2019) http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 https://portal.anvisa.bov.br https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de-50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de-50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ 37UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, aprendemos que os alimentos podem ser contaminados em diferen- tes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável, sendo que os principais contaminantes podem ser biológicos (bactérias, fungos, vírus, parasitas ou toxinas microbianas), físicos (qualquer objeto) ou químicos (presentes naturalmente nos alimentos, introduzidos por engano ou utilizados em excesso como pesticidas, metais pesados e medicamentos veterinários). Os perigos físicos, químicos ou biológicos presentes nos alimentos ou na água podem causar doenças transmitidas por alimentos, sendo que as bactérias patogênicas são as responsáveis pela maioria dos surtos e casos de DTA. Apesar dos microrganismos serem seres vivos muito pequenos, eles realizam todas as atividades que os outros seres vivos realizam e também necessitam de alimentos de oxi- gênio, de água etc. para sobreviver. Fatores intrínsecos (relacionados a características do próprio alimento) e extrínsecos (relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra) determinam o crescimento desses microrganismos. Assim, vimos que a maioria dos microrganismos têm dificuldade para se reproduzir em alimentos ácidos e que as bactérias preferem alimentos com alta atividade de água, bem como os fungos precisam de menos água para se multiplicarem. Para oferecermos um alimento seguro, devemos sempre observar o binômio tempo/ temperatura além das condições de saúde, higiene, uniformização e atitudes do manipulador. Os manipuladores de alimentos devem fazer exames médicos periódicos, para as- segurar que se encontram em condições de saúde adequadas para manipular os alimentos, além de não apresentarem nenhuma lesão cutânea, diarreia ou doenças infectocontagiosas. A higiene correta das mãos dos colaboradores é fundamental para impedir que os microrganismos presentes naturalmente na pele dos manipuladores contaminem os alimen- tos, e para fazer a higienização correta é importante seguir os passos estabelecidos pela legislação alimentar. Mas apenas a higienização correta das mãos não é o suficiente - todos os hábitos de asseio pessoal são fundamentais para conseguirmos um alimento seguro. 38UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos LEITURA COMPLEMENTAR Para complementar seu conhecimento, leia: ABRANTES, T. 7 Casos de contami- nação de alimentos que deram o que falar. Rev. Exame, 2013. Disponível em: https:// exame.abril.com.br/negocios/7-casos-de-contaminacaode-alimentos-que-deram-o-que-fa- lar/>. Acesso em: 27 nov. 2017. Para complementar o seu estudo, você pode ler: CRISPIM, G. J. B.; OLIVEIRA, V. M. Principais Bactérias de Interesse Médico Encontrados em Molhos e Condimentos de Lanchonetes Tipo Fast Food. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 18, n. 3, 2014 39UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Microbiologia e Sistemas de Gestão da Segurança de Alimentos Autor: Eduardo Cesas Tondo Editora: Sulina 2014 Sinopse: .De forma clara e objetiva, este livro aborda aspectos importantes da Microbiologia e sua relação com os principais siste- mas de gestão da segurança de alimentos. O livro é direcionado a todos os estudantes e/ou profissionais que se dedicam à produção de alimentos seguros e de qualidade, os quais acreditam na redu- ção e prevenção das Doenças Transmitidas por Alimentos. FILME/VÍDEO Título: Food Fight Ano: 2008 Sinopse: Food Fight é um documentário dirigido por Chris Taylor e filmado em 2008. Por meio de entrevistas com políticos e chefs, evidencia a velocidade com que a nossa forma de nos alimen- tar tem mudado ao longo das últimas décadas. O filme mostra a viagem da comida em nossas mesas e a estreita ligação entre comida e cultura no mundo, além de seu impacto ambiental sobre a saúde e o meio ambiente. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kcHGo2nfWXs https://www.youtube.com/watch?v=kcHGo2nfWXs 40UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos WEB Os sintomas mais comuns entre as toxinoses e infecções são: cólicas, diarreia e vômitos. No entanto, existem microrganismos que podem causar contaminações alimenta- res mais graves. Link do site. <https://www.youtube.com/watch?v=EGxcUKef_yA>. 41 Plano de Estudo: ● Condições estruturais das áreas externas e internas dos serviços de alimentação; ● Procedimentos de higiene ambiental e de utensílios, cuidados necessários no controle do lixo, pragas e qualidade da água dos serviços de alimentação; ● Procedimentos operacionais padronizados de serviços de alimentação e avaliação de estabelecimentos; ● APPCC - Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle. Objetivos da Aprendizagem ● Conhecer os requisitos estabelecidos na legislação aplicáveis às condições das áreas externas e internas dos serviços de alimentação; ● Compreender o procedimento correto de higienização de uma cozinha, de seus utensílios, equipamentos e suaperiodicidade; ● Avaliar se um serviço de alimentação realiza os procedimentos operacionais necessários e se apresenta adequação com a legislação de boas práticas. UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 42UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição INTRODUÇÃO A qualidade na produção de refeições depende de mão de obra qualificada e treinada, mas depende também de um bom espaço físico para executá-la. Um adequado planejamento físico, com fluxo de produção e ambiente agradável permitem que o trabalho de todas as pessoas envolvidas na produção das refeições aconteça de forma coordenada e organizada. Um bom planejamento da estrutura física e funcional de um serviço de alimentação pode contribuir para a obtenção de diversos benefícios, entre eles a aplicação de um fluxo inteligente de manejo com o alimento, a divisão de áreas de produção, estruturas seguras e adequadas para a obtenção de um alimento seguro com aplicação das boas práticas, o melhor planejamento do cardápio, aumento da produção, ambiente confortável e ergonô- mico para os colaboradores, diminuição de ociosidade dos colaboradores, prevenção da contaminação cruzada, entre outros benefícios. Durante o processo de produção dos alimentos acontece o acúmulo de restos de alimentos ou mesmo de materiais indesejáveis, que precisam ser removidos adequada- mente para não contaminarem outros alimentos que venham a ser manipulados no mesmo local ou superfície. O processo de higienização compreende duas etapas, a limpeza e a desinfecção, e é uma atividade essencial para qualquer serviço de alimentação. Cuidados com o lixo e o controle de pragas também auxiliam na manutenção da limpeza e diminuição de risco de contaminação do ambiente e da preparação. Para que tudo isso ocorra dentro dos padrões estabelecidos, contamos com os POPs , ou seja, os Procedimentos Operacionais Padronizados, além do APPCC , que é a análise dos pontos críticos de controle de uma UAN, ou seja, as áreas que requerem maior atenção por parte dos gestores e funcionários. É importante que o gastrônomo tenha conhecimento de fluxo operacional, conhe- ça os procedimentos necessários para a realização de uma higienização adequada do ambiente e de seus equipamentos, e através da análise dos pontos críticos de controle, possa indicar os melhores procedimentos operacionais padronizados para seu ambiente de trabalho. BONS ESTUDOS ! 43UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1. CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DAS ÁREAS EXTERNAS E INTERNAS DOS SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO A fase de planejamento, ou mesmo de adequação de um serviço de alimentação, exige uma equipe multiprofissional. O gastrônomo, por ser o profissional que vivencia os desafios diários de uma cozinha, é parte fundamental desta equipe. O planejamento ou adequação de um espaço para a produção de alimentos deve estudar e detalhar desde a localização, fluxo, áreas até a aquisição de equipamentos e organização. O planejamento físico de uma unidade de alimentação é importante tanto na questão econômica como na funcionalidade da cozinha, pois é capaz de integrar todos os fluxos da cozinha, do recebimento, pré-preparo ao armazenamento ou distribuição, evitando áreas desconexas, má utilização do espaço, áreas ociosas ou sobrepostas, falta de ventilação, iluminação e até mesmo limitação do cardápio (TEIXEIRA et al., 2004; PINHEIRO, 2012). Apesar dos avanços tecnológicos que vêm sendo incorporados aos serviços de alimentação, insumos nobres, métodos de produção diferenciados e equipamentos mais eficazes e multifunções, a maioria dos locais destinados ao preparo das refeições apresentam condições físicas inadequadas, como ruído excessivo, temperatura elevada, iluminação deficiente, arranjo físico e instalações precárias. Um adequado planejamento é capaz deminimizar essas condições sem exigir um grande gasto financeiro (COLARES; FREITAS, 2007). 44UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição De acordo com Pinheiro (2012), um planejamento físico adequado é capaz de melhorar: ● Para os funcionários: conforto, bem-estar, satisfação, ergonomia e segurança no trabalho. ● Para os clientes: melhores produtos e serviços, um ambiente saudável, acon chegante e confortável. ● Para o processo produtivo: fluxo de trabalho mais racional, menor tempo de produção, diminuição de custo com recursos materiais e humanos, aumento dos níveis de eficiência administrativa e operacional. ● Para o espaço físico: flexibilidade na disposição dos equipamentos, móveis e áreas físicas, além da possibilidade de ampliação dessas áreas e aproveitamento do espaço da melhor maneira possível. ● Para a empresa: integração do processo com reflexo no aumento de produtividade, qualidade e diminuição de desperdício e aumento da lucratividade, Muitos benefícios de um planejamento físico adequado são desconhecidos ou ne- gligenciados, por isso é importante que o gastrônomo conheça as adequações necessárias e seus benefícios. Muitas vezes não há necessidade de grandes mudanças estruturais para usufruir de benefícios de um adequado espaço de produção. A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto à edificação: A edificação e as instalações devem ser projetadas de forma a possibilitar um fluxo ordenado e sem cruzamentos em todas as etapas da preparação de alimentos e a facilitar as operações de manutenção, limpeza e, quando for o caso, desinfecção. O acesso às instalações deve ser controlado e indepen- dente, não comum a outros usos (Referente ao item 4.1.1). O dimensionamento da edificação e das instalações deve ser compatível com todas as operações. Deve existir separação entre as diferentes atividades por meios físicos ou por outros meios eficazes de forma a evitar a contaminação cruzada (Referente ao item 4.1.2). A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto às instalações: As instalações devem ser abastecidas de água corrente e dispor de cone- xões com rede de esgoto ou fossa séptica. Quando presentes, os ralos de- vem ser sifonados e as grelhas devem possuir dispositivo que permitam seu fechamento (Referente ao item 4.1.5). As caixas de gordura e de esgoto devem possuir dimensão compatível ao volume de resíduos, devendo estar localizadas fora da área de preparação e armazenamento de alimentos e apresentar adequado estado de conservação e funcionamento (Referente ao item 4.1.6). As áreas internas e externas do estabelecimento devem estar livres de obje- tos em desuso ou estranhos ao ambiente, não sendo permitida a presença de animais (Referente ao item 4.1.7) (BRASIL, 2004, p. 6). 45UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1.1 Condições estruturais Um bom planejamento físico segue critérios de boas práticas que indicam como devem ser as condições estruturais das áreas externas e internas dos serviços de alimen- tação. A seguir encontraremos as principais características estruturais, começando pela localização do estabelecimento. 1.1.1 Localização A localização do serviço de alimentação, sempre que possível, deve ser em pa- vimento térreo, o que proporciona fácil acesso externo para o recebimento de insumos e remoção do lixo, além de facilitar a iluminação e circulação de ar do estabelecimento. O estabelecimento deve ficar afastado de empresas que desenvolvam atividades que possam contaminar os alimentos manipulados e não pode ficar próximo de locais em que são criados animais, ou mesmo, não devem ser mantidos animais, domésticos ou não, nas áreas externas do estabelecimento (OLIVEIRA; SILVA, 2016). É importante que o acesso ao serviço de alimentação seja realizado de forma direta e independente, não
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