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Segurança Alimentar e Bases da Técnica Dietética Professora Me. Flavia Helena Franco de Moura EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof Ms. Diretor de Ensino Prof Ms. Diretor Financeiro Prof Diretor Administrativo Secretário Acadêmico Prof Coordenação Adjunta de Ensino Prof a Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof Coordenação Adjunta de Extensão Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Web Designer Revisão Textual e Diagramação UNIFATECIE Unidade 1 UNIFATECIE Unidade 2 ( UNIFATECIE Unidade 3 UNIFATECIE Unidade 4 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock 20 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 20 Os autores Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof Sbardeloto Tatiane Viturino de Oliveira André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M929s Moura, Flávia Helena Franco de Segurança alimentar e bases da técnica dietética / Flávia Helena Franco de Moura. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 218 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-65-6 1. Segurança alimentar. 2. Alimentos – Manuseio – Medidas de segurança. 3. Alimentos – Microbiologia. 4. Dietética. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 664.07 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORA Professora Me. Flavia Helena Franco de Moura ● Mestranda em Ciência, Tecnologia e Segurança Alimentar (UniCesumar). ● MBA em Gastronomia (UniCesumar) ● Tecnóloga em Gastronomia (UniCesumar) ● Farmaceutica-bioquímica (UEM) ● Docente de Gastronomia - UniCesumar. ● Docente de Gastronomia - UniFatecie ● Docente de Farmácia - UniFatecie ● Professora conteudista de Pós Graduação EAD - VG Educacional Ampla experiência como docente em diversas áreas da gastronomia, produtora de conteúdos para pós graduação EAD, com diversas pesquisas na área de segurança alimentar e a saúde. CV: http://lattes.cnpq.br/4202699722257454 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre a importância da produção de alimentos seguros, preservando a saúde dos consumidores e dos manipuladores de alimentos. Na unidade I começaremos a nossa jornada pelo conceito das principais doenças transmitidas pelos alimentos, as principais fontes de contaminação e quais os requisitos de boas práticas necessários para produção de um alimento seguro, além dos cuidados com a saúde dos manipuladores de alimentos. Esta noção é necessária para que possamos trabalhar a segunda unidade do livro, onde trataremos dos procedimentos operacionais padronizados e os cuidados com a estrutura das UANs. Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a os cuidados com a estrutura física de uma cozinha industrial e os procedimentos padronizados de higiene e de produção. Para isso, vamos detalhar cada uma das etapas de produção de alimentos seguros desde a escolha dos insumos até a embalagem e rotulagem, além de analisarmos os perigos químicos, físicos e biológicos que podem contaminar os alimentos e a Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle. Depois, na unidade III tratar especificamente dos requisitos de Boas Práticas desde a escolha dos insumos, preparo, armazenamento, transporte, embalagem e rotulagem.. Na unidade IV, vamos apresentar a introdução à técnica dietética, com informações fundamen- tais sobre as mudanças ou transformações químicas, físicas e sensoriais pelas quais os alimentos passam durante o pré-preparo e o preparo, permitindo assim um aproveitando mais efetivo tanto em termos de rendimentos como no sentido de melhor utilizar os nutrien- tes existem em cada alimento. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ......................................................................................................3 Noções de Microbiologia de Alimentos UNIDADE II ................................................................................................... 41 Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição UNIDADE III .................................................................................................. 89 Boas Práticas na Fabricação de Alimentos UNIDADE IV ................................................................................................ 135 Introdução à Técnica Dietética 3 Plano de Estudo: ● Microbiología de alimentos, doenças transmitidas por alimentos e sua classificação; ● Doenças transmitidas por alimentos, intoxicações e toxinfecções alimentares; ● Fatores que influenciam a multiplicação dos microrganismos e suas fontes de contaminação; ● Requisitos de boas práticas aplicáveis aos manipuladores de alimentos e saúde do manipulador. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as doenças transmitidas por alimentos e suas principais causas; ● Conhecer os perigos químicos, físicos e biológicos, que podem contaminar os alimentos e causar doenças transmitidas por alimentos; ● Identificar os principais fatores que influenciam na multiplicação dos microrganismos que contaminam os alimentos e as doenças que eles causam; ● Estabelecer a importância da aplicação das normas de higiene dos manipuladores para evitar contaminações alimentares. UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 4UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos INTRODUÇÃO Alimentos seguros são aqueles que não causam dano à saúde do consumidor, mas isso não significa que o alimento esteja isento de todo tipo de contaminação. As pessoas de um modo geral, consideram que alimento seguro é aquele que apresenta risco igual a ZERO; entretanto os profissionais de saúde e manipuladores de alimentos devem conside- rar que RISCO ZERO não existe. A ingestão de perigos químicos, físicos ou biológicos através dos alimentos, pode afetar gravemente a saúde humana, o que tem levado o Brasil e muitos outros países a grandes avanços na área de segurança de alimentos, demonstrando que é possível diminuir e prevenir muitas Doenças Causadas por Alimentos (DTA). A área da Segurança de Alimentos envolve fatores econômicos, culturais, ambien- tais, políticos, tecnológicos, além de muitos outros, desafiando os profissionais que atuam nesse setor. O desenvolvimento de novos produtos alimentares exige um incontável número de tecnologias das mais variadas áreas, mas mesmo como todo essa tecnologia muitas indústrias e Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) tem sido envolvidas em surtos alimentares, demonstrando que apesar de toda a tecnologia e controles severos as conta- minações patogênicas podem ocorrer na linha de produção. Nosso objetivo é abordar as principais doenças que podem ser transmitidas por alimentos, suas fontes de contaminação e seus agentes etiológicos, bem como as formas de controle da multiplicação de microrganismos nos alimentos. Além disso, entender como as boas práticas quanto a higiene pessoal dos manipuladores de alimentos, bem como a adoção de atitudes higiênicas em todo processo de manipulação de alimentos, podem controlaro risco de contaminação alimentar. BONS ESTUDOS ! 5UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1. MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS, DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E SUA CLASSIFICAÇÃO Alimentos seguros e saudáveis são extremamente importantes para a manutenção da saúde e bem-estar da população. Com o processo de industrialização e a consequente inserção das mulheres no mercado de trabalho, a dinâmica da alimentação sofreu grandes mudanças. Uma das principais mudanças foi o hábito de se alimentar fora de casa, que causou um aumento no número de bares, restaurantes e padarias, que precisaram se adequar para produzir um alimento seguro para o consumidor. Um dos principais objetivos de uma Unidade de Alimentação e Nutrição é produzir um alimento seguro, que não ofereça risco à saúde do consumidor, e para que isso seja possível é imprescindível conhecer quais os principais agentes causadores de doenças transmitidas por alimentos e como os alimentos são contaminados por eles. O gastrólogo é um profissional que trabalha diretamente com a produção de ali- mentos e está exposto a vários agentes de contaminação, é essencial que você, aluno, compreenda como identificar os perigos químicos, físicos e biológicos que colocam os ali- mentos em risco, bem como as manipulações adequadas para garantir um alimento seguro. Os alimentos podem ser contaminados em diferentes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável, e o manipulador de alimentos deve conhecer os contaminantes microbiológicos para saber como evitá-los. 6UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos A contaminação dos alimentos ocorre devido à presença de microrganismos (bactérias, fungos, vírus, parasitas). Qualquer material, objeto, substância, microrganismo ou elemento presente em um alimento, e que não faça parte de sua composição, pode ser considerado um contaminante alimentar. Nos mais diferentes serviços de alimentação, garantir qualidade e segurança alimentar ao alimento é uma tarefa difícil. Vamos conhecer quais são as medidas de segurança para que tenhamos um alimento seguro e manipuladores de alimentos saudáveis. A crescente industrialização está provocando diversas mudanças no setor alimentí- cio, tanto na produção quanto na comercialização. Até meados dos anos noventa, o conceito de segurança alimentar estava relacionado com a disponibilidade e acesso aos alimentos. O conceito de segurança alimentar, como conhecemos hoje, surgiu após alguns surtos alimentares ocorridos no final da década de noventa, quando alguns contaminantes químicos e bactérias foram encontrados nos mais diversos alimentos. A partir destes acontecimentos, aumentou a preocupação com a qualidade sanitária dos alimentos (SILVA; AMARAL, 2004). Segurança alimentar, higiene, qualidade e confiabilidade dos produtos passaram a ser itens primordiais para o consumidor. Atualmente, o consumidor está preocupado em saber de onde vem o alimento consumido e como ele é produzido, e os anseios deste novo consumidor devem ser levados em consideração pelos produtores de alimentos. “Mais do que nunca, compreender o consumidor é reconhecida como uma necessidade vital não apenas para as empresas, mas para toda a organização que se assuma como orientada para o mercado” (VIEIRA, 2004, p. 3). O controle sanitário dos alimentos é feito através de um conjunto de normas e técni- cas utilizadas para verificar se os produtos alimentícios estão sendo produzidos, manipulados e distribuídos de acordo com as Boas Práticas (BP), sendo que no Brasil esse conjunto de normas técnicas é elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Quan- do este conjunto de normas e técnicas não é aplicado, microrganismos patogênicos podem causar doenças, como infecções e intoxicações de origem alimentar (HOFFMANN, 2001). Os perigos microbiológicos são as principais causas de contaminação dos alimen- tos e os manipuladores são os grandes responsáveis por esta contaminação (SOUZA, 2006). Mas afinal, alunos, quais são esses perigos? A International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) definiu o conceito de perigo como qualquer contaminação por substância ou crescimento de bactéria, toxinas e enzimas em alimentos, que possa afetar sua qualidade (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 7UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Os três principais perigos que podem contaminar os alimentos são: perigos mi- crobiológicos (micróbios e parasitas), perigos físicos (objetos físicos) e perigos químicos (substâncias tóxicas). FIGURA 1: OS TRÊS PRINCIPAIS PERIGOS QUE PODEM CONTAMINAR OS ALIMENTOS Fonte: ANVISA (2004, p. 7) Os perigos físicos são qualquer objeto físico que possa colocar em risco a saúde do consumidor, a exemplo de: pedras, plástico, metal, parafuso ou parte de algum equipa- mento, madeira, fragmento de vidro (PEREIRA et al., 2013). Os principais fatores de risco são: 1 - Deficiências ao nível das infra-estruturas das instalações. 2 - Presença de objetos estranhos à atividade nas instalações. 3 - Instalações/ veículos/ equipamentos/ utensílios em mau estado de limpeza e/ou conservação. Os perigos químicos podem estar naturalmente presente nos alimentos, como as micotoxinas, histamina, toxinas das plantas, algas ou moluscos, espécies de cogumelos tóxicos, ou serem introduzidos por engano ou excesso no processamento dos alimentos, como pesticidas, produtos químicos para lubrificação, agentes de limpeza, alguns metais pesados, medicamentos veterinários, nitritos, tintas e revestimentos, entre outros (AFON- SO, 2008, p. 28). 8UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Os principais fatores de risco são: 1 - Instalações mal projetadas que favorecem a permanência de resíduos químicos (exemplo: superfícies que não permitem o enxaguamento e drenagem de detergen- tes). 2 - Deficiência na manutenção dos equipamentos. 3 - Práticas que favoreçam a contaminação cruzada (exemplo: armazenamento de detergentes e produtos alimentares no mesmo local e sem separação física). 4 - Equipamento, agentes e/ou procedimentos de limpeza inadequados. 5 - Não cumprimento dos procedimentos de limpeza e desinfecção definidos no Plano de Higienização. Os perigos biológicos e microbiológicos incluem bactérias, fungos, vírus, para- sitas e toxinas microbianas (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Agora, vamos conhecer cada um dos perigos biológicos mais conhecidos. Os principais fatores de risco são: 1 - Cuidados de higiene pessoal insuficientes. 2 - Cuidados insuficientes de higiene na manipulação dos produtos. 3 - Binómio tempo/temperatura inadequado à conservação do produto. 4 - Condições de umidade propícias ao desenvolvimento microbiológico. 5 - Práticas que favoreçam as contaminações cruzadas (exemplo: armazenamento de produtos crus e cozidos sem separação física entre ambos). 6 - Higienização de instalações, equipamentos e utensílios inadequados. 7 - Controle de pragas inadequado. 1.1. Bactérias As bactérias encontram-se no meio ambiente, e assim, podem estar presentes nas principais matérias-primas vegetais ou animais, utilizadas na produção de alimentos, ou ainda nos manipuladores de alimentos. As bactérias preferem alimentos ricos em água e proteínas, como carne, aves, peixes, moluscos, ovos, leite, queijo , etc (SILVA JR., 2014). As bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos surtos e casos de doenças transmitidas por alimentos (DTA). Bactérias são seres vivos não visíveis a olho nu, que em condições adequadas, se multiplicam rapidamente nos alimentos (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 9UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1.2. Vírus Os vírus podem ser veiculados através dos alimentos, água ou outras fontes. Eles necessitam de uma célula viva para se reproduzirem, por isso não se multiplicam em ali- mentos; mas utilizam osalimentos como meio para alcançar seu hospedeiro. Segundo Franco e Landgraf (2008), os principais vírus presentes em alimentos que podem estar associados à ocorrência de doenças, como gastroenterites, são: ● Vírus da hepatite A. ● Os vírus (tipo) Norwalk. ● O rotavírus. ● Os astrovírus. ● Os calicivírus. ● Os adenovírus entéricos. 1.3. Parasitas A maioria dos parasitas tem animais hospedeiros específicos e podem incluir o homem no seu ciclo de vida. Eles utilizam o hospedeiro para sua sobrevivência (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). FIGURA 2: CICLO DE CONTAMINAÇÃO DE UM PARASITA Os parasitas causadores de giardíase, toxoplasmose, teníase, ascaridíase (lombriga) etc., vivem em hospedeiros Como suínos, bovinos etc. Ao consumir frutas, carnes mal passadas, hortaliças e água, que possam estar contaminadas, a pessoa pode ser infectada. A pessoa infectada pode contaminar outras pessoas, animais ou alimentos Através das suas fezes contaminadas (falta de higiene), dando início a um novo ciclo de contaminação. Fonte: A autora. 10UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 1.4. Fungos Os fungos são divididos em bolores e leveduras, e se multiplicam em alimentos mais secos, que tenham quantidades maiores de açúcar, como frutas e doces em geral. Segundo Silva Jr. (2014), quando colocados em alimentos ou bebidas, eles transformam e modificam sua função sem causar doença, sendo utilizados na produção pão, queijos, vinho, saquê, cerveja, entre outros. Entretanto, alguns fungos podem produzir substâncias tóxicas (micotoxinas), que são prejudiciais ao homem e aos animais. Estas substâncias já são consideradas perigos químicos devido a sua natureza química (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). Agora que você já conhece os principais contaminantes dos alimentos, vamos conhecer as principais Doenças Transmitidas pelos Alimentos. 11UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 2. DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA), INFECÇÕES E TOXINFECÇÕES ALIMENTARES As Doenças Transmitidas por Alimentos podem ser causadas por “fatores de natureza química, física e biológica, que em quantidades suficientes e com capacidade para se manterem no curso da cadeia alimentar podem causar agravo à saúde” (BRASIL, 2010, p. 99). Alimentos contaminados não têm uma aparência definida, podendo apresentar odor e sabor normais e, como o consumidor não está devidamente esclarecido ou mesmo consciente dos perigos envolvidos, não consegue identificar um alimento contaminado somente pelas suas características físicas ou organolépticas (FORSYTHE, 2000). De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (ABERC, 2013), as doenças transmitidas pelos alimentos podem ser classificadas como: ● Intoxicação ou toxinose: ingestão de toxinas bacterianas pré-formadas nos alimentos, decorrente da multiplicação microbiana com produção de toxina no alimento. Exemplo de algumas bactérias toxinogênicas: Staphylococcus aureus. Clostridium botulinum. Bacillus cereus emético. 12UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Infecção: ingestão de microrganismos patogênicos que se multiplicam no trato gas- trointestinal, produzindo agressão ao epitélio. Exemplo de alguns microrganismos infectantes: Bacillus cereus clássico. Clostridium perfringens. Salmonella sp. Escherichia coli patogênica. ● Toxinfecção: ingestão de alimentos contaminados de microrganismos patogê- nicos que se multiplicam no trato gastrointestinal, e liberam toxinas. Exemplo de microrga- nismos infectantes: Vibrio cholerae 2.1 Dose infectante A dose infectante consiste no número de microrganismos capaz de desencadear uma doença. O nível da dose infectante mínima é muito difícil de determinar, pois varia muito de pessoa para pessoa, dependendo das condições fisiológicas de cada indivíduo como: imunidade, estado nutricional, nível de estresse, flora intestinal e grau de acidez gástrica. Ainda existem os grupos especiais de risco, que são as crianças, os idosos, as gestantes e os imunodeprimidos, que podem adoecer com uma dose infectante menor do que o necessário para causar doença em um adulto saudável (BAPTISTA; VENÂNCIO, 2003). 2.2 Características dos principais agentes causadores de DTA Staphylococcus aureus: ● Proveniente do nariz, região orofaríngea e mãos de manipuladores de alimentos. ● Período de incubação (aparecimento dos primeiros sintomas após o consumo): 1 a 6 horas. ● Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, dores musculares, raras diarreias, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados por manipulado res, que apresentaram condições adequadas para a proliferação destes micror ganismos (ABERC, 2013). Bacillus cereus emético: ● Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. ● Período de incubação: 1 a 6 horas. ● Sintomas: vômitos, cólicas, mal-estar, raras diarreias, sem febre. 13UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, como arroz, carnes, verduras, pudins etc., armazenados em condições inadequadas de temperatura por algumas horas (FRANCO; LANDGRAF, 2008; SILVA JR., 2014). Clostridium botulinum: ● Proveniente do solo, água, vegetais, aves e pescados. ● Período de incubação: 8 a 36 horas. ● Sintomas: visão dupla, dificuldade de falar, deglutir, respirar, mucosa da boca ressecada, insuficiência respiratória e morte. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos mantidos em anaero biose e deixados por várias horas em temperatura inadequada, como: carnes, embutidos não refrigerados, enlatados mal processados e conservas caseiras de vegetais e pescados (ABERC, 2013). Bacillus cereus clássico: ● Proveniente do solo, água, vegetais, grãos e farinhas. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos, armazenados em con dições inadequadas de temperatura por algumas horas (SILVA JR., 2014). Clostridium perfringens: ● Proveniente do solo, água e vegetais. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos cozidos ou refogados que man tém condições de anaerobiose, armazenados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Escherichia coli patogênica: ● Proveniente das fezes do homem ou de animais de sangue quente. ● Período de incubação: 8 a 16 horas. ● Sintomas: cólicas, diarréia, raros vômitos, sem febre. 14UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Como ocorre: através do consumo de alimentos contaminados no ambiente ou na manipulação, que foram cozidos e deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (SILVA JR., 2014). Salmonella sp (infecção): ● Proveniente de carnes, aves, produtos lácteos, frutos do mar, gema de ovo, hortaliças plantadas em locais adubados com fezes e também manipuladores que possam estar contaminados. ● Período de incubação: 12 a 72 horas. ● Sintomas: cólicas, diarreia, vômitos e febre. ● Como ocorre: através do consumo de alimentos mal cozidos, deixados por várias horas em condições inadequadas de temperatura (ABERC, 2013). Os sintomas apresentados pelo portador de DTA dependerá do agente causador en- volvido e pode variar de um leve desconforto intestinal até quadros mais sérios, podendo oca- sionar desidratação grave, diarreia sanguinolenta e insuficiência renal aguda (BRASIL, 2016). O quadro a seguir apresenta alguns exemplos de perigos que têm classificação de risco alta, ou seja, que podem causar efeitos graves para a saúde, obrigando ao interna- mento para reverter a situação, podendo, inclusivamente, provocar amorte. QUADRO 1: PERIGOS COM CLASSIFICAÇÃO ALTA Classificação Exemplos Alta Biológico: toxina do Clostridium botulinum, Salmonella Typhi,, Shigella dysenteriae, Vibrio cholerae O1, Vibrio vulnificus, Brucella melitensis, Clostridium perfringens tipo C, vírus da hepatite A e E,, Escherichia coli, Trichi- nella spiralis,Taenia solium (em alguns casos). Químico: contaminação direta de alimentos por substân- cias químicas proibidas ou determinados metais, como mercúrio, ou aditivos químicos que podem causar uma intoxicação grave em número elevado ou que podem causar danos a grupos de consumidores mais sensíveis. Físico: objectos estranhos e fragmentos não desejados que podem causar lesão ou dano ao consumidor, como pedras, vidros, agulhas, metais e objetos cortantes e perfurantes, constituindo um risco à vida do consumidor. FONTE: Baptista e Venâncio (2003, p. 17) 15UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos O Ministério da Saúde define surtos causados por doenças transmitidas por alimen- tos como “episódios em que duas ou mais pessoas apresentam os mesmos sinais/sintomas após ingerir alimentos e/ou água da mesma origem” (BRASIL, 2016, p. 5). No Brasil, desde 1999 faz-se controle e vigilância dos surtos, e é importante fazer a notificação quando há casos de doenças transmitidas por alimentos. Essa notificação permite a investigação do estabelecimento e/ou produto causador do surto e a elaboração de estatísticas, tornando possível o conhecimento do perfil epidemiológico dos surtos cau- sados por DTA no Brasil. Segundo estatísticas, no ano de 2018 o Brasil apresentou 503 surtos com 6803 pessoas doentes,731 hospitalizados e 9 óbitos - número menor de surtos e doentes se comparados aos dados do ano anterior. Em um período histórico de 2007 a 2017, homens e mulheres na faixa etária de 20 a 49 anos foram os mais acometidos com DTA no Brasil. O principais locais de ocorrência dos surtos foram residências, restaurantes e padarias Dentre os agentes etiológicos identificados como únicos responsáveis pelos surtos confirmados laboratorialmente (80 surtos), a Escherichia coli (27,5%/22 surtos) foi o mais comum, seguida por Norovírus (25,0%/20 surtos). Dos alimentos suspeitos identificados (167 surtos), a água foi a mais incriminada (29,9% / 50 surtos), seguida pelos alimentos mistos (23,4%/39 surtos), cuja composição possui mais de um grupo alimentar. Conforme notificações de anos anteriores, as resi- dências (35,8%/179 surtos) continuaram sendo o local de ocorrência mais associado aos surtos de DTA. (BRASIL, 2018). A figura a seguir apresenta os principais alimentos envolvidos em surtos de DTA no Brasil, o que oferece uma ideia dos alimentos que são potencialmente mais perigosos, embora façam parte dessa estatística alimentos que não foram identificados pelos doentes. FIGURA 3: OS PRINCIPAIS ALIMENTOS ENVOLVIDOS EM SURTOS DE DTA NO BRASIL FONTE: Brasil (2016, p. 13) 16UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos A Australian New Zealand Food Autorithy (ANZFA, 2001) define como alimentos potencialmente perigosos aqueles que necessitam de controle de temperatura para mi- nimizar o crescimento de microrganismos que possam estar no alimento, ou prevenir a formação de toxinas no alimento. A organização ainda classifica os alimentos, segundo termos de risco para a saúde, em alto, médio e baixo. Segundo a ANZFA (2001), alimentos de risco alto são alimentos que suportam o crescimento de microrganismos patogênicos e produção de toxinas, como: ● carne; ● carne de aves; ● salsichas frescas; ● salames; ● peixes; ● ostras; ● leite; ● arroz cozido; ● lasanha; ● ovos. Para a ANZFA (2001), alimentos de médio risco são alimentos que podem conter microrganismos patogênicos, mas geralmente não suportam o seu crescimento, o que pode estar relacionado às características do próprio alimento, devido a sua natureza ou ao seu processamento, tais como: ● frutas; ● vegetais; ● sucos de laranja; ● carnes enlatadas; ● leites pasteurizados; ● produtos lácteos; ● produtos de confeitaria à base de leite. Os alimentos de baixo risco são aqueles alimentos que não suportam o crescimento microbiano e que a presença de microrganismos é improvável (ANZFA, 2001), são eles: ● cereais; ● farinhas; ● produtos de panificação; ● refrigerantes; ● produtos de confeitaria à base de açúcar; ● bebidas alcoólicas; ● óleos e gorduras. 17UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 3. FATORES QUE INFLUENCIAM A MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS E SUAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO O manipulador de alimentos precisa conhecer os principais fatores de multiplicação dos microrganismos para conseguir evitá-los e manipular os alimentos de forma segura. In- felizmente, muitos manipuladores de alimentos não apresentam conhecimento sobre esse assunto e executam as práticas de manipulação de alimentos através de conhecimentos obtidos de outros colaboradores ou em conhecimentos empíricos. Quando se adota uma prática não fundamentada, as atividades desenvolvidas pelo manipulador de alimentos podem não ser corretas. A multiplicação microbiana depende de alguns fatores relacionados aos alimentos ou não, como condições intrínsecas ou extrín- secas, que podem permitir ou favorecer o crescimento de microrganismos. O manipulador de alimento é o principal responsável pelo controle de dois principais fatores para a multiplicação dos microrganismos: o tempo de exposição dos alimentos e a temperatura, e o tempo dos tratamentos térmicos empregados em alimentos. Os microrganismos são seres vivos muito pequenos, mas que realizam todas as ati- vidades que os outros seres vivos realizam. Também necessitam de alimentos, de oxigênio, de água etc para sobreviverem. Por isso, em condições adequadas, ou seja, em ambientes ou alimentos que fornecem suas condições vitais, eles se reproduzem mais facilmente. Em condições adequadas, uma célula (microrganismo) pode se multiplicar em duas células idênticas, cada célula, em seguida, continua a se multiplicar num crescimento expo- 18UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos nencial. Segundo Baptista e Venâncio (2003), as condições ideais, ou fatores intrínsecos e extrínsecos que favorecem o crescimento dos microrganismos são: ◊ Fatores intrínsecos – relacionados a características do próprio alimento: ● acidez; ● atividade de água do alimento; ● composição química do alimento; ● fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento; ● estrutura biológica do alimento. ◊ Fatores extrínsecos – relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra: ● umidade; ● composição gasosa do ambiente (oxigênio); ● temperatura/tempo. Alguns fatores de multiplicação podem ser controlados pelos manipuladores de alimentos, e precisamos saber mais sobre esses fatores e como controlá-los. 3. 1 Fatores intrínsecos Alguns fatores que podem favorecer ou dificultar o crescimento dos microrganis- mos, são chamados de fatores intrínsecos, e estão diretamente relacionados aos aspectos dos próprios alimentos, como o nível de acidez do alimento, composição química, fatores antimicrobianos naturalmente presentes nos alimentos e sua estrutura biológica. 3. 1. 1 Acidez A maioria dos microrganismos têm dificuldade de se reproduzir em alimentos ácidos, como conservas, sucos ácidos, molhos de tomate, refrigerantes, frutas ácidas. Geralmente, os fungos, bolores e leveduras (fermentos) multiplicam-se nesse tipo de alimento e podem estragá-lo. Já os alimentos considerados pouco ácidos (leites, carnes, pescados, aves, feijão) são os preferidos pelos microrganismos, especialmente pelas bactérias. Por isso, estragam mais rapidamente (SILVA JR., 2014). A indústria de alimentos sabe trabalhar muito bem com o efeito da acidez sobre os microrganismos, e assim consegue preservar os alimentos por mais tempo. No caso dos alimentos fermentados, osmicrorganismos responsáveis pela fermentação produzem ácidos, o que acidifica o alimento, como é o caso de leites, iogurtes, carnes e vegetais. “A indústria ainda utiliza acidulantes como ácido cítrico, láctico, acético e outros, para, com 19UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos isso, evitar o risco de deterioração ou atenuar os tratamentos térmicos, como no caso de picles, chucrute, champignon e palmitos” (HOFFMANN, 2001, p. 25). No quadro a seguir serão apresentados os alimentos considerados pouco ácidos, ácidos e muito ácidos. QUADRO 2: ALIMENTOS CONSIDERADOS POUCO ÁCIDOS, ÁCIDOS E MUITO ÁCIDOS Classe Exemplo Pouco ácidos Leite Manteiga Creme de leite Alface Milho Batata Melão Aves Pescados Carne bovina Presunto Peixes e frutos do mar Ácidos Beterraba Berinjela Figo Uva Muito ácidos Refrigerantes Azeitona Maçã Limão Laranja FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 3. 1. 2 Atividade de água do alimento Assim como todo o ser vivo, os microrganismos também necessitam de água para sobreviver e se reproduzir. As bactérias preferem alimentos com alta atividade de água para a sua multiplicação, já os fungos precisam de menos água para se multiplicarem, por isso eles têm mais afinidade por alimentos secos ou mesmo por objetos (GERMANO; GERMANO, 2011). O parâmetro que usamos para medir a disponibilidade de água de um alimento de- nomina-se atividade de água. Os microrganismos necessitam de água na forma disponível, livre, para a sua sobrevivência. A adição de sais, de açúcar e de outras substâncias podem provocar a redução do valor de atividade de água de um alimento, assim como a secagem ou desidratação, 20UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos portanto, alimentos com bastante açúcar ou sal, como doces, charque, peixes secos e os salgados não têm muita água disponível para a multiplicação dos microrganismos. Alimentos com baixa atividade de água são menos susceptíveis à deterioração, mas podem apresentar mofo na sua superfície. Quanto mais água livre tiver o alimento, mais perecível e melhor para as bactérias, principalmente (FRANCO; LANDGRAF, 2008). QUADRO 3: OS VALORES DE ATIVIDADE DE ÁGUA, CONHECIDOS DE ALGUNS Alimentos Atividade da água Leite Peixe Carne fresca Vegetais em salmoura Fruta em calda leve Alimentos perecíveis, alta quantidade de água livre. Leite condensado Queijo cheddar Linguiça fermentada Carne seca Presunto cru Bacon Alimentos de média perecibilidade Farinhas Cereais Nozes Vegetais secos Leite e ovos em pó Gelatinas Geleias Peixes salgados Chocolate Macarrão Biscoitos Alimentos pouco perecíveis, não existe mais água livre. FONTE: Adaptado de Silva Jr. (2014) 3. 1. 3 Composição química do alimento Para que a multiplicação microbiana seja possível, os microrganismos precisam se alimentar. De acordo com Jay (2005), os seguintes nutrientes devem estar disponíveis: ● água; ● fonte de energia; ● fonte de nitrogênio; ● vitaminas e sais minerais. 21UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Como fonte de energia, os microrganismos podem utilizar açúcares, álcoois e ami- noácidos. Alguns microrganismos podem utilizar carboidratos complexos transformando-os em açúcares, mas poucos microrganismos são capazes de utilizar gorduras como fonte de energia. Como fonte de nitrogênio, os microrganismos utilizam os aminoácidos (proteínas) presentes nos alimentos. Eles também necessitam de pequenas quantidades de vitaminas e minerais. As vitaminas atuam diretamente no crescimento dos microrganismos, principalmente as vitaminas do complexo B, naturalmente presentes na maioria dos alimentos (FRANCO; LANDGRAF, 2008). 3. 1. 4 Fatores antimicrobianos naturalmente presentes no alimento Os alimentos apresentam constituintes antimicrobianos que podem retardar ou mesmo impedir a multiplicação de alguns microrganismos. Alguns condimentos contém fa- tores antimicrobianos, representados por óleos essenciais constituintes desses alimentos, tais como o cravo, o alho, a canela, a mostarda e o orégano. O ovo, em especial a clara, também contém diversos agentes antimicrobianos, ou- tros alimentos como o leite bovino, frutas que contêm ácidos orgânicos e óleos essenciais também apresentam esse fator (JAY, 2005). 3. 1. 5 Estrutura biológica do alimento Alguns alimentos possuem uma cobertura natural que constitui uma excelente barreira física contra a entrada de microrganismos e posterior dano causado pela ação deles. A casca das frutas, das nozes, do ovo, por exemplo, são uma importante barreira contra os microrganismos. De modo geral, estes revestimentos têm baixa atividade de água, poucos nutrien- tes e frequentemente contêm compostos antimicrobianos. Uma vez quebrada ou rompida a película do alimento, os microrganismos têm acesso ao interior do alimento, rico em nutrientes. Um exemplo disso são as frutas ou vegetais que têm sua película lesionada, estas estão sujeitas à deterioração com maior rapidez (GERMANO; GERMANO, 2011). 3. 2 Fatores extrínsecos O ambiente onde o alimento se encontra pode auxiliar no aparecimento ou cresci- mento de microrganismos. Dentre as características do ambiente existem alguns fatores, chamados de fatores extrínsecos, que podem determinar a contaminação de um alimento. São eles: a umidade, quantidade de oxigênio do ambiente e a temperatura do ambiente. 22UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 3. 2. 1 Umidade Quando a umidade relativa do ambiente (ar) em torno do alimento é superior à atividade de água do alimento, a superfície do alimento pode ficar suscetível à ação de microrganismos. Quando a umidade relativa do ar, em torno do alimento, for menor que a sua ativi- dade de água, o alimento perderá umidade provocando o ressecamento de sua superfície, o que constitui uma barreira contra a multiplicação de microrganismos. Alimentos que sofrem deterioração por fungos e bactérias em sua superfície devem ser armazenados em condições de baixa umidade (JAY, 2005). A indústria faz uso de alguns métodos de conservação para driblar a umidade relativa e aumentar o tempo de validade dos alimentos, como a utilização de atmosfera modificada, com possibilidade de retardar o crescimento de microrganismos na superfície do alimento, sem modificar a umidade do meio. 3. 2. 2 Oxigênio A presença ou ausência de oxigênio favorece a multiplicação de alguns microrganis- mos, a composição gasosa do ambiente pode determinar quais os tipos de microrganismos crescem em alguns tipos de alimentos. QUADRO 4:CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS MICRORGANISMOS QUE DEPENDEM OU NÃO DE OXIGÊNIO PARA SE MULTIPLICAREM. Classificação Microrganismos Aeróbios = necessitam de oxigênio para se reproduzirem. Bolores e a maioria das leveduras. Anaeróbios = não necessitam de oxigênio livre para se reproduzirem. Leveduras fermentativas. Facultativos = independe da exis- tência ou não de oxigênio para se reproduzirem. Maioria dos patógenos em alimentos. Fonte: Adaptado de Germano e Germano (2011) Modificações na composição gasosa dos alimentos são capazes de causar altera- ções na microbiota que se multiplicam em determinado alimento. A indústria de alimentos utiliza alguns procedimentos para modificar a atmosfera dos produtos, utilizando embalagens impermeáveis ao oxigênio, uso de vácuo (em que se retira o oxigênio do alimento), atmosfera modificada com gases (o oxigênio é total ou parcialmente substituído por outros gases). 23UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Esses recursos são utilizados na produção de queijos, vegetais, produtos cárneos e outros, a fim de evitar também os mofos superficiais. No caso dos enlatados e conservas, o ambiente anaeróbio favorece a multiplicação de bactérias esporuladas, anaeróbias ou facultativas (HOFFMANN, 2001). 3. 2. 3 Binômio Temperatura/tempo O fator temperatura e a possibilidade da diminuição de tempode exposição do alimento são meios mais eficazes que os profissionais de cozinha podem utilizar para com- bater os microrganismos. O manipulador pode controlar a temperatura do alimento na cocção, refrigeração ou congelamento. Os microrganismos podem se desenvolver em temperaturas variadas de 2 a 70 °C, contudo já se constatou multiplicação a temperaturas extremas como -35 °C ou próximas a 100 °C (GERMANO; GERMANO, 2011). No geral, os microrganismos apresentam maior facilidade de reprodução em temperaturas ambientes, o que configura uma zona de perigo. FIGURA 4:TEMPERATURA DE MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Fonte: ANVISA (2004, p. 11) 24UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Como ilustrado na figura anterior, na temperatura acima de 60 °C os microrganismos morrem, essa temperatura é empregada na cocção de alimentos. Na zona de temperatura que fica abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, os microrganismos se reproduzem, essa geral- mente é a temperatura ambiente das cozinhas, por isso a cozinha é um ambiente ideal para a multiplicação de microrganismos. Além da temperatura, esse ambiente ainda dispõe de nutrientes, oxigênio e água. Abaixo de 10 °C os microrganismos dormem, diminuindo sua capacidade de reprodução, essas condições de temperatura são atingidas em refrigeradores e freezers. A correta cocção dos alimentos consegue inativar a maioria dos microrganismos patogênicos. O correto cozimento do alimento é aquele que o atinge por completo até o seu centro geométrico. Para assegurar que os alimentos atingiram temperaturas seguras pelo tempo estimado, é necessário conhecer a relação de tempo e temperaturas capazes de eliminar os microrganismos patogênicos não esporulados (SCHILLING, 1995). No quadro abaixo, apresentamos o tempo de vida de microrganismos patogênicos, de acordo com a temperatura a que são expostos: QUADRO 5: TEMPO DE VIDA DE MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS, DE ACORDO COM A TEMPERATURA A QUE SÃO EXPOSTOS Temperatura °C no centro geomé- trico do alimento Tempo 74 Poucos segundos (5) 70 Poucos minutos (2) 66 Alguns minutos (10) 65 Alguns minutos (15) 60 Varios minutos (30) 55 Algumas horas (4) 52 Várias horas (12) <50 Não há morte de patógenos Fonte: Adaptado de Silva Jr. (2014) Para o profissional de gastronomia, é fundamental conhecer o tempo mínimo neces- sário de exposição de um alimento ao calor para destruir os microrganismos patogênicos. Sabe-se que algumas técnicas culinárias aplicam temperaturas baixas por algumas horas, e outras não permitem o cozimento até o centro geométrico do alimento ou não trabalham com temperaturas altas. Essas preparações que utilizam técnicas diferenciadas podem representar um ponto crítico para o serviço de alimentação. 25UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos É necessário saber identificar essas técnicas e aplicar os demais métodosde segu- rança alimentar. Os outros fatores extrínsecos e intrínsecos também exercem fundamental importância na multiplicação dos microrganismos. Os microrganismos se reproduzem com muita facilidade se encontram condições ideais, principalmente de tempo e temperatura. Alimentos expostos na faixa de temperatura que constitui a zona de perigo, abaixo de 60 °C e acima de 10 °C, necessitam de apenas poucas horas para serem contaminados. As temperaturas baixas também podem ser utilizadas para a manutenção dos alimentos, sem ocorrer multiplicação rápida dos microrganismos. Na refrigeração ou no congelamento, alguns patógenos podem morrer, mas nem todos são eliminados. As tempe- raturas baixas são as mais indicadas para armazenar alimentos, sendo considerado, ainda hoje, o ideal de 4 °C para a maioria dos alimentos. É bem provável que, futuramente, o congelamento seja o recurso mais utilizado (-18 °C). Um dos grandes problemas, quando se utiliza alimentos ou matérias-primas cruas congeladas, é o descongelamento (SILVA JR, 2014). No quadro a seguir, podemos verificar o intervalo de temperatura / tempo necessário para a multiplicação de microrganismos e/o produção de toxinas em alimentos QUADRO 6: INTERVALO DE TEMPERATURA / TEMPO NECESSÁRIO PARA A MULTIPLICAÇÃO DE MICRORGANISMOS E/O PRODUÇÃO DE TOXINAS EM ALIMENTOS Condições Potenciais de Risco Temperatura do Produto Tempo Máximo Acumulado de Exposição Crescimento e formação de toxinas de Bacilus cereus 4 - 6 °C 7 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21°C 5 dias 17 horas** 6 horas* 3 horas* Crescimento de Campylo- bacter jejuni 30 - 34 °C Acima de 34°C 48 horas 12 horas Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo A, e proteolítico B e F 10 - 21 °C Acima de 21 °C 11 horas** 2 horas* Germinação, crescimento e formação de toxinas pelo Clostridium botulinum Tipo E, e não proteolítico B e F 3.3 - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias > 2 dias 11 horas 6 horas 26UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Crescimento Clostridium perfringens 10 - 12 °C 13 - 14 °C 15-21 °C Acima de 21 °C 21 dias 1 dia 6 horas* 2 horas* Crescimento de esporos patogênicos de Escherinchia coli 7 - 10 °C 11 - 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento da Listeria monocitogenes - 04. - 5 °C 6 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 7 dias 2 dias 12 horas** 3 horas* Crescimento de espécies Salmonella 5.2 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias 6 horas 3 horas Crescimento de espécies Shigella 6.1 - 10 °C 11 -21 °C Acima de 21 °C 14 dias* 12 horas* 3 horas* Crescimento e formação de toxinas por Staphylococcus aureus 7 10 °C 11 21 °C Acima de 21 °C 14 dias 12 horas* 3 horas Fonte: Baptista e Venâncio (2003, p. 51) Segundo Silva Jr. (2014), os microrganismos chegam até os alimentos através das fontes de contaminação a seguir: ● manipulador de alimentos; ● animais de estimação; ● pragas (roedores, insetos); ● pássaros; ● solo; ● água; ● ar; ● utensílios; ● plantas; ● ambientes de manipulação. O ideal é que os microrganismos não tenham acesso aos alimentos, porém é im- possível garantir isso. Alguns métodos de conservação são bastante eficazes no auxílio ao controle do crescimento de microrganismos, conforme afirmam Franco e Landgraf (2008) e Schilling (1995): 27UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● uso de métodos mecânicos para a remoção de microrganismos (filtragem, por exemplo); ● manutenção em condições atmosféricas desfavoráveis à multiplicação microbiana; ● uso de temperaturas elevadas; ● uso de baixas temperaturas; ● remoção de água do alimento, desidratação ou secagem; ● uso de conservadores químicos; ● a aumento da acidez do alimento; ● adição de sais; ● manutenção de um ambiente limpo e adequado para a produção de alimentos; ● manutenção dos alimentos em temperatura segura; ● combinação de dois ou mais métodos, frequentemente utilizado pelas indústrias. Como pudemos ver, os manipuladores de alimentos representam uma fonte de contaminação aos alimentos. A seguir veremos quais os princípios de higiene e boas práti- cas devem ser adotados pelos manipuladores para prevenir uma contaminação alimentar. 28UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4. REQUISITOS DE BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS AOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS E SAÚDE DO MANIPULADOR Atualmente, além da preocupação com a saúde na escolha de alimentos saudáveis, os alimentos devem ser totalmente livres de agentes que possam causar doenças alimentares. O manipulador de alimentos é o profissional que produz diretamente todos os ali- mentos de um serviço de alimentação. Este profissional recebe, higieniza, prepara, distribui e armazena os alimentos. Para garantir processos executados de forma segura, o manipu- lador de alimentos deve seguir requisitos de boas práticas quanto a sua higiene pessoal, uniformização e a adoção de atitudes higiênicas. Os requisitos de boas práticas delimitam regras de higiene, saúde, uniformização eatitudes de segurança alimentar a serem seguidas pelos manipuladores de alimentos. Um manipulador de alimentos precisa conhecer os requisitos de boas práticas e os pro- cedimentos necessários para a manipulação segura de um alimento. Os requisitos de higiene e boas práticas são apresentados através de resoluções, portarias e leis. A seguir, apresentaremos parte de algumas legislações e o que elas estabelecem, acompanhadas de texto explicativo. 29UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4. 1 Saúde do Manipulador A Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997 diz que: A constatação ou suspeita de que o manipulador apresenta alguma enfermi- dade ou problema de saúde que possa resultar na transmissão de perigos aos alimentos ou mesmo que sejam portadores ou sãos, deve ser impedido de entrar em qualquer área de manipulaçã o ou operaçã o com alimentos se existir a probabilidade da contaminaçã o destes. Qualquer pessoa na situa- ção acima deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento, de sua condição de saúde. (Referente ao item 7.2). A direção tomará as medidas necessárias para que não se permita a nin- guém que se saiba ou suspeite que padece ou é vetor de uma enfermidade suscetível de transmissão aos alimentos, ou que apresentem feridas infecta- das, infecçõ es cutâneas, chagas ou diarreias, trabalhar em qualquer área de manipulaçã o de alimentos com microrganismos patógenos, até que obtenha alta médica. Toda pessoa que se encontre nestas condições deve comunicar imediatamente a direção do estabelecimento. (Referente ao item 7.3). Ninguém que apresente feridas pode manipular alimentos ou superfícies que entrem em contato com alimentos até que se determine sua reincorporação por determinação profissional. (Referente ao item 7.4) (BRASIL, 1997, p. 6). Segundo Rosa e Monteiro (2014), diante do exposto pela legislação, não podem manipular alimentos os colaboradores que apresentam: ● lesões de pele; ● lesões de mucosas e unhas; ● feridas ou cortes nas mãos e braços; ● diarreias; ● infecções pulmonares, bucais; ● resfriados fortes; ● doenças infectocontagiosas. Referente à saúde dos manipuladores de alimentos, a Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, estabelece: As pessoas que mantêm contato com alimentos devem submeter-se aos exa- mes médicos e laboratoriais que avaliem a sua condição de saúde antes do início de sua atividade e/ou periodicamente, após o início das mesmas. O exame médico e laboratorial dos manipuladores deve ser exigido também em outras ocasiões em que houver indicação, por razões clínicas ou epidemioló- gicas. (Referente ao item 7.2) (BRASIL, 1997, p. 6). Conforme a Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977, os colaboradores devem fazer exames médicos periódicos para assegurar que se encontram em condições de saúde adequadas para manipular alimentos. Os exames médicos devem ser realizados na admissão, periodicamente (anualmente), na demissão, no retorno ao trabalho e na mudan- ça de função. Estes compreendem exames laboratoriais como: hemograma, coprocultura e coproparasitológico. 30UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Ainda é importante salientar que todo o serviço de alimentação deve ter o Progra- ma de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), determinado pelo Ministério do Trabalho através da Norma regulamentadora NR-7, de 29 de dezembro de 1994. 4.1.1 Capacitação É importante que os colaboradores de alimentos recebam treinamentos periódicos, que abordem temas como: contaminantes de alimentos, doenças transmitidas por alimen- tos e boas práticas na manipulação de alimentos. A capacitação conscientiza o colaborador de sua responsabilidade para alcançar a produção de um alimento seguro. Geralmente este é um ponto negligenciado pelo serviço de alimentação, princi- palmente no que se refere a colaboradores novos, pois mesmo com a urgência para o preenchimento da vaga, um treinamento prévio fará com que o novo colaborador aplique os requisitos de boas práticas já no início das suas atividades. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: “A direção do estabelecimento deve tomar providências para que todas as pessoas que manipulem alimentos recebam instrução adequada e contínua em matéria higiênicasanitária, na manipulaçã o dos alimentos e higiene pes- soal, com vistas a adotar as precauçõ es necessárias para evitar a contami- naçã o dos alimentos. Tal capacitação deve abranger todas as partes perti- nentes deste regulamento “(Referente ao item 7.1) (BRASIL, 1997, p. 5). 4.1.2 Lavagem e antissepsia das mãos Higienizar as mãos deve ser entendida como uma tarefa das mais complexas e impor- tantes para os manipuladores de alimentos. A higiene correta das mãos dos colaboradores é fundamental para impedir que os microrganismos presentes naturalmente na pele dos manipu- ladores contaminem os alimentos, ou mesmo na prevenção de contaminação cruzada. Por isso, esta é uma etapa importante na manipulação dos alimentos e a higiene das mãos deve ser realizada com produtos apropriados, respeitando os passos necessários para a completa higiene, caso contrário, será apenas uma lavagem das mãos e não uma higienização completa. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Toda pessoa que trabalhe numa área de manipulação de alimentos deve, enquanto em serviço, lavar as mãos de maneira frequente e cuidadosa com um agente de limpeza autorizado e com água corrente potável fria ou fria e quente. Esta pessoa deve lavar as mãos antes do início dos trabalhos, imediatamente após o uso do sanitário, após a manipulação de material con- taminado e todas as vezes que for necessário. Deve lavar e desinfetar as mãos imediatamente após a manipulação de qualquer material contaminante que possa transmitir doenças. Devem ser colocados avisos que indiquem a obrigatoriedade e a forma correta de lavar as mãos. Deve ser realizado um controle adequado para garantir o cumprimento deste requisito. (Referente ao item 7.5) (BRASIL, 1997, p. 6). 31UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos Ainda segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, os locais para higienização das mãos devem estar disponíveis na áreas de produção: Instalações para lavagem das mãos nas áreas de produção: Devem ter insta- lações adequadas e convenientemente localizadas para lavagem e secagem das mãos sempre que a natureza das operações assim o exija. Nos casos em que sejam manipuladas substâncias contaminantes ou quando a natureza das tarefas requeira uma desinfecção adicional à lavagem devem estar disponíveis também instalações para desinfecção das mãos. Deve-se dispor de água fria ou fria e quente e de elementos adequados (sabonete líquido, detergente, desinfetante, entre outros) para limpeza das mãos. Deve haver também um meio higiênico adequado para secagem das mãos (BRA- SIL, 1997, p. 4). As recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, proíbem o uso de toalhas de tecido em UANs. Não é permitido o uso de toalhas de tecido . No caso de se usar toalhas de papel, deve haver um controle de qualidade higiênico-sanitária e dispositivos de distribuição e lixeiras que não necessitem de acionamento manual para essas toalhas. As instalações devem estar providas de tubulações devida- mente sifonadas que transportem as águas residuais até o local de deságue (Referente ao item 5.3.15). (BRASIL, 1997, p. 4). Conforme descreve a legislação, o produto indicado para a higienização das mãos é o sabonete líquido bactericida (antisséptico) ou sabonete líquido e solução antisséptica para finalização. Segundo Rosa e Monteiro (2014), o local para a higienização das mãos deve conter: pias exclusivas, providas de produto e papel toalha, com torneira e lixeira com acionamento não manual. De acordo com o Ministério daSaúde (BRASIL, 1998), para uma correta higieniza- ção o manipulador deve seguir alguns passos: 1. Utilizar água corrente para molhar as mãos e o antebraço até a altura dos cotovelos. 2. Esfregar a palma, o dorso das mãos e o antebraço com sabonete líquido bacte ricida, inclusive as unhas e os espaços entre os dedos, por aproximadamente 30 segundos. 3. Enxaguar bem com água corrente retirando todo o sabonete, do cotovelo para as mãos. 4. Secar com papel toalha ou outro sistema de secagem. 5. Esfregar as mãos com um pouco de produto antisséptico. 32UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos FIGURA 5: ETAPAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS Fonte: ANVISA (2004, p. 26) Neto (2005) salienta que o manipulador de alimentos deve higienizar as mãos a cada 1 hora e sempre que: ● Chegar ao trabalho ou retornar após o intervalo. ● Utilizar os sanitários. ● Tossir, espirrar ou assoar o nariz. ● Tocar nos olhos ou cabelos. ● Usar esfregões, panos e materiais de limpeza. ● Manusear lixo e outros resíduos. ● Antes de manipular alimentos. ● Antes de iniciar um novo serviço. ● Quando manipular simultaneamente alimentos crus e cozidos. ● Após pegar em dinheiro. ● Após comer. ● Após tocar em embalagens, caixas ou sapatos. ● Após recolher material que tenha caído no piso. ● Antes de tocar em utensílios higienizados. 33UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos ● Antes de tocar em alimentos não higienizados ou crus. ● Antes de tocar em alimentos prontos, cozidos ou higienizados. ● Antes e após o uso de luvas. ● Sempre que mudar de atividade. ● Sempre que as mãos estiverem sujas. 4.1.3 Hábitos higiênicos dos manipuladores Para Jucene (2013), os manipuladores de alimentos, conscientes da sua respon- sabilidade na manipulação de alimentos seguros, devem seguir regras claras de higiene pessoal e hábitos higiênicos, como: ● Banhos diários. ● Higiene bucal a cada refeição. ● Cuidados com a higiene dos cabelos. ● Manter unhas curtas, limpas e sem esmalte. ● Não utilizar barbas. ● Não utilizar nenhum tipo de adorno (brinco, colar, anel, pulseira, piercings, cílios ou unhas postiças). ● Não utilizar nenhum tipo de maquiagem. ● Não utilizar perfumes, loções, cremes. ● Não tocar em dinheiro durante a produção ou manipulação de alimentos. ● Não realizar refeições nos locais onde se manipulam alimentos. ● Não tossir, cantar, assobiar, coçar-se durante a manipulação dos alimentos. ● Não experimentar alimentos diretamente nos utensílios de preparo dos alimentos e nem nas mãos. Os manipuladores devem: a) ter asseio pessoal, manter as unhas curtas, sem esmalte ou base, não usar maquiagem e adornos, tais como anéis, brincos, dentre outros; b) usar cabelos presos e protegidos por touca, boné, rede ou outro acessório apropriado para esse fim; c) utilizar vestimenta apropriada, conservada e limpa. d) lavar cuidadosamente as mãos antes e após manipular alimentos, após qualquer interrupção da atividade, após tocar materiais contaminados, após usar o sanitário e sempre que se fizer necessário; Ainda, segundo requisitos da RDC n° 218, de 29 de julho de 2005: e) não fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar,cuspir, tos- sir, comer ou praticar outros atos que possam contaminar o alimento e ou a bebida durante o preparo; f) utilizar instrumentos e ou utensílios limpos ao realizar as operações de corte, fatiamento, dentre outras; g) adotar procedimentos que minimizem o risco de contaminação dos alimen- tos e bebidas preparados, por meio da lavagem das mãos e pelo uso de luvas descartáveis ou utensílios (Referente ao item 4.2.1). (BRASIL, 2005, p. 6). 34UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4.1.4 Itens de vestuário utilizados na manipulação de alimentos Os serviços de alimentação devem garantir que os manipuladores de alimentos utilizem, durante as atividades de manipulação, itens de vestuário que promovam a segu- rança dos alimentos. Uniforme: Jucene (2013) afirma que todos os colaboradores, inclusive os que traba- lham com expedição, embalagem, almoxarifado dos serviços de alimentação, devem utilizar: ● uniformes fornecidos pela empresa e padronizados, em quantidade suficiente para a execução das atividades; ● uniformes adequados a cada atividade; ● uniformes de coloração clara (para visualizar a sujeira); ● uniformes sem bolsos ou botões acima da cintura (para impossibilitar que algum objeto caia na comida ou que o botão fique enganchado em algum utensílio ou equipamento); ● utilizar o uniforme exclusivamente nas áreas de manipulação dos alimentos (colocá-lo na chegada ao trabalho e retirá-lo na saída); ● uniforme conservados, limpos, bem passados, sem rasgos, manchas e troca dos diariamente; ● se a empresa optar por fornecer uniformes descartáveis aos manipuladores, os uniformes devem ser descartados imediatamente após o uso. ● Pode-se adotar como uniforme ideal os seguintes itens: ● calça comprida, de cor clara; ● camiseta de cor clara; ● avental de pano opcional (sem bolsos ou botões acima da cintura) ou avental de napa para atividades molhadas; ● sapato fechado, de preferência de segurança, e botas para atividades molhadas; ● toucas descartáveis, redes ou itens que previnam a disseminação dos cabelos e que possam conter a totalidade dos cabelos do usuário, a utilização de bonés não dispensa a utilização de toucas. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Toda pessoa que trabalhe em uma área de manipulação de alimentos deve manter uma higiene pessoal esmerada e deve usar roupa protetora, sapatos adequados, touca protetora. Todos estes elementos devem ser laváveis, a menos que sejam descartáveis e mantidos limpos, de acordo com a natureza do trabalho. Durante a manipulação de matérias-primas e alimentos, devem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal (Referente ao item 7.6) (BRASIL, 1997, p. 6). 35UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos 4.1.5 Uso de equipamentos de proteção individual De acordo com Jucene (2013) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacio- nal – NR-7 (BRASIL, 1994), para preservar a integridade física dos manipuladores de alimentos e eliminar ou minimizar riscos, utilizam-se equipamentos de proteção individual, como: ● Luvas (descartáveis, térmicas, de malha de aço): luvas descartáveis podem ser utilizadas na manipulação de alimentos prontos, que tenham ou não sofrido tratamento térmico, na manipulação de alimentos crus, na preparação do salão, colocação de pratos, talheres, ou em qualquer situação que constitua um perigo para os alimentos. O uso de luvas ainda pode ser empregado na utilização de produtos químicos. O uso de luvas é facultativo e não exime o colaborador da higienização das mãos antes e após o uso das luvas. ● Luvas térmicas devem ser utilizadas no manuseio de equipamentos quentes. ● Luvas de malha de aço devem ser utilizadas no pré-preparo de produtos cárneos (corte e desossa) ou em atividades que utilizam serras fitas, o utensílio deve ser higienizado após o uso. ● Avental impermeável: tem a função de proteger o colaborador contra a ação da água em atividades de higienização ou manipulação de pescados e carnes. Não deve ser utilizado em atividades quentes. ● Avental térmico: é constituído de material isolante e utilizado para proteger os manipuladores contra a ação do calor. ● Calçado impermeável: deve ser fechado, lavável, antiderrapante, utilizado exclusivamente para a manipulação de alimentos. ● Roupas para a proteção contra o frio: são compostas por calça térmica, casaco, luvas, utilizadas por manipuladores que trabalham permanentemente em câmaras frias ou ambientes climatizados. ● Óculos de segurança: utilizados obrigatoriamente para profissionais que trabalham com manuseio de produtos químicos. ● Máscara: a utilizaçãode máscara é opcional, ela pode ser utilizada pelo colabo rador para utilização de produtos químicos ou para a segurança do alimento. É importante ressaltar a necessidade de troca da máscara durante a atividade. 36UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos SAIBA MAIS Não deixe de acompanhar a atualização da Legislação Alimentar no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). ANVISA. Cartilha sobre boas práticas para serviço de alimentação Resolução RDC n° 216/2004. 3 ed. Brasília: Anvisa, 2004, 44 p. Disponível no link: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Car- tilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc- -4071-b516-d59598701af0>. A resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - RDC Nº 12, de janeiro de 2001, dispões sobre o Regulamento Técnico dos Padrões Micro- biológicos para Alimentos e acrescenta ainda que existe a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentos, com o intuito de proteger a saúde da população e regulamenta padrões microbiológicos para alimentos. (BRASIL, 2001) Conheça mais sobre esta resolução por meio do link disponível em: <https://portal.anvisa.bov.br O caso de uma cozinheira norte-irlandesa com febre tifóide, mas sem sintomas, foi em- blemático no século 19. Disponível em: https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de- -50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ REFLITA “O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos é uma oportunidade única para aumentar a conscientização sobre os perigos dos alimentos não seguros com governos, produto- res, manipuladores e consumidores. Da fazenda ao prato, todos nós temos um papel a desempenhar para tornar a comida segura”. Fonte: Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, durante a primeira celebração do Dia Mun- dial da Segurança dos Alimentos das Nações Unidas, em 07 de junho de 2019) http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/389979/Cartilha+Boas+Pr%C3%A1ticas+para+Servi%C3%A7os+de+Alimenta%C3%A7%C3%A3o/d8671f20-2dfc-4071-b516-d59598701af0 https://portal.anvisa.bov.br https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de-50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ https://incrivel.club/inspiracion-historias/la-historia-de-una-cocinera-que-infecto-a-mas-de-50-personas-con-una-enfermedad-mortal-mientras-que-ella-misma-se-mantuvo-sana-840310/ 37UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, aprendemos que os alimentos podem ser contaminados em diferen- tes momentos da manipulação, por uma substância ou microrganismo indesejável, sendo que os principais contaminantes podem ser biológicos (bactérias, fungos, vírus, parasitas ou toxinas microbianas), físicos (qualquer objeto) ou químicos (presentes naturalmente nos alimentos, introduzidos por engano ou utilizados em excesso como pesticidas, metais pesados e medicamentos veterinários). Os perigos físicos, químicos ou biológicos presentes nos alimentos ou na água podem causar doenças transmitidas por alimentos, sendo que as bactérias patogênicas são as responsáveis pela maioria dos surtos e casos de DTA. Apesar dos microrganismos serem seres vivos muito pequenos, eles realizam todas as atividades que os outros seres vivos realizam e também necessitam de alimentos de oxi- gênio, de água etc. para sobreviver. Fatores intrínsecos (relacionados a características do próprio alimento) e extrínsecos (relacionados ao ambiente em que o alimento se encontra) determinam o crescimento desses microrganismos. Assim, vimos que a maioria dos microrganismos têm dificuldade para se reproduzir em alimentos ácidos e que as bactérias preferem alimentos com alta atividade de água, bem como os fungos precisam de menos água para se multiplicarem. Para oferecermos um alimento seguro, devemos sempre observar o binômio tempo/ temperatura além das condições de saúde, higiene, uniformização e atitudes do manipulador. Os manipuladores de alimentos devem fazer exames médicos periódicos, para as- segurar que se encontram em condições de saúde adequadas para manipular os alimentos, além de não apresentarem nenhuma lesão cutânea, diarreia ou doenças infectocontagiosas. A higiene correta das mãos dos colaboradores é fundamental para impedir que os microrganismos presentes naturalmente na pele dos manipuladores contaminem os alimen- tos, e para fazer a higienização correta é importante seguir os passos estabelecidos pela legislação alimentar. Mas apenas a higienização correta das mãos não é o suficiente - todos os hábitos de asseio pessoal são fundamentais para conseguirmos um alimento seguro. 38UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos LEITURA COMPLEMENTAR Para complementar seu conhecimento, leia: ABRANTES, T. 7 Casos de contami- nação de alimentos que deram o que falar. Rev. Exame, 2013. Disponível em: https:// exame.abril.com.br/negocios/7-casos-de-contaminacaode-alimentos-que-deram-o-que-fa- lar/>. Acesso em: 27 nov. 2017. Para complementar o seu estudo, você pode ler: CRISPIM, G. J. B.; OLIVEIRA, V. M. Principais Bactérias de Interesse Médico Encontrados em Molhos e Condimentos de Lanchonetes Tipo Fast Food. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 18, n. 3, 2014 39UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Microbiologia e Sistemas de Gestão da Segurança de Alimentos Autor: Eduardo Cesas Tondo Editora: Sulina 2014 Sinopse: .De forma clara e objetiva, este livro aborda aspectos importantes da Microbiologia e sua relação com os principais siste- mas de gestão da segurança de alimentos. O livro é direcionado a todos os estudantes e/ou profissionais que se dedicam à produção de alimentos seguros e de qualidade, os quais acreditam na redu- ção e prevenção das Doenças Transmitidas por Alimentos. FILME/VÍDEO Título: Food Fight Ano: 2008 Sinopse: Food Fight é um documentário dirigido por Chris Taylor e filmado em 2008. Por meio de entrevistas com políticos e chefs, evidencia a velocidade com que a nossa forma de nos alimen- tar tem mudado ao longo das últimas décadas. O filme mostra a viagem da comida em nossas mesas e a estreita ligação entre comida e cultura no mundo, além de seu impacto ambiental sobre a saúde e o meio ambiente. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kcHGo2nfWXs https://www.youtube.com/watch?v=kcHGo2nfWXs 40UNIDADE I Noções de Microbiologia de Alimentos WEB Os sintomas mais comuns entre as toxinoses e infecções são: cólicas, diarreia e vômitos. No entanto, existem microrganismos que podem causar contaminações alimenta- res mais graves. Link do site. <https://www.youtube.com/watch?v=EGxcUKef_yA>. 41 Plano de Estudo: ● Condições estruturais das áreas externas e internas dos serviços de alimentação; ● Procedimentos de higiene ambiental e de utensílios, cuidados necessários no controle do lixo, pragas e qualidade da água dos serviços de alimentação; ● Procedimentos operacionais padronizados de serviços de alimentação e avaliação de estabelecimentos; ● APPCC - Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle. Objetivos da Aprendizagem ● Conhecer os requisitos estabelecidos na legislação aplicáveis às condições das áreas externas e internas dos serviços de alimentação; ● Compreender o procedimento correto de higienização de uma cozinha, de seus utensílios, equipamentos e suaperiodicidade; ● Avaliar se um serviço de alimentação realiza os procedimentos operacionais necessários e se apresenta adequação com a legislação de boas práticas. UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 42UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição INTRODUÇÃO A qualidade na produção de refeições depende de mão de obra qualificada e treinada, mas depende também de um bom espaço físico para executá-la. Um adequado planejamento físico, com fluxo de produção e ambiente agradável permitem que o trabalho de todas as pessoas envolvidas na produção das refeições aconteça de forma coordenada e organizada. Um bom planejamento da estrutura física e funcional de um serviço de alimentação pode contribuir para a obtenção de diversos benefícios, entre eles a aplicação de um fluxo inteligente de manejo com o alimento, a divisão de áreas de produção, estruturas seguras e adequadas para a obtenção de um alimento seguro com aplicação das boas práticas, o melhor planejamento do cardápio, aumento da produção, ambiente confortável e ergonô- mico para os colaboradores, diminuição de ociosidade dos colaboradores, prevenção da contaminação cruzada, entre outros benefícios. Durante o processo de produção dos alimentos acontece o acúmulo de restos de alimentos ou mesmo de materiais indesejáveis, que precisam ser removidos adequada- mente para não contaminarem outros alimentos que venham a ser manipulados no mesmo local ou superfície. O processo de higienização compreende duas etapas, a limpeza e a desinfecção, e é uma atividade essencial para qualquer serviço de alimentação. Cuidados com o lixo e o controle de pragas também auxiliam na manutenção da limpeza e diminuição de risco de contaminação do ambiente e da preparação. Para que tudo isso ocorra dentro dos padrões estabelecidos, contamos com os POPs , ou seja, os Procedimentos Operacionais Padronizados, além do APPCC , que é a análise dos pontos críticos de controle de uma UAN, ou seja, as áreas que requerem maior atenção por parte dos gestores e funcionários. É importante que o gastrônomo tenha conhecimento de fluxo operacional, conhe- ça os procedimentos necessários para a realização de uma higienização adequada do ambiente e de seus equipamentos, e através da análise dos pontos críticos de controle, possa indicar os melhores procedimentos operacionais padronizados para seu ambiente de trabalho. BONS ESTUDOS ! 43UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1. CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DAS ÁREAS EXTERNAS E INTERNAS DOS SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO A fase de planejamento, ou mesmo de adequação de um serviço de alimentação, exige uma equipe multiprofissional. O gastrônomo, por ser o profissional que vivencia os desafios diários de uma cozinha, é parte fundamental desta equipe. O planejamento ou adequação de um espaço para a produção de alimentos deve estudar e detalhar desde a localização, fluxo, áreas até a aquisição de equipamentos e organização. O planejamento físico de uma unidade de alimentação é importante tanto na questão econômica como na funcionalidade da cozinha, pois é capaz de integrar todos os fluxos da cozinha, do recebimento, pré-preparo ao armazenamento ou distribuição, evitando áreas desconexas, má utilização do espaço, áreas ociosas ou sobrepostas, falta de ventilação, iluminação e até mesmo limitação do cardápio (TEIXEIRA et al., 2004; PINHEIRO, 2012). Apesar dos avanços tecnológicos que vêm sendo incorporados aos serviços de alimentação, insumos nobres, métodos de produção diferenciados e equipamentos mais eficazes e multifunções, a maioria dos locais destinados ao preparo das refeições apresentam condições físicas inadequadas, como ruído excessivo, temperatura elevada, iluminação deficiente, arranjo físico e instalações precárias. Um adequado planejamento é capaz deminimizar essas condições sem exigir um grande gasto financeiro (COLARES; FREITAS, 2007). 44UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição De acordo com Pinheiro (2012), um planejamento físico adequado é capaz de melhorar: ● Para os funcionários: conforto, bem-estar, satisfação, ergonomia e segurança no trabalho. ● Para os clientes: melhores produtos e serviços, um ambiente saudável, acon chegante e confortável. ● Para o processo produtivo: fluxo de trabalho mais racional, menor tempo de produção, diminuição de custo com recursos materiais e humanos, aumento dos níveis de eficiência administrativa e operacional. ● Para o espaço físico: flexibilidade na disposição dos equipamentos, móveis e áreas físicas, além da possibilidade de ampliação dessas áreas e aproveitamento do espaço da melhor maneira possível. ● Para a empresa: integração do processo com reflexo no aumento de produtividade, qualidade e diminuição de desperdício e aumento da lucratividade, Muitos benefícios de um planejamento físico adequado são desconhecidos ou ne- gligenciados, por isso é importante que o gastrônomo conheça as adequações necessárias e seus benefícios. Muitas vezes não há necessidade de grandes mudanças estruturais para usufruir de benefícios de um adequado espaço de produção. A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto à edificação: A edificação e as instalações devem ser projetadas de forma a possibilitar um fluxo ordenado e sem cruzamentos em todas as etapas da preparação de alimentos e a facilitar as operações de manutenção, limpeza e, quando for o caso, desinfecção. O acesso às instalações deve ser controlado e indepen- dente, não comum a outros usos (Referente ao item 4.1.1). O dimensionamento da edificação e das instalações deve ser compatível com todas as operações. Deve existir separação entre as diferentes atividades por meios físicos ou por outros meios eficazes de forma a evitar a contaminação cruzada (Referente ao item 4.1.2). A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto às instalações: As instalações devem ser abastecidas de água corrente e dispor de cone- xões com rede de esgoto ou fossa séptica. Quando presentes, os ralos de- vem ser sifonados e as grelhas devem possuir dispositivo que permitam seu fechamento (Referente ao item 4.1.5). As caixas de gordura e de esgoto devem possuir dimensão compatível ao volume de resíduos, devendo estar localizadas fora da área de preparação e armazenamento de alimentos e apresentar adequado estado de conservação e funcionamento (Referente ao item 4.1.6). As áreas internas e externas do estabelecimento devem estar livres de obje- tos em desuso ou estranhos ao ambiente, não sendo permitida a presença de animais (Referente ao item 4.1.7) (BRASIL, 2004, p. 6). 45UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1.1 Condições estruturais Um bom planejamento físico segue critérios de boas práticas que indicam como devem ser as condições estruturais das áreas externas e internas dos serviços de alimen- tação. A seguir encontraremos as principais características estruturais, começando pela localização do estabelecimento. 1.1.1 Localização A localização do serviço de alimentação, sempre que possível, deve ser em pa- vimento térreo, o que proporciona fácil acesso externo para o recebimento de insumos e remoção do lixo, além de facilitar a iluminação e circulação de ar do estabelecimento. O estabelecimento deve ficar afastado de empresas que desenvolvam atividades que possam contaminar os alimentos manipulados e não pode ficar próximo de locais em que são criados animais, ou mesmo, não devem ser mantidos animais, domésticos ou não, nas áreas externas do estabelecimento (OLIVEIRA; SILVA, 2016). É importante que o acesso ao serviço de alimentação seja realizado de forma direta e independente, nãocomuns a outros usos (habitação, por exemplo). A construção deve ser em área onde os arredores não ofereçam problemas higiênicos sanitários ao serviço, ou seja, em áreas livres de lixo, entulho, insalubridade, animais e pragas (OLIVEIRA; SILVA, 2016). 1.1.2 Acessibilidade O ideal é que o estabelecimento possua vias de acesso diferentes para evitar o cruzamento de pessoas e alimentos, os principais usos de acessos são: ● Acesso para insumos: exclusivo para este uso, que facilite o acesso ao estoque e conferência de mercadoria. ● Acesso para fornecedores, administração e visitantes: deve ser exclusivo e direto, de modo a não cruzar áreas da produção de alimento para alcançar o local. ● Acesso para colaboradores: deve ficar próximo ao vestiário, local que o colaborador acessa na entrada e saída do trabalho. ● Acesso para cliente: exclusivo para este uso, diretamente para o salão ou local de entrega da refeição. ● Saída para o lixo: pode ter uma saída independente ou acontecer em momento diferenciado, em que não haja outra atividade. 46UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1. 1.3 Ambiência A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto aos aspectos de iluminação e instalações elétricas, as quais serão discutidas mais detalhadamente no decorrer deste tópico: A iluminação da área de preparação deve proporcionar a visualização de forma que as atividades sejam realizadas sem comprometer a higiene e as características sensoriais dos alimentos. As luminárias localizadas sobre a área de preparação dos alimentos devem ser apropriadas e estar protegidas contra explosão e quedas acidentais (Referente ao item 4.1.8). As instalações elétricas devem estar embutidas ou protegidas em tubulações externas e íntegras de tal forma a permitir a higienização dos ambientes (Re- ferente ao item 4.1.9) A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, também faz recomenda- ções gerais quanto aos aspectos ventilação e os respectivos equipamentos A ventilação deve garantir a renovação do ar e a manutenção do ambiente livre de fungos, gases, fumaça, pós, partículas em suspensão, condensação de vapores, dentre outros que possam comprometer a qualidade higiênico- -sanitária do alimento. O fluxo de ar não deve incidir diretamente sobre os alimentos (Referente ao item 4.1.10). Os equipamentos e os filtros para climatização devem estar conservados. A limpeza dos componentes do sistema de climatização, a troca de filtros e a manutenção programada e periódica destes equipamentos devem ser regis- tradas e realizadas conforme legislação específica (Referente ao item 4.1.11) (BRASIL, 2004, p. 6). 1. 1. 3. 1 Iluminação Aspectos de ambiência, como iluminação, ruído, cores do ambiente e ventilação podem interferir diretamente na produção de refeições, exercendo uma forte influência na produtividade e no comportamento e saúde dos colaboradores de um serviço de alimentação. A iluminação adequada garante a limpeza das instalações, inspeção do alimento, conforto físico e mental aos colaboradores, previne acidentes e possibilita um melhor de- senvolvimento das atividades (PINHEIRO, 2012). Uma boa iluminação deve evitar ofuscamentos, sombras, cantos escuros e reflexos fortes causados por excesso de iluminação. Os estabelecimentos devem ter iluminação natural ou artificial que possibilite a realização dos trabalhos, portanto, é importante que a iluminação não ofereça aumento de temperatura ao ambiente e que a sua cor não altere a tonalidade real dos alimentos. As luminárias devem estar suspensas ou colocadas diretamente no teto, sobre a área de manipulação de alimentos, a fiação elétrica deve estar protegida e as tomadas devem ter proteção contra água. As lâmpadas devem ser resistentes ao calor excessivo e ao vapor da água, e possuir uma grade ou tela de proteção contra quebra (SILVA FILHO, 1996). 47UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição A presença de coifas e dutos pode acabar bloqueando a passagem de luz natural e gerando sombras, uma combinação correta de luminárias é capaz de reduzir o problema. Além disso, o aço inoxidável é uma superfície refletora de luz, exigindo planejamento no momento da localização das luminárias. Existem áreas de trabalho que necessitam do emprego de iluminação própria e direta, principalmente nas áreas onde são feitas a hi- gienização e o corte de alimentos, garantindo a segurança e eficiência das tarefas (SILVA FILHO, 1996). 1. 1. 3. 2 Ventilação Quanto ao aspecto da ambiência relacionado à ventilação, como já mencionado, de- pende bastante da localização do estabelecimento e das suas aberturas para ventilação. Uma adequada ventilação proporciona a renovação do ar, aumentando o conforto térmico do local, bem como exaustores e coifas também auxiliam na diminuição de temperatura da cozinha. É importante que as áreas de produção tenham seu ar renovado frequentemente, para isso a empresa não pode estar localizada perto de locais que possam contaminar o ar. No caso de ventilação artificial, esta não pode incidir diretamente sobre o alimento e o local deve possuir processos de limpeza dos equipamentos periodicamente ( BITTAR et al., 2004). 1. 1. 3. 3 Nível de ruído O nível de ruído é outro aspecto da ambiência que influencia diretamente no conforto do ambiente, pois ruído elevado pode causar sensação de cansaço excessivo e consequente diminuição da produtividade. Os equipamentos da cozinha já emitem bastante barulho, que ainda são somados ao som do exaustor ou coifa e comunicação dos colaboradores. Para amenizar um pouco o nível de ruído, os equipamentos barulhentos não podem estar localizados nos cantos das paredes, o que ajuda a propagar o som; outra ação importante é a manutenção dos equipamentos ou substituição por equipamentos mais modernos e silenciosos, também a substituição de peças defeituosas, a regulagem e uma boa lubrificação podem contribuir para redução de ruídos (BITTAR et al., 2004). 1.1. 3. 4 Cores Referente à cor, outro aspecto da ambiência, a aplicação de cores claras, permite verificar o nível de limpeza do local e não causam desconforto nos colaboradores.É im- portante que o gastrônomo esteja sempre atento a melhorias na condição da ambiência do local de trabalho. Ambiência adequada é sinônimo de maior produtividade e saúde dos colaboradores. 48UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1. 1. 4 Instalações físicas A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto às instalações físicas, as quais serão discutidas mais detalhadamente no decorrer deste tópico: As instalações físicas, como piso, parede e teto devem possuir revestimen- to liso, impermeável e lavável. Devem ser mantidos íntegros, conservados, livres de rachaduras, trincas, goteiras, vazamentos, infiltrações, bolores, des- cascamentos, dentre outros, e não devem transmitir contaminantes aos ali- mentos (Referente ao item 4.1.3). As portas e as janelas devem ser mantidas ajustadas aos batentes. As portas da área de preparação e armazenamento de alimentos devem ser dotadas de fechamento automático. As aberturas externas das áreas de armazena- mento e preparação de alimentos, inclusive o sistema de exaustão, devem ser providas de telas milimetradas para impedir o acesso de vetores e pragas urbanas. As telas devem ser removíveis para facilitar a limpeza periódica (Re- ferente ao item 4.1.4) (BRASIL, 2004, p. 6). No que diz respeito às características estruturais das paredes, piso, portas, janelas, teto, superfícies de contato com os alimentos e prateleiras de um serviço de alimentação, seguem algumas recomendações apresentadas por Manzalli (2010): O ideal é que estes itens sejam de cor clara, constituídos de material liso, lavável, im- permeável, resistentesa produtos de limpeza e sem nenhum tipo de rachaduras e aberturas. ● Paredes: devem ser revestidas de azulejo ou cerâmica até, no mínimo, 1,80 metros, as partes acima, menos expostas, podem apenas ser impermeabilizadas com tinta apropriada. ● Piso: deve ser capaz de resistir a agentes químicos, utilizados na higienização, ter textura antiderrapante e permitir o escoamento da água. O piso não pode apresentar irregularidades ou rachaduras. Superfícies irregulares dificultam o trabalho da cozinha e podem causar acidentes, além de permitir o acúmulo de resíduos. Não é permitida a forração do piso com papelão, tapetes, qualquer material que favoreça o acúmulo de sujidades. ● Portas: devem apresentar superfície lisa e proteção contra insetos no caso de portas que dão acesso à rua. O ideal é que portas que tendem a permanecer abertas sejam dotadas de dispositivo automático de fechamento ou possuam cortinas de ar, para impedir o acesso de pragas. ● Janelas: devem apresentar superfície lisa, possuir telas milimétricas, laváveis, perfeitamente ajustadas aos batentes. O sol não pode incidir diretamente sobre os alimentos. ● Tetos e forros: devem estar livres de brechas, rugosidades, excesso de umida de e mofo. O ideal é que não sejam propagadores de incêndios e que absorvam ruídos, minimizando o desconforto do excesso de barulho causados pelos equipamentos. 49UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● Bancadas ou superfícies de contato com o alimento: estas devem ser de material liso, lavável, impermeável, de preferência constituídos de aço inoxidável. ● Prateleiras: devem ser de material higienizável, sendo o aço inox o material mais indicado. O ideal é que todos os equipamentos, móveis, utensílios e edificações de um ser- viço de alimentação sejam de cor clara, material liso, lavável, impermeável, resistentes a produtos de limpeza e sem nenhum tipo de rachaduras e aberturas. Se não apresentarem estas características não servem para a utilização em serviços de alimentação, como é o caso de qualquer produto constituído de madeira. 1. 1. 5 Setorização Além das características estruturais de um serviço de alimentação, as subdivisões e setores de uma cozinha também constituem um aspecto importante do serviço. A divisão de áreas de uma cozinha depende do tipo de estabelecimento e do seu porte. Para Manzalli (2010), de modo geral, as cozinhas podem ser subdivididas nas seguintes áreas: ● recebimento; ● armazenamento à temperatura ambiente; ● armazenamento à temperatura controlada; ● preparação de hortifrutigranjeiro; ● preparação de carnes, aves e pescados; ● preparação de massas e sobremesas; ● cocção; ● higienização das louças; ● higienização das mãos; ● distribuição/refeitório; ● administração; ● descarte de embalagem; ● depósito do lixo; ● botijão de gás; ● depósito e higienização do material de limpeza; ● instalação sanitária e vestiário. 50UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Segundo Neto (2005), as áreas dos serviços de alimentação devem conter as seguintes características: ● Área do recebimento: deve ser uma área de fácil acesso, próxima à estocagem, provi- da de rampas para transporte dos insumos. O espaço deve ser suficiente para a circulação de carrinhos de transporte, para o acondicionamento dos insumos, sua inspeção, pesagem e higienização, se necessário. ● Área destinada ao armazenamento em temperatura ambiente: esta área, co- nhecida como estoque, deve conter uma porta larga e com proteção contra pragas. As prateleiras devem ser localizadas a 25 cm do piso e não podem ser encostadas nas pare- des. É necessário haver um local distinto e separado para o armazenamento de produtos de limpeza. Neste local, também não é aconselhável a presença de equipamentos que possam alterar as condições térmicas do ambiente. ● Área do pré-preparo: este setor comporta as atividades anteriores ao preparo dos alimentos, incluindo seleção, descongelamento, resfriamento, dessalgue, aplicação de tempero e higienização. Independente do número de refeições, o ideal é que este espaço seja subdividido, pelo menos, em uma área de manipulação de carnes, outra de higieni- zação de hortifrutigranjeiros e uma área de manipulação de massas e sobremesas. Estas áreas devem ter seus utensílios e equipamentos próprios, bancadas de corte, pias com balcões para higienização de alimentos e utensílios, lixeiras exclusivas com acionamento por pedal e locais para acondicionar os alimentos. Todos os equipamentos e utensílios devem ser dispostos de forma que facilite o trabalho, para evitar contaminação cruzada. Dependendo do volume de produção do local, a área de manipulação de carnes pode ser refrigerada entre 12 ºC a 18 ºC. ● Área de preparo dos alimentos: esta área deve situar-se entre as áreas de pré preparo e distribuição das preparações, a sua temperatura não pode oferecer risco aos demais alimentos (no pré-preparo). Os equipamentos necessários a esta área devem ser dispostos em fluxo linear, o ideal é que o fogão tenha acesso pelos dois lados para facilitar o trabalho. Esta área deve ser livre de refrigeradores, pois o calor excessivo compromete o funcionamento dos equipamentos. ● Área de distribuição: esta área deve ser dimensionada conforme o tipo de ser- viço, o uso de plantas nesta área é permitido, desde que longe dos alimentos. Para evitar contaminação, o ar-condicionado e ventiladores não podem incidir diretamente sobre os alimentos. 51UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● Área da administração: deve ser de fácil acesso aos administradores e o ideal é que não seja necessário passar pela produção para acessá-la, evitando a contaminação que visitantes podem trazer. ● Área destinada à higienização de utensílios: deve ser separada e isolada da área de produção. O retorno de utensílios sujos não pode oferecer risco aos que já foram higienizados e o retorno de utensílios dos comensais deve ter comunicação com a área de distribuição. A área de higienização de louças dos comensais deve ser separada da área de higienização de utensílios da cozinha ou esta atividade não pode ser realizada de forma concomitante. ● Área destinada à higienização geral: deve ser localizada longe das áreas de manipulação de alimentos, deve ser utilizada para higienização de materiais de limpeza ou outros, de acordo com a realidade da empresa. ● Área de descarte de embalagem: deve ser uma área com fácil acesso para a coleta do material, longe da cozinha e constituída de material higienizável. ● Área de depósito do lixo: esta área deve ser afastada e isolada da cozinha, deve ser fechada, constituída de material liso e lavável, deve ficar longe do chão para impedir a ação de animais. No caso de acondicionamento de lixo em contêineres, este deve ser fechado e lavado diariamente. ● Área do botijão de gás: esta área deve ser exclusiva para o armazenamento de gás, deve permitir a ventilação do ambiente e respeitar as diretrizes estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). ● Área de instalação sanitária e vestiário: estas áreas devem ser separadas por sexo e ficar longe das áreas de manipulação de alimentos. O sanitário e chuveiro devem ser independentes e conter todos os materiais necessários para a higienização correta das mãos. O vestiário deve permitir que os colaboradores acondicionem os seus pertences e vistam ou retirem os seus uniformes (NR 24). A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto às instalações sanitárias: As instalações sanitárias e os vestiários não devem se comunicar diretamente com a área de preparação e armazenamento de alimentos ou refeitórios, devendo ser mantidos organizados e em adequado estado de conservação. As portas externas devem ser dotadas de fechamento automático (Referente aoitem 4.1.12). 52UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição As instalações sanitárias devem possuir lavatórios e estar supridas de produtos destinados à higiene pessoal, tais como papel higiênico, sabonete líquido inodoro antis- séptico ou sabonete líquido inodoro e produto anti séptico e toalhas de papel não reciclado ou outro sistema higiênico e seguro para secagem das mãos. Os coletores dos resíduos devem ser dotados de tampa e acionados sem contato manual (Referente ao item 4.1.13). A mesma RDC ainda estabelece normas para os produtos a serem utilizados : Devem existir lavatórios exclusivos para a higiene das mãos na área de ma- nipulação, em posições estratégicas em relação ao fluxo de preparo dos alimentos e em número suficiente, de modo a atender toda a área de pre- paração. Os lavatórios devem possuir sabonete líquido inodoro antisséptico ou sabonete líquido inodoro e produto antisséptico, toalhas de papel não re- ciclado ou outro sistema higiênico e seguro de secagem das mãos e coletor de papel, acionado sem contato manual (Referente ao item 4.1.14) (BRASIL, 2004, p. 7). 1. 1. 6 Fluxo de trabalho É importante que as áreas da cozinha desenhem um fluxo correto para que não haja cruzamento de insumos e de áreas. Para Colares (2005), o ideal é que as áreas obedeçam a um fluxo de marcha avante, ou seja, os insumos são recebidos, armazenados ou seguem diretamente para a área de pré-preparo, depois para a área de preparo e para a distribuição ou armazenamento novamente, conforme exemplificado na figura a seguir: FIGURA 1: FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES DE PRODUÇÃO Fonte: BRASIL, 2007. 53UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Para alcançar um modelo ideal de fluxograma de produção é necessário planejar a distribuição das áreas e equipamentos através de um layout ou planta baixa. Durante a execução da planta baixa é definido o fluxograma e o posicionamento de cada setor, garan- tindo a produção de alimentos com qualidade microbiológica (MEZOMO, 2002; WALKER, 2003). A figura a seguir apresenta um modelo de layout de um restaurante: FIGURA 2: MODELO DE LAYOUT DE UM RESTAURANTE. Fonte: Adaptado de SANT’ANNA (2012). 1.1. 7 Equipamentos, móveis e utensílios A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto aos equipamentos, móveis e utensílios: Os equipamentos, móveis e utensílios que entram em contato com alimentos devem ser de materiais que não transmitam substâncias tóxicas, odores, nem sabores aos mesmos, conforme estabelecido em legislação específica. Devem ser mantidos em adequado estado de conservação e ser resistentes à corrosão e a repetidas operações de limpeza e desinfecção (Referente ao item 4.1.15). Devem ser realizadas manutenção programada e periódica dos equipamen- tos e utensílios e calibração dos instrumentos ou equipamentos de medição, mantendo registro da realização dessas operações (Referente ao item 4.1.16). As superfícies dos equipamentos, móveis e utensílios utilizados na preparação, embalagem, armazenamento, transporte, distribuição e exposição à venda dos alimentos devem ser lisas, impermeáveis, laváveis e estar isentas de rugosi- dades, frestas e outras imperfeições que possam comprometer a higienização dos mesmos e serem fontes de contaminação dos alimentos (Referente ao item 4.1.17) (BRASIL, 2004, p. 7). Além de um bom planejamento das áreas do restaurante, equipamentos e mó- veis que constituem essas áreas também necessitam ser dimensionados e seguir alguns 54UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição critérios. Segundo Jucene (2013), os critérios para equipamentos e móveis utilizados na manipulação de alimentos são: ● serem constituídos de materiais atóxicos, resistentes, com superfícies lisas, impermeáveis e laváveis; ● possuir número e dimensionamento suficientes para realizar todas as operações do estabelecimento; ● estarem adequadamente limpos, bem ajustados, com manutenção em dia, sem trincas, rachaduras ou oxidação; ● não serem dispostos diretamente sobre o chão, exceto quando o equipamento for projetado para isso; ● serem instalados em locais que facilitem a sua limpeza e passagem para manutenção; ● se emitirem chamas, os dispositivos de emissão devem estar regulados; ● se emitirem fumaça ou vapor devem possuir coifas ou chaminés que possibili tem a eliminação de gases; ● se tiverem dispositivos de drenagem, estes devem ter tubulações instaladas; ● se forem destinados a manter alimentos refrigerados ou congelados, devem ter sensor de temperatura externo; ● devem ter dispositivos que impeçam ou minimizem riscos de ocorrência de acidentes. Sobre equipamentos destinados à refrigeração e congelamento de alimentos, cabe ressaltar que devem ser monitorados diariamente para a verificação de sua temperatura. 55UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 2. PROCEDIMENTOS DE HIGIENE AMBIENTAL E DE UTENSÍLIOS, CUIDADOS NECESSÁRIOS NO CONTROLE DO LIXO E PRAGAS NOS SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO Segundo Andrade et al. (2003), a presença de superfícies e equipamentos que não foram corretamente higienizados em serviços de alimentação podem ser responsáveis por doenças transmitidas por alimentos ou por alterações em alimentos processados. Os procedimentos de higienização de um serviço de alimentação necessitam ser reali- zados com periodicidade correta, de forma organizada e de maneira que todos os colaboradores tenham consciência das etapas necessárias e da sua importância para alcançar um alimento seguro. Para ser realizada de forma correta, a higienização acontece em duas etapas: A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, faz recomendações gerais quanto à higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios: As instalações, os equipamentos, os móveis e os utensílios devem ser manti- dos em condições higiênico-sanitárias apropriadas. As operações de higieni- zação devem ser realizadas por funcionários comprovadamente capacitados e com frequência que garanta a manutenção dessas condições e minimize o risco de contaminação do alimento (Referente ao item 4.2.1). As caixas de gordura devem ser periodicamente limpas. O descarte dos resíduos deve atender ao disposto em legislação específica (Referente ao eitm 4.2.2). Os utensílios e equipamentos utilizados na higienização devem ser próprios para a atividade e estar conservados, limpos e disponíveis em número sufi- ciente e guardados em local reservado para essa finalidade. Os utensílios uti- lizados na higienização de instalações devem ser distintos daqueles usados para higienização das partes dos equipamentos e utensílios que entrem em contato com o alimento (Referente ao item 4.2.6).(BRASIL, 2004, p. 7 - 8). HIGIENIZAÇÃO = LIMPEZA + DESINFECÇÃO 56UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Os momentos em que a higienização deve acontecer são muito importantes para um serviço de alimentação, visto que esta atividade não pode ser realizada concomitante à produção de alimentos. Os momentos adequados para a realização da higienização de serviços de alimentação são: ● antes do início das atividades produtivas, como no caso das bancadas de apoio; ● após o término das atividades ou do turno, como no caso de pisos e paredes; ● equipamentos e utensílios podem ser higienizados conforme o uso ou após o término das atividades. 2. 1 Higienização de ambientes Para se tornar eficaz, a higienização ambiental precisa passar por várias etapas, conforme descrito abaixo: 1. Recolher os resíduos com o auxílio de esponjas/espátulas - é proibido varrer a seco os pisos das áreas de manipulação de alimentos. 2. Lavar com água, sabão ou detergente, esfregando bem. 3. Enxaguar cuidadosamente, retirando todos os resíduos químicos e físicos. 4. Desinfetar com solução química (deixar de molho por 15 ) ou com álcool 70%(borrifar e secar ao ar livre). Nem todos os itens que fazem parte da edificação respeitam todas as etapas descritas acima, por isso é importante que o estabelecimento possua Procedimentos Ope- racionais Padrão, os chamados POPs, que são documentos que descrevem as instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras do estabelecimento. Alguns itens do ambiente apresentam especificidades na periodicidade de limpeza e nas etapas necessárias, conforme a descrição a seguir: ● Paredes: devem ser limpas diariamente na altura das bancadas, parte que entra em contato com o alimento, e semanalmente até o teto, começando pelas partes altas, com água, detergente e escova e finalizar com solução clorada. ● Pisos e rodapés: devem ser limpos diariamente, de acordo com a necessidade, obedecendo a todas as etapas estabelecidas nos procedimentos gerais para higienização ambiental. Lembrando que é proibido varrer os pisos das áreas de manipulação, pois a higienização deve ser realizada de forma úmida. ● Janelas e portas: as maçanetas das portas devem ser desinfetadas diariamente, porém semanalmente estas exigem lavagem com água e detergente, seguidas de enxágue. 57UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● Telas: devem receber higienização mensal, com água e detergente. ● Luminárias, interruptores e tomadas: devem receber higienização mensal ou conforme a necessidade, limpar com pano ou esponja umedecidos em água e detergente, remover o detergente com pano e secar. ● Bancadas e mesas de apoio: devem ser criteriosamente limpas após cada utili zação, lavar com água e detergente, retirar o detergente, enxaguar, desinfetar, deixar secar naturalmente ou usar rodo higienizado e exclusivo para a função. A utilização de pano para secagem pode contaminar novamente a superfície. ● Ralos: devem ser lavados diariamente, com a retirada dos resíduos acumula- dos, lavagem com água e detergente e enxágue com solução clorada. ● Teto ou forro: deve ser lavado de acordo com a necessidade, utilizando água e detergente ou contratar empresa especializada (ABERC, 2013). 2.2 Higienização de utensílios Além da higiene ambiental, a higienização de utensílios e equipamentos é uma etapa imprescindível para alcançar um alimento seguro. A alta demanda dos serviços de alimentação e a sobrecarga de trabalho dos colaboradores pode fazer com que algumas etapas de higienização não sejam respeitadas, o que pode permitir que contaminantes mantenham-se ativos (LELES et al., 2005). A lavagem de utensílios e equipamentos pode reduzir, a valores ainda não satis- fatórios, parte da carga microbiana da superfície; para a remoção a valores satisfatórios o processo de desinfecção é indispensável (SREBERNICH et al., 2005). Para garantir que a higienização de utensílios e equipamentos siga todas as eta- pas necessárias, a inspeção é parte importante do processo. O responsável pelo setor ou estabelecimento deve ter conhecimento sobre todo o processo de higienização e monitorar constantemente se este está sendo realizado (SILVA JR., 2008). Para se tornar eficaz, a higienização de utensílios precisa passar por várias etapas, conforme demonstrado abaixo: 1. Recolher os resíduos ou sujidades com o auxílio de esponjas/espátulas (no caso de uso da máquina de lavar colocar os utensílios diretamente na máquina). 2. Esfregar com esponja e solução detergente, preferencialmente usando água quente. 3. Enxaguar até a remoção de todo o detergente. 4. Desinfetar com solução química, deixar de molho por 15 minutos, ou com ácool 70%, borrifar e secar ao ar livre. (no caso da máquina de lavar, a temperatura 58UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição de lavagem atinge 90ºC, dispensando a necessidade da desinfecção química). A desinfecção com solução química exige enxágue, diferente do uso do álcool, que o dispensa. 5. Secar naturalmente e guardar emborcados. 2. 3 Higienização de equipamentos Para se tornar eficaz, a higienização de equipamentos precisa passar por várias etapas, conforme descrito abaixo: 1. Desligar da tomada. 2. Desmontar o aparelho retirando suas partes removíveis, cuidando para não perdê-las. 3. Lavar com detergente e esponja. 4. Enxaguar em água corrente. 5. Fazer a desinfecção, emergindo ou borrifando solução clorada ou álcool 70%, deixando em contato por 15 minutos. 6. Enxaguar as partes que entram em contato com os alimentos. 7. Secar naturalmente. 8. Higienizar a seco as partes fixas, fios e tomadas. 9. Finalizar com um pano contendo solução clorada, montar o equipamento e cobrir. Alguns utensílios e equipamentos apresentam especificidades na periodicidade de limpeza e nas etapas necessárias, conforme a descrição a seguir: ● Higienização de refrigeradores, câmaras e freezers: limpar semanalmente, seguindo as instruções do fabricante. ● Higienização do sistema de exaustão: limpar a coifa semanalmente e os ductos internos trimestralmente, utilizando produtos certificados para a limpeza e com uso de equipamentos de proteção individual. Sugere-se limpeza especializada dos ductos, tubulações, filtros das coifas e exaustores. ● Higienização do balcão térmico: a água do balcão deve ser trocada diariamente, para isso é necessário esvaziar o balcão, lavá-lo, interna e externamente com detergente, fazer a desinfecção e completá-lo novamente com água suficiente para aquecer o alimento. ● Higienização de panos: os panos de cozinha ou de mão representam um grande foco de contaminação, na cozinha só é permitida a utilização de panos de mate- 59UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição riais descartáveis, sendo descartados após o uso. Os panos de tecido convencio- nal só podem ser usados para higiene ambiental, exclusivos para este fim e sepa- rados por área. Após a utilização, os panos devem ser esfregados com água, sa- bão e água sanitária, enxaguados em água corrente e secos em secadora ou local apropriado para este fim. Pano não deve ser utilizado como tapete (TRIGO, 2008). A limpeza de refrigeradores, câmaras e freezers, semanalmente, serve também para a conferência de validades dos produtos armazenados. Para a limpeza, os produtos devem ser colocados em ambiente refrigerado e a ordem de recolocação dos produtos deve seguir a ordem de vencimento: o primeiro que vence deve ficar na frente. 2. 4 Higienização de caixa de gordura A higienização da caixa de gordura e da caixa da água pode ser realizada pelo pró- prio estabelecimento ou por empresa especializada. Quando realizada pelo próprio serviço de alimentação é importante seguir um procedimento operacional padrão (POP), conforme exemplificado a seguir. 1. Feche o registro e retire toda a água da caixa d’água. 2. Feche a saída de água da caixa d’água. 3. Retire a sujeira. 4. Lave as paredes e o fundo da caixa d’água com água e sabão. Os utensílios, como vassoura, escova, rodo e pano devem ser de uso exclusivo. 5. Abra a saída de água e retire todo o sabão com água corrente. 6. Feche a saída de água. 7. Prepare a solução desinfetante, diluindo 1 litro de água sanitária em 5 litros de água. Esse volume é apropriado para uma caixa d’água de 1000 litros. 8. Espalhe a solução nas paredes e no fundo da caixa d’água com uma broxa ou pano. Aguarde por 30 minutos. 9. Enxágue a caixa d’água com água corrente, retirando todo o resíduo de desin- fetante. 10. Esgote toda a água acumulada. 11. Encha a caixa d’água. 60UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição FIGURA 3: FUNCIONÁRIO RESPONSÁVEL PELA HIGIENIZAÇÃO Fonte: ANVISA, 2004, p. 19. 2. 5 Periodicidade de higienização A periodicidade com que acontece a higienização é tão importante quanto a exe- cução de todas as etapas necessárias.É muito comum que a periodicidade de limpeza não seja respeitada nos serviços de alimentação. Como gastrônomo, você deve ficar atento àexecução desta atividade. O quadro a seguir apresenta o resumo da periodicidade de limpeza de algumas superfícies. QUADRO 1: RESUMO DA PERIODICIDADE DE LIMPEZA DE ALGUMAS SUPERFÍCIES. SUPERFÍCIE PERIODICIDADE Piso e ralos Diária Paredes, portas e janelas Semanal Teto ou forro Conforme a necessidade Telas Mensal Luminárias, interruptores e tomadas Mensal Maçanetas Diária Pias Diária Cadeiras e Mesas (refeitório) Diária Sanitários Diária Saboneteiras Conforme o uso Prateleiras Diária (cozinha) e semanal (armários) Bancadas para manipulação No início do dia/ Após cada atividade 61UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição SUPERFÍCIE PERIODICIDADE Chapa e fogão Diária Fritadeira Semanal/ Na troca de óleo Liquidificador, batedeira, extrator de suco Após cada uso Balança Diária / Após cada uso Coifa Semanal (área externa e partes móveis) e mensal Fonte: Disponível em: <http://www.tudodebar.com.br/wp-content/uploads/2014/10/TABELA.png>. 2. 6 Produtos desinfetantes Como a higienização acontece a partir de duas etapas – a limpeza e a desinfec- ção – produtos desinfetantes, como a solução clorada, devem ser utilizados para destruir microrganismos (ROSSONI; GAYLARDE, 2000). As soluções cloradas podem incluir cloro orgânico e hipoclorito de sódio (SCHMI- DT, 2003). Ainda fazem parte de soluções desinfetantes o quaternário de amônio e o álcool 70%. O álcool em concentração 70% demora mais tempo para evaporar, permanecendo em contato com a superfície tempo necessário para a eliminação de microrganismos. Para a solução clorada ser capaz de eliminar microrganismos, deve ser utilizada em concentração correta e permanecer tempo necessário em contato com a superfície. A maioria dos produtos destinados à higienização de cozinhas traz no rótulo a indicação de quantidade de produto para diluição em água. Segundo a ABERC (2013), a concentração recomendada é 200 partículas por milhão (ppm) ou miligrama por litro (mg/l), podendo atingir até 250 ppm, em contato com a superfície por 15 minutos. A mistura entre produtos de limpeza não é recomendável, assim como a retirada dos produtos de limpeza das suas embalagens originais. Os produtos devem trazer no rótulo suas informações de registro e diluição e serem preparados no momento do uso. Na cozinha, a presença de baldes com esponjas ou panos imersos em recipientes com água e solução higienizante pode representar uma fonte de contaminação. De acordo com a ANVISA (2007) e Jucene (2013), na escolha dos princípios ativos a serem utilizados nas atividades de higienização deve-se levar em consideração que o produto: ● seja de uso profissional e não doméstico; ● tenha registro no Ministério da Saúde e seja autorizado para uso em estabelecimentos manipuladores de alimentos; ● seja de ação rápida; ● seja atóxico; http://www.tudodebar.com.br/wp-content/uploads/2014/10/TABELA.png 62UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● não seja corrosivo; ● seja de manuseio e uso fácil; ● não emita odores; ● seja solúvel em água; ● seja poluente. 2. 7 Utensílios e produtos proibidos Para a higienização ambiental e de equipamentos, Rosa e Monteiro (2014) indicam quais utensílios ou produtos são proibidos: ● que sejam compostos de madeira; ● que possam deixar resíduo nos alimentos, como lã ou palha de aço; ● que possam arranhar panelas ou superfícies, como escovas de metal; ● que tenham cabo de madeira, como rodos e vassouras; ● que sejam corrosivos, com cheiro ou multiuso com finalidade de limpeza e ● desinfecção de bancadas, mesas e cadeiras. 2. 8 Lixo e resíduos Cuidados com o lixo, controle de pragas e cuidados com a qualidade da água também auxiliam na manutenção da limpeza e organização dos serviços de alimentação. De acordo com a ABERC (2013) os cuidados com o lixo devem seguir as orientações baixo: ● O lixo do processo produtivo deve ser acondicionado em recipientes, de fácil higienização, em sacos plásticos, tampados e sem que o colaborador toque na tampa para usá-lo. ● O lixo deve ser localizado em local estratégico, longe das bancadas de preparação. ● O local de armazenamento do lixo fora da cozinha não pode representar um ponto de atração de pragas. ● O lixo não deve sair da cozinha pelo mesmo local em que entram colaboradores ou insumos, e deve transitar o mínimo possível pela área de produção, na total impossibilidade de área específica, determinar horários para que aconteça a retirada do lixo. 63UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 2. 9 Controle de pragas Controle de pragas: o controle de pragas visa impedir ou minimizar a presença de insetos e roedores. A dedetização do local deve ser realizada por empresa autorizada e com produtos aprovados. As técnicas aplicadas na dedetização são de responsabilidade da empresa e devem garantir a segurança dos alimentos, do ambiente e dos colaboradores. ● Além da dedetização, existem outras formas de prevenir o aparecimento de insetos e roedores: ● aplicação das boas práticas de manipulação de alimentos; ● manter o local limpo e organizado; ● retirar o lixo diariamente e acondicioná-lo em local apropriado; ● manter a parte externa da empresa limpa e livre de entulhos; ● instalação de telas milimétricas em todas as aberturas do estabelecimento, janelas e portas que têm acesso direto à rua; ● instalação de batentes de borracha nas portas que têm acesso direto com a rua para impedir a entrada de roedores e insetos; ● utilização de ralos sifonados que impedem o acesso de pragas. Quando da aplicação do controle químico de dedetização, os equipamentos e os utensílios, antes de serem reutilizados, devem ser higienizados para a remoção dos resí- duos de produtos desinfetantes. 64UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 3. USOS E POTABILIDADE DA ÁGUA A água é um dos principais componentes de diversas operações em indústrias de alimentos, nesse contexto, iremos ressaltar que a água não é uma fonte de contaminação, pois é usada como veículo para aquecimento e resfriamento, assim como para limpeza e sanitização de equipamentos, dentre várias outras funções. A água ainda é usada como um ingrediente ou veículo para incorporar ingredientes a alimentos Os critérios de qualidade da água se baseiam em: aspectos físicos, químicos e mi- crobiológicos, os quais foram estabelecidos pela Portaria no 1.469 (BRASIL, 2001). Esses critérios de qualidade da água são necessários para evitar riscos à saúde do consumidor e reduzir efeitos indesejáveis nas instalações e nos processos, como corrosão, formação de depósitos ou sedimentos. As análises físicas medem e indicam características perceptíveis pelos sentidos (cor, turbidez, odor e sabor). São características subjetivas, mas que podem ser prejudiciais a diversas operações durante o processamento de alimentos (FIESP, 2005). Os aspectos químicos da água baseiam-se na dureza, acidez, pH, alcalinidade, cloretos e cloro residual. Em relação à qualidade microbiológica, a água pode atuar como veículo de microrganismos patogênicos e deteriorantes, constituindo um risco à qualidade do alimento e à saúde do consumidor (ANDRADE; MACÊDO, 1996). A água de consumo humano é um dos importantes veículos de enfermidades diar- réicas de natureza infecciosa, causadas principalmente por microrganismos patogênicos de 65UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição origem entérica, animal ou humana, transmitidas basicamente pela rota fecal-oral. Indivíduos infectados eliminam microrganismos pelas fezes, que são ingeridos por outros indivíduos na forma de água ou alimento contaminado por água poluída com fezes (AMARAL, 2003). A utilização de água de abastecimento de boa qualidade é condição essencial para um controle higiênico-sanitário. Assim, se a fonte de abastecimento da indústria se apre- senta contaminada por matéria fecal, orisco da introdução de microrganismos patogênicos é muito alto. Além disso, a água apresenta uma microbiota natural, composta de microrganismos não patogênicos, mas que se constituem em importantes agentes de deterioração. Conse- quentemente, os aspectos físico-químicos e sensoriais da água de abastecimento não devem ser relegados em segundo plano, pois em virtude de seu uso nas caldeiras, com a finalidade de produzir vapor, constituem-se fatores de suma importância no processo de higienização. Assim, caso a água apresente um teor excessivo de sais inorgânicos (cálcio e magnésio), poderá ocasionar grandes danos para a indústria, razão pela qual se torna necessária a sua correção, o que acarretaria custos operacionais (ENEO JUNIOR, 2007). 3. 1 Utilização da água na indústria de alimentos De acordo com o Manual de Conservação e Reuso da Água, elaborado pela FIESP (2005), estão descritos os principais usos da água nas indústrias. 1. Consumo humano: água utilizada em ambientes sanitários, vestiários, cozinhas, refeitórios, bebedouros, equipamentos de segurança (hidrante, lava-olhos,) ou em qualquer atividade doméstica com contato humano direto. 2. Matéria-prima: incorporação da água ao produto final. 3. Fluido auxiliar: preparação de suspensões, soluções químicas, reagentes químicos, veículo ou, ainda, para as operações de lavagem. 4. Geração de energia: a água pode ser utilizada por meio da transformação da energia cinética, potencial ou térmica em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica. 5. Fluido de aquecimento e/ou resfriamento: a água pode ser utilizada como fluido de transporte de calor para remoção do calor de misturas reativas ou outros dispositivos que necessitem resfriamento. Nos estabelecimentos que se limitam ao abate, as águas são utilizadas para quatro finalidades, descritas a seguir. 66UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 1. Consumo: tanto para os animais retidos nos currais quanto para os empregados, é imprescindível que a água apresente suas características de potabilidade, bem como a concentração máxima de 1 ppm de cloro residual livre. 2. Lavagem: a água para a higienização dos animais, como banho de aspersão, tanto na rampa quanto na seringa, além de ser potável, deve revelar uma con centração de 15 ppm de cloro residual livre. A água para a lavagem das meias - carcaças dos equipamentos, dos instrumentos de trabalho e dos utensílios - além de potável deve apresentar um teor de 1 ppm de cloro residual. A água que se destina à higienização das dependências pode apresentar 10 ppm de cloro residual livre. 3. Higiene pessoal: utilizada para higienização das mãos e antebraços. Durante a higienização corporal (banho), bem como nos sanitários, deve apresentar-se com características de potabilidade e o teor de 1 ppm de cloro residual livre. 4. Produção de vapor: o ponto crítico da água utilizada nas caldeiras é a sua con centração de bicarbonatos, sulfatos e cloretos (principalmente de cálcio e magnésio) que determinará o seu grau de “dureza”. A água considerada “dura” provocará incrustações prejudiciais e indesejáveis em sua tubulação, prejudican do a transmissão de calor pelo fato de agir como isolante térmico, com riscos de explosão. 3. 2 Métodos para tratamento de águas industriais Veremos agora quais os métodos para o tratamento de águas de abastecimento industrial necessários para adequar suas características sensoriais, físico-químicas e mi- crobiológicas ao padrão oficial de potabilidade, utilizando-se métodos físicos e químicos (ENEO JUNIOR, 2007). 67UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição O padrão de qualidade para uso industrial é mais severo que para o consumo doméstico. As impurezas mais frequentes encontradas nas águas de abastecimento são constituídas de material em suspensão – areia, lama, restos vegetais, resíduos suspensos de matéria orgânica ou de natureza mineral, como silicatos (ENEO JUNIOR, 2007). Processos físicos e químicos são utilizados no tratamento da água para abasteci- mento industrial. 3. 2. 1 Processos físicos No processo físico, temos a decantação e a filtração. A decantação remove cerca de 85% a 95% das substâncias sedimentáveis, reduz os sólidos em suspensão, a cor, o nitrogênio amoniacal, bactérias e outros elementos. Já a filtração é realizada sob pressão, através da passagem da água por sucessivas camadas de areia, formadas por grãos gra- dualmente menores, combinadas ou não com carvão ativado. 3. 2. 2 Processos químicos O processo químico de tratamento da água é feito através das etapas de coagula- ção, aeração, remoção da dureza, e desinfecção como descrito a seguir: ● A coagulação consiste em produzir um precipitado, comumente de hidróxido de alumínio ou de ferro, utilizando-se sulfatos, respectivamente de alumínio e de ferro. ● A aeração consiste em purificar a água por meio do ar, através de agitação ou intro- duzindo ar comprimido por tubos perfurados localizados no fundo dos tanques. O hidróxido de cálcio e o carvão ativado (atividade adsorvente) são eficazes na remoção de matéria orgânica responsável por cor, sabor e odor desagradáveis na água. ● A dureza pode ser temporária ou permanente. Na forma temporária, conhecida como dureza de bicarbonato, é removida pelo aquecimento, que transforma o bicarbonato (solúvel) em carbonato (insolúvel), precipitando-se. Na forma permanente, deve-se à presença de sulfatos e/ou cloretos de cálcio ou magnésio, em solução, e que são precipitados e removidos por intermédio do hidróxido de cálcio, do carbonato de sódio e pelo fosfato trissódico (MORGADO, 1999).. 3. 3 Utilização do cloro no tratamento da água O cloro pode ser utilizado como um tratamento de baixo custo e alta eficiência na qualidade microbiológica da água (FIGUEIREDO, 2002). 68UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição A maioria das estações de tratamento de água utiliza o cloro líquido ou gasoso por ser mais econômico. O cloro líquido é extremamente corrosivo, devendo as tubulações ser resistentes às corrosões. Veremos agora algumas definições importantes para compreensão da utilização do cloro no tratamento da água ● Dosagem de cloro: é a quantidade disponível, expressa em ppm, de cloro adicionado à água. ● Demanda de cloro: é a quantidade consumida de cloro em decorrência de sua reação com impurezas presentes na água, ou seja, é a diferença entre a dosagem de cloro e o cloro residual total. ● Cloro residual total: é a quantidade de cloro resultante entre a dosagem e a demanda. ● Cloro residual combinado: é aquele que se combina com a matéria orgânica presente na água, formando as cloraminas. ● Cloro residual livre: é aquele responsável pelo poder germicida na água. A dosagem do teor de cloro residual que permanece na água após o processo de cloração permite avaliar se a água está em condições de uso e isenta de bactérias patogênicas. Quando o cloro é adicionado à água, uma pequena quantidade, de 0,25 a 0,75 ppm, reage com as impurezas contidas. Esse cloro consumido não apresenta propriedades germicidas. Quando a deman- da de cloro adicionado é satisfeita, o que restou constitui o cloro residual total. Entre as vantagens do uso de cloro, pode-se citar: inibe a formação de limo; elimina odores; reduz a contagem de microrganismos e reduz o tempo de limpeza (ENEO JUNIOR, 2007). 3. 4 Regulamento do controle da água para consumo A água utilizada para o consumo direto ou preparo dos alimentos deve ser contro- lada independentemente das rotinas de manipulação dos alimentos. É obrigatória a exis- tência de reservatório de água, o qual deve estar isento de rachaduras e sempre tampado, devendo ser higienizado nas seguintes situações: ● quando for instalado; ● a cada seis meses; ● na ocorrência de acidentes que possam contaminar a água. Lembre-se de que ahigienização dos reservatórios deve ser utilizada seguindo as metodologias oficiais. Análises microbiológicas e físico-químicas da água devem ser realizadas anualmente. O gelo e o vapor utilizados em unidades de alimentação devem ser produzidos de acordo com Padrões de Identidade e Qualidade Vigentes. 69UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRONIZADOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO Os procedimentos operacionais padrão (POPs) podem ser definidos como pro- cedimentos escritos de forma objetiva, que estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos, devendo estar sempre disponíveis aos funcionários para consulta, com o objetivo de executar suas instruções adequadamente (BRASIL, 2002). Apesar disso, a simples implantação desses procedimentos não garante a sua exe- cução, por isso é necessário capacitar os funcionários, e fazer um constante monitoramento e avaliação dos procedimentos realizados. Antes da execução dos POPs recomenda-se verificar se o procedimento estabelecido é eficaz e garante a finalidade pretendida (LOPES, 2004). Os POPs devem conter as instruções de realização de atividades especificando o nome, o cargo e a função dos responsáveis pelas atividades, datados e assinados pelo responsável do estabelecimento. De acordo com a Resolução RDC nº 216, de 21 de outubro de 2004, os serviços de alimentação devem implementar Procedimentos Operacionais Padronizados relacionados aos seguintes itens: ● higienização de instalações, equipamentos e móveis; ● controle integrado de vetores e pragas urbanas; ● higienização do reservatório; ● higiene e saúde dos manipuladores. 70UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, determina as informações que devem constar nos POPs de diferentes atividades como higienização de instalações, móveis e equipamentos: Os POP referentes às operações de higienização de instalações, equipamen- tos e móveis devem conter as seguintes informações: natureza da superfície a ser higienizada, método de higienização, princípio ativo selecionado e sua concentração, tempo de contato dos agentes químicos e/ou físicos utilizados na operação de higienização, temperatura e outras informações que se fize- rem necessárias. Quando aplicável, os POP devem contemplar a operação de desmonte dos equipamentos (Referente ao item 4.11.5). Atividades relacionadas ao controle integrado de pragas e vetores: Os POP relacionados ao controle integrado de vetores e pragas urbanas de- vem contemplar as medidas preventivas e corretivas destinadas a impedir a atração, o abrigo, o acesso e/ou a proliferação de vetores e pragas urbanas. No caso da adoção de controle químico, o estabelecimento deve apresentar comprovante de execução de serviço fornecido pela empresa especializada contratada, contendo as informações estabelecidas em legislação sanitária específica (Referente ao item 4.11.6). A RDC 216 determina os procedimentos para higienização dos reservatórios de água: Os POP referentes à higienização do reservatório devem especificar as in- formações constantes do item 4.11.5, mesmo quando realizada por empresa terceirizada e, neste caso, deve ser apresentado o certificado de execução do serviço (Referente ao item 4.11.7). E por fim, determinada os procedimentos sobre a higiene e saúde dos manipuladores: Os POP relacionados à higiene e saúde dos manipuladores devem contem- plar as etapas, a frequência e os princípios ativos usados na lavagem e antis- sepsia das mãos dos manipuladores, assim como as medidas adotadas nos casos em que os manipuladores apresentem lesão nas mãos, sintomas de enfermidade ou suspeita de problema de saúde que possa comprometer a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos. Deve-se especificar os exames aos quais os manipuladores de alimentos são submetidos, bem como a pe- riodicidade de sua execução. O programa de capacitação dos manipuladores em higiene deve ser descrito, sendo determinada a carga horária, o conteúdo programático e a frequência de sua realização, mantendo-se em arquivo os registros da participação nominal dos funcionários (Referente ao item 4.11.8) (BRASIL, 2004, p. 13). Uma maneira de verificar se o estabelecimento está realizando as atividades corretamen- te ou se atinge as Boas Práticas de Fabricação é a utilização de uma ferramenta de avaliação. A ferramenta de verificação ou inspeção pode ser chamada de checklist de avalia- ção, que possibilita fazer uma avaliação das condições higiênico-sanitárias de um serviço de alimentação, conforme o quadro a seguir. A avaliação permite elencar itens não conformes e, a partir dos dados coletados, planejar ações corretivas para adequação dos requisitos, buscando eliminar e reduzir riscos que possam comprometer os alimentos e a saúde do consumidor (GENTA et al., 2005). 71UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4.1 Procedimento padrão de higiene operacional (PPHO) São procedimentos descritos, desenvolvidos, implantados e monitorizados, visando estabelecer a forma rotineira pela qual o estabelecimento industrial evitará a contaminação direta ou cruzada e a adulteração do produto, preservando sua qualidade e integridade por meio da higiene antes, durante e depois das operações industriais (Resolução DIPOA/DAS n. 10, de 22 de maio de 2003). Os PPHO podem ser admitidos como parte integrante da Boa Prática de Fabricação (BPF) e têm procedimentos de monitorização, ação corretiva, registros e verificação, para uniformizar as ações e minimizar os riscos associados à falta de higiene. Todas as condições de higiene operacional devem ser monitoradas por meio de análises laboratoriais e seus dados registrados, devendo-se adotar ações corretivas sem- pre que forem observados desvios, os quais deverão ser registrados (SENAI,2000). Esse conjunto de procedimentos deve gerar um manual com todas as orientações, de forma clara e bem detalhada, sobre os materiais utilizados, sobre como realizar a operação e quais os responsáveis por ela. O plano PPHO deve ser estruturado em nove pontos básicos que descreveremos a seguir: 4. 1. 1 Potabilidade da água Envolve o tratamento da água, assim como todas as condições para manter sua qualidade: lavagem das caixas d’água; análises laboratoriais (físico-química e microbio- lógica); bom estado da tubulação, entre outras. Outro aspecto fundamental diz respeito à qualidade da água para fabricação de gelo. Informações gerais: a cada seis meses, os colaboradores treinados devem realizar a lavagem da caixa d’água, a sanitização e/ou terceirizar o serviço. 4. 1. 2 Condições e higiene das superfícies de contato com os alimentos Identificar o tipo de material da superfície, o grau de corrosividade para verificar as melhores formas de higienização. Informações gerais: colaboradores treinados devem realizar lavagem com data ou período definidos em dias ou horas, sanitização conforme legislação, utilizando o produto químico mais apropriado para a superfície e enxágue. 72UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. 1. 3 Prevenção contra contaminação cruzada Consiste nos cuidados para contaminações que podem ocorrer pelo contato de produtos crus com processados, bem como pelo contato de embalagens ou utensílios e o próprio manipulador de alimentos. Informações gerais: colaboradores treinados realizam vistoria de materiais dentro da indústria, de forma diária ou periódica, registro de irregularidades e adotam medidas corretivas. 4. 1. 4 Higiene dos colaboradores Corresponde ao estudo posterior de higiene pessoal, envolvendo lavagem das mãos, uso do vestiário, hábitos de comportamento. Informações gerais: o avaliador treinado e responsávelpelo PPHO efetua vistoria das condições das mãos e unhas, de forma diária ou periódica, das condições da higiene do EPI e realiza o registro do comportamento dos colaboradores. 4. 1. 5 Proteção contra contaminantes e adulterantes do alimento Cuidados de armazenamento, formas de transporte dentro da área de produção, procedimentos de dosagens adequadas. Informações gerais: o avaliador treinado e responsável pelo PPHO realiza vistoria das condições de vedação de recipientes e transporte de substâncias. 4. 1. 6 Identificação e estocagem adequada de substâncias químicas e agentes tóxicos Respeitar locais de armazenamento adequado, tipo de toxicidade, manuseio corre- to pelo funcionário, etiquetagem clara e visível. Informações gerais: o avaliador treinado e responsável pelo PPHO realiza vistoria das condições de armazenamento e transporte de substâncias, registra as dosagens permitidas para cada ação, bem como os treinamentos de colaborador para uso de substâncias químicas. 4. 1. 7 Saúde dos colaboradores Respeitar os exames médicos periódicos, admissional, demissional. Não permitir contato direto entre funcionários com doenças infectocontagiosas e os alimentos Informações gerais: o avaliador treinado e responsável pelo PPHO registra cópia dos exames médicos. 73UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. 1. 8 Manejo integrado de pragas Envolve métodos preventivos, medidas corretivas, atenção especial à aplicação de produtos químicos. Informações gerais: plano preventivo específico para cada praga, acompanhamen- to do responsável pelo PPHO. 4. 1. 9 Edificações Qualquer unidade de alimentação deve ser construída com material durável, de fácil manutenção e limpeza. As seguintes especificações devem ser seguidas para proteger a segurança dos produtos alimentícios. Informações gerais: ● As superfícies das paredes, pisos e divisórias devem ser feitas de materiais impermeáveis. ● Os pisos devem ser construídos de modo a permitir drenagem e limpeza adequadas. ● O teto deve ser construído e revestido de forma a minimizar o acúmulo de poei- ra, a condensação e o desprendimento de partículas. ● As janelas devem ser de fácil limpeza, providas de telas contra insetos. ● Meios adequados de ventilação devem ser dispostos naturais ou mecânicos, a fim de controlar a temperatura e a umidade do ambiente. ● Deve dispor de iluminação natural ou artificial adequada para permitir a realiza- ção da operação de maneira adequada. ● Todas as instalações e as estruturas devem ser projetadas e construídas de forma a evitar, ao máximo, a contaminação cruzada dos alimentos e abrigo de pragas. 4. 2 Implantação do PPHO A implantação inclui a estruturação de manuais de operação dos diferentes setores. Tanto os procedimentos pré-operacionais, ou seja, procedimentos antes do início do pro- cessamento do alimento, quanto os operacionais devem conter as seguintes composições: 4. 2. 1 Responsabilidade técnica Esse responsável técnico deverá reunir todas as informações em um Manual do PPHO e também irá conduzir os procedimentos antes, durante e após as operações, monito- rização e avaliações rotineiras dos procedimentos e de sua eficiência, além de implementar e revisar as ações corretivas em situações de desvios e alterações tecnológicas dos processos industriais. Os registros das atividades são obrigatórios para avaliação dos resultados. 74UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição No manual do PPHO, deve constar a ficha de aplicação da higienização de super- fícies, equipamentos e utensílios para o registro das atividades, tendo a seguinte estrutura: ● frequência (antes/durante/após operação industrial); ● especificação dos princípios ativos utilizados e sua concentração; ● metodologia de aplicação; ● utensílios utilizados; ● nome do operador e responsável do setor; ● no caso de montagem e desmontagem, deve-se incluir explicação dos procedimentos. O PPHO pré-operacional abrange os procedimentos de limpeza e sanitização exe- cutados antes do início das atividades do estabelecimento. O PPHO operacional inclui a limpeza e a sanitização de equipamentos e utensílios du- rante a produção e nos intervalos entre turnos, inclusive nas paradas para descanso e almoço. 4. 2. 2 Procedimentos de monitoramentos O monitoramento dos procedimentos operacionais deve contemplar, no mínimo, a avaliação e o registro da limpeza efetiva de todas as instalações, equipamentos e utensílios que têm contato direto com os alimentos e que serão utilizados ao início da produção. Essa etapa deve ser realizada com antecedência ao início da produção, para que haja tempo para a execução das ações corretivas. Os itens verificados devem estar claramente classificados como conformes ou não conformes. Além disso, as não conformidades registradas durante a monitoria devem ser descritas detalhadamente e identificadas corretamente (por exemplo: sujeira é uma palavra genérica, portanto, deve ser detalhado o tipo de sujeira). Na planilha deve ser registrado também o horário de execução da monitoria. 4. 2. 3 Ações corretivas Quando forem detectadas não conformidades durante o monitoramento do PPHO, o estabelecimento deve adotar ações corretivas. Deve haver registro detalhado das ações corretivas tomadas pelo estabelecimento, nesses casos, e constar, preferencialmente, na mesma planilha onde são anotadas as não conformidades. As ações corretivas devem incluir: 75UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● Procedimentos que assegurem a apropriada destinação dos produtos que podem estar contaminados, devido a falhas durante os procedimentos operacionais. ● Retomada das condições sanitárias, através da reinspeção do local (com rubrica do responsável). ● Aplicação de ações corretivas a eventuais desvios, garantindo, inclusive, o apropriado destino aos produtos não conformes. 4. 2. 4 Registros Os Registros representam todos os arquivos, documentos, exames de laboratório, laudos gerados durante o processamento. A manutenção de registros inclui: Integridade dos documentos: arquivo em boas condições físicas para manutenção e guarda dos documentos e em local de fácil acesso. Arquivamento no mínimo por 1 (um) ano: serve para estudo sobre alguma ocorrên- cia ou sobre investigações da equipe do controle de qualidade. Fácil disponibilidade ao SIF ou órgãos de fiscalização: muito importante para aten- der com rapidez todas as informações que a fiscalização solicitar. 4. 3 Programa 5s O programa 5S surgiu no Japão, depois da Segunda Guerra Mundial, inspirado na necessidade que havia de colocar ordem na confusão a que ficou reduzido o país após sua derrota e com a finalidade de limpeza e organização das fábricas, sendo utilizado no Brasil a partir de 1991 através da Fundação Christiano Ottoni (LOBO, 2012). O programa demonstrou ser tão eficaz como reorganizador das empresas e da própria economia que até hoje é considerado o principal instrumento de gestão da qualidade e produtividade utilizado naquele país. A nomenclatura 5S provém de palavras em japonês que começam com S (Seiri; Seiton; Seiso; Seiketsu e Shitsuke), que adaptados ao português se tornaram “sensos” e para completar o sentido, as palavras foram escolhidas a fim de refletir melhor a essência das originais, ficando assim denominadas: senso de utilização, senso de ordenação, senso de limpeza, senso de saúde e senso de autodisciplina, podendo ter variações em algumas bibliografias (SILVA, 1994). Os 5S têm o propósito de mudar o jeito de as pessoas pensarem, para melhorar o seu comportamento por toda vida, não sendo somente um episódio de limpeza, mas pro- movendo a empresa a uma nova conduta, com ganhos de produtividade. A sistemática 5S deve ter como líderes os gestores, ser baseada na educação, no treino, e é imprescindível, que seja praticada em grupo (CAMPOS, 2004). 76UNIDADEII Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição FIGURA 4: PROGRAMA 5S Fonte:http://www.ciaconsultores.com.br/noticias/249/5s-nas-organizacoes 4. 3. 1 SEIRI - Senso de Utilização Significa selecionar o útil do inútil; o necessário do desnecessário. Serve para manter no local apenas o que é necessário e adequado à execução das atividades e ao ambiente de trabalho. O Seiri é caracterizado por ter a capacidade de identificar equipa- mentos, ferragens, materiais, informes e dados que sejam necessários e desnecessários, devendo-se descartar o desnecessário, e realocar o necessário (LOBO, 2012). 4. 3. 2 SEITON - Senso de Organização Serve para organizar aquilo que permaneceu no setor por ser considerado útil e necessário, de modo que possam ser encontrados de forma rápida por todos. Esse senso significa colocar as coisas nos seus devidos lugares, evitando-se a perda de tempo na procura por materiais, equipamentos, ferramentas e afins (LOBO, 2012). Segundo Osada (2010), enfatizando o funcional, seiton tem a finalidade de dar fim à procura de objetos e, depois que a arrumação for feita, garante-se a qualidade e a segurança do local. 4. 3. 3 SEISOU - Senso de Limpeza Tem a função de deixar o local limpo e as máquinas e equipamentos em perfeito funcionamento, eliminando maus hábitos, desperdícios, erros, e qualquer tipo de poluição. Este senso inclui também, além da poluição ambiental, a poluição mental. http://www.ciaconsultores.com.br/noticias/249/5s-nas-organizacoes 77UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição O importante mesmo é não sujar, procurando sempre encontrar a fonte e a causa da sujeira para poder cessar com a mesma. A eliminação da totalidade e de qualquer sinal de sujeira, agindo diretamente na origem da mesma, é o conceito adotado por Silva (1994). 4. 3. 4 SEIKETSU - Senso de Saúde e Higiene Compreende o cuidado com o bem-estar físico e mental, melhorar a convivência em grupo, com superiores e subordinados e o cumprimento das recomendações da medi- cina do trabalho, como ter boas condições sanitárias e cuidar da higiene pessoal. Para Campos (2004), seiketsu significa asseio e visa fortalecer os três primeiros sensos (arrumação, ordenação e limpeza) para manter as condições sanitárias, ficando livre de poluidores. Para Silva (1994, p. 35) enfatiza que o sentido é “ter todos os empregados cum- prindo procedimentos de segurança e preocupados com a sua saúde em sentido amplo”. 4. 3. 5 SHITSUKE - Senso de Autodisciplina Estimula a melhoria contínua, desenvolvendo a força de vontade, a criatividade e o senso crítico. Saber observar e zelar pelas normas, regras, trâmites, atender aos requisitos escritos e aos informais é o que traduz o shitsuke, sendo de grande importância que o indivíduo se desenvolva a partir do exercício, demonstrando o respeito por si e pelos outros (LOBO, 2012). Para Silva (1994), esse senso diz respeito à autodisciplina, tendo colaboradores comprometidos, cumprindo severas normas éticas, táticas e com progressos contínuos a nível particular e coletivo. Osada (2010, p. 155) caracteriza esse senso como a “disciplina como uma forma de mudar hábitos”. Trabalhar juntos para a constituição de um grupo forte. “Quanto mais difícil é o trabalho, mais importante é a cooperação, pois até o menor erro pode levar ao fracasso”. 4. 4 Adaptação do programa 5s no Brasil Derivado do Programa 5S e criado com o objetivo de incorporar a filosofia do 5S no Brasil, foi criado o Programa 8S, onde Abrantes propôs três novos sensos (1997): Shikari Yaro (determinação e união), Shido (treinamento) e Setsuyaku (economia e combate ao desperdício). Estes sensos contemplam o investimento na gestão de recursos humanos, com educação, qualificação profissional e treinamento, ou seja, a maior vantagem deste pro- grama é não focar no investimento de máquinas e equipamentos, mas sim na gestão de pessoas e materiais. 78UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição FIGURA 5: PROGRAMA 5S ATUALIZADO Fonte: Adaptado de Abrantes (1998) 4. 4. 1 SETSUYAKU - Senso de economia e combate ao desperdício Para Abrantes (2007) apenas após a implantação dos sete sensos anteriores é que há condição de aplicar as análises propostas para este senso. A utilização consciente dos recursos fornecidos pela empresa é de extrema importância para a sustentabilidade do negócio e para isto, é necessária a elaboração de um plano de combate aos desperdícios onde os próprios colaboradores podem contribuir com ideias, modificações e melhorias para redução de custos e aumento da produtividade. 4. 4. 2 SHIKARI YARO - Senso de determinação e união Este Senso possui como objetivo estimular o trabalho em equipe gerando uma maior interação entre os colaboradores e gestores. Abrantes (1997) afirma que liderança e comunicação são imprescindíveis, demonstrando a importância do comprometimento da diretoria perante o restante da organização, sendo que através das ações desta é que os funcionários ficarão motivados a participarem efetivamente das ações da empresa. 79UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. 4. 3 SHIDO - Senso de treinamento Abrantes (1997) define que a qualificação do colaborador é de fundamental im- portância, pois possibilita a atuação de forma objetiva e eficaz no ambiente de trabalho. Desta forma, este senso tem como objetivo pregar o treinamento profissional e educação individual e coletiva para melhor qualidade de vida e do ambiente de trabalho. Para garantir o sucesso de implantação do programa, é necessário que haja uma participação permanente e contínua da alta administração e de todos os colaboradores en- volvidos no processo. Desta forma, é possível controlar continuamente as falhas e também avaliar a evolução e benefícios da implantação do 8S ao longo prazo. 4.5 Análise dos perigos e pontos críticos de controle (APPCC) O APPCC é um método sistemático de identificação, avaliação e controle de pe- rigos, o qual tem a função principal de promover a segurança dos alimentos que tem sido reconhecido e recomendado como uma importante ferramenta para prevenir as doenças causadas por alimentos (WANG,2010). O APPCC também tem sido aplicado para eliminar o desperdício com retrabalhos ou perdas por falhas primárias de processo ou de procedimentos operacionais, o que con- tribui para a redução de custos de processos e do produto final (MACEDO, 2003). O objetivo do APPCC é identificar os perigos químicos, físicos e biológicos que podem afetar a saúde dos consumidores e implementar medidas de controle para cada perigo identificado, garantindo a inocuidade do alimento. Embora sua função principal seja a de garantir a segurança dos produtos, ele também tem sido utilizado com sucesso para controlar a qualidade e prevenir fraude econômica (SENAI, 2000). O sistema APPCC está estruturado em sete princípios que têm a finalidade de identificar os perigos específicos em cada etapa de produção ou preparação de alimentos e definir as medidas para o controle desses perigos (WRIGHT, 2001). FIGURA 6: ESQUEMA APPCC Fonte: A autora. 80UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. 5. 1 Análise de perigos Consiste na avaliação crítica de todas as matérias-primas e etapas envolvidas na produção ou preparação de um alimento específico. Se os perigos não forem identificados, a segurança dos produtos pode ser comprometida. Os perigos nos alimentos são as con- taminações inaceitáveis (químicas, físicas ou biológicas conforme estudamos no módulo anterior) que devem ser reduzidas até níveis não prejudiciais à saúde ou então eliminadas durante o processamento dos alimentos. 4. 5. 1. 1 Avaliação do risco e severidade dos perigos identificados Os perigos físicos, químicos ou biológicos encontrados podem apresentar severi- dades altas,médias ou baixas. ● Severidade baixa - quando o perigo biológico ou químico pode causar um dano leve à saúde do consumidor, sem causar hospitalização; ou quando o perigo físico causa apenas um desconforto, como cabelo ou insetos. ● Severidade média - quando o perigo biológico ou químico pode causar hospi- talização, mas com rápida recuperação. ● Severidade alta - quando o perigo biológico ou químico pode causar uma doen- ça crônica, hospitalização prolongada e até mesmo a morte; ou quando o perigo físico causa dano à integridade do consumidor como metais pesados, pedaços de vidro, agrotóxicos, etc. (TONDO, 2014) 4. 5. 2 Identi icação dos Pontos Críticos de Controle (PCC) Um PCC pode ser uma etapa, um local, uma prática ou um procedimento em que as contaminações podem ser eliminadas, prevenidas ou reduzidas até níveis seguros, e devem ser monitoradas e registradas para assegurar que o processo está sob controle. Os PCC geralmente são identificados com a ajuda de “árvores decisórias” , que nada mais são do que uma sequência de perguntas objetivas destinadas a cada perigo identificado (TONDO, 2014). 81UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição FIGURA 07: ÁRVORE DECISÓRIA PCS E PCCS Fonte: Adaptada de CODEX ALIMENTARIUS 2003, p. 61. 4. 5. 3 Estabelecimento dos limites críticos Os limites críticos são parâmetros de tolerância que não devem ser ultrapassados nos PCC, garantindo que o alimento permaneça seguro. Os critérios mais utilizados são: medições de temperatura, tempo, nível de umidade, pH, atividade da água (Aw), cloro livre e até mesmo análises visuais de aparência e textura (CODEX ALIMENTARIUS, 2003). 4. 5. 4 Estabelecimento de ações de monitoramento O monitoramento deve ser capaz de identificar qualquer desvio das especificações estabelecidas e fornecer esta informação em tempo hábil para que as ações corretivas sejam tomadas de modo a restabelecer o controle do processo, antes que seja necessário rejeitar o produto (ICMSF, 1998). Segundo ICMSF (1998), são utilizadas cinco formas de monitoramento: 82UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição ● Observação ou inspeção visual ● Avaliação sensorial ● Medidas físicas ● Testes químicos ● Análises microbiológicas 4. 5. 5 Estabelecimento das correções e ações corretivas Quando forem detectados desvios nos limites críticos dos PCC, correções e ações corretivas devem ser tomadas, para evitar que o processo saia do controle ou, se ele já saiu, que retorne o mais rápido possível (PINTO;MASSON, 1998). As ações corretivas mais comuns, são; ● Correção de temperatura, pressão e calor ● Correção de acidez ● Correção de dosagens de conservantes químicos ● Troca ou manutenção de utensílios e equipamentos ● Rejeição de lotes 4. 5. 6 Estabelecimento dos Procedimentos de Veri icação Segundo o Codex Alimentarius, verificações, auditorias, testes ou análises de amostras escolhidas aleatoriamente podem ser utilizadas para a verificação do APPCC. De acordo com Scott (2005), além do monitoramento, a verificação é a atividade que determina a validação do APPCC e que o sistema está operando de acordo com o plano estabelecido. Segundo Tondo (2014), os procedimentos de verificação podem incluir: 1. Análises técnicas e científicas que demonstrem que os limites críticos estabele- cidos para cada PCC são satisfatórios. 2. Coleta de amostras para serem analisadas. 3. Revalidação periódica da documentação, dos fluxogramas, PCC e demais infor- mações do plano APPCC 4. Ações regulatórias do governo, através de auditorias, que certifiquem que o plano APPCC esteja funcionando de forma adequada (MARRIOTT, 1997) 5. Análise de todo o plano escrito e sistema APPCC, e seus registros de qualidade (CODEX ALIMENTARIUS, 2003). 6. Auditorias internas e externas. 83UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição 4. 5. 7 Estabelecimento de um sistema de registro O registro dos dados permite o acompanhamento do histórico dos processos, além de ser uma evidência da realização dos controles. Além disso, devem estar claros, sem rasuras, completamente preenchidos e assinados por quem os realizou, uma vez que au- ditorias internas, externas, oficiais ou não poderão verificar se o APPCC está corretamente implementado (TONDO, 2014). SAIBA MAIS O termo indústria 4.0 é recente e se refere à Quarta Revolução Industrial. Trata-se, por- tanto, de mais um estágio da evolução pela qual passa a indústria e manufatura em todo o mundo. Observa-se que o grande diferencial da Indústria 4.0 é o uso de tecnologias avançadas no cotidiano industrial. A ideia é conectar máquinas, sistemas e ativos para criar redes inteligentes em toda a cadeia produtiva e, assim, tornar as fábricas cada vez mais autônomas e produtivas. Disponível em: https://neogrid.com/br/blog/gestao-da-producao-na-industria-4-0-mudancas-e-impactos REFLITA É fundamental uma liderança com visão de Segurança de Alimentos, que seja capaz de determinar as expectativas, os objetivos e principalmente que saiba inspirar a todos a seguirem neste caminho. Se o líder passar este exemplo, a equipe toda passará a trabalhar em prol deste objetivo e com certeza o resultado final será acima do esperado. Camila Muniz Nodari é médica veterinária, especialista em Higiene e Inspeção de Pro- dutos de Origem Animal. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/seguranca-de-alimentos-x-padrao-cultural/ https://neogrid.com/br/blog/gestao-da-producao-na-industria-4-0-mudancas-e-impactos https://foodsafetybrazil.org/seguranca-de-alimentos-x-padrao-cultural/ 84UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos nessa unidade que o processo de higienização compreende duas etapas distintas e fundamentais: a limpeza e a desinfecção, eu que esses procedimentos necessi- tam ser realizados com periodicidade correta, de forma organizada e de modo que todos os colaboradores tenham consciência das etapas necessárias para que o alimento seja produzido de forma segura. De maneira geral, os procedimentos de higienização compreendem as etapas de recolhimento das sujidades, lavagem, enxágue, desinfecção seguida de enxágue ou não e secagem. Além disso, para a solução de desinfecção ser capaz de eliminar microrganis- mos, esta deve encontrar-se em concentração correta e permanecer tempo necessário em contato com a superfície. Vimos também que um serviço de alimentação deve realizar higiene ambiental, de utensílios e equipamentos, seguindo todas as etapas preconizadas e na periodicidade indicada, através dos PPHO estabelecidos, evitando a contaminação direta ou cruzada, bem como a adulteração dos produtos. O programa 8S tem como objetivo principal a reestruturação completa da empresa, a partir dos recursos humanos visando melhorar a produtividade através da organização e ainda combater os desperdícios que o gestor geralmente não enxerga, mas que impactam significativamente no seu rendimento. E para complementar, a APPCC deve ser diariamen- te avaliada, durante todo o processo produtivo, para que haja tempo hábil de executar as ações corretivas. O lixo do processo produtivo deve ser acondicionado em recipientes, de fácil hi- gienização, tampados e sem que o colaborador toque na tampa para usá-lo e o local de armazenamento do lixo fora da cozinha não pode representar um ponto de atração de pragas, para isso, devemos fazer o controle de pragas visando impedir ou minimizar a presença de insetos e roedores. A dedetização do local só deve ser realizada por empresa autorizada e com produtos aprovados. 85UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição LEITURA COMPLEMENTAR HIGIENE DOS UTENSÍLIOS, MÓVEIS E EQUIPAMENTOS DE UM RESTAURANTE COMERCIAL DO INTERIOR DO RS INTRODUÇÃO A qualidade sanitária do alimento depende do controle exercido sobre os perigosquímicos, físicos e biológicos que permeiam todas as etapas da cadeia alimentar, iniciada na produção e finalizada no consumo. Entretanto, alguns fatores preocupam os profis- sionais da área de alimentaçã o, tais como equipamentos e utensílios com higienizaçã o deficiente, que também têm sido responsáveis por surtos de doenças de origem alimentar; portanto, devem passar constantemente por uma avaliaçã o microbiológica para evitar a contaminaçã o dos alimentos produzidos. Além da manipulaçã o, para a garantia da segurança dos alimentos, outros aspec- tos devem ser observados, tais como as instalaçõ es que devem ser projetadas de forma a permitir um fluxo contínuo das etapas e linhas do processo de produção, com separação adequada das atividades por meios físicos ou outras medidas efetivas que permitam evitar a contaminação cruzada e facilitar as operações. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal realizado em um restaurante comercial no centro da cidade de Lajeado, Rio Grande do Sul. Tipo de clientela Em geral, o restaurante é frequentado por pessoas que trabalham nas proximidades e moradores das redondezas. Serve em média 270 almoços por dia e oferece dezenove pratos quentes, entre arroz, feijão, massas e guarnições, média de seis tipos de saladas cozidas e cruas e seis tipos de sobremesas diariamente. Possui cardápios variados e dife- renciados, distribuídos em balcões quentes e refrigerados. Quadro de colaboradores A unidade possui um grupo de treze colaboradores para efetuar as preparações do buffet, sendo três cozinheiras, uma saladeira, três auxiliares de cozinha, dois churrasquei- ros e três pessoas que cuidam da limpeza e organização do salão. 86UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição Intervenção educacional Foi passado um treinamento detalhado para os colaboradores sobre higienização dos equipamentos, móveis e utensílios. Esse treinamento foi elaborado a partir das boas práticas de fabricação, com ênfase na higiene dos equipamentos, móveis e utensílios para manipulação dos alimentos. No dia seguinte foi aplicado um checklist desse treinamento, já elaborado e conferi- do pela empresa, que utiliza a classificação limpo ou sujo para cada equipamento, separado por setores, como cozinha, lavanderia, churrasqueira e salão. Esses equipamentos são higienizados pelos responsáveis de cada função e se- guem as normas do manual de boas práticas de manipulação de alimentos. Ferramenta de avaliação A ferramenta utilizada nesse estudo para analisar a higiene dos móveis, equipa- mentos e utensílios foi o checklist, que é uma lista de questões com todos os passos que verificam o funcionamento da unidade. As questões são pré-elaboradas por um profissional responsável pelo setor. Segundo Brasil (2002), uma das ferramentas utilizadas para se atingir as Boas Práticas é a ficha de inspeção ou checklist para a área de alimentos. Esta ferramenta é em- pregada para verificar as porcentagens de conformidades e não conformidades referentes à legislação em vigor. Nesse estudo as opções de respostas para o preenchimento do checklist foram: “Conforme” – quando o estabelecimento atendeu ao item observado, “Não Conforme” – quando o mesmo apresentou não conformidade. RESULTADOS Nessa pesquisa, o resultado do checklist da higiene dos móveis, equipamentos e utensílios não se encontraram em conformidade em alguns equipamentos. A higienização desses equipamentos encontrava-se insatisfatória, sendo realizada inadequadamente. Na cozinha, houve conformidade em 92,85% da higiene dos utensílios e equipa- mentos, sendo a bancada de inox, a fritadeira, o descascador de legumes, aranha, picador de legumes, prateleira e os utensílios. Não houve conformidade na higiene em 7,15% no setor da cozinha, onde o fogão encontrou- se com sujidades na parte inferior e no piso sob a grade. Na lavanderia e no corredor o checklist esteve 100% em conformidade, todos os móveis e equipamentos encontraram-se higienizados adequadamente. 87UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição O checklist de higienizaçã o do setor da churrasqueira e do salão, que representa a bancada, a chapa, a coifa, o fogão externo, o buffet quente, o buffet de saladas, o buffet das sobremesas e das bebidas, mesas, vidros, janelas, pisos, paredes e banheiros estava em conformidade em 93,75%. Não houve conformidade em 6,25% do setor da churrasqueira, que estava com as grades com acúmulo de gordura, indicando higienização incorreta. DISCUSSÃO O estudo de Meiselman (1996) afirma que para uma unidade de alimentação e nu- trição (UAN) é necessário manter o controle higiênico-sanitário desde a matéria-prima até o produto final. Que a qualidade dos alimentos depende de três dimensões: características do consumidor, características do alimento e características do ambiente em que se dá o consumo, como limpeza, iluminação, cor, espaço, entre outros. Conforme Mello (2013), a correta higiene de quaisquer superfícies que entram em contato com os alimentos é um ponto-chave na produção de alimentos seguros. Mezomo (2002) afirma que os equipamentos são itens considerados de suma importância, pois influenciam diretamente a produção dos alimentos, sendo este um fator a ser devidamente planejado na questão físico-funcional em uma UAN. Uma pesquisa realizada num restaurante comercial no Rio de Janeiro, por Almeida, Costa e Gaspar (2010), mostrou que alguns erros dos restaurantes são a falta de trei- namento na área de gestão de pessoas. Assim, a sugestão dos autores é a adoção da aprendizagem organizacional, com a capacitação dos colaboradores da empresa em ações que objetivam ir ao encontro de técnicas de segurança alimentar. CONCLUSÃO A importância da capacitação e do treinamento dos manipuladores, assim como a realização de controles e registros dos processos, somam atividades imprescindíveis aos serviços de alimentação. A inocuidade dos alimentos e as condições de higiene dos estabelecimentos que produzem e manipulam refeições estão diretamente relacionadas com a forma de execução e de controle dos processos de produção. O resultado desse estudo mostra a importância de seguir o manual de Boas Práti- cas, principalmente para garantir a qualidade e a segurança dos alimentos e preparações. Fonte: BITELLO, A. R.; BAGATTINI, A. Higiene dos utensílios, móveis e equipa- mentos de um restaurante comercial do interior do RS. Anais do VI Salão de Iniciação Científica da Nutrição, 2014, p. 14-18. 88UNIDADE II Boas Práticas nas Unidades de Alimentação e Nutrição MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Plano APPCC em Estabelecimentos Alimentícios Autor: Cleber Jucene. Editora: Rubio. Sinopse: A sistematização do controle de produção de alimentos tornou-se uma necessidade quando, a partir do desenvolvimento tecnológico, as pessoas passaram a migrar do campo para a ci- dade. Isso abriu fronteiras geográficas e aumentou o consumo e a demanda de outros tipos de produtos. Esse novo quadro forçou o setor alimentício a repensar o modo de ação e a buscar alternativas para elevar a capacidade de produção, quantitativa e qualitativamente. Assim, as empresas passaram a adotar novos procedimentos para a qualidade e a segurança dos produtos elaborados. Tal mudança resultou no método conhecido por Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Em Plano APPCC em Estabelecimentos Alimentícios – Guia Téc- nico para Elaboração, são apresentadas as diretrizes do Método APPCC, sua relação com a produção de alimentos seguros e sua aplicação no decorrer deste processo. Além disso, abordam-se as bases legais e a metodologia passo a passo para elaboração e implantação do Plano APPCC. LIVRO 02 Título: Alimentos seguros - Ferramentas para gestão e controle da produção e distribuição Autor: Luana de Assis. Editora: Senac. Sinopse: Este livro analisa os sistemas de gestão de alimentosseguros APPCC e Boas Práticas, apresentando ferramentas de controle para o melhor desempenho dos responsáveis pela disseminação dos conhecimentos sobre higiene dos alimentos e pela implantação desses sistemas de segurança. Acompanha o seguinte material disponibilizado on-line: modelos de formulários que podem ser preenchidos e impressos, planilhas de planos APPCC, roteiro para elaboração de um manual de Boas Práticas e checklist de controle, além de fotos para treinamentos e exercícios com gabarito. FILME/VÍDEO Título: Consumidor - o que você está comendo Ano: 2015. Sinopse: O filme conta a história de uma mãe que começa a in- vestigar os problemas misteriosos de saúde do seu filho e acaba chegando até a indústria dos alimentos geneticamente modifica- dos. Apesar de não ser baseado em fatos reais, faz a gente pensar sobre nossas escolhas alimentares e qual a nossa relação com aquilo que comemos Disponível em: https://www.netflix.com/title/80105697 https://www.netflix.com/title/80105697 89 Plano de Estudo: ● Boas práticas nas etapas de aquisição, recebimento e armazenamento dos alimentos; ● Boas práticas aplicáveis às etapas de pré-preparo e preparo dos alimentos; ● Boas práticas aplicáveis às etapas de acondicionamento, transporte e distribuição dos alimentos; ● Embalagem e rotulagem de alimentos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer os requisitos estabelecidos na legislação, aplicáveis a todas as etapas do processo de aquisição, recebimento, pré-preparo, preparo e acondicionamento dos alimentos; ● Identificar os pontos críticos, momentos em que podem acontecer contaminações alimentares, em cada etapa do processo de produção de alimentos; ● Conhecer os procedimentos a serem adotados, em cada etapa, necessários para a produção de alimentos seguros. UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 90UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos INTRODUÇÃO O cuidado com as boas práticas nas etapas que antecedem a preparação dos ali- mentos, bem como a escolha de bons fornecedores, que ofereçam produtos de qualidade e que respeitam as normas higiênico-sanitárias e bons critérios de recebimento, contribuem muito para a produção de um alimento seguro. A maneira mais eficaz de conservar um alimento de forma segura é através de um armazenamento adequado, e pode acontecer em temperatura ambiente, sob refrigeração ou congelamento. O respeito aos critérios de armazenamento interferirão diretamente na manutenção do padrão de qualidade dos produtos. O momento de pré-preparo do alimento inclui as etapas de seleção dos ingredientes, dessalgamento, descongelamento, retirada das partes estragadas dos hortifrutigranjeiros, higienização, cortes, processamentos, separação dos ingredientes, aplicação de tempero, entre outros. Durante esses processos iniciais é possível aplicar as boas práticas e diminuir o risco de contaminação do alimento, garantindo que este esteja seguro para seguir às outras etapas do processo de produção dos alimentos. O preparo dos alimentos é a etapa que corresponde à manipulação subsequente ao processo de pré-preparo. A etapa de preparo dos alimentos pode ser realizada através de dois tipos de manipulação, a mecânica e a térmica. Após a cocção dos alimentos, estes seguem para a espera pós-cocção, para a distribuição ou resfriamento, ou fracionamento e acondicionamento. Os requisitos de boas práticas delimitam uma série de procedimentos a serem realizados em cada uma das etapas pós-cocção. O conhecimento e aplicação des- ses requisitos garante que os alimentos já manipulados serão servidos ou acondicionados de forma segura. Em um serviço de alimentação é comum encontrarmos inadequações na mani- pulação de alimentos prontos, como alimentos que ficam em bancadas esperando muito tempo para serem servidos no balcão de distribuição, grandes porções de alimentos sendo porcionados e permanecendo fora de temperatura ideal, alimentos sendo resfriados em temperatura ambiente sem controle nenhum de temperatura e muitos alimentos acondicio- nados sem a etiqueta contendo informações de validade do produto. A rotulagem assegura a defesa e a proteção ao consumidor, apresentando todas as informações necessárias para que esse consumidor saiba o que está adquirindo. Além disso, fornece todas as bases necessárias para que os órgãos competentes realizem seu trabalho de fiscalização. BONS ESTUDOS ! 91UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 1. BOAS PRÁTICAS NAS ETAPAS DE AQUISIÇÃO, RECEBIMENTO E ARMAZENAMENTO DE ALIMENTOS As Boas Práticas de Fabricação (BPF) constituem um conjunto de normas e regras que devem ser seguidas pelas indústrias de alimentos e por todos os serviços de alimenta- ção, com o objetivo de garantir a qualidade sanitária dos alimentos através do cumprimento dos regulamentos técnicos. A legislação sanitária federal, elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sani- tária (ANVISA), regulamenta as medidas de boas práticas em caráter geral, aplicável a todo tipo de indústria de alimentos e serviço de alimentação, e também de caráter específico, voltadas às indústrias que processam determinadas categorias de alimentos. Quando há necessidade ou quando não contemplado pela legislação, compete aos Serviços de Vigilância Sanitária Estaduais e Municipais o estabelecimento de normas com- plementares, de forma a abranger aspectos sanitários mais específicos de cada localidade, não podendo contrariar as normas federais (BRASIL, s.d.). Para garantir a qualidade sanitária do alimento, os procedimentos estabelecidos pelas boas práticas conduzem o processo de produção dos alimentos desde a escolha de um fornecedor até a distribuição do alimento aos consumidores. A aplicação das boas práticas depende dos esforços dos profissionais responsáveis pelos serviços de alimentação, e se não houver cumprimento dos procedimentos estabele- 92UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos cidos na legislação, não será possível evitar a contaminação cruzada, reduzir ou eliminar os contaminantes em todas as etapas do processo e evitar a proliferação de microrganismos. Sabendo que as boas práticas constituem um conjunto de medidas para garantir a qualidade sanitária do alimento, ou seja, que este esteja livre de contaminação, a seguir veremos algumas medidas de boas práticas que são aplicáveis nos processos de pré-preparo dos alimentos. Segundo recomendações da Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997: Devem ser tomadas medidas eficazes para evitar a contaminação do material alimentar por contato direto ou indireto com material contaminado que se en- contrem nas fases iniciais do processo (Referente ao item 8.2.1). Se existir possibilidade de contaminação, as mãos devem ser cuidadosamen- te lavadas entre uma e outra manipulação de produtos nas diversas fases do processo. Todo equipamento e utensílios que tenham entrado em contato com matérias-primas ou com material contaminado devem ser limpos e de- sinfetados cuidadosamente antes de serem utilizados para entrar em contato com produtos acabados (Referente ao item 8.2.4) (BRASIL, 1997, s.p.). A legislação ainda aborda aspectos gerais do pré-preparo de alimentos e a preven- ção da contaminação cruzada, segundo delimitações da Resolução RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004: Durante a preparação dos alimentos, devem ser adotadas medidas a fim de minimizar o risco de contaminação cruzada. Deve-se evitar o contato direto ou indireto entre alimentos crus, semi preparados e prontos para o consumo (Referente ao item 4.8.3). (BRASIL, 2004, p. 10). Conforme citado na legislação, o ideal é que o processo de pré-preparo dos alimen- tos aconteça em momentos diferentes e em espaços específicos. As preparações prévias (ou de pré-preparo) constituem as operações anteriores ao preparo ou cocção dos alimen- tos, por isso estes alimentos pré-preparadosnão podem entrar em contato com alimentos já prontos e/ou serem manipulados no mesmo ambiente ao mesmo tempo. Para facilitar a operacionalização do pré-preparo dos alimentos e diminuir o risco de contaminação cruzada, o pré-preparo deve acontecer em áreas específicas para cada gênero alimentício. As áreas podem ser divididas em: recebimento, armazenamento, área de pré-pre- paro de carnes, área de pré-preparo de sobremesas, área de pré-preparo de sucos e área de pré-preparo de legumes e hortaliças. O número de refeições e o padrão do cardápio executado pelo serviço de alimentação é o que define também a subdivisão dessas áreas, bem como os equipamentos e utensílios utilizados na produção de cada área (CLARA, s.d.). A figura a seguir ilustra um caso de contaminação cruzada bastante comum, em que o manipulador de alimentos está realizando o pré-preparo de um frango com o pré-preparo de vegetais. O colaborador está usando a mesma bancada, com os mesmos utensílios. O correto seria realizar este preparo em áreas, ou bancadas, diferentes, com utensílios 93UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos específicos para cada gênero alimentício. Na total impossibilidade dessa atividade, os utensílios e a bancada utilizados devem ser muito bem higienizados para o pré-preparo de outro gênero alimentício. FIGURA 1: CONTAMINAÇÃO CRUZADA Fonte: ANVISA (2004, p. 33) De acordo com Philippi (2003), dentre os processos executados no pré preparo de alimentos, ou seja, todas as etapas que precedem o preparo do alimento, temos: ● escolha dos fornecedores; ● recebimento; ● armazenamento; ● seleção; ● descongelamento; ● dessalgamento; ● limpeza: seca e úmida; ● higienização; ● cortar, picar, moer, triturar; ● processar, liquidificar; ● decantar, centrifugar, destilar; ● desossar, pelar ou descascar; ● peneirar, moer; ● espremer, filtrar, coar; ● misturar, bater, sovar; ● temperar. 94UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 1. 1 Recebimento de matérias-primas e seleção dos fornecedores 1. 1. 1 Fornecedores Sobre o recebimento de matérias-primas e a seleção dos fornecedores, a Resolu- ção RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004, preconiza: Os serviços de alimentação devem especificar os critérios para avaliação e sele- ção dos fornecedores de matérias-primas, ingredientes e embalagens. O trans- porte desses insumos deve ser realizado em condições adequadas de higiene e conservação (Referente ao item 4.7.1). A recepção das matérias-primas, dos ingredientes e das embalagens deve ser realizada em área protegida e limpa. Devem ser adotadas medidas para evitar que esses insumos contaminem o alimento preparado (Referente ao item 4.7.2). As matérias-primas, os ingredientes e as embalagens devem ser submetidos à inspeção e aprovados na recepção. As embalagens primárias das matérias- -primas e dos ingredientes devem estar íntegras. A temperatura das matérias- -primas e ingredientes que necessitem de condições especiais de conservação deve ser verificada nas etapas de recepção e de armazenamento (Referente ao item 4.7.3). A mesma RDC estabelece normas para armazenamentos das embalagens de insumos: As matérias-primas, os ingredientes e as embalagens devem ser armazena- dos em local limpo e organizado, de forma a garantir proteção contra conta- minantes. Devem estar adequadamente acondicionados e identificados, sen- do que sua utilização deve respeitar o prazo de validade. Para os alimentos dispensados da obrigatoriedade da indicação do prazo de validade, deve ser observada a ordem de entrada dos mesmos (Referente ao item 4.7.5) (BRA- SIL, 2004, p. 9 - 10). Conforme a legislação, devemos estabelecer critérios para a avaliação e seleção de fornecedores, sendo o primeiro passo para o preparo de alimentos seguros. Os serviços de alimentação só deverão obter as matérias-primas alimentares de fornecedores que tenham registro nos órgãos competentes, de acordo com as exigências dos Ministérios da Saúde e Ministério da Agricultura (NETO, 2005). Alguns requisitos são imprescindíveis aos fornecedores, caso houver o descum- primento destes itens, o fornecedor não será aprovado ou inviabilizará a manutenção do fornecimento. Seguem alguns exemplos, de acordo com Jucene (2013): ● Os fornecedores devem possuir autorização de funcionamento e registros de pro- dutos. ● Devem também ser habilitados junto aos órgãos que fiscalizam a produção e comercialização dos produtos vendidos. ● As condições de pré-preparo, preparo, armazenamento e distribuição dos ali- mentos fornecidos devem atender aos requisitos de boas práticas vigentes. ● Os fornecedores devem apresentar estrutura física condizente e possuir meca- nismos para evitar a contaminação microbiológica do produto. 95UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos ● Os fornecedores devem ter amostras de seus produtos. ● Seus produtos devem obedecer aos requisitos de embalagem e rotulagem alimentar. ● É importante que o fornecedor tenha um bom histórico de fornecimento. ● O fornecedor deve ter boa imagem e reputação no mercado. ● É importante que o fornecedor comprove a utilização de boas práticas durante o processamento do produto, isso pode ser feito através de certificações obtidas. A Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, faz considerações importantes sobre as matérias-primas: O estabelecimento não deve aceitar nenhuma matéria-prima ou insumo que contenha parasitas, microrganismos ou substâncias tóxicas, decompostas ou estranhas, que não possam ser reduzidas a níveis aceitáveis através de processos normais de classificação e/ou pre- paração ou fabricação. O responsável técnico deve dispor de padrões de identidade e qualidade da matéria-prima ou insumos de forma a poder contro- lar os contaminantes passíveis de serem reduzidos a níveis aceitáveis, atra- vés dos processos normais de classificação e/ou preparação ou fabricação (Referente ao item 8.1.1). (BRASIL, 1997, s.p.). Conforme recomendações da legislação, a escolha dos fornecedores deve ser crite- riosa para que se obtenha qualidade no produto final, não devendo ser adquiridos produtos que não estejam de acordo com as exigências ou que não cumpram as especificações. É importante que o profissional responsável tenha pleno conhecimento dos critérios e dos riscos envolvidos no recebimento de alimentos não conformes (TONDO; BARTZ, 2011). 1. 1. 2 Transporte Outro aspecto que deve ser observado são as condições higiênicas do transporte e do entregador. Para um recebimento adequado, o entregador deve estar uniformizado ou com roupa limpa e apresentar um bom asseio pessoal. O veículo de transporte dos alimentos deve ser de material que possibilite a limpeza e deve estar limpo. Cada tipo de insumo exige um tipo de veículo, como descrevem Rosa e Monteiro (2014): ● Hortifrutigranjeiros (frutas e verduras): veículo aberto com proteção ou fe- chado, exclusivo para transporte de alimentos. ● Alimentos não perecíveis: veículo aberto com proteção ou fechado, exclusivo para transporte de alimentos. ● Alimentos perecíveis: veículo fechado, isotérmico ou refrigerado, exclusivo para transporte de alimentos. 96UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Sobre os meios de transporte de alimentos, a Portaria SVS/MS n° 326, de 30 de julho de 1997, estabelece: Os meios de transporte de alimentos colhidos, transformados ou semipro- cessados dos locais de produçã o ou armazenamento devem ser adequados para o fim a que se destinam e constituídos de materiais que permitam o controle de conservaçã o, da limpeza, desinfecçã o e desinfestação fácil e completa” (Referente ao item 4.7.1) (BRASIL, 1997, s.p.). 1. 2 Recebimento Após a escolha dos fornecedores, a etapa de recebimento merece total atenção. Para Ferreira, Bezerra e Neto (2001), na recepção de mercadorias devem ser conferidos os dados relativos: ● ao asseio pessoal e uniformização do fornecedor;● às condições do veículo de transporte; ● à data de fabricação e validade do produto; ● aos aspectos físicos da embalagem: integridade, presença de embalagens amassadas, estufadas ou amassadas; ● à aparência dos produtos; ● aos aspectos sensoriais, quando for o caso; ● à temperatura de recebimento; ● à conferência da quantidade solicitada; ● ao lote dos produtos e selos de inspeção. Os produtos que não atenderem às exigências apresentadas anteriormente devem ser devolvidos ao fornecedor logo após o recebimento (SILVA JR., 1995). Conforme o que estabelece a Resolução RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004: 97UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Os lotes das matérias-primas, dos ingredientes ou das embalagens reprova- das ou com prazos de validade vencidos, devem ser imediatamente devolvi- dos ao fornecedor e, na impossibilidade, devem ser devidamente identifica- dos e armazenados separadamente. Deve ser determinada a destinação final dos mesmos (Referente ao item 4.7.4) (BRASIL, 2004, p. 10). No recebimento de produtos perecíveis, a temperatura de recebimento destes insu- mos é um dos ítens mais importantes. A legislação federal não estabelece as temperaturas de transporte de alimentos perecíveis e de recebimento, por isso cada estado ou município pode estabelecer suas exigências (JUCENE, 2013). Utilizaremos como referência o conjunto de exigências aplicáveis ao estado e ao muni- cípio de São Paulo, que recomenda as seguintes temperaturas de recebimentos de alimentos: QUADRO 1:TEMPERATURA DE RECEBIMENTOS DE ALIMENTOS Produtos Temperatura Produtos congelados -12 °C ou menor, ou conforme a especificação do fabricante. Pescados resfriados crus 3 °C no máximo, ou conforme espe- cificação do fabricante Carnes e derivados resfriados crus 7 °C no máximo, ou conforme espe- cificação do fabricante Leite e derivados 7 °C no máximo, ou conforme Ovos 10 °C no máximo, ou conforme especificação do fabricante Frutas, verduras e legumes higienizados,acionados ou descascados, sucos e polpas 5 °C no máximo, ou conforme espe- cificação do fabricante Preparados prontos para o consu- mo com pescados crus ou carne bovina crua 4 °C no máximo Produtos de panificação e confeita- ria com coberturas e recheios que tenham ingredientes que necessi- tam de refrigeração 5 °C no máximo Demais produtos resfriados 4 °C a 10 °C no máximo, ou conforme 4 °C a 10 °C no máximo, ou conforme especificação do fabricante Produtos quentes 60 °C no mínimo Fonte: Adaptado de Brasil (2013, p. 11) Além das da temperatura, outro aspecto que merece destaque na hora do recebi- mento é a observação das características sensoriais dos produtos mais sensíveis, como cor, odor, sabor e textura. 98UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos O recebimento acontece de forma rápida nos serviços de alimentação, assim o pro- fissional que o executa deve estar muito atento às características sensoriais dos alimentos. De acordo com a ABERC (2013), seguem as características dos alimentos a serem observadas no recebimento: A. Carnes bovinas, suínas, aves e pescados: ● não formação de cristais de gelo; ● ausência de água dentro da embalagem; ● inexistência de sinais de recongelamento (presença de gelo com sangue na emba- lagem); ● consistência não amolecida e nem pegajosa; ● odor característico; ● cor característica, sem manchas esverdeadas ou de outras cores. B. Hortifrutigranjeiros: ● cor; ● odor; ● grau de maturação; ● ausência de danos físicos; ● ausência de fungos; ● os ovos devem estar com a casca íntegra, sem rachaduras e resíduos que ● indiquem falta de higiene do fornecedor. C. Leites e derivados: ● as embalagens não podem encontrar-se estufadas ou alteradas. D. Massas frescas e doces confeitados: ● embalagens devem estar íntegras; ● sem presença de umidade excessiva; ● ausência de fungos. E. Estocáveis: ● as condições da embalagem devem estar íntegras, próprias para cada tipo de alimento, não podendo estar estufadas ou alteradas; 99UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos ● os cereais, farináceos e leguminosas não devem apresentar vestígios de inse- tos, umidade excessiva e materiais estranhos; ● as latas não devem estar enferrujadas, estufadas ou amassadas e os vidros não devem estar trincados, apresentar vazamentos nas tampas, formação de espumas, ou qualquer outro sinal de alteração do produto. Após o recebimento, os alimentos devem ser retirados das embalagens como caixas de papelão, madeira etc. Os alimentos devem ser acondicionados em recipientes próprios, caixas de polietileno, cubas, devidamente higienizados ou sacos plásticos especí- ficos para alimentos. Assim, evita-se que esses materiais contaminantes entrem na cozinha e no espaço de armazenamento (TEICHMANN, 2000). 1. 3 Armazenamento Os insumos devem ser armazenados em condições favoráveis a sua conservação; a forma de armazenamento e as características ambientais dos locais de armazenamento interferirão diretamente na manutenção do padrão de qualidade dos produtos (TEIXEIRA et al., 2006). A etapa de armazenamento envolve três procedimentos básicos: armazenamento sob congelamento, armazenamento sob refrigeração e estoque seco. A ABERC (2013) e Paoleschi (2009) definem uma destas etapas: 1. 3. 1 Estoque seco Os produtos devem estar dispostos nas áreas de armazenamento de modo que não ofereçam risco uns aos outros. Na área do estoque, que deve ser ventilada, sem incidência do sol sobre os alimentos, estes devem ser dispostos em prateleiras, estantes ou paletes, nunca encostados no chão ou paredes. É importante deixar os produtos organizados, setorizados e com empilhamento adequado à circulação de ar. Para a organização do estoque é muito importante que os produtos sejam acondicionados conforme o prazo de validade, ou seja, os produtos novos irão para o fundo da prateleira e os antigos ficarão na frente, assim segue-se o critério: primeiro que vence, primeiro que sai. Produtos de higienização ambiental e descartáveis devem ser armazenados em local distante dos alimentos. Não é permitida a presença de caixas de papelão, caixas de madeira e sacolas de supermercado em nenhum tipo de armazenamento. 100UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Se o alimento não puder ser mantido na embalagem original, o ideal é que este seja acondicionado em embalagem própria para alimentos e identificado com os dados do produto, o mesmo deve ser feito no caso de embalagem aberta. A Resolução RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004, no seu item 4.7.6, frisa a seguinte recomendação sobre estoque seco: As matérias-primas, os ingredientes e as embalagens devem ser armazena- dos sobre paletes, estrados e/ou prateleiras, respeitando-se o espaçamento mínimo necessário para garantir adequada ventilação, limpeza e, quando for o caso, desinfecção do local. Os paletes, estrados e/ou prateleiras devem ser de material liso, resistente, impermeável e lavável (BRASIL, 2004, p. 10). 1. 3. 2 Congelamento O armazenamento sob congelamento deve respeitar a capacidade do freezer, dei- xando espaço para o ar frio circular e o fechamento total da porta. Quando grupos diferentes de alimentos forem armazenados em um mesmo equipamento de congelamento, deve-se assegurar que estejam devidamente embalados e identificados para prevenir contaminação cruzada (SILVA; CARDOSO, 2011). O período de conservação dos alimentos congelados deve variar em função da temperatura do congelamento, e na ausência de especificação do fabricante, utilizamos os parâmetros do quadro abaixo, estabelecido pela ANVISA: QUADRO 2: TEMPERATURAS E PRAZOS DE VALIDADE DE ALIMENTOS CONGELADOS Temperatura Prazo de validade 0 °C a – 5 °C 10 dias -6 °C a – 10 °C 20 dias -11 °C a – 18 °C 30 dias Inferior a -18 °C 90 dias Conforme especificação do fabricante. Conforme especificação do fabricante.Fonte: Adaptado de Brasil (2013) 1. 3. 3 Refrigeração Os equipamentos de refrigeração devem ser abertos o mínimo possível para impedir que o ar frio saia. Os alimentos devem ser dispostos de maneira organizada, devidamente embalados e identificados. Alimentos prontos para o consumo devem ficar nas prateleiras su- periores, alimentos semi prontos ou pré-preparados na prateleira do meio, e os alimentos crus, ovos, e outros, nas prateleiras inferiores, assim os alimentos que precisam de maior refrigeração estarão nas prateleiras de cima, evitando-se a contaminação cruzada (ABERC, 2013). 101UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos O período de conservação dos alimentos deve seguir as orientações dos fabrican- tes. Na ausência desta informação, devem ser seguidos os parâmetros do quadro abaixo, estabelecidos pela ANVISA: QUADRO 3:TEMPERATURAS E PRAZOS DE VALIDADE DE ALIMENTOS RESFRIADOS Alimentos Temperatura Prazo de validade Pescados e seus produtos manipulados crus 2 °C, no máximo 03 dias Carne bovina e seus produtos manipulados crus 4 °C, no máximo 03 dias Carne suína e seus produtos manipulados crus 4 °C, no máximo 03 dias Aves e seus produtos manipulados crus. 4 °C, no máximo 03 dias Frios e embutidos, fatiados, picados ou moídos. 4 °C, no máximo 03 dias Produtos de panificação e confeitaria com coberturas e recheios, prontos para o consumo. 5 °C, no máximo 05 dias Leites e derivados. 7 °C, no máximo 05 dias Frutas, verduras e legumes higieniza- dos, fracionados ou descascados; su- cos e polpas de frutas 5 °C, no máximo 03 dias Ovos. 10 °C, no máximo 7 dias Que possuem especificação do fabricante. Conforme especificação do fabricante Conforme especifica- ção do fabricante Fonte: Adaptado de Brasil (2013, p. 11) 102UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE PRÉ-PREPARO E PREPARO DOS ALIMENTOS 2. 1 Etapas de pré-preparo e preparo dos alimentos Neste tópico abordaremos as etapas de pré-preparo que ocorrem após o recebi- mento e armazenamento do alimento que ocorrem nas áreas específicas de pré-preparo dos alimentos. 2. 1. 1 Descongelamento Um processo de descongelamento correto faz com que os alimentos congelados voltem ao seu estado anterior, preservando suas características e impedindo que micror- ganismos se multipliquem. A Resolução RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004, aponta as seguintes recomendações para o descongelamento dos alimentos: Para os alimentos congelados, antes do tratamento térmico deve-se proce- der ao descongelamento, a fim de garantir adequada penetração do calor. Excetuam-se os casos em que o fabricante do alimento recomenda que o mesmo seja submetido ao tratamento térmico ainda congelado, devendo ser seguidas as orientações constantes da rotulagem (Referente ao item 4.8.12). O descongelamento deve ser conduzido de forma a evitar que as áreas su- perficiais dos alimentos se mantenham em condições favoráveis à multipli- cação microbiana. O descongelamento deve ser efetuado em Celsius ou em forno de micro-ondas quando o alimento for submetido imediatamente à cocção (Referente ao item 4.8.13).Os alimentos submetidos ao descongela- mento devem ser mantidos sob refrigeração se não forem imediatamente uti- lizados, não devendo ser recongelados (Referente ao item 4.8.14) (BRASIL, 2004, p. 11). 103UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Segundo Jucene (2013), o descongelamento deve ser realizado conforme as reco- mendações do fabricante, mas na ausência desta informação, pode ser realizado conforme a sequência descrita abaixo: 1. Separar os alimentos em pequenas porções facilita o descongelamento. 2. Se necessário, retirar da embalagem primária. 3. Colocar sob refrigeração (máximo 4 °C e 2 °C para peixes) ou descongelar diretamente no micro-ondas, forno ou panela. 4. Manter o alimento descongelado sob refrigeração até o momento do consumo 5. Não recongelar alimentos crus ou prontos que tenham sido descongelados. 2. 1. 2 Dessalga Nesta etapa, as carnes salgadas são submetidas à retirada do sal, porém esta atividade precisa ser realizada em condições seguras, sob fervura ou refrigeração. Segundo Rosa e Monteiro (2014) o processo de dessalga de alimentos pode ser feito em fervura ou sob refrigeração. 2. 1. 2. 1 Dessalga de alimentos em fervura A. Em água fervente, sem período de exposição à temperatura ambiente B. Cozinhar a 74°C por 5 minutos. C. Após o preparo do prato, consumir em até 6 horas. 2. 1. 2. 2 Dessalga de alimentos em refrigeração A. Imergir o alimento em um recipiente com água potável. B. Trocar a água a cada 4 horas, utilizando sempre água limpa. C. Manter sob refrigeração. D. Após o dessalgue, consumir em até 12 horas. A Resolução RDC/MS n 216, de 15 de setembro de 2004, aponta recomendações gerais para o pré-preparo de alimentos: As matérias-primas e os ingredientes caracterizados como produtos perecí- veis devem ser expostos à temperatura ambiente somente pelo tempo míni- mo necessário para a preparação do alimento, a fim de não comprometer a qualidade higiênico-sanitária do alimento preparado (Referente ao item 4.8.5). Quando as matérias-primas e os ingredientes não forem utilizados em sua totalidade, devem ser adequadamente acondicionados e identificados com, no mínimo, as seguintes informações: designação do produto, data de fra- cionamento e prazo de validade após a abertura ou retirada da embalagem original (Referente ao item 4.8.6). Quando aplicável, antes de iniciar a preparação dos alimentos, deve-se pro- ceder à adequada limpeza das embalagens primárias das matérias-primas e dos ingredientes, minimizando o risco de contaminação (Referente ao item 4.8.7) (BRASIL, 2004, p. 10). 104UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. 1. 3 Carnes Alguns outros cuidados são necessários no pré-preparo de carnes, conforme alguns itens mencionados na legislação (ABERC, 2013): ● fazer o pré-preparo de carnes em pequenos lotes, ou seja, retirar da refrigeração apenas a quantidade de carne suficiente para ser trabalhada em 30 minutos; ● a carne pode ser manipulada em temperatura ambiente, somente por 30 minu- tos, ou em temperatura controlada entre 12 °C e 18 °C por até 2 horas; ● após a manipulação, retornar a carne, devidamente etiquetada e protegida, para a refrigeração; ● grelhar, fritar ou cozinhar as carnes em quantidades adequadas, retirar da re- frigeração apenas a quantidade suficiente para ser trabalhada em 30 minutos; ● não deixar a carne ao lado da chapa ou grelha esperando para ser manipulada por mais de 30 minutos; ● evitar preparações com demasiada manipulação das carnes; ● evitar preparações que utilizem carne ou peixes e frutos do mar crus; ● no uso de peixe fresco, optar pela manipulação, tempero, preparação e consu- mo no mesmo dia. 105UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. 1. 4 Hortifrutigranjeiros Esta etapa é imprescindível para o pré-preparo de insumos que serão consumidos crus. A Resolução RDC/MS n° 216, de 15 de setembro de 2004, aponta as seguintes recomendações para a higienização de hortifrutigranjeiros: Quando aplicável, os alimentos a serem consumidos crus devem ser subme- tidos a processo de higienização a fim de reduzir a contaminação superficial. Os produtos utilizados na higienização dos alimentos devem estar regulari- zados no órgão competente do Ministério da Saúde e ser aplicados de forma a evitar a presença de resíduos no alimento preparado (Referente ao item 4.8.19) (BRASIL, 2004, p. 11). Segundo apontado na legislação, os hortifrutigranjeiros precisam ser submetidos ao processo de higienização para que aconteça a limpeza e desinfecção desses alimentos. Alguns passos devem ser respeitados, conforme segue: 1. Selecionar, retirando as partes deterioradas, com pragas ou sujidades. 2. Lavar as folhas individualmente, legume por legume, cachopor cacho em água corrente. 3. Medir 2 litros e colocar em um recipiente limpo. 4. Colocar 2 colheres de sopa de Hipoclorito de Sódio com concentração entre 2,0% a 2,5% na água armazenada no recipiente. 5. Colocar as folhas, legumes e frutas imersas na solução clorada preparada nos passos anteriores. 6. Deixar em imersão por 15 minutos. 7. Enxaguar bem todas as folhas, legumes e frutas 8. Secar com papel toalha e armazenar em sacos plásticos transparentes. 9. Etiquetar com 3 dias de validade e armazenar na geladeira. Vinagre não é solução bactericida, ele apenas ajuda a remover larvas. Para real- mente destruir microrganismos é necessário utilização de solução clorada. 106UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. 1. 5 Ovos Os ovos podem estar contaminados com Salmonella sp, por isso a qualidade sani- tária das preparações à base de ovos deve ser garantida (OLIVEIRA et al., 2000). Segundo Jucene (2013) para alcançar esta garantia os seguintes procedimentos podem ser adotados: ● utilizar ovos provenientes de fornecedores industriais, que respeitem os critérios de fornecedores (discutidos no Tópico 1 desta unidade); ● dar preferência para armazenar ovos sob refrigeração, em recipientes tampa- dos, na parte da geladeira que atinge 10 °C; ● lavar os ovos em água potável, somente antes do uso; ● não utilizar ovos que apresentam imperfeições, asperezas ou trincas na casca; ● na quebra da casca, o conteúdo não deve entrar em contato com a parte externa da mesma; ● evitar servir ovos crus ou alimentos que não venham a sofrer tratamento térmico, contendo ovos crus; ● nas preparações sem cocção, uma boa alternativa é a substituição de ovos crus por ovos pasteurizados ou desidratados; ● no cozimento, os ovos devem permanecer em cocção por, no mínimo, 7 minutos após fervura; ● os recipientes de acondicionamento de ovos, como as caixas, não devem ser reutilizados . 2. 1. 6 Outros processos de pré-preparo De acordo com Philippi (2003), além das etapas de pré-preparo descritas acima, outras etapas do processo de preparação do alimento fazem parte do pré-preparo: ● Limpeza: retirar impurezas de maior tamanho, como raízes, por exemplo. ● Limpeza seca: desprezar impurezas e grãos com aparência diferenciada por serem microbiologicamente inseguros ou apresentarem perigos físicos, como a escolha de grãos ou a escavação de cogumelos. ● Limpeza úmida: remover impurezas físicas e microbiológicas presentes na superfície do alimento, fazendo fricção em água corrente, usando escovas, esponjas ou as próprias mãos dos manipuladores, como a lavagem de frutas ou latas e embalagens. 107UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos ● Desinfecção: destruir microrganismos patogênicos a partir da adição de produ- tos químicos no preparo de soluções para imersão de alimentos por um período de tempo, como descrito anteriormente. Recomenda-se o uso de uma solução clorada a 200-250 ppm, ou seja, o uso de hipoclorito de sódio a 2,5%, que é bactericida na proporção de 1 colher de sopa por litro de água, ou a 1% na pro- porção de 2 colheres de sopa para 1 litro de água, por 15 min. Muitos produtos indicam a sua diluição no rótulo (JAMPUR; VIEIRA, 2012). ● Cortar/picar: dividir o alimento em pedaços menores, utilizando-se de facas ou lâminas. ● Moer: dividir o alimento em pequenos pedaços, tornando-o homogêneo, por meio manual ou com a utilização de moedores. ● Triturar: dividir o alimento em pedaços muito pequenos por meio de aparelhos ou máquinas. ● Amassar: pressionar o alimento de forma que fique homogeneizado para uso em purês. ● Decantar: separar dois componentes líquidos, deixando-os descansar e fazen- do com que se separem em razão das diferentes densidades que possuem. ● Pelar ou descascar: retirar a pele ou casca utilizando facas. ● Espremer: extrair líquido de um alimento sólido, utilizando agentes de pressão, como espremedor manual ou elétrico. ● Filtrar ou coar: separar partículas sólidas de um líquido. ● Misturar: unir dois ou mais ingredientes facilmente misturáveis, empregando se energia mecânica. ● Bater: unir dois ou mais ingredientes de difícil mistura. ● Amassar, sovar: durante o preparo de massas, é importante amassá-las bem, para que todos os ingredientes se unam de maneira uniforme. Como requisitos gerais de boas práticas para essas etapas de pré-preparo cita- das, podemos ressaltar que é necessário que o manipulador esteja sempre com as mãos higienizadas e bem com a bancada de preparo e utensílios também higienizados. Antes e depois de cada tarefa, o manipulador precisa higienizar novamente as superfícies de trabalho, utensílios e mãos, evitando assim, o risco de ocorrer uma contaminação cruzada (ALMEIDA; COSTA; GASPAR, 2012) 108UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. 2 Requisitos de boas práticas nas etapas de preparo dos alimentos O preparo dos alimentos é a etapa subsequente ao processo de pré-preparo. Esse processo pode envolver dois tipos de manipulação: a mecânica e a térmica. 2. 2. 1 Manipulação mecânica O alimento é processado a partir do uso de uma força, seja manual ou com auxílio de um equipamento, como batedeira ou liquidificador, como o preparo de algumas pastas, molhos e sorvetes. 2. 2. 2 Manipulação térmica O alimento é processado a partir de equipamentos que forneçam temperatura alta (calor) ou modificado por temperaturas baixas, como a cocção dos alimentos e alteração do estado físico de sobremesas sob refrigeração (JAMPUR; VIEIRA, 2012). O uso de altas temperaturas no processamento de alimentos envolve diferentes técnicas de preparo, como lista Ornellas (2007): ● Cocção por calor úmido: cozinhar o alimento a uma temperatura alta, envol- vendo o alimento por um líquido quente ou vapor como forma de transmissão de calor. ● Calor seco: cozinhar o alimento sem adição de um líquido, de forma que o alimento desidrate devido ao calor excessivo. Existem duas formas de utilizar o calor seco: com gordura e sem gordura. Com gordura acontece através da fritura por imersão, ou quando utiliza-se gordura suficiente para dourar ou saltear a superfície de um alimento. Sem gordura acontece quando se utiliza ar seco e temperatura elevada como meio de transmissão de calor ao alimento, como grelhas ou fornos. ● Calor por irradiação: através de ondas emitidas por equipamentos micro-ondas. ● Calor misto: utilizar calor seco seguido de calor úmido para a cocção do alimento. A utilização de um forno combinado permite utilizar várias formas de calor. ● Brasear: utilizar calor seco com gordura, seguido de calor úmido com líquido, para dourar e amaciar o alimento. ● Ensopar: utilizar calor seco com gordura, seguido de calor úmido com líquido para refogar e amaciar o alimento. ● Refogar: utilizar calor seco com gordura, seguido de calor úmido com vapor, para fritar e amaciar. ● Sous-vide: embalar em sacola a vácuo, submergir em água em alta temperatura por longos períodos. 109UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos O tratamento térmico é a etapa essencial que assegura a redução ou eliminação da carga microbiana de alguns alimentos. Nesta etapa, os alimentos devem atingir no mínimo 70°C no centro geométrico, devendo o alimento permanecer nesta temperatura pelo mínimo 2 minutos. Quando a cocção é feita a temperaturas inferiores a 70°C, o tempo de exposição do alimento à temperatura deve ser aumentado, conforme o quadro abaixo: QUADRO 4: TEMPERATURAS DE COCÇÃO E TEMPO NECESSÁRIO PARA A ELIMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS Temperatura °C no centro geométrico do alimento Tempo 74 Poucos segundos (5) 70 Poucos minutos (2) 66 Alguns minutos (10) 65 Alguns minutos (15) 60 Vários minutos (30) 55 Algumas horas (4) 52 Várias horas (12) <50 Não há morte de patógenos Fonte: Adaptado de Brasil (2013, p. 18) A Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, aponta recomendações para o tratamentotérmico dos alimentos e controles a serem realizados: O tratamento térmico deve garantir que todas as partes do alimento atinjam a temperatura de, no mínimo, 70 ºC (setenta graus Celsius). Temperaturas inferiores podem ser utilizadas no tratamento térmico desde que as combina- ções de tempo e temperatura sejam suficientes para assegurar a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos (Referente ao item 4.8.8). A eficácia do tratamento térmico deve ser avaliada pela verificação da tempe- ratura e do tempo utilizados e, quando aplicável, pelas mudanças na textura e cor na parte central do alimento (Referente ao item 4.8.9). A mesma RDC também estabelece recomendações para alimentos que sofrem cocção através de frituras: Para os alimentos que forem submetidos à fritura, além dos controles estabe- lecidos para um tratamento térmico, deve-se instituir medidas que garantam que o óleo e a gordura utilizados não constituam uma fonte de contaminaçã o química do alimento preparado (Referente ao item 4.8.10). Os óleos e gorduras utilizados devem ser aquecidos a temperaturas não su- periores a 180 ºC (cento e oitenta graus Celsius), sendo substituídos ime- diatamente sempre que houver alteraçã o evidente das características físi- co-químicas ou sensoriais, tais como aroma e sabor, e formaçã o intensa de espuma e fumaça (Referente ao item 4.8.11) (BRASIL, 2004, p. 10-11). 110UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 2. 2. 3 Outros cuidados Rosa e Monteiro (2014) apontam ainda que, além da temperatura de cocção dos alimentos, independente do tipo de calor empregado, alguns procedimentos precisam ser respeitados quando trata-se do preparo dos alimentos: ● evitar o cruzamento de alimentos crus com cozidos; ● evitar servir alimentos mal passados (carnes) ou alimentos preparados à base de ovos que não tenham sido bem cozidos; ● molhos que serão adicionados aos alimentos, devem estar em temperatura segura, caso contrário, a temperatura dos alimentos cairá; ● atentar para que óleos e gorduras utilizados não ultrapassem a temperatura de 180°C e devem ser substituídos sempre que houver alterações, como escureci- mento, mudanças no aroma, sabor e formação de espuma ou fumaça; ● a manipulação de alimentos preparados deve ser feita com auxílio de utensílios; ● utilizar utensílios diferentes para alimentos crus e cozidos; ● proteger os alimentos em preparação ou prontos, garantindo que estejam sem- pre cobertos; ● manter os alimentos em preparação ou prontos sob temperaturas de segurança, isto é, inferior a 10ºC ou superior a 60ºC. 111UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 3. BOAS PRÁTICAS APLICÁVEIS ÀS ETAPAS DE ACONDICIONAMENTO, TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS As etapas que sucedem a cocção dos alimentos são a espera pós-cocção, a distri- buição, o resfriamento, o porcionamento, o acondicionamento e o transporte dos alimentos. Não necessariamente os serviços de alimentação realizam todas essas etapas na produção dos alimentos, alguns alimentos que seguem para a distribuição quente, por exemplo, não necessitam de resfriamento. Quando essas etapas forem utilizadas, alguns parâmetros de boas práticas devem ser respeitados. Após a cocção, os alimentos seguem para a espera pós-cocção ou distribuição. 3.1 Espera pós-cocção Nesta etapa, os alimentos que sofreram cocção aguardam para serem distribuí- dos, devem estar protegidos de novas contaminações e também devem ser mantidos sob rigoroso controle de tempo e temperatura, conforme resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004, que determina que os alimentos quentes devem ser mantidos a 60°C por no máximo 6 horas, e os alimentos frios devem ser mantidos abaixo de 10°C. 112UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos A temperatura deve ser medida no centro geométrico do alimento, e é importante que o tempo entre o preparo e a distribuição seja pequeno. Todas as recomendações des- critas nas etapas de pré-preparo e preparo dos alimentos devem ser mantidas nesta etapa de espera, visando garantir um alimento em condições higiênico-sanitárias seguras. 3. 2 Reaquecimento Nesta etapa, os alimentos mantidos em espera, que já sofreram cocção inicial e perderam temperatura, devem atingir novamente a temperatura de segurança no seu centro geométrico. As preparações quentes, que no controle de temperatura estão abaixo de 60 ºC, devem sofrer reaquecimento. Nesse processo o alimento deve atingir 70 ºC por 5 minutos e o reaquecimento não pode ser realizado mais de uma vez (JUCENE, 2013). 3. 3 Distribuição A distribuição é a etapa na qual os alimentos estão expostos para o consumo imediato, porém sob controle de tempo e temperatura para não ocorrer multiplicação micro- biana. Segundo a ABERC (2013), alguns critérios precisam ser respeitados no momento de distribuição dos alimentos: ● Para serviços de bufê, self-service ou balcão self-service, ou sistemas de autos- serviço, a empresa deve assegurar que todos os equipamentos de exposição de alimentos quentes e frios estejam adequadamente dimensionados, higieni- zados, mantidos conservados e os instrumentos de medição de temperatura sejam calibrados. 113UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos ● Esses equipamentos devem dispor de barreiras de proteção, de modo a impedir a contaminação dos alimentos pela proximidade dos consumidores. Nos balcões quentes, os alimentos devem ser mantidos em banho-maria, com temperatura da água ajustada a 80 ºC e 90 ºC. Esta condição proporciona que os alimentos sejam mantidos a, no mínimo, 60 ºC em seu centro geométrico (JUCENE, 2013). ● O balcão térmico deve ser ligado com antecedência para a manutenção dos alimentos quentes e frios. ● Manter os balcões térmicos limpos com água tratada e trocada diariamente. ● Abastecer os balcões com alimentos em quantidade suficiente para cada turno de distribuição, o restante dos alimentos deve aguardar em equipamentos que mantêm a sua temperatura adequada. ● Utilizar cubas higienizadas para a reposição dos alimentos. ● Não repor alimentos em cima dos alimentos que estão na distribuição, trocar a cuba inteira de alimentos (ABERC, 2013). Algumas recomendações para a distribuição dos alimentos são feitas pela Resolu- ção RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004: Os equipamentos necessários à exposição ou distribuição de alimentos pre- parados sob temperaturas controladas devem ser devidamente dimensiona- dos e estar em adequado estado de higiene, conservação e funcionamento. A temperatura desses equipamentos deve ser regularmente monitorada (Re- ferente ao item 4.10.3). O equipamento de exposição do alimento preparado na área de consumação deve dispor de barreiras de proteção que previnam a contaminação do mes- mo em decorrência da proximidade ou da ação do consumidor e de outras fontes (Referente ao item 4.10.4). A RDC/MS nº 216/2001 também estabelece orientações para os locais de consu- mação de alimentos: Os utensílios utilizados na consumação do alimento, tais como pratos, copos, talheres, devem ser descartáveis ou, quando feitos de material não-descartá- vel, devidamente higienizados, sendo armazenados em local protegido (Re- ferente ao item 4.10.5). Os ornamentos e plantas localizados na área de consumação ou refeitório não devem constituir fonte de contaminação para os alimentos preparados (Referente ao item 4.10.6). A área do serviço de alimentação onde se realiza a atividade de recebimento de dinheiro, cartões e outros meios utilizados para o pagamento de despe- sas, deve ser reservada. Os funcionários responsáveis por essa atividade não devem manipular alimentos preparados, embalados ou não (Referente ao item 4.10.7) (BRASIL, 2004, p. 12). Trindade et al. (2009) salientam que as temperaturas de distribuição dos alimentos devem ser monitoradas, e na distribuição os alimentos devem ser mantidos em condições de tempo e temperaturasseguras, conforme segue o quadro: 114UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos QUADRO 5: CONDIÇÕES DE TEMPO E TEMPERATURAS SEGURAS NA DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS Alimentos Temperatura Tempo Alimentos quentes Acima de 60 ºC 6 horas no máximo (entre otérmino do preparo e o consumo Alimentos frios Abaixo de 10 ºC 4 horas no máximo Preparações com pescados e carne crua Acima de 5 ºC 2 horas no máximo Fonte: Adaptado de Jucene (2013) e Brasil (2011) A coleta de amostras de todos os ítens produzidos no serviço de alimentação é outro procedimento que precisa ser executado A coleta de amostras deve ser realizada diariamente, em cada horário de distribuição de alimentos, o ideal é que esta coleta seja realizada após 1/3 do tempo de distribuição do alimento (BRASIL, 1999). De acordo com Rosa e Monteiro (2014), a amostra deve ser coletada em saco próprio deve conter as seguintes informações: ● Nome do estabelecimento. ● Produto/preparação. ● Principais componentes de preparação. ● Data da coleta. ● Horário da coleta. ● Temperatura do alimento no momento da coleta. ● Tipo de serviço. ● Responsável pela coleta. Os procedimentos necessários para a coleta de amostras estão descritos a seguir: 1. Identificar o saco da amostra. 2. Higienizar as mãos e os utensílios para coleta de amostra. 3. Abrir o saco com tesoura higienizada, sem tocá-lo internamente ou soprá-lo. 4. Fechar o saco contendo a amostra, retirando o excesso de ar. 5. Separar o alimento necessário, 100 gramas de alimento sólido e 100 ml de líquido. 6. Higienizar o termômetro, anotar a temperatura e o horário da coleta de amostra. 7. Armazenar sob refrigeração 4ºC ou congelamento -18ºC por 72 horas. 8. As amostras não devem ficar expostas por mais de 30 minutos após a coleta. 115UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Amostras de alimentos são guardadas para possibilitar a análise do alimento caso aconteça algum caso de doenças transmitidas por alimentos (DTA) e avaliar se houve contaminação. 3.4 Aproveitamento das sobras Não é permitido o reaproveitamento de sobras que foram levadas para a distribui- ção, devendo ser desprezadas. Sobras quentes e frias que não foram para a distribuição e ficaram armazenadas pou- co tempo em equipamentos que mantêm sua temperatura segura podem ser aproveitadas. O ideal é proceder o reaquecimento e o resfriamento dos alimentos e utilizá-los o mais breve possível, servindo-os na próxima distribuição (JUCENE, 2013). O risco de crescimento microbiano, devido ao longo tempo de armazenamento depois do preparado, é grande e ocorrem muitas suspeitas de doenças transmitidas por alimentos por reaprovei- tamento de sobras (WEINGOLD; GUZEWICH; FUDALA, 1994). 3. 5 Resfriamento Os alimentos que não seguem para a distribuição, mas para o acondicionamento, necessitam do processo de resfriamento que é realizado para diminuir o risco de contami- nação pela permanência do alimento, por muito tempo, em temperaturas que favorecem a multiplicação dos microrganismos (LELIS, 2015). No momento da cocção o alimento atinge temperaturas seguras; mas quando o ali- mento finalizar a cocção sua temperatura começa a diminuir, alcançando temperaturas de risco. Na etapa de resfriamento, realizada de forma segura, o alimento deve passar da temperatura de pós-cocção, de 60 ºC, para a temperatura de 10 ºC em 2 horas (ROSA; MONTEIRO, 2014), como recomendado pela Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004: O processo de resfriamento de um alimento preparado deve ser realizado de forma a minimizar o risco de contaminação cruzada e a permanência do mes- mo em temperaturas que favoreçam a multiplicação microbiana. A tempera- tura do alimento preparado deve ser reduzida de 60 ºC (sessenta graus Cel- sius) a 10 ºC (dez graus Celsius) em até duas horas. Em seguida, o mesmo deve ser conservado sob refrigeraçã o a temperaturas inferiores a 5 ºC (cinco graus Celsius), ou congelado à temperatura igual ou inferior a -18 ºC (dezoito graus Celsius negativos) (Referente ao item 4.8.16) (BRASIL, 2004, p. 11). Para que se alcance a temperatura desejada do resfriamento, no intervalo de tem- po proposto pela legislação, alguns procedimentos podem ajudar a acelerar o processo, conforme descrição a seguir: 116UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 1. Colocar os alimentos em pequenas porções ou recipientes menores. 2. Agitar os alimentos pastosos ou líquidos. 3. Colocar em banho de gelo, quando possível. 4. Aguardar 30 minutos para a liberação do vapor e/ou quando atingir 60 ºC na superfície do alimento. 5. Cobrir o recipiente com filme plástico perfurado. 6. Levar os alimentos para o refrigerador. 7. Monitorar a temperatura para que em 5 horas o alimento tenha atingido 10 ºC. Seguir as etapas de resfriamento garante que os alimentos sejam acondicionados sem microrganismos, lembrando que na refrigeração os microrganismos não morrem, apenas não conseguem se multiplicar. Então, se um alimento contaminado foi levado ao refrigerador e no momento do seu consumo ficar exposto à temperatura ambiente, é um alimento com risco potencial. 3. 6 Porcionamento Esta etapa porciona o alimento para o seu armazenamento ou distribuição. A manipulação durante esta etapa deve ser realizada observando-se rigorosamente as reco- mendações de higiene pessoal, ambiental e dos alimentos, para evitar a recontaminação ou a contaminação cruzada. O processo de porcionamento deve ser realizado no mínimo espaço de tempo pos- sível, para que os alimentos não permaneçam em temperatura ambiente por muito tempo. O ideal é porcionar um volume de alimento de cada vez e já acondicionar em refrigeração ou equipamentos e caixas isotérmicas para manutenção de temperatura, devidamente eti- 117UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos quetado. Vale lembrar que os recipientes utilizados para acondicionar os alimentos devem estar higienizados ou serem estéreis (ABERC, 2013). Após o porcionamento, os alimentos devem seguir para o acondicionamento ade- quado, estes devem ser etiquetados conforme recomenda a Resolução RDC/MS nº 216, de 15 de setembro de 2004: Caso o alimento preparado seja armazenado sob refrigeraçã o ou congela- mento deve-se apor no invólucro do mesmo, no mínimo, as seguintes informações: designação, data de preparo e prazo de validade. A temperatura de armazenamento deve ser regularmente monitorada e regis- trada (Referente ao item 4.8.18) (BRASIL, 2004, p. 11). ● Todos os alimentos acondicionados no serviço de alimentação precisam estar identificados e etiquetados; e os que não forem para a distribuição, devem ser acondiciona- dos sob congelamento ou refrigeração. Produto: _______________________________ Data do preparo: ____/____/____ Data de validade: ____/____/____ Responsável: ___________________________ ● Alimentos que estão em sua embalagem original, mas que já foram abertos, passam a respeitar a validade do fabricante após a abertura da embalagem, por isso a etiqueta deve conter a data de abertura. Produto: _______________________________ Data de abertura: ____/____/____ Data de validade: ____/____/____ Responsável: ___________________________ 118UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos ● Alimentos que estão no processo de descongelamento, dessalgamento e resfria- mento devem conter a etiqueta identificando o processo. Produto: _______________________________ Processo: ( ) Descongelamento ( ) Dessalgue ( ) Resfriamento Data de validade: ____/____/____ Responsável: ___________________________ Alimentos que por algum motivo perderam a sua embalagem original devem conter as informações do fabricante. IDENTIFICAÇÃO PRODUTO ______________________ MARCA ____________________ FORNECEDOR __________________ NOTA FISCAL Nº _____________ Nº DE REGISTRO ________________ ORIGEM ( ) nacional( ) importado DATA DE ENTREGA: ___/ ___/ ___ CONSERVAÇÃO: _____________ PRAZO DE VALIDADE ORIGINAL: ___/ ___/ ___ A data de validade dos produtos deve respeitar a data de validade indicada pelo fabricante. No caso de produtos manipulados/preparados a legislação estabelece prazos de validade e temperaturas recomendadas, conforme o quadro a seguir: 119UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos QUADRO 6:TEMPERATURAS E PRAZOS DE VALIDADE DE ALIMENTOS MANIPULADOS Alimentos Temperatura Prazo de validade Pescados e seus produtos manipulados crus 2 ºC, no máximo 03 dias Pescados pós-cocção 2 ºC, no máximo 01 dia Alimentos pós-cocçã o, exceto pescados 4 ºC, no máximo 03 dias Espetos mistos, bife rolê, carnes mpanadas cruas e preparaçõ es com carne moída 4 ºC, no máximo 02 dias Frios e embutidos, fatiados, picados ou moídos 4 ºC, no máximo 03 dias Produtos à base de maionese e misturas de maionese com outros alimentos 4 ºC, no máximo 02 dias Sobremesas e outras preparações com laticínios 4 ºC 5 ºC 03 dias 02 dias Produtos de panificação e confeitaria com coberturas e recheios, prontos para o consumo 5 ºC, no máximo 05 dias Demais alimentos preparados 4 ºC, no máximo 03 dias Leites e derivados 7 ºC, no máximo 05 dias Carne bovina e seus produtos manipulados crus 4 ºC, no máximo 03 dias Carne suína e seus produtos manipulados crus 4 ºC, no máximo 03 dias Aves e seus produtos manipulados crus 4 ºC, no máximo 03 dias Frutas, verduras e legumes higienizados, fracionados ou descascados; sucos e polpas de frutas 5 ºC, no máximo 03 dias Ovos 10 ºC, no máximo 10 dias Alimentos secos Temperatura ambiente 30 dias Que possuem especificação do fabricante Conforme especificação do fabricante Conforme especificação do fabricante Fonte: Adaptado de Brasil (2013) Para alimentos congelados, a legislação estabelece as temperaturas e prazos, conforme o quadro abaixo: 120UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos QUADRO 7:TEMPERATURAS E PRAZOS DE VALIDADE DE ALIMENTOSCONGELADOS Temperatura Prazo de validade 0 a 5 °C 10 dias -5 a -10 °C 20 dias -10 a -18 °C 30 dias Abaixo de -18 °C 90 dias Fonte: Adaptado de ABERC (2013) 3. 7 Transporte de alimentos preparados O meio de transporte de alimentos utilizado deve garantir a integridade e a quali- dade das preparações, a fim de impedir a contaminação dos alimentos. O veículo deve ser exclusivo para o transporte de alimentos e possuir licença para exercer esta atividade. Os recipientes para o transporte das preparações devem ser isotérmicos, garantin- do a integridade e a temperatura dos alimentos: até 4 °C para alimentos frios, acima de 60 °C para alimentos quentes. Toda a matéria-prima transportada deve ser protegida e identificada, sendo que o tempo decorrido entre o acondicionamento e a entrega não pode ultrapassar 2 horas. En- tregadores devem cumprir normas de higiene aplicáveis aos manipuladores de alimentos e estar aptos à verificação de temperatura (JUCENE, 2013). QUADRO 8:TEMPERATURAS IDEAIS PARA O TRANSPORTE DE ALIMENTOS Temperatura Prazo de validade 0 a 5 °C 10 dias -5 a -10 °C 20 dias -10 a -18 °C 30 dias Abaixo de -18 °C 90 dias Fonte: Adaptado de Jucene (2013) 121UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 4. EMBALAGEM E ROTULAGEM DE ALIMENTOS A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão responsável por regulamentar e fiscalizar o setor de informações de embalagens através da RDC 359/2003 e RDC 360/03 - Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Enlata- dos, que dispõem sobre os aspectos nutricionais dos produtos, além da RDC n° 259/2002, que dita sobre as rotulações em geral dessas embalagens, determinando as regras que as empresas devem seguir ao passar tais informações aos consumidores. A RDC Nº 259, DE 20 DE SETEMBRO DE 2002, traz as seguintes definições : ● Rotulagem: É toda inscrição, legenda, imagem ou toda matéria descritiva ou gráfica, escrita, impressa, estampada, gravada, gravada em relevo ou litografa- da ou colada sobre a embalagem do alimento. ● Embalagem: É o recipiente, o pacote ou a embalagem destinada a garantir a conservação e facilitar o transporte e manuseio dos alimentos. ● Embalagem primária ou envoltório primário: É a embalagem que está em contato direto com os alimentos. ● Embalagem secundária ou pacote: É a embalagem destinada a conter a(s) embalagem(ns) primária(s). ● Embalagem terciária ou embalagem: É a embalagem destinada a conter uma ou várias embalagens secundárias. ● Alimento embalado: É todo o alimento que está contido em uma embalagem pronta para ser oferecida ao consumidor. 122UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos De acordo com a Resolução RDC n°360 da ANVISA (BRASIL, 2003), Rotulagem nutricional é toda descrição destinada a informar ao consumidor sobre as propriedades nutricionais de um alimento incluindo : Declaração de nutrientes: é uma relação ou enumeração padronizada do conteúdo de nutrientes de um alimento. Declaração de propriedades nutricionais (informação nutricional complementar): é qualquer representação que afirme, sugira ou implique que um produto possui proprieda- des nutricionais particulares, especialmente, mas não somente, em relação ao seu valor energético e conteúdo de proteínas, gorduras, carboidratos e fibra alimentar, assim como ao seu conteúdo de vitaminas e minerais. 4.1 Rotulagem A rotulagem dos alimentos deve ser feita exclusivamente nos estabelecimentos processadores, habilitados pela autoridade competente do país de origem, para elaboração ou fracionamento (Resolução RDC nº 259, Setembro, 2002 – ANVISA). Na rotulagem pode constar qualquer informação ou representação gráfica, assim como matéria escrita, impressa ou gravada, sempre que não estejam em contradição com os requisitos obrigatórios, incluídos os referentes a declaração de propriedades e as infor- mações enganosas. Somente podem ser utilizadas denominações de qualidade quando tenham sido estabelecidas as especificações correspondentes para um determinado alimento, por meio de um Regulamento Técnico específico. Essas denominações devem ser facilmente com- preensíveis e não devem de forma alguma levar o consumidor a equívocos ou enganos, devendo cumprir com a totalidade dos parâmetros que identificam a qualidade do alimento (BRASIL, 1997, art. 796). 123UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Ainda de acordo com a RDC nº 259, Setembro, 2002, visando garantir a informação do consumidor e preservar a sua saúde, todo alimento embalado deve apresentar no seu rótulo: ● Denominação de venda do alimento; ● Lista de ingredientes; ● Conteúdos líquidos; ● Identificação da origem; ● Nome ou razão social e endereço do importador, no caso de alimentos importados; ● Identificação do lote; ● Prazo de validade; ● Instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário; ● Informação Nutricional. 4. 2 Informação nutricional A rotulagem nutricional se aplica aos alimentos produzidos e comercializados, qualquer que seja sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos aos consumidores (Resolução RDC nº 360, Setembro, 2003 – ANVISA). Devem ser declarados em caráter obrigatório a quantidade do valor energético e dos seguintes nutrientes: 4. 2. 1 Porção: gramas(g), mililitros (ml) e medidas caseiras ● Valor energético: Kilocalorias (kcal) e kilojoules (KJ) ● Proteínas: gramas (g) ● Carboidratos: gramas (g) ● Gorduras: gramas (g) ● Fibra alimentar: gramas (g) ● Sódio: miligramas (mg) ● Colesterol: miligramas (mg) ● Vitaminas: (mg) ou microgramas (μg) ● Minerais: (mg) ou microgramas (μg) 4. 2. 2 A quantidade do valor energético e dos seguintes nutrientes ● Carboidratos; ● Proteínas; ● Gorduras totais; ● Gorduras saturadas; ● Gorduras trans; ● Fibra alimentar; ● Sódio. 124UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 4.3 Rotulagem de alergênicos A RDC n°26, de 02 dejulho de 2015 dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares, incluindo as bebidas, ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia embalados na ausência dos consumidores, inclusive aqueles destinados exclusivamente ao processamento industrial e os destinados aos serviços de alimentação. No Art. 6° a resolução diz que os alimentos, ingredientes, aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia que contenham ou sejam derivados dos alimentos listados no Anexo devem trazer a declaração ● “Alérgicos: Contém (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares)”, ● “Alérgicos: Contém derivados de (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares)” ou ● “Alérgicos: Contém (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares) e derivados”. No caso dos crustáceos, a declaração deve incluir o nome comum das espécies da seguinte forma: ● “Alérgicos: Contém crustáceos (nomes comuns das espécies)”, ● “Alérgicos: Contém derivados de crustáceos (nomes comuns das espécies)” ou ● “Alérgicos: Contém crustáceos e derivados (nomes comuns das espécies)”. O Art. 7 da RDC n° 26/2015, trata os casos em que não é possível garantir a ausên- cia de contaminação cruzada dos alimentos, ingredientes, aditivos alimentares ou coadju- vantes dos alimentos. Nesse caso, deverá constar no rótulo (mesmo que nos ingredientes não contenha tais grãos) a inscrição: ● “Alérgicos: pode conter (nomes comuns dos alimentos que causam alergias alimentares) . É importante salientar que esses alertas são complementares a todas as outras normas em vigor para rotulagem de alimentos embalados, não excluindo a necessidade de outros alertas determinados em legislações específicas, como o caso do GLÚTEN.de acor- do com a Lei n°10.674/2003 e Resolução RDC n°40/2002,que exigem a frase “CONTÉM GLÚTEN” e/ou “NÃO CONTÉM GLÚTEN” nos rótulos. Ainda segundo a RDC n°26, de 02 de julho de 2015, são 18 os alimentos listados como alergênicos: 125UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 1. Trigo, centeio, cevada, aveia e suas estirpes hibridizadas. 2. Crustáceos. 3. Ovos. 4. Peixes. 5. Amendoim. 6. Soja. 7. Leites de todas as espécies de animais mamíferos. 8. Amêndoa (Prunus dulcis, sin.: Prunus amygdalus, Amygdalus communis L.). 9. Avelãs (Corylus spp.). 10. Castanha-de-caju (Anacardium occidentale). 11. Castanha-do-brasil ou castanha-do-pará (Bertholletia excelsa). 12. Macadâmias (Macadâmia spp.). 13. Nozes (Juglans spp. 14. Pecãs (Carya spp.). 15. Pistaches (Pistacia spp.). 16. Pinoli (Pinus spp.). 17. Castanhas (Castanea spp.). 18. Látex natural. 4. 4 Nova regra sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados A Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou por unanimidade, em 07/10/2020), a nova norma sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados. A medida visa melhorar a clareza e a legibilidade das informações nutricionais presentes no rótulo dos alimentos e auxiliar o consumidor a realizar escolhas alimentares mais conscientes. As normas entrarão em vigor 24 meses após a publicação no Diário Oficial da União (D.O.U.), por meio de uma Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) e de uma Instrução Normativa (IN), sendo que os produtos que se encontrarem no mercado na data da entrada da norma em vigor terão, ainda, um prazo de adequação de 12 meses. Os alimentos fabricados por empresas de pequeno porte, como agricultores familiares e microempreendedores, também possuem um prazo de adequação, mas de 24 meses após a entrada em vigor, totalizando 48 meses no total. 126UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 4. 4. 1 Rotulação frontal A nova resolução desenvolveu um design de lupa para identificar o alto teor de três nutrientes: açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio. Que deverá ser aplicado na frente do produto, na parte superior, por ser uma área facilmente capturada pelo nosso olhar. FIGURA 2 NOVA ROTULAGEM EXIGIDA PELA ANVISA Fonte: ANVISA (2019) 4. 4. 2 Tabela de informação nutricional A nova tabela passará a ter apenas letras pretas e fundo branco , evitando que o uso de contrastes atrapalhem a legibilidade das informações. Além disso, passará a ser obrigatória a identificação de açúcares totais e adicionais, a declaração do valor energético e nutricional por 100 g ou 100 ml, para ajudar na comparação de produtos, e o número de porções por embalagem. FIGURA 3 NOVA TABELA DE INFORMAÇÃO NUTRICIONAL EXIGIDA PELA ANVISA Fonte: ANVISA(2019) 127UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos 4. 4. 3 Alegações nutricionais As alterações nas regras para a declaração das alegações nutricionais visam evitar contradições com a rotulagem nutricional frontal. FIGURA 4: Fonte: ANVISA (2019) SAIBA MAIS A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou proposta que regulamenta a doa- ção de alimentos industrializados, embalados ou in natura que tenham perdido a con- dição de comercialização (amassados, com aparência pouco atraente, por exemplo), mas estejam dentro do prazo de validade. Pela proposta, fica proibido o descarte de ali- mentos que estejam dentro do prazo de validade para venda e próprios para consumo, sujeitando o infrator a multa a ser definida em regulamento. O texto aprovado cria a Política Nacional de Combate ao Desperdício e à Perda de Alimentos (PNCDA), que terá como objetivos aumentar o aproveitamento dos gêneros alimentícios disponíveis para consumo humano, animal ou para a utilização em com- postagem. Fonte: Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/540510-comissao-aprova-politica-contra-des- perdicio-e-proibe-descarte-de-alimentos-dentro-da-validade/ https://www.camara.leg.br/noticias/540510-comissao-aprova-politica-contra-desperdicio-e-proibe-descarte-de-alimentos-dentro-da-validade/ https://www.camara.leg.br/noticias/540510-comissao-aprova-politica-contra-desperdicio-e-proibe-descarte-de-alimentos-dentro-da-validade/ 128UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos REFLITA “Sem esforços claros para promover ações de prevenção a dietas não saudáveis, os índices crescentes das Doenças Crônicas Não Transmissíveis permanecerão à margem das ações globais de saúde. Os Estados não podem permanecer passivos diante das DCNTs. Eles devem adotar uma abordagem integral para reduzir o consumo de alimen- tos não saudáveis por meio do uso de um conjunto de leis e regulamentos amplos. A rotulagem frontal de advertência é a peça-chave para os países enfrentarem às DCNTs” Dainius Pūras, relator especial da ONU para o Direito à Saúde. Disponível em: https://idec.org.br/noticia/onu-apoia-modelo-de-rotulagem-frontal-de-advertencia-nos-alimentos#:~:- text=%E2%80%9CSem%20esfor%C3%A7os%20claros%20para%20promover,permanecer%20passi- vos%20diante%20das%20DCNTs. https://idec.org.br/noticia/onu-apoia-modelo-de-rotulagem-frontal-de-advertencia-nos-alimentos#:~:text=%E2%80%9CSem%20esfor%C3%A7os%20claros%20para%20promover,permanecer%20passivos%20diante%20das%20DCNTs https://idec.org.br/noticia/onu-apoia-modelo-de-rotulagem-frontal-de-advertencia-nos-alimentos#:~:text=%E2%80%9CSem%20esfor%C3%A7os%20claros%20para%20promover,permanecer%20passivos%20diante%20das%20DCNTs https://idec.org.br/noticia/onu-apoia-modelo-de-rotulagem-frontal-de-advertencia-nos-alimentos#:~:text=%E2%80%9CSem%20esfor%C3%A7os%20claros%20para%20promover,permanecer%20passivos%20diante%20das%20DCNTs 129UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos no decorrer desta Unidade, uma das etapas importantes no pré-preparo dos alimentos é o descongelamento, que deve ocorrer sempre em temperatura controlada. Nas etapas de pré-preparo é importante que o manipulador sempre esteja com as mãos higienizadas e com a bancada de preparo e utensílios também higienizados, para que não ocorra contaminaçãocruzada entre os vários gêneros de alimentos durante a manipulação. Os alimentos devem ser manipulados por um período curto de tempo, impe- dindo que o alimento fique muito tempo em temperatura ambiente, o que pode ocasionar o crescimento de microrganismos. O tratamento térmico é a etapa essencial que assegura a redução ou eliminação da carga microbiana de alguns alimentos, sendo que os alimentos devem atingir, no mínimo, 70°C no centro geométrico. Na etapa de espera pós-cocção, os alimentos que serão distribuídos, devem estar protegidos de novas contaminações e também devem ser mantidos sob rigoroso controle de tempo e temperatura. Na etapa de reaquecimento, os alimentos mantidos em espera, que já sofreram cocção inicial e perderam temperatura, devem atingir novamente a temperatura 60ºC.. Na etapa de distribuição, os alimentos estão expostos para o consumo imediato, porém sob controle de tempo e temperatura, para não ocorrer multiplicação microbiana; sendo que é proibido o reaproveitamento de sobras que foram levadas para a distribuição e todas as sobras da distribuição devem ser desprezadas. Os alimentos acondicionados no serviço de alimentação precisam estar identifica- dos, respeitando a data de validade indicada pelo fabricante ou pela legislação específica. Vimos também que a rotulagem de alimentos tem uma legislação estabelecida pela ANVISA, que exige a rotulagem nutricional e alerta para consumidores especiais (portado- res de diabetes, hipertensão, doença celíaca, dentre outros) bem informados consomem os alimentos com maior segurança não só em relação ao valor calórico e demais nutrientes do produto, mas também em relação aos constituintes que podem desencadear reações adversas no organismo, 130UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos LEITURA COMPLEMENTAR SAIBA O PODER DAS CORES NO DESIGN DE EMBALAGENS Artigos e textos diferentes que tragam informações interessantes, atuais, dicas, casos reais ou aplicação de conceitos que o aluno está aprendendo tornam a leitura mais empolgante e auxiliam na fixação do que foi estudado. Muitos elementos são levados em conta no momento de projetar uma embalagem: formas, texturas, matérias-primas e diversos conceitos. No entanto, um item muito impor- tante, e que pode definir o sucesso ou o fracasso comercial de um produto, é a cor de sua embalagem. As cores podem estrategicamente invocar inúmeras sensações e desejos, desper- tando no consumidor a vontade de consumir determinados produtos baseando apenas nas cores de sua embalagem. Com o mercado cada vez mais competitivo e o constante fluxo de novos produtos inundando as prateleiras a cada minuto, o uso das cores nas embalagens é uma excelente maneira de captar a atenção de novos consumidores e também uma ótima maneira de estimular a fidelização daqueles que já confiam no seu produto. Como a escolhas das cores em embalagens afetam suas vendas ● Reconhecimento da marca: a escolha das cores pode aumentar em cerca de 80% o reconhecimento da sua marca, influenciando diretamente na confiança do consumidor. ● Razão de compra: em média, 85% dos consumidores indicam a cor como prin- cipal fator de compra de um determinado produto. ● Aspecto visual: o uso de cores é determinante no lançamento de novos produtos, uma vez que é necessário estabelecer a conexão emocional com o consumidor e conquistar sua confiança, levando-o a comprar. Cases de usos da cor Cada tonalidade, como veremos à frente, tem um conjunto de significados espe- cífico, e devem ser muito bem escolhidas para garantir o sucesso de vendas. Pense na Coca-Cola ou na Maizena, por exemplo: as cores usadas são praticamente sinônimo das marcas que as vestem. http://blog.sulprint.com.br/passo-a-passo-para-criacao-de-uma-embalagem-de-sucesso/?utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost http://blog.sulprint.com.br/como-a-embalagem-de-um-produto-influencia-no-processo-de-branding/?utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost 131UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Como exemplo oposto, temos a iniciativa de governos da Europa e da Austrália, que financiaram pesquisas para descobrir a cor mais vista como feia e repulsiva, posteriormente obrigando os fabricantes de cigarro a usarem-na em suas embalagens, em um esforço para conter o tabagismo. Pesquisas iniciais apontam o sucesso da iniciativa. O poder das cores quentes em embalagens As cores quentes são o vermelho, laranja, amarelo e todos os tons que sejam ob- tidos da mistura dos três, incluindo azuis ou verdes mais claros. No geral, trazem energia, chamam a atenção e estimulam o desejo do consumidor. Um caso clássico é a identidade visual da rede McDonald ‘s: a mistura de vermelho e amarelo tem a intenção de despertar o desejo no consumo. Outros usos comuns do vermelho são em embalagens de café (pela associação forte com a energia proporcionada pelo produto) ou frascos de perfume, em que inspiram paixão e sensualidade. Vermelho - A mais quente e mais dinâmica das cores. Estimula a energia e o senso de urgência. Incentiva ações de confiança, aumenta a paixão e a intensidade. Fornece uma sensação de proteção ao medo e à ansiedade. Ideal para anunciar promoções, pois incentiva a compra por impulso. Amarelo - A mais energizante entre as cores quentes, transmite felicidade, estimu- la e conforta. Incentiva a conversação e o otimismo e o intelecto, sendo a cor ideal para anunciar novas ofertas e em embalagens para prender a atenção do consumidor. Azul - Estimula a calma, a confiança e a tranquilidade. Muito usada em sites de ins- tituições bancárias e corporativas, é usada para transmitir profissionalismo e confiabilidade. Preto - Estimula a sensação de poder e sofisticação, normalmente usada para vender produtos de alto valor e sofisticação. Também é uma cor utilizada para agregar valor a marcas e produtos que visam um público-alvo com maior poder aquisitivo. Laranja - Estimula a vivacidade, o entusiasmo natural e a impulsividade. É uma cor equilibrada, vibrante e cheia de energia. É ativa e sociável, porém menos excitante que o vermelho, mas igualmente agradável e estimulante. Verde - Cor que representa equilíbrio e rejuvenescimento. Representa possibili- dades e estabilidade. Muito associada a produtos de saúde, pois transmite tranquilidade, vitalidade, fertilidade, e possui um efeito calmante e alivia o stress. Roxo - Representa a nobreza, riqueza, sabedoria e sucesso. É calmante, e muito utilizado em produtos de beleza, perfumes, produtos cosméticos ou anti-idade. Representa bem marcas, instituições ou serviços criativos, prosperidade e mistério, mas também têm espaço em caixas de sucos de frutas roxas. http://exame.abril.com.br/marketing/cor-mais-feia-do-mundo-e-usada-contra-o-tabagismo?utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost&utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost 132UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos Cuidados a serem tomados ao escolher as cores de embalagens Azuis, verdes e roxos são exemplos de cores frias. São mais calmas e aconche- gantes, mas devem ser utilizadas com cuidado para não transmitir sobriedade em excesso. O verde, a cor da natureza, é sempre visto em embalagens de produtos que queiram evocar ingredientes naturais ou não agressivos, mas deve-se ter cautela para não causar o estranhamento quando usada em produtos alimentícios, já que não é tão efetiva como as cores quentes nesse aspecto. Azuis e roxos são ainda mais sóbrios: enquanto tons de azul são associados a emba- lagens de água, significando pureza, deve-se evitar usá-lo em embalagens alimentícias, pois é uma cor muito pouco encontrada no ambiente natural, causando estranhamento ao consumidor. Já os tons neutros, como preto, branco e cinza, devem ser usados com parcimônia. O preto traz distinção e luxo, mas em excesso pode deixar uma impressão muito pesada já que em grande parte da cultura ocidentalé a cor associada ao luto. O branco, por sua vez, é sinônimo de calma e paz, mas também de vazio. O cinza é tido como uma cor extremamente neutra e sem personalidade, embora seja associada com sucesso a produtos tecnológicos e metálicos. A relação das cores com diferentes grupos de consumidores Além de estimular o comportamento e o consumo, as cores também têm um papel importante em atrair e definir o tipo de público que determinados produtos e marcas vão ser associados. Compreender as características e a relação das cores com as personalidades de cada público é fundamental para a escolha das cores de seus produtos. Consumidores compulsivos serão atraídos pelas cores vermelho, amarelo, azul royal e laranja. É frequentemente usada por empresas que operam no setor do varejo e de alimentação. Já os consumidores racionais estão mais propensos a se atraírem por cores mais sóbrias como verde, azul-marinho, e são frequentemente utilizadas por empresas que pos- suem um público com renda fixa, e que racionalizam antes de comprar produtos. A preferência de cores entre gêneros é um fator a ser considerado. Também é importante ressaltar que a escolha de cores de embalagens de produ- tos também deve considerar um fator crucial na hora da escolha de um produto, que é o gênero. Estudos apontam que homens e mulheres gostam de cores diferentes, e tendem a consumir produtos que levam essas preferências em consideração. Homens tendem a escolher as cores azul, verde e preto, e não são atraídos pelas cores marrom, laranja e roxo. Mulheres mostram clara preferência pelas cores azul, roxo e verde, e se afastam das cores laranja, marrom e cinza. Com essas dicas, você já pode pensar em uma paleta cromática adequada ao produto que precisa embalar, avançando um passo em direção ao sucesso de vendas! Fonte: Disponível em:https://blog.sulprint.com.br/saiba-o-poder-das-cores-no-desig- n-de-embalagens-2/ http://blog.sulprint.com.br/a-importancia-do-controle-de-qualidade-da-embalagem-alimenticia/?utm_source=blog&utm_campaign=rc_blogpost 133UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual de BPF, POP e Registros em Estabelecimentos Alimentícios Autor: Clever Jucene. Editora: Rubio. Sinopse: A legislação sanitária vigente, aplicável aos estabeleci- mentos alimentícios, apresenta exigências a serem cumpridas tanto pelas indústrias alimentícias quanto pelos serviços de alimentação, para que seja garantida a produção e o fornecimento de alimentos de maneira segura. Essas exigências englobam diversos aspectos do processo de manipulação e preparo de alimentos, podendo ser divididas em quatro grupos principais: Requisitos relacionados aos manipuladores de alimentos: os comportamentos adequados aos manipuladores de alimentos, as normas de higiene e saúde a serem atendidas, a composição e condição do vestuário etc.Requisitos relacionados aos ambientes de manipulação: a localização do estabelecimento, os edifícios, os materiais utilizados na construção, as barreiras físicas e sanitárias estabelecidas etc. Requisitos relacionados à manipulação segura dos alimentos: os critérios para aquisição de matérias-primas, as condições de arma- zenamento, pré-preparo, preparo, cuidados pós-preparo etc. Requisitos relacionados aos processos de controle e garantia da quali- dade dos alimentos: a higienização, o controle da qualidade da água, o manejo de resíduos, a prevenção da contaminação cruzada etc. Além de apresentar as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e es- tabelecer a obrigatoriedade de criação das mesmas em todas as empresas do setor alimentício, a legislação sanitária também. LIVRO 02 Título: Unidades Produtoras de Refeições - uma visão prática Autor (es): Carla de Oliveira Barbosa Rosa e Márcia Regina Pereira Monteiro. Editora: Rubio. Sinopse: A alimentação coletiva consiste em uma área de atuação re- levante para os nutricionistas no mercado de trabalho. Ela compreende o atendimento alimentar e nutricional de clientela ocasional ou definida, em sistema de produção por gestão própria ou em forma de concessão (terceirização). Unidades Produtoras de Refeições: Uma Visão Prática traça as vi- vências de profissionais da área de Nutrição que se empenham pela atualização de estratégias de gerenciamento, comprometidos com a qualidade dos serviços e com a saúde de consumidores, premissas básicas para obter resultados finais seguros e adequados. A abordagem dos autores tem por objetivo apresentar de maneira prática as atividades desempenhadas por profissionais da área de alimentação que constantemente encontram desafios e/ou limitações no exercício de suas atividades. Assim, esta obra certamente facilitará a tomada de decisões e levará os profissionais a compreenderem que as estratégias para a concretização de um trabalho adequado estão nas inúmeras medidas preventivas e consideradas parâmetros legais para o exercício da profissão. 134UNIDADE III Boas Práticas na Fabricação de Alimentos FILME/VÍDEO Título: Rotten - a verdade é difícil de engolir Ano: 2018. Sinopse: Esta série documental revela a verdade sobre a crise na indústria alimentícia, onde o lucro e as fraudes estão em alta, e os pequenos fazendeiros lutam para sobreviver. 135 Plano de Estudo: ● Introdução à Técnica Dietética; ● Ovos, leite e derivados ; ● Óleos e gorduras; ● Cereais e leguminosas; ● Frutas e hortaliças; ● Açúcares e edulcorantes; ● Carnes, aves e pescados. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a importância da técnica dietética e suas principais operações preliminares; ● Compreender definição, classificação, tipos, valor nutritivo e as propriedades e características dos principais óleos e gorduras utilizados em produtos alimentícios; ● Entender a definição, o valor nutricional, os tipos de leguminosas e cereais, além das proprieda- des relacionadas à presença de amido e glúten nos alimentos; ● Conhecer a definição, estrutura, classificação, valor nutritivo, conservação e propriedades dos ovos, do leite e seus derivados; ● Conhecer a definição, classificação, tipos, valor nutritivo, propriedades e características de açú- cares e edulcorantes, e sua importância para a fabricação de diversos produtos alimentícios; ● Compreender o conceito, estrutura, classificação botânica, comportamento dos pigmentos, valor nutritivo, classificação quanto ao teor de carboidratos, seleção, armazenamento e preparo de hortaliças e frutas; ● Conhecer a nomenclatura, estrutura, valor nutritivo, classificação, características, cor, seleção e utilização de carnes, aves e pescados, compreendendo as particularidades de cada grupo e ainda a reconhecer características para compra e consumo destes alimentos. UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética Professora Ma. Flávia Helena Franco de Moura 136UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética INTRODUÇÃO Nas unidades anteriores, estudamos todos os procedimentos que devemos obser- var para produzir e fornecer um alimento seguro,dentro das normas de BPF estabelecidas pela Legislação Brasileira. Como vimos, as Doenças Transmitidas por Alimentos são causadoras de muitos casos de intoxicação, toxinose e toxinfecção em consumidores e as Boas Práticas dos ma- nipuladores, bem como a saúde dos mesmos, é fundamental para reduzir os riscos de DTA. As condições ambientais da UAN, tanto interna quanto externas, a higiene dos utensílios, equipamentos e do ambiente onde se preparam os alimentos, os cuidados com o lixo, os cuidados com a água e o controle de praga, não são menos importantes que os cuidados com os manipuladores de alimentos. A partir do momento em que definimos o cardápio a ser executado, precisamos ter todos os cuidados com a escolha dos fornecedores, para adquirirmos alimentos de qualidade comprovada, além dos cuidados com o recebimento, o pré-preparo, o preparo, a conservação, o acondicionamento,o transporte e a distribuição dos alimentos. Mas de que adianta todos esses cuidados, se não sabemos preparar adequada- mente um determinado alimento ? Cada grupo de alimentos exige uma técnica adequada de preparo para o melhor aproveitamento dos nutrientes e um menor desperdício de in- sumos. Além disso, precisamos calcular qual a quantidade aproveitável de cada grupo de alimentos, e preparar a ficha técnica de cada preparação, para que os funcionários tenham um POP para seguir e todas as preparações sejam sempre produzidas da mesma maneira e com as mesmas quantidades. Convido você, aluno de Gastronomia, para conhecer as Técnicas Dietéticas dos principais grupos de alimentos utilizados em uma UAN, e assim, aproveitar ao máximo os insumos e preparar alimentos com a maior quantidade de nutrientes, textura adequada e sabor inigualáveis. BONS ESTUDOS! 137UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 1. INTRODUÇÃO À TÉCNICA DIETÉTICA A técnica dietética é baseada em ciências exatas que estuda as operações tecnoló- gicas pelas quais os alimentos passam após cuidadosa seleção, além das modificações que estes sofrem durante as etapas de pré-preparo e preparo para o consumo, visando preservar o valor nutricional e obter os caracteres sensoriais desejáveis, tanto nas atividades de avalia- ção do consumo quanto no planejamento da dieta de indivíduos e grupos (ORNELAS, 2007; PHILIPPI, 2014; DOMENE, 2011). Ou seja, na técnica dietética precisaremos desenvolver diversos cálculos com o ob- jetivo de determinar as perdas ou ganhos que o alimento sofre durante o seu preparo, além do custo de uma receita e seu valor nutricional. Ao mesmo tempo, deveremos escolher o método de preparo (calor úmido, seco ou misto) mais adequado para preservar ou melhorar as características de cor, sabor, textura, odor, consistência, dentre outras dos alimentos, respeitando-se as exigências higiênico-sanitárias. 1. 1 Conceitos Alguns termos são importantes para facilitar a compreensão dos termos que usare- mos no decorrer desta unidade: ● ALIMENTOS - Toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, pastoso, líquido ou qualquer outra forma adequada, destinada a fornecer ao organismo vivo os elementos necessários à sua formação, desenvolvimento e manutenção (ORNELAS, 2007). 138UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● NUTRIENTES - Qualquer substância normalmente consumida como um cons- tituinte do alimento e que fornece energia ou é necessária para o crescimento, desenvolvimento e manutenção da saúde; ou cuja deficiência resulta em mu- danças bioquímicas e fisiológicas no organismo (Portaria n°. 31/98 da ANVISA). São classificados em: macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios) e micronutrientes (vitaminas, minerais e fibras). Mas qual a diferença entre culinária e gastronomia ? ● CULINÁRIA - É a arte de modificar os alimentos, tornando-os mais atrativos sensorialmente e de mais fácil digestão (ORNELAS, 2007). ● GASTRONOMIA - É a arte de combinar os alimentos e extrair deles o sabor soberano, buscando acentuar os sentidos. De acordo com Freixa e Chaves (2008), a origem da palavra vem do grego gaster (estômago) e nomo (lei), que pode ser literalmente traduzida por “as leis do estômago”. Os principais objetivos da técnica dietética para a gastronomia, são: ● NUTRICIONAL OU NUTRITIVO: selecionar os melhores métodos de preparo dos alimentos para conservar o máximo do seu valor nutritivo. A preservação dos nutrientes é observada desde a seleção, compra e armazenamento até o consumo. ● DIGESTIVO: modificar os alimentos com a intenção de facilitar a digestão, an- tecipando os processos digestivos por meio do preparo do alimento. Deve levar em consideração as condições do aparelho digestório do indivíduo (imaturo, lesado ou desgastado). ● HIGIÊNICO: eliminar a ação de contaminantes biológicos, físicos ou químicos que prejudicam a qualidade dos alimentos e, ao mesmo tempo, prevenir a dete- rioração e prolongar sua vida útil. ● SENSORIAL: apresentar as características sensoriais próprias que o alimen- to possui (aspecto, cor, sabor, aroma, consistência, entre outros) que podem torná-los atraentes com cortes variados, formas de cocção, molhos diversos, acompanhamentos diferentes, combinações de cores e sabores, dentre outros. ● ECONÔMICO: empregar de forma correta e rendosa o dinheiro, energia e tem- po, escolhendo técnicas de preparo que considerem custos, recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis. Neste caso, quanto mais se mantiver o valor 139UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética inicial do alimento, maior será sua contribuição na conservação da saúde e maior será o proveito tirado do dinheiro que nele se aplicou, havendo, então, a necessidade de simplificar as operações para melhorar a relação custo/ bene- fício da preparação. ● SUSTENTÁVEL: produzir alimentos racionalizando recursos (água e energia) com menor produção de resíduos, utilizando partes normalmente descartadas dos alimentos. Palavras de ordem: ecologia e desenvolvimento sustentável. 1. 2 Características dos Alimentos São próprias de cada alimento e refletem a sua individualidade. Quando os ali- mentos são combinados ou preparados, elas podem alterar, por isso essas características devem ser consideradas na modificação dos alimentos e na produção de novas receitas. 1. 2. 1 Características Físicas Segundo Ornelas (2007), as principais características físicas dos alimentos são: ● Aspecto - consiste em verificar a aparência do alimento. ● Cor - deve-se à presença de pigmentos naturais (próprios do alimento – clo- rofilas, mioglobina, hemoglobina, flavonoides, taninos, quinonas, xantonas, carotenóides, entre outros) ou artificiais. ● Aroma e sabor - resulta da presença de um grande número de substâncias nos alimentos e da percepção de sabor e odor que interagem com processos psicofisiológicos complexos, variando de um indivíduo para outro. Os receptores do sabor estão localizados na língua (papilas gustativas), variando a localização para cada tipo de sabor, sendo 4 os básicos: salgado, doce, ácido, amargo e um quinto chamado “umami”. Temperaturas extremas reduzem temporariamente a sensibilidade aos sabores. Lembrando que 90% daquilo que consideramos como sabor na verdade é cheiro. ● Consistência - refere-se ao estado físico que o alimento ou preparação se encontra à temperatura ambiente. Podendo ser líquida (infusões fracas, sucos coados, sopas coadas e/ou liquidificadas; semilíquida (líquidos espessos, sucos, papas, entre outros); branda ou pastosa (purê, bolos, fruta sem casca, papas, arroz bem cozido, entre outros) e normal ou sólida (carne assada, verdura crua, fruta com casca). 140UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Textura - é como percebemos ou como medimos indiretamente os elemen- tos estruturais presentes nos alimentos, quando submetidos a deformações mecânicas. Os elementos utilizados para avaliar a textura são: viscosidade, plasticidade, dureza, resistência à tração, ao corte e à compressão, pressão necessária para produzir um líquido. 1. 2. 2 Características biológicas Os nutrientes que integram os alimentos podem se alterar principalmente pelas operações e pelos tratamentos empregados na cozinha e determinam os processos a serem executados no alimento (ORNELAS, 2007). Assim, esta característica associa-se à presença de purinas nos alimentos, que pela ação de enzimas específicas convertem-se em ácido úrico. Esse ácido, quando acu- mulado em nosso organismo, ocasiona uma doença chamada “gota”. Cabe ressaltar que as purinas são facilmente extraídas dos alimentos, principalmente os cárneos, por meio do cozimento em calor úmido. Os alimentos podem ser classificados em: ● Apurinícos: alimentos sem purinas ● Hipo Purínicos: alimentos com quantidademoderadas de purinas ● Hiper Purínicos: alimentos com grandes quantidades de purinas 1. 2. 3 Características físico-químicas São características determinadas pela composição química dos alimentos e envol- ve sempre a presença de determinado nutriente e as principais são: ● Solubilidade - é a capacidade de um alimento em se dissolver em outro alimen- to. Ex.: farinha de trigo em leite; leite em pó, açúcar ou café solúvel em água. ● Termoestabilidade - é a temperatura em graus que o alimento apresenta e tem influência sobre o sabor, e podem ser : frio, morno, gelado, quente ou à temperatura ambiente. Depois da ingestão, os alimentos tendem a equilibrar a sua temperatura com a do organismo, e a rapidez com que isto ocorre varia com a consistência do alimento e a forma como são ingeridos. ● Hidratação - capacidade do alimento em absorver líquido. ● Gelatinização - capacidade do alimento em formar gel ou gelatina, ex.: gelati- nização do amido. 141UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Coagulação - capacidade do alimento de converter-se em sólido, ex.: coagula- ção do leite, do ovo ou das carnes. ● Hidrólise - capacidade do alimento de hidrolisar. A reação de hidrólise consiste na quebra do nutriente, ex.: a proteína do leite é hidrolisada pela ação de bacté- rias na produção de iogurte. ● Embebição - Ato ou efeito de embeber; impregnação; absorção de um líquido por um sólido poroso. 1. 3 Indicadores de preparo de alimentos Os indicadores de preparo de alimentos foram estabelecidos para indicar a relação de perdas ou ganhos de peso do alimento durante as etapas de pré-preparo e preparo (ABREU; SPINELLI, 2014). A retirada de partes do alimento durante o seu pré-preparo e o aumento ou perda de peso durante o preparo, quando comparado com o peso inicial, motivaram a criação do fator de correção (FC) e do indicador de conversão (IC), que podem ser utilizados para dimensionar compra, custo e rendimento de alimentos e preparações, além do índice de reidratação (IR), que prevê o ganho de peso de um alimento quando submetido à etapa de remolho. É importante que você conheça alguns termos utilizados na dietética> ● Peso bruto (PB) - é o peso do alimento como é adquirido, com cascas, sementes, talos, ossos, entre outros, usado no dimensionamento de pedidos de compra e cálculo de custo. ● Peso líquido (PL) - é o peso do alimento cru, obtido com a eliminação das aparas. ● Per capita → Quantidade do alimento cru por pessoa ● Porção → Quantidade do alimento/preparação já cozido e pronto para o consu- mo por pessoa. 1. 3. 1 Fator de Correção (FC) Prevê as perdas inevitáveis ocorridas no pré-preparo, quando os alimentos são lim- pos (folhas murchas, queimadas, sementes, sujidades, entre outros), descascados (casca e talos), desossados (ossos) ou cortados (aparas) (PHILIPPI, 2014). Os alimentos utilizados para determinar o FC sempre estão crus, seja ele o PB ou o PL. A fórmula mostrada abaixo é utilizada para determinar o fator de correção: Peso bruto (PB) FC = ----------------------- Peso líquido (PL) 142UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética Devemos sempre atentar aos seguintes aspectos: 1. Os alimentos, sejam ele PB ou PL, devem estar na mesma unidade (g ou Kg) 2. Para os alimentos (principalmente os não perecíveis) em que não se faz neces- sária a etapa de limpeza, o FC é igual a 1, pois o PB é igual ao PL. Ex: farinha, açúcar, amido, etc. Nos serviços de alimentação sempre se busca um FC mais próximo de 1, pois isto indica menor perda e, consequentemente, menor custo. 1. 3. 2 Indicador de conversão (IC) O indicador de conversão prevê as modificações sofridas (aumento ou redução de peso) pelos alimentos em razão de agentes químicos (ação de ácidos), agentes biológicos (fer- mentos) ou fatores físicos (temperatura), ou seja, é a ação externa que os alimentos recebem na passagem de um estado para outro (cocção, congelamento, descongelamento), fazendo com que ganhem ou percam peso (líquido) (ABREU; SPINELLI, 2014; PHILIPPI, 2014). Destes fatores, o mais comum é o físico, por isso, quando falamos de indicador de conversão, estamos fazendo referência ao índice ou fator de cocção (IC). Além do tipo de calor (úmido ou seco), outros fatores interferem no produto final: ● Intensidade de calor ● Tempo de cocção ● Espécie de utensílios ● Adequação de equipamentos ● Qualificação da mão de obra ● Diferentes preparações para um mesmo alimento (assado, grelhado, gratinado, ● refogado e desidratado) O resultado da conversão do alimento pode ser maior ou menor do que 1. Quando é menor que 1, indica que o alimento perdeu peso durante o processo de cocção e, quando é maior que 1, indica que houve ganho de peso. Este índice é obtido por meio da fórmula: Peso do alimento cozido (PAC) IC = ------------------------------------------- Peso líquido (PL) Para o indicador de conversão, é importante que você esteja atento para os seguin- tes aspectos: 143UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Para obter o IC de preparações como feijoada, cozido, lasanha, polenta com molho, a soma de todos os pesos líquidos dos ingredientes deve ser utilizada. ● Alimentos in natura ou consumidos crus não podem ter seu IC calculado; ape- nas o FC quando submetido a algum pré-preparo (ex.: cortados em cubos) ou consumidos de forma diferente (ex.: laranja espremida para suco). ● Conhecer o IC permite que as quantidades de alimentos nos processos de compra sejam estimadas adequadamente. 1. 3. 3 Índice de reidratação Alguns alimentos comercializados na forma seca necessitam ficar imersos em líquido por um tempo para serem reidratados antes do consumo ou do cozimento. Neste processo, quando o alimento fica de remolho pelo tempo adequado, sofre um aumento em seu peso pela hidratação a que foi submetido, contudo o tempo de cocção é reduzido (ABREU; SPINELLI, 2014; PHILIPPI, 2014). Alguns cereais e a maioria das leguminosas são aqueles que necessitam de rei- dratação, a exemplo do trigo para tabule, do feijão ou do flocão de milho para preparo de cuscuz que, depois do remolho, apresentam um aumento de volume de 2 a 3 vezes em relação ao peso seco (peso inicial). Para mensurar o índice de reidratação que sempre será maior do que 1, a fórmula a seguir deve ser utilizada. Peso do alimento reidratado IC descongelamento = ------------------------------------------------ Peso do alimento seco ou líquido 1. 4 Ficha técnica A ficha técnica de preparação (FTP) é um instrumento gerencial e de apoio operacional, que padroniza receitas identificando os seus componentes com as características de produção de cada preparação, além de levantar custos, ordenar o preparo e sugerir a montagem dos pratos que são ou podem ser preparados em um ambiente doméstico ou institucional. É uma ferramenta importante para a formação de preço de vendas, fixação de padrões e histórico das receitas (VASCONCELLOS, 2002; VAZ, 2006; ABREU e SPINELLI, 2014). 144UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 1. 4. 1 Objetivos para montagem de Ficha Técnica de Preparação ● Tornar a receita reproduzível. ● Manter controle sobre os custos (insumos ou preparação). ● Aumentar a produtividade: instrumento de treinamento para o manipulador. ● Preparo correto com pouca interferência de diferentes manipuladores. ● Controlar o preço praticado dimensionando a margem de lucros e revisando os cardápios. ● Evitar a monotonia na produção dos cardápios. ● Assegurar permanentemente padrões de qualidade adquiridos, tanto em termos quantitativos (porção) quanto qualitativos (sabor, aroma, apresentação). 1. 4. 2 Vantagens do uso de Ficha Técnica de Preparação ● Diminui as perdas na cozinha porque padroniza as quantidades dos insumos utilizados e determina os produtos que comporão os pratos, evitando excessos. ● Dinamiza o trabalho dos responsáveis pelo serviço de sala, pois todos os pro- fissionais devem teracesso à ficha e conhecer o conteúdo dos pratos para esclarecer o cliente. ● Facilita a preparação dos pratos, uma vez que será a única fonte informativa em caso de dúvidas quanto a alguma preparação. ● Permite o bom treinamento de novos cozinheiros, evitando que os profissionais recém-contratados tragam os seus vícios para a cozinha. ● Serve de base para o cálculo do preço de venda dos pratos, facilitando a altera- ção de valores em momentos de instabilidade econômica. ● Facilita o trabalho do setor de compras, ajudando na programação de compras. ● Garante ao cliente qualidade e quantidade das preparações servidas. ● Ajuda no controle de desvios no estoque servido como controle documentado para verificar falhas. 1. 4. 3 Estrutura da Ficha Técnica de Preparação A estrutura da Ficha Técnica de Preparação pode variar de acordo com o perfil e a necessidade de cada serviço, mas basicamente três partes devem ser utilizadas em qualquer serviço: nome, ingredientes e modo de preparo. Além destas, pode conter as seguintes informações: 145UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 1. Nome da receita (nome fantasia) - deve ser atrativo e claro, além de fácil identificação. Devemos ter cuidado e utilizar os termos corretos, escrevendo perfeitamente as palavras. De acordo com ABREU e SPINELLI (2014), receitas clássicas que tiverem ingredientes modificados não deverão mais ter o mesmo nome, e aquelas com componentes que não sejam usuais ao tipo de preparação devem trazer junto ao nome o alerta para eventuais casos de intolerância. 2. Número da ficha - juda a ordenar e organizar o arquivamento da ficha. 3. Categoria - pode ser: sobremesa, entrada, prato principal, opção do prato principal, guarnição/ acompanhamento, bolos, tortas, doces, salgados, bebida, entre outros. 4. Preparado por - neste campo, deve ser escrito o nome de quem preparou a ficha/receita. 5. Aprovada em - é a data em que a ficha foi finalizada, ou seja, é a data em que a preparação foi devidamente aprovada para entrar no cardápio. 6. Tempo de preparo - inclui o pré-preparo, o preparo e a montagem ou finalização do prato (quando houver). 7. Ingredientes - são todos os insumos in natura ou industrializados utilizados no preparo da receita. 8. Peso bruto (PB) ou quantidade - relacionar as quantidades de cada ingredien- te com suas aparas, como se faz nas receitas. 9. Peso líquido (PL) - é o peso do alimento depois de retirada as aparas e/ou cascas e sementes (quando houver). 10. Fator de correção (FC) - é o indicador de preparo de alimentos que mensura as perdas inevitáveis dos alimentos (quando houver) e é calculado pela divisão do PB pelo PL. Para alimentos não perecíveis como manteiga, açúcar, farinha de trigo, leite, dentre outros, normalmente o PL é igual ao PB e, por isso, o FC é igual a 1. 11. Unidade - refere-se à unidade de compra (forma de compra) de cada ingredien- te, ex.: kg, lata, grama, litro, caixa, pacote, garrafa, saco, maço, unidade. De forma geral, para facilitar a padronização, utiliza-se L ou Kg. 12. Modo de preparo - é como se faz a preparação no passo a passo, com uso dos termos técnicos (linguagem própria). Também é considerada a listagem das etapas de preparação da receita. 13. Número de porções - é quanto rende a receita por pessoa (per capita). Pode ser calculado, dividindo o peso da preparação pelo peso médio da porção ou pesando diretamente a porção depois que a preparação está pronta. 146UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 14. Custo unitário (de mercado) - é o preço de compra de cada ingrediente. Refe- re-se ao valor gasto para comprar a unidade do ingrediente. 15. Custo total (fração) - é o preço da quantidade de cada ingrediente equivalente à quantidade utilizada na receita (PB). Alguns ingredientes não possuem 100% de aproveitamento ou rendimento (carnes, frutas, legumes), assim, para saber o custo real do prato, é preciso calcular o preço da quantidade do ingrediente que será utilizado pelo PB. 16. Custo total da receita - equivale ao somatório dos custos dos ingredientes referentes às quantidades que foram efetivamente usadas na receita. É impor- tante para determinar o custo da porção. 17. Peso da preparação (rendimento da receita) - Refere-se ao peso do alimento cozido ou preparado em grama (g) ou quilo (Kg) no caso das preparações sóli- das/ pastosas ou em mililitro (mL) ou litro (L) para as preparações líquidas. 18. Peso da porção - é a divisão do peso da preparação pelo número de porções. 19. Custo da porção - é a divisão do custo total pelo número de porções. Também é considerado o número de porções produzidas com aquelas quantidades de ingredientes que apresentam certo valor (preço). 20. Rendimento (do alimento em %) - é o percentual de rendimento após a limpe- za do alimento. É determinado pelo fator de correção (FC) por meio da seguinte fórmula: Rendimento % = PL x 100/ PB ; Perda % = 100 – rendimento % 21. Foto do prato montado ou do passo a passo - se houver a possibilidade de fotografar a preparação final ou o seu passo a passo é interessante para visualizar como a preparação foi feita e o resultado final. 22. Listagem prévia de utensílios e equipamentos - facilita a organização e exe- cução da receita, especificando a forma de uso de cada um, ex.: fogão, balança eletrônica, xícara de café, xícara de chá, colher de sopa, pilão, liquidificador, forno, assadeira, espátula de silicone, panelas. 23. Temperatura de cozimento - deve ser indicada se for importante para alguma etapa do preparo. 147UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. OVOS, LEITE E DERIVADOS Neste tópico, daremos enfoque a dois grupos de alimentos nutritivos, ricos em pro- teínas de alto valor biológico e que apresentam uma diversidade de aplicações culinárias devido à sua composição. O primeiro é o ovo, alimento produzido no ovário das fêmeas de diversas espécies que possuem uma estrutura muito particular, dividindo-se em casca, clara e gema, sendo cada parte composta por um grupo de nutrientes. A clara é composta por proteínas de alta solubilidade, que são capazes de promover a formação de espumas e o endurecimento de preparações. A gema também possui proteína que favorece a coagulação e, ainda, a lecitina, fosfolipídio envolvido no processo de emulsificação. Além da forma natural, existem ovos desidratados, líquidos, liofilizados e congelados, chamados de industrializados, que possuem as mesmas características funcionais e auxiliam na produção de pães, bolos, sorvetes, mousses, suflês, entre outros. O segundo grupo refere-se ao leite e seus derivados, muito consumidos pela po- pulação, compostos por proteínas de alto valor biológico, gorduras e carboidratos, além de vitaminas e minerais. No mercado, há vários tipos de leite que podem ser adquiridos para consumo: integral, desnatado, semidesnatado, condensado, evaporado, entre outros. No leite, há a caseína, proteína que se destaca pela capacidade de produzir coalho sob aque- cimento ou em meio ácido, dando origem a alguns subprodutos como o queijo, o iogurte e a coalhada. Já a manteiga e o creme de leite são produzidos basicamente por batedura, por meio da fração lipídica do leite. 148UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 1 Ovos Segundo ABREU e SPINELLI (2014), os ovos são estruturas não fecundadas de fêmeas de aves. Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Brasil, 1990), a simples denominação “ovo” é entendida como os ovos de galinha. Alimentos muito versáteis e de grande importância nutricional e culinária, os ovos possuem uma diversidade de aplicações, devido ao seu bom teor de proteínas de elevada solubilidade, capacidade de formação de espuma e presença de lecitina e gordura na gema (DOMENE, 2011). O ovo de galinha produzido em escala industrial é o mais consumido no Brasil, seguido pelo de codornaque possui um tamanho interessante para o preparo de saladas. Já os ovos de pata e avestruz não são produzidos em escala comercial (DOMENE, 2011; PHILIPPI, 2014). 2. 1. 1 Valor nutricional Os ovos apresentam todos os nutrientes para o desenvolvimento de um novo ser, deste modo ele é fonte de proteínas de alto valor biológico, devido ao fornecimento de todos os aminoácidos essenciais, sendo inclusive considerado referência de valor biológico para as demais proteínas alimentares (ABREU; SPINELLI, 2014). Além disso, é constituído por vitaminas A, D, E, K e vitaminas do complexo B, além de cálcio, ferro, enxofre, fósforo, potássio e selênio, e a quantidade destas vitaminas e minerais depende da alimentação da ave. 2. 1. 2 Estrutura Os ovos possuem 03 partes fundamentais : casca, clara e gema. 149UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 1. 2. 1 Casca A casca dos ovos é composta por uma grande quantidade de carbonato de cál- cio, combinado com sais de magnésio e proteínas, originando uma estrutura porosa que favorece a troca de gases entre os ambientes interno e externo e a perda de água por evaporação. Recobrindo a casca há uma cutícula de cera que sela parcialmente os poros, impedindo a perda de água e a entrada de micro-organismos (DOMENE, 2011; ARAÚJO et al., 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). Segundo a coloração da casca, o ovo pode ser classificado em dois grupos: branco ou de cor (casca avermelhada), fato que depende da raça e da linhagem da ave, e não está associado ao valor nutritivo. A casca equivale de 8% a 11% do peso total do ovo (ABREU; SPINELLI, 2014; PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et al., 2014). O cálcio é o mineral que predomina na casca, mas a sua utilização na alimentação humana não deve ser estimulada, visto que há risco de contaminação, em especial pela Salmonella, havendo assim a necessidade de criteriosa desinfecção, além do fato de que a biodisponibilidade deste cálcio é muito baixa. A lavagem da casca deve acontecer sempre no momento do uso, a cloração pode ocorrer em uma solução de 100 ppm de cloro por 5 minutos, procedimento que diminui muito a contaminação por microrganismos, seguido de lavagem para remoção de traços de cloro antes do rompimento da casca (DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014). 2. 1. 2. 2 Clara A clara constitui em torno de 57% do peso total do ovo, está situada ao redor da gema e tem a finalidade de mantê-la centralizada. É composta por uma espessa mistura de proteínas e água, formando duas camadas que se diferenciam pela fluidez denominada de clara fluida e clara espessa. Quando crua, a clara fica translúcida, tornando-se opaca (branca) quando exposta ao calor (cocção) e na formação da espuma provocada pela in- corporação do ar na estrutura proteica. A clara é constituída principalmente pela proteína ovoalbumina, que corresponde de 50% a 54% das proteínas da clara, sendo constituída principalmente por lisina e triptofa- no. Pode ser desnaturada por agitação ou batimento em solução aquosa e coagula-se por aquecimento. É estável sob a ação do calor, contém enxofre reativo e é responsável pelo sabor, textura e coloração de ovos cozidos. 150UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 1. 2 .3 Gema Corresponde a 32% do peso total do ovo e é considerada uma emulsão de óleo em água, composta de proteínas (16%), lipídios (30% a 34%) e menos água (50%) do que a clara. Possui pigmentos como xantofila, caroteno, e riboflavina e, na composição dos lipídios, inclui gorduras simples e fosfolipídios (lecitinas e esteróis) (DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014; PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et al., 2014). A lecitina possui um efeito emulsificante, conferindo ao ovo a propriedade de esta- bilizar emulsões (DOMENE, 2011). Segundo ARAÚJO et al (2014), ovos de gema dupla não devem ser utilizados em preparações que exigem precisão na quantidade de ingredientes, visto que a proporção de gema em relação à clara está fora do padrão. 2. 1. 3 Seleção de ovos Segundo DOMENE (2011) e ABREU & SPINELLI (2014), ao comprar ovos, devem ser observadas as seguintes características ● Casca: íntegra, limpa, sem manchas, sem trincas, sem brilho, porosa e sem a presença de fungos interna e externamente Gema: deve ter cor uniforme, sem sinais de sangue que indicam hemorragia do animal ou embrião desenvolvido Clara: aderida à casca e espessa Além de alterações de odor e sabor com características de podridão e, ainda, sen- sação de conteúdo fluido ao sacudi-lo. 2. 1. 4 Armazenamento e conservação de ovos Os ovos devem ser guardados secos por 2 a 4 semanas a 5°C, em recipiente limpo, com a ponta para baixo, na parte interna do refrigerador e livre de umidade para evitar a proliferação de microrganismos. A porta do refrigerador deve ser evitada para armazenar os ovos, pois facilita eventuais choques e consequentemente trincas e ainda permite a oscilação de temperatura e a excessiva movimentação que não lhes conferem as melhores condições (DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014). Quando frescos, os ovos apresentam gema centralizada, alta, destacada e redonda, clara espessa que se espalha uniformemente ao redor da gema quando o ovo é quebrado e membranas aderidas à casca. Para verificar se o ovo é fresco, podem ser utilizadas as seguintes técnicas: 151UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Teste da luz: quando fresco, ao ser colocado contra a luz, o ovo parece denso e escuro por igual; se houver uma parte oca, o ovo pode estar estragado. ● Teste da água: quando colocado em um copo com água e sal, o ovo fresco ficará parado no fundo (estável); se for velho, flutuará. 2. 1. 5 Aplicações São três as principais características que as preparações com ovo apresentam: 1. Formação de Espuma - decorre da incorporação de ar que confere leveza e melhora a textura das preparações, sendo um importante agente de crescimento para produtos assados como merengues, suflês, bolos e mousses. 2. Endurecimento ou coagulação - quando submetidas ao calor, as proteínas do ovo se desnaturam causando endurecimento. Essa característica dá resistência a sobremesas e cremes, mas em excesso pode tornar o produto excessiva- mente firme e o uso excessivo de claras intensifica o efeito endurecedor. Assim, em bolos com mistura de farinha de trigo e amido, devemos usar mais gemas do que o ovo inteiro (DOMENE, 2011; ARAÚJO et. al., 2014). A coagulação da clara começa aos 57°C e, a partir de 70°C, torna-se sólido. Já a gema inicia a coagulação a 65°C e deixa de ser fluída a partir dos 70°C (ARAÚJO et. al., 2014). Quando os ovos são cozidos excessivamente e resfriados de forma lenta, é formada uma camada cinza-esverdeada conhecida como anel esverdeado, que resulta da formação de sulfeto de ferro, mas sem causar prejuízos nutricionais. 3. Emulsificação - a gema do ovo é considerada um ótimo agente emulsificante. A lecitina é o principal representante no ovo porque possui uma extremidade polar que tem afinidade com água e outra apolar que tem afinidade com gorduras. Maionese, sorvete de massa e bolos são exemplos de emulsões (DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014). 2. 1. 6 Ovos industrializados Os ovos também podem ser encontrados na forma líquida, congelada, liofilizada ou desidratada para serem utilizados como ingredientes em diversas preparações. Dentre as muitas vantagens dos ovos industrializados podemos citar: praticidade, economia, se- gurança microbiológica, facilidade de transporte, redução no espaço de armazenamento, controle de qualidade na entrada da matéria-prima, redução do desperdício, além de ser fácil de dosar no preparo dos alimentos (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). 152UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2.2 Leite e derivados O leite é o produto da secreção das glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos. Pode ser considerado também como o produto íntegro da ordenha total e sem interrupçãode uma fêmea leiteira sadia, armazenado em condições higiênicas e sem conter colostro (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). É o único alimento que satisfaz as necessidades nutricionais e metabólicas do recém-nascido de cada espécie, sendo o leite de vaca o mais utilizado na alimentação humana, seguido do leite de cabra. É um líquido de cor branca, de odor suave e sabor adocicado (ORNELLAS, 2007; ARAÚJO et. al., 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). 2. 2. 1 Composição e valor nutricional A composição do leite varia com fatores como a espécie do animal, sua alimentação, a estação do ano, a herança genética e o indivíduo, além de aspectos fisiológicos como a gestação, a fase e o número de lactações e a idade do animal, incluindo os cuidados com o manejo e com a saúde do animal (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). Seus principais componentes são: água (em torno de 87%) e extrato seco (gordura, proteínas, lactose e sais minerais – próximo a 13%). ● Água: é o componente existente em maior quantidade, permitindo a solução, a emulsão e a suspensão dos demais nutrientes. ● Proteínas: são de alto valor biológico e elevada digestibilidade, formadas pela caseína (85%) e pelas proteínas do soro (15% a 20%). Dão a cor esbranquiçada opaca ao leite. ● Gordura: é a fração mais variável do leite que está na forma de glóbulos bem distribuídos Esses glóbulos de gordura podem subir à superfície, mas o seu tamanho é diminuído no processo de homogeneização, dificultando a separa- 153UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ção da gordura do leite. Pode ser removida por processo natural, retirando-se a nata que sobe à superfície quando o leite está em repouso ou pelo processo de desnate e é aproveitada na fabricação de manteiga, creme de leite fresco, chantilly, sorvete, entre outros. ● Carboidratos: a lactose é o açúcar predominante no leite conferindo-lhe sabor adocicado e menos solúvel do que a sacarose. Sua presença é importante por- que serve de fonte de energia para microrganismos que produzem ácido láctico, acidificando o meio e coagulando a caseína, favorecendo assim a produção de iogurte, queijo, requeijão, leite acidófilo, entre outros. ● Minerais: predominam fosfatos, carbonato de cálcio, potássio e magnésio, além de sódio e selênio. ● Vitaminas: O leite fornece vitamina A, associada à gordura, além das vitaminas B1, B2, B3, B6, B12, C, D, E e K, contudo, durante o processamento e o arma- zenamento, as vitaminas C e D são perdidas. 2. 2. 2 Processamento do leite Devido ao conteúdo de nutrientes e água existentes que favorecem a deterioração, o leite e seus derivados não devem ser consumidos nem comercializados crús. 2. 2. 2. 1 Pasteurização A pasteurização é uma combinação de tempo x temperatura para destruir micror- ganismos patogênicos e reduzir o número total de bactérias, sem alterar as propriedades nutricionais e funcionais do leite. Pode ser baixa ou alta, sendo que a alta é mais comum e realizada entre 72 a 76°C, por 15 a 20 segundos, e depois resfriado (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). Neste tipo de tratamento térmico, o leite precisa ser armazenado sob refrigeração. 2. 2. 2. 2 Ultrapasteurização (UHT) ou esterilização Na ultrapasteurização, o leite é aquecido continuamente por injeção de vapor entre 130 a 150°C, por 2 a 4 segundos e resfriado imediatamente. Este processo cria um leite mi- crobiologicamente estável, por causa da destruição de microrganismos termorresistentes, esporulados ou não que possuem uma vida de prateleira de meses em temperatura am- biente, contudo observa-se a inibição da formação de coalho e dificuldade para a produção de queijo (DOMENE, 2011; PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). 154UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 2. 2. 3 Homogeneização É o processo no qual ocorre redução do tamanho dos glóbulos de gordura pre- sentes no leite, tornando-o homogêneo, estável e impedindo a separação da gordura. A homogeneização confere mais estabilidade à emulsão, porque depois de processada desta forma, a gordura não se agrega espontaneamente para formar a nata (ORNELLAS, 2007; PHILIPPI, 2014). 2. 2. 3 Derivados do leite 2. 2. 3. 1 Queijo O processo de fabricação do queijo apresenta os seguintes passos: produção do coalho, corte de coalhada, molde, prensagem, salga e maturação ou cura. A grande varieda- de de queijos existentes depende de vários fatores: tipos de leite, processos de fabricação, tipo de fermentos adicionados, utilização de derivados e a maturação (PHILIPPI, 2014). Podem ser feitos do leite de vaca, cabra (feta), ovelha (roquefort) e búfala (mussa- rela), ajudando na montagem de cardápios variados, em razão de seus diferentes sabores e texturas (PHILIPPI, 2014). De acordo com ABREU & SPINELLI (2014), a quantidade de gordura do leite re- sulta em diferentes tipos de queijos e a quantidade de água que se elimina do processo de produção determina a maciez, a casca e o mofo que se desenvolverá. A maturação ou amadurecimento é a fase final do processo de fabricação dos queijos, os quais são mantidos em câmaras com temperatura e umidade controladas. Quando adequada, confere aos queijos aroma, consistência e textura características de cada variedade. 155UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 2. 3. 2 Iogurte É o produto resultante da fermentação natural ou artificial do leite esterilizado ou pasteurizado, por meio da adição de fermentos lácticos apropriados, numa temperatura de 45°C. A manutenção do leite em incubação promove mudanças sensoriais, nutricionais e físico-químicas em sua composição original (ARAÚJO et. al., 2014). Depois de pronto, podem ser acrescentados ao iogurte, mel, frutas, açúcar, adoçantes ou cereais e devem ser conservados sob refrigeração. 2. 2. 3. 3 Creme de leite É um produto lácteo rico em gordura, cálcio e ferro, com pequena quantidade de proteína e carboidrato obtido por meio da nata do leite integral, por evaporação e centri- fugação, formando uma emulsão de gordura em água. Deve ser sempre conservado em câmaras frias para manter suas características, excetuando-se os esterilizados e o UHT (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). Pode ser fresco (quando batido, transforma-se em chantilly) ou em conserva (lata ou tetra park). 2. 2. 3. 4 Manteiga É o produto gorduroso obtido pela bateção do creme de leite, procurando juntar os glóbulos de gordura, formando uma estrutura semelhante a uma rede que retém o soro, ou seja, é uma emulsão de soro na gordura, com ou sem modificação biológica e com adição ou não de sal (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). 156UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 2. 2. 3. 5 Soro do leite É obtido quando se bate o creme para fazer manteiga. Contém os componentes do leite em menor concentração e é pobre em gordura. Pode ser usado para modificar a flora intestinal de putrefação por ser ácido e no preparo de iogurtes (ORNELLAS, 2007). 2. 2. 3. 6 Doce de leite É o produto obtido pela concentração e ação do calor à pressão normal ou reduzida do leite ou leite reconstituído, com ou sem adição de sólidos de origem láctea e/ou creme, adicionado de sacarose. Ao aquecer o leite em calor constante, partes das moléculas de água evaporam e parte se combina com os açúcares, assim a concentração de proteínas e carboidratos favorece a reação de Maillard, tornando o produto com coloração marrom (ARAÚJO et. al., 2014). 157UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 3. ÓLEOS E GORDURAS Óleos e gorduras são substâncias insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos, de origem animal ou vegetal, consideradas ingredientes-chave para melhorar o aspecto sensorial dos alimentos. Os óleos são líquidos em temperatura ambiente e fundem a 25°C e as gorduras são sólidas em temperatura ambiente tornando-se líquidas entre 30a 42 °C (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). 3. 1 Características funcionais em alimentos Os óleos e gorduras apresentam características que melhoram muito as proprieda- des sensoriais em diversas preparações, como: 1. Aparência: conferem cor, brilho, uniformidade superficial 2. Textura: promovem maciez, plasticidade, elasticidade e viscosidade 3. Sabor: fixam e acentuam o sabor dos alimentos 4. Sensação na boca: causam frescor e cerosidade 5. Formam uma barreira contra a umidade, levando à maior estabilidade. 6. Conferem aeração, propiciando leveza ao alimento. 7. Servem de meio de cocção por calor seco. 8. Veiculam vitaminas lipossolúveis, aromas e corantes. 158UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 3. 2 Valor nutritivo Os óleos e gorduras são os grandes fornecedores de energia da dieta, visto que cada 1 g equivale a 9 Kcal. Os principais óleos são extraídos de: Grãos ou sementes → Soja, milho, girassol, canola, algodão, noz, gergelim, se- mente de abóbora, pistache, açafrão, amendoim Frutos → Azeitona, abacate, coco e dendê Origem animal → banha, toucinho, leite, creme de leite, manteiga e bacon, pance- tta, miúdos de aves e peixe. 3. 3 Ponto de fumaça É a faixa de temperatura em que uma gordura ou óleo inicia sua decomposição. É indicado pela liberação de uma fumaça densa e branca, além de forte odor e presença de espuma (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). É um dos principais efeitos negativos no processo de cocção e indica descuido no preparo dos alimentos. O refino dos óleos eleva o PF, pois ocorre em temperaturas 159UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética maiores de 210 OC, assegurando assim melhor qualidade de frituras entre 180 OC a 190 OC (PHILIPPI, 2014). Partículas suspensas, como a farinha dos empanados, diminuem tanto o ponto de fu- maça como o aumento da superfície de contato (PHILIPPI, 2014). As gorduras não devem ser reutilizadas mais de 2 vezes, principalmente se apresentarem as características do PF, assim é importante evitar o superaquecimento. O tempo de aquecimento varia com a quantidade de gordura utilizada, o tamanho e a espécie do recipiente usado e a intensidade da chama. 3. 4 Conservação Os óleos e gorduras devem ser conservados em local fresco e escuro, pois, as gor- duras estragam-se com relativa facilidade produzindo ranço. Para evitar que isso aconteça, as embalagens de vidro ou plásticos são herméticas e fabricadas com um filme protetor para evitar a oxidação dos ácidos graxos pela luz e aos óleos são adicionadas as vitaminas A e E (ORNELLAS, 2007; PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). 3. 5 Aplicações Óleos e gorduras podem ser utilizados de diversas formas no preparo de alimentos, seja a frio ou aquecidos, conseguindo melhorar a palatabilidade de muitos. Vamos ver os principais tipos de gordura e suas aplicações: Óleo vegetal - é líquido à temperatura ambiente, extraído de várias sementes por processos industriais. É refinado para perder a cor, o sabor e o odor originais. Deles obtêm- -se margarina e gordura vegetal hidrogenada, sendo utilizada para fritar, refogar e temperar alimentos, pois age como condutor de calor. Agrega sabor e confere maciez a preparações como pães e bolos, além de ser usado para untar utensílios como formas e frigideiras, evitando a adesão dos alimentos. Óleo misto - é o óleo composto de azeite de oliva (15%) e óleo de soja, sendo utilizado para temperar saladas, pois confere sabor e odor de azeite, mas, ao ser aquecido em alta temperatura, perde essa característica. Azeite de oliva - é obtido por prensagem mecânica do fruto das oliveiras, podendo ser virgem (obtido apenas por processos mecânicos ou outros meios físicos, sob tempe- ratura adequada), refinado (obtido pelo refino do azeite de oliva virgem), sendo usado como tempero em saladas, em molhos ou em emulsões como maionese e serve para regar alimentos. Quando aquecido em altas temperaturas, perde odor e sabor, por isso deve ser mantido no fogo somente até aquecer para manter suas características sensoriais. Não é indicado para frituras devido ao seu baixo ponto de fumaça. 160UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética Banha - proveniente dos tecidos gordurosos dos suínos, possui a propriedade de isolar o glúten, sendo ideal para preparar a massa “podre”, usada em empadas e tortas. Gordura vegetal hidrogenada ou trans - é obtida pela hidrogenação dos óleos vegetais e tem algumas vantagens no preparo de massas de empadas e tortas, por ser sólida e exigir menos farinha. Em bolos, auxilia na maciez e no crescimento, pois, quando batida na batedeira, incorpora ar e aumenta o volume da massa. Deve ser usada preferen- cialmente em temperatura ambiente, porque, quando gelada, é muito dura e quebradiça. Pode ser utilizada no preparo de glacês e nas frituras de imersão. Toucinho - é o tecido gorduroso do porco com o respectivo couro, podendo ser picado e derretido em banho-maria para obter banha ou consumido frito como torresmo. Cortado em tiras, sem o couro, é usado para lardear carnes como lagarto e melhorar o sabor de carnes assadas e cozidas. Bacon ou toucinho defumado - é o tecido gorduroso, salgado e defumado, retira- do do porco junto com o couro e entremeado com a carne do lombo. É usado para conferir sabor a várias preparações, como carnes, vegetais ou cereais. Pode ser usado em fatias, para recobrir ou rechear carnes e aves. Manteiga - é derivada do leite, obtido pelo batimento do creme de leite, e por ser sólida à temperatura ambiente, é adequada para preparar massa “podre” e bolos, porém contém quantidades menores de gordura, produzindo massa pouco flocada. Por conter partículas sólidas e bastante umidade, ao ser aquecida, queima antes de atingir o PF e espirra excessivas gotículas de gordura, assim não deve ser usada para frituras. Margarina - é feita de óleos vegetais hidrogenados, com teor máximo de 3% de gordura láctea, leite, soro de leite e aditivos e substitui a manteiga como ingrediente de tortas, bolos e para refogar alimentos, além de possuir características similares quanto ao batimento e aquecimento. Na geladeira, mantém-se macia graças a aditivos. Margarina líquida - substitui óleo, manteiga ou margarina, devendo ser usada na mesma proporção que a margarina sólida. Incorpora-se melhor à farinha na preparação de cremes ou molhos e pode ser usada em bolos quando a função não é incorporar ar, mas sim conferir sabor e maciez. Serve de base para molhos ou emulsão e para frituras rápidas, mas, quando usada para frituras demoradas e/ou de imersão, pode espirrar gotículas de gordura. Creme vegetal - é similar à margarina em textura, sabor, maciez e cor, porém não contém gordura láctea, leite ou derivados lácteos, com teor de gordura entre 40 e 70%. Com maior teor de gordura, tem as mesmas aplicações da margarina e oferece boa aeração a bolos, beneficiando o crescimento. Não deve ser usado para frituras prolongadas ou de imersão, devido à grande quantidade de água, pois expele partículas de gordura, dificultan- do a temperatura ideal para fritura, que só ocorre após todo o vapor ter sido liberado. Pode ser usado em preparações que exijam batimento para incorporar ar ou cuja quantidade de umidade presente não interfira na elaboração da receita. 161UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 4. CEREAIS E LEGUMINOSAS Os cereais são grãos ricos em carboidratos, proteínas de baixo valor biológico, além de vitaminas e minerais. Os mais populares e consumidos no mundo são: arroz, trigo, milho, aveia, cevada, centeio e sorgo, que podem ser consumidos na sua forma in natura ou como subprodutos industrializados como flocos, farinhas, farelos, féculas, entre outros. Além disso, durante o cozimento, sofre modificações importantes conhecidas como gelatinização e retrogradação, favorecendo o preparo de mingaus, molhos e arroz, além de serem utilizadas para produzir as massas alimentícias e diversosprodutos de panificação. As leguminosas são sementes produzidas em vagens que se dividem em grãos e oleaginosas. Apresentam na sua composição teor elevado de carboidratos, proteínas de alto valor biológico, fibras, vitaminas e minerais. Antes de serem cozidas com a aplicação de calor úmido, devem ficar um tempo de remolho para reduzir a produção de gases e melhorar a digestibilidade. 162UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 4. 1 Cereais São alimentos de origem vegetal, provenientes de gramíneas, constituídos de grãos que dão em espigas e muito consumidos pelos povos do mundo todo. Seu nome deriva de Ceres, deusa grega da agricultura e da colheita (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). Fazem parte do hábito alimentar de vários povos pela facilidade de cultivo, con- servação, transporte e rendimento. Possuem baixo custo, alto valor nutritivo e grandes possibilidades de utilização (ORNELLAS, 2007; PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). Em alguns países, os cereais fornecem ¾ das calorias da dieta na forma de grãos, farinhas ou flocos, no entanto é preciso cuidado, pois o consumo constante das versões refinadas está associado à deficiência de micronutrientes e surgimento de carências nutri- cionais (DOMENE, 2011). Os grãos de cereais apresentam uma estrutura na qual são identificadas 3 partes distintas que possuem valores nutritivos diferentes: pericarpo (casca e película), rico em fibras, minerais, vitaminas, o endosperma que é rico em amido (70 a 83% do grão) e o germe, que é rico em gordura insaturada (que acelera a deterioração) e vitamina B. O beneficiamento do grão retira a casca, películas e o germe, restando apenas o amido e as proteínas de baixo valor biológico. Assim, as farinhas e grãos refinados devem ser enriquecidos com vitaminas do complexo B (B1 e B2) e minerais como o ferro. Deste modo, é mais indicado dar preferência aos cereais integrais e produtos industrializados a partir destes, devido ao seu alto valor nutritivo (ORNELLAS, 2007; PHILIPPI, 2014). 163UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 4. 1. 1 Características funcionais 4. 1. 1. 1 Glútem Quatro tipos de proteínas destacam-se nos cereais, mas que predominam são as prolaminas (gliadina no trigo) e as glutelinas (glutenina no trigo), representando aproxima- damente 85% das proteínas totais (ABREU; SPINELLI, 2014). Apesar de estar presente na aveia, centeio, cevada, triticale e malte, o trigo é o único cereal que possui as frações de gliadina e glutenina em proporções adequadas para a forma- ção do glúten. Na presença de água quando essas frações de proteínas são manipuladas é formada uma rede tridimensional, viscoelástica, insolúvel em água, aderente e muito importante para dar volume e textura às massas, principalmente os pães (ABREU; SPINELLI, 2014). A gliadina é responsável pela viscosidade, e a glutenina está associada à elastici- dade. Assim, o glúten tem a propriedade de dar liga à massa e de possibilitar a retenção de gás carbônico (CO2) para o seu crescimento, ou seja, quanto maior a proporção de glúten, melhor a qualidade da farinha para a fabricação de pães. 4. 1. 1. 2 Amido É o material farináceo obtido da moagem de cereais, tubérculos ou de outra fonte vegetal que se apresenta na forma de grânulo de cor branca, insolúvel em água, sem sabor, presente no endosperma dos cereais, que influencia diretamente as propriedades funcionais dos alimentos (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). É constituído basicamente por duas frações que possuem proporções diferentes conforme a sua fonte botânica (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014): ● Amilose - os cereais ricos em amilose são chamados não cerosos, ex.: trigo, milho, arroz. ● Amilopectina - os amidos com alto teor de amilopectina resultam em substân- cias viscosas, que não formam gel facilmente, assim seu uso é bem aplicado no preparo de recheios de tortas e outras preparações que ficam cremosas, mas não firmes. Os cereais ricos em amilopectina são conhecidos como cerosos. Modificações químicas, físicas e enzimáticas podem ocorrer no amido, ampliando as suas possibilidades de uso na indústria de alimentos e na culinária. Os dois principais processos que constituem essas modificações são: ● Gelatinização - os granulados de amido possuem absorção de água fria limitada, assim, quando submetidos à água aquecida, ocorre a dilatação desses grânulos 164UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética com aumento do volume pelo rompimento de suas estruturas cristalinas que formam o gel. A temperatura de gelatinização máxima alcançada é de 95°C, ocorrendo aumento na solubilidade do amido, da claridade e da viscosidade em pasta e, ainda, melhora da digestibilidade. ● Retrogradação - depois de gelatinizado, em repouso e à temperatura ambiente, ocorre um rearranjo das moléculas de amilose, promovendo desidratação, co- nhecida como sinerese. Essa modificação resulta em pastas progressivamente turvas e endurecidas no produto final como, por exemplo, molho branco e pudins em repouso. 4. 1. 2 Cereais mais consumidos De acordo com ABREU; SPINELLI (2014), os cereais podem ser consumidos na forma original ou como farinhas, farelos, flocos, fibras, xaropes, óleos, além de servir como ingredientes para a fabricação de outros produtos alimentícios. A seguir, conheceremos as características dos principais cereais consumidos no mundo: MILHO - cereal muito utilizado na alimentação humana e animal, seja na forma in natura seja na forma industrializada. Pode ser consumido cozido na espiga, na forma de conserva ou como ingrediente de várias preparações doces e salgadas. Dele extraem-se o óleo, o amido, a farinha e o fubá de milho, empregados em cuscuz, polenta, bolo, broa, pudim, mingaus, pamonha, curau, farofa, creme de milho, entre outras preparações. ARROZ - alimento básico na alimentação de diversos povos, do qual se pode preparar farinhas e flocos para bolos, mingaus e doces, além de bebidas (aguardentes e saquê). Existem vários tipos que podem ser empregados em muitas preparações: branco ou polido, parboilizado e integral. TRIGO - É um dos cereais mais utilizados e cultivados no mundo. Pode ser consu- mido cozido nas preparações que levam a sua farinha integral ou branca (biscoitos, bolos, pizzas, massas em geral), na forma de farelo, germe ou óleo de germe de trigo ou em preparações com trigo para quibe (triguilho ou bulgor) comum na culinária árabe. TRIGO SARRACENO - também conhecido como trigo mourizo ou trigo negro e apesar do nome, é um cereal diferente do trigo, por isso não serve para fazer pão (não tem glúten). Deve ser ingerido na forma de grãos cozidos, panquecas e mingaus. AVEIA - são grãos típicos de regiões temperadas e ricos em fibras, vitaminas do complexo B e E, cálcio, fósforo, ferro e proteína. Pode ser ingerida na forma de flocos, flocos 165UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética finos e farinha. É utilizada no preparo de biscoitos (cookies), mingaus, misturada com frutas e/ou mel, além de sopas, caldos, tortas salgadas e doces, bolos, entre outras preparações. CENTEIO - originário da Ásia, sua farinha é obtida pela trituração do grão com casca, o que explica a sua coloração escura e menor conservação. Possui glúten de baixa qualidade, sendo necessário misturá-lo com um pouco de farinha de trigo no preparo do pão de centeio, para que não fique muito duro. CEVADA - o mais antigo cereal que se conhece. Quando o homem não utilizava o trigo, o pão era feito de cevada. Atualmente, é utilizada no preparo de cerveja, cozida ou como mingau. Algumas pessoas preferem beber a sua infusão com o grão torrado e moído em substituição ao café. TRITICALE - Cereal híbrido, proveniente do cruzamento entre trigo e centeio. QUINUA OU QUINOA - este cereal produz uma semente pequena, comestível, rica em proteínas de alto valor biológico, vitaminas e minerais.Pode ser encontrada em diversas cores e nas formas de grão, farinha e flocos. AMARANTO - trata-se de uma semente extraída de uma planta originária do Peru, que possui bom valor biológico, fibras e não contém glúten, podendo ser encontrada na forma de grão, farinha e flocos. SORGO - cultivada para forragem, na África é utilizado como arroz. 4. 2 Leguminosas São grãos da família Leguminosae contidos em vagens ricas em tecido fibroso, que produz vagens de até 15 cm de comprimento, dentro das quais estão as sementes empre- gadas na alimentação. Estão entre os alimentos mais antigos, remontando aos primeiros registros da história da humanidade e tiveram o seu consumo disseminado pelas guerras (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014). 166UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética São importantes para a economia pelo volume de produção e por mobilizar traba- lhadores, além disso fixam o nitrogênio na terra, sendo então necessário realizar rotação de cultura com outras plantas (DOMENE, 2011). Existem diversas espécies de leguminosas que podem ser classificadas em dois grupos: ● Oleaginosas - (também utilizadas na produção de óleo) como soja e amendoim. ● De Grão - como as diversas variedades de feijão, lentilha, grão de bico, ervilha e fava. 4 .2. 1 Valor nutritivo Em geral, os grãos apresentam de 2 a 5% de celulose, em torno de 50% de amido, cerca de 23% de proteínas de baixo valor biológico, minerais como ferro, zinco e potássio, além de vitaminas do complexo B e ácido fólico, ou seja, têm pouca gordura, não possuem colesterol e apresentam quantidade significativa de fibras solúveis e insolúveis, com exce- ção do amendoim, que possui em sua composição alto teor de lipídios (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014). 4. 2. 2 Principais leguminosas 4. 2. 2. 1 Feijão Nativo das Américas, é muito consumido pelas populações indígenas, sendo apre- ciado pelo seu sabor e facilidade de cultivo. Há muitos tipos de feijão, com tamanho, cores e sabores diferentes. Na alimentação brasileira, é uma das principais fontes de proteína, sendo utilizado como alternativa na substituição da carne juntamente com o arroz (PHILIPPI, 2014). Existem diversos tipos de feijão: alguns podem ser consumidos verdes junto com a vagem e de outros se consomem apenas as sementes (ABREU; SPINELLI, 2014). Os diversos tipos de feijão tem usos variados: ● Preto - Feijoada, sopa ● Roxinho - Salada, sopa, acompanhamento ● Feijão-fradinho (macassar ou de corda) - Acarajé, abará, acompanhamento ● Mulatinho - Acompanhamento, feijoada, feijão tropeiro, tutu ● Branco - Sopa, salada, cozido ● Jalo - Sopa, salada ● Rosinha - Acompanhamento ● Verde ou rajadinho - Acompanhamento, baião de dois ● Canário - Acompanhamento 167UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Feijão-moyashi - Omeletes, sopas, saladas, decoração de pratos ● Feijão-azuki = Sopas, saladas, molhos, cremes croquetes e guisados ● Manteiga - Saladas e purês ● Roxo - Saladas e sopas ● Feijão-mangalô - Acompanha peixes e frutos do mar. 4. 2. 2. 2 Soja Originária da China, é uma leguminosa com mais de 2 500 variedades classificadas conforme a cor dos grãos, na qual sua vagem mede de 5 a 8 cm e contém de 3 a 5 de grãos de forma e tamanho variáveis. É nutritiva pois possui de 35 a 40% de proteína de médio valor biológico, de 18 a 22% de lipídios, vitaminas A, C, E e do complexo B, além de enxofre, magnésio, zinco, cloro e potássio. Apresenta também uma quantidade razoável de ferro (8% - grão inteiro), mas sem a mesma biodisponibilidade das carnes (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). A soja pode ser consumida como grão e também é utilizada na produção de deriva- dos caseiros ou industrializados, conforme se observa a seguir: ● Óleo - é o destino da maior parte da soja produzida, sendo o óleo extraído das sementes secas. É utilizado para cocção e fritura. ● Extrato de soja - para a sua produção, é preciso colocar a soja de molho, bater no liquidificador com água, levar ao fogo e cozinhar sem parar de mexer. Após a cocção, retirar e coar em pano fino ou gaze. Pode adicionar açúcar ou outro ingrediente de acordo com a preparação. É utilizado em massas de tortas e recheios, farofas, preparações com carnes, bebidas, bolo, biscoitos. 168UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Queijo (tofu) - coalha-se o extrato da soja com limão ou fermento, depois le- va-se a mistura ao fogo, retira-se quando levantar fervura e deixe-a descansar por 10 minutos. Salga, enforma e conserva o queijo em local fresco e ventilado. Com ele podem ser preparados almôndega, hambúrguer, croquete, torta, sopa, bife, mortadela, salsicha, patê. ● Farinha - é produzida pelo grão moído, previamente descascado e parcialmente desengordurado, resultando em uma farinha torrada chamada de Kinako. Pode ser utilizada em produtos panificáveis, mas, pelo teor elevado de gordura e fibra, torna os produtos mais pesados, necessitando de grande quantidade de fermento e farinha de trigo (glúten).É usada no preparo de pão, molho, sopa, pudim, croquete, biscoito, talharim, massa de pastel. ● Resíduo (proteína texturizada de soja – carne de soja) - é a sobra da pre- paração do “extrato”, com a qual é feita a proteína texturizada de soja – PTV (carne de soja). Possui maior estabilidade e prazo de validade. Pode ser usado em croquetes, almôndegas, hambúrgueres, salada, sanduíche, entre outras preparações. ● Broto - Salada 4. 2 .2. 3 Amendoim É a única que dá frutos embaixo da terra e tem como países de origem: Brasil, Paraguai, Bolívia e norte da Argentina. Apesar de pertencer ao grupo das leguminosas, possui elevado teor de gordura (de 45 a 50%) e de amido, sendo utilizado em: ● preparações típicas da culinária chinesa (ex.: frango xadrez) ● doces brasileiros (pé de moleque, cajuzinho, paçoca) ● pratos regionais: caruru, vatapá ● consumido torrado, cozido ou como manteiga. 169UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 4. 2. 2. 4 Grão de bico Originário da região do Cáucaso e do Himalaia, conhecido também por ervilha-de- -galinha, gravanço, ervilha-de-bengala ou ervanço. As vagens são lisas e ovaladas, contém de 1 a 3 grãos arredondados, com uma pequena ponta de cor castanho-clara. No Brasil, seu consumo está relacionado à semente (sopas, purês, cozido, entre outras preparações). Na Grécia e na Espanha, locais onde o consumo é maior, a planta é inteiramente aproveitada: ● raiz: torrada substitui o café ● semente: diversas preparações ● restante da planta: forragem 4. 2. 2. 5 Ervilha É uma semente da região mediterrânea, que pode ser consumida: ● Verde: sua vagem é alongada, fibrosa, de cor castanho-clara. Da ervilha verde, duas variedades podem ser consumidas: a ervilha (grãos e vagem são utiliza- dos) e a ervilha de debulhar (somente o grão pode ser consumido). ● Seca: utilizada em sopas, purês ou ensopados com outros alimentos (carne, linguiça, bacon). 170UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 4 .2. 2. 6 Fava Tem origem na Ásia (região do mar Cáspio) e no norte da África. Cultivada na região sul do Brasil, é também conhecida como fava comum, fava-silvestre e feijão-fava. Possui vagens grandes, com grãos grossos, ovalados, de cor verde-esbranquiçada. Se estiver verde, é considerada uma hortaliça e, se for seca, é consumida como leguminosa, na forma de salada, cozida ou com arroz. 171UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 5. FRUTAS E HORTALIÇAS As frutas e hortaliças são alimentos muito nutritivos, ricos em carboidratos, fibras, minerais e vitaminas, que possuem uma estrutura bem diversificada e associada às dife- rentes partes de uma planta. Como apresentam uma quantidade importante de água em sua estrutura, as frutas e hortaliças precisam ser compradas, higienizadas, armazenadas e preparadas sob determinadas condições para o consumo ou produção de preparações saudáveis. 5. 1 Hortaliças São vegetaisou suas partes, normalmente cultivados na horta, de consistência e porte variados que são utilizados como alimento em sua forma natural. Popularmente são conhecidas como verduras e legumes (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014; ARAÚJO et.al., 2014). As hortaliças podem ser preparadas como saladas (cruas, cozidas, mistas ou com- postas), como sucos, cozidas em água e sal, como sopas, purês, pudins, suflês, podem ser recheadas, fritas, à milanesa e à romana, como bolinhos/ croquetes, sauté, ensopadas, refogadas, gratinadas e galantina. Segundo ABREU e SPINELLI (2014), apesar de haver uma classificação botânica para as hortaliças, a tendência é considerar-las comumente como vegetais que fazem parte de preparações ou refeições e as frutas como sobremesas, contudo tomate e abóbora são 172UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética considerados hortaliças, mas botanicamente são frutas. Assim, esses vegetais podem ser classificados como: ● Verduras: folhosas e caules ● Legumes: flores, frutos, vagens e sementes ● Tubérculos e raízes: parte subterrânea das espécies. 5. 1. 1 Classificação Botânica A classificação serve para indicar as características de estrutura e composição química que determinam a forma de preparação a ser escolhida para a hortaliça. ● FOLHAS - são os órgãos de produção da planta onde ocorre a fotossíntese, que contêm clorofila,fibras, ferro, cálcio, pró-vitamina A, carboidratos e riboflavi- na, mas são pobres em calorias. Quando tenras, as folhas podem ser comidas cruas. Quando envelhecidas, devem ser cozidas, facilitando o aproveitamento pelo aparelho digestivo, ex.: acelga, agrião, aipo, alface, bredo, caruru, couve, espinafre, mostarda, repolho, salsa, serralha, taioba. ● SEMENTES E VAGENS - as vagens contêm sementes em seu interior chamadas de leguminosas que são ricas em carboidratos (açúcar e amido), proteínas, vita- minas e minerais. Algumas são integralmente comestíveis, outras são sementes que possuem uma cutícula que as envolve, formada de celulose endurecida, sendo necessário o cozimento, ex.: ervilha, vagem, feijões verdes, milho verde. ● TUBÉRCULOS E RAÍZES - são ricas em amido, estáveis e, em condições apropriadas, podem ser estocadas por mais tempo que qualquer outra hortali- ça. Alguns, quando novos, podem ser consumidos crus, outros devem passar pelo cozimento para modificar o amido e neutralizar substâncias tóxicas, ex.: beterraba, cenoura, nabo, rabanete, aipim, batata, batata-doce, cará e inhame. ● BULBOS - usados como condimentos ou temperos, essas hortaliças possuem uma substância volátil chamada cistina que lhe confere odor característico, ex.: alho, cebola, alho-poró. ● CAULES E TALOS - é através dos talos que os nutrientes são transportados para os demais órgãos da planta, entretanto cada um tem características próprias, principalmente de sabor, ex.: acelga, aipo (salsão), aspargo, palmito e ruibarbo. ● FLORES - são ricas em carboidratos (amido e açúcares). Devem ser servidas ligeiramente cozidas, ex.: alcachofra, brócolis, couve-flor, flor de abóbora. 173UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● FRUTOS - são ricos em carboidratos (amido e açúcares) e possuem uma parte carnuda que serve de depósito para nutrientes e, apesar de classificados como fruto, possuem características, valor nutritivo e formas de preparo diferentes, ex.: abacate, abóbora, berinjela, chuchu, fruta-pão, jiló, maxixe, moranga, pepi- no, pimentão, tomate. ● BROTOS - são cultivados na água ou em solos úmidos para germinar e são ricos em ácido ascórbico. Ex.: broto de feijão, de bambu, de alfafa. ● PARASITAS - são cogumelos de várias espécies de plantas. Ex.: champignon, funghi, shitake, shimeji, porto belo, cogumelo do sol. 5. 1. 2 Pigmentos São substâncias químicas que conferem cor aos vegetais, encontradas em todas as hortaliças e, muitas vezes, vários pigmentos em um só vegetal, entretanto a cor será determi- nada pela substância encontrada em maior proporção no vegetal (ABREU; SPINELLI, 2014). ●● CLOROFILA -CLOROFILA - pigmento largamente distribuído na natureza, responsável pela pigmento largamente distribuído na natureza, responsável pela fotossíntese e pouco solúvel em água, que dá cor verde aos vegetais e nãofotossíntese e pouco solúvel em água, que dá cor verde aos vegetais e não tem função nutricional conhecida. Está presente nos vegetais quando verdestem função nutricional conhecida. Está presente nos vegetais quando verdes (imaturos), mas desaparece durante a maturação (ORNELLAS, 2007; DOME-(imaturos), mas desaparece durante a maturação (ORNELLAS, 2007; DOME- NE, 2011). Quando vegetais ricos em clorofila são cozidos em meio ácido fracoNE, 2011). Quando vegetais ricos em clorofila são cozidos em meio ácido fraco (limão, tomate, vinagre), resultam na cor verde oliva ou marrom, prejudicando(limão, tomate, vinagre), resultam na cor verde oliva ou marrom, prejudicando a aparência e a aceitabilidade do vegetal (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011;a aparência e a aceitabilidade do vegetal (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011; ARAÚJO ARAÚJO et.alet.al., 2014). Esse escurecimento da clorofila também acontece quan-., 2014). Esse escurecimento da clorofila também acontece quan- do o vegetal é cozido em panela tampada, pois os ácidos orgânicos presentesdo o vegetal é cozido em panela tampada, pois os ácidos orgânicos presentes no vegetal, quando evaporados, entram em contato com a tampa e decantam,no vegetal, quando evaporados, entram em contato com a tampa e decantam, acidificando a água de cocção.acidificando a água de cocção. ●● CAROTENÓIDES - CAROTENÓIDES - pigmentos de cor alaranjada, amarelada ou avermelhada,pigmentos de cor alaranjada, amarelada ou avermelhada, que desaparece quando o vegetal amadurece ou envelhece. Por serem liposso-que desaparece quando o vegetal amadurece ou envelhece. Por serem liposso- lúveis, o processo de cocção em óleos ou gorduras aumentam a sua biodispo-lúveis, o processo de cocção em óleos ou gorduras aumentam a sua biodispo- nibilidade, além de serem valorizados como antioxidantes (ORNELLAS, 2007;nibilidade, além de serem valorizados como antioxidantes (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011; ARAÚJO DOMENE, 2011; ARAÚJO et.al.et.al., 2014). São estáveis em pH ácido e alcalino, 2014). São estáveis em pH ácido e alcalino e resistentes à cocção, mas são sensíveis à luz, à oxidação e a temperaturase resistentes à cocção, mas são sensíveis à luz, à oxidação e a temperaturas extremas, fatores responsáveis por muitos vegetais mudarem de cor durante oextremas, fatores responsáveis por muitos vegetais mudarem de cor durante o cozimento (DOMENE, 2011; ARAÚJOcozimento (DOMENE, 2011; ARAÚJO et.al et.al., 2014).., 2014). 174UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ●● BETALAÍNAS - BETALAÍNAS - pigmentos encontrados exclusivamente na beterraba , mas nãopigmentos encontrados exclusivamente na beterraba , mas não possuem função nutricional conhecida. Solúveis em água (interessante usar apossuem função nutricional conhecida. Solúveis em água (interessante usar a água de cocção no preparo de molhos e sobremesa), estáveis em pH ácido,água de cocção no preparo de molhos e sobremesa), estáveis em pH ácido, instáveis na luz e no ar, são destruídas em altas temperaturas e longo tempo deinstáveis na luz e no ar, são destruídas em altas temperaturas e longo tempo de cozimento. (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011; ARAÚJO cozimento. (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011; ARAÚJO et.alet.al., 2014).., 2014). ●● ANTOXANTINAS -ANTOXANTINAS - pigmentos que variam de amarelados a incolores, presentes pigmentos que variam de amarelados a incolores, presentes no repolho-branco e na batata. Em meio alcalino, entretanto, transformam-seno repolho-branco e na batata. Em meio alcalino, entretanto, transformam-se em amarelos e escurecem com a cocção prolongada, mas, na presença deem amarelos e escurecem com a cocção prolongada, mas, na presença de ferro, podem ficaresverdeados ou pardos, ex.: couve-flor (ORNELLAS, 2007).ferro, podem ficar esverdeados ou pardos, ex.: couve-flor (ORNELLAS, 2007). ●● FLAVONÓIDES - FLAVONÓIDES - pigmentos solúveis em água, de cores azul, arroxeada epigmentos solúveis em água, de cores azul, arroxeada e vermelha e sensíveis ao calor, responsável pelas cores atrativas e brilhantesvermelha e sensíveis ao calor, responsável pelas cores atrativas e brilhantes de frutos, flores e folhas. Possuem ação antioxidante bem estabelecida, e nade frutos, flores e folhas. Possuem ação antioxidante bem estabelecida, e na presença de substâncias ácidas, tornam-se vermelho-escarlate e, na presençapresença de substâncias ácidas, tornam-se vermelho-escarlate e, na presença de substâncias alcalinas, ficam em tom azul ou arroxeado (ORNELLAS, 2007;de substâncias alcalinas, ficam em tom azul ou arroxeado (ORNELLAS, 2007; DOMENE, 2011; ARAÚJO DOMENE, 2011; ARAÚJO et.alet.al., 2014), ex.: uvas, cerejas, morango, berinjela.., 2014), ex.: uvas, cerejas, morango, berinjela. ●● TANINOS - TANINOS - não são classificados como pigmentos, mas apresentam colóidesnão são classificados como pigmentos, mas apresentam colóides que afetam o sabor e a cor de frutas e hortaliças. São responsáveis pela con-que afetam o sabor e a cor de frutas e hortaliças. São responsáveis pela con- sistência e pelo sabor adstringente de chás, café, caqui e da banana verdesistência e pelo sabor adstringente de chás, café, caqui e da banana verde (DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014).(DOMENE, 2011; ABREU; SPINELLI, 2014). 5. 1. 3 Compra e recebimento Durante a compra e recebimento de hortaliças, devem ser observadas as seguintes características: ● Devem estar em perfeito estado de desenvolvimento, de tamanho e aparência, sem defeitos e sem traços de descoloração. ● Aroma e cor próprios da espécie e variedade. ● Intactas, firmes e bem desenvolvidas ● Não devem estar ressecadas nem apresentar queimaduras de origem física ou mecânica. ● Não devem estar sujas de terra, nem conter corpos estranhos aderidos à superfície externa, nem resíduos de fertilizantes, nem presença de bolor ou mucosidade. ● Devem estar isentas de odor pútrido ou fermentadas. ● Devem ser preferencialmente sazonais, pois os alimentos na safra são mais baratos e nutritivos. 175UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 5. 1. 4 Armazenamento Antes do armazenamento, os vegetais devem ser previamente limpos. Se frescas, as hortaliças devem ser colocadas sob refrigeração entre 7°C e 8°C, acondicionadas em sacos ou caixas plásticas fechados e não transparentes, mantidos na parte fria da geladei- ra. Além da temperatura, a umidade também deve ser controlada, visto que o ar muito seco desidrata o alimento e o ar muito úmido estimula a proliferação de bolores. 5. 1. 5 Método de cocção de hortaliças ● COCÇÃO A FOGO BRANDO - indicado para hortaliças tenras e novas que exigem pouco tempo de cocção e pouca água, com controle de tempo para o cozimento, como chuchu, vagem, cenoura, aipim e batatas. ● COCÇÃO POR EBULIÇÃO - indicado para hortaliças menos novas, tubérculos e raízes, que exigem mais tempo de cocção,como folhas mais velhas, aipim e batatas. ● COCÇÃO POR PRESSÃO - indicada para hortaliças endurecidas ou natural- mente compactas, reduzindo o tempo de cocção e as perdas por dissolução, como leguminosas, batatas, beterrabas. ● ASSADO - há a concentração do valor nutricional e o alimento fica mais saboro- so, mas pode haver perda de vitaminas. Exemplo: batatas, beterraba, fatias de abóbora (recheadas, gratinadas, pudim, suflê, na grelha ou na brasa). ● FRITURAS - exige mais tempo e mais quantidade de gordura quando a hortali- ça está crua. Quando cozida previamente, faz-se apenas o salteado. Exemplo: batata, aipim, cará, berinjela. 5. 2 Frutas É o produto da frutificação de uma planta, sendo também conceituada como a parte polposa e comestível que rodeia a semente de plantas. São suculentas devido ao elevado conteúdo de umidade, possuem aroma característico, apresentam normalmente sabor doce, agradável e podem, em geral, ser consumidas in natura. Apesar de o Brasil ser um país privilegiado por possuir uma das maiores variedades de frutas e ser um grande produtor, o consumo de frutas do brasileiro ainda é pequeno (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). 176UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 5 .2. 1 Pigmentos Os pigmentos encontrados em frutas são os mesmos das hortaliças, com predomi- nância dos carotenóides, antocianinas e flavonoides; a clorofila é encontrada principalmente em frutas imaturas (ORNELLAS, 2007; ARAÚJO et. al., 2014). A mistura de sucos de várias frutas pode produzir uma combinação de cores inde- sejáveis, principalmente quando o líquido é mantido em temperatura ambiente e exposto à oxidação. Como exemplo, quando o suco de abacaxi é misturado com frutas de cor verme- lho-arroxeada, ele torna-se azulado, o suco de limão intensifica a cor vermelha das frutas e o suco de laranja adquire cor parda em mistura com outros sucos (ORNELLAS, 2007). 5. 2. 2 Frutas oleaginosas São de difícil digestão devido ao grande teor de gordura e pela quantidade de celulose. Alguns exemplos são as nozes, amêndoas, avelã, castanha-de-caju, castanha- -do-pará, castanha portuguesa, castanha de sapucaia, macadâmia, etc. (ORNELLAS, 2007; ARAÚJO et. al., 2014). Devem ser conservadas na casca para evitar oxidação da luz e do ar ou refrige- radas e rejeitar as que estiverem com casca rachada, sinais de mofo e odores atípicos (ORNELLAS, 2007). 5. 2. 3 Compra e recebimento No momento da aquisição as frutas devem estar próprias para o consumo, havendo necessidade dos seguintes cuidados: ● Devem estar em perfeito estado de desenvolvimento, de tamanho e aparência, ou seja, ter atingido o grau máximo de tamanho, aroma, cor e sabor próprios da espécie e variedades. ● Devem apresentar grau de maturação que permita suportar a manipulação, o transporte e a conservação em condições adequadas para o consumo imediato. ● Devem apresentar-se frescas e ser isentas de umidade externa anormal, aroma e sabor estranhos. ● Devem estar livres de resíduos aderentes de fertilizantes, substâncias terrosas, sujidades ou outros corpos estranhos aderentes à superfície da casca (insetos e enfermidades). ● Devem estar, de preferência, na sazonalidade, pois os alimentos na safra são mais baratos e nutritivos. 177UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 5. 2. 4 Consumo, conservação e armazenamento O grau de maturação adequado no momento da colheita da fruta é muito importante para que o produto chegue ao mercado ou à indústria em perfeitas condições. Antes do consumo, devem ser devidamente lavadas em água fria e potável e, depois, mergulhadas em solução sanitizante devidamente diluída, e devem ser guardadas inteiras para evitar o processo de decomposição e de perda de nutrientes (ORNELLAS, 2007). O congelamento forma cristais de gelo no interior da fruta que mudam sua consis- tência, sendo indicado apenas em frutas subdivididas, polpas e sucos frescos ou concen- trados de frutas (ORNELLAS, 2007). As frutas podem ser preparadas e consumidas ao natural, em sucos, refrescos, batidas com leite, sorvete, saladas, purês, combinadas com presunto, aves e carnes, assa- das, cozidas, em compotas, gelatinosas, geleias, cristalizadas, secas e doces em massa. 5. 2. 5 Cocção de frutas A cocção de frutas tem o objetivo de facilitar a digestão, sendo indicada em circuns- tâncias especiais: ● Necessidade de utilizar o excesso de safra. ● Impossibilidade de estocar frutas ao natural por longo tempo. ● Frutas colhidas ou caídas verdes ● Preparações de frutas que se destinam a crianças ou enfermos ● Desejo de variar o cardápio Os tipos de preparações mais comuns realizadas com frutas são ● FRUTAS ASSADAS - podem ser assadas em fornos com ou sem cascaaté que fiquem macias, abrindo ou não um orifício por cima e colocando geleia, mel, açúcar, edulcorantes ou especiarias. Ex.: banana, maçã, fruta-pão, marmelo. ● COMPOTA DE FRUTA - a fruta deve ser descascada e cortada no formato de- sejado, colocando em calda rala (30% de açúcar) ou solução com edulcorante e deixar cozinhar o tempo necessário para apenas abrandar. ● DOCE EM MASSA (DE CORTE) - cozinhar as frutas cortadas, com casca, até que amoleçam. Passar por peneira, acrescentar de 60 a 70% de açúcar, cozi- nhar, mexer sempre e apurar até o ponto desejado. ● SECAGEM DE FRUTAS - a secagem produz grande concentração nutrientes, pois a água evapora. Ex.: ameixa seca, uva passa, banana passa, figos, abricó. 178UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● TORREFAÇÃO DE FRUTAS OLEAGINOSAS - podem ser torradas inteiras, ou subdivididas. Possuem alto valor nutritivo, mas são de difícil digestão e devem ser consumidas com moderação, acrescentadas a sorvetes, pudins, balas, bolos ou biscoitos. ● GELEIA DE FRUTAS - devem ser cozidas com o mínimo de água possível,po- dendo ser preparada com suco de fruta, adição de fragmentos de frutas (polpa) ou fruta inteira, e açúcar até dar consistência. 179UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 6. AÇÚCARES E EDULCORANTES 6. 1 Açúcares Açúcares são compostos químicos do grupo dos carboidratos que proporcionam doçura, são solúveis e possuem a capacidade de cristalizar, extraídos geralmente da cana- -de-açúcar, da beterraba, do xarope do bordo ou maple, mas presente também em frutas, vegetais e no mel (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). Os açúcares possuem elevado potencial energético, mas com quantidades insig- nificantes de outros nutrientes. 6. 1. 1 Propriedades dos açúcares Os açúcares apresentam propriedades que estão envolvidas com a fabricação de vários produtos alimentícios: ● Poder edulcorante ● Agente espessante ● Umectante (ajudam na retenção da umidade – higroscopicidade) ● Conservante, solubilizante, estabilizante ● Modificam a textura (aumentam a maciez) e a aparência ● Realçam o sabor e o aroma ● Precursores de aroma, sabor e coloração ● Matéria-prima fermentescível (servem de alimento para as leveduras) ● Regulador de estrutura ● Formadores de cristais ● Agem como veículo para outros aromas 180UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 6. 1. 1. 1 Caramelização ou ponto de fusão A aplicação de calor seco provoca a fusão do açúcar, que inicialmente se derrete e depois forma um xarope espesso, responsável pelo desenvolvimento de aromas, texturas e cores em pães, tortas, bolos e sobremesas. É importante observar que diferentes tipos de açúcar caramelizam em temperaturas diferentes. 6. 1. 1. 2 Higroscopicidade É a capacidade do açúcar na forma cristalina de absorver umidade do ambiente e formar torrões ou pedras, o que está muito associado ao armazenamento inadequado. É uma propriedade indesejável porque dificulta o uso do açúcar e influencia a capacidade de reten- ção de umidade em preparações culinárias (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI,2014). São exemplos desse efeito indesejável: o merengue fica mole e umedecido, bolos e biscoitos contendo mel e melaço permanecem úmidos por mais tempo, o excesso de açúcar no bolo faz o bolo encolher durante o assamento, ou o excesso de açúcar no pudim que fica amolecido pela competição existente entre o açúcar e o amido pela água (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014). Contudo, há um efeito desejável quando o açúcar possui elevada atividade higros- cópica: aumenta a vida útil de bolos porque retém água e retarda seu endurecimento. 6. 1. 1. 3 Conservação Os açúcares ajudam a reduzir o desenvolvimento de microrganismos porque imo- bilizam as moléculas de água que bactérias, fermentos ou o bolor precisam para crescer, sendo uma propriedade importante na preservação de compotas, bolos, doces, conservas (atua como antioxidante protegendo as frutas da oxidação), além de limitar a tendência de gorduras utilizadas na pastelaria ficarem rançosas (ABREU; SPINELLI, 2014). 6. 1. 1. 4 Fermentação Na panificação, o uso de açúcar aumenta a velocidade de fermentação da massa (pães, roscas), na proporção de 6 a 8% do total dos demais componentes. Em excesso (até 22%) o efeito é inverso, havendo redução da fermentação. Nas bebidas alcoólicas fermentadas age como um alimento para o levedo (ABREU; SPINELLI, 2014). 181UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 6. 1. 1. 5 Cristalização A cristalização acontece quando o estado físico do açúcar é modificado para a forma de cristais, visando à viscosidade, textura e maciez específicas de uma preparação. Esta propriedade é inversamente proporcional à solubilidade (ORNELLAS, 2007; ABREU; SPINELLI, 2014). 6.1.2 Características 6. 1. 2. 1 Açúcares Apresenta como principais características: poder de cristalização, higroscopicidade, cor branca (menos mascavo e melado ou rapadura), é inodoro, tem sabor doce e é bem solúvel. ● CRISTAL - cristais de vários tamanhos que passam por processo de sulfitação do caldo, lavagem com água e retirada do mel do açúcar demerara. Possui no mínimo 99,3% de sacarose. ● DEMERARA - retirado do melado da cana (sólidos do xarope). Não é lavado. Possui 96% de sacarose. ● MASCAVO - é o menos processado, não passa por purificação (1ª. extração da cana), empedra fácil, possui no mínimo 90% de sacarose. ● REFINADO - obtido quase todo do açúcar cristal (98,5% de sacarose), retiran- do-se o material insolúvel e corantes naturais. ● EM TABLETES - coloca-se a sacarose (99%) cristalizada em formas, adiciona- -se uma solução quente de açúcar e deixe esfriar. ● DE CONFEITEIRO - muito fino, absorve umidade e empedra facilmente, por isso deve-se misturá-lo com um pouco de amido evitando a aglomeração de partículas de sacarose. Esta mistura possui um sabor menos adocicado. ● MELADO - resulta da fervura do caldo de cana (30% de água e 70% de açú- cares). ● LÍQUIDO - de uso industrial, possui vantagens para alimentos em que o açúcar deve ser usado dissolvido, pois apresenta melhor solubilidade: compotas, bebi- das, xaropes, sorvetes. 182UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 6. 1. 2. 2 Mel É um fluido viscoso, denso, aromático e transparente, elaborado pelas abelhas a partir do néctar e exsudato das plantas. Pode ser classificado de acordo com a sua origem botânica ou pelo processo de obtenção (virgem, centrifugado, prensado e em favos). Pode ser consumido in natura ou em produtos de panificação e confeitaria, iogurtes e bebidas lácteas (PHILIPPI, 2014; ABREU; SPINELLI, 2014). 6. 1. 2. 3 Xarope de glicose É um produto extraído do amido de milho, também conhecido como xarope de milho, xarope de amido, glicose de confeiteiro ou glicose líquida. Geralmente, é utilizado em produtos de panificação e confeitaria, geleias (impede a cristalização da sacarose), na fabricação de licores ou para consumo doméstico, tem a capacidade de aumentar a cremosidade, a viscosidade e a maciez em sorvetes, pirulitos e massas (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). 6. 2 Edulcorantes São substâncias orgânicas, não glicídicas, formuladas para conferir sabor doce aos alimentos e bebidas, também conhecido como adoçante de mesa. São substitutos naturais ou artificiais com capacidade adoçante maior que a sacarose com menos calorias por grama (ABREU; SPINELLI, 2014). Os edulcorantes naturais são aqueles extraídos de frutas e vegetais e os artificiais são produzidos em laboratórios. 6. 2. 1 Edulcorantes naturais ● ESTEVIOSÍDEO - extraído da planta Stevia rebaudiana; adoçante nutritivo; es- tável sob altas temperaturas e em meio ácido; usado como adoçante de mesa, gomas de mascar, balas, bombons, bebidas, gelatinas, pudins, sorvetes, iogurtes. ● SORBITOL - presente em várias frutas; usado como geleias, gomas de mascar, balas, panetones. ● MANITOL- presente em várias frutas; usado como gomas de mascar e balas. 183UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 6. 2. 2 Edulcorantes artificiais ● SACARINA - sabor residual amargo em altas concentrações. A mistura com o ciclamato reduz esse sabor residual; submetida ao calor, não perde suas propriedades. ● CICLAMATO - tem a comercialização proibida nos EUA; tem longa validade e é bastante solúvel em água; estável sob altas temperaturas, é utilizado em preparações destinadas à cocção. Usada como adoçante de mesa, gomas de mascar, bebidas, congelados, refrigerantes, geléias e sorvetes. ● ASPARTAME - não tem sabor residual amargo; tem acentuado aroma de sabor de frutas ácidas; é instável sob altas temperaturas e inadequado para cocção. Usado como adoçante de mesa, misturas, pós, gomas de mascar, balas, sobremesas, bebidas, congelados, refrigerantes, coberturas, xaropes e produtos lácteos. 184UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 7. CARNES, AVES E PESCADOS Carne é o conjunto de tecidos de cor e consistência características que recobre o esqueleto dos animais. Comercialmente, são todas as partes dos animais que servem de alimento ao homem, inclusive as provenientes de aves, caças e peixes (PHILIPPI, 2014). Segundo ABREU & SPINELLI (2014) de forma simplificada, a carne também pode ser sinônimo de músculo. Os cortes de carne apresentam tecido muscular, conjuntivo, gordura (tecido adipo- so) e, às vezes, ossos, além de características sensoriais distintas. Já os órgãos internos, normalmente chamados de vísceras, também podem ser classificados como carne. 7.1 Estrutura da carne A carne é constituída de fibras musculares microscópicas que se reúnem em feixes ligados entre si por tecido conjuntivo, envolto por tecido conjuntivo condensado, formando uma membrana; por tecido adiposo nos espaços entre as fibras ou entre os feixes ou na parte externa do músculo e por tecido vascular e fibras nervosas, que juntos determinam a consistência da carne. 185UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 7. 1. 1 Tecido Muscular A unidade fundamental do tecido muscular é chamada de fibra, o conjunto de fibras é denominado feixe muscular e o conjunto de feixes é chamado de músculo. A textura da carne resulta do tamanho dos feixes musculares e da quantidade de tecido conjuntivo que os mantêm ligados. Assim, quanto menor o diâmetro das fibras e quanto mais novo o animal, principalmente se for fêmea, mais macio será o corte de carne. A espécie do animal, sua alimentação e a atividade física também influenciam a maciez da carne (PHILIPPI, 2014). O tecido muscular é constituído de compostos nitrogenados, ácido láctico, minerais, que dão origem às bases purínicas, ácido úrico e creatinina. Quando a carne é cozida, parte dessas substâncias que é solúvel vai para o meio de cocção e dá sabor à preparação. 7. 1. 2 Tecido Conjuntivo É composto de proteínas e forma as paredes das fibras musculares, ligando-as em feixes, envolvendo os músculos para formar tendões e ligamentos. Sua função principal é promover a sustentação da musculatura e a quantidade varia nos diferentes músculos (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). O tecido conjuntivo pode ser: ● BRANCO - composto principalmente por colágeno, é semitransparente e en- durece a carne, mas, quando cozido em calor úmido (temperatura superior a 100°C), o colágeno transforma-se em gelatina, tornando-a macia. É encontrado em grande quantidade nos tendões. ● AMARELO - composto de elastina, é muito flexível e tem aspecto brilhante, mas não é amaciado pela cocção, por este motivo deve ser retirado no momento do pré-preparo da carne. É encontrado em abundância nos ligamentos que unem os ossos e os órgãos. Para carnes ricas em tecido conjuntivo a cocção deve ser lenta, úmida e em uma temperatura reduzida, pois, quanto maior o tempo de cozimento, maior a rigidez provocada pelo endurecimento proteico, devido à coagulação de proteínas miofibrilares. Já quanto à temperatura, o calor (57 a 60°C) transforma o colágeno em gelatina, processo facilitado pela ação de ácidos, auxiliando no amaciamento da carne. 186UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 7. 1. 3 Tecido Adiposo A gordura nas carnes normalmente está localizada nas células do tecido conjuntivo, sendo os principais depósitos: ● ao redor dos órgãos internos; ● entre os músculos e em volta destes; ● diretamente sob a pele. Sua presença melhora o sabor, a suculência e a maciez da carne, diminui otempo de cocção e as perdas de sucos por evaporação. O tecido adiposo se funde a aproxima- damente 50°C (antes de a proteína coagular), assim a gordura liquefaz-se, produzindo o “goteio”.Assim, a perda de gordura não é total, porque ela fica retida na estrutura celular, mesmo depois da da cocção, ex.: torresmo (PHILIPPI, 2014). Na carne marmorizada, a gordura está presente entre os tecidos e, por isso, a sua textura é mais macia, além de ser mais suculenta e saborosa. Assim, a maciez da carne depende dos seguintes fatores: ● Teor de tecido conjuntivo e tamanho dos feixes musculares ● Presença de gordura ● Grau de contração muscular, associado ao rigor mortis e à maturação do mús- culo ● Capacidade de retenção de água (quanto maior, mais macia será a carne). ● Processo de cocção: é preciso cuidado com o excesso de calor por causa da produção de substâncias indesejadas. 7. 1. 4 Cor da Carne Os pigmentos responsáveis pela cor vermelha da carne são a hemoglobina do sangue e a mioglobina dos músculos (vermelho púrpura). Durante o cozimento, o calor age sobre a hemoglobina decompondo-a em hematina, de cor marrom (PHILIPPI, 2014). 7. 1. 5 Qualidade da Carne Para a compra, as carnes devem apresentar cor viva e odor próprio. Se estiverem arroxeadas, acinzentadas e esverdeadas, com manchas de sangue, traumas, resíduos de couro e pelos, descongeladas ou não, com odor forte e desagradável não devem ser adquiridas nem utilizadas na alimentação (ORNELLAS, 2007). Após a compra, se a carne não for imediatamente preparada, a conservação deve ser feita por congelamento rápido, pois há formação de cristais pequenos, com perda mí- 187UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética nima de nutrientes e menor contaminação. Se o congelamento for lento, a água contida no alimento formará cristais grandes, que destroem as células e facilitam a perda de água, sais e albumina (ORNELLAS, 2007). 7. 1. 6 Valor Nutritivo As carnes são fontes de proteínas de alto valor biológico (10 a 20%), gorduras (5 a 30%), quantidade irrelevante de carboidratos (0,8 a 1,0%), vitaminas principalmente B1, B2, B3 e B12, além da A, D e K, minerais, principalmente o ferro heme (de melhor absorção), Ca, Na, K e pigmentos (PHILIPPI, 2014; ARAÚJO et. al., 2014). 7. 1. 7 Cocção de Carnes o cozimento de carnes destrói microrganismos, coagula proteínas, abranda o teci- do conjuntivo e desenvolve sabor. Desta forma, para cada tipo de corte a aplicação de calor deve variar entre úmido e seco. ● CALOR ÚMIDO - mais indicado para cortes que contenham mais tecido conjun- tivo e fibras musculares mais grossas, ex.: paleta, acém, fraldinha, peito e capa de filé, músculo. ● CALOR SECO - utilizado em cortes mais macios com pouco tecido conjuntivo e fibras musculares mais finas, ex.: alcatra, lagarto, peito de frango, peixes. Para cortes como filé-mignon, contrafilé ou patinho, a forma de preparo mais adequada envolve preparações grelhadas ou mal passadas. Para aves e peixes, deve-se utilizar temperaturas mais brandas (50 a 60°C). 7. 2 Carne Bovina A portaria n°. 5, de 8 de novembro de 1988 da Secretaria de Inspeção de Produto Animal – SIPA, regulamenta os cortes comerciais de carne bovina no Brasil e a classifica- ção da carcaça bovina é baseada nas características de sexo, peso, conformação, grau de maturidade e de acabamento (cobertura de gordura). Os cortes podemser classificados de acordo com a quantidade de gordura em sua composição: ● Carnes gordas: quando a quantidade de gordura excede em 50% o valor caló- rico proveniente da gordura. Ex.: picanha, fraldinha, acém, capa de filé, filé da costela, contra-filé, ponta de agulha, paleta, pescoço. 188UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Carnes magras: quando a quantidade de gordura não excede em 50% o valor calórico proveniente da gordura.Ex.: lagarto, filé mignon, coxão duro, coxão mole, patinho, alcatra, maminha, músculo. 7. 2. 1 Carne de Sol É o corte de carne bovina que, depois de cortado, é ligeiramente salgado e exposto ao sol forte, formando uma crosta protetora que conserva a parte de dentro da carne úmida, suculenta e macia. Por esse motivo, deve ser grelhada ou frita, pois as fibras macias não precisam de muito cozimento. Preparações mais comuns: paçoca, maria isabel, carne de sol frita. (PHILIPPI, 2014). 7. 2. 2 Carne Seca As mantas de carne bovina são salgadas e empilhadas em lugar seco e limpo. As “mantas” de carne são trocadas de posição constantemente nessa pilha para facilitar a evaporação da água e evitar que a carne estrague. Em seguida, estendem-se os pedaços em varais ao sol para completar a desidratação. Essa carne possui uma concentração de água duas vezes maior e de proteínas quatro vezes em relação à carne fresca, porém sua digestão é mais difícil. Preparações mais comuns: arroz carreteiro, cozido, feijoada. 7. 2. 3 Mocotó Obtido pelo cozimento das cartilagens e tendões das patas de bois e porcos, podem ser consumidos cozido, na forma de caldo, geleia ou sopas. 7. 2. 4 Tutano É a medula dos ossos (fêmur e tíbia), utilizada como componente de molhos e acompanhamentos. O conjunto do músculo com o osso é chamado de ossobuco. 7. 2. 5 Baby Beef ou Vitela É proveniente do novilho com menos de 6 meses de idade com cortes parecidos com os de boi. Muito utilizada em assados, grelhados, escalopes, cozidos, guisados, enso- pados, bife, entre outras preparações. 189UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética 7. 2. 6 Miúdos ou Vísceras São órgãos internos que possuem elevado valor nutritivo, baixo custo e deterio- ram-se facilmente. Quando provenientes de aves, são conhecidos como miúdos e, quando provenientes de boi, porco, vitela e outros animais, são chamados de vísceras. Partes mais consumidas: fígado, língua, dobradinha, rabo, coração, miolo e rins. 7. 3 Carne Suína É a carne obtida do porco doméstico, adulto, descendente do javali. Quando novo, chama-se leitão, o adulto macho é o porco e a fêmea é a leitoa, sendo uma das carnes mais consumidas no mundo. É uma carne rosada, firme, com gordura branca e consistente, porém mais macia do que a gordura da carne bovina. É saudável, muito nutritiva (vitaminas A e B2, cálcio, ferro e fósforo, além de menor teor de gordura) e saborosa. Além da carne, podemos aproveitar seus subprodutos: toucinho, presunto, miúdos, ossos, além de uma variedade de embutidos e defumados. Para evitar a transmissão de cisticercose e teníase, é importante cozinhar a carne até 75°C, no seu centro geométrico (PHILIPPI, 2014). 7. 4 Carne de Ovino Este grupo de carnes abrange 3 tipos de animais: ● Cordeiro: animal de 4 meses a 1 ano. Há também o cordeiro de leite (animal de até 3 meses que ainda não desmamou). ● Carneiro: animal adulto e castrado ● Ovelha: fêmea que fornece basicamente leite e lã O cordeiro possui a carne mais consumida, tem textura lisa, macia, sabor suave, de fácil preparo, coloração rosa-avermelhada, de consistência firme e com pouca gordura. Já os animais mais velhos possuem gordura escura e abundante, além da carne ser mais vermelha. 7. 5 Carne de Caprino Esse tipo de carne é mais consumida pelos nordestinos e árabes. É uma carne com baixo teor de gordura e de calorias quando comparadas a outras carnes de animais domésticos. Os representantes deste grupo são: ● Cabrito: animal de 2 a 3 meses de idade, de carne insípida ● Cabra: fêmea adulta muito utilizada na produção de lã e leite ● Bode: macho adulto muito consumido em preparações típicas como a buchada de bode, apesar de a carne ser mais escura. Para o preparo, a carne deve ser bem lavada para retirar mucosidade, extraindo manchas, glândulas e coágulos. 7. 6 Aves É o tipo de carne mais consumida no mundo pelo preço, facilidade, curto período de criação e pela grande quantidade de aves de caça. A ave mais consumida é o frango, contudo peru, pato, marreco, ganso, faisão, galinha-d ‘angola, codorna, perdiz, pombo e chester também são consumidas em muitos lugares. As novas são mais tenras, têm menos tecido conjuntivo e gordura, sendo de mais fácil digestão e indicadas para aparelhos diges- tivos mais delicados. Quanto ao valor nutritivo, possuem conteúdo protéico semelhante às outras carnes, com menos gordura e menos colesterol, além de serem fontes de cálcio, ferro, fósforo, potássio e zinco. Fatores que podem interferir no valor nutritivo de aves são: raça, idade e condições higiênicas do animal (ABREU; SPINELLI, 2014). Ao comprar aves, algumas características devem ser observadas como: carne rosada, odor característico, músculos resistentes à pressão dos dedos, sem umidade, excesso de tecido conjuntivo e gordura aderidos, sem penugem. No que se refere ao abate, pode ser feito pelo destroncamento do pescoço (não aproveita o sangue) e pela degola (para evitar que o sangue coagule, deve-se colocar vinagre) (PHILIPPI, 2014). As aves podem ser classificadas de acordo com o tamanho e a idade em: ● frango de leite ou galeto: ave abatida com cerca de 600 g de peso, com até 3 meses de idade ● frango comum: pesa em torno de 1 Kg e é abatido entre 3 e 7 meses ● galo ou galinha: ave adulta com mais de 7 meses e com cerca de 1,5 Kg ● frango capão: de todos é o que tem maior peso por ser castrado (o que faz o frango engordar mais), sendo abatido em torno dos 7 meses. Quanto ao corte e ao modo de preparo, as aves se dividem basicamente em: ● PEITO - carne branca, macia e seca. Exemplos de modo de preparo: grelhado, frito, à milanesa, estrogonofe. 191UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● COXA, SOBRECOXA E ASA - partes escuras que podem ser usadas com osso ou desossadas. Podem ser assados, grelhados, fritos ou ensopados. ● MIÚDOS - compreendem fígado, coração e moela. Muito usados em churrasco (coração), em recheios, fritos, refogados, ensopados e fritos. ● PÉ - parte com maior concentração de colágeno. Utilizados em caldo, sopa, galantine. ● PESCOÇO - parte escura com pequenos ossos. Pode ser utilizado assado, em sopas e caldos. 7. 7 Pescados São todos os animais aquáticos que servem de alimento para o homem, obtidos de água doce ou salgada, por diferentes processos de captura ou pesca. Caracterizam-se por animais de sangue frio que têm o corpo dividido em três partes: cabeça, tronco e cauda. Podem ser consumidos diretamente ou aproveitados para industrialização, utilizan- do-se a carne, as ovas e os ovos ou os derivados: gelatina, farinha de peixe, concentrado de proteína de peixe (CPP), gordura ou óleo do fígado, produtos defumados, entre outros. Quanto à origem podem ser: ● De água salgada: pescada, merluza, sardinha, atum, bacalhau, pargo, robalo, linguado, tainha, cação, corvina, salmão, cavala, bonito, camarão, lula, lagosta, siri, polvo e ostra. ● De água doce: Pirarucu, tucunaré, lambari, pintado, dourado, traíra, curimbatá, truta, pacu, surubim, piau e tambaqui. ● Finos: de água fria, clara e profunda. Os magros têm sabor mais suave e gosto diferente dos peixes de água doce ou salgada, ex: vermelho, badejo, mero, garoupa, namorado. ● Populares: de água morna, rasa e lamacenta ou são capturados por arrastão, ex: corvina, pescadinha, cavalinha, sardinha. 7. 7. 1 Peixes Animais aquáticos de esqueleto cartilaginoso ou ósseo, que possuem guelras.Os que migram são mais gordurosos e ricos em ômegas 3 e 6, e de músculo escuro, em razão do esforço físico para se deslocar. São exemplos: atum, sardinha, bagre, tainha, anchova, arenque, cavala, salmão. Já aqueles que apresentam menor irrigação sanguínea e sabor suave são considerados peixes de carne clara: corvina, bacalhau, badejo, garoupa, linguado, pescada, robalo, carpa, dourado (PHILIPPI, 2014). Quando fresco e magro, é de alta digestibilidade pela falta de tecido conjuntivo. São fontes de proteínas de alto valor biológico e de ômega 3, mas em relação ao teor de proteínas e purinas assemelham-se às carnes. Os de água salgada são ótimas fontes de iodo, contém quatro vezes mais cálcio que as carnes comuns e baixo conteúdo de tecido conjuntivo, além do óleo de fígado ser uma excelente fonte de vitaminas A e D (PHILIPPI, 2014). De modo geral, são de fácil preparo e apresentam uma diversidade de sabores. As preparações são realizadas como filé, postas ou com o peixe inteiro. 7. 7. 2 Mariscos ou Frutos do Mar ● CRUSTÁCEOS - apresentam carapaça dura, alguns com pequenas protuberân- cias, além de possuírem patas, pinças e até mesmo garras. Apesar de nutritivos e desprovidos de gordura, possuem alto teor de colesterol e sódio, vitaminas e iodo. Neste grupo, encontramos camarão, lagosta, caranguejo e siri. ● CETÁCEOS - são mamíferos dos quais são aproveitados o óleo, a pele e os ossos, ex.: baleia e golfinho. ● MOLUSCOS - são invertebrados de corpo mole e cartilaginoso que utilizam conchas, que servem de proteção e moradia e se classificam em: ● Univalves - caracóis e escargot ● Bivalves - mexilhões, ostra, sarnambi, vôngoles, vieiras, sururu, dentre outros ● Cefalópodes - lulas e polvos – textura melhor quando pequenos. Possuem valor nutritivo semelhante à carne de peixes magros (ricas em proteína e glicogênio), fato que facilita a sua decomposição. Para abrir as valvas pode usar calor seco ou úmido. QUELÔNIOS - apresentam carne na carapaça, ex.: tartaruga. 7.7.3 Sinais de reconhecimento da qualidade de pescados 7. 7. 3. 1 Peixes ● Carne firme, elástica e resistente à pressão dos dedos ● Carne branca, rosada, com reflexos madrepérolas ● Cauda firme na direção do corpo 193UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética ● Cheiro característico (de planta aquática) ● Olhos salientes e brilhantes ● Guelras vermelhas e com cheiro fresco característico ● Escamas bem aderidas à pele - Pele brilhante e úmida, sem untuosidade ● Ventre não abaulado 7. 7. 3. 2 Ostras, mariscos e mexilhões ● Conchas duras, bem ajustadas que, quando comprimidas, não provocam ne- nhum som. ● Carne sólida, de cor clara brilhante, sem adição de água ● Cheiro característico ● Gosto agradável 7. 7. 3. 3 Lagosta, siri e caranguejo ● Devem ser adquiridos e submetidos à cocção vivos. ● Na compra de lagosta, quando frigorificada, observar a direção da cauda, pois, se estiver no sentido horizontal, indica que foi cozida depois de morta. 7. 7. 3. 4 Camarão ● Carne firme, de cor branco--acinzentada, que se torna rosada quando cozida. ● Cheiro e gosto são característicos e agradáveis. 194UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética SAIBA MAIS Em um restaurante, que manipula uma grande quantidade de alimentos todos os dias, o Fator de Correção ou Indicador de Parte Comestível é importante não apenas na hora do preparo do prato, mas também para o cálculo da quantidade de insumos a serem adquiridos e, ainda mais importante, para a correta precificação de cada item oferecido no menu. O fator de correção dos alimentos é uma constante única para cada alimento, que é obti- da do cálculo entre seu peso bruto e seu peso líquido, ou seja, depois de feita a limpeza dos alimentos, como ossos, gordura, pele, talos, sementes e cascas dos alimentos. Para não perder tempo no dia a dia, existem tabelas com uma base aproximada do FC de um grande grupo de alimentos. Acesse o link abaixo e tenha acesso a uma tabela atualizada. Fonte: Disponível em: http://mundocozinha.blogspot.com/2012/01/fator-de-correcao-de-alimentos-tabela_13.html Você sabe a diferença entre lixo, rejeito e resíduo ? A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define o lixo como os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou des- cartáveis, podendo se apresentar em estado sólido e líquido, desde que não seja pas- sível de tratamento. Resíduo é tudo aquilo que pode ser reutilizado e reciclado e, para isto, este material pre- cisa ser separado por tipo, o que permite a sua destinação para outros fins. Podem ser encontrados nas formas sólida (resíduos sólidos), líquida (efluentes) e gasosa (gases e vapores). Já o rejeito, é um tipo específico de resíduo, onde todas as possibilidades de reaproveitamento ou reciclagem já tiverem sido esgotadas e não houver solução final para o item ou parte dele e, portanto, as únicas destinações plausíveis são encaminhá- -lo para um aterro sanitário licenciado ambientalmente ou incineração, que devem ser feitas de modo que não prejudique o meio ambiente. Para saber mais sobre esse assunto, acesse a Lei 12.305, que fala sobre as políticas nacionais de resíduos sólidos: http://mundocozinha.blogspot.com/2012/01/fator-de-correcao-de-alimentos-tabela_13.html 195UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética Fonte: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm O Brasil é o terceiro produtor mundial de frutas frescas e quase toda a produção é des- tinada ao abastecimento interno. A maioria das frutíferas possui exploração feita em pequenas e médias propriedades, incluindo a agricultura familiar. Esse cenário indica a possibilidade de expansão do mercado de frutas produzidas no país. Para saber mais sobre esse tema, acesse o vídeo disponível em: https://youtu.be/JS- QxyhbyxuE REFLITA “O mundo já tem mais obesos que famintos. Nossos sistemas alimentares estão fa- lhando. Estão entregando o acesso a uma comida de baixo valor nutricional. Barata, mas de baixo valor nutricional. As pessoas comem, acham que estão bem alimentadas, mas não, não estão. Estão saciadas de fome, porque comeram muito sal, muito açúcar, muitos óleos, graxas, gorduras saturadas. Estamos comendo cada vez mais produtos ultraprocessados que a gente nem sabe o que contém.” Fonte: José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Ali- mentação, FAO. Disponível em: https://youtu.be/lr4x8NphURw http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm https://youtu.be/JSQxyhbyxuE https://youtu.be/JSQxyhbyxuE https://youtu.be/lr4x8NphURw 196UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética CONSIDERAÇÕES FINAIS Caros alunos, como vimos nesta unidade, a técnica dietética desenvolve diversos cálculos com o objetivo de determinar as perdas ou ganhos que os alimentos sofrem durante o seu preparo como Fator de Correção (FC), Índice de Conversão (IC) e Índice de Reidratação (IR), além do custo de uma receita através da Ficha Técnica de Preparação (FTP). Devemos sempre analisar o modo mais adequado de preservar ou melhorar as características dos alimentos como sabor, textura, odor, consistência, e preservar os nu- trientes para uma alimentação equilibrada. Apresentamos nesta unidade os principais grupos de alimentos que formam a base das preparações de alimentos : ovos, leite e derivados, óleos e gorduras, cereais e legu- minosas, açúcares e edulcorantes, frutas e hortaliças, além de carnes, aves e pescados, cada um com suas características próprias, valor nutricional, aplicações na gastronomia, métodos de processamento e aspectos sensoriais. São conhecimentos que vocês, caros alunos, levarão como base para todo o curso de gastronomia. 197UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética LEITURA COMPLEMENTAR Mudanças dos hábitos alimentares provocados pela industrializaçãoe o im- pacto sobre a saúde do brasileiro A alimentação é uma necessidade fisiológica básica, um direito humano e um ato sujeito a tabus culturais, crenças e diferenças no âmbito social, étnico, filosófico, religioso e regional. O ato de alimentar-se incorpora tanto a satisfação das necessidades do organismo quanto se configura como uma forma de agregar pessoas e unir costumes, representado assim um ótimo método de socialização. Mezomo (2002) define hábitos alimentares como os atos concebidos pelos indivíduos em que há seleção, utilização e consumo de alimentos disponíveis. Nas últimas décadas, foi possível observar mudanças nos hábitos alimentares em diversos países, o que reflete a complexidade dos modelos de consumo e dos fatores que os determinam (PINHEIRO, 2001). Tais mudanças afetam a qualidade dos alimentos produzidos e industrializados. Na tentativa de adequar a alimentação ao ritmo acelerado do dia-a-dia, as escolhas e os hábitos de consumo passaram a apontar para alimentos mais condizentes com o novo estilo de vida, fazendo com que fossem incorporados hábitos rápidos e práticos. Estes muitas vezes são menos satisfatórios ao paladar e possuem aporte nutritivo menor do que no padrão anterior, no qual se prezava por hábitos naturais e mais saudáveis de alimentação (ABREU et al, 2001; FLANDRIN & MONTANARI, 1996; SOUZA & HARDT, 2002; OLIVEIRA, 1997). Na contemporaneidade, a alimentação é caracterizada pelo estilo de vida moderno, marcada pela escassez de tempo para preparo e consumo de alimentos, o que leva à emer- gência de alimentos do tipo fast food, que emprega técnicas de conservação e preparo, agregando tempo e trabalho. Em contrapartida, uma parte da população desperta para os aspectos da saúde, optando por uma alimentação do tipo slow food, prezando pela escolha dos alimentos e pela qualidade das preparações (CAMPOS, 2004). Devido às intensas transformações pelas quais os hábitos alimentares da popu- lação brasileira têm passado nos últimos 10 anos, em especial, e sendo este um campo de extremo interesse para qualquer profissional da área de nutrição, esta revisão torna-se relevante no sentido de estabelecer um panorama atual da alimentação brasileira, enfati- zando alguns impactos pontuais que estas modificações provocaram e vêm provocando na saúde da população. 198UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética Os objetivos do presente trabalho são: retratar o histórico da alimentação no Brasil bem como identificar e avaliar o impacto das mudanças alimentares provocadas pelo binô- mio urbanização/industrialização sobre a saúde da população brasileira. No Brasil, os hábitos alimentares formaram-se a partir da miscigenação das culinárias indígena, portuguesa e africana e, com o decorrer do tempo, foram adquirindo características e peculiaridades. Cada região do país desenvolveu uma cultura popular rica e diversificada, onde figura uma culinária própria, devido à influência das correntes migratórias e adaptações ao clima e disponibilidade de alimentos (PINHEIRO, 2001; BLEIL, 1998; ABREU et al, 2001). Até o século XX, muitas descobertas técnico-científicas importantes levaram ao progresso e também à modificação dos costumes alimentares: o aparecimento de novos pro- dutos; a renovação de técnicas agrícolas e industriais; as descobertas sobre fermentação; a produção do vinho, da cerveja e do queijo em escala industrial e o beneficiamento do leite; os avanços na genética, que permitiram aprimorar o cultivo de plantas e a criação de animais; a mecanização agrícola; e ainda o desenvolvimento dos processos técnicos para conservação de alimentos (PINHEIRO, 2001; ABREU et al, 2001; MONDINI & MONTEIRO, 1994). Através da perspectiva histórica pode-se realizar a análise do consumo alimentar com base na noção de “sistemas alimentares”. Estes seriam baseados em diferentes agen- tes sociais (produtores, distribuidores, consumidores e Estado), estratégias e relações que se estabelecem entre eles, ao longo do tempo, de modo que se possa compreender de que formas os hábitos alimentares se constroem e evoluem (SOUZA, 2002). Além disso, é importante salientar que a formação e transformação de hábitos alimentares com o passar dos tempos tem relação estreita com a cultura e com as crenças (religiosas ou não) de um povo (PINHEIRO, 2001; ABREU et al, 2001). A história da alimentação nacional é atingida pela Revolução Industrial em vários aspectos, sobretudo devido ao desenvolvimento das indústrias alimentares, pois os alimentos eram fabricados artesanalmente e passaram a ser produzidos por poderosas fábricas, como revelam Flandrin & Montanari (1996). A evolução das ciências e da tecnologia, ao longo dos anos, torna possível tomar consciência da alimentação moderna, quer apreciando suas van- tagens, quer apontando suas inconveniências (ABREU et al, 2001; GARCIA, 2003). O binômio urbanização/industrialização atua como fator determinante na modifica- ção dos hábitos alimentares, gerando transformações no estilo de vida de praticamente toda a população mundial (GARCIA, 2003). Segundo Mezomo (2002), a alimentação de hoje é profundamente diferente dos nossos antepassados, que viviam em contato com a natureza, 199UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética alimentando-se de tudo que ela lhes oferecia: animais abatidos (carne), frutas, gramíneas, folhas, raízes etc. Atualmente, diante da variedade de facilidades que a indústria alimentícia proporciona, associada à falta de tempo e a praticidade que é fornecida, é possível delinear e caracterizar os novos hábitos alimentares da população brasileira. De acordo com Garcia (2003), a globalização atinge a indústria de alimentos, o setor agropecuário, a distribuição de alimentos em redes de mercados de grande superfície e em cadeias de lanchonetes e restaurantes. Tem-se percebido a tendência dos brasileiros em adotarem novos hábitos, criados pela indústria alimentar e marcados pelo consumo excessivo de produtos artificiais, em detrimento de produtos regionais com tradição cultural (BLEIL, 1998; MONDINI, 1994; SOUZA, 2002). A transição nutricional pode ser definida como o conjunto de mudanças nos pa- drões nutricionais resultantes de modificações na estrutura da dieta dos indivíduos e que se correlacionam com mudanças econômicas, sociais, demográficas e relacionadas à saúde. Nesse ínterim, é indispensável evidenciar a preocupação com a saúde da população, que tem sido seriamente afetada pelo turbilhão de mudanças ocorridas nos hábitos alimenta- res, a partir da acelerada industrialização e das políticas estatais vigentes (GARCIA, 2003; MONTEIRO & MONDINI, 2000; OLIVEIRA, 1997). Além das modificações na cultura alimentar, a qualidade da alimentação foi bas- tante afetada. A variedade de alimentos consumida pelos brasileiros é menor, não havendo concomitante melhora na qualidade da dieta, que passa a ter menor valor nutricional. O aumento na frequência da alimentação feita fora de casa e a preferência pela compra de alimentos em supermercados são fatores que favorecem a diversificação de gêneros e o consumo de alimentos industrializados (PINHEIRO, 2002; SOUZA, 2002; BATISTA-FILHO & RISSIN, 2003). Diante dessa tendência, a cultura do fast food se apresenta como uma realidade condizente com a mentalidade moderna global. A predileção pela quantidade, em detrimento da qualidade e do sabor, e a ausência de uma tradição local ligada à gastrono- mia, favorecem produtos de status que influenciam os hábitos de consumo da população, principalmente a jovem (MONDINI & MONTEIRO, 1994; MONTEIRO & MONDINI, 2000). No sentido contrário ao estilo fast food, surgiu, por volta de 1986, em Roma, o movimento Slow Food, cujo símbolo é um significativo caracol (CAMPOS, 2004). O Slow Food atual- mente conta com milhares de adeptos por todo o mundo, e segue uma filosofia voltada paraa preservação da satisfação e do gosto, não somente na degustação dos alimentos, mas também no processo de preparação. Essa preocupação atinge até o cultivo dos alimentos de forma “ecologicamente correta”, dando preferência, por exemplo, aos produtos orgâni- 200UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética cos e aos alimentos integrais (OLIVEIRA & THÉBAUD-MONY, 1997; ANSILIERO, 2006; PINEYRUA, 2006). Procurando estreitar a relação entre comida e cultura, o movimento SlowFood, através de seus representantes e membros associados, criou nos mais diversos cantos do mundo eventos chamados de convivium, que tem por finalidade a celebração da cultura local através da gastronomia. Estes grupos reúnem-se periodicamente para a degustação dos pratos típicos da região onde está se realizando o evento, procurando, desta forma, destacar a culinária, transmitindo e preservando as tradições culturais da loca- lidade (VASCONCELOS, 2006; OLIVEIRA & THÉBAUD-MONY, 1997; ANSILIERO, 2006; PINEYRUA, 2006). De forma bastante simplista, podem-se considerar como princípios fundamentais do Slow Food: defesa dos pequenos prazeres e do ritmo de vida do homem; oposição à extremada simplificação das refeições; oposição ao uso desnecessário e ex- cessivo dos produtos químicos e agrotóxicos no tratamento dos alimentos; e preservação dos tradicionais significados culturais da culinária nas mais diversas regiões (OLIVEIRA & THÉBAUD-MONY, 1997; ANSILIERO, 2006). A transição nutricional ocorrida neste século resultou na chamada “dieta ocidental” caracterizada pelos altos teores de gorduras, principalmente de origem animal, de açúcares e alimentos refinados e baixos teores de carboidratos complexos e fibras (MONTEIRO et al, 2000). A dieta ocidental e o aumento da obesidade estão amplamente associados com a alta prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e a diminuição da qualidade de vida da população (FERREIRA et al, 2005). Enquanto na Europa e nos países asiáticos a mudança de hábitos ocorreu de forma gradual, o que se observa no ocidente é um ace- lerado ritmo de mudanças, tendo como consequência doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias, que atingem todas as faixas etárias e são configuradas como problemas de saúde pública (BATISTA-FILHO & RISSIN, 2003; FRANCISCHI et al, 2000). O consumo de gorduras saturadas está fortemente associado à ocorrência de doença coronariana, assim como estudos evidenciam que o consumo de gordura de origem animal está ligado à ocor- rência de câncer de cólon, próstata e mamas (SARTORELLI & FRANCO, 2003; QUEIROZ, 2008). Ainda envolvendo a composição lipídica da dieta, há evidências de que a obesidade possa se relacionar à proporção de energia proveniente de gorduras, independentemente do total calórico da dieta (MONTEIRO et al, 2000; OLIVEIRA & FISBERG, 2003; QUEIROZ, 2008). Por outro lado, há igualmente evidências de que dietas ricas em legumes, verduras e frutas cítricas encontram-se associadas à ocorrência menor de alguns tipos de câncer, como os de pulmão, cólon, esôfago e estômago (KANG & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003). Em- bora os mecanismos subjacentes à associação não estejam completamente esclarecidos, 201UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética sabe-se que essas dietas são usualmente pobres em gordura saturada e ricas em fibras e diversas vitaminas e minerais (KANG & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003; BATISTA-FILHO et al, 2008). Os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar - POF (2003) que analisam a disponibilidade domiciliar de alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras confirmam que as mudanças de padrão alimentar no país têm sido, de modo geral, favoráveis do ponto de vista dos problemas associados à subnutrição (devido ao aumento da participação de alimentos de origem animal na alimentação) e desfavoráveis no que se refere às doenças carenciais como anemia e hipovitaminose A, a obesidade e às demais DCNT (devido ao aumento da ingestão de gorduras em geral, gorduras de origem animal e açúcar e dimi- nuição com relação a cereais, leguminosas e frutas, verduras e legumes). Associadas ao sedentarismo, essas tendências podem explicar as taxas de prevalência de excesso de peso e da obesidade entre adultos (MONDINI & MONTEIRO, 1994; OLIVEIRA, 1997). Um estudo realizado por Ferreira et al (2005), com uma população de mulheres moradoras da periferia da cidade de Maceió, concluiu que a prevalência de sobrepeso/obesidade foi menor do que a de desnutrição. A baixa estatura, um indicador de desnutrição no início da vida, foi um importante fator de risco para a hipertensão arterial e para a obesidade abdominal. Foi possível constatar a partir do trabalho que, apesar da miséria, a população parece estar passando pelo processo de transição nutricional, em que há um aumento do aporte calórico em detrimento da qualidade dos alimentos ingeridos. Segundo Oliveira (1997), as mudanças observadas nas pesquisas e estudos realizados refletem, de um lado, as variações no preço relativo de gêneros alimentares levando a substituições, como carnes, feijão e outros gêneros industrializados e, por outro lado, o aumento do interesse em relação à nutrição e à saúde pelo fenômeno da transição epidemiológica que vem tomando lugar no Brasil. A cultura alimentar é, ainda, complementada por outros canais, sendo os super- mercados os mais significativos. A possibilidade de adquirir ALIMENTOS em grandes redes de supermercados faz com que o consumidor se deslumbre com as diversas opções, com a novidade das indústrias alimentícias e com os preços cada vez mais atrativos de alguns gêneros (devido à competição entre várias marcas), não agregando grande importância aos aspectos relacionados com o valor nutricional do alimento que estão adquirindo (ALMEIDA et al, 2002; GARCIA, 2003; OLIVEIRA, 1997). Quando se diz que a ascensão econômica de um país se reflete no padrão de con- sumo alimentar e consequentemente no perfil de morbimortalidade da população, deve-se buscar entender como e porque a prosperidade econômica atinge as diferentes culturas em uma mesma direção. 202UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética As mudanças no padrão alimentar devem ser entendidas por seus aspectos ob- jetivos e subjetivos, levando-se em consideração a urbanidade como contexto da comen- salidade contemporânea (VASCONCELOS, 2006; BATISTA-FILHO & RISSIN, 2003). Há, na produção e no consumo, um caráter cosmopolita. Quanto mais afluente se torna uma sociedade, maiores necessidades vão sendo criadas pelo mesmo processo em que são satisfeitas. As necessidades dependem da produção, podendo surgir antes mesmo dela, através da publicidade ou do marketing. Além disso, a publicidade e a ideologia de consumo ganham importância, favorecendo a formação de novos hábitos alimentares e influenciando as escolhas de consumo (ALMEIDA et al, 2002; SANTOS, 2007). O advento da industrialização, concomitantemente com uma série de descobertas técnico científicas, colaborou de maneira marcante para as transformações no estilo de vida das pessoas, sobretudo no que diz respeito aos costumes alimentares da população brasileira. Nas últimas décadas é notória a mudança nos hábitos alimentares em todo o mun- do na tentativa de agregar tempo e praticidade ao estilo de vida moderno. Entretanto, essas mudanças, observadas principalmente com o surgimento da alimentação tipo fast food, afetam a qualidade do alimento e seu valor nutricional, devendo-se ressaltar os impactos que esse tipo de alimentação pode causar na população. Como resposta aos efeitos padro- nizantes do fast food, e ao ritmo frenético da vida moderna, aparece o slow food na tentativa de um estilo de vida mais saudável, prezando a qualidade do alimento e a consciência do ato de alimentar-se. A transição nutricional pela qual a sociedade tem passado é caracterizada por uma dieta extremamentecalórica, rica em açúcares e gorduras, e insatisfatória quanto ao aporte nutricional, revelando as consequências que uma alimentação sem qualidade pode trazer do ponto de vista da saúde. O surgimento e/ou agravamento de patologias como a obesidade, a desnutrição, as dislipidemias, hipertensão, diabetes, cardiopatias, dentre outras, além da diminuição qualida- de de vida da população, estão intimamente ligadas à alimentação do indivíduo. Esclarecer o quanto o binômio urbanização/industrialização influenciou e vem influenciando os hábitos alimentares dos brasileiros, bem como apontar as suas possíveis consequências na saúde da população são os primeiros passos para a conscientização da população a respeito da im- portância de uma alimentação saudável. Faz parte das atribuições do nutricionista, enquanto profissional e formador de hábitos alimentares, atentar para estas modificações no panorama da alimentação brasileira, atuando diretamente na adoção de hábitos alimentares saudáveis e que visem a promoção da saúde e qualidade de vida da população. Fonte: FRANÇA, Fabiana Chagas Oliveira et al. Mudanças dos hábitos alimentares provocados pela industrialização e o impacto sobre a saúde do brasileiro. Anais do I Seminário Alimentação e Cultura na Bahia, v. 1, p. 1-7, 2012. 203UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: TÉCNICA DIETÉTICA - Seleção e preparo de alimentos Autor: Lieselotte Hoeschl Ornelas; Editora: Atheneu. Sinopse: A Técnica Dietética visa oferecer a cada indivíduo o que ele precisa para a manutenção da saúde, levando em considera- ção os aspectos de composição química dos alimentos, as modi- ficações que sofrem para serem assimilados e aproveitados pelo organismo, sem perder de vista, porém, os aspectos criteriosos de seleção econômica e a preservação das propriedades nutritivas do material alimentar utilizado. LIESELOTTE HOESCHL ORNELLAS é sem contestação uma das maiores nutricionistas vivas do Brasil. A 8ª edição foi amplamente atualizada e sem dúvida é a mais atualizada no mercado. O formato do livro também foi mudado. Além da Professora Lieselotte Hoeschl Ornellas, também participa desta edição a Profª. Shizuko Kajishima, Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense RJ; e Professora Marta Regina Verruma-Bernardi, Professora Adjunta da Universidade Federal de São Carlos SP. LIVRO 02 Título: Técnica Dietética - Teoria e Aplicações Autor: Semírames Martins Álvarez Domene. Editora: Guanabara Koogan. Sinopse: Esta obra é a mais prática e atualizada referência sobre Técnica Dietética na literatura, engloba os conteúdos programá- ticos fundamentais para a graduação de nutricionistas em uma perspectiva que reconhece o papel da Dietética para o exercício da Nutrição em todas as esferas de atuação profissional. Os de- safios para a alimentação saudável exigem mais do que ampliar a produção de alimentos. Selecionar um ingrediente e escolher uma técnica de preparo são ações que exercem influência sobre diversas cadeias produtivas, gerando implicações econômicas, culturais, ambientais e políticas, além do previsível efeito sobre a saúde. Esta segunda edição, revisada e atualizada, amplia o comprometimento deste campo disciplinar com a valorização da cultura local e o uso de alimentos com baixo grau de processa- mento, e conta com atividades práticas e outros elementos que fa- cilitam o aprendizado. Além disso, o conteúdo relativo à qualidade da alimentação está alinhado com as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, tornando esta obra um recurso di- dático acessível e contemporâneo para estudantes de Nutrição e interessados nessa área. 204UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética FILME/VÍDEO Título: Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento Ano: 2000. Sinopse: Erin Brockovich é a mãe de três filhos que trabalha em um pequeno escritório de advocacia. Quando descobre que a água de uma cidade no deserto está sendo contaminada e espalhando doenças entre seus habitantes, ela convence seu chefe a deixá-la investigar o caso. Erin usa todas as suas qualidades naturais, desde a fala macia e convincente até seus atributos físicos, para convencer os cidadãos da cidade a cooperarem com ela, fazendo com que tenha em mãos um processo de 333 milhões de dólares. 205UNIDADE IV Introdução à Técnica Dietética WEB O consumo de leite e derivados sempre gera polêmica entre nutricionistas e médicos Nessa entrevista, o Dr. Lair Ribeiro, escritor, médico e nutricionista expõe pesquisas científicas sobre os malefícios do leite e derivados na alimentação humana. Esses dados merecem uma reflexão de todos nós, pois muitas doenças estão atreladas ao consumo desse alimento. Disponível em :https://youtu.be/arKIeV4n2Gk Desperdício de alimentos - quem paga essa conta ? Há mais de duas décadas, esse tema chama atenção de especialistas em seguran- ça alimentar e de ativistas que defendem o meio ambiente. A perda de alimentos também significa perda de recursos naturais. Hoje, um terço do que é produzido no campo não chega à mesa do consumidor. No Brasil, 60% dos alimentos produzidos no campo já são desperdiçados entre a colheita, o transporte e o manuseio. Outros 30% se perdem nas Centrais de Abastecimento, as Ceasas, e mais 10% são jogados fora nos supermercados e nas residências. A equipe de reportagem mostra como e onde ocorre grande parte dessa perda de alimentos, e apresenta exemplos de gente que encontrou maneiras de contribuir para mudar essa realidade. Dísponivel em:https://youtu.be/8d-IbTYlQz4 https://youtu.be/arKIeV4n2Gk https://youtu.be/8d-IbTYlQz4 206 REFERÊNCIAS ABERC – Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. Manual ABERC de práticas de elaboração e serviço de refeições para coletividades. ABERC, v. 10, 2013. ABRANTES, J. Como o Programa dos Oito Sensos (8S) pode ajudar na educação e qualificação profissional, reduzindo custos, aumentando a produtividade e combatendo o desemprego. 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