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Aula 1 – Idoso Frágil e Sarcopenia 
Introdução 
A fragilidade é um conceito relacionado a perda de funcionalidade do indivíduo. A perda de função pode ocorrer mesmo em adultos jovens, que sofrem um evento agudo que causam uma perda de função temporária (Ex: fratura de fêmur), podendo retornar à fragilidade normal ou não. Pacientes idosos perdem a funcionalidade de forma mais fácil, e o retorno à funcionalidade é mais demorado, já que estão mais sujeitos à intercorrências como pneumonia, úlcera de decúbito, infecções, etc, com maior probabilidade de não retornar à normalidade e atingir a Síndrome da Fragilidade. 
Idosos frágeis são aqueles que sofrem um declínio funcional em consequência da combinação de efeitos da doença e idade, e estão mais vulneráveis a uma piora da capacidade funcional. A fragilidade aumenta com a idade, e é mais prevalente em mulheres, afro descendentes, com menor nível educacional, menor renda, com comorbidades crônicas e incapacidades. É definida como uma síndrome biológica de diminuição da capacidade se reserva homeostática do organismo e da resistência aos estressores, que resultam em declínios cumulativos em múltiplos sintomas fisiológicos, causando vulnerabilidade e desfechos clínicos adversos. 
É uma entidade clínica, cujo diagnóstico é feito por meio de anamnese e exame físico. Os achados laboratoriais da doença estão presentes em idosos independente da presença da doença. 
Fisiopatologia e Quadro Clínico 
Perda de peso, fraqueza, fadiga, adinamia, inatividade e inapetência, sintomatologia que sinalizam sarcopenia, um marcador da síndrome da fragilidade. Além disso, estão presentes anormalidades no equilíbrio e na marcha e osteopenia, que inevitavelmente leva para declínio funcional, institucionalização e morte. Cursa com uma dependência que eventualmente irá cursar com restrição ao leito, com necessidade de apoio de amigos e familiares para manter a autonomia e independência. 
Ocorre devido a certas alterações que estão presentes em todos os idosos, mas que apenas uma pequena porção da população idosa evolui com Síndrome da Fragilidade. Incluem: 
• Desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com elevações prolongadas da concentração de cortisol, reduzindo a massa muscular e óssea. 
• Alteração do sistema imunológico com aumento na secreção de citocinas (IL-6), TNF-α, relacionando-se com disfunção neuroendócrina e perda de massa muscular. 
• Diminuição nas concentrações de hormônios esteroidais relacionando-se com diminuição de respostas inflamatórias. 
• Diminuição da testosterona, hormônio do crescimento e IGF-1 (insulin like growt factor) levando à sarcopenia e estudos comprovam a reposição de testosterona e hormônio do crescimento com melhora da massa muscular em idosos, porém sem ganho de força e com pouco efeito positivo sobre a fragilidade. 
SÃO PREDITORES DE FRAGILIDADE: DESEQUILÍBRIO, SARCOPENIA OU PERDA DA FORÇA MUSCULAR E DESNUTRIÇÃO. 
ESSES DESFECHOS SINALIZAM AO MÉDICO QUE O PACIENTE ESTÁ SE APROXIMANDO DO MECANISMO DE MORRER. COM ISSO, HÁ MAIOR DIFICULDADE DE CUIDAR E DE TRATAR ESSES PACIENTES, JÁ QUE O PRODUTO FINAL DA SÍNDROME É A MORTE. POR ISSO, HÁ MAIOR ÊNFASE NO CUIDADO DO PACIENTE, COM CUIDADO PARA NÃO PRATICAR IATROGENIA, E NA PREVENÇÃO DESSA CONDIÇÃO. 
Sintomas: perda de peso, fraqueza, inapetência, anorexia e inatividade • Sinais: sarcopenia, osteopenia, 
desnutrição, distúrbios da marcha e desequilíbrio, resistência diminuída e resposta diminuída aos estressores. Todos esses sinais e sintomas levam à desfechos adversos, como: 
Desfechos Adversos da Fragilidade → quedas e lesões, doenças agudas, hospitalização, incapacidade e dependência, institucionalização e morte. 
A mobilidade diminuída dos idosos ocorre por distúrbios da visão, do equilíbrio e diminuição da massa muscular, o que pode gerar quedas e fraturas se não prevenidos. O ponto que causa a queda da funcionalidade do paciente não é o momento da queda, mas sim no início das alterações de mobilidade diminuída 
Investigação Diagnóstica 
Anamnese e bom exame físico • identificar ou afastar os 5 Is da geriatria • identificar manifestações atípicas como determinantes na instalação de fragilidade (declínio, quedas e incontinência) • reconhecer e saber conduzir a polifarmácia • avaliar sempre a capacidade funcional (sentar - ficar em pé – caminhar) • realizar a avaliação geriátrica ampla e sistemática da cognição, humor, comunicação, mobilidade, equilíbrio, funções, nutrição, recursos ambientais e sociais • buscar diagnóstico de infecção, ICC, distúrbios metabólicos, alcoolismo • tomar cuidado com medicamentos de controle pressórico devido a hipotensão postural. 
Exames auxiliares: Hemograma completo, glicemia, proteínas totais e frações, provas de função hepática/renal, TSH, T4 livre, cálcio, sódio, potássio, EAS, Raios-X tórax, ultrassonografia abdominal total. Podem estar normais apesar da presença de Síndrome de Fragilidade. 
Tratamento 
Deve ser feito com bom senso e paciência. Atividade física com treinamento de força, flexibilidade, equilíbrio e capacidade aeróbica • medicamentoso se necessário, sempre com a menor dose possível • tratar a polifarmácia • corrigir ou minimizar os fatores desencadeantes da síndrome fragilidade • suporte nutricional agressivo, hiperproteico, hipercalórico e vitaminas (corrigir déficit proteico – encaminhar ao Nutricionista) • tratar e abolir a dor • informação de condutas ao cuidador e paciente • acompanhamento próximo ao idoso • monitorar sempre cognição, mobilidade e equilíbrio, os pilares de melhora ou piora. 
Sarcopenia 
Síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e função muscular com risco de eventos adversos como prejuízo da capacidade funcional, incapacidade de mobilidade, incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte prematura. É caracterizada por redução da massa muscular e função muscular, da força ou do desempenho, e não é exclusivo da população idosa (Ex: distrofia muscular de 
 
Duchenne, sequelas de AVE, etc). Um fator protetor contra a sarcopenia é a realização de atividades físicas desde jovem. 
O METABOLISMO DOS IDOSOS É DIFERENTE DO DOS JOVENS, E O GANHO DE MASSA MUSCULAR DEMORA MAIS TEMPO, MAS ISSO NÃO SIGNIFICA QUE O IDOSO NÃO TEM CAPACIDADE DE GANHAR MASSA. 
A sarcopenia é dividida em primária, que não tem nenhuma outra causa evidente exceto o envelhecimento, e secundária, que pode estar relacionada à nutrição (ingestão dietética inadequada de calorias e/ou proteínas, má absorção, distúrbios gastrointestinais ou uso de medicações que causem anorexia), à atividade (restrição ao leito, estilo de vida sedentário, falta de condicionamento físico) e a certas doenças (insuficiência orgânica avançada de coração, pulmão, fígado, rins ou cérebro, doença inflamatória maligna ou doenças de origem endocrinológicas. Essa classificação é apenas didática, e é comum que um mesmo indivíduo sacropênico possua diversas etiologias, primárias e secundárias. 
A profilaxia/tratamento da sarcopenia envolve exercícios de
resistência (musculação), conforme as condições físicas de cada
paciente, e dieta orientada com suplementação de proteínas, mas com grande dificuldade na adesão do paciente. O tratamento é a longo prazo, podendo durar meses ou anos e geralmente implica uma mudança de estilo de vida, portanto para a vida toda. Até o momento nenhum medicamento foi especificamente desenvolvido para tratar sarcopenia, todavia, alguns medicamentos apresentam potencial para prevenir e tratar sarcopenia: testosterona, deidroepianddrosterona, nandrolona, estrógeno, GH, vitamina D e creatinina. Em estágios mais avançados da doença, assim como na síndrome do idoso frágil, o tratamento é meramente de suporte, com TTO de complicações e cuidado com iatrogenia.

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