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História da Cidade de Imperatriz MA - Autor Adalberto Franklin

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Breve históriaBreve históriaBreve históriaBreve históriaBreve história
de Imperatrizde Imperatrizde Imperatrizde Imperatrizde Imperatriz
Sergio
Typewritten Text
Author. Michael is an 
author. David is an
american author.
Breve históriaBreve históriaBreve históriaBreve históriaBreve história
de Imperatrizde Imperatrizde Imperatrizde Imperatrizde Imperatriz
Adalberto Franklin
Série Ciências HumanasCiências HumanasCiências HumanasCiências HumanasCiências Humanas
Volume 1
Copyright © 2005 by
Adalberto Franklin
Todos os direitos reservados
Projeto gráfico:
Ética Editora
Coordenação editorial:
Eduardo Franklin
Adalberto Franklin
Impressão:
Ética Editora
(Impressão digital)
Dados de Catalogação na PublicaçãoDados de Catalogação na PublicaçãoDados de Catalogação na PublicaçãoDados de Catalogação na PublicaçãoDados de Catalogação na Publicação
Franklin, Adalberto. 1962-
Breve história de Imperatriz. / Adalberto
Franklin. — Imperatriz, MA: Ética, 2005.
101 p. ; 18 cm; – (Série Ciências Humanas, v.1)
ISBN 85-88172-20-7
1. Maranhão – História. 2. Pará – História.
I. Franklin, Adalberto. II. Título.
CDD 981.21
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO
1 O território ....................................................... 11
2 O rio Tocantins ................................................ 19
3 Os aborígenes .................................................. 26
4 As frentes colonizadoras e as
missões do Tocantins ....................................... 26
5 Procópio funda a nova Santa Teresa ............... 41
6 Sob o domínio do Maranhão ........................... 49
7 A Vila Nova da Imperatriz ................................ 54
8 A vida na Vila da Imperatriz ............................ 63
9 O Município de Imperatriz .............................. 71
10 À espera do desenvolvimento .......................... 75
11 A estrada para o Nordeste ............................... 81
12 A grande estrada do presidente Juscelino ....... 84
13 Francionamento do território ......................... 87
14 Economia ciclotímica ...................................... 90
15 Dados estatísticos de Imperatriz ..................... 95
Referências ...................................................... 97
7
ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação
Este livro nasceu de uma brincadeira entre
amigos. No final de uma reunião da Academia
Imperatrizense de Letras, discutindo-se a rela-
ção dos lançamentos previstos para a III Feira
Imperatrizense do Livro, a ser realizada pela AIL
dali a três semanas, o escritor Livaldo Fregona
aproxima-se de mim e, em voz elevada, para que
o também acadêmico Gilmar Pereira, a quem eu
acabara de entregar uma prova de um dos seus
livros a serem lançados nessa feira, também ouça.
Fregona então provoca:
– Eu não duvido que o Gilmar vá lançar esses
livros na feira, mas aposto que ele somente os re-
ceberá faltando um minuto para o lançamento.
Sem demora, e com ironia, respondi:
– Que nada!, tempo mais curto terei eu, que
ainda vou escrever o livro que vou lançar. – E no
mesmo momento dirigi-me ao presidente da Aca-
demia, Luiz Carlos Porto, em voz alta, solicitando
a inclusão de meu nome na relação dos que ti-
nham livro para lançamento.
8
Até aí, era uma brincadeira, porém, encerra-
da a reunião, pensei seriamente na provocação e
perguntei a mim mesmo:
– E por que não escrever um livro e publicá-
lo no prazo de três semanas, mais de vinte dias?
Convenci-me de que havia prazo e condições
suficientes para a realização dessa inusitada ta-
refa.
Na reunião seguinte da AIL, uma semana
depois, Livaldo retoma a brincadeira:
– E daí, cadê o livro?
– Ah!, desisti daquele, comecei a escrever ou-
tro ontem – assegurei-lhe.
Era verdade! Dirigi-me ao presidente da Casa
e solicitei-lhe a mudança do tema e do título do
livro informado na semana anterior. Agora seria
Breve história de Imperatriz. O anterior, do qual já
escrevera dois capítulos, deixei para outra oportu-
nidade.
Assim começou a história deste pequeno li-
vro, que com brevidade trata de uma longa histó-
ria.
• • •
Breve história de Imperatriz, no entanto, não
é um trabalho improvisado, é uma obra científica.
Contém ele, de forma abreviada, registros, anota-
ções e conclusões de vinte anos de pesquisas rela-
tivas à história, geografia, antropologia e etnologia
9
que empreendi sobre a região que este trabalho
aborda, e que futuramente darão suporte a obra
mais densa.
O diminuto tempo havido para escrevê-lo, por
certo, deve ter deixado lacunas, mas acredito que
a escolha dos assuntos abordados tenha sido o
essencial, o fundamental para a compreensão da
história da povoação de Santa Teresa do Tocan-
tins, fundada por Frei Manoel Procópio em 1852.
Centenas de livros, relatórios, atas, discursos,
documentos oficiais e anotações li sobre o tema
nessas duas décadas, muitos destes em meu po-
der, aos quais recorri neste curto período de nove
dias nos quais este livro foi escrito.
Por isso ele é permeado de citações de outros
autores que trataram desse tema e mesmo de
documentos primários não muito conhecidos ou
até inéditos.
Procurei neste trabalho dar mais ênfase ao
período e circunstâncias que antecederam a fun-
dação de Santa Teresa e aos primeiros tempos de
colonização de seu território, por serem menos
conhecidos e as poucas informações publicadas
são às vezes controversas. Sobre o período a partir
da construção da rodovia Belém-Brasília, existem
diversas publicações acessíveis, como as locais de
Edelvira Barros e a Enciclopédia de Imperatriz,
coordenada por Edmilson Sanches.
Minha intenção é que esta pequena obra sir-
10
va de motivação para um mergulho mais profun-
do em direção ao conhecimento histórico sobre a
região de Imperatriz e do sul do Maranhão.
Sentir-me-ei gratificado em saber que estas
breves palavras, acondicionadas em livro de pe-
queno formato, auxiliaram alguém a compreen-
der melhor o passado e o presente desta região,
para que assim possa ajudar a projetar o seu fu-
turo.
O Autor
11
1
O TERRITÓRIOO TERRITÓRIOO TERRITÓRIOO TERRITÓRIOO TERRITÓRIO
Apesar de o litoral maranhense ter recebido
o interesse e a presença de exploradores europeus
desde o final do século XVI, a parte sul do Mara-
nhão somente foi colonizada a partir do final do
século XVIII, quase duzentos anos depois da fun-
dação de São Luís pelos franceses.
Até a segunda metade do século XIX, o povo-
amento do Maranhão se resumia à faixa litorânea
e a algumas poucas vilas e povoados às margens
dos rios Mearim, Pindaré e Itapecuru, sendo Al-
deias Altas (atual Caxias) a vila que se localizada
mais ao sul e também a mais distante da capital da
Província.
Havia completo desconhecimento sobre o
vasto território ao sul, intensamente povoado pe-
las temidas nações indígenas, em sua maioria tim-
biras, que provocavam pavor aos habitantes das
fazendas instaladas nas margens dos rios navegá-
veis, distantes dos povoados e pouco protegidas
militarmente.
Os governos do Maranhão não haviam se in-
teressado em explorar nem colonizar essa região.
12
Por isso não sabiam ao certo onde ficavam as nas-
centes dos principais rios que desembocavam no
litoral, nem em que latitude o rio Tocantins se
parava o Maranhão de Goiás.
Somente a partir do surgimento da povoa-
ção de Pastos Bons, originada da entrada dos ses-
meiros da Casa da Torre no território do Piauí, que
afugentavam e aprisionavam índios para alargar
as áreas de criação de gado, foi dado início ao pro-
cesso de povoamento do sul do Maranhão.
Depois de tomar as terras dos indígenas do
sul do Piauí e instalar diversas fazendas, os ses-
meiros e vaqueiros do senhor da Casa da Torre,
sob o comando de Domingos Afonso Mafrense,
também conhecido como Domingos Sertão, cru-
zaram o Parnaíba e ocuparam as belas pastagens
do lado maranhense, território a que denomina-
ram “pastos bons”.
A vila de Pastos Bons tornou-se o centro de
irradiação do povoamento do sul da Província. Lá
eram organizadas as “bandeiras”de guerra aos
índios e as “entradas” para a ocupação da nova
fronteira a ser colonizada.
Instalaram novas fazendas e fizeram surgir,
nas primeiras décadas do século XIX, as povoa-
ções de Riachão, São Pedro de Alcântara (atual
Carolina) e Chapada (hoje Grajaú).
13
O termo “sertão dos Pastos Bons” passou
então a designar, de acordo com o major Francis-
co de Paula Ribeiro, “todo o espaço que do último
território de Caxias se descreve até as cabeceiras
do rio Parnaíba, Balsas e Manoel Alves Grande” e
“se limita com a capitania de Goiás pelas margens
deste [rio Tocantins] e por uma parte também
das do Turi até defronte da foz do Araguaia”.
 Os “sertões de Pastos Bons” compreendiam
14
todo o território maranhense abaixo de Caxias, em
toda sua extensão leste-oeste, do Parnaíba ao Tu-
riaçu. Fica patente que não se considerava o rio
Gurupi como linha limítrofe entre Maranhão e
Pará.
Nesse período, a Corte de Lisboa encaminhou
diversas cartas régias aos governadores do Mara-
nhão exigindo a organização de expedições de re-
conhecimento do rio Tocantins e estudos para sua
navegabilidade desde Goiás até Belém, no que não
foram atendidos.
Somente em 1809, sob pressão de D. João VI,
depois de a Corte ter se mudado para o Brasil, foi
realizada oficialmente a primeira expedição de
reconhecimento da região sul da Província, sob o
comando do coronel Sebastião Gomes da Silva
Belfort (ou Berford), no governo do capitão-ge-
neral Francisco de Melo Manoel da Câmara.
O roteiro da viagem de Belfort, que seguiu
até o Rio de Janeiro, limitou-se a cruzar o Mara-
nhão ladeando o rio Itapecuru e o Alpercatas, de-
pois seguindo rumo à confluência do Manoel Al-
ves Grande com o Tocantins, entrando daí em
Goiás. Do território a leste, não colheu qualquer
informação in loco. O “roteiro e mapa da viagem”
que produziu para entregar ao Príncipe Regente,
no Rio de Janeiro, apesar de ter merecido publica-
ção na Imprensa Régia, no ano seguinte, não re-
15
fletia a vastidão deste desconhecido território nem
do rio Tocantins.
Coube a Francisco de Paula Ribeiro, em 1815,
em seu “Roteiro da viagem que fez o capitão Fran-
cisco de Paula Ribeiro às fronteiras da Capitania
do Maranhão e da de Goiás”, escrever a primeira
memória da região, quando foi designado como
comissário da Província nas questões de limites
entre Maranhão e Goiás, e depois, mais detalhada-
mente, em 1819, quando elaborou a “Descrição
do território de Pastos Bons”.
O litígio territorial com Goiás se deu porque o
comerciante goiano José Pinto de Magalhães – que
em Belém vendia couro de gado e índios aprisio-
nados e retornava com mercadorias de interesse
dos sertanejos goianos – se impôs como “coman-
dante” da nascente povoação de São Pedro de Al-
cântara, onde fundou um porto e estabeleceu
pacto com os índios macamecrãs (Krahô) para
fazer guerra a outras tribos, a partir do que, em
vista da inexistência de qualquer autoridade ma-
ranhense na região, passou a proclamar estas ter-
ras como de domínio da província vizinha, com o
consentimento do governo de Goiás.
Os limites entre as das províncias somente
ficaram definidos em 1816, com intervenção do
Príncipe Regente, depois de difíceis negociações,
nas quais Paula Ribeiro foi o comissário represen-
16
tante do Maranhão. Esse mesmo conflito ressur-
giu em 1834, tendo sido definitivamente resolvi-
do somente em 1854, pela Câmara dos Deputa-
dos, no Rio de Janeiro.
Até 1852, o avanço da colonização sertaneja
não havia conseguido ultrapassar o rio Farinha,
afluente do Tocantins, abaixo de São Pedro de Al-
cântara. O temor aos índios timbiras, especialmen-
te aos Canelas, aos Gaviões e aos Krikatis, unidos
contra os invasores, fez estacionar a marcha dos
criadores de gado durante quase quarenta anos.
Esse receio se fortaleceu a partir de 1815,
depois que uma bandeira repressiva saiu de Pas-
tos Bons para vingar a destruição do Porto da Cha-
pada e a morte de seus habitantes pelos Sacame-
crãs e Picobigês, resultando numa batalha em que
os colonizadores foram derrotados em cima de
uma montanha que ficou conhecida como “Ser-
ra da Desordem”, Usando bordunas contra armas
de fogo, os índios mataram 86 homens das tropas
de Pastos Bons e os demais, sem munição, em-
preenderam fuga.
Com isso, a região abaixo do Farinha, onde
dominavam os Canelas, a do alto Grajaú e Pinda-
ré, habitada pelos Gaviões, e as margens do To-
cantins, até a foz com o Araguaia, onde viviam os
Krikati e haviam outras aldeias dos Gaviões, consti-
tuíram-se em território de alto risco para os colo-
17
nizadores e viajantes do Tocantins até a fundação
de Santa Teresa, atual cidade de Imperatriz.
Esse temos é comprovado no relato do cien-
tista francês Francis Castelnau, que em agosto de
1844 subiu o Tocantins a partir da foz do Araguaia
e, entre os dias 24 e 25 cruzou o território onde
oito anos mais tarde frei Manoel Procópio estabe-
leceria a povoação de Santa Teresa. Em sua Expe-
dição às regiões centrais do Brasil, ele diz:
Instalamos o nosso acampamento na mar-
gem esquerda do rio, por sabermos que, até
Boa Vista [atual Tocantinópolis], havia perigo
em ficar do lado oposto, por causa dos índios
bravos que aí residem e são conhecidos pelo
nome de Gaviões. [...] Mais de um pescador
infeliz encontrou a morte sob suas flechadas,
por ter querido apanhar algum peixe daquele
lado.
[...] A margem esquerda, pelo contrário, é
habitada pela tribo pacífica dos Apinajés. Mais
acima, e sempre na margem direita, acham-
se os Caracatis, tribo perigosa [...].
As cachoeiras de Santo Antônio, acima, e as
de Itaboca, abaixo, onde hoje se localiza a usina
hidrelétrica de Tucuruí, lugares em que os nave-
gantes tinham que retirar as cargas das embar-
cações para ultrapassar as corredeiras e canais,
18
também se constituíam em dificuldades para o
povoamento dessa área. A quase totalidade dos
barcos que de Goiás desciam rumo ao Pará utili-
zavam o Araguaia, melhor navegável que o Tocan-
tins. Faziam esse trajeto pelo Tocantins, de ida e
volta, geralmente os que partiam de Porto Real, a
atual Porto Nacional.
Protegidos pelos obstáculos naturais e pela
valentia dos timbiras, o sudoeste maranhense foi,
portanto, o último recanto nordestino de resis-
tência à colonização sertaneja.
EMBARCAÇÃO DO RIO TOCANTINS
Embarcação típica do rio Tocantins no início do século XIX. Desenho do
explorador inglês William John Burchell, feito às 6h30 do dia 10 de maio de
1829, próximo à embocadura do rio Farinha, início das “matas gerais’.
19
2
O RIO TOCANTINSO RIO TOCANTINSO RIO TOCANTINSO RIO TOCANTINSO RIO TOCANTINS
O rio Tocantins foi o caminho pelo qual os
colonizadores conseguiram alcançar e tomar pos-
se das terras do cerrado e da pré-Amazônia, regi-
ões conhecidas somente um século depois da che-
gada de Cabral.
Alguns historiadores apontam a última déca-
da do século XVI como o período de descoberta
das nascentes do Tocantins, por bandeirantes pau-
listas, e creditam ao bandeirante Domingos Ro-
drigues Velho o mérito de ser seu primeiro explo-
rador, a partir a partir de suas nascentes. Pouco se
sabe, porém, de suas descobertas.
Há consenso entre os historiadores de que a
primeira expedição a navegar o Tocantins rio aci-
ma foi comandada pelo francês La Blanjartier, em
1610, pouco antes da fundação de São Luís (1612)
e Belém (1616). La Blanjartier teria subido o To-
cantins a partir de sua foz e alcançado a Serra dos
Pacajás (Carajás), esbarrando nas cachoeiras e
corredeiras de Itaboca, local de difícil passagem
para embarcações.
20
Em 1613, Daniel de La Touche, o fundador
de São Luís, chefiou uma grande expedição de
reconhecimento do Tocantins. A partir da foz, essa
expedição conseguiu ultrapassar as cachoeiras de
Itaboca, já sob o comando de La Planque, e che-
gar à confluência do Araguaia, onde se dividiu em
duas: uma para subir e explorar o Araguaia, a ou-
tra, o Tocantins.
La Planque ficou no comando da expedição
que subiu o Tocantins, uma viagem que teria du-
rado nove meses. Resolvera ele permanecer nas
margens do Tocantins, embusca de riquezas mi-
nerais, e quando desejou retornar a São Luís sou-
be da expulsão dos franceses do litoral maranhen-
se, depois que Daniel de La Touche e seus homens
haviam sido derrotados pelos portugueses na co-
nhecida Batalha de Guaxenduba, em 1614. Com
isso, La Planque se estabelecera entre os índios do
Tocantins, com quem teria vivido durante 13 anos.
Em dezembro de 1653, o padre Antônio Vi-
eira, superior dos jesuítas no Maranhão, coman-
dou uma grande expedição de catequese e explo-
ração pelo rio Tocantins, a partir de Belém. Sua
frota contava com vinte canoas e trezentos ho-
mens – duzentos eram índios. Depois de subir
130 léguas e ultrapassar com dificuldades as ca-
choeiras de Itaboca, o escritor dos Sermões se viu
diante de uma trama montada pelo governador
21
do Pará, que não desejava a implantação da cate-
quese jesuíta em seu Estado, por ser essa congre-
gação contrária à escravização dos índios. Sem que
Vieira soubesse, o governador mandara contra-
ordem ao comandante militar da expedição para
impedir as pretensões do sacerdote. Ao tomar co-
nhecimento disso, decide então Vieira encerrar a
expedição e voltar ao Maranhão.
Outras importantes expedições de catequese
e exploração do Tocantins foram realizadas até o
final do século XIX, dentre as quais destacamos
algumas.
w Em 1719, o governador e capitão-general
do Maranhão, Bernardo Pereira de Berredo, man-
dou organizar uma expedição “com dez canoas
armadas em guerra” com o fim de “descobrir o
curso do rio Tocantins”, sob o comando do capi-
tão Diogo Pinto de Gaia. O seu regimento deter-
minava que ela deveria subir o Tocantins até a con-
fluência com o Araguaia e daí continuar por este,
coletando drogas e buscando minérios. Equivo-
cadamente, Berredo acreditava que “segundo as
melhores notícias, o rio Araguaia desemboca no
reino do Peru, que é das Índias de Espanha”.
w Em 1780, um grupo de comerciantes, com
auxílio do governador do Pará, Tristão da Cunha
Menezes, envia uma expedição para reconheci-
mento do Tocantins até sua nascente, em Goiás.
22
w Em 1792, Thomaz de Souza Villa Real deu
início a uma expedição de reconhecimento dos
rios Vermelho, Araguaia e Tocantins, com finali-
dade mercantil, desde Vila Boa, então capital de
Goiás, até Belém.]
w Em agosto de 1844, o conde Francis Cas-
telnau, naturalista, empreendendo sua Expedição
às regiões centrais da América do Sul, sobe o To-
cantins em missão científica a partir do presídio
de São João das Duas Barras, confluência com o
Araguaia. Em suas anotações, faz interessante re-
gistro sobre a navegação do Tocantins e as primei-
ras habitações de colonos na região:
Passaram [...] duas grandes embarcações que
tinham subido o rio desde Belém, gastando
nada menos de três meses em percorrer esse
curto trajeto, o que poderá dar idéia dos obs-
táculos que o rio oferece à navegação. A este
gênero de embarcação dá-se no país o nome
de botes. Têm elas a aparência de choças flu-
tuantes e deslocam cerca de vinte toneladas;
fazem sempre a viagem de Belém a Porto
Imperial e sua tripulação é constituída geral-
mente de vinte a trinta homens. Descem car-
regados de couro de boi, que em Goiás valem
aproximadamente dois francos e 50 cêntimos
e alcançam oito francos no Pará. Esse trajeto
é feito em vinte e cinco ou trinta dias, ao pas-
so que a subida do rio demanda quatro ou
cinco meses.
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Configuração do rio T ocantins [Exerto. 1795?]
24
w Em 1897, o geógrafo e naturalista francês
Henri-Anatole Coudreau, contratado pelo gover-
nador paraense Lauro Sodré, fez uma expedição
científica pelos rios Tocantins e Araguaia que re-
sultou no livro Voyage au Tocantins-Araguaya,
publicado em Paris nesse mesmo ano.
* * *
Desde a expedição francesa de La Blanjar-
tier, em 1610, até a construção da rodovia Be-
lém-Brasília e da barragem de Tucuruí, apesar
de suas perigosas cachoeiras e corredeiras, o rio
Tocantins foi a principal estrada de ligação dos
sertões e do cerrado brasileiro com a Amazônia.
Por ele navegavam militares, religiosos, cientistas,
comerciantes e exploradores, no cumprimento
de suas missões públicas ou interesses privados.
A professora e escritora sertaneja Carlota Car-
valho, no livro O Sertão, avaliou que não fossem
seus “obstáculos irremovíveis, Tauiri e Itaboca”, o
Tocantins seria “um dos maiores rios do mundo,
talvez o mais belo”, “o caminho preferido para
importação de mercadoria manufaturada fora do
país e para exportação das riquezas naturais do
vasto sertão de Goiás, Mato Grosso e Maranhão
grograficamente uno”.
25
Sobre o rio TSobre o rio TSobre o rio TSobre o rio TSobre o rio Tocantinsocantinsocantinsocantinsocantins
O rio Tocantins nasce numa altitude aproxi-
mada de 1.100 metros, na serra do Paranã, cerca
de 60 quilômetros ao norte de Brasília, com o nome
de rio Maranhão, tomando o nome de Tocantins
após a confluência com o rio Paranã. Após um per-
curso total de cerca de 2.400 quilômetros, desem-
boca na baía de Marapatá (rio Pará), nas proximi-
dades de Belém.
As principais cidades banhadas pelo rio Tocan-
tins são: No Tocantins: Porto Nacional, Miracema
e Tocantinópolis; no Maranhão: Carolina, Estrei-
to, Porto Franco e Imperatriz; no Pará: São João do
Araguaia, Marabá, Tucuruí e Cametá.
Afirma-se atualmente que o Governo Federal
tem projetos para a construção de 40 usinas hi-
drelétricas nas bacias nos rios Tocantins, onde já
estão em pleno funcionamento as de Tucuruí, Ser-
ra da Mesa, Lajeado e Cana Brava e uma está em
construção (Peixe Angical); quatro em processo de
licitação (São Salvador, Estreito, Santa Isabel e
Couto Magalhães) e nove prontas para serem lici-
tadas (Marabá, Serra Quebrada, Araguanã, Ipuei-
ras, Tupiratins, Maranhão, Torixoréu, Novo Acordo
e Mirador).
Fontes:
1. Ministério dos Transportes [http://www.transportes.gov.br/
bit/hidro/detriotocantins.htm]
2. O mundo de Carolina [http://www.carolina.com.br/
int_desabafo.asp?id=10]
26
3
OS ABORÍGENESOS ABORÍGENESOS ABORÍGENESOS ABORÍGENESOS ABORÍGENES
Na época do descobrimento do Brasil, os ín-
dios tupis dominavam praticamente toda a costa
brasileira. Seus diversos subgrupos, nos quais pre-
dominavam os tupiniquins, os tupinambás, os
tamoios e os caetés, viviam em permanente guer-
ra entre si. Os potiguaras e os tupinambás eram
os senhores de todo o litoral nordestino.
Os sertões eram ocupados pelos “tapuias”.
Esse termo designava os “povos do sertão” e de-
mais grupos não falantes da língua tupi. Também
designava os inimigos, os não-tupis. Nestes se in-
cluíam as diversas nações timbiras que ocuparam
as margens dos rios São Francisco, Parnaíba e To-
cantins.
Desde a segunda metade do século XVI, após
a fundação de Salvador e instalação do forte de
Tatuapara, onde se levantou a Casa da Torre, de
Garcia d’Ávila, os tapuias passaram a ser persegui-
dos e afugentados por bandeiras de apreamento e
extinção, que visavam desocupar terras para a ins-
talação de fazendas de gado.
Os senhores da Casa da Torre – Garcia d’Ávila
27
e seus descendentes – patrocinaram por mais de
duzentos anos as expedições de “entradas” e “ban-
deiras” que devastaram os índios do sertão nor-
destino, da Bahia ao Piauí, e formaram o maior
latifúndioconhecido na história do Brasil. O seu
poderio militar e econômico intimidava até a Cor-
te portuguesa, de quem exigiam e obtinham con-
cessões de sesmarias a cada favor concedido ao
príncipe e governadores.
Ocuparam o sul do Piauí e fundaram a vila
da Mocha, que logo se transformou em Oeiras,
primeira povoação e capital do Piauí. Extermina-
ram e afugentaram índios, tomando para si todo
aquele território. Muitas tribos remanescentes
fugiram para o Maranhão, outras para o norte de
Goiás, ao longo dos rios Itapecuru, Alpercatas, To-
cantins e Manoel Alves Grande.
Por volta de 1750, os sesmeiros e vaqueiros
da Casa da Torre atravessaram o Parnaíba e funda-
ram a povoação de Pastos Bons, que se tornou a
primeira vila ao sul da Província do Maranhão e de
onde partiram as primeiras bandeiras de conquis-
ta e povoamento dos sertões maranhenses, esta-
belecendo-se por isso uma nova frente de batalha
entre colonizadores e aborígenes.
Na primeira década do século XIX, quando se
intensificou o processo de povoamento do sul do
Maranhão, dezenas de nações indígenas habita-
28
vam este território, com predominância dos po-
vos timbiras.
O militar português Francisco de Paula Ri-
beiro, que comandou o Destacamento Militar de
Pastos Bons entre 1800 e 1823, e foi o primeiro
historiador destas terras e gentes, em sua Memó-
ria das nações gentias que presentemente habi-
tam o continente do Maranhão, cita mais de quin-
ze diferentes povos habitantes na região dos
“sertões de Pastos Bons”, tais como os amanajós,
angetgês, apinajés, augutgês, canaquetgês, capie-
crãs, gamelas, guajajaras, macamecrãs, norocoa-
gês, piocobgês (gaviões), poncatgê (krikatis), po-
necras, purecamecrãs, sacamecrãs, tacamedus,
xavantes e xerentes.
GUERRILHA TAPUIA
Gravura “Guerrilha”, do desenhista alemão Johann Moritz Rugendas,
que fez uma “viagem pitoresca pelo Brasil” a partir de 1821
29
Relatos de outros estudiosos e viajantes apon-
tam que o sudoeste maranhense, a partir da barra
do rio Farinha até as matas do Gurupi; e das mar-
gens do Tocantins até o Grajaú, era ocupado pelos
índios Timbira, com destaque para os gaviões,
poncatgês (designados também caracatigês e ca-
racatis, depois krikatis) e canelas.
Curt Nimuendaju, o mais conhecido etnólo-
go do Brasil, que por volta de 1945 elaborou o
trabalho que ficou conhecido como Mapa etno-
histórico de Curt Nimuendaju, confirma a pre-
sença dos krikatis e gaviões, na metade do século
XIX, espalhados desde as nascentes do Pindaré até
as margens do Tocantins.
Em seu livro The eastern timbira, publicado
em 1946 nos Estados Unidos, Nimuendaju cha-
ma a atenção para o fato de que os krikatis foram
muitas vezes confundidos com os gaviões (pico-
bgês), o que explicaria o aparecimento tardio do
termo “caracati” nas fontes históricas, e diz que
esse erro foi cometido também por Paula Ribeiro,
o que teria sido “o único erro que cometeu esse
bom conhecedor dos antigos timbira”.
A resistência desses índios, impedindo o avan-
ço da colonização sertaneja oriunda de Pastos Bons
até a metade do século XIX, tornou-os temidos e
evitados até pelos navegadores do Tocantins. A
destruição que provocaram na nascente povoa-
30
ção do Porto da Chapada (futura Grajaú), em
1813, e na colônia militar de Leopoldina, instala-
da nas margens do alto Grajaú pelo governo do
Maranhão, em 1817, para pacificá-los, concorreu
para desencorajar as investidas dos colonizadores
por muitos anos. Com isso, as “matas gerais” – ter-
mo com que se designava o território a oeste, ocu-
pado pelos timbiras – tornou-se o último reduto
indígena do nordeste não alcançado pelos vaquei-
ros e fazendeiros que, a partir do século XVI, devas-
saram e ocuparam os sertões nordestinos.
Mais amedrontados ficaram os colonizado-
res, ainda, depois da fragorosa derrota imposta
pelos timbiras a uma bandeira de Pastos Bons, no
dia 28 de junho de 1813, no lugar que ficou co-
nhecido como “Serra da Desordem”. Esse fato é
assim nararado em O Sertão, de Carlota Carvalho:
Derrubados pelas balas, arremessadas em inces-
sante fuzilar, passando sobre seus mortos e feridos e
avançando sempre, os timbiras entraram em meio
dos bandeirantes e se apoderaram da carga de mu-
nições sem saber o que tomavam. [...] Mortos a
tacape ficaram 86 bandeirantes em cima da serra.
[...] Os que escaparam levaram a Pastos Bons a
notícia da “desordem acontecida”.
Tratando da ribeira do Grajaú, na sua Descri-
ção do Território de Pastos Bons, datada de 1819,
Paula Ribeiro assevera que esta região
31
[...] fica cercada de muitas povoações timbiras, que
a hostilizam, especialmente os piocobgês, sendo
estes aqueles que mais cruelmente a tem persegui-
do, não só obstando o aumento de sua população,
mas diminuindo-lhe aquela que já está promovida.
Do outro lado do rio, terras goianas, ao longo
de toda a margem do Tocantins, desde Boa Vista
(Tocantinópolis) até a confluência com o Ara-
guaia, habitavam os pacíficos Apinajés, que desde
o início do século XIX mantinham bom relaciona-
mento com navegantes e colonizadores, chegan-
do a permitir até o estabelecimento de alguns em
suas terras.
32
4
AAAAAS FRENTES COLS FRENTES COLS FRENTES COLS FRENTES COLS FRENTES COLONIZADORONIZADORONIZADORONIZADORONIZADORAAAAASSSSS
E AE AE AE AE AS MISSÕES DO TOCANTINSS MISSÕES DO TOCANTINSS MISSÕES DO TOCANTINSS MISSÕES DO TOCANTINSS MISSÕES DO TOCANTINS
Na primeira metade do século XIX, quatro
frentes colonizadoras avançavam em direção à pré-
Amazônia maranhense:
1.A frente pastoril nordestina, originária das
entradas e bandeiras da Casa da Torre, que a partir
da vila de Pastos Bons ocupou o sul do Maranhão,
tendo sido forçada a estacionar antes das mar-
gens do rio Farinha, na povoação de São Pedro de
Alcantara, pelos índios timbiras.
2.A frente de expansão litorânea, patroci-
nada pelo governo do Maranhão para a conquis-
ta e povoamento do seu território, que avançava
lentamente pelas margens dos rios melhores na-
vegáveis, como o Itapecuru, o Mearim, o Pindaré e
o Grajaú.
3.A frente de ocupação goiana, de interes-
ses mercantis, que se dava a partir de Vila Boa de
Goiás, capital da Província, Natividade e Porto
Imperial, buscando a exploração mineral, a cria-
ção de gado e o comércio com o Pará, através dos
rios Araguaia e Tocantins. Chegou a tomar posse
33
de uma parcela do território maranhense, atra-
vés do domínio de São Pedro de Alcantara (Caro-
lina), tendo depois em Boa Vista (Tocantinópolis)
a sua povoação mais ao norte.
4.A frente colonizadora do Pará, que des-
de o século XVII avançava ao longo das margens
do rio Tocantins, até sua confluência com o Ara-
guaia, instalando missões religiosas para cateque-
se dos índios, fortificações militares e povoados,
para apoio à difícil navegação desse rio.
As “matas gerais” da pré-Amazônia, porém,
continuavam inacessíveis, sob a proteção dos tim-
biras. Mais de 300 quilômetros das margens do
Tocantins, do lado maranhense, desde os últimos
currais da ribeira do Farinha até a confluência com
o Araguaia, divisa com o Pará, tinham como habi-
tantes apenas os índios.
A Província do Pará tinha um interesse es-
pecial pelo melhoramento da navegação do To-
cantins, o que lhe favoreceria no comércio com
Goiás, na exploração das desconhecidas riquezas
de suas margens e na posse definitiva da região,
através da instalação de missões religiosas e mi-
litares para aldeamento e pacificação dos índios,
dando com isso segurança aos navegantes e aos
empreendimentos governamentais.
Desde a metade do século XVIII, o governo
do Pará apelava à Corte portuguesa pedindo que
34
fosse incentivada a navegação do Tocantins. Os
governos do Maranhão, sem qualquer plano de
ocupação da região do Tocantins, não via interes-
se em sua exploração; acreditavam que isso traria
mais vantagens ao Pará que ao Maranhão. Mesmo
assim, em 1755, o governador e capitão-general
do Maranhão, Gonçalo Pereira Lobato de Souza,
encaminhou carta ao rei João I solicitando a orga-
nização de expedições aos rios Mearim, Grajaú,
Tocantins e Itapecuru e o aldeamentodos índios
encontrados.
Em 1798, o então príncipe regente de Portu-
gal, do João, futuro dom João VI, determinou em
carta régia que o então governador do Maranhão,
dom Fernando Antônio de Noronha, cumprisse
um plano de navegação do rio Tocantins propos-
to pelo governador do Grão-Pará, dom Francisco
de Souza Coutinho, para a navegação dos rios To-
cantins e Araguaia. Essa determinação, e outras
posteriores, nesse sentido, não foram cumpridas.
Em 1840, através da Lei Provincial n.º 76, de
2 de outubro, a Província do Pará criou cinco mis-
sões, uma delas a de São João do Araguaia, na con-
fluência dos rios Araguaia e Tocantins, fronteira
com o Maranhão.
Em 1844, em discruso à Assembléia Provin-
cial, o presidente da Província do Pará, desembar-
35
gador Manoel Paranhos da Silva Vellozo, infor-
mou que a missão de São João do Araguaia ain-
da não tinha missionário designado e revelou sua
pretensão de estabelecer uma missão no Reman-
são, nas proximidades das cachoeiras de Itaboca.
Na confluência do Tocantins com o Araguaia já
funcionava, desde 1797, um registro para cobran-
ça de impostos e o forte de São João das Duas
Barras.
O melhoramento da navegação do Tocantins
vinha recebendo largo apoio do governo imperial,
que em 1844 chegou a nomear um engenheiro
para “fazer a exploração das cachoeiras e indicar
os meios de melhorar nelas a navegação”. Che-
gando à vila de Baião, porém, o engenheiro adoe-
ce e pede exoneração dessa comissão.
Empossado na presidência da Província do
Pará em 5 de agosto de 1848, o conselheiro do
Império Jerônimo Francisco Coelho, militar cata-
rinense, atendendo à meta provincial, deu conti-
nuidade às tentativas de redução das dificuldades
de navegação do Tocantins e estabelecimento de
missões militares e religiosas em suas margens.
Assim, nesse mesmo ano, tratou de provinden-
ciar a instalaçõa da missão de Itaboca, anunciada
em 1844.
À falta de missionários experientes no trato
com os indígenas, o presidente da Província do
36
Pará contratou o carmelita baiano frei Manoel
Procópio do Coração de Maria, que se deslocou
para o Pará especialmente para essa missão.
Em 29 de janeiro de 1849, o conselheiro Je-
rônimo Francisco Coelho recebeu um aviso im-
perial incumbido-o de “remover aqueles obstá-
culos impostos pela natureza à livre navegação e
comércio do Tocantins”, motivo por que “prepa-
rou logo uma expedição encarregada de fundar
uma colônia militar no centro das cachoeiras, a
qual teria o nome de Santa Teresa”.
De acordo com o relatório do secretário da
Província do Pará, Francisco Paraibuna dos Reis,
publicado em 1864, o presidente do Pará
Confiou a execução de seu plano ao tenente-coro-
nel reformado Ayres Carneiro, reputado como um
dos militares paraenses de maior capacidade para
desempenhar tão importante comissão. Este hon-
rado oficial, porém, por falta de conhecimento das
condições do rio, escolhendo o local Remansão para
assento da colônia, condenou, sem o prever, o nas-
cente estabelecimento a uma próxima destruição.
A expedição organizada por Jerônimo Fran-
cisco Coelho, composta por onze embarcações e
muitos colonos, deixou o porto de Belém no dia
26 de junho de 1849 sob o comando do tenente-
coronel João Roberto Ayres Carneiro, tendo como
37
capelão Frei Manoel Procópio do Coração de Ma-
ria, jovem frade da Ordem do Carmo, então com
35 anos, experiente na lida com tribos indígenas.
Três meses depois da partida dessa expedi-
ção, o próprio presidente da Província do Pará,
em fala à Assembléia Legislativa Provincial, no dia
1.º de outubro, deu detalhes sobre essa por ele
denominada “Missão do Alto Tocantins”.
Adjunto à comitiva, que em junho deste ano partiu
para o Tocantins superior, a fundar a colônia mili-
tar de Santa Teresa, e de que tratarei em lugar
próprio, foi o missionário religioso carmelita Frei
Manoel Procópio do Coração de Maria, conventual
da Província da Bahia, e que a rogo meu ao Exmo.
Arcebispo metropolitano, veio para este fim espe-
cial. Vai ele incumbido de missionar e aldear onde
for mais conveniente, e segundo a oportunidade
das circunstâncias, as tribos que habitam não só as
margens do Tocantins, mas as do seu confluente
Araguaia, até onde chegam as extremas da Provín-
cia com a de Goiás.
A determinação, em obediência ao aviso im-
perial, portanto, era de “estabelecer um presídio e
colônia militar perto da cachoeira de Itaboca, a
mais difícil e perigosa” do rio Tocantins.
Logo acima das primeiras corredeiras de Ita-
boca, no Remansão, mesma região em que, em
1653, o padre Antônio Vieira paralisou e encer-
38
rou sua expedição pelo Tocantins, Ayres Carneiro
e frei Manoel Procópio instalaram a “Colônia Mili-
tar de Santa Teresa”.
Em seu relatório, Paraibuna dos Reis deta-
lhou as circunstâncias em que a expedição ali se
instalou:
Estava-se então em outubro, época em que o
Tocantins apresenta o aspecto mais encanta-
dor e aprazível. A beleza das margens, a abun-
dância da caça, de peixes e de frutas, a altura
e a fertilidade do terreno, a excelência das
águas, a situação no centro das cachoeiras e o
espetáculo grandioso das cataratas, tudo in-
dicava que aquele lugar reunia ao feliz con-
curso dessas circunstâncias a mais perfeita
salubridade.
Sabe-se qual foi o triste resultado dessa agra-
dável perspectiva: com a entrada do inverno,
a ilusão dissipou-se e a realidade apareceu ter-
rivelmente. A caça, o peixe, a beleza, a salu-
bridade, tudo desapareceu; e a peste afugentou
dali os que a morte ainda havia poupado.
Pouco tempo, portanto, existiu a Colônia Mi-
litar de Santa Teresa fundada por Ayres Carneiro e
frei Manoel Procópio. O presidente da Província
foi informado desse insucesso, no qual morre-
ram muitos colonos que acompanharam a expe-
dição.
39
Nesse período, Jerônimo Francisco Coelho
adoece e solicita ao governo do Império sua exo-
neração. No relatório entregue na posse do seu
sucessor, Fausto Augusto d’Aguiar, ele trata dessa
expedição dizendo que
O religioso carmelita Frei Manoel Procópio do
Coração de Maria, tendo partido desta capital
com a comitiva que foi fundar a Colônia Mili-
tar de Santa Teresa seguiu, depois da extinção
desta, para o presídio de São João do Araguaia,
destinando-se a catequisar os índios que vivem
nas margens do Tocantins e Araguaia.
As famílias dos colonos remanescentes da
extinta colônia foram levadas para Belém, de onde
seguiram no brigue Niterói para a Colônia do Ara-
guari, novo local para onde foram encaminhados
pelo governo. Algumas destas, por ordem do pre-
sidente do Pará, seguiram com o tenente Cons-
tâncio Dias Martins, o frei Manoel Procópio e al-
guns soldados “para fundar uma nova colônia em
São João do Araguaia”, onde já existia o presídio e
registro de São João das Duas Barras.
Essa nova colônia, segundo o mesmo relató-
rio, encontrou “mais felicidade”: “até as últimas
notícias não havia experimentado as contrarieda-
des com que teve de lutar na Itaboca e às quais
sucumbira”. Contava então ela com “57 colonos
de ambos os sexos, os quais se empregam na cul-
tura de mandioca e outros gêneros”.
40
TRÍPLICE FRONTEIRA (MA/PA/GO)
Produzido a partir de recorte do “Mapa Orográfico Brasileiro”, carta
desenhada por Cândido de Souza Bispo sob a direção de Carlota Carvalho
41
5
PROCÓPIO FUNDAPROCÓPIO FUNDAPROCÓPIO FUNDAPROCÓPIO FUNDAPROCÓPIO FUNDA
A NOVA NOVA NOVA NOVA NOVA SANTA SANTA SANTA SANTA SANTA TERESAA TERESAA TERESAA TERESAA TERESA
A partir da Colônia de São João do Araguaia,
na confluência com o rio Tocantins, divisa tríplice
das províncias do Pará, Goiás e Maranhão, frei
Manoel Procópio dá início, em 1850, aos contatos
com os índios da região, buscando aldeá-los de
acordo com o termo firmado com o governo do
Pará.
Primeiramente, buscou ele contato com os
apinajés, que habitavam a margem esquerda do
Tocantins, território de Goiás, desde a povoação
de Boa Vista até a confluência com o Araguaia,
considerados pacíficos pelos muitos navegadores
que os contataram. Estranhamente, o carmelita
não tem sucesso com estes, que, pouco depois deaceitarem se aldear, rebelam-se e retornam às
matas.
Frei Manoel Procópio inicia então contatos
com os temidos caracatis (krikatis) e gaviões, ha-
bitantes da margem direita do Tocantins, em ter-
ritório ainda indefinido se maranhense ou para-
ense.
42
Com estes, surpreeendemente, o frade con-
seguiu estabelecer relações de amizade, depois de
visitar suas aldeias. Ganhou a confiança e a pro-
messa dos tuxauas, os chefes das tribos, de se al-
dearem sob sua direção. Frei Manoel Procópio es-
colheu, então, o lugar denominado “Campo dos
Frades” (atual povoado de Frades, nas margens
do rio Tocantins, agora município de Cidelândia),
que achou mais apropriado para esse estabeleci-
mento, e, também, por se situar próximo da Colô-
nia de São João do Araguaia. Só a tribo dos gaviões
teria “perto de mil almas”, de acordo com a esti-
mativa do próprio missionário.
Apesar da dedicação e esforços do frei Ma-
noel Procópio, ressaltados em diversos relatórios
dos presidentes da Província do Pará, o aldeamen-
to dos índios do Araguaia-Tocantins se mostrava
de difícil consolidação. Em relatório apresentado
ao seu sucessor na presidência da Província do
Pará, José Joaquim da Cunha, dia 20 de agosto
de 1852, o comendador Fausto Augusto d’Aguiar
relata que
A missão do Alto Tocantins não tem produzi-
do resultados satisfatórios. Creio no zelo do
religioso, que dela está incumbido; mas infe-
lizmente os índios que habitam essa parte da
província e cujas principais tribos são as dos
apinajés, caracatis, caracatigês e gaviões, aferra-
43
dos aos hábitos da vida erradia, têm resistido
aos seus esforços. Por vezes tem ele conseguido
persuadir algumas dessas tribos a estabelece-
rem-se as aldeias, mas pouco depois as abando-
naram, regressando para o estado que ante-
riormente se achavam. É de esperar, porém, que
a insistência por mais tempo no emprego de meios
brandos vença essas dificuldades com que se luta.
Foi exatamente a persistência do frei Manoel
Procópio que manteve de pé sua missão e a exis-
tência da Colônia de São João do Araguaia, num
período em que se reduziam as demais mantidas
pelo governo do Pará, sobretudo depois da desa-
nexação do Amazonas, ocorrida nesse período.
Os caracatis, temidos pelos navegantes do rio
Tocantins e pelos vaqueiros e bandeirantes dos
Pastos Bons, a quem fizeram estacionar além das
margens do Farinha por quase quarenta anos,
renderam-se ao carmelita baiano. Submeteram-
se ao aldeamento e direção de frei Manoel Pro-
cópio.
Em vista desse sucesso, no verão de 1852, o
frade carmelita resolve refundar a sua Colônia de
Santa Teresa, agora na margem direita do Tocan-
tins, acima do aldeamento de Frades, local mais
salubre que São João do Araguaia, por ele já co-
nhecido e escolhido, onde ficaria mais próximo
de Frades e dos aldeamentos que pretendia esta-
belecer entre as cachoeiras de Santo Antônio e a
44
confluência do Araguaia, área até então conside-
rada de domínio da Província do Pará.
Assim, no dia 16 de julho de 1852, quando o
rio Tocantins se mostrava com todo seu explen-
dor, as praias e as margens se apresentavam exu-
berantes, frei Manoel Procópio aportou ao lado da
confluência com o riacho Cacau, local que imagi-
nou livre das águas durante o período invernoso.
Com ele seguiam os colonos Juvenal Simões de
Abreu e Zacarias Fernandes da Silva e suas famí-
lias, além de quatro soldados, todos estes recruta-
dos na Colônia de São João do Araguaia, da qual o
religioso era capelão.
A chegada do inverno, que nas grandes chei-
as represa o riacho Cacau e inunda todo o o cam-
po escolhido por frei Manoel Procópio, demons-
trou que a escolha não tinha sido adequada. A
nascente povoação foi então mudada para outro
local, pouco abaixo, nas ribanceiras que compre-
endem hoje a Praça da Meteorologia e suas imedi-
ações. Ali, o missionário logo construiu uma ca-
pela em honra a Santa Teresa d’Ávila, santa
espanhola de quem carregava uma imagem e a
quem deu o patronato da missão.
Assim se fundou e estabeleceu a povoação de
Santa Teresa, denominada também de Santa Te-
resa do Tocantins e Colonia de Santa Teresa.
45
Exímio no trato com os indígenas, frei Ma-
noel Procópio tratou logo de expandir seus conta-
tos com as demais tribos da região. No mesmo
ano, contatou com os índios das proximidades da
barra do Farinha, que viviam em permanente con-
flito com os fazendeiros de Carolina, e conven-
ceu-os a se aldearem sob sua direção. Da região
do Farinha, o frade fez descer 302 indígenas para
as proximidades de Santa Teresa, e, em seguida,
mais 500 dos sertões.
A isso fez referência, no dia 15 de agosto de
1854, o conselheiro Sebastião do Rego Barros, pre-
sidente da Província do Pará, em fala à Assembléia
Legislativa Provincial:
O missionário de Santa Teresa do Tocantins, que
é um dos poucos dignos desse nome, comuni-
cou-se em fins do ano passado que nessa ocasião
haviam descido do sertão para a sua missão 500
indígenas, em consequência do que, e a seu
pedido, mandei remeter-lhe novos objetos de fer-
ramentas para lhes serem distribuídas, e ultima-
mente participa haver reunido aí mais 302 da tribo
cracati.
Duas aldeias dos caracatis foram estabeleci-
das nas proximidades de Santa Teresa, uma rio
acima, nas proximidades da embocadura do Ca-
cau, outra abaixo, cerca de uma légua da povoa-
46
ção. Os que desceram do Farinha teriam sido leva-
dos para as proximidades de Barra do Corda.
A convivência entre os colonizadores e os in-
dígenas, apesar do zelo e esforços de frei Manoel
Procópio, em pouco tempo se deteriorou. As fa-
zendas foram ocupando cada vez mais as matas e
tomando o território antes livre dos timbiras, nas-
cendo daí conflitos que perduraram durante dé-
cadas.
O frade, que não se desligara do contrato com
o governo do Pará, a ele prestava contas e recorria
nos momentos de dificuldades, como demonstra
o mesmo conselheiro Sebastião do Rego Barros
em exposição feita em 1855:
Ultimamente tive participação de que à missão de
Santa Teresa do Tocantins haviam descido uns 8000
indígenas da tribo “gaviões” e que a requisição do
respectivo missionário, que manifestara receios,
tinha ido lá com algumas praças, das quais dei-
xou algumas o comandante do destacamento de
S. João do Araguaia. O dito missionário, por oca-
sião dessa mesma descida, representou-me sobre
a necessidade de se criar ali um distrito de Paz e
de subdelegacia de Polícia, bem como de um des-
tacamento mais forte; reconhecendo fundamen-
tos nesse pedido, não pude anuir à ultima parte
dele à vista da pouca força de linha de que hoje
dispõe a Província; no entretanto consultei-lhe-o
sobre pessoa que pudesse ser nomeada subdele-
gado na intenção de criar o distrito de Polícia, e
resolver posteriormente sobre o de Paz.
47
Ressalta-se que o documento grafa 8.000 in-
dígenas, o que deve ser erro tipográfico; provavel-
mente desejava-se grafar 800 índios, que é o nu-
mero aproximado dos que desceram para o
Campo dos Frades.
Mesmo afirmando reconhecer os “funda-
mentos nesse pedido”, o governo do Pará não
atendeu ao rogo de frei Manoel Procópio, “à vista
da pouca força de linha de que hoje dispõe a Pro-
víncia”. Com isso, o frade recorreu às autoridades
do Maranhão, através do juiz de Direito de Caroli-
na, pedindo socorro diante das ameaças dos indí-
genas, conforme informou em 1856 à Assembléia
Legislativa o presidente da Província do Maranhão,
Antônio Cândido da Cruz Machado:
O missionário da nova missão de Santa Teresa [...]
recorreu ao juiz de Direito da Comarca da Carolina
pedindo força e proteção por causa das ameaças e
depredações de gado que cotidianamente eram fei-
tas, segundo sua frase, por mil arcos que circun-
dam a missão.
48
E
st
a 
ob
ra
 f
oi
 d
is
po
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bi
liz
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FRONTEIRAS DO MARANHÃO, 1821
Excerto da “Nova Carta do Brazil e da América Portuguesa’, de Alphonse de
Beauchamp, em que os limites do Maranhão e Pará se dão no rio Turiaçu
49
6
SOB O DOMÍNIOSOB O DOMÍNIOSOB O DOMÍNIOSOB O DOMÍNIOSOB O DOMÍNIO
DO MARDO MARDO MARDO MARDO MARANHÃOANHÃOANHÃOANHÃOANHÃO
Com a extinção e divisão do Estado do Mara-
nhão e Grão Pará, pelo Decreto Real de 20 de agos-
to de 1772, coube ao então governador do Pará,
João Pereira Caldas, definir a linha divisória entre
as duas capitanias, e ele a estabeleceu pelo rio Tu-
riaçu. Em seu Compêndio das eras da Província
do Pará, editado em 1838, registrou Antônio La-
dislau Monteiro Baena que
Em virtude dessa determinação ele designa o rio
Turiaçu para linha de demarcação dos respecti-
vos territórios do Pará e Maranhão; devendo-se
entender isso meramente quanto ao governo se-
cular, pois que no pertencente ao eclesiástico
toca ao monarca depois de informado legitimar a
linha divisória do bispado pelo rio Gurupi lança-
da em provisão de dois de maio de 1758 pelo
bispo dom frei Miguel de Bulhões. E que do lado
da Capitania de Goiás termina o território civil do
Pará na cachoeira nominada “O Seco do Curuá”,
que marca a separação das duas capitanias, e
que jaz entre a cachoeira de Santo Antônio e as
Três Barras formada por duas ilhas; mas que a
50
Diocese passava além, e compreendia o distrito
da freguesia da Natividade nas Minas de São
Félix.
Até a metade do século XIX, então, era con-
senso que divisa do Maranhão com o Pará, no rio
Tocantins, se dava nas cachoeiras de Santo Antô-
nio, enquanto no sentido leste-oeste o limite era
o rio Turiaçu. A faixa, portanto, entre o Turiaçu e
o Gurupi seria território paraense, o mesmo se
dando entre as cachoeiras de Santo Antônio e a
confluência do Tocantins com o Araguaia.
Quando estabeleceu a nova povoação de
Santa Teresa, sem saber, frei Manoel Procópio
estava em terras maranhenses, porque, um mês
antes, no dia 12 de junho de 1852, o Decreto
Imperial n.o 639 havia designado o rio Gurupi
como novo limite entre Pará e Maranhão.
Definidos esses limites, em julho de 1854 a
Assembléia Provincial do Maranhão aprovou uma
lei determinando “o levantamento das cartas hi-
drográficas dos principais rios navegáveis da pro-
víncia”, com recomendação especial para a explo-
ração do Tocantins, no trecho entre a cachoeira
de Santo Antônio e São João do Araguaia, onde já
estava fincada a povoação de Santa Teresa.
Na exploração do Tocantins, além de outras cir-
cunstâncias, que depois se mencionarão, veri-
ficará o engenheiro quais sejam as ilhas, que
51
ficam mais próximas à margem direita deste
rio, e que na conformidade da Lei de 23 de
agosto, deverá pertencer à Província do Mara-
nhão; assim como o lugar mais próprio, abaixo
da cachoeira de Santo Antônio, para o assenta-
mento de um presídio, que sirva de ponto de
escala às embarcações que navegarem da Caroli-
na para o Araguaia.
O texto acima deixa patente que até então o
governo do Maranhão demonstrava não ter qual-
quer conhecimento da existência da nova povoa-
ção de Santa Teresa, fundada na margem direita
do Tocantins. Os registros fazem supor que so-
mente em 1855, após o apelo de frei Manoel Pro-
cópio ao governo da Província, através do juiz de
Carolina, foi que a povoação ficou conhecida em
São Luís.
O Decreto n.o 773, de 23 de agosto de 1854,
havia estabelecido os limites entre Maranhão e
Goiás, alargando o território maranhense até São
João do Araguaia. Em seu relatório apresentado
em 1856 à Assembléia Legislativa do Maranhão, o
presidente da Província, Cruz Machado, detalhou
que
Pelo Decreto n.o 773, de 23 de agosto de 1854,
que marcou os limites entre esta e a Província de
Goiás, foram ainda eles entre esta e a do Pará
fixados do ponto da confluência do Araguaia no
Tocantins, no presídio de São João do Araguaia,
52
até encontrar as vertentes setentrionais do rio
Gurupi.
Dantes, o espaço que se compreendia entre o
mencionado ponto e a cachoeira de Santo Antô-
nio pertencia à Província do Pará, que ali se
limitava com a de Goiás; não obstante isso, os
limites da Diocese do Maranhão por aquele lado
foram sempre os que ultimamente se deram à
Província; o bispado do Pará, portanto, termi-
nava na margem direita do Tocantins no ponto
fronteiro ao presídio, e por este até a sua foz no
oceano, em conformidade com o disposto na
provisão de 2 de maio de 1758.
Como, porém, este território, ultimamente in-
corporado à província do Maranhão pertencia à
do Pará, a presidência desta determinou que
para ele se transferisse a missão de Santa Tere-
sa, que, não obstante estar compreendida no
território da jurisdição da Diocese do Maranhão,
recusou prestar-lhe obediência.
Tendo sido criada a freguesia do Senhor do Bon-
fim da Chapada pela Lei Provincial de 8 de
maio de 1835, esse território da diocese, mas
não ainda da província, foi unido à provisão do
respectivo pároco pelo Revdmo. Bispo Dom
Marcos Antônio de Souza.
Esta questão, depois que o Revdmo. Bispo do
Pará, a quem se dirigiu o do Maranhão, decla-
rou ao missionário quais eram as raias da sua
diocese, deve se considerar ultimada.
O missionário da nova missão de Santa Teresa,
depois que se recolheu ao presídio de São João
do Araguaia o destacamento, que nela existia
53
por parte da província do Pará, em consequên-
cia da desanexação desse território, que, con-
quanto esteja incorporado ao município da Ca-
rolina, em virtude da Lei Provincial n.o 398, de
21 de julho do ano passado, nem por isso deixou
de pertencer, como dantes, à jurisdição do páro-
co da Chapada, desde a cachoeira de Santo Antô-
nio e Serra da Desordem até as raias do Pará,
recorreu ao juiz de Direito da Comarca da Caro-
lina pedindo força e proteção por causa das ame-
aças e depredações de gado que, quotidiana-
mente eram feitas, segundo a sua frase, por mil
arcos que circundam a missão, como o dito juiz
acaba de trazer ao conhecimento da presidên-
cia. [...] A perte deste extenso território, que de-
mora entre a Serra da Desordem e o rio Gurupi,
está ocupada por criadores que ali estabelece-
ram suas fazendas, distante 50 e mais léguas da
vila e sede da freguesia da Chapada.
Desta forma, a missão paraense de Santa Te-
resa do Tocantins transformou-se em povoação
maranhense, retornando os militares daquela pro-
víncia a São João do Araguaia, à qual, mesmo resi-
dindo em Santa Teresa, permaneceu ligado frei
Manoel Procópio.
54
7
A VILA NOVA VILA NOVA VILA NOVA VILA NOVA VILA NOVAAAAA
DA IMPERDA IMPERDA IMPERDA IMPERDA IMPERAAAAATRIZTRIZTRIZTRIZTRIZ
A povoação de Santa Teresa crescia rapida-
mente. Fazendeiros do Grajaú, do Riachão e de
Carolina logo se estabeleceram nesse território de
muitas matas, rios, riachos e vegetação mais con-
sistente, as “matas gerais” durante muitos anos
cobiçadas.
Menos de dez anos depois da chegada de frei
Manoel Procópio, já havia grandes fazendas de
gado e muitos milhares de bovinos. A prosperida-
de econômica dos fazendeiros e colonos se mos-
trava surpreendente e propícia, em vista das facili-
dades de comércio através do grande rio, por onde
freqüentemente desciam os botes de Goiás.
Ainda em 1856, antes de assumir a povoação
de Santa Teresa, o presidente da Província do Ma-
ranhão, Antônio Cândido da Cruz Machado, ates-
ta em seu relatório à Assembléia que
Pertence a esta província a parte da margem
oriental deste rio desde a foz do Manoel Alves
Grande até o ponto fronteiro ao presídio de
55
São João do Araguaia, e por ele descem para o
Pará os barcos denominadosbotes, que vêm
carregados de mercadorias do lugar do Peixe e
vilas da Palma e Porto Imperial, da Província
de Goiás, e os que partem da vila da Carolina e
da Boa Vista, situada na margem ocidental.
O relatório de Francisco Carlos de Araújo Brus-
que, apresentado à Assembléia do Pará em 1862,
também atesta esse movimento:
A descida regular de botes de Goiás é de 25
por ano. Cada bote acompanha de 10 a 24
remos, conforme a lotação, e trazem piloto.
Não usam velas; toda a viagem na descida é
feita a remos, e à mercê da corrente; e na
subida é feito a remos, vara, cirga, ganchos
etc. O piloto ganha de 100 a 300$000 réis por
viagem redonda; o proeiro 70 a 80$000 réis,
os remeiros 40 a 60$000 cada um. A carga na
descida é somente de couros secos e espicha-
dos, e na subida conduzem sal, louça, ferra-
gens, fazendas e líquidos.
O governo do Pará e os comerciantes de Be-
lém, que mantiveram permanentes contatos com
os moradores de Santa Teresa, procuraram viabi-
lizar o comércio e o transporte de gado de Santa
Teresa para Belém, que se transformara numa
grande metrópole nas duas décadas seguintes ao
sangrento período da Revolta dos Cabanos.
56
O Pará não produzia carne suficiente para a
demanda de Belém, e sua principal fonte de abas-
tecimento, a ilha de Marajó, não conseguia supri-
la. Por isso, aquela província tinha interesse de fi-
nanciar a construção de uma estrada que partisse
de Goiás, atravessasse o município de Carolina e a
povoação de Santa Teresa, até chegar a um ponto
navegável do rio Capim, de onde se chegaria com
facilidade a Belém sem os inconvenientes das ca-
choeiras do Tocantins. Através dela, seria trans-
portado o gado necessário ao abastecimento de
Belém.
Ao tomar conhecimento, por volta de 1855,
da nova e exitosa povoação em seu território, o
governo do Maranhão viu contemplado um pro-
jeto que acalentava desde 1854, quando a Assem-
bléia aprovara a instalação de “um presídio que
sirva de ponto de escala às embarcações que na-
vegarem da Carolina para o Araguaia”, no “lugar
mais próprio abaixo da cachoeira de Santo Antô-
nio”.
A Assembléia do Maranhão aprovou, assim, a
Lei Provincial nº 398, de 27 de agosto de 1856,
que criou a “Vila Nova da Imperatriz”, sancionada
pelo barão de Coroatá, Manuel Gomes da Silva
Belfort, então presidente da Assembléia.
A localização da nova vila maranhense, de ter-
minada pelo art. 1º dessa lei, foi motivo de muitas
controvérsias e acirradas disputas políticas:
57
Art. 1º. Fica criada a Vila Nova da Imperatriz
sobre a margem direita do rio Tocantins, no
sítio que o governo julgar mais apropriado
para o assento da mesma, fronteiro, com pou-
ca diferença, à Vila da Boa Vista da Província
de Goiás, logo que haja nele começo de povo-
ação, e casas para funcionarem as respecti-
vas autoridades locais.
Não era essa a localização de Santa Teresa,
transmudada para Vila Nova da Imperatriz em
homenagem à imperatriz Teresa Cristina, mulher
do imperador Dom Pedro II, a quem os morado-
res da povoação solicitaram proteção em suas de-
mandas. Essa era a localização de Porto Franco,
um incipiente povoado maranhense fronteiriço
com a punjante Boa Vista. Os imperatrizenses
contestaram e pediram a correção da lei, com o
estabelecimento da sede da vila na povoação de
Santa Teresa.
Comenta o historiador Mílson Coutinho, em
Imperatriz, subsídios para a história da cidade, que
“pela primeira vez se viu um governo criar uma
vila num lugar onde nada existia e deixar de lado
um vilarejo já em franca ascensão”.
Mílson Coutinho afirma ainda que
Com a Lei 398, de 27.8.1856, muitas pessoas, ao
dela conhecimento tomarem, trataram de se fixar
defronte de Boa Vista, e logo um pequeno arraial
58
foi ali se formando, à testa do qual alguns fazen-
deiros construíram suas casas residenciais às mar-
gens do Tocantins.
Esses novos habitantes de Porto Franco em-
penharam-se em manter ali a sede da vila, cons-
truindo benfeitorias, melhorando o aspecto da
povoação, apelando a políticos da capital e mes-
mo comprometendo-se a erguer os prédios pú-
blicos necessários à sede da vila.
Até então, a Vila Nova da Imperatriz, criada
pela Lei 398, de 1856, não fora instalada. De acor-
do com a lei, isso aconteceria “logo que haja nele
começo de povoação, e casas para funcionarem
as respectivas autoridades locais”.
Numa manobra atribuída ao frei Manoel Pro-
cópio, a sede se estabeleceu em Santa Teresa, em
1858, conforme relata a historiadora imperatri-
zense Edelvira Marques de Moraes Barros em seu
livro Imperatriz: memória e registro:
[...] em maio de 1858, o presidente da Pro-
víncia do Maranhão, Dr. Francisco Xavier Paes
Barreto, remete ofício à Comarca Municipal
da Vila de São Pedro da Carolina informando-
lhe que “na forma do Decreto de 13 de no-
vembro de 1832, fosse tornada efetiva a cria-
ção da Vila Nova da Imperatriz, devendo pro-
ceder à eleição dos vereadores no primeiro
domingo do mês de junho de 1858”.
59
O juiz de Direito de Carolina manda realizar
as eleições na povoação de Santa Teresa, em vez de
Porto Franco, segundo ainda Edelvira Barros, “por
uma mesa eleitoral constituída pelos vereadores
de Carolina”. Foram assim eleitos os vereadores
da primeira legislatura da Câmara de Vila Nova da
Imperatriz, composta por cinco membros: Ama-
ro Batista Bandeira, Didier Batista Bandeira, Ata-
násio Maciel Parente, Domingos Pereira da Silva e
José Crispiniano Pereira.
Partidários da causa de Santa Teresa em des-
favor de Porto Franco, o juiz de Direito de Carolina
e os vereadores da Câmara desse município, sem
dúvida, foram parte dessa maquinação que teve
como desfecho a instalação da Vila Nova da Impe-
ratriz em Santa Teresa, apesar da determinação
legal.
Os moradores de Porto Franco protestaram.
Recorreram ao governo provincial e à Assembléia
Legislativa. Deu-se início a uma intensa disputa
em que não faltaram muitas hostilidades entre os
moradores das duas povoações.
Essa situação, no entanto, durou pouco. No
ano seguinte, a Assembléia Provincial aprovou a
Lei nº 524, de 9 de junho de 1959, confirmando a
sede da vila em Porto Franco.
Em seu relatório de 1859, o presidente da
Província do Maranhão, João Lustosa da Cunha
Paranaguá, registra que
60
A sede da nova Vila da Imperatriz da Comarca da
Carolina foi transferida da povoação de Santa Teresa
para a do Porto Franco pela Lei nº 524 daquela
mesma data, na qual foi autorizado o governo da
Província a receber oferecimento feito pelo cidadão
Leonardo Pereira de Araújo Brito relativamente à
construção da nova matriz, e a aceitar a casa que
ofereceu José Joaquim Severino para as sessões da
Câmara e do Júri e para as audiências judiciá-rias,
até que possa ser outra construída com esse destino
às expensas da Província. Nesta conformidade assi-
nou o referido cidadão Leonardo Pereira de Araujo
Brito um termo de obrigação por si e pelo cidadão
Severino.
Dá-se então início a uma batalha ainda mais
acirrada entre os líderes das duas povoações. As
contestações, debates e controvérsias acerca do
local da sede da nova vila envolveram o governo
provincial, a Assembléia Legislativa, as câmaras
municipais da região e o Judiciário, convidados a
dar parecer sobre a demanda.
Os vereadores de Boa Vista do Tocantins afir-
maram que em Porto Franco havia apenas “uma
única casa, que é a de José Joaquim Severiano, as
mais são cabanas que, ao todo, farão uma dezena
pouco mais. A Câmara de Carolina, em seu relató-
rio, afirmou que “Porto Franco mais parece fa-
zenda de fazendeiro pobre do que uma vila, e sem
proporções para futuro engrandecimento”, esta-
belecida “em local pedregoso, lamacento e sepa-
61
rado dos campos vizinhos por uma légua de mata”.
O juiz de Direito da Comarca de Carolina, Antônio
Buarque de Lima, defensor de Santa Teresa, faz
elogios ao dinamismo econômico e localização
privilegiada desta povoação.
Essa questão chegou até a imprensa de São
Luís, onde o Publicador Maranhense publicou, em
1º de junho de 1861, uma extensa matéria assina-
da pelo líder porto-franquino José Joaquim Seve-
riano, onde faza defesa e argumentos dos mora-
dores de Porto Franco, detratando os terrenos e a
salubridade de Santa Teresa.
Edelvira Barros registra, em seu livro citado,
que em São Luís, junto às autoridades estaduais,
o juiz de Carolina, Antônio Buarque de Lima, in-
tercedeu pelo retorno da sede da vila a Santa Tere-
sa, e que
Outras providências foram tomadas, até conseguir
que o presidente da Província, Antônio Manoel de
Campo Mello, assinasse a Lei nº 631 em 5 de de-
zembro de 1862, mudando de Porto Franco para
Santa Teresa a sede da Vila Nova da Imperatriz.
O art. 2º da Lei 631, que devolveu a Santa
Teresa a sede da Vila Nova da Imperatriz, estabele-
cia responsabilidade aos vereadores em exercício,
tenente-coronel Amaro Batista Bandeira, capitães
Atanásio Maciel Parente e Domingos Pereira da
Silva, Didier Batista Bandeira, Alexandre José Mari-
62
nho e Manoel da Abreu Valadares, de realizarem,
às suas custas, “uma casa para as sessões da Câ-
mara Municipal, com separação para prisões e
aquartelamento” e de concluírem, em quatro
anos, o prédio da igreja Matriz.
A animosidade entre os líderes das duas po-
voações somente terminaram após a criação da
Vila de Porto Franco.
63
8
A VIDA NA VILAA VIDA NA VILAA VIDA NA VILAA VIDA NA VILAA VIDA NA VILA
DA IMPERDA IMPERDA IMPERDA IMPERDA IMPERAAAAATRIZTRIZTRIZTRIZTRIZ
Nas três últimas décadas do século XIX, a po-
voação de Santa Teresa consolida-se como sede da
vila, passando a ser denominada apenas Impera-
triz ou Vila da Imperatriz. Firma-se como territó-
rio divisor entre Maranhão, Pará e Goiás, pólo de
criação de gado e porto fluvial estratégico para os
navegantes do Tocantins.
De acordo com o historiador César Marques,
pouco antes de 1870 os habitantes de Imperatriz
“são geralmente criadores de gado, mas lavram
também arroz, milho, feijão e cana-de-açúcar so-
mente para seu consumo e aguardente”, acres-
centando que a vila – incluindo-se Porto Franco –
tem “Câmara Municipal, dois juízes de paz, dois
subdelegados, coletoria, e poderia ter júri e foro
civil, pois que cada um dos dois distritos pode for-
necer o número legal para constituir o tribunal”.
Imperatriz possuía, ainda, “um batalhão da
Guarda Nacional, formado por seis companhias, e
agência dos Correios, instalada em 1865”, e a
economia tinha como suporte a exportação de
64
couros secos de gado e a exploração de óleo de
copaíba, comercializados com o Goiás e o Pará.
A historiadora Edelvira Barros diz que, no
Tocantins, “era a vila da Imperatriz o porto prefe-
rido, o mais movimentado”, razões pelas quais
recebeu “não somente alguns membros das fa-
mílias sertanejas, como também migrantes de lo-
cais mais distantes”. E assegura que
É difícil identificar as famílias que moravam
na sede e as do sertão. Elas estavam sempre
se entrelaçando. Os fazendeiros mais abasta-
dos mantinham casas na vila, onde passa-
vam algum tempo cumprindo muitas vezes
mandatos políticos ou empregos públicos.
Em relação à situação financeira dos habi-
tantes da vila, diz a historiadora imperatrizense
que
Dos que se estabeleceram nesta região, pou-
cos eram considerados ricos. Mesmo estes,
residiam inicialmente nas fazendas em ca-
sas simples e labutavam na lida, bem como
suas famílias. Foram trabalhando, utilizan-
do-se dos campos naturais, tendo como va-
queiros homens brancos e também mestiços
e em menor escala negros. As condições pro-
piciaram o enriquecimento, possibilitando a
transformação dos ranchos primitivos em
grandes casarões, que às vezes até capela ti-
nham.
65
Mas a grande maioria era modesta, sendo os
próprios e os filhos, os vaqueiros.
Além da criação de gado, os imperatrizenses
do final do século XIX dedicavam-se também a
atividades agrícolas, artesanais e industriais. Culti-
vavam arroz, milho, mandioca, algodão, cana-de-
açúcar, tabaco e produtos destinados ao consu-
mo familiar. Produziam peças artesanais com o
couro do boi. Fabricavam farinha, açúcar, rapa-
dura, cachaça, fumo e diversos outros derivados
da produção agrícola.
Pela Lei Provincial nº 985, de 20 de maio de
1872, foi criada a Comarca de Imperatriz, em ter-
ritório desanexado da de Carolina, com jurisdição
sobre Porto Franco. Seu primeiro juiz, nomeado
em 3 de maio de 1873, foi o bacharel Francisco
Domingues da Silva Júnior – pai do futuro sena-
dor Luís Domingues –, que faleceu em janeiro do
ano seguinte, depois de uma longa viagem a cava-
lo. Seu substituto, Antônio Pereira da Silva Bram-
billa, nomeado por Carta Imperial em 1874, fale-
ceu em 1875, em Imperatriz, onde foi enterrado.
Diversos magistrados que conquistaram gran-
de reputação no cenário maranhense e mesmo
nacional judicaram em Imperatriz nas últimas dé-
cadas do século XIX, em sua maioria oriundos da
Faculdade de Direito do Recife.
66
O ensino oficial das letras demorou a chegar
a Imperatriz. Uma lei provincial de 1864, dois anos
depois do estabelecimento da sede da vila, criara
“duas cadeiras de primeiras, com o ordenado anu-
al de 600 mil réis na Vila Nova da Imperatriz, sen-
do uma para o sexo masculino e outra para o sexo
feminino”. A intenção, porém, não saiu do papel.
Diz Edelvira Barros que o padre Domingos
Elias da Costa Morais, sucessor de frei Manoel Pro-
cópio, contrariado com essa situação, vai a São
Luís e faz protestos na imprensa contra o descaso
do governo da Província para com esta vila, tendo
de lá retornado com recursos para abrir uma es-
cola de primeiras letras.
Em seu Dicionário histórico-geográfico da
Província do Maranhão, publicado em 1870, Cé-
sar Marques reitera que
A aula primária, desde que foi criada, não teve
professor em exercício. Condoído de ver aque-
la pobre gente privada até do ensino das pri-
meiras letras, abriu esse bom vigário uma
aula que, desde outubro de 1867, tem sus-
tentado gratuitamente.
Em muitas fazendas, porém, os jovens eram
alfabetizados pelos próprios familiares ou por um
mestre-escola contratado, como foi costume nos
sertões até a metade do século XX.
67
No mesmo período, em 8 de abril de 1869, o
jornalista Temístocles Maciel Aranha havia escrevi-
do, no jornal O Paiz, um reclamo em vista do aban-
dono governamental a que a nascente Imperatriz
era submetida:
Lá para as margens do Tocantins existe esta
Vila e o seu estado mostra bem quanto está
longe das vistas do governo. Sem templo para
Matriz, sem casa da Câmara, é a Vila da Im-
peratriz uma pobre povoação, rica de elemen-
tos para ser uma grande cidade, que vegeta
abandonada, inteiramente esquecida.
Apesar desse descaso, a acanhada vila fortale-
cia-se economicamente. No final do século, regis-
trava um rebanho de quarenta mil cabeças de
gado, que era vendido em pé para várias localida-
des vizinhas e outras mais distantes, como o baixo
Mearim e o Engenho Central (atual Pindaté-Mi-
rim), no Maranhão, e Belém, no Pará.
Na virada para o século XX, os irmãos Pi-
mentel, de Grajaú, descobriram caucho nas ma-
tas do sul do Pará, culminando com a fundação
de Marabá. Isso deu novo dinamismo ao movi-
mento do porto de Imperatriz e ao comércio da
vila, tornando-a o principal centro abastecedor
dos exploradores da castilloa ulei, a árvore de alto
porte que produz látex para o fabrico de borra-
cha e de alto preço no mercado internacional,
68
apesar de menos consistente que a seringueira
amazônica.
Carlota Carvalho, no livro O Sertão, destaca
que
A fama dessa riqueza atraiu quantidade inu-
merável de gente de todas as partes do Brasil
e uma onda interminável de emigrantes da
Bahia, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e
Maranhão transitou pelo porto da Impera-
triz em busca do Eldorado do Itacaiúna.
O historiador balsense Eloy Coelho Neto, em
seu livro História do Sul do Maranhão, anotou que
Em reportagem publicada em O Norte, de Bar-
ra do Corda, em 1904, registra-se que o porto
de Imperatriz, além da lancha belga que faz
duas ou três viagens mensais a São João, na
foz do Araguaia, conserva-se diariamente re-
pleto de botes, batelões, reboques, montari-
as, que vivem em completa evolução, des-
cendo umas, subindo outras.
Durantequase vinte anos, a exploração do
caucho foi a principal atividade da região, decain-
do somente na década de 1920, depois da expan-
são dos seringais asiáticos, o que fez esse produto
perder interesse no mercado internacional.
Mesmo assim, a sede da Vila da Imperatriz
continuava acanhada, sem a estrutura urbana e
69
serviços públicos que correspondessem ao seu
dinamismo e crescimento econômico. Embora
tenha se tornado na última década do século XIX
a segunda maior fonte de arrecadação do Estado,
os governantes não a retribuíam com obras.
Essa condição é confirmada pelo historiador
Mílson Coutinho, ao asseverar que
Após pacientes pesquisas, em velhos livros e
registros do Arquivo Público do Estado, exa-
me de receitas e despesas, podemos afirmar
que, por volta de 1895, a Coletoria da Vila da
Imperatriz rendia Rs 2:027$000, o 2º lugar
em todo o Estado.
Nessa época, de acordo com o professor e
historiador José Ribeiro do Amaral, em 1896 a Vila
da Imperatriz tinha
48 casas de telha, 88 de palha; igreja Matriz
coberta de telha e tapada em parte de adobos
e em parte de palha, em estado de ruína.
Uma capela sob a invocação do Bom Jesus,
coberta de telha e tapada de adobos, de pro-
priedade de Francisco Calixto de Araújo Catu-
aba. Cemitério murado, ameaçando ruínas;
coletoria e agência de correios; duas cadeiras
de instrução primária, mantidas pelo Estado,
e uma aula particular fundada em janeiro do
corrente ano (1896) com freqüência de dez
alunos. Tem 47 casas de negócio de secos e
70
molhados e algumas tendas de artes e ofíci-
os, sendo: 2 alfaiates, 5 sapateiros, 1 ourives,
5 ferreiros, 1 oleiro e 1 funileiro.
Assim, Imperatriz chegou ao alvorecer do sé-
culo XX. Embora com sinais de prosperidade e
pujança, distante e sem ligação por estradas com
a capital, esquecida pelo poder público do Estado.
Por causa desse isolamento, que perdurou ainda
por muito tempo, era cognominada de “Sibéria
maranhense”, para onde os governantes envia-
vam muitos servidores indesejados.
Dessa forma Imperatriz chegou ao alvorecer
do século XX. Embora com sinais de prosperidade
e pujança, distante e sem ligação por estradas com
a capital, esquecida pelo poder público do Estado.
Por causa desse isolamento, que perdurou ainda
por muito tempo, foi cognominada “Sibéria Ma-
ranhense”, para onde os governantes enviavam
muitos os servidores indesejados.
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O MUNICÍPIOO MUNICÍPIOO MUNICÍPIOO MUNICÍPIOO MUNICÍPIO
DE IMPERDE IMPERDE IMPERDE IMPERDE IMPERAAAAATRIZTRIZTRIZTRIZTRIZ
Passaram-se 62 anos entre a instalação defi-
nitiva da sede da Vila Nova da Imperatriz na povo-
ação de Santa Teresa, em 1862, até que esta fosse
elevada à categoria de cidade, através da Lei nº
1.179, de 22 de abril de 1924.
Era esse um período do início da retomada
da economia extrativista, depois da queda de mer-
cado do caucho. Na mesma região, descobriu-se a
Bertholletia excelsa, conhecida como castanha-do-
pará, e Marabá tornou-se, a partir de 1927, seu
principal ponto de extração.
O porto de Imperatriz retoma o movimento
da década anterior e seus habitantes se envolvem
em massa nessa nova promessa de riqueza. O lu-
cros daí advindos, no entanto, conforme a histori-
adora Edelvira Barros, “não era do castanheiro,
aquele que se embrenhava na mata, sujeito a ata-
ques de índios, cobras, malária e outros; estes con-
tinuavam pobres e com eles a cidade”.
72
Essa assertiva da historiadora imperatrizense
ganha lastro em anotação do pároco de Impera-
triz, frei Cherubim de Carpiano, no livro de tombo
da paróquia de Santa Teresa, datada de 22 de feve-
reiro de 1824:
O pessoal masculino, hábil ao trabalho, passa
o inverno nos igarapés das vizinhanças de
Marabá, ajuntando castanhas, cuja colheita
só pode ser em pleno inverno, porque, todos
dizem, as castanhas só caem pelas chuvas. O
pessoal começa a descer no fim de outubro e
já pelo janeiro-fevereiro e parte de março a
vila de Imperatriz está quase deserta, pois
contavam-se, em dito tempo, apenas 18 ou
20 pessoas, homens quase todos inválidos.
Coisa digna de ponderação é o saber da boca
dos mesmos negociantes, metidos na colhei-
ta supra, que de 100 pessoas que vão ajuntar
castanhas, voltam somente mais ou menos
75, e assim mesmo uns deles voltam inábeis
a qualquer serviço e incomodados por todo o
ano seguinte.
Um dos pioneiros da coleta de castanha nas
matas de Marabá foi o comerciante e político Sim-
plício Moreira, de Imperatriz. Ele se tornou um
dos mais prósperos coletores e comerciante de
castanha-do-pará; foi proprietário de extensos cas-
tanhais naquela região, comprados do governo
daquele estado.
73
Em dezembro de 1923, pouco antes de a Vila
da Imperatriz ser elevada à condição de cidade, foi
realizado um recenseamento de sua população.
O livro de tombo da paróquia de Imperatriz regis-
tra que, “no mês de dezembro de 1923, foi escru-
pulosamente contado o pessoal desta Vila e verifi-
cou-se ser composta de 823 pessoas”.
Antes, em 1912, as linhas de telégrafo chega-
ram a Imperatriz, a partir do Engenho Central,
instalando uma residência de guarda-fios que deu
origem ao povoado de Montes Altos. A partir daí, a
vila passou a sair do isolamento, podendo comu-
nicar-se com o Brasil e o mundo, embora ne-nhu-
ma estrada possuísse ainda que a ligasse por terra
com outras regiões.
RUA 15 DE NOVEMBRO
Rua 15 de Novembro, no início da década de 1920, pouco antes da criação
do Município de Imperatriz. Ilustração publicada no “Annali Francescani”,
edição de 16 de janeiro de 1924 (Milão, Itália)
74
Registros oficiais do governo do Maranhão
apontam que em 1917 havia 445 propriedades
registradas no território da vila. Em 1917, a Cole-
toria estadual arrecadou 4:120$890 réis; e em
1919, 6:500$000, o que significava uma boa re-
ceita, embora Caxias, a mais próspera cidade do
interior, tivesse arrecadado Rs 38:000$000 em
1917.
Quando o governador Godofredo Viana assi-
nou a lei que elevou a vila à categoria de cidade,
Imperatriz era governada por Gumercindo de Sou-
sa Milhomem, o primeiro prefeito eleito da Vila e
também o mais jovem de sua história. Nascido
na Boa Vista do Tocantins (atual Tocantinó-
polis), em 1901, tinha somente 21 anos quando
eleito em 1922, e, portanto, 23 anos recém-com-
pletados quando Imperatriz se transformou em
cidade. Empossado no dia 1º de janeiro de 1923,
governou o município até 1º de janeiro de 1928.
75
10
À ESPERÀ ESPERÀ ESPERÀ ESPERÀ ESPERA DOA DOA DOA DOA DO
DESENVOLDESENVOLDESENVOLDESENVOLDESENVOLVIMENTOVIMENTOVIMENTOVIMENTOVIMENTO
Desde sua elevação a cidade, Imperatriz ain-
da esperou três décadas para se ver ligada por es-
tradas ao restante do Maranhão e do país, o que
veio a ocorrer somente a partir de 1953, com a
abertura de uma estrada ligando-a a Grajaú. Nesse
período, porém, a cidade recebeu importantes
benefícios patrocinados pelo governo federal, pelo
próprio município e mesmo por empresas priva-
das, como veremos a seguir.
• • •
Em 1931, o governo federal, desejando am-
pliar os vôos do Correio Aéreo Nacional pelo interi-
or, nomeou, por indicação do Ministério da Guer-
ra, o major-aviador Lysias Rodrigues para chefiar
uma missão de estudos e proposta de implanta-
ção de novos campos de pouso. Um dos objetivos
era facilitar a realização de vôos do Rio de Janeiro
para a Amazônia, ao mesmo tempo em que se
76
criava uma rota econômica para os vôos entre os
Estados Unidos e os países do Cone Sul.
Uma expedição comandada por Lysias Rodri-
gues parte da então capital federal no dia 19 de
agosto desse mesmo ano e percorre os estados de
São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Maranhão, estu-
dando as possibilidades de rotas e locais de campo
de pouso. Imperatriz foi um dos locais escolhidos.
Mas estourou a Revolução Constitucionalista de
1932 e esse plano foi suspenso. Apesar de nascido
no Rio da Janeiro, Lysias Rodrigues combateu por
São Paulo, comandando o 1º Grupo de Aviação
Constitucionalista, com sede no Campo de Marte.
Em outubro, os paulistas se renderam e Lysias e
seus companheiros foram reformados e exilados.
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