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ÍNDICE 1. A igreja e suas funções 1.1. O que é a Igreja 1.2. Significado e conceito de igreja 1.3. As funções da Igreja 2. Administração Eclesiástica 2.1. A função do líder na Administração eclesiástica 3. Administração na Bíblia 4. Princípios básicos da Administração e sua aplicação na igreja A IGREJA E SUAS FUNÇÕES Planejamento e gestão são ferramentas que auxiliarão a organização eclesiástica no cumprimento de suas ações e na administração dos processos que a mesma está envolvida. Eliel Gaby1 O que é a Igreja A palavra “Igreja” é uma tradução da palavra grega Ekklesia (εκκλησία). Este termo se refere à reunião de um povo por convocação. Ekklesia é a soma da preposição ek (para fora) e do verbo kalein (chamar). Assim, a tradução significa literalmente “chamar para fora” ou “chamados para fora”, isto é, chamados para deixar o mundo1. Quando analisado do ponto de vista do uso clássico da Septuaginta (conhecida também como Versão dos Setenta) - versão bíblica que traduziu o texto sagrado do Antigo Testamento para o grego popular koiné - o termo ekklesia tem a significação de “reunião”, “assembleia oficial”, “congregação”, “grupo de soldados”, exilados ou “religiosos”2. Significado e conceito de igreja Para entender melhor o conceito de igreja, precisa-se conhecer a origem histórica do termo Ekklesia, ou seja, a antiga nação grega. A Grécia era composta por várias pequenas cidades- estado que tinham por costume reunir seus respectivos governantes, para as decisões deliberativas. A essas reuniões era dado o nome de ekklesia, ou “ajuntamento popular”3. Sabe-se que foram os gregos que instituíram as primeiras ideias de uma “organização popular” por intermédio das cidades. Nesta organização havia um procedimento bastante simples: os administradores da cidade, literalmente, deixavam o espaço físico onde estavam e subiam a lugares altos de onde observavam a cidade, contemplavam suas demandas e traçavam os objetivos a serem executados na vida e administração da cidade. Simbolicamente, esta realidade cotidiana da civilização dos gregos deu origem àquilo que conhecemos como igreja, ou seja, do ponto de vista simbólico nós também somos chamados por Deus para sair do mundo. Deriva-se daí o entendimento da palavra “EKKLESIA”. Em termos práticos, quando falamos de igreja referimo-nos a um agrupamento de pessoas, que, de forma consciente, decidiram deixar o mundo e passaram a viver em acordo com a lei de Deus, revelada na Bíblia Sagrada. Para estabelecer, escrever os planejamentos, ou de fato administrar uma igreja, precisa-se ter em mente que igreja não é uma empresa. Embora possua algumas características do mundo corporativo, a igreja não pode ser gerida ou administrada a 1 GABY, Eliel e GABY, Wagner. Planejamento e Gestão Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 2 HORRELL, John Scott. Ultrapassando barreiras. São Paulo: Vida Nova, 1994. 3 História da Igreja – EETAD – Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus. partir do viés empresarial. A igreja é composta por um grupo de pessoas que confessam sua fé em Cristo, foram batizadas e se organizaram para fazer a vontade de Deus. Assim sendo, a igreja: 1. É um grupo que confessa fé em Jesus Cristo. 2. Exige o batismo: o padrão do Novo Testamento não admite membro que não seja batizado. 3. Implica membresia: o rol de membros de hoje parece mais uma formalidade pragmática do que uma realidade bíblica. O fato, entretanto, é que nas próprias igrejas neotestamentárias havia organização suficiente para determinar vários níveis de liderança, enviar cartas de recomendação em favor de membros em trânsito e disciplinar e excluir participantes desviados. 4. Envolve organização: qualquer igreja, das mais anti-institucionais às mais hierárquicas, apresentam organização. O sistema pode ser bom ou ruim, mas é impossível funcionar como comunidade sem ele. Existem, entretanto, dois extremos: Há igrejas que zombam da organização, afirmando que sua dependência pertence apenas ao Espírito Santo – estas raramente sobrevivem. Outras denominações tornam-se tão regulamentadas que não deixam viver a comunidade cristã. Embora a organização seja necessária, esta deve ser flexível, pondo-se à disposição do Cabeça, Jesus Cristo, e da atuação do Espírito Santo4. Aqueles que olham para a igreja como uma organização que deve ser administrada como uma empresa cometem o erro gravíssimo de trazer pessoas do mundo corporativo, sem nenhum conhecimento do significado espiritual e bíblico da igreja, para administrar as suas questões. Confundindo a verdade da igreja com os conceitos do mundo secular. Embora possa-se utilizar algumas ferramentas da administração clássica para gerir a igreja, jamais pode-se confundi-la como uma empresa, pois seus objetivos são muito diferentes. Se, por exemplo, no mundo corporativo, pode-se simplesmente dispensar um funcionário que não tenha atingido os objetivos e metas propostas, na igreja a lógica não é “demitir” este membro, mas cuidar, amar, capacitar e habilitá-lo para a “boa obra”. 4 HORRELL, John Scott. Ultrapassando barreiras. São Paulo: Vida Nova, 1994. As Funções da Igreja Função é oriunda de functione, uma palavra de origem latina que significa “ação natural” ou “missão”. Do ponto de vista sociológico, função é uma contribuição, o exercício de uma atividade ou uma ação que contribui para o bem estar de outrem. A igreja possui funções que refletem sua atuação e o seu propósito5, pois foi estabelecida por Deus para contribuir para seus membros e também para a comunidade na qual está inserida. O desempenho desta função só será possível por intermédio do exercício de uma atividade ou ação que, de forma real e direta, contribua para o bem-estar das pessoas. É fundamental entendermos quais são as funções da igreja para que consigamos criar e administrar seu plano estratégico. Em seu livro “o DNA da Igreja”, o pastor e missionário Rubens Muzio resume em quatro palavras as funções principais da igreja no mundo: Koinonia, Kerigma, Diakonia e Marturia6: a. Koinonia (comunhão): palavra que expressa a união que deve existir entre os membros da igreja. Ao comunicar a beleza desta realidade, o salmista diz: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união” . Biblicamente, a igreja precisa, para cumprir de fato a sua missão, promover a comunhão entre os seus membros. Alguns autores têm defendido que a igreja também precisa cultivar uma comunhão (não ideológica, mas de relacionamento) com a comunidade onde está inserida para que possa influenciá-la. É através do planejamento que a igreja poderá pensar e elaborar uma série de atividades para favorecer o comunhão entre seus membros e com a comunidade. Infelizmente, na maioria das igrejas só se pensa comunhão para o horário do culto. Através de planejamento e da administração estratégica, no entanto, é possível planejar, durante o ano todo, uma série de atividades dinâmicas para promover a comunhão entre os membros. Pode-se, por exemplo, programar retiros, acampamentos, dias de convivência em ambientes físicos diferentes do templo tradicional, etc... 5 GABY, Eliel e GABY, Wagner. Planejamento e Gestão Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 6 MUZIO, Rubens. O DNA da Igreja – Comunidades cristãs transformando a nação. Curitiba: Esperança, 2010. Deverão entrar neste planejamento estratégico também os cultos nos lares, reuniões de grupos etários e outras atividades da igreja. Este planejamento deverá estar ao alcance não sóda direção da igreja ou da liderança de algum ministério, mas de todos os membros da igreja para que eles entendam, em primeiro lugar, que a igreja têm uma missão: promover a comunhão entre os seus membros. Outra área em que a igreja deverá trabalhar em seu planejamento estratégico é no determinar de quais atividades devem ser desenvolvidas para promover o relacionamento com a vizinhança, os membros do bairro e da cidade. Quando, por falta de planejamento e de comunicação, a igreja perde a oportunidade de se relacionar com a comunidade na qual está inserida, perde consequentemente seu poder de influenciar política, moral e ativamente esta comunidade. b. Kerigma (pregação): a missão da igreja é a de proclamação. O termo “missão” é oriundo do latim mission e significa “incumbência”, “obrigação”, “encargo”. Refere-se à proclamação do evangelho a todos os homens em todas as partes do mundo. E disse-lhes: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Marcos 16:15 O sistema de Escola Bíblica Dominical – EBD (ou outro meio sistemático de educação cristã) é um grande exemplo de planejamento estratégico para o cumprimento desta função “kerigma”, ou seja, a obrigação da igreja de pregar a mensagem do Evangelho. A EBD é uma atividade planejada, onde os assuntos são previamente elaborados por um grupo de especialistas nas áreas teológica e de educação cristã, e colocados em prática no formato didático de lições para serem desenvolvidos, em um determinado período de tempo, de acordo com a faixa etária dos membros. Existem igrejas que, por exemplo, planejam os cultos e os temas que vão ser abordados pelos pregadores nos próximos três meses ou mais. Isto para que a igreja não fique sem um objetivo claro. É confortável para seus membros saber que as ministrações que ouvirão serão direcionadas e fruto de um trabalho elaborado e específico de seus líderes. Quando um pastor executa assim a função “kerigma”, a igreja entende que ele não trabalha no improviso, mas tem uma programação. A pregação é fruto de um trabalho elaborado e não do improviso. Alguns pastores utilizam apenas uma mensagem e a desdobram em várias para desenvolver na igreja por vários cultos, o que desmotiva a igreja. Quando há um plano de Ensino da Pregação e de educação para a igreja, esta torna-se mais motivante para seus membros e para o próprio pastor. c. Diakonia (serviço): o serviço aqui descrito é compreendido como uma atitude de generosidade e auxílio em relação à outra pessoa. O serviço (diaconia) de ordem ministerial ou eclesiástica é desenvolvido em duas esferas de abrangência: ● Espiritual: toda forma de aconselhamento, oração e ajuda espiritual fornecida a uma pessoa ou um grupo de pessoas; ● Social: o atendimento às necessidades dos membros e também da comunidade onde a igreja está inserida; Como nas outras duas funções estudadas, para o desenvolvimento da diaconia precisa haver planejamento. No planejamento da diaconia precisa-se conhecer as demandas da sociedade onde a igreja está inserida: o mapeamento das unidades hospitalares, presídios, escolas e outros órgãos públicos nas proximidades da igreja pode ser uma boa ferramenta para ajudar a perceber as necessidades locais. Após o levantamento das demandas sociais e espirituais, é necessário convocar, capacitar, enviar e supervisionar equipes de membros para fazer visitas, distribuir folhetos ou atender outras necessidades específicas de determinada população. Com o objetivo de atender bem as pessoas é preciso planejar como vai ser desenvolvido o atendimento social e o que a igreja pode fazer pela comunidade que está em volta. Se, por exemplo, constatarmos um grau elevado de carência e decidirmos distribuir cestas básicas, precisaremos planejar quais serão os dias de atendimento, quais serão os critérios para atender as famílias, que alimentos são primordiais nestas cestas, com que periodicidade serão entregues, etc… Assim, planejamento e gestão estratégica para a igreja não busca tão somente lucro financeiro, muito pelo contrário: a partir do momento que o conceito de igreja e suas funções é compreendido, as ferramentas do planejamento e da gestão estratégica clássica são auxiliaries ao cumprimento destas funções. d. Marturia (testemunho): testemunho é o ato ou efeito de testemunhar. É uma narração real e circunstanciada que se faz em juízo, ou seja, uma declaração de testemunha. A testemunha é a pessoa que assiste a certos atos para os tornar autênticos e valiosos. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra". Atos 1:8 Esta é uma prática que, infelizmente, tem caído em desuso por parte dos membros da igreja. Perdeu-se o hábito de testemunhar sobre aquilo que estamos vivenciando no nosso relacionamento com Deus. O planejamento pode ser também uma ferramenta poderosa para ajudar nesta função da igreja: o testemunho. Pode ser empregada, por exemplo, uma parceria com o departamento de comunicação da igreja para a gravação dos testemunhos. Precisa-se deliberar quais dias serão feitas as gravações, quais pessoas vão falar, criar um calendário organizado para captar os testemunhos e para os divulgar nas redes sociais, nos meios de comunicação tradicionais. É função da Igreja anunciar ao mundo o que Deus está fazendo nas vidas de seus filhos. Para isso, precisamos nos planejar e estar organizados para colher e divulgar estes testemunhos. Cabe ainda ressaltar que “a atividade primordial da igreja” é explícita nas Sagradas Escrituras. Sua missão é singular e definida. O estudo do planejamento e gestão estratégica da igreja, não pode em nenhum momento se sobrepor ao cumprimento de sua missão principal e integral (Wagner Gaby). ADMINISTRAÇÃO ECLESIÁSTICA Para entender o significado de ‘administração eclesiástica’, é fundamental compreender o próprio conceito de administração para, a partir daí, traçar comparações e paralelismos. “Administrar consiste em interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados, em todas as áreas e níveis da organização a fim de alcançar os objetivos pretendidos” Idalberto Chiavenato7 “Administração é o processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho dos membros de uma organização para alcançar objetivos definidos” J. F. Stoner e R. E. Feeman “Administração é a arte de fazer as coisas através das pessoas” Mary Parker Follet A partir dos três conceitos apresentados, pode-se perceber que administrar passa necessariamente por entender os objetivos da instituição (no caso da igreja, qual sua função) para então elaborar um planejamento que leve a concretização desses objetivos. Quando não há planejamento, organização, liderança e controle os objetivos dificilmente serão alcançados. Um percepção clara dos objetivos da igreja e dos recursos que ela tem à disposição para a execução do trabalho deve levar à elaboração de um planejamento com metas claras e possíveis. Obviamente, não há aqui a pretensão de garantir que todas as metas serão alcançadas, mas, um planejamento bem elaborado diminuirá significativamente o nível de frustração dos gestores e dos membros. Através das afirmações apresentadas, observa-se ainda que a administração gere, além de recursos materiais, aqueles ditos “humanos”, sendo necessário o tratar com pessoas, não apenas objetos inanimados. O gestor precisa ter em mente que a administração só é possível a partir do momento que algumas coisas são feitas a partir da vida de outras pessoas.A administração eclesiástica é, portanto, “a condução das estruturas institucional, orgânica e a comunitária da igreja, mediante princípios, normas, funções e 7 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 6. ed. – Rio de Janeiro: Campus, 2000. procedimentos, com a finalidade de cumprir seus objetivos biblicamente orientados” (Gilson de Oliveira)8. O conceito do pastor Gilson de Oliveira deixa muito claro que, quando fala-se em administração eclesiástica, está implícito que esta é uma administração que tem a finalidade ou o propósito de cumprir objetivos que são biblicamente orientados. Nesse caso, a construção de objetivos e metas para a igreja tem o seu fundamento na Bíblia Sagrada. O pastor Gildásio Jesus Barbosa dos Reis vem corroborar com esta definição quando afirma que “Em virtude de sua natureza, a Igreja não se confunde com nenhuma sociedade ou grupos étnicos. A sua corporalidade, organicidade, fraternidade e unicidade nascem, estruturam-se e se perpetuam na regeneração em Cristo Jesus, o criador da comunhão dos santos. A missão da igreja é ser serva de Jesus Cristo pelo culto permanente e exclusivo à Trindade; pelo amor interno, que confraterniza seus membros; pela fidelidade às Escrituras; pela igualdade de seus componentes; pela missão evangelizadora entre todos os povos, pelo incansável testemunho cristão”9. É fundamental que fique claro a importância de pensarmos a igreja como organismo espiritual e vivo de Cristo nesta terra, diferenciando-a, portanto, dos conceitos do mundo corporativo ou em especial do mundo Empresarial. A função do Líder na Administração Eclesiástica Existe uma linha de pensamento dentro da administração eclesiástica que afirma que a administração eclesiástica deve ser estabelecida olhando para figura do líder, ou seja, ela trata basicamente uma linha de raciocínio de reflexão sobre o papel da liderança a partir da pessoa do líder: quem é o líder, quais são as suas qualificações, se a pessoa de fato tem condições de exercer uma liderança. Na ênfase à liderança eclesiástica a atenção é direcionada para o estudo e análise do comportamento do líder. Nesta dimensão, a administração eclesiástica verifica-se no exercício da liderança na direção da missão, com o foco em pessoas, dentro dos princípios e valores que se preconiza, com boas técnicas e procedimentos, fazendo acontecer os resultados que se tem como alvo”( Rodolfo Garcia Montosa)10. 8 OLIVEIRA, Gilson de. Resistência ou indiferentismo à modernização administrativa? Obreiro Liderança Pentecostal, CPAD. Rio de Janeiro, Ano 24 – no. 18 – Abril/2002, p. 36-43. 9 REIS, Gildásio Jesus Barbosa dos. Administração Eclesiástica. Disponível em http://www.spn.br/index.php/downloads/cat_view/50-apostilas. 10 MONTOSA, Rodolfo Garcia. A boa gestão de uma igreja. Disponível em http://www.institutojetro.com/Artigos/administracao-geral/a-boa-gestao-de-uma-igreja.html. Acesso: 04.11.2014. Nessa perspectiva, tecermos um olhar reflexivo para a administração eclesiástica buscando refletir sobre quais são os limites ou papéis do líder dentro da igreja, até que momento um pastor deve ser administrador, quando ele deve delegar ou terceirizar atividades, se ele deve distribuir essas atividades e se preocupar essencialmente com as questões espirituais da igreja, etc... A passagem de Êxodo 18.21, bastante usada como modelo pela própria administração clássica, é um bom exemplo de que a busca por resultados cada vez mais positivos exige a consolidação de uma liderança. Nesta passagem, Moisés, nomeando seus auxiliares, recebeu conselho de Jetro, seu sogro. Existem diversos conceitos no mundo corporativo que, guardadas suas proporções, dentro de um equilíbrio, podem ser utilizadas no ambiente eclesiástico. Conceitos estes que, quando bem aplicados, estão auxiliando na formação e capacitação da liderança, como, por exemplo, o fenômeno da mentoria. A vida de um cristão é pautada pelo equilíbrio e pela direção de Deus, de forma que um pastor pode usar estratégias para adotar ferramentas do mundo secular para serem utilizadas na formação de excelência. O pastor é a figura central no processo administrativo. “Cuidar do rebanho de Deus é uma das mais nobres tarefas dadas por Deus ao homem. Representa, também, enormes e pesadas responsabilidades, pois quem administra uma igreja está lidando não só com as questões administrativas do dia-a-dia, mas sobretudo com o preparo de almas para a vida eterna”11. É fundamental destacar que todas as atividades administrativas dentro da igreja devem ter como foco o preparo de almas para uma vida eterna ao lado de Jesus. O pastor Geremias de Couto, afirma ainda que “A administração e o pastoreio são interdependentes e esses dois aspectos da igreja aparecem em linhas paralelas e têm necessidade mútua. Um rebanho bem assistido depende de uma boa administração. Ou, ao contrário, uma igreja bem administrada permite uma boa assistência ao rebanho. A boa administração só será possível se houver uma boa liderança” (Geremias do Couto)12. O pastor Geremias Couto defende o que a maioria dos pensadores da área vêm defendendo, ou seja, de que é responsabilidade do pastor da igreja ou do líder do ministério/departamento a administração das atividades que estão sob sua responsabilidade. 11 COUTO, Geremias. Princípios de liderança e administração eclesiástica. Disponível em http://geremiasdocouto.blogspot.com.br/2009/08/administracao-lideranca-igreja-carater.html. Acesso: 07.04.18. 12 COUTO, Geremias. Princípios de liderança e administração eclesiástica. Disponível em http://geremiasdocouto.blogspot.com.br/2009/08/administracao-lideranca-igreja-carater.html. Acesso: 07.04.18. Há igrejas que já optaram por uma administração totalmente terceirizada. Embora não haja evidências bíblicas para afirmarmos que tal prática seja pecaminosa, somos alinhados com esta afirmação do pastor Geremias do Couto de que a administração e o Pastoreio são, de fato, interdependentes e que o pastor da igreja, o pastor local ou o dirigente de um ministério/departamento deve ter, além da responsabilidade espiritual, a responsabilidade administrativa. Cabe observar que ter a responsabilidade não significa “fazer tudo sozinho” ou não delegar funções. Por exemplo, um pastor pode não ter um bom conhecimento na área contábil, ele pode delegar esta função para alguém mais capacitado na área, no entanto, precisará supervisionar, acompanhar, aprovar estar com a responsabilidade final. Steve Marr afirma que “A gestão eclesiástica preocupa-se com a dimensão bíblica, teológica e pastoral da Igreja que se caracteriza por sua visão: missionária, educacional e social. A administração eclesiástica nas organizações, em todos os seus níveis, requer uma gestão participativa, relacionadas entre si, e que tem por pressuposto a participação de ministérios com ações harmônicas fundamentadas no espírito de servir com amor, segundo o ensino e a prática do Senhor Jesus”13 Observe que neste clássico que trata da administração segundo a Bíblia, Steve deixa bastante claro as três ações onde a igreja precisa estar focada, ou seja, a visão missionária, de educação e social. O conceito de administração clássica oferece suporte para o conceito de administração eclesiástica. Porém na administração eclesiástica é preciso ter muito claro, tanto na mente como no coração, a ideia de que a Bíblia é o fundamento e apresenta o objetivo final que deve ser atingido. É a partir do entendimento do objetivo que está na Bíblia Sagrada que o planejamento deve ser traçado e a igreja administrada.13 MARR, Steve. Administração segundo a Bíblia: métodos de gestão que não envelhecem. São Paulo: Mundo Cristão, 2006. p.5. ADMINISTRAÇÃO NA BÍBLIA A Bíblia fala sobre administração e apresenta as diretrizes para serem seguidas. No Novo Testamento, a significação teológica e pastoral de oikonomo (casa) surge quando o apóstolo Paulo usa a palavra em referência à sua tarefa apostólica (1Co 4.2; Tt 1.7; 1Pe 4.10). A conexão para o oikonomo é de importância óbvia: As pessoas de Deus, isto é, a comunidade de Deus, são a casa que Ele constrói pelo trabalho desses que chamou à tarefa, a quem ele confia o cargo de despenseiros da casa. Olhando para estas passagens bíblicas e sua significação teológica, temos uma primeira fundamentação de que é bíblica a ideia da administração, da organização e do cuidado de uma casa. Devemos, portanto, cuidar com zelo da casa do Senhor, de Seus negócios e do Seu reino. Os despenseiros, chamados por Deus para esta responsabilidade, não são chamados para olhar seus próprios negócios domésticos, mas são os mordomos dos bens a eles confiados para prestar contas de sua administração (1Co 9.17; Ef 3.9). Nestas duas referências bíblicas, a ênfase de Paulo é que o pastor é alguém que cuida das coisas da casa de Deus. O pastor tem uma responsabilidade no cuidado da casa de Deus e das coisas que a compõem em todas as suas dimensões. Nesse cuidado, é preciso administrar recursos que são materiais: contas de luz, água, aluguel, impostos, taxas, etc... Mas também é necessário o cuidado dos recursos humanos: as pessoas. É preciso atendê-las e aconselhá-las. Em Gn 1.26-28, Deus delegou ao homem a administração de sua criação. No livro do Êxodo (18.17-26), a Bíblia registra o conselho de Jetro para Moisés, que tornou-se modelo de delegação de autoridade e confiança em subordinados. Em Jz 2.16, os juízes agiam como administradores. O que pode causar confusão e crítica por parte dos membros da igreja é quanto a comunidade de fé observa que o líder está, em suas atividades diárias, comprometendo-se apenas com a administração dos recursos materiais. Existem pastores que, em sua gestão, dispensam um tempo muito grande (além daquilo que deveria ser um tempo de equilíbrio) para cuidar de questões meramente administrativas da igreja, esquecendo-se de outras áreas fundamentais. Por exemplo, em uma igreja que está em processo de construção é natural que o pastor entregue muito do seu tempo e dos seus esforços pensando em tijolos, pedras, areia, grades, coberturas, enfim é natural que se dedique a estas questões. No entanto, a evangelização e o cuidado pastoral não podem ficar relegadas a segundo plano. Por isso é importante a delegação de autoridade, mas lembre-se da importância da Supervisão: como já foi aqui abordado, não é pelo fato de o pastor não estar trabalhando na construção, propriamente dita, que ele está distante da realidade da mesma. É preciso haver muito equilíbrio para que um pastor não dedique um tempo desproporcional a questões secundárias. Não se pode menosprezar as questões secundárias, mas aquilo que é espiritual deve ter o primeiro lugar. O que é secundário tem menor valor quando comparado a questões espirituais: é mais importante evangelizar do que construir. No entanto, é obviamente necessário empreender e construir, mas não pode-se abandonar aspectos de evangelismo, missões e atendimento individual. Em 1Cr 26.29-32, é possível identificar um sistema administrativo detalhado coordenado por Davi. Em 1Rs 4.1-7, Salomão aparece na Bíblia como um homem atento às questões administrativas. É importante que a igreja seja informada de toda a base bíblica que respalda uma administração estratégica. Os membros da igreja precisam ter convicção de que não estão se submetendo a um homem ou mulher que vê a igreja apenas como uma empresa, mas que estão diante de alguém que, com temor de Deus, pretende organizar com zelo todos os recursos disponíveis para fazer Sua obra com excelência. Estamos vivendo dias em que uma falsa noção democrática está tomando conta do coração dos membros das igrejas. Esta ideia de democratização eclesiástica está trazendo muita confusão no meio da igreja. A bíblia é clara sobre o aspecto da administração: submissão a uma cadeia de comando. Observe o seguinte quadro de Eudes Lopes Cavalcanti: 12 ASPECTOS DE ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS REGISTRADAS NA BÍBLIA Passagem Bíblica Situação envolvida Aspectos Administrativos Observados Ex 18.13-27 Conselho de Jetro para seu genro Moisés ● Divisão do Trabalho ● Seleção de Pessoal ● Delegação de autoridade ● Cadeia de Comando Ex 31.1-11 Ex 35.30-35 Os artífices da obra do Tabernáculo ● Seleção de Pessoal ● Especialização ● Divisão do Trabalho Nm 2.1-34 Acampamento e marcha das tribos de Israel ● Organização ● Segurança ● Funcionalidade Nm 3.1-4 Nm 40 Serviço no Tabernáculo ● Seleção de Pessoal ● Divisão do Trabalho ● Definição de Responsabilidade ● Delegação de autoridade 1 Cr 15.16-22 Estabelecimento de cantores e músicos ● Seleção de Pessoal ● Divisão do Trabalho ● Especialização ● Cadeia de Comando 1 Cr 27.25-31 Administração das posses de Davi ● Supervisão ● Divisão do Trabalho ● Especialização 1 Cr 27.32-34 Os conselheiros de Davi ● Assessoria ● Consultoria Ne 3.1-4 Reconstrução da cidade de Jerusalém ● Divisão do Trabalho ● Delegação de autoridade ● Capacitação ● Manual de Instrução Mt 10.1-42 Escolha dos apóstolos ● Seleção de pessoal ● Delegação de autoridade ● Capacitação ● Manual de instrução Mt 14.13-21 Multiplicação dos pães ● Organização ● Divisão do Trabalho ● Cadeia de Comando At 6.1-7 Escolha dos diáconos ● Seleção de Pessoal ● Capacitação ● Divisão do Trabalho ● Delegação de autoridade Tt 1.5-9 Escolha de presbíteros ● Seleção de Pessoal ● Capacitação ● Habilidades Gerenciais Observa-se também na tabela a divisão do trabalho. Nós não precisamos concentrar todos os trabalhos na figura dos pastores: há muitas lideranças sobrecarregadas no dia de hoje porque não conseguem dividir o trabalho e delegar funções e autoridade. A seleção de pessoas que terão responsabilidades sobre outras é algo extremamente importante. É necessário fazer-se análises de perfil:não é pecado fazer alguns testes. Não se pode, sob nenhum pretexto, colocar uma pessoa na liderança que não tenha capacitação ou formação específica para tal. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO E SUA APLICAÇÃO NA IGREJA Este pensador clássico está afirmando que, para que a administração exista, precisa ser notada em sua prática. É plenamente possível trazermos conceitos da administração secular para dentro da igreja sem confundí-la com o ambiente corporativo. A administração possui características que definem suas funções. Estas características determinam as ações que devem ser realizadas pelo administrador. Tais funções são verificadas também no ambiente eclesiástico. Ele as enumera da seguinte forma: a. Prevenção: trata-se da capacidade de visualizar os acontecimentos futuros e traçar programas de ação. Quando se elabora um planejamento estratégico, é necessário prever as ações da igreja. É função da administração ter a capacidade de visualizar eventos futuros. Por exemplo, uma mudança de legislação a nível nacional, regulamento para implantação e construção de igreja e outros assuntos similares ou não. Quando há o cuidado com a prevenção de eventos futuros, considerando-se o dinamismo cultural, social, geográfico e econômico, uma série de frustrações poderão ser evitadas. b. Organização:é a estrutura organizacional a responsável por executar as atividades propostas. É necessário que haja - tanto na atividade eclesiástica quanto na ministerial e departamental - um grupo de pessoas de confiança que possam auxiliar o pastor ou realizar, sob sua supervisão, a organização da funcionalidade da estrutura da igreja. É necessária uma documentação organizada, uma administração com objetivos claros e definidos para cuidar dos recursos práticos e humanos. A igreja como instituição, possuidora de um CNPJ, tem responsabilidades que precisa desempenhar com zelo, sendo exemplo e testemunho também nesta área. É preciso ter um cuidado muito especial com a organização. c. Comando: é o ato de dirigir e orientar. O ato de comandar é dividido entre pessoas que, orientadas por níveis superiores, desenvolvem as atividades propostas. Há a necessidade de se ter uma cadeia de comando, com responsáveis por determinadas áreas e aqueles que se subordinam para que o trabalho possa ser executado. A hierarquização é fundamental para que possa haver a responsabilização das pessoas por determinadas funções. d. Coordenação: é o ato de promover harmonia entre todos os esforços. Deve haver um interlocutor que una todos os envolvidos na administração. No mundo corporativo secular, esta função geralmente é desenvolvida por um Gestor de Projetos. O gestor de projetos é um generalista. Para a realidade da igreja, há vários líderes de diferentes áreas: evangelismo, missões, mulheres, departamento infantil, etc... Porém, muitas vezes há a falta de um interlocutor que una todas essas áreas. Se não há condições de haver esta figura, o pastor deverá exercê- la. Há igrejas com diversos planejamentos, onde nenhum se comunica com outro. Isto gera prejuízo para todos os departamentos e para a igreja como um todo. e. Controle: é a etapa que verifica se as ações estão acontecendo dentro do que foi definido e estabelecido. É importante que haja acompanhamento das tarefas, e mecanismos eficientes de controle estão à nossa disposição. Para tornar claro este conceito, podemos usar o exemplo das metas estabelecidas em relação ao aumento da membresia: se uma igreja se propõe a aumentar em dez por cento o seu número de membros em um ano, deve haver, periodicamente, uma avaliação que determine se este número está de fato sendo aumentado e, se não estiver, é necessário fazer-se as adaptações necessárias.
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