Buscar

Psicofarmacologia Clínica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade de São Paulo
PSICOFARMACOLOGIA CLÍNICA
Prof. Dr. Moacyr Luiz Aizenstein
Departamento de Farmacologia
USP
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A26i
Aizenstein, Moacyr Luiz.
Introdução à psicofarmacologia clínica / Moacyr Luiz Aizenstein. – São 
Paulo, SP: ArteSam, 2019.
110 p.
ISBN 978-85-471-0293-7
1. Psicofarmacologia. 2. Psicotrópicos. I. Título.
CDD: 615.78
Ficha catalográfica elaborada por
Débora Soares Vicente de Santana – Bibliotecária CRB-9/1914
Índice para catálogo sistemático:
1. Psicofarmacologia 615.78
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO A PSICOFARMACOLOGIA ................................................................ 5
NEUROTRANSMISSORES .................................................................................. 19
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS .................................................................. 29
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO .................................................................................. 41
SEDATIVOS E HIPNÓTICOS .................................................................................. 53
ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS .................................................................... 67
FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS .............................................................................. 83
FÁRMACOS PSICOESTIMULANTES ....................................................................... 95
5
INTRODUÇÃO À
PSICOFARMACOLOGIA
7
INTRODUÇÃO A PSICOFARMACOLOGIA
Fármaco é uma substância de estrutura química definida utilizada para alterar funções no organismo. Origina-se do termo grego Pharmakon que significa ao mesmo tempo remédio ou veneno 
dependendo da dose.
A Farmacologia é o estudo do Fármaco e divide-se em Farmaco-
cinética e Farmacodinâmica. 
A Farmacocinética estuda as diferentes etapas porque passam os 
fármacos desde sua administração até chegar ao seu local de ação. São 
elas: Absorção, Distribuição, Metabolismo e Excreção (ADME). 
Estes processos dependem de sua passagem pelas membranas ce-
lulares. A membrana plasmática é formada por lipídios e proteínas que 
são permeáveis a água que podem trazer junto fármacos com moléculas 
pequenas de até 200 Daltons. Na maioria das vezes os fármacos atraves-
sam as membranas através de um transporte passivo, que necessita de um 
gradiente de concentração (maior no meio externo), das diferenças de pH 
através das membranas, e do grau de lipossolubilidade do fármaco.
A Farmacodinâmica estuda a relação entre a concentração do fár-
maco no seu local de ação e a intensidade dos efeitos alcançados, para 
entender os mecanismos das ações bioquímicas e fisiológicas, os efeitos 
obtidos (desejados e adversos ), e as indicações terapêuticas dos fármacos.
O fármaco é o princípio ativo do medicamento, aquele que altera 
uma função e vai provocar uma resposta do organismo. O medicamento 
possui além do fármaco, outras substâncias chamadas excipientes que são 
substâncias inertes utilizadas para melhorar a estabilidade, a disponibilida-
de biológica do fármaco e a aceitabilidade do paciente.
Medicamento inovador ou de referência é aquele que apresenta 
marca comercial e que obteve o primeiro registro para comercialização, 
sendo protegido de reproduções à partir de uma patente. 
Medicamento genérico é o medicamento intercambiável com o 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
8
medicamento de referência. Deve conter o mesmo fármaco, na mesma 
dose, forma farmacêutica e mesma via de administração do medica-
mento de referência eleito pelo Ministério da Saúde. Sua qualidade 
é comprovada em testes de bioequivalência (estudo comparativo da 
biodisponibilidade).
Biodisponibilidade é definida como a quantidade e velocidade com 
que o fármaco aparece na corrente circulatória após sua administração. 
Fármacos com a mesma biodisponibilidade são considerados bio-
equivalentes.
A Farmacocinética estuda as diferentes etapas porque passam os 
fármacos desde sua administração até chegar ao seu local de ação. Estas 
etapas são:
1- Absorção é a passagem do fármaco do seu local de administra-
ção para a corrente circulatória. 
 Os principais fatores que interferem na absorção oral são: forma 
farmacêutica; lipossolubilidade; velocidade de esvaziamento gástrico e in-
teração com outros fármacos. 
Para formulações sólidas ( pós, cápsulas, comprimidos e drágeas) 
administradas por via oral, a absorção depende da dissolução do mate-
rial, seguida da liberação do fármaco a ser absorvido, de onde será distri-
buído através da circulação para seus locais de ação. Substâncias líquidas 
(soluções, suspensões e xaropes) serão absorvidas mais rapidamente do 
que as sólidas.
 Na administração oral os fármacos antes de chegarem a circulação 
geral podem ser levados pela veia porta para o fígado, sofrendo o metabo-
lismo de primeira passagem que vai diminuir sua biodisponibilidade. 
A via parenteral (subcutânea, intramuscular e endovenosa) não so-
fre metabolismo hepático de primeira passagem e apresenta maior biodis-
ponibilidade, que é máxima no caso da administração endovenosa (100%). 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
9
Outras importantes vias de administração são: sublingual, retal, inalatória, 
intratecal e tópica (ocular, dérmica, vaginal e nasal).
É importante assinalar que somente fármacos muito lipossolúveis, 
não ligados a proteínas plasmáticas e pouco ionizados, são capazes de pas-
sar da corrente circulatória para o cérebro ou através da placenta, pois 
estes locais possuem verdadeiras “ barreiras de proteção”.
2- Distribuição. Na corrente sanguínea o fármaco distribui-se para 
os líquidos intracelulares e intersticiais, dependendo das propriedades fí-
sico-químicas da substância.Os primeiros órgãos a receberem o fármaco 
são aqueles mais irrigados (coração, cérebro, rins, fígado ) e dependem do 
débito cardíaco e do fluxo regional. A distribuição para os músculos, pele e 
tecidos adiposos é mais lenta.
Muitos fármacos circulam na corrente sanguínea ligados rever-
sivelmente às proteínas plasmáticas. A albumina é a principal carrea-
dora de fármacos ácidos e a glicoproteína alfa1 de fármacos básicos. 
Quando ligados, os fármacos não têm atividade farmacológica e são 
protegidos de metabolização e eliminação renal. Somente a forma livre 
do fármaco tem atividade e pode também ser metabolizada e sofrer 
eliminação renal.
Alguns fármacos com propriedades físico-químicas semelhantes 
podem competir entre si pela ligação com o sítio protéico, gerando uma 
interação farmacocinética quando administrados simultaneamente 
e aumentando a forma livre de algum deles ou de ambos. Para fármacos 
de baixa segurança ( quando doses terapêuticas estão próximas de doses 
tóxicas), a alteração transitória de aumento da sua concentração na forma 
livre pode ser problemática.
A redistribuição dos fármacos ocorre quando após sua ação inicial 
em órgãos ou tecidos primeiramente atingidos(p.ex. cérebro), migram 
para outros tecidos (p.ex. gorduras) e ficam lá armazenados por algum 
tempo. Depois voltam para a circulação sistêmica sendo novamente le-
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
10
vados aos órgãos, reproduzindo seus efeitos iniciais (p.ex. barbitúricos 
provocando a chamada ressaca barbitúrica).
3- Metabolismo. O metabolismo ou biotransformação dos fár-
macos em compostos hidrofílicos é essencial para sua eliminação do or-
ganismo. Em geral, as reações de biotransformação geram metabólitos 
inativos mais polares prontamente excretados do organismo. Entretan-
to em alguns casos são formados metabólitos com atividade biológica e 
mesmo tóxica.
As reações de biotransformação ocorrem principalmente no fíga-
do, plasma, rins e pulmões, e se classificam como reações da fase 1 ( p.ex.
oxidação, redução,etc. ) e fase 2 ( conjugação ). As reações de oxidação 
da fase 1 são catalisadas pelas enzimas da superfamília CYP (Citocromo 
P450). Nos seres humanos existem inúmeros genes que expressam dife-
rentes CYPs (isoenzimas). Estas isoenzimas são agrupadasem famílias e 
subfamílias que são denominadas pela raiz CYP seguida de um número 
que designa a família, uma letra que designa a subfamília e um segundo 
número que descreve a isoforma. Como exemplo temos a CYP3A4 que é a 
principal isoenzima metabolizadora de fármacos.
Existem nos indivíduos variações nas expressões das CYPs em ra-
zão do polimorfismo genético, ocasionando diferenças nos efeitos de fár-
macos em diferentes grupos étnicos.
As interações relacionadas ao metabolismo de fármacos são res-
ponsáveis por vários efeitos adversos ou ausência de efeitos quando se 
associam dois ou mais fármacos ao indivíduo. Isto geralmente ocorre 
quando os dois ou mais fármacos são metabolizados pela mesma enzima 
interferindo portanto um no metabolismo do outro pois a enzima ocorre 
em quantidades finitas, podendo não ser capaz de metabolizar os dois fár-
macos simultaneamente.
Alguns fármacos podem também inibir ou contrariamente induzir 
as isoenzimas CYPs independente de serem ou não seu substrato. Assim, 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
11
a sua administração associada a outro fármaco,substrato da mesma iso-
enzima CYP, poderá resultar num aumento da concentração (indução), ou 
diminuição da concentração ( inibição ) da enzima e conseqüente variação 
na resposta. Denominamos estes fármacos de inibidores ou indutores en-
zimáticos e deve-se evitar a sua administração simultâneamente a fárma-
cos metabolizados pela mesma CYP.
Outros fatores individuais que podem interferir no metabolismo 
de fármacos são: idade, sexo, doença hepática e como já visto polimorfis-
mo genético e presença de inibidores/indutores enzimáticos.
4- Excreção. Os fármacos podem ser excretados do organismo na 
sua forma original ou como metabólitos. Com exceção dos pulmões o or-
ganismo elimina melhor os fármacos na forma hidrofílica. O rim é o órgão 
mais importante na eliminação dos fármacos e seus metabólitos. As subs-
tâncias excretadas nas fezes são substâncias geralmente não absorvidas 
após administração oral. A excreção pulmonar ocorre principalmente para 
substâncias voláteis. 
Outras vias de excreção são: suor, saliva, cabelo e o leite materno.
Outros parâmetros importantes para o entendimento da farmaco-
cinética são: depuração, volume de distribuição e meia vida ( t½).
Depuração ou Clearance (Cl) se refere a quantidade de fármaco re-
movida ou biotransformada do organismo. Em outras palavras correspon-
de a remoção de um fármaco de um volume específico de fluido biológico 
na unidade de tempo ( mL/min ). Ocorre principalmente no fígado através 
do seu metabolismo e pela excreção renal, e é muito importante para o 
cálculo da posologia do medicamento prescrito.
Volume de distribuição (Vd) avalia a quantidade total do fármaco 
no organismo tomando como base a sua concentração em um determi-
nado compartimento, geralmente o plasma. Assim, o Vd de um fármaco 
fornece uma estimativa da extensão com que o fármaco se distribui nos 
espaços extravasculares. Fármacos hidrofílicos terão um grande volume 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
12
de distribuição pois se acumularão nos tecidos intersticiais enquanto que 
fármacos lipofílicos se acumularão em gorduras. 
Meia vida de eliminação (t½) de um fármaco representa o tempo 
necessário para que sua concentração plasmática decline à metade. Seu 
cálculo depende das variáveis Vd e Cl.
 A depuração, o volume de distribuição e a meia vida, estão rela-
cionadas com as características físico-químicas dos fármacos e são infor-
mações importantes para o estabelecimento da posologia utilizada para 
diferentes pacientes. 
A Farmacodinâmica estuda a relação entre a concentração do fár-
maco no seu local de ação e a intensidade dos efeitos alcançados. Seu 
estudo pode fornecer as bases para a utilização racional de medicamentos. 
O conceito básico da farmacodinâmica resulta da curva dose-resposta, que 
reproduz graficamente o efeito de um fármaco como função da sua con-
centração no receptor.
Figura 1 – Relação dose /resposta de um fármaco
Os efeitos produzidos pela maioria dos fármacos resultam da in-
teração com componentes macromoleculares do organismo chamados 
receptores. Em geral os fármacos se ligam ao receptor e mudam sua 
configuração iniciando uma série de efeitos bioquímicos até produzirem 
POTÊNCIA
DOSE (ESCALA log10)
CU
RV
A
EFICÁCIA
MÁXIMA
RE
SP
O
ST
A 
M
ED
ID
A
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
13
uma resposta do sistema. A ligação ocorre quando há uma afinidade nas 
estruturas químicas entre o fármaco e o receptor. A segunda etapa cha-
ma-se eficácia e é o resultado da extensão da mudança da configuração 
do receptor, provocada pela interação com o fármaco.
 O efeito farmacológico provoca uma resposta clínica (terapêutica 
ou adversa ). De acordo com a resposta provocada pela interação com o 
receptor o fármaco é classificado em:
- Agonista pleno ( forte ), quando a interação provoca um efeito 
máximo. Ex.: fentanila.
- Agonista parcial ( fraco ), quando a interação provoca um efeito 
intermediário. Ex.: buspirona.
- Antagonista, quando a interação provoca um bloqueio. Ex.: halo-
peridol.
 Os receptores não apenas iniciam a regulação dos processos bio-
químicos e da função fisiológica como também estão sujeitos a controles 
reguladores que buscam o equilíbrio homeostático do sistema.
 A estimulação contínua dos receptores por agonistas farmaco-
lógicos leva a um estado de dessensibilização, de modo que o efeito 
subseqüente à mesma concentração do fármaco produz uma menor 
resposta do sistema. Este fenômeno é chamado de tolerância funcio-
nal, e há necessidade de aumento da dose do agonista para retornar 
aos efeitos iniciais.
 Contrariamente, o bloqueio contínuo dos receptores por antago-
nistas farmacológicos leva a um estado de hipersensibilização, de modo 
que após a retirada do bloqueio o sistema responde de forma exacerbada 
a um estímulo. 
Para avaliarmos a eficácia e a segurança de um fármaco estabele-
cemos o conceito de dose eficaz e dose tóxica. 
 Dose Eficaz é a dose necessária para produzir o efeito desejado 
(p.ex. anestesia), em uma porcentagem da população estudada ( p.ex. 
50%). Neste caso denominamos DE50 (dose eficaz em 50% da população).
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
14
 Dose Tóxica é a dose necessária para produzir determinado efei-
to tóxico ( p.ex. parada respiratória ) em uma porcentagem da população 
estudada ( p. ex.em 50% ). Neste caso denominamos DT50 (dose tóxica em 
50% da população). Podemos também exprimir como dose letal ( DL50 ), se 
este for o parâmetro desejado 
Índice Terapêutico é a expressão matemática entre a relação da 
dose tóxica ou letal e a dose terapêutica ou eficaz de um fármaco ( DL50 / 
DE50 ) e fornece o grau de segurança de um fármaco. Assim, quanto maior 
o valor desta equação tanto maior a segurança de um fármaco, pois a dose 
tóxica será muito maior que a dose terapêutica, e difícil de ser atingida. 
Figura 2 – Representação das curvas de DE e DL de um fármaco.
Índice Terapêutico
JANELA TERAPÊUTICA
 Diferentes indivíduos variam na resposta aos efeitos de mesmas 
concentrações de fármacos. Na próxima figura está representado o com-
portamento de um fármaco em um indivíduo, em relação ao seu efeito em 
função do tempo após administração. 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
15
 Percebe-se que foi necessário certo tempo após a administração 
para que o fármaco atingisse uma concentração na corrente circulatória 
suficiente para início do efeito pretendido ( concentração mínima eficaz 
para o efeito desejado ). A concentração continua a subir até atingir seu 
efeito máximo e depois começa a cair provavelmente devido ao seu meta-
bolismo e eliminação. 
 A distância entre a concentração mínima eficaz e o efeito má-
ximo obtido caracteriza a Intensidade do efeito. Já a distância entre o 
efeito máximo e a concentração para o efeito tóxico determina a segu-
rança, pois quanto maior esta distância mais seguro o fármaco.
 Portanto, a janela terapêutica é o intervalo entre amenor concen-
tração que produz efeito terapêutico e o limite para início da toxicidade do 
fármaco. Estes valores são obtidos em ensaios clínicos com voluntários e 
pacientes e permite estabelecer a posologia do medicamento para a popu-
lação adulta em geral.
Figura 3 – Representação da janela terapêutica de um fármaco.
 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
16
 Assim os estudos das relações farmacocinéticas (PK) e farmacodi-
nâmicas (PD), se constituem na base racional da Farmacoterapia, que é 
o ramo da ciência relacionada a aplicação de medicamentos com o obje-
tivo de prevenir, controlar ou curar doenças. Como os parâmetros farma-
cocinéticos e os farmacodinâmicos variam entre indivíduos ( idade, raça, 
sexo, etc. ) é necessário adaptar-se os conceitos gerais para cada indivíduo 
em particular visando o uso racional de medicamentos. 
 Importante assinalar que todos conhecimentos utilizados na tera-
pêutica devem resultar de evidências obtidas com rigor científico. 
Psicofarmacologia Clínica é o ramo da neurociência que estu-
da o uso de fármacos para o tratamento dos transtornos mentais. Ela 
envolve o estudo científico do comportamento humano, sua base bio-
lógica, e a interação do fármaco com o substrato fisiológico, produzin-
do mudanças terapêuticas de curto e longo prazo no tratamento das 
desordens mentais.
Ela estuda uma gama enorme de substâncias com diferentes pro-
priedades psicoativas, focando primariamente nas suas interações quími-
cas com o Sistema Nervoso Central (SNC). 
Os psicofármacos interagem com sítios específicos (receptores) 
encontrados no sistema nervoso induzindo mudanças nas suas funções fi-
siológicas. A interação entre os fármacos e os receptores referem-se a sua 
ação, e as mudanças que provocam na sua função constituem os efeitos do 
fármaco. Estes fármacos podem se originar de fontes naturais como plan-
tas e animais ou através de processos químicos obtidos em laboratório.
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
17
BIBLIOGRAFIA 
Blumenthal DK & Garrison JC. Farmacodinâmica: mecanismos de ação dos 
fármacos. In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC eds. Goodman & Gil-
man. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12a ed. Porto Alegre, Art-
med 2012; p. 41.
Buxton ILO & Benet LZ. Farmacocinética: a dinâmica da absorção, distri-
buição, ação e eliminação dos fármacos. In: Brunton LL, Chabner BA, Knoll-
mann BC eds. Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêuti-
ca 12a ed. Porto Alegre, Artmed 2012; p. 17.
Gonzalez FJ, Coughtrie M, Tukey RH. Metabolismo dos fármacos.In: Brun-
ton LL, Chabner BA,Knollmann BC eds. Goodman & Gilman. As Bases Far-
macológicas da Terapêutica 12a ed. Porto Alegre, Artmed 2012; p. 123.
 
INTRODUÇÃO À PSICOFARMACOLOGIA
19
NEUROTRANSMISSORES
21
NEUROTRANSMISSORES
O Sistema Nervoso Central (SNC) é responsável pela maioria das funções de controle do organismo humano integrando todas as mensagens recebidas pelo corpo e coordenando suas funções 
ou ações.
Os sistemas neurais são capazes de regular sua própria atividade, 
assim como a atividade de outros sistemas por meio de substâncias quí-
micas, os chamados neurotransmissores ( NT ).Os neurônios podem ser 
classificados segundo o NT que sintetizam e liberam. 
Os NT atuam nas sinapses, que são estruturas celulares especiali-
zadas que permitem a comunicação altamente específica entre os bilhões 
de neurônios que compõem o SNC dos mamíferos.
O conhecimento da estrutura e funcionamento das sinapses é fun-
damental no estudo da Psicofarmacologia, pois a imensa maioria dos psi-
cofármacos exerce seus efeitos por interferir na atividade sináptica. 
Para identificação dos neurotransmissores centrais alguns critérios 
devem ser observados, como: 
1- sua ocorrência nos terminais pré-sinápticos; 
2- sua liberação simultânea a atividade neural;
3- quando aplicados experimentalmente em células pós-sinápticas 
devem reproduzir efeitos idênticos a estimulação pré-sináptica. 
Os NT podem produzir efeitos variáveis de acordo com o contexto 
dos eventos sinápticos, excitando ou inibindo circuitos neurais específicos. 
Do ponto de vista eletrofisiológico as ações dos NT podem ser resumidas 
em ações excitatórias ou inibitórias. 
Nas sinapses excitatórias, após a interação do NT com os recep-
tores ocorre abertura de canais iônicos permitindo a entrada de íons po-
sitivos aumentando a excitabilidade das membranas provocando uma 
despolarização por toda célula e difusão do potencial de ação, ocorrendo 
transmissão do impulso. 
NEUROTRANSMISSORES
22
Nas sinapses inibitórias ocorre entrada de íons negativos reduzin-
do a excitabilidade das membranas provocando uma hiperpolarização e 
impedindo a criação de um potencial de ação, ocorrendo inibição do im-
pulso. 
Fig 1 – Sinapse excitatória 
As etapas da transmissão química no SNC se iniciam com a síntese 
do NT no próprio terminal pré-sináptico por enzimas e precursores levados 
a este local. Após a síntese os NT, quando forem aminas biogênicas (adre-
nalina, noradrenalina, serotonina e dopamina), serão armazenados em ve-
sículas pequenas. Já a síntese de NT peptídeos (p.ex.endorfinas) envolve a 
formação de moléculas precursoras (propeptideos) no retículo endoplas-
mático rugoso, situado no corpo celular, e posterior armazenamento em 
vesículas grandes.
Com a chegada do potencial de ação na membrana dos neurônios 
pré-sinápticos, são abertos canais para entrada de íons Cálcio, favore-
cendo a migração das vesículas e fusão com a membrana e conseqüen-
te liberação do NT por exocitose para a fenda sináptica. Os NT assim 
NEUROTRANSMISSORES
23
liberados podem se ligar a receptores específicos localizados pós ou pré 
sinapticamente. 
A interação do NT com receptores localizados no neurônio pós-
-sináptico altera suas propriedades elétricas facilitando ou dificultando a 
geração do potencial de ação. Em sinapses nas quais o NT despolariza a 
membrana é gerado um potencial pós-sináptico excitatório ( PEPS ). Quan-
do o NT hiperpolariza a membrana é gerado um potencial inibitório pós- 
sináptico ( PIPS ).
A interação do NT com receptores localizados no próprio neurônio 
pré-sináptico pode alterar a síntese e liberação do NT, e estes receptores 
são chamados de auto-receptores por inibirem a atividade pré-sináptica.
Em seguida os NT são rapidamente removidos da fenda sináptica 
seja por difusão passiva, seja por mecanismos especializados de meta-
bolismo e de captação existentes tanto em neurônios como em células 
da glia.
PRINCIPAIS NEUROTRANSMISSORES NO SNC
 
Ácido gama-aminobutírico (GABA). É o principal NT inibitório do 
SNC. O organismo sintetiza o GABA a partir do glutamato, utilizando a en-
zima L-ácido glutâmico descarboxilase e piridoxal fosfato (que é a forma 
ativa da vitamina B6) como cofator. Este processo converte o principal NT 
excitatório (glutamato) no principal inibitório (GABA).
Seus receptores são de dois tipos ( GABAA e GABAB ), e o mais im-
portante é o GABA A que apresenta canais para íons Cloreto (Cl
-) que se 
abrem após a ligação do NT liberado nos neurônios pré-sináptico. A entra-
da dos íons Cl- no neurônio pós-sináptico reduz a excitabilidade das mem-
branas provocando uma hiperpolarização e impedindo a criação de um 
potencial de ação e levando a uma inibição do impulso. O receptor GABAB 
está ligado aos canais de Potássio 
NEUROTRANSMISSORES
24
 A função do GABA é o de inibir ou reduzir a atividade neural. Tem 
um importante papel no controle do comportamento, cognição, estres-
se, ansiedade e medo. Alguns fármacos podem mimetizar ou aumentar os 
efeitos do GABA que encontra-se distribuído por todo SNC. Participa nos 
efeitos dos fármacos sedativos, hipnóticos e anticonvulsivantes.
 
Glicina. É um NT inibitório, e localiza-se principalmente no tronco 
cerebral, na medula espinal e na retina. Quando os receptores de glicina 
são ativados ocorre entrada de íons cloreto causando um potencial ini-
bitório pós-sináptico (PIPS).Existem vários subtipos de receptores para a 
Glicina,mas sua função não é bem conhecida. A estricnina é um potente 
antagonista dos receptores ionotrópicos da glicina causando convulsões 
através deste mecanismo. 
Glutamato ( Glu). É o mais importante NT excitatório do SNC em 
mamíferos. É sintetizado a partir da glutamina pela enzima glutaminase. É 
também um precursor do GABA pela ação da enzima glutamato descarbo-
xilase. Como NT é armazenado em vesículas nas sinapses sendo liberado 
pelo impulso nervoso atuando em dois tipos de receptores, o ionotrópico 
ligado a canais iônicos e o metabotrópico, ligado à proteína G. Os recepto-
res ionotrópicos por sua vez classificam-se em AMPA ( amino-3 hidróxi-5 
metil- ácido-4 isoxazolepropionico ) e NMDA (N-metil-D-aspartato), de-
pendendo de sua afinidade por estas duas substâncias.
 O glutamato parece interferir no desenvolvimento neural, na plas-
ticidade sináptica, no aprendizado e na memória, na epilepsia, na isque-
mia neural, na tolerância e na dependência a drogas, na dor neuropática, 
na ansiedade e na depressão
 Devido a sua grande distribuição pelo SNC, existe grande interesse 
no desenvolvimento de fármacos que atuem nestes locais.Tem sido postu-
lado que alterações nestes sistemas possam estar relacionados com doen-
ças degenerativas, esquizofrenia e epilepsia. 
NEUROTRANSMISSORES
25
Acetilcolina (Ach). A síntese desse neurotransmissor ocorre nos 
neurônios colinérgicos através da acetilação da colina, com acetil coen-
zima A (acetil-CoA) funcionando como doador de grupos acetil e catali-
sada pela enzima colina-acetiltransferase (CAT). Seus efeitos são resul-
tantes da interação com receptores nicotínicos e muscarínicos. No SNC a 
Ach possui efeitos na plasticidade neural, no despertar e na atenção,no 
aprendizado e na memória e no processo de recompensa É um NT de 
distribuição difusa no SNC. A lesão do sistema colinérgico no cérebro 
está associada com o prejuízo da memória presente em pacientes com a 
doença de Alzheimer. È também um importante NT atuando no striatum, 
que é parte dos gânglios da base. Liberada por interneurônios colinér-
gicos está alinhada com a atividade da DA em neurônios da substância 
negra e mostra-se alterada na doença de Parkinson e outros alterações 
do movimento. 
Dopamina (DA). É sintetizada a partir do aminoácido tirosina que 
é convertido a dihidroxifenilalanina (DOPA) pela enzima tirosina hidroxila-
se. Em seguida DOPA é descarboxilada formando dopamina (DA) que per-
tence quimicamente ao grupo das catecolaminas, (estrutura química que 
possui duas hidroxilas ligadas ao núcleo benzeno). Exerce efeitos genera-
lizados principalmente no SNC atuando nos processos motores, no apren-
dizado, memória, emoção e processos cognitivos. Está também envolvida 
nos efeitos farmacológicos da anfetamina e cocaína, e demonstrou-se que 
todas drogas de abuso tem a propriedade de estimular sua liberação no 
núcleo accumbens. 
Sua distribuição no SNC se concentra nas chamadas vias dopami-
nérgicas relacionadas a diferentes atividades controladas principalmente 
pelo receptor D2, que são: 
 A via nigroestriatal tem feixes de neurônios localizados na subs-
tância negra que se projetam para regiões do estriado. Lesões nesta via 
são responsáveis pela fisiopatologia da doença de Parkinson.
NEUROTRANSMISSORES
26
 A via mesocorticolímbica com feixes nos núcleos da base se pro-
jetando para regiões do sistema límbico ( amígdala, área septal e córtex 
límbico),com importante papel na patologia da esquizofrenia. 
 A via tuberoinfundibular com projeções do hipotálamo para 
a hipófise, controla a secreção dos hormônios do crescimento e da 
prolactina.
 Noradrenalina (NE). É uma catecolamina sintetizada no “ locus 
coeruleus “ no tronco cerebral à partir do aminoácido tirosina que é con-
vertido a dihidroxifenilalanina (DOPA) pela enzima tirosina hidroxilase. 
Em seguida DOPA é descarboxilada formando dopamina (DA) que é hi-
droxilada pela dopamina beta-hidroxilase formando NE. Está distribuída 
principalmente em várias regiões cerebrais, mas principalmente no hi-
potálamo e em regiões límbicas, identificando-se como NT importante 
nos processos adaptativos que caracterizam as emoções. Participa nos 
processos de sono/vigília e no mecanismo de estresse/desconforto. 
Várias doenças psiquiátricas incluindo depressão, esquizofrenia, 
ansiedade e TDAH estão relacionadas a atividade noradrenérgica. 
Hoje sabe-se que fármacos antidepressivos são capazes de blo-
quear a recaptação neuronal da NE, aumentando seus níveis na fenda 
sináptica.
Serotonina. É uma indolamina, também conhecida como 5- hi-
dróxitriptamina (5HT ) obtida à partir do aminoácido triptofano que é 
hidroxilado formando 5-hidróxitriptofano e depois descarboxilado for-
mando a serotonina.Ocorre principalmente nos neurônios dos núcleos 
da rafe que se projetam para o cérebro anterior e medula. Sua presença 
no SNC foi descrita em 1954 época em que se observou os efeitos blo-
queadores do LSD ( dietilamida do ácido lisérgico ) sobre suas ações. Isto 
levou a noção de que seus efeitos poderiam alterar o humor, o que de 
certa forma se confirmou mais tarde. Hoje sabe-se que fármacos antide-
NEUROTRANSMISSORES
27
pressivos são capazes de bloquear a recaptação neuronal da serotonina, 
aumentando seus níveis na fenda sináptica.
Histamina. A histamina pertence à classe das aminas biogênicas 
e é sintetizada a partir do aminoácido histidina, sob ação da L-histidi-
na decarboxilase (HDC), a qual contém piridoxal fosfato (vitamina B6).
Os neurônios histaminérgicos estão localizados no hipotálamo posterior 
e enviam tratos descendentes e ascendentes longos para todo o SNC. O 
sistema histaminérgico que é abundante na periferia, no SNC participa 
na regulação do despertar, da temperatura corporal e da dinâmica vascu-
lar.Seus efeitos estão relacionados em aumentar a excitabilidade do SNC 
e seus neurônios quando ativados aumentam o estado de vigília, o que 
explica a sedação causada pelo seu bloqueio central.
Peptídeos. Foram descobertos na década de 1980. Sintetizados 
no retículo citoplasmático liso, onde o propeptídeo clivado migra através 
de vesículas do citoplasma até o terminal, onde vai ser liberado, não exis-
tindo mecanismos de recaptura. Estão presentes nos tecidos em concen-
trações bem menores do que as dos NT clássicos. São capazes de regular 
a atividade neural, isoladamente ou em conjunto com outros NT. Mais 
de 100 diferentes neuropeptídeos foram isolados, e os mais estudados 
no SNC são: VIP (peptídeo intestinal vasoativo); CCK (colecistoquinina); 
Encefalinas (endorfinas); Substância P e Somatostatina. Inúmeras evi-
dências demonstram seu envolvimento, diretamente ou através de suas 
interações com NT clássicos, em doenças mentais, como no transtorno 
de ansiedade e na depressão. 
 Os psicofármacos atuam no SNC geralmente através dos NT, seja 
aumentando ou diminuindo sua liberação, inibindo sua recaptura e seu 
metabolismo ou bloqueando seu armazenamento. Atuam nos seus sítios 
receptores como agonistas ou antagonistas farmacológicos
NEUROTRANSMISSORES
28
BIBLIOGRAFIA
DeLucia R, Aizenstein ML, Planeta CS. Introdução a Farmacologia do Sis-
tema Nervoso Central. In: DeLucia R & Oliveira-Filho RM. Farmacologia 
Integrada 2ª ed.São Paulo, Revinter 2004; p.199.
Molinoff PB. Neurotransmissão e SNC. In: Brunton LL, Chabner BA, 
Knollmann BC eds. Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Tera-
pêutica 12ª ed. Porto Alegre, Artmed 2012; p.363.
Sanders-Bush E & Hazelwood L. 5-Hidroxitriptamina ( serotonina ) e do-
pamine. In: Brunton LL, Chabner BA,Knollmann BC eds. Goodman & 
Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12ª ed. Porto Alegre, Art-
med 2012; p.335.
 
 
NEUROTRANSMISSORES
29
DEPENDÊNCIA E 
ABUSO DE DROGAS
31
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
Os psicofármacos há muito vem sendo usados com a finalidade do indivíduo obter prazer, descontração e euforia, ou para ali-viar ansiedade, dor, depressão, frustração e outras sensações. 
A maioria destes fármacos pode causardependência e levar ao uso sem 
controle. 
 A dependência de substâncias psicoativas é um fenômeno com-
plexo com causas e conseqüências relacionadas a vários fatores, que 
incluem desde mecanismos moleculares até aspectos sociais. Nenhum 
fator isoladamente pode predizer se uma pessoa se tornará dependente 
da substância.O risco para ocorrência de dependência é influenciado pe-
las características do indivíduo, da droga e do ambiente. 
 O uso abusivo e a dependência de substâncias psicoativas re-
sultam em graves problemas individuais e sociais. Embora o problema 
maior ocorra com o uso de substâncias ilícitas, não se deve esquecer que 
o uso de substâncias cujo consumo é aprovado ou tolerado ( p.ex. álcool, 
nicotina,opióides e sedativos ) podem gerar problemas mais graves que 
as drogas ilícitas.
 As substâncias psicoativas de maior consumo no Brasil em ordem 
decrescente são: álcool, nicotina, maconha e cocaína. ( Tabela 1 )
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
32
Tabela 1 – Prevalência (%) no uso de substâncias lícitas 
e ilícitas entre pessoas de 12 a 65 anos na vida, 
nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias
Substância na vida 12 meses 30 dias
Bebidas alcoólicas 66,4 43,1 30,1
Cigarros industrializados 33,5 15,4 13,5
Maconha/Haxixe/Skank 7,7 2,5 1,5
Cocaína 3,1 0,9 0,3
Crack 0,9 0,3 0,1
Solventes 2,8 0,2 0,1
Ecstasy/MDMA 0,7 0,2 0,0
Heroína 0,3 0,1 0,0
LSD 0,8 0,2 0,0
Quetamina 0,2 0,1 0,1
Chá de Ayahusca 0,4 0,1 0,1
Fonte: ICICT, Fiocruz. III levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, 2017
CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais na sua 5ª 
edição – DSM-5 utiliza a terminologia “transtornos por uso de substâncias” 
para definir a dependência. 
Dependendo da forma de uso e da relação que o indivíduo estabe-
lece com a substância e com as conseqüências do seu uso, pode-se carac-
terizar três padrões de uso: uso ocasional (ou controlado) ; uso abusivo ( 
ou nocivo) e uso compulsivo ( ou dependência ). 
O uso ocasional refere-se a manutenção de um uso regular, que 
não interfere com as atividades habituais do indivíduo. O uso abusivo é 
um padrão mal adaptado com conseqüências adversas recorrentes e signi-
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
33
ficativas. O uso compulsivo é um modo de consumo prejudicial em vários 
aspectos ao indivíduo.
Dependência é definida como uma síndrome comportamental no 
qual o uso da substância psicoativa adquiriu prioridade na vida do indiví-
duo. Assim, a dependência é caracterizada por um conjunto de sinais e 
sintomas indicativos de que o indivíduo perdeu o controle do seu uso, mas 
o mantém apesar das conseqüências adversas.
Atualmente acredita-se que o uso de substâncias psicoativas de-
corre de suas propriedades reforçadoras. Essas substâncias podem promo-
ver efeitos reforçadores positivos para sua obtenção, ou efeitos reforçado-
res negativos para suprimir os efeitos da sua retirada.
TEORIAS NEUROBIOLÓGICAS DA 
DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
 1- Teoria do reforço negativo
 
 Nos primeiros estudos sistemáticos com o objetivo de entender a 
farmacodependência predominaram as investigações das conseqüências 
aversivas decorrentes da interrupção do uso das drogas que causavam to-
lerância e síndrome de abstinência.
 Tolerância caracteriza-se pela diminuição dos efeitos de uma dose 
fixa de uma substância no decorrer da administração prolongada, ou ain-
da, pela necessidade de aumentar a dose para obtenção dos mesmos efei-
tos iniciais. 
 A tolerância resulta da alteração do equilíbrio ou homeostase 
de circuitos neuronais, de tal forma que eles atingem novos pontos de 
equilíbrio na presença de inibição ou estimulação por uma determinada 
substância. O processo de alteração da homeostase decorre do fenômeno 
denominado, neuroadaptação.
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
34
Os mecanismos da neuroadaptação estão relacionados à capa-
cidade das drogas induzirem alterações na: (a) liberação de neurotrans-
missores, (b) na densidade de receptores, ou (c) nos processos de aco-
plamento e transdução das vias neurais afetadas pelas drogas.
Com o desenvolvimento da neuroadaptação, o organismo requer 
a administração continuada da substância para manter as suas funções.
Quando ocorre a suspensão abrupta do uso da substância, o sistema ex-
pressa seu desequilíbrio dando origem a síndrome de abstinência.
Os sintomas dessa síndrome são contrários ao que ocorriam 
na vigência da substância psicoativa, e desaparecem com a reintrodu-
ção desta substância.Os sinais e sintomas da síndrome de abstinência 
são característicos de cada substância, com exceção do desejo intenso 
(“fissura” pela droga) que é comum na síndrome de abstinência de to-
das as substâncias psicoativas que causam dependência.
 Como os sinais e sintomas da síndrome de abstinência são su-
primidos pelo uso da droga, foi proposto que os indivíduos dependentes 
manteriam o uso da substância para evitar o desconforto da retirada. 
Nesse contexto a droga atuaria como um reforçador negativo. Esta teoria 
perdeu sua importância pela observação de algumas limitações para ex-
plicar o abuso e a dependência de substâncias psicoativas, entre elas: 
a) seres humanos e animais auto-administram opióides e outras 
drogas na ausência de síndrome de abstinência;
b) muitas substâncias utilizadas na terapêutica (p.ex.beta blo-
queadores, antidepressivos e antipsicóticos) produzem tolerância e 
síndrome de abstinência, mas não induzem ao uso compulsivo; 
c) o tratamento da síndrome de abstinência é pouco eficaz no 
tratamento da dependência;
d) a síndrome de abstinência tem duração limitada, entretanto, 
existe uma alta tendência de recaída após vários anos de interrupção 
do uso da substância psicoativa, quando os sintomas de abstinência 
não estão mais presentes.
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
35
2- Teoria do reforço positivo
 Wise e Bozarth em 1987, propuseram que todas as substâncias 
psicoativas que induzem dependência têm em comum a propriedade de 
causar efeitos euforizantes ou prazerosos e, desta forma, atuariam como 
reforçadores positivos. A teoria do reforço positivo propõe que a auto-
-administração da substância psicoativa é mantida por causa do estado 
prazeroso que ela produz, e não porque alivia um estado de desconforto.
SUBSTRATO NEURAL RELACIONADO A DEPENDÊNCIA
Evidências indicam que o efeito reforçador positivo das drogas é 
decorrente da ativação de um substrato neurobiológico comum, o siste-
ma dopaminérgico mesocorticolímbico. Assim estudos de microdiálise 
demonstraram que a administração de várias substâncias psicoativas que 
produzem dependência, aumentam a liberação de dopamina (DA) no nú-
cleo accumbens.
 Estudos de neuroimagem em seres humanos confirmaram os re-
sultados experimentais, mostrando que psicoestimulantes ativam o siste-
ma mesocorticolímbico, e esta ativação está associada à sensação subjeti-
va de euforia. 
 As substâncias que causam dependência, embora possuam me-
canismos de ação diferentes, têm em comum a propriedade de aumen-
tar a liberação de dopamina no núcleo accumbens, evento que tem sido 
relacionado aos efeitos reforçadores positivos que progridem até a insta-
lação da dependência.
 Em conformidade com esta observação sabemos que os 
psicoestimulantes atuam diretamente nos terminais dopaminérgicos, a 
cocaína bloqueando a recaptura de DA na fenda sináptica, enquanto que 
a anfetamina aumenta sua liberação. Os opióides ligam-se em receptores 
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
36
mu em interneurônios gabaérgicos na área tegmental ventral provocando 
diminuição na liberação de ácido gama aminobutírico (GABA), o que desi-
nibe os neurônios da área tegmental ventral, aumentando assim a libera-
ção de DA no núcleo accumbens.O etanol, também ativa receptores GABA 
no núcleo accumbens, aumentando liberação de DA neste local. A nicotina 
parece ativar de modo direto os neurônios dopaminérgicos, ao interagir 
com receptores colinérgicos nicotínicos localizados nestes neurônios.Finalmente, sabe-se que os neurônios dopaminérgicos também 
são inervados por vias glutamatérgicas provenientes da córtex pré-frontal, 
hipocampo e amígdala. Assim é provável que o glutamato igualmente re-
gule o comportamento de auto-administração. Devido ao conhecido papel 
da amígdala e do hipocampo na aprendizagem e na memória, é possível 
que vias glutamatérgicas relacionadas com tais estruturas veiculem as im-
portantes influências do condicionamento( aprendizado ) sobre a auto-ad-
ministração de substâncias psicoativas. 
VULNERABILIDADE E RISCO DE DEPENDÊNCIA
 Embora as substâncias psicoativas possam levar os indivíduos a 
desenvolverem dependência, por interferirem em mecanismos neurobio-
lógicos fundamentais, outros fatores são necessários para que isto real-
mente ocorra. Essas variáveis podem ser agrupadas genericamente em 
três categorias: a) substância ; b) indivíduo ; c) ambiente.
 Assim, a variabilidade é determinada por fatores de natureza 
múltipla, a saber: personalidade, transtorno psiquiátrico coexistente, 
idade, fatores genéticos e ambiente físico e social. Uma pessoa pode se 
tornar dependente por causa de um destes fatores, ou no caso mais co-
mum, por interação entre eles. 
 Os fatores relacionados a substância psicoativa podem ser influen-
ciados pelo custo e pela facilidade de acesso a mesma. A vulnerabilida-
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
37
de para o desenvolvimento de dependência também está relacionada a 
rapidez com que o início dos efeitos se dá após a administração, fatores 
portanto relacionados a via de administração e a farmacocinética. Assim 
verifica-se que as substâncias dotadas de maior potencial de produzir de-
pendência são aquelas cujo acesso ao SNC é rápido. Isto garante proximi-
dade temporal entre a resposta e o reforço, o que aumenta a força da con-
tingência e facilita a aquisição do comportamento de auto-administração.
Entre os fatores relacionados à variabilidade individual, as varia-
ções farmacocinéticas e farmacodinâmicas consequentes ao polimorfismo 
genético na síntese de enzimas,transportadores e receptores, podem con-
tribuir para as diferenças nos efeitos reforçadores e na euforia observadas 
em indivíduos que fazem uso de substâncias psicoativas.
 Outro fator de risco importante é a comorbidade. Os usuários de 
drogas frequentemente apresentam transtornos psiquiátricos, que podem 
facilitar a procura de substâncias psicoativas para aliviar seus sentimentos. 
Por exemplo a depressão favorece o uso de nicotina e de psicoestimulan-
tes e a ansiedade generalizada leva ao uso de álcool o que favorece o de-
senvolvimento de alcoolismo.
 Assim, o risco de um indivíduo perder o controle do uso de drogas 
e tornar-se dependente também está relacionado, em larga medida, a fa-
tores agrupados no conceito de personalidade.
 Outros fatores que influenciam o risco de dependência devem-se a 
aspectos ambientais. Fatores do ambiente familiar e social são marcantes, as-
sim como o contexto da época e os valores culturais. A influência do estresse 
ambiental e social aumenta a vulnerabilidade ao abuso e dependência de subs-
tâncias psicoativas. A exposição ao estresse também está associada à recaída 
ao uso de substâncias psicoativas, mesmo após longos períodos de abstinência.
 Intrigante é entender que o efeito reforçador das drogas explica 
o uso ocasional, mas não explica por que o indivíduo dependente utiliza 
as substâncias de modo compulsivo, quando as consequências negativas 
(saúde, família, trabalho ) superam o efeito prazeroso.
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
38
 O mecanismo relacionado a transição do uso ocasional para o uso 
compulsivo envolve neuroadaptações em circuitos neurais específicos que 
levam ao comportamento característico da dependência, a despeito das 
consequências adversas.
 Assim, postula-se que inicialmente o uso da droga ativa o sistema 
dopaminérgico mesocorticolímbico. Com o uso repetido a droga sensibiliza 
circuitos neurais responsáveis pela função básica do incentivo motivacional. 
Assim, a sensibilização resultaria em aumento da saliência que o SNC atribui 
aos efeitos específicos da droga e aos estímulos a eles associados. O aumento 
excessivo da saliência seria responsável pelo “querer” patológico pela droga. 
A sensibilização do incentivo está relacionada a neuroadaptações duradouras 
no SNC e, dessa forma, explicaria também a “fissura” e a recaída ao uso da 
substância, mesmo na ausência dos sinais e sintomas da abstinência.
É importante ressaltar que reforço positivo, tolerância, neuro-
adaptação, síndrome de abstinência e sensibilização do incentivo são 
fenômenos complementares e em conjunto trazem elementos impor-
tantes para compreensão dos mecanismos neurais da dependência de 
substâncias psicoativas. 
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA 
A SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 
No tratamento da dependência ocorrem duas etapas, a primeira 
se constitui na retirada (desintoxicação) e a segunda mais difícil, na ma-
nutenção. Em geral a retirada é bem sucedida, porém o índice de recaída 
é elevado. O tratamento de manutenção, que é o mais difícil, deve incluir 
farmacoterapia, psicoterapia e intervenção social. 
 Uma das abordagens farmacológicas mais empregadas é a terapia 
de reposição ou substituição, que consiste em usar uma substância com 
mecanismo de ação semelhante, porém com propriedades farmacociné-
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
39
ticas diferentes e menos indutora de efeitos prazerosos. A substância de 
substituição deve ter sua ação sobre o SNC de forma lenta, diminuindo 
os efeitos euforizantes. A ação da substância deve ser prolongada evitan-
do tomadas repetidas, o que diminui o efeito reforçador da mesma. Deve 
também impedir a ocorrência dos sintomas graves da abstinência.
 Para o tratamento do etilismo, usa-se em geral um benzodiazepí-
nico de meia vida longa, como o clordiazepóxido, para substituir o álco-
ol. Agentes aversivos, como o dissulfiram que bloqueia a enzima aldeído 
desidrogenase e acumula aldeído, só deve ser utilizado com a anuência 
do paciente devido seus graves efeitos adversos.Outro fármaco é a nal-
trexona, um bloqueador de receptores opióides que parece bloquear as 
propriedades reforçadoras do etanol. O acamprosato atua como agonista 
gabaérgico prevenindo as recaídas ao uso de etanol.
 A retirada dos psicoestimulantes ( anfetamínicos e cocaí-
na) pode ser acompanhada de depressão do humor. Neste caso usam-
-se antidepressivos.
 Na síndrome de abstinência aguda de opióides substitui-se por 
metadona, que tem meia vida prolongada e menor ação euforizante. De-
pois retira-se a metadona lentamente. Outra abordagem consiste na admi-
nistração de clonidina que reduz os efeitos adversos da abstinência.
 Para retirada de benzodiazepínicos o ideal é reduzir a quantidade 
gradualmente, levando em consideração a dose que vinha sendo utilizada, 
seu tempo de utilização e a situação clínica do paciente.
 As diversas técnicas psicoterapêuticas também se constituem 
numa importante abordagem no tratamento da dependência. Objetivo 
importante das técnicas comportamentais ou psicoterápicas tradicionais 
é reduzir efeitos do condicionamento de estímulos e situações associadas 
ao uso da droga. Outras técnicas que vêm sendo empregadas são a psico-
terapia motivacional, a psicoterapia interpessoal e a cognitiva.
 O apoio social, representado pelos familiares, amigos e grupos de 
apoio, favorece o bom resultado do tratamento.
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
40
RECAÍDA
A dependência de substâncias psicoativas é marcada por frequen-
tes episódios de recaída em pacientes que tentam se abster do uso das 
drogas. A recaída é um dos aspectos que mais dificultam o tratamento da 
dependência.
 A “fissura” (desejo compulsivo) e a recaída podem ser precipitadas 
por uma única exposição à substância ou a estímulos ambientais e objetos 
a ela associados, e ainda pela exposição a situações aversivas ou estressan-
tes. A recaída pode acontecer após longos períodos de interrupção do usoda substância. 
 
BIBLIOGRAFIA 
O´Brien CP. Adição a drogas.In: Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC eds. 
Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12a ed. Por-
to Alegre, Artmed 2012; p. 649.
Planeta CS & DeLucia R. Farmacodependência. In DeLucia R, Oliveira-Filho 
RM eds. Farmacologia Integrada 2ª Ed. São Paulo, Revinter 2004; p.277.
Planeta CS & Graeff FG. Abuso e dependência de substâncias psicoativas. 
In Graeff FG & Guimarães FS eds. Fundamentos da Psicofarmacologia 2a 
Ed. São Paulo, Atheneu 2012; p.245.
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS
41
ETANOL / 
ÁLCOOL ETÍLICO
43
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
ASPECTOS FARMACOLÓGICOS 
O uso de bebidas alcoólicas no Brasil é bastante difundido e fonte de preocupação entre as autoridades, seja pelo seu uso abusivo quanto pelo seu uso social em festas e celebrações 
populares, com impacto na segurança e na saúde pública.
Estudos do início deste século revelam que no Brasil, 77% dos 
homens e 60% das mulheres já fizeram uso de álcool na vida, totali-
zando aproximadamente 68% da população brasileira entre 12 e 65 
anos de idade.
Quanto ao uso regular de bebidas alcoólicas (mínimo de 3 a 4 
vezes por semana, incluindo aqueles que bebem diariamente), 9,1% 
dos homens e 1,7% das mulheres fazem uso regular de álcool, tota-
lizando em 5,2% o número de indivíduos que bebem regularmente. 
Quanto a prevalência de dependentes de álcool, 17,1% dos ho-
mens e 5,7% das mulheres são dependentes, totalizando em 11,2% a 
porcentagem de dependentes alcoólicos. O número maior de depen-
dentes encontra-se nas faixas etária dos 18 aos 24 anos em que 23,7% 
dos homens e 7,4% das mulheres são considerados dependentes. 
O padrão de consumo do álcool (quantidade e frequência) en-
tre os indivíduos os classifica em:
• Bebedores leves: aqueles que entre os homens ingerem até 
2 doses diárias, e entre as mulheres 1 dose diária.
• Bebedores pesados: aqueles que entre os homens ingerem 
mais de 2 doses diárias, e entre as mulheres mais do que 1 dose diária.
• Bebedores embriagados: aqueles que ingerem entre os ho-
mens mais de 4 doses, e entre as mulheres mais de 3 doses, num 
intervalo de 2 horas.
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
44
• Bebedores dependentes: aqueles que perdem o controle do 
uso.
Assim, conhecendo-se o padrão de uso dos indivíduos os pro-
fissionais da saúde podem avaliar o potencial de risco e os possíveis 
danos individuais e sociais deste comportamento.
Fatores genéticos e o contato anterior com o álcool são de-
terminantes na velocidade do seu metabolismo, e vão determinar a 
concentração sérica, contribuindo com a predisposição do indivíduo 
em se tornar dependente e também sua susceptibilidade para as mor-
bidades decorrentes do abuso desta substância.
Estima-se que entre 50% e 60% dos indivíduos dependentes, 
possuam parentes de primeiro grau considerados etilistas. Isto de-
monstra a importância dos fatores hereditários no desenvolvimento 
desta doença, em que o genótipo e o ambiente predispõem a depen-
dência. Dentre os fatores ambientais a impulsividade, agressividade 
e a depressão são os fatores fenotípicos mais importantes. Este co-
nhecimento pode facilitar a implantação de programas de prevenção 
e desenvolver tratamentos para esta morbidade.
ABSORÇÃO
O álcool é uma pequena molécula solúvel em água pouco ab-
sorvida no estômago e rapidamente absorvida no intestino delgado 
(70-80%) e distribuída para todo o organismo. Sua velocidade de ab-
sorção é maior com estômago vazio.Retardam sua velocidade de ab-
sorção vários fatores, como o alimento, que no caso particular dos 
carboidratos reduz em quase ¾ a concentração sanguínea quando 
comparada ao estômago vazio. 
Entre os homens ocorre um maior metabolismo gástrico do 
etanol, portanto menor absorção do que entre as mulheres.
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
45
Os antagonistas de receptores histaminérgicos ( H2 ) como a 
cimetidina e a ranitidina e o ácido acetil salicílico inibem a ação da 
enzima álcool desidrogenase ( ADH ) que metaboliza o álcool já no 
estômago, aumentando a sua biodisponibilidade.
Fármacos que aceleram o esvaziamento gástrico como a me-
toclopramida, eritromicina e cisaprida, aceleram a absorção do eta-
nol, enquanto aqueles que retardam a motilidade, como a loperami-
da, retardam sua absorção no intestino.
Figura 1 – Curva comparativa dos níveis de álcool, 
em função do tempo, na corrente circulatória, 
quando da ingestão em jejum e após alimentação.
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
46
DISTRIBUIÇÃO E ELIMINAÇÃO
O álcool se distribui através da água do organismo e a maio-
ria dos tecidos, como cérebro,coração, pulmões, recebem a mesma 
quantidade da encontrada no sangue. A exceção é o fígado, que re-
cebe quantidades maiores através da veia porta onde flui o sangue 
direto do tubo gastrintestinal.
Sua meia vida de distribuição é rápida ( 7-8 minutos ) para ór-
gãos intensamente irrigados como cérebro, coração e pulmões. Pos-
sui alta solubilidade na água corpórea e seu volume de distribuição 
( Vd ) é maior em homens ( 0.65 L/kg ) do que em mulheres (0.5L/
kg), o que torna a concentração sanguínea nas mulheres maior do 
que a dos homens. 
Sua eliminação na forma inalterada ( 2% a 10% ) ocorre nos 
pulmões, rins, suor e leite materno. 
BIOTRANSFORMAÇÃO
No fígado, 90-98% do etanol é convertido a acetaldeido, numa 
velocidade aproximada de 7-10g de etanol / hora para um adulto de 
70 kg. As enzimas responsáveis por este metabolismo são a álcool 
desidrogenase (ADH- 90%), e a citocromo oxidase (CYP2E1-10%).
A ingestão aguda do etanol, concomitante com a administra-
ção de fármacos metabolizados pela CYP2E1, pode aumentar a con-
centração plasmática de ambos. Entre os fármacos destacam-se os 
anestésicos nitrogenados, varfarina, fenitoina, cafeina, acetaminofe-
no, isoniazida, amitriptilina e fenobarbital, entre outros.
Por outro lado a ingestão crônica de etanol, que é um in-
dutor da síntese da enzima CYP2E1 aumentando de 2 a 3 vezes sua 
atividade, vai provocar uma diminuição na concentração plasmáti-
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
47
ca dos fármacos metabolizados por esta enzima, prejudicando seu 
efeito terapêutico.
MECANISMO DE AÇÃO DO ETANOL
O etanol é um depressor do SNC por atuar potencializando os 
efeitos inibitórios do ácido gama-aminobutírico (GABA), e inibindo os 
efeitos do glutamato, principal neurotransmissor excitatório do SNC. 
Seus principais efeitos inibitórios incluem sedação, hipnose e perda 
das inibições comportamentais.
A ativação dos receptores GABA, distribuídos por todo SNC, 
provoca a abertura dos canais de cloreto,e consequente hiperpo-
larização da membrana, produzindo um potencial inibitório pós-si-
náptico (PIPS). No caso de uso prolongado do etanol, ocorre uma 
dessensibilização ( “down-regulation” ) dos receptores, o que expli-
caria a ocorrência de parte da tolerância ao uso crônico ( há tam-
bém tolerância farmacocinética), e aos sintomas decorrentes da sua 
retirada abrupta.
Recentemente foi demonstrado que o etanol aumenta a libe-
ração de endorfinas no núcleo accumbens, área implicada nos pro-
cessos de recompensa, e portanto na indução de dependência. Este 
efeito euforizante também poderia explicar a utilização de naltrexona 
( antagonista opióide ) no tratamento de dependentes ao etanol.
PRINCIPAIS EFEITOS DO ETANOL
Os efeitos do etanol são decorrentes da sua concentração sanguí-
nea conforme podemos observar na tabela 1
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
48
Tabela 1 – Principais efeitos do etanol
O teor alcoólico varia nas diferentes bebidas. Na tabela 2 obser-
vamos a relação entre o conteúdo alcoólico no vinho, cerveja e destilados 
em geral.
45
-regulation”) dos receptores, o que explicaria a ocorrência de parte da 
tolerância ao uso crônico (há também tolerância farmacocinética), e aos 
sintomas decorrentes da sua retirada abrupta.
PRINCIPAIS EFEITOS DO ETANOL
Os efeitos do etanol são decorrentes da sua concentração sanguí-
nea conforme podemos observar na tabela 1
CONCENTRAÇÃO 
SANGUÍNEA MG/ 100ML EFEITOS
0.02 - 0.04 relaxamento, alegria, calor e rubor
0.05 tontura, desinibição, diminuição do controle dos pensamentos e da capacidade de julgamento
0.06
prejuízo da avaliação das capacidades 
 individuais e do processo de 
tomada de decisões
0.08
comprometimento da coordenação motora,
diminuição dos reflexos, dormência 
na face, braços e pernas.
0.10 lentificação dos reflexos, prejuizo do controle dos movimentos voluntários
0.20 controle motor e emocional afetados, fala pastosa, perda do equilíbrio,visão dupla
0.30 confusão mental e perda da consciência
0.40 perda da consciência, pele fria e úmida
0.50 depressão respiratória, coma, morte
Tabela 1 - Principais efeitos do etanol
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
49
Tabela 2 – Unidades de álcool em cada dose de bebida
PRINCIPAIS EFEITOS DO ETANOL 
Ações no Sistema Nervoso Central
Por ser um depressor do SNC, o álcool produz um efeito ansiolítico 
e provoca desinibição comportamental em uma ampla faixa de doses. Em 
baixos níveis prevalece euforia, desinibição, percepção alterada e incoor-
denação motora. Na intoxicação as ocorrências variam do afeto expansivo 
e alegre até oscilações descontroladas do humor com componentes de 
violência. Com a intoxicação mais grave, a função do SNC geralmente é 
deprimida predominando uma condição de anestesia geral com grave de-
pressão respiratória.
Ações no Sistema Cardiovascular
O ato de beber sistematicamente com moderação pode diminuir 
o risco de doenças coronarianas.Deve-se isto em parte a vários fatores, 
como: diminuição da hipertensão; aumento da lipoproteína de alta den-
sidade ( HDL ); redução do fibrinogênio ; aumento da fibrinólise ; inibição 
46
O teor alcoólico varia nas diferentes bebidas. Na tabela 2 observamos a 
relação entre o conteúdo alcoólico no vinho, cerveja e destilados em geral. 
BEBIDA VOLUME
 
TEOR 
ALCOÓLICO
QUANTIDADE 
DE ÁLCOOL
GRAMAS 
DE ÁLCOOL DOSE
taça 
vinho tinto 150mL 12% 18,0mL 14,4g 1
lata cerveja 350mL 5% 17.5mL 14,0g 1
dose 
destilado 40mL 40% 16,0mL 12,8g 1
Tabela 2. Unidades de álcool em cada dose de bebida
PRINCIPAIS EFEITOS DO ETANOL
AÇÕES NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Por ser um depressor do SNC, o álcool produz um efeito ansiolíti-
co e provoca desinibição comportamental em uma ampla faixa de doses. 
Na intoxicação as ocorrências variam do afeto expansivo e alegre até os-
cilações descontroladas do humor com componentes de violência. Com a 
intoxicação mais grave, a função do SNC geralmente é deprimida predomi-
nando uma condição de anestesia geral com grave depressão respiratória.
AÇÕES NO SISTEMA CARDIOVASCULAR
O ato de beber sistematicamente com moderação pode diminuir 
o risco de doenças coronarianas. Deve-se isto em parte a vários fatores, 
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
50
da atividade plaquetária ; efeito antioxidante e diminuição de marcado-
res da inflamação ( proteína reativa C ).No entanto estes efeitos benéficos 
desaparecem em indivíduos que ingerem grandes quantidades de etanol, 
que causa elevação da pressão arterial, pode provocar arritmias cardíacas, 
cardiopatia e acidente vascular encefálico.
Ações no Aparelho Digestório
No esôfago concentrações baixas de álcool causam pouca altera-
ção, no entanto altas concentrações levam a disfunção esofágica com risco 
de desenvolver câncer.
Concentrações altas no estômago podem causar gastrite aguda e 
crônica. Entre os efeitos agudos pode causar dor epigástrica e estimular as 
secreções gástricas.
Alguns etilistas têm diarréia crônica causada pela má absorção no 
intestino delgado. Pancreatite aguda e crônica é consequência da ingestão 
excessiva de álcool. No fígado os principais efeitos são infiltração gorduro-
sa, hepatite e cirrose.
OUTROS EFEITO DO ETANOL
Devido ao fato dos etilistas não ingerirem alimentos adequadamen-
te, sérias deficiências nutricionais ocorrem. A neuropatia periférica, psicose 
de Korsakoff e a encefalopatia de Wernicke são causadas provavelmente por 
deficiência de vitaminas do complexo B, principalmente tiamina.
Na função sexual podem causar impotência masculina. Embora em 
doses baixas possam inicialmente aumentar o libido, levam posteriormen-
te ao prejuízo na atividade sexual. No sistema urinário inibem a liberação 
do hormônio antidiurético (ADH).
A ingestão diária de etanol em doses altas está associada à redu-
ção da força muscular, e podem apresentar alterações eletromiográficas 
com miopatia da musculatura esquelética, semelhante a miocardiopatia 
alcoólica.
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
51
Síndrome de abstinência
A interrupção abrupta provoca graves sintomas e deve ser evita-
da e substituída por uma retirada planejada acompanhada de tratamento 
farmacológico e psicoterapêutico. Dentre os efeitos da abstinência podem 
ocorrer: tremor, taquicardia, ansiedade, vômito, hipertermia, alucinações, 
delírio e convulsões.
Tratamento do alcoolismo
O tratamento farmacológico pode se utilizar de várias substâncias 
com mecanismos de ação diversos como principalmente: dissulfiram ( ini-
bidor da enzima aldeído desidrogenase ); naltrexona ( antagonista de re-
ceptor opióide ) ; acamprosato, benzodiazepínicos e gabapentina (todos 
agonistas diretos ou indiretos do receptor de GABA).
O tratamento psicoterápico procura identificar os fatores de risco, es-
timula as mudanças de hábito e procura também a presença de comorbida-
des.Sempre de grande valia é o apoio das reuniões dos alcoólatras anônimos. 
 
BIBLIOGRAFIA 
Schuckit MA. Etanol e Metanol. In: Brunton LL, Chabner BA,Knollmann BC 
eds. Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12a ed. 
Porto Alegre, Artmed 2012; p. 629.
O´Brien CP. Adição a drogas. In: Brunton LL, Chabner BA,Knollmann BC eds. 
Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12a ed. Por-
to Alegre, Artmed 2012; p.649.
DeLucia R. Álcool etílico In: DeLucia R & Oliveira-Filho RM. Farmacologia 
Integrada 2ª ed.São Paulo, Revinter 2004; p.221.
ETANOL / ÁLCOOL ETÍLICO
53
SEDATIVOS E HIPNÓTICOS
55
SEDATIVOS - HIPNÓTICOS
Os fármacos sedativos deprimem o Sistema Nervoso Central (SNC), diminuindo a excitabilidade e acalmando o paciente, en-quanto os hipnóticos produzem sonolência e induzem e mantém 
o sono. Como estas funções frequentemente se superpõem, e porque 
fármacos desta classe geralmente produzem efeitos crescentes em fun-
ção da dose utilizada ( variando de ansiolítico até perda da consciência) 
eles são referidos como sedativos-hipnóticos. Assim podemos incluir 
neste grupo agentes que produzem: 
Efeito Sedativo: diminuição da atividade geral e da excitação acal-
mando o paciente. 
Efeito Hipnótico: indução e manutenção de um estado de sono se-
melhante ao sono em suas características encéfalográficas 
A sedação pode ser também o efeito adverso de alguns fármacos, 
embora não sejam depressores gerais do SNC, como exemplo os anti-his-
tamínicos e os neurolépticos.
 
SONO: CARACTERÍSTICAS
O sono é um estado de inconsciência, em que o indivíduo pode ser 
despertado. Fisiologicamente necessário, mas não totalmente compreen-
dido, embora saiba-se que a sua falta torna-se prejudicial a saúde pois al-
tera o sistema imunológico, prejudica o funcionamento do SNC (memória 
e aprendizado) e o crescimento celular.
O sono é de duração variável e em adultos tem média de 6-8 
horas. É dividido em cinco estágios, sendo que cada um deles apresen-
ta características fisiológicas específicas. Os estágios formam um ciclo, 
durando aproximadamente cerca de 90 minutos cada. Desta forma, um 
ciclo do sono é repetido de quatro a cinco vezes por noite. No início os 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
56
olhos cerrados produzem um relaxamento com ondas cerebrais rítmi-
cas ( alfa ) de 10 ciclos por segundo. Os estágios do sono são: 
• Estágio 1 ( Introdutório ): É a fase de sonolência, onde o indivíduo co-
meça a sentir as primeiras sensações do sono. Dura em média de 5 a 15 
minutos. Nessa fase a pessoa pode ser facilmente despertada. É também 
chamado detransição onde predominam ondas teta que ocorrem de 4 a 
7 ciclos /segundo.
• Estágio 2 ( Sono leve ): Ocupa aproximadamente 50% do ciclo onde 
no eletroencefalograma ( EEG ) predominam ondas alfa e teta. A ativi-
dade cerebral é reduzida, relaxam-se os músculos e a temperatura do 
corpo cai. 
• Estágio 3 e 4.Ocupa 20% do total de horas de sono. Costuma-se agru-
pá-los no mesmo estágio. São muito semelhantes e diferenciam-se 
apenas em relação ao nível de profundidade do sono 4, que é um pou-
co maior. É um estágio com predomínio de atividade de ondas lentas 
(delta). Também chamado de fase não MOR ( Movimentos Oculares 
Rápidos ). A fase do não MOR é muito importante para o corpo,consi-
derada fase de reparo e renovação. Nela, a hipófise libera o hormônio 
do crescimento (GH)responsável pelo crescimento tecidual e reparo 
muscular e ocorre ativação do sistema imunológico. É nesta fase que 
realmente existe descanso profundo e menor atividade neural, e nesta 
fase torna-se difícil acordar o indivíduo.Esta fase é mais abundante em 
crianças e menor em idosos. 
• Estágio 5 - MOR ou sono paradoxal. Ocupa 20% do ciclo completo. É 
caracterizado pela intensa atividade cortical, muito semelhante ao esta-
do de vigília, onde ocorrem movimentos oculares rápidos, o que explica 
o nome do estágio. Aumenta o número de batimentos cardíacos e a tem-
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
57
peratura corpórea. Esta fase ocorre aproximadamente a cada 90 minutos 
e sua freqüência aumenta no final do período de sono. É no sono MOR 
que ocorrem os sonhos. Embora a fase do MOR não resulte em um des-
canso profundo, ela é importante para nosso equilíbrio emocional.Acre-
dita-se que nesta fase são revelados conflitos ocultos e desejos reprimi-
dos. É importante para a consolidação do aprendizado e da memória e a 
organização do pensamento. 
 
INSÔNIA
A insônia primária, que se caracteriza por uma dificuldade de dor-
mir (insônia inicial), não relacionada a uso de medicamentos ou problemas 
de saúde, está associada com um maior tempo para adormecer, constantes 
acordar durante o sono ou uma menor duração do sono (insônia terminal). 
Isto leva a uma pior qualidade do sono resultando em fadiga, irritabilidade 
e perda da memória, contribuindo para prejudicar a atividade diária dos 
indivíduos, que podem necessitar de medicação.
As principais causas da insônia são:
• apnéia, diabetes, doença cardíaca, doença renal, hipertireoidismo.
• estresse, depressão, ansiedade, bipolar, doenças neurológicas.
• dores ocasionais ou crônicas,
• efeitos colaterais de fármacos,
• usos de nicotina, cafeína e álcool,
• alterações no ciclo circadiano,
• alterações comportamentais (alimentação, mudança de hábitos, 
exercícios, sonecas diurnas, etc.)
Entre os fármacos que prejudicam o sono temos:
• Anti-hipertensivos: Propranolol, Clonidina
• Corticosteróides: Prednisona
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
58
• Anti-depressivos (ISRS): Fluoxetina, Sertralina 
• Psicoestimulantes: Anfetamina, Ritalina 
• Antiasmáticos: Teofilina
• Hormônio tireoideo: Levotiroxina 
 
Para prevenir a insônia algumas medidas são extremamente úteis 
como manter um horário constante entre dormir e acordar, deitar relaxa-
do e tranqüilo sem televisão no quarto. Evitar exercícios físicos, refeições 
pesadas, café, álcool e fumo próximos ao horário de deitar e sonecas 
diurnas em excesso.
OUTROS DISTÚRBIOS DO SONO
Mioclonia noturna também chamada de movimento periódico 
dos membros durante o sono, não deve ser confundida com os chama-
dos espasmos hipnagógicos que ocorrem na passagem da fase 1 para a 
fase 2 do sono. Este distúrbio que consiste de movimentos involuntários 
dos membros, principalmente das pernas, decorre de descargas muscu-
lares únicas ou repetitivas que levam ao despertar.
Síndrome das pernas inquietas ou síndrome de Ekbom, é um dis-
túrbio que se caracteriza por alterações da sensibilidade e agitação motora 
involuntária dos membros inferiores, mas que pode acometer também os 
braços nos casos mais graves.
Sonambulismo é um distúrbio que se manifesta durante o es-
tágio 4 mais profundo do sono, o sono de ondas lentas não-MOR. 
Classificado como uma parassonia, o transtorno se caracteriza pela 
realização de atividades motoras sem a pessoa ter consciência plena 
do que está fazendo, uma vez que parte de suas funções cerebrais 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
59
continua adormecida, e ela permanece num estado de transição en-
tre o sono e a vigília. 
Terror noturno é um distúrbio do sono caracterizado por gritos du-
rante o sono acompanhado do semblante de terror como se a pessoa es-
tivesse vendo algo aterrador e culminando em um despertar abrupto com 
um grito de pânico e respiração rápida.O terror noturno habitualmente 
inicia durante a primeira fase do sono e dura cerca de 1 a 10 minutos e 
acomete principalmente crianças.
 
 
FARMACOLOGIA DOS SEDATIVOS E HIPNÓTICOS
Quando a ansiedade ou a insônia e outros distúrbios do sono se 
mantiverem por algum tempo, e se desejarmos um alívio rápido destes 
sintomas, o tratamento farmacológico torna-se indicado. Estes fármacos 
devem ser utilizados por um curto período de tempo ou numa forma in-
termitente sempre na menor dose efetiva.
Os compostos mais indicados são os chamados benzodiazepínicos 
(BDZ), e os não benzodiazepínicos ( compostos Z ), que são bem mais segu-
ros que os barbitúricos e mais efetivos que os antidepressivos com carac-
terísticas sedativas.
A escolha do fármaco adequado deve considerar o tipo de sedação 
ou hipnose necessária e as características individuais do paciente.
 
BENZODIAZEPÍNICOS 
 A introdução do clordiazepóxido na medicina em 1961 deu início 
a era dos BDZ. Todos os outros benzodiazepínicos introduzidos a partir 
desta época possuem propriedades sedativo-hipnóticas em graus varia-
dos. Substituíram os barbitúricos que eram utilizados anteriormente, 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
60
principalmente devido a sua maior segurança pelo fato de não produzi-
rem depressão intensa sobre o Centro Respiratório, 
Embora os BDZ exerçam efeitos clínicos qualitativamente simila-
res entre si, há em seus espectros farmacodinâmicos e em suas proprie-
dades farmacocinéticas importantes diferenças quantitativas que deter-
minam sua utilização. Acredita-se que diferentes mecanismos de ação 
contribuam para os diferentes efeitos sedativo-hipnótico observados: 
hipnose, relaxamento muscular, anticonvulsivante. Embora todos sejam 
resultantes da interação dos BDZ com diferentes subunidades do recep-
tor do ácido gama-aminobutírico (GABA).
O termo BDZ deriva da terminologia dada a estrutura química des-
tes compostos que possuem um anel benzeno ligado a um anel diazepíni-
co.Várias modificações na estrutura do sistema resultam em compostos 
com atividades similares, embora com diferentes aplicações clínicas que 
veremos adiante.
 
 
MECANISMO DE AÇÃO:
Os BDZ atuam seletivamente em sítios alostéricos do receptor 
GABA responsáveis pela transmissão sináptica inibitória no SNC. Os BDZ 
potencializam a ação inibitória do GABA por facilitarem a abertura dos ca-
nais de íons cloreto ativados pelo GABA. Com isso provocam uma hiperpo-
larização gerando uma inibição na transmissão do impulso nervoso. 
 
 
FARMACOCINÉTICA DOS BDZ
Os BDZ são metabolizados pelas enzimas do citocromo P450 ( 
CYP), particularmente pelas isoenzimas CYP3A4 e CYP2C19. Alguns fárma-
cos como a eritromicina, claritromicina, ritonavir, itraconazol, cetoconazol, 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
61
nefazodona e o grapefruit são inibidores da CYP3A4 e quando utilizados 
conjuntamente aos BDZ podem aumentar seus níveis plasmáticos.
Como os metabólitos ativos de alguns BDZ são metabolizados 
lentamente, a duração na ação de muitos BDZ está mais relacionada com 
o metabólito do que com a substância original. Por exemplo, a meia vida 
( t½ ) do flurazepam no plasma é de 2-3 horas, mas a do seu metabólito 
ativo o N-desalquilflurazepam é de 50 horas ou mais, portanto ele se 
constitui num BDZ delonga duração. Por outro lado como o lorazepam 
não forma metabólitos ativos, sua meia vida é de apenas 8-12 horas se 
constituindo num composto de meia vida curta. 
 
 
PRINCIPAIS USOS 
Em geral os usos terapêuticos de um determinado BDZ dependem 
da sua meia vida. Aqueles utilizados para indução do sono devem ter uma 
meia vida curta, enquanto que os utilizados para insônia terminal (matuti-
na) devem ser de média duração. Como anticonvulsivantes ou relaxantes 
musculares devem ter longa duração. Agentes utilizados como ansiolíticos 
devem ser de longa duração, inclusive no tratamento do etilismo.
Os BDZ em doses terapêuticas não apresentam efeitos depressores 
respiratórios,exceto entre crianças e idosos que são mais sensíveis e po-
dem sofrer este efeito. No aparelho cardiovascular doses pré-anestésicas 
diminuem a pressão arterial e aumentam o débito cardíaco. No trato di-
gestório diminuem as secreções.
PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS
No pico de concentração plasmática as doses hipnóticas podem 
provocar diferentes graus de tontura, lassitude, incoordenação motora, 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
62
confusão mental e amnésia anterógrada. Outros efeitos adversos comuns 
são fraqueza, dor de cabeça, visão turva, náusea e vômito.
Efeitos paradoxais como ataxia, ansiedade, irritabilidade e ta-
quicardia podem ocorrer nas primeiras semanas do tratamento. Devi-
do aos efeitos músculos-relaxantes e a amnésia anterógrada, não se 
aconselha sua utilização em idosos que são pacientes sensíveis para 
estes efeitos
O uso crônico de BDZ pode levar a ocorrência de dependência e 
síndrome de abstinência na sua retirada. 
O flumazenil é um antagonista específico dos BDZ. Ele se liga a 
sítios alostéricos específicos do receptor GABA antagonizando a ligação 
dos BDZ e outros compostos, bloqueando ou revertendo seus efeitos. Sua 
administração se dá por via endovenosa, e seus efeitos duram de 30 a 
60 minutos aproximadamente. Seu principal uso ocorre na suspeita de in-
toxicação por BDZ ou para reverter os efeitos sedativos prolongados nos 
procedimentos terapêuticos. 
COMPOSTOS Z 
Incluem-se nesta classe de fármacos: zolpidem, zaleplona e zopli-
cona. Embora os compostos Z não sejam estruturalmente relacionados 
aos BDZ, seu efeito terapêutico como hipnótico é devido aos efeitos ago-
nistas no mesmo sítio alostérico do receptor GABA em que atuam os BDZ.
Sua ação é mais rápida e menos duradoura do que a dos BDZ, e 
também devem ser usados por um curto período de tempo ou de forma 
intermitente. Em comparação aos BDZ os compostos Z são menos efica-
zes como anticonvulsivantes e relaxantes musculares.Durante a última 
década os compostos Z têm substituído os BDZ no tratamento da insônia 
inicial, por apresentarem menos efeitos adversos e menor indução de 
tolerância e dependência. 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
63
60
COMPOSTO USOS COMENTÁRIOS MEIA VIDA (H)
DOSES 
SEDATIVO- 
HIPNÓTICAS
Alprazolam
Transtornos 
de ansiedade; 
Pânico
Abstinência grave 10 - 15 0.5 - 10 mg
Clonazepam Anticonvulsi-vante
Desenvolve 
 tolerância rápida 5 - 30 30 - 100 mg
Clordiazepó- 
xido
Abstinência 
álcool; Trans-
torno de ansie-
dade
Forma metabólito 
ativo meia vida
36 - 100h
6 - 48
5 - 100 mg
Diazepam
Transtorno de 
ansiedade; pré 
anestésico; 
status epileticus
Forma metabólito 
ativo meia vida
36 - 100h
20- 40
5 - 50 mg
Flurazepam Insônia
Forma metabólito 
ativo meia vida
40 - 100 h
2 - 5 15 - 30 mg
Lorazepam
Transtorno de 
ansiedade; 
Pré- anestésico
Metabolizado 
somente por 
conjugação= inativo 10- 15 2 - 4 mg
Midazolam Pré-anestésico Meia-vida curta 1-2 5 - 50 mg
Oxazepam Transtorno de 
ansiedade;
Metabolizado 
somente por 
conjugação= inativo
5 - 15 50- 150 mg
Triazolam Insônia Meia vida curta 2 - 5 0.12 - 0.25 mg
Tabela 1. Principais benzodiazepínicos
Tabela 1 – Principais BDZ, e usos terapêuticos
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
64
MELATONINA 
Ramelteon ( Rozerem ®) - Estimula os mesmos receptores da me-
latonina no núcleo supraquiasmático ( onde ocorre controle do ciclo circa-
diano), foi aprovada para comercialização no Brasil pela ANVISA em 2017, 
para tratamento da insônia inicial transitória e crônica, produzindo um 
avanço de fase no ritmo circadiano endógeno. 
Apresenta início rápido de ação com meia vida ( t½ ) curta. Ùtil 
para insônia inicial. Pode provocar piora nos sintomas da depressão, ton-
tura e pode levar a insuficiência hepática.
 
 
ANTAGONISTAS DA OREXINA 
Suvorexant – Bloqueia receptores da orexina (hipocretina), um neu-
rotransmissor relacionado a manutenção da vigília. Possui meia vida (t ½) 
longa e é indicado para insônia terminal ( diurna ). Seus principais efeitos 
adversos – sonolência diurna, tontura, dores de cabeça e sonhos bizarros.
ANTIDEPRESSIVOS 
Podem ajudar quando a insônia for uma manifestação de um esta-
do depressivo, mas normalmente não promovem o sono em pacientes não 
deprimidos. Uma possível exceção é a trazodona, um antidepressivo com 
mínimos efeitos anticolinérgicos, útil em pacientes idosos.
BARBITÚRICOS
Os barbitúricos (ou derivados do ácido barbitúrico) foram por mui-
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
65
to tempo os fármacos de escolha para o tratamento da insônia. O declínio 
de seu uso deu-se por ser um fármaco de baixo Índice Terapêutico (IT) com 
ação inibidora sobre o Centro Respiratório, também por causar intensa 
neuroadaptação, e principalmente pelo aparecimento de novos fármacos 
como os BDZ. Hoje em dia, os barbitúricos ainda são utilizados no trata-
mento de distúrbios convulsivos e na indução da anestesia geral.
Assim como os BDZ, os barbitúricos intensificam a ligação do GABA 
com seus receptores aumentando a entrada de íons negativos (cloretos) nas 
células e causando uma hiperpolarização e consequente efeito inibitório.
Os barbitúricos podem causar todos os graus de depressão do 
SNC variando desde leve sedação a anestesia, e suas indicações clínicas 
baseiam-se em suas propriedades farmacocinéticas. Alguns deles, como o 
fenobarbital e o mefobarbital, têm atividade anticonvulsivante e são muito 
usados no tratamento profilático da epilepsia. Seus efeitos sobre a ansie-
dade são inferiores a dos BDZ. 
Doses hipnóticas de barbitúricos aumentam o tempo e alteram os 
estágios de sono. Utilizados cronicamente causam tolerância farmacociné-
tica e farmacodinâmica e sua retirada abrupta causa síndrome de absti-
nência severa.
TRAZODONA 
É um antidepressivo atípico que difere dos atuais antidepressivos 
atualmente disponíveis. Utilizado como antidepressivo sedativo tem se 
constituído numa boa opção para distúrbios do sono em pacientes com 
estresse pós-traumático. Seus efeitos hipnóticos decorrem de sua tríplice 
ação sedativa em receptores serotoninérgicos ( 5-HT2A ), histaminérgicos ( 
H1 ) e adrenérgicos ( alfa ). Apresenta meia vida curta, não provoca ganho 
de peso nem alterações na atividade sexual. 
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
66
BIBLIOGRAFIA 
Riss J, Cloyd J, Gates J,& Collins S. Benzodiazepines in epilepsy: pharma-
cology and pharmacokinetics. Acta Neurologica Scandinava, 118 ( 2 ): 69, 
2008.
Shelton RC & O´Donell JM. Tratamento farmacológico da depressão e dos 
transtornos de ansiedade. In: Brunton LL, Chabner BA,Knollmann BC eds. 
Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica 12a ed. Por-
to Alegre, Artmed 2012; p. 17.
Finkel R, Cubeddu LX, Clark MA. Fármacos ansiolíticos e hipnóticos. In: Far-
macologia Ilustrada 4a.ed. São Paulo, Artmed 2010; p105
SEDATIVOS E HIPNóTICOS
67
ANSIOLÍTICOS 
E ANTIDEPRESSIVOS
69
ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS
A depressão é um transtorno comum que afeta toda a huma-nidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde- OMS em 2015 havia 322 milhões de pessoas com algum tipo de depres-
são no mundo. No Brasil 5.8% da população sofre com este problema, 
enquanto que a média mundial é de 4.4%. 
Ainda segundo a OMS o número de pessoas com transtorno de 
ansiedade era de 264 milhões em 2015. No Brasil 9.3% da população 
sofre deste

Outros materiais