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ADENOMIOSE MEDCURSO + FEBRASGO LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO Aumento uterino causado por focos ectópicos endometriais, tanto glandulares quanto de estroma, profundamente localizados dentro do miométrio. Esses focos podem estar dispostos por todo o miométrio (adenomiose difusa mais comum) ou formar um conjunto nodular circunscrito (adenomiose focal). Causa estrutural menos frequente de sangramento uterino anormal. ADENOMIOSE Presença de tecido endometrial (glândulas e estroma) entre as fibras musculares do endométrio. Caracteriza-se como pequenos lagos de endométrio espalhados no miométrio e/ou como um nódulo circunscrito na parede miometrial, chamado de adenomioma. Pode estar combinada à hipertrofia compensatória do miométrio e, por vezes, ao aumento volumétrico do útero. A reação miometrial associada causa perda dos limites com miométrio normal, que se tronam mal definidos. CARACTERIZA-SE POR Invasão benigna do endométrio no miométrio além de 2,5 mm de profundidade ou, no mínimo, um campo microscópio de grande aumento distante da camada basal do endométrio com presença de glândulas e estromas endometriais circundados por hiperplasia e hipertrofia das células miometriais. EPIDEMIOLOGIA A incidência é desconhecida e variável na literatura Devido a diferentes definições histológicas utilizadas e a ausência de padronização de critérios diagnósticos. Com dados variando de 5-70%, com média de 20-30%. Mais prevalente em mulheres entre 40-50 anos, mas pode ser encontrada em mulheres mais jovens. Quase todos os casos de adenomiose (90%) ocorrem em mulheres multíparas. FISIOPATOLOGIA E ETIOPATOLOGIA A fisiopatologia da adenomiose é desconhecida. A adenomiose é uma doença estrogênio dependente. Os tecidos adenomiótico sempre contém receptores de estrogênio e no tecido endometrial ectópico encontram-se enzimas aromatase e sulfatase que são capazes de converter, respectivamente, androgênios em estrogênios e estrona-3-sulfato em estrona (que posteriormente se converterá em um tipo de estradiol). Estas circunstancias promovem uma maior produção de estrogênio nos tecidos adenomióticos, que juntamente com a porção circulante deste hormônio, estimula seu crescimento. Esses mecanismos estão alterados no endométrio de pacientes com adenomiose. HÁ TEORIAS QUE TENTAM EXPLICAR O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA: Teoria histológica Invasão direta da camada endometrial para o miométrio Provável ligação com o estrogênio, pois depois da evolução nos anos reprodutivos ele regride após a menopausa Teoria com participação embrionária Participação de resquícios embrionários de remanescentes müllerianos pluripotentes Envolve a metaplasia de resquícios mullerianos Explica a presença de nódulos adenomióticos fora do útero Traumas cirúrgicos e gravidez A invaginação pode ocorrer devido a um trauma cirúrgico ou uma gravidez Os traumas cirúrgicos uterinos representam um fator de risco para o desenvolvimento da doença Enfraquecimento da junção mioendometrial, levando à hiperplasia relacional da camada basal do endométrio e filtração do miométrio Teoria imunológica Estudos apontam envolvimento imunológico e/ou genético na doença FATORES DE RISCO Idade de 40-50 anos Menarca precoce <10 anos de idade Ciclos menstruais curtos Menor de 24 dias de intervalo Uso prévio de contraceptivos hormonais e tamoxifeno IMC elevado Multiparidade >2 gestações Cerca de 90% ocorre em mulheres com filhos Um número maior de gestações não se associa a um número maior de doença História de abortamento Cirurgias uterinas prévias LOUISE CANDIOTTO 2 CLASSIFICAÇÃO Há varias classificações histológicas do grau de adenomiose que variam de acordo com a gravidade dos sintomas, número de focos adenomióticos e a distância do foco mais profundo até a borda do endomiométrio. Não há nenhuma classificação universalmente aceita. DE ACORDO COM O GRAU DE PENETRAÇÃO NO FOCO ADENOMIÓTICO NO MIOMÉTRIO: Superficial 40% Intermediário 40-80% Profundo 80% DE ACORDO COM O GRAU DE PENETRAÇÃO NO MIOMÉTRIO: Grau 1 Acometimento do terço interno do miométrio Grau 2 Acometimento de dois terços Grau 3 Acometimento de todo o miométrio QUADRO CLÍNICO A adenomiose é frequentemente assintomática (1/3 das pacientes). O quadro clínico é heterogêneo. O sangramento uterino aumentado e a dismenorreia são os sintomas mais comuns. SINAIS E SINTOMAS: Sangramento uterino anormal Presença de fluxo menstrual prolongado e volume aumentado Habitualmente cíclico, abundante e prolongado O sangramento aumentado pode se correlacionar com a profundidade da invasão miometrial e à densidade de glândulas no miométrio Dismenorreia secundária Presença de dor que antecede em até uma semana o fluxo menstrual Caracteristicamente é uma dismenorreia intensa e progressiva Pode anteceder o fluxo menstrual em vários dias Dispareunia Presença menos frequente Dor pélvica crônica Menos frequente Assintomática 1/3 das pacientes Infertilidade Associação com outras patologias: Miomas Endometriose Pólipo endometrial OBS: A frequência e intensidade dos sintomas estão diretamente relacionados com a extensão da doença. AO EXAME FÍSICO: Aumento do volume uterino Difuso, secundário a proliferação do endométrio ectópico, associado a hiperplasia e hipertrofia das células musculares lisas Em geral, esse aumento não ultrapassa a 12 semanas de gestação Aumento global do útero que se encontra amolecido e doloroso, principalmente no período pré-menstrual Pode estar ou não associado a presença de leiomiomas uterinos Deve-se afastar a possibilidade de gravidez antes de considerar a possibilidade de adenomiose DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico da adenomiose é difícil, pois falta consenso na definição da doença, e apenas presuntivo. A maioria dos sintomas apresentados é similar aos de outras desordens uterinas benignas. O diagnóstico definitivo é a AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA. Alternativamente, a histeroscopia pode ser usada para o diagnóstico de formas focais ou difusas superficiais. Na maioria dos casos a adenomiose só é diagnosticada após a realização de histerectomia para tratamento do sangramento uterino anormal ou dismenorreia incapacitante. EXAMES DE IMAGEM Os exames de imagem como a USG transvaginal, histerossonografia, RM, histerossalpingografia e histeroscopia podem visualizar lesões características de adenomiose. USG TRANSVAGINAL Indicada como exame de imagem complementar de primeira linha para o diagnóstico de adenomiose DISTRIBUIÇÃO NO ENDOMÉTRIO Adenomiose Constitui a forma difusa da doença. Adenomioma Configuração focal da doença. LOUISE CANDIOTTO 3 Acurácia moderada Sensibilidade e especificidade boas Operador-dependente Período recomendado para ser realizado é o pré- menstrual Pode evidenciar: Aumento do volume uterino sem nódulos miomatodos Formato globoso Assimetria entre paredes uterinas, Heterogeneidade difusa ou local Cistos anecoicos no miométrio Estrias radiadas partindo do endométrio Ocasionalmente a adenomiose apresenta aspecto de “queijo-suíço”, aparência causada pelas áreas de hemorragia e coágulos no miométrio OBS: Kátia comentou que essa “diferenciação” não é assim tão difícil. HISTEROSSONOGRAGIA (HSS) Aumenta o potencial da USG transvaginal Diminui a necessidade de biópsias RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Apresenta acurácia semelhante ou ligeiramente superior a USG transvaginal Delineia melhor a localização e a extensão das lesões, além de auxiliar na monitorização do tratamento com terapia hormonal Contribui na diferenciação de leiomiomas e adenomiomas O parâmetro de mensuração da zona juncional miometrial na RM é a melhor referência para o diagnóstico presuntivo de adenomiose Uma espessura da zona juncional superior a 12 mm é considerada diagnóstica de adenomiose Com espessuras entre 8 e 12 mm, a presença de outros sinais (espessamento focal, margens mal delimitadas) pode sugerir adenomiose Variação de 5mm ou mais entre a maior e a menor espessura da zona juncional também é aceita como um critério diagnóstico em alguns estudos A presença de focos de alta intensidade na zona juncional tem alta especificidade para o diagnóstico de adenomiose, mas só é vista em metade dos casos A espessura da zona juncional é dependente de hormônios, varia com o ciclo menstrual e aumenta com a idade até a menopausa, o que pode reduzir a acurácia diagnóstica da RM OBS: A zona juncional, cuja espessura varia fisiologicamente no curso do período menstrual de 1-3 mm, permanece constantemente espessada na adenomiose. HISTEROSCOPIA Método endoscópico que permite visualização da cavidade uterina e, assim, a realização de biópsias de áreas suspeitas permitindo o diagnóstico em lesões de 3-5mm Sugestões de adenomiose: Imagens de pequenos orifícios na parede uterina Irregularidade da parede com áreas de retração ou protuberâncias ou abaulamentos Áreas de distrofia vascular Manchas de coloração acastanhada que, ao serem biopsiadas, eliminam secreção achocolatada LOUISE CANDIOTTO 4 TRATAMENTO O tratamento definitivo para a adenomiose é a histerectomia. Porém, para as mulheres que desenham manter a fertilidade ou apresentam riscos cirúrgicos elevados, essa não é uma opção. A melhor opção para o tratamento da adenomiose ainda não foi estabelecida e as dificuldades estão relacionadas a apresentação clínica heterogênea, associação com outras condições ginecológicas (pólipos, miomas, endometriose), ausência de critérios diagnósticos por imagem universalmente aceitos. Durante o planejamento terapêutico, devem ser levados em conta os seguintes fatores: Principal sintoma da paciente Suas expectativas reprodutivas Grau de penetração no miométrio e extensão da(s) lesão(ões) sugeridas pelos métodos de imagem TRATAMENTO CLÍNICO Em pacientes com sintomas discretos ou na pré-menopausa, o tratamento clínico deve ser tentado. O objetivo do tratamento medicamentoso da adenomiose é o controle dos sintomas, principalmente a dor pélvica e o sangramento. O objetivo final é antagonizar o estrogênio ou inibir a função ovariana. ENTRE AS OPÇÕES TERAPÊUTICAS ESTÃO: Anticoncepcionais hormonais Progestágenos Análogos do GnRH Sistema intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG) ANTICONCEPCIONAIS HORMONAIS ORAIS (ACO) E PROTAGÊNIOS O uso pode melhorar a dismenorreia e controlar o aumento uterino, além de reduzir temporariamente a regressão da adenomiose Os ACO atuam por meio da suspensão do eixo hipotálamo-hipófise-ovário bloqueando a produção dos esteroides ovarianos Eles são usados de forma contínua com a intenção de induzir amenorreia Os protagênios produzem decidualização endometrial e atrofia Ainda não há estudos suficientes para constatar o possível benefício desses tratamentos ANÁLOGOS DO HORMÔNIO LIBERADOR DE GONADOTROFINAS (GNRH) Produzem suspensão das gonadotrofinas hipofisárias resultando em hipoestrogenismo acentuado semelhante à menopausa A diminuição dos níveis de estrogênio é a causa da redução da atividade dos nódulos de adenomiose e do volume uterino Uso limitado pelos efeitos colaterais e retorno rápido dos sintomas após a interrupção do tratamento Devido aos efeitos colaterais e ao possível efeito rebote após a suspensão, advoga-se o seu uso para pacientes que tem aspirações reprodutivas imediatas e naquelas que serão submetidas à ressecção dos focos para diminuir a perda sanguínea e o trauma tecidual SISTEMA INTRAUTERINO DE LEVONORGESTREL (SIU-LNG) DIU de Mirena Atua liberando 20ug de levonorgestrel por cinco anos, o que resulta na decidualização do endométrio e consequente redução do fluxo menstrual Atua também nos focos adenomióticos levando ao down regulation dos receptores de estrogênio Dessa forma, os focos ectópicos de endométrio diminuem de tamanho permitindo contração uterina eficaz, redução de fluxo menstrual e da produção de prostaglandinas, melhorando a dismenorreia Opção de tratamento para mulheres que desejam preservar a fertilidade O principal efeito colateral é o sangramento irregular, na forma de spotting, durante os primeiros meses após inserção, mas que costuma melhorar após 3 meses TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento cirúrgico está indicado nos casos refratários ao tratamento clínico. Pode ser CONSERVADOR ou DEFINITIVO. LOUISE CANDIOTTO 5 CONSERVADOR Indicado para as pacientes que não podem ou não desejam se submeter a histerectomia Há uma certa demanda de cirurgias conservadoras do útero em mulheres jovens, sem prole definida Existem várias técnicas operatórias com essa proposta, que consistem na retirada da adenomiose focal Adenomioma Adenomiomectomia Outras cirurgias conservadoras podem extrair apenas uma parte da parede uterina infiltrada pela adenomiose difusa Cirurgias citorredutoras ou adenomiomectomias parciais A característica da própria endometriose pode levar a situações de ressecção incompleta da doença, extração de miométrio com adenomiose e destruição de parede uterina Há relatos de recorrência rápida de adenomiose e a necessidade de histerectomia em muitos casos DEFINITIVO - HISTERECTOMIA Considerada o tratamento definitivo da adenomiose Indicada em: Mulheres com prole concluída Geralmente após os 40 anos de idade Com sintomas intensos de sangramento uterino anormal e dismenorreia Que não respondem a outra terapêutica Com frequência a adenomiose está associada a outras doenças que também irão necessitar de tratamento cirúrgico Essa ocorrência pode influenciar na decisão da indicação cirúrgica Assim como na opção da melhor técnica operatória e via da histerectomia Histerectomia total: Mais preconizada Principalmente quando associada a endometriose OBS: O achado de adenomiose em mulheres mais jovens, que não tenham a sua prole definida, não justifica a realização de histerectomia. Nesses casos, devem ser empregados tratamentos clínicos. ADENOMIOSE E INFERTILIDADE A associação com infertilidade vem sendo questionada em séries de casos nos quais a fertilidade foi restabelecida após tratamento da adenomiose. Embora alterações na junção miomendometrial possam interferir na implantação, estudos usando US para o diagnóstico não mostraram nenhum impacto nessa etapa do processo de gravidez. Sugere-se também que a adenomiose seja responsável por maior frequência de abortamentos e que tratamento medicamentoso prévio reverta essa associação. No entanto, o mecanismo para essas associações não é claro. Estudos revelam que o endométrio de pacientes com adenomiose apresenta expressão proteica diferente, com alteração, por exemplo, na secreção de óxido nítrico. Há também alterações da resposta imune que podem estar relacionadas à diminuição da taxa de implantação e ao aumento da taxa de aborto. Outros relatam que a presença de adenomiose pode estar relacionada a alterações no transporte uterotubário, o que pode causar infertilidade Prejuízo no componente passivo do transporte espermático.
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