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PATOLOGIAS DO CORPO UTERINO - ADENOMIOSE • As patologias do corpo uterino relacionadas ao miométrio são: Adenomiose, Miomatose uterina e Leiomiossarcoma. • O útero possui 3 camadas de tecidos, denominadas perimétrio/camada serosa, miométrio e endométrio. Perimétrio é a camada externa, uma membrana serosa de tecido conjuntivo. O miométrio é a camada intermediária, constituída de músculo liso e o endométrio é a camada interna, que recobre a cavidade uterina, constituída por tecido epitelial altamente vascularizado. • O miométrio é o mais espesso, sendo o único formado por músculo, é o responsável pelas contrações no momento do parto. DEFINIÇÃO/EPIDEMIOLOGIA • Glândulas e estroma endometrial ao nível de miométrio – além da zona juncional (camada de tecido conjuntivo indiferenciado entre o miométrio e endométrio, que marca o limite máximo da presença das glândulas endometriais). • Essas invaginações de tecido endometrial profundas, na parede do miométrio, provocam uma inflamação uterina crônica com hipertrofia miometrial. Há divergências do comprimento mínimo das invaginações. A invaginação do endométrio para o miométrio leva a aumento do volume uterino, sangramento, dor pélvica e infertilidade. • Estudos conflitantes em incidência de 8 até 40% dos úteros avaliados = critérios divergentes de diagnóstico (de cm de profundidade até porcentagem de acometimento). Acomete mais mulheres entre 40 e 50 anos, mas pode ser encontrada em pacientes jovens com quadro de SUA e dismenorreia. • Não é endometriose, já que a patologia é completamente diferente. • Macroscopia: aumento difuso de miométrio sem nodulações. Ao corte encontra-se áreas porosas com conteúdo hemático ou seroso. • Microscopia: ilhas de tecido endometrial no interior do miométrio em profundidade variável (aspecto de dúvida). SINTOMATOLOGIA/CLÍNICA • A adenomiose é assintomática em cerca de 35% dos casos. Quando sintomáticas, podem cursar com sangramento menstrual aumentado e prolongado, associado a dismenorreia secundária que antecede até uma semana após o fluxo menstrual. A frequência e gravidade do quadro clínico estão relacionados com sua extensão. • Útero de padrão globoso aumentado pela hipertrofia miometrial que acompanha a proliferação glandular. A etiopatogenia é desconhecida com possível relação com endometrite prévia ou trauma cirúrgico (perda de continuidade da membrana basal endometrial). • Clínica: sangramento menstrual aumentado (50%), dismenorreia progressiva (30%) e em 2/3 dos casos o diagnóstico é cirúrgico. • No exame ginecológico, encontra-se um útero aumentado uniformemente, amolecido e doloroso, principalmente no pré-menstrual. DIAGNÓSTICO/EXAMES COMPLEMENTARES • A identificação da zona juncional, uma linha regular com espessura menor ou igual a 5mm que determina o limite entre miométrio e endométrio, possibilita o diagnóstico não- invasivo da doença. Os avanços recentes das técnicas de imagem como a ressonância nuclear magnética (RNM) e a ultrassonografia (USG) permitiram o estudo da adenomiose em mulheres com manutenção do útero e assim entender a sua história natural. O diagnóstico clínico é apenas de presunção. Diante do útero aumentado no EF deve-se afastar a hipótese de gravidez antes de considerar a possibilidade de adenomiose. • Os exames que podem ser solicitados são: o Ultrassonografia transvaginal (sensibilidade de 92% e especificidade de 83%) é considerado o padrão ouro de triagem (realidade atual), sendo o exame de imagem indicado como primeira linha para o diagnóstico de adenomiose. o Ressonância magnética (sensibilidade de 90% e especificidade de 93%) é considerado o padrão ouro para diagnóstico, principalmente a contrastada. Delineia a localização e extensão das lesões e a diferenciação entre leiomiomas e adenomiomas, sua mais importante contribuição. O parâmetro de mensuração da zona juncional mioendometrial na RM é atualmente a melhor referência para o diagnóstico de adenomiose. TRATAMENTO • Histerectomia – é o padrão até o momento. • Hormônios possuem baixa eficácia podendo até piorar os sintomas (ACO). • Algumas opções atuais, não são usados como rotina, apenas quando há desejo reprodutivo. São elas: o Análogos do GnRH.* o Ablação endometrial. o Excisão local (focal).* o Ligadura ou embolização da artéria uterina. o Eletrocoagulação laparoscópica.* o Colimação ultrassonográfica por RMI. PATOLOGIAS DO CORPO UTERINO - MIOMATOSE DEFINIÇÃO/EPIDEMIOLOGIA • Os leiomiomas uterinos são neoplasias benignas da parede muscular uterina. É um tumor mesenquimatoso e monoclonal, com origem nas células musculares lisas do miométrio. É uma doença muito prevalente e mais frequente nas mulher em idade reprodutiva. • 25 a 50% das mulheres (até 70%, dependendo do critério). A incidência é maior em pessoas negras, com acometimento de até 3:1 quando comparado com pessoas brancas. • Há sensibilidade a estímulo hormonal com crescimento durante o menacme e involução pós-menopausa. • Em sua etiologia estão envolvidos fatores genéticos, hormonais e de crescimento: o Fatores genéticos: 40% dos miomas apresentam anomalias cromossômicas detectáveis (translocações, deleções e trissomias). o Fatores hormonais: as evidências sugerem que os estrogênios e a progesterona promovem o seu desenvolvimento. o Fatores de crescimento: produzidos pelas células musculares lisas e fibroblastos promovem o crescimento dos miomas. FATORES DE RISCO • Os fatores de risco conhecidos são: o Idade (pico de incidência de 35 a 45 anos). Importante para definir conduta terapêutica (se perto da menopausa, que diminui o volume uterino em até 50%, não há necessidade de operação, se longe, necessita de operação. o Hereditariedade. o Baixa paridade. o Menarca precoce. o Obesidade. o Consumo de cafeína e álcool. o HAS. o Consumo carne vermelha. o Redução de risco: tabagismo. CLASSIFICAÇÃO • Classificação FIGO de acordo com a localização do mioma: • Classificação de Submucosos (FIGO + European Society of Hysteroscopy): IMPORTANTE o Relevância para histeroscopia com enucleação e risco em gestação posterior (rutura uterina): ▪ T0: ausência de invasão miometrial (pediculados) = sem risco relevante. ▪ T1: invasão miometrial de até 50% do diâmetro do mioma = ressecção individualizada. ▪ T2: invasão miometrial acima de 50% do diâmetro do mioma = alto risco. o OBS: quanto maior a invasão do miométrio pelo mioma, maior quantidade de tecido irá ser retirado na miomectomia, aumentando as chances de rotura uterina durante uma possível gravidez. Se a paciente não possuir desejo reprodutivo o tratamento de escolha é a histerectomia, pois apresenta menos complicações. • Alterações secundárias: o Degeneração: ▪ Atrófica (pós-menopausa). ▪ Hialina (miomas antigos). ▪ Cística (hialinização acentuada). ▪ Calcificada (infartos). ▪ Séptica (necrose central com infecção). ▪ Vermelha (gestação – trombose e congestão). ▪ Mixomatose (gordurosa – rara). o Transformação maligna: ocorre em cerca de 0,1 a 0,5% das pacientes, incidência não relevante → a transformação é rara e quando corre é dentro de uma população mais específica. SINTOMATOLOGIA/CLÍNICA • Sintomatologia variada de acordo com a localização do mioma na parede e seu volume: o Submucosos (maior sintomatologia): simples e pediculado (cavitário e parido). o Intramurais. o Subserosos (sintomatologia pobre). • A sintomatologia é composta por sangramento uterino anormal de natureza endometrial por aumento de superfície e mudanças vasculares como congestão endometrial + conversão por aromatase e hiperplasia focal. • Dor: eventual – degeneração, torção (pediculados submucosos ou subserosos), parido. • Peso e compressão de estruturas adjacentes (volume global ou subserosos isolados). • Infertilidade: 40% das mulheres com múltiplos miomas. • Gestação: aborto, TPP, tumor prévio. EXAME CLÍNICO • Toque vaginalbimanual e palpação abdominal. • Útero endurecido com nodulações na parede. • Aumento volumétrico do útero de aspecto irregular. • Especular: miomas cervicais e paridos. EXAMES COMPLEMENTARES • Nos exames laboratoriais gerais: pode apresentar anemia moderada à acentuada. Eventualmente queda de Fe importante. • Os exames de imagem que podem ser solicitado são: o Ultrassonografia: transvaginal, abdominal e histerossonografia (mioma submucoso). É o meio complementar de eleição no diagnóstico dos miomas. o Ressonância magnética: melhor quantificação e delimitação de miomas + avaliação de vias urinárias. É o melhor exame para avaliar dimensões, posição e números. É o melhor método no diagnóstico diferencial com adenomiose, Leiomiossarcoma e massas anexiais. DIAGNÓSTICO • É feito pela anamnese, exame ginecológico e exames de imagem que podem nortear a conduta. O diagnóstico definitivo é só pelo anatomopatológico, tendo como diagnóstico diferencial o Leiomiossarcoma uterino. TRATAMENTO CLÍNICO • O tratamento expectante ou conservador é possibilitado pela baixa incidência do Leiomiossarcoma. A manutenção da função menstrual e reprodutiva tem aumentado a demanda do tratamento conservador em virtude de casamentos tardios, bem como a possibilidade do segundo matrimônio. • Análogos do GnRH (preservação da fertilidade e preparo cirúrgico): é o padrão-ouro do mioma (pacientes cirúrgicos com miomectomia). o 50% redução no volume uterino (A). o 3 a 6 meses de tratamento. o Tendência de perda de controle se mantido por mais de 12 meses. Geralmente, é feito por 6 meses até a possibilidade de cirurgia. o Sintomas e efeitos colaterais semelhantes ao climatério, devido ao bloqueio hipofisário. • Progestágenos: controle sintomático com possibilidade de crescimento do mioma (B). • Conduta expectante: sintomas leves ou ausentes e peri-menopausa. • Outras terapias: o RU-486: controle acima do análogo, porém não liberado no Brasil (abortivo). o Gestrinona e Danazol: efeitos colaterais. o DIU de progesterona (limitação pela distorção da cavidade endometrial). o Raloxifeno. o Implantes de progesterona. o Inibidores da aromatase (peri-menopausa). TRATAMENTO CIRÚRGICO • Histerectomia: o Abdominal: grandes miomas. o Vaginal: menor morbidade. o Laparoscópica: sem morcelação (FDA). • Miomectomia: o Histerectomia e laparoscopia (2/3 conseguem gestação subsequente). o Risco de rutura uterina = 0,75% (A). o Se atingir termo pode evoluir para parto normal. • Outas opções de tratamento são: o Embolização de artérias uterinas. o Ligadura vaginal de artéria uterina. o Ablação endometrial. o Miólise laparoscópica. o Ultrassonografia guiada por ressonância magnética. • Pacientes na pré-menopausa: o Assintomática ou sintomatologia leve: expectante ou sintomática. o Sintomas moderados a severos: ▪ Desejo reprodutivo: análogos do GnRH (3 a 6 meses) + histerectomia e laparoscopia (miomectomia ou miólise). ▪ Prole completa: análogos do GnRH ( 1 a 3 meses) antes de histerectomia (via adequada ao caso). • Pacientes na pós-menopausa: o Estável e/ou regressão: expectante. o Aumento e/ou novos miomas: histerectomia. DIAGNÓSTICO CLÍNICO DIFERENCIAL: ADENOMIOSE X MIOMATOSE - PROVA OBS: Útero gigante: acima de 1000cm3 (1L). PATOLOGIAS DO CORPO UTERINO - LEIOMIOSSARCOMA • É um tumor raro que ocorre em 1% de todas as malignidades uterinas, entretanto ocupa 70% de todos os sarcomas uterinos e contribui para um número significante de mortes por sarcomas uterinos. • O estadiamento da doença é o fator de risco mais relacionado a sobrevida. A maioria dos leiomiossarcomas não são associados a leiomiomas pré-existentes. Quando o tumor é confinado ao útero, costuma se apresentar como uma massa única, grande, palpável e intramural. • A presença de certos fatores anatomopatológicos, como bordas infiltrativas, necrose coagulativa e atipias nucleares, diferenciam um Leiomiossarcoma de um leiomiomas benigno. Devido ao fato de não existir características e sintomas específicos do Leiomiossarcoma que o diferenciem do leiomiomas, fazer o diagnóstico pré-operatório é muito difícil. • Os achados clínicos e exames complementares são pobres em definir risco (exceção – ressonância magnética?). • Aspecto de suspeita mais relevante: o Usa-se a epidemiologia → idade avançada, pacientes em uso de tamoxifeno e quando paciente sofreu irradiação pélvica. o Evolução (número ou volume) após a menopausa.* o Crescimento explosivo na pré-menopausa.* o *Indicativos de transformação de malignidade. • O tratamento é cirúrgico, sendo a alternativa mais adequada devido má resposta à quimioterapia e radioterapia. • O critério diagnóstico definitivo é feito pelo anatomopatológico com: o Contagem de mitoses em 10 campos de grande aumento (x400) sem componente epitelial associado: ▪ Nenhuma: mioma. ▪ Até 4: mioma atípico (extremamente raro). ▪ 5 a 10: mioma de significado incerto. ▪ Acima de 10: Leiomiossarcoma. o Mitoses com atipia severa + necrose → Leiomiossarcoma pleomórfico (mau prognóstico).