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1 PEDAGOGIA PRÁTICAS DE ENSINO EM PEDAGOGIA II Gabriela F. Dias Vicente 2 PRÁTICAS DE ENSINO EM PEDAGOGIA II Gabriela F. Dias Vicente 3 APRESENTAÇÃO Prezado aluno, Nesta disciplina trataremos de temas importantes para o docente, no que diz respeito ao histórico da formação do professor e como ela se dá atualmente, conforme legislações brasileiras. Trataremos também de concepções pedagógicas, trabalho interdisciplinar na escola, pedagogia em espaços não escolares, metodologias de ensino e escolas com práticas diferenciadas. É fundamental que no seu processo de formação inicial você perceba a diversidade de possibilidades para ressignificar o ensino e a aprendizagem. Cabe ao professor reconhecer e analisar a variedade de estímulos e recursos didáticos que podem contribuir para a melhoria do trabalho em sala de aula. Para tal, abordaremos os temas através de legislações, artigos científicos, autores renomados, fotografias e indicaçõs de sites e livros para aprofundamento dos conteúdos. Bons estudos!!! 4 SUMÁRIO Unidade 1 – FORMAÇÃO DO PROFESSOR: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA...............5 Unidade 2 – FORMAÇÃO DO PROFESSOR: Reflexões......................................................20 2.1 - O que diz a BNCC?............................................................................................20 2.2 – Reflexões teóricas............................................................................................24 Unidade 3 – INTERDISCIPLINARIDADE.............................................................................29 Unidade 4 – PEDAGOGIA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES...............................................37 4.1 – Pedagogia Empresarial....................................................................................39 4.2 – Pedagogia para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais..............................................................................................41 4.3 – Pedagogia no Terceiro Setor..........................................................................42 4.4 – Pedagogia Hospitalar......................................................................................43 Unidade 5 – METODOLOGIAS DE ENSINO........................................................................45 5.1 – Tradicionalismo................................................................................................46 5.2 – Construtivismo.................................................................................................48 5.3 – Metodologias Ativas na Educação.................................................................50 5.4 – Pedagogia Waldorf..........................................................................................54 5.5 – Pedagogia Montessoriana..............................................................................57 5.5.1 – Maria Montessori...............................................................................57 5.5.2 – Método Montessori...........................................................................58 5.6 – Pedagogia Freiriana 5.6.1 – Paulo Reglus Neves Freire.................................................................60 5.6.2 – Método Freiriano...............................................................................61 5.7 – Pedagogia Freinet 5.7.1 – Célestin Freinet...................................................................................63 5.7.2 – Método Freinet...................................................................................65 Unidade 6 – ESCOLAS COM PRÁTICAS DE ENSINO DIFERENCIADAS............................71 6.1 – Escola da Ponte................................................................................................72 6.2 – Summerhill School...........................................................................................75 6.3 – Sudbury Valley School………………………………………………………………….79 6.4 – Curumim……………………………………………………………………………………83 6.5 – EMEF Amorim Lima…………………………………………………………………86 5 Unidade 1 – FORMAÇÃO DO PROFESSOR: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA “Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual” Albert Einstein CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer e analisar as determinações que definem o histórico do processo de formação inicial do professor. ESTUDANDO E REFLETINDO Durante a história, o processo de formação do professor e especificamente do pedagogo, alterou-se por diversas vezes, de acordo com a demanda de cada período. Na Proposta para a Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica (Versão Preliminar) publicada no site do Ministério da Educação em Dezembro de 2018, o órgão traz uma contextualização histórica sobre a educação no país que utilizaremos para compreender como os processos ocorreram. Segundo o MEC, o desprestígio da profissão docente no Brasil iniciou-se ainda no período imperial quando por falta de verbas, a criação de escolas primárias (que havia sido determinada por Dom Pedro I em 1827) foi delegada às províncias, iniciando a tendência a descentralização do país e transferindo às esferas menos abastadas a construção de escolas e também a formação de professores. Em 1837, com a criação do Colégio Pedro II, a educação tinha sete anos de duração, compostos por quatro anos de Ensino Primário e mais três (ou mais quatro) chamado de “Ensino Superior”, com um currículo extenso e altamente fragmentado. 6 Em 1880, criou-se a Escola Normal do Município da Corte que por falta de espaço funcionava no Colégio Pedro II no período noturno, formando professores para as escolas primárias, surge então o magistério como um subproduto de outro curso. Pelo fato de ser vetado as mulheres o ingresso nas instituições imperiais de ensino superior, este curso era a única opção para aquelas que desejassem prosseguir em seus estudos, iniciando aí a “vocação feminina” no magistério brasileiro. Apenas em 1927 que a escola ganhou sede própria e pôde assumir sua identidade, sendo intitulada a partir de então como Instituto de Educação do Rio de Janeiro (existente até os dias atuais). Com o surgimento das Universidades Públicas, os Institutos de Educação perdem o status de ensino superior, fazendo com que a Escola Normal retornasse ao nível anterior também. A Lei 5692/1971 transformou o ensino médio em profissionalizante, e o “Normal” passou a ser uma habilitação do ensino médio, desqualificando então, a formação de professores no país. Buscando evoluir na qualidade da formação de professores, iniciou-se uma discussão de onde incorporá-la e a opção mais simples foi implementar como uma habilitação dentro dos cursos de Pedagogia nas Faculdades de Educação, afirmando aí a separação entre a formação do professor multidisciplinar e do professor especialista, com o agravante de que nestes cursos não estudava-se as disciplinas que o professor iria lecionar na educação infantil e nos anos iniciais do fundamental. Darcy Ribeiro, especialista e pesquisador da educação, no início do debate para a organização da então nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, trouxe novamente a ideia de um ensino superior focado na formação de professores, sendo mentor do que foi aprovado: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (BRASIL, 1996) 7 Como complementação a lei, o Conselho Nacionalde Educação aprovou o Parecer 115 em 1999 determinando a criação dos Institutos Superiores de Educação, afirmando estes, como os lugares onde deveriam residir as licenciaturas, com um projeto pedagógico básico e unificado em todo o país, incluindo a formação de professores da educação infantil e anos iniciais do fundamental. Poucas instituições criaram, e logo após a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia, os ISEs desapareceram, sendo substituídos pela Pedagogia, não existindo então articulação com as demais licenciaturas, causando uma distância entre o conhecimento científico e o conhecimento pedagógico, justamente pela falta de uma instituição focada especificamente na formação de professores. Existiram ainda outras tentativas de melhorar a formação de professores no país, como, por exemplo, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – FUNDEF, pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997, que modificava as estruturas de financiamento do Ensino Fundamental do país (1ª a 8ª séries do antigo 1º grau), vinculando-o a uma parcela de recursos destinados à educação. A principal mudança foi que a Constituição de 1988 reserva 25% da receita dos estados e municípios para a educação, ao passo que, o FUNDEF determina que deste percentual, 60% ficam reservados ao Ensino Fundamental (60% de 25% = 15% dos impostos e transferências) e introduz critérios de distribuição e utilização dos principais impostos, compartilhando recursos entre governos estaduais e municipais, conforme a demanda de matriculados na rede. Este montante fica reservado principalmente focando aos assuntos relacionados aos professores, formação continuada e a valorização docente. Em 2006, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, como substituto do FUNDEF, através da Emenda Constitucional n.º 53, de 19 de dezembro de 2006 e regulamentado pela Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro do mesmo ano, convertida na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, e pelos Decretos nº 6.253 e 6.278, de 13 e 29 de 8 novembro de 2007. Assim como o anterior, o FUNDEB é um fundo de natureza contábil, mas sub-vincula as receitas dos impostos para 20% (anteriormente era 15%) e sua utilização ampliou-se para toda a Educação Básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, conforme Art. 21 da Lei de Diretrizes e Bases. Estes recursos são distribuídos com base na quantidade de alunos matriculados na educação básica de cada rede de ensino, conforme o Censo Escolar do ano anterior. Conforme o Ministério da Educação, o FUNDEB é um compromisso do governo com a Educação Básica, pois aumenta em dez vezes o volume de recursos federais, redistribuindo o capital, considerando o desenvolvimento social e econômico das regiões. Nestas mudanças, percebeu-se a grande falha existente na formação destes profissionais, principalmente para atuação na educação infantil e anos iniciais. Neste período, muitos professores ingressaram no ensino superior para adquirirem a habilitação que ainda não possuíam, demonstrando a grande quantidade de professores que ainda não possuíam titulação/nível superior, ou seja, deixando claro que para muitos, estas competências básicas ao ensino não eram importantes. A questão da formação de professores foi amplamente debatida por diversas instituições, especialistas e o governo. Conforme o Parecer1 disponibilizado pelo Ministério da Educação em seu site sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum para a Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica, elencaremos abaixo algumas importantes políticas públicas realizadas pelo governo brasileiro no âmbito da educação, formação e valorização do professor nos últimos trinta anos, traçando um histórico temporal da evolução na educação brasileira, para que tenhamos clareza dos caminhos percorridos: (i) A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 205, define que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da 1 Diretrizes Curriculares Nacionais e Base Nacional Comum para a Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica. 3ª VERSÃO DO PARECER (Atualizada em 18/09/19). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file> http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file 9 sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (ii) A Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, alterando dispositivos da Lei nº 4.024/1961, instituiu o “Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior”, com “atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação”, objetivando “assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional”. (iii) A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, definiu novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com fundamento no Inciso XXIV do Art. 22 da Constituição Federal, enfatizando, no § 2º do seu art. 1º, que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”, bem como ressaltando, em seu Art. 67, que “os Sistemas de Ensino promoverão a valorização dos Profissionais da Educação (...)”. (iv) Resolução CNE/CEB nº 3/1998 das Diretrizes Curriculares Nacionais Para O Ensino Médio; (v) O primeiro Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, objetivou a concretização dos preceitos constitucionais sobre o Direito à Educação, “em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos”, nos termos do §1º do Art. 87 da LDB, contemplando dispositivos sobre a inclusão de capítulos específicos sobre o magistério da educação básica e sobre a educação a distância e novas tecnologias, incidindo diretamente na formação de professores. (vi) Fóruns das Licenciaturas se constituíram como importantes espaços de debates nas universidades para discutir políticas de expansão e projetos pedagógicos articulados para as licenciaturas. (vii) Rede Nacional de Formação Continuada foi criada em 2004, pelo MEC, visando a criação de uma maior organicidade entre os programas e os gestores responsáveis pelas políticas de formação continuada. (viii) Programas de apoio à formação docente foram instituídos, merecendo destaque o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), o Plano Nacional de 10 Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), e o Programa de Consolidação das Licenciaturas (Prodocência), além do apoio dado a cursos de segunda licenciatura e cursos experimentais destinados à formação de professores direcionados à educação do campo e indígena. (ix) Comissão Bicameral foi criada no âmbito do CNE: para tratar das normas e diretrizes para a formação de profissionais do magistério da educação básica. Entre 2012 e 2014, em particular, importantes debates e apresentações de estudos foram realizados, reunindo importantes subsídios no âmbito das políticas e experiências internacionais para a formação de professores, que culminaram com a Resolução CNE/CP nº 02/2015. (x) Conae(s) 2010 e 2014 apresentaram importantes contribuições: vale aqui registrar os documentos produzidos nas Conferências Nacionais de Educação de 2010 e 2014 sobre formação inicial e continuada de professores reafirmando a necessidade de vinculá-la ao conjunto deesforços no campo pleno da valorização do magistério. (xi) DCNs para o curso de Pedagogia representam novo marco normativo: trazendo inovações importantes para a formação de professores. Merece ser ressaltada, ainda, a amplitude da perspectiva formativa proposta por essas Diretrizes Curriculares ao prever que, para o curso de Pedagogia, aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (xii) Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: conforme está posto na Resolução CNE/CP nº 02/15, a partir de 2008, intensifica-se a ampliação das ações formadoras com a instituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008), indicando que a expansão de cursos dessas Instituições Educacionais deveria reservar 20% (vinte por cento) das vagas para cursos de licenciaturas, 11 especialmente em cursos da área de ciências de modo a enfrentar a falta de professores nessas áreas da Educação Básica. (xiii) Lei do FUNDEB e Lei do Piso Salarial: deram organicidade às políticas de valorização dos profissionais do magistério, mediante a Lei nº 11.494/2007, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb, bem como a Lei Nº 11.738/2008, que instituiu o Piso Salarial Nacional dos Profissionais do Magistério da Educação Básica. (xiv) Decreto No 162 6.755/2009: instituiu a Política Nacional da Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica e disciplinou a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes no fomento a programas orientados para a formação inicial e continuada de Professores da Educação Básica. (xv) Portaria MEC Nº 1.328/2011: conforme está posto na Resolução CNE/CP nº 02/15, esta Portaria formaliza a “Rede Nacional da Formação Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública”, de modo a apoiar as ações destinadas à formação continuada de profissionais do magistério da educação básica e em atendimento às demandas da formação continuada, tal qual formuladas nos planos estratégicos de que tratam os artigos 4º, 5º, e 6º do Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009. (xvi) Portaria MEC nº 172 1.087/2011: institui o Comitê Gestor da Política Nacional de Formação Inicial e Continuada de Profissionais da Educação Básica, responsável pela formulação, coordenação e avaliação das ações e programas do MEC, Capes e FNDE, no âmbito da Política Nacional de Formação de Profissionais da Educação Básica. (xvii) Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024: que dedica quatro (15, 16, 17 e 18) das suas 20 metas à valorização dos profissionais do magistério e à formação inicial e continuada de docentes. Porém, mais do que isso, este PNE, inaugura um novo tempo para as políticas educacionais brasileiras, dando diretrizes claras para tais políticas mediante dez Incisos do Artigo 2°, e que merecem aqui ser explicitados: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; 12 III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV - melhoria da qualidade da educação; V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX - valorização dos (as) profissionais da educação; X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. (xviii) Fóruns Estaduais e Distritais Permanentes de Apoio à Formação dos Profissionais da Educação Básica: dentre outras responsabilidades destaca-se aquela relativa à formulação e pactuação de planos estratégicos que contemplam diagnóstico da formação inicial e continuada de professores. (xix) Decreto No 8.752 de 09 de maio de 2016 que dispõe sobre a Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação Básica. BUSCANDO SABERES Para compreendermos alguns pontos importantes deste longo processo, está compilado abaixo um trecho do artigo científico “Formação inicial de professores e o curso de pedagogia: reflexões sobre a formação matemática” de autoras Marlisa Bernardi de Almeida e Maria das Graças de Lima, publicado em 2012, através da Revista Ciência e Educação v.18, n.2. 13 “Formação inicial de professores e o curso de pedagogia: reflexões sobre a formação matemática”2 Entende-se que a formação inicial de professores está inserida em um contexto mais amplo de formação, a qual traz, em seu processo histórico avanços e retrocessos. Atualmente, no Brasil, a responsabilidade pela formação do professor dos anos iniciais está centrada nos cursos de Pedagogia. Mas, historicamente, nem sempre foi assim. O curso de Pedagogia foi criado no Brasil em 1939, como consequência da preocupação com o preparo de docentes para a escola secundária, e não para a escola primária, pois a formação desses professores se fazia, exclusivamente, nas Escolas Normais. O curso de Pedagogia, ao longo de sua história, como aponta Silva (1999), teve definidos, como seu objeto de estudo e finalidade precípuos, os processos educativos em escolas e em outros ambientes, sobremaneira a educação de crianças nos anos iniciais de escolarização, além da gestão educacional. Merece ser salientado que, nas primeiras propostas para este curso, a ele se atribuiu o estudo da forma de ensinar, definido, inicialmente, como lugar de formação de técnicos em educação. Um dos marcos importantes para o curso de Pedagogia foi o parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) nº 252, de 11 de abril de 1969 (BRASIL, 1969a), de autoria do professor Valnir Chagas, membro do Conselho Federal de Educação. Esse parecer foi acompanhado da Resolução CFE nº 02/69 (BRASIL, 1969b), que se incumbiu de fixar o currículo mínimo e a duração do curso. Essa regulamentação manteve a formação de professores para o Ensino Normal e introduziu, oficialmente, as habilitações para formar os especialistas responsáveis pelo trabalho de planejamento, supervisão, administração e orientação, que constituíram, a partir de então, um forte meio de identificar o pedagogo. As habilitações foram amplamente difundidas, tornando-se nucleares para o curso ao longo de grande parte de sua trajetória. 2 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 73132012000200014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 jan. 20. 14 Nessa perspectiva, os cursos de Pedagogia, que continuavam formando os técnicos de educação e os professores para as Escolas Normais, passam a ser, segundo Silva (1999), ao mesmo tempo, objeto de disputa para a formação do professor primário e objeto de crítica acerca da sua natureza e função. Sabe-se que, em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a escola Normal passou a se chamar Habilitação Específica para o Magistério (HEM), e os profissionais por ela formados tinham o direito de lecionar de 1ª a 4ª série. Em 1986, o ConselhoFederal de Educação criou uma resolução que permite, aos cursos de Pedagogia, formarem técnicos em Educação e ofertarem habilitação para que o profissional pudesse lecionar de 1ª a 4ª série. Nesse momento, abre-se uma nova porta para a formação inicial do professor das séries iniciais, que sai da responsabilidade apenas do Ensino do 2º grau (nomenclatura utilizada a partir da Lei nº 5692/71) para ser, também, responsabilidade do Ensino Superior. Na década de 1980, receptor de inúmeras críticas, o curso de Pedagogia apontava a fragmentação de forte caráter tecnicista e a ênfase na divisão técnica do trabalho na escola. Nesse período, foram intensos os movimentos pela reformulação dos cursos de formação dos profissionais da educação, levantando a bandeira de um curso de Pedagogia baseado na formação de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, há que se ressaltar que o debate, sempre crescente, nunca foi consensual. Apesar de prevalecer a concepção que tem a docência como o núcleo forte da pedagogia, pelo menos duas outras tendências circulam no debate. Em síntese, segundo Kuenzer e Rodrigues(2007), as três concepções podem ser assim formuladas: pedagogia centrada na docência (licenciatura – professor); pedagogia centrada na ciência da educação (bacharelado – pedagogo); e pedagogia centrada nas duas dimensões, formando, integradamente, o professor e o pedagogo. No entanto, observa-se que, desde 1985, o curso de Pedagogia tem oferecido uma gama de habilitações, o que tem possibilitado a estes profissionais atuarem em diversos 15 espaços. Contemplando uma ação pedagógica múltipla, em que o pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não formal, criando formas de educação paralela, desfazendo praticamente todos os nós que separavam escola e sociedade. Porém, a formação específica para professores das séries iniciais fica em um nível menos privilegiado. Com a aprovação da nova LDB, Lei nº 9.394, em dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), desencadearam-se, ainda mais, ações do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Educação (CNE) no sentido de redefinir a formação do profissional do magistério, segundo as novas possibilidades colocadas pelo texto legal. A reforma para a formação de professores inscreveu-se nas reformas educacionais. A partir de 1996, com a promulgação da nova LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), a responsabilidade pela formação inicial dos professores dos anos iniciais passou a ser feita, preferencialmente, nos cursos de Pedagogia. Algumas mudanças intermediárias aconteceram dentro desse período. Dessa forma, é possível referenciar passos marcantes desta trajetória. A nova LDB 9.394/96 instituiu que era obrigatório o professor da Educação Básica ter nível Superior, estabelecendo no artigo 62: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, e graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996) Conforme o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001), em dez anos, todos os profissionais que atuavam na Educação Básica deveriam se adaptar à nova legislação. Com essa exigência, começa uma corrida contra o tempo para que todos os profissionais, que não tivessem curso Superior e que já estivessem em sala de aula, o fizessem. O que, de fato, não aconteceu, sendo que este prazo foi extinto pelo novo governo, pela Resolução do CNE/CEB n° 01/2003 de 20/08/2003 (BRASIL, 2003), pois havia muitos professores que não tinham conseguido buscar uma formação Superior conforme o prazo estabelecido. 16 A extinção dos cursos de magistério da rede pública de ensino, que ocorreu após 1996[...] no país inteiro, fez com que as escolas privadas assumissem, cada vez mais, tais cursos de formação docente. A partir da promulgação da LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), um número nunca antes produzido de leis, regulamentações, decretos, resoluções e pareceres foi definindo, formatando, disciplinando, controlando e desonerando o Estado da formação de professores, acentuando, gravemente, a fragilização desta formação, agora entregue, em sua maioria, à iniciativa do empresariado, e conformada, portanto, à obtenção do lucro. Após a LDB 9.394/96, determinou-se a criação de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação e a formação docente em nível Superior. Todos os cursos de graduação tiveram suas DCN’s definidas, com exceção do curso de Pedagogia que, apesar de algumas tentativas junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), só em maio de 2006 teve uma Resolução aprovada. De acordo com as DCNP (BRASIL, 2006), o curso de Pedagogia passa a ser exclusivamente uma licenciatura, que formará docentes para atuarem na educação infantil (EI) e anos iniciais do Ensino Fundamental (AIEF). Essas duas modalidades não se farão por opção das instituições de ensino por uma ou outra e, sim, pelas duas. Além da formação para atuação na Gestão Educacional e Produção de Conhecimento. [...] Muitos desafios deverão ser superados pelo curso de Pedagogia, entre eles o desafio da definição dos componentes de conteúdos necessários para abranger a imensa formação proposta em todos os cursos de Pedagogia no país. Referencial Bibliográfico utilizado no trecho: 17 BRASIL. Ministério da Educação. Parecer n. 252, de 11 de abril de 1969. Fixa os mínimos de conteúdos e duração a serem observados na organização do curso de Pedagogia. Documenta, Rio de Janeiro, n. 1000, p. 101-117, 1969a. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CFE nº. 2/69, de 12 de maio de 1969. Reformula o curso de Pedagogia e propõe habilitações no último ano. Diário Oficial da União, Brasília, 12 maio 1969b. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução do CNE/CEB 01, de 20 de agosto de 2003. Dispõe sobre os direitos dos profissionais da educação com formação de nível médio, na modalidade Normal, em relação à prerrogativa do exercício da docência, em vista do disposto na lei 9394/96, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 22 ago. 2003. Seção I, p. 12. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ rceb01_03.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia, licenciatura. Diário Oficial da União, Brasília, 16 maio 2006. Seção I, p. 11. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2008. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 15 dez. 2007. KUENZER, A. Z.; RODRIGUES, M. F. As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia: uma expressão da epistemologia da prática. Olhar de Professor, Ponta Grossa, v. 10, n. 1, p. 35-62, 2007. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/ olhardeprofessor/article/download/1474/1119>. Acesso em: 15 fev. 2008. Referencial Bibliográfico: BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm > Acesso em: 05 Fev. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 18 BRASIL. Lei nº 11.494 de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Disponívelem: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/lei/l11494.htm > Acesso em: 06 Fev. 2020. BRASIL. Lei n. 9.424, de 24 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9424.htm > Acesso em: 06 Fev. 2020. BRASIL. Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996. Modifica os artigos 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e da nova redação ao art. 60 do Ato das Disposições constitucionais Transitórias. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc14.htm > Acesso em 06 Fev. 2020. BRASIL. Ministério da Educação - Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais e Base Nacional Comum para a Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica. 3ª versão do parecer (Atualizada em 18/09/2019). Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia- formacao-de-professores/file Acesso em: 04 Fev. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Proposta para a Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica. Versão preliminar. 2018. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=10509 1-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192> Acesso em 04 Fev. 2020. SAVIANI, D. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 37, n. 130, p. 99-134, Abr. 2007 . Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742007000100006&lng =en&nrm=iso >. Acesso em: 30 Jan. 2020 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9424.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc14.htm http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742007000100006&lng 19 ALMEIDA, M. B. de; LIMA, M. das G. de. Formação inicial de professores e o curso de Pedagogia: reflexões sobre a formação matemática. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru, v. 18, n. 2, p. 451-468, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132012000200014&lng =en&nrm=iso >. Acesso em: 30 Jan. 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132012000200014&lng 20 Unidade 2 – FORMAÇÃO DO PROFESSOR: REFLEXÕES “Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte Muito gado, muita gente pela vida segurei... Seguia como num sonho que boiadeiro era um rei Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando As visões se clareando... até que um dia acordei. Então não pode seguir valente lugar-tenente De dono de gado e gente Por que gado a gente marca Tange, fere, engorda e mata, mas com gente é diferente.” Música: Disparada Autor: Geraldo Vandré / Theo Azevedo CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer e analisar os pressupostos desenvolvidos à formação de professores pela Base Nacional Comum Curricular. 2.1 - O que diz a BNCC? ESTUDANDO E REFLETINDO Segundo o Relatório3 que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, a Base Nacional Comum Curricular e a Formação Continuada de Professores da Educação Básica, a BNCC inicia uma nova era na Educação Básica, pois pela primeira vez na história, nosso país construiu consensos nacionais sobre aprendizagens essenciais e que, portanto, são direitos que devem ser garantidos e assegurados aos educandos ao longo das etapas e em todas as modalidades da Educação Básica. 3Diretrizes Curriculares Nacionais e Base Nacional Comum para a Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica. 3ª VERSÃO DO PARECER (Atualizada em 18/09/19). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file> http://portal.mec.gov.br/docman/setembro-2019/124721-texto-referencia-formacao-de-professores/file 21 A construção da BNCC foi um longo processo e, desde o início, preocupou-se com a participação coletiva, em preservar a autonomia dos diversos entes federados e que mesmo que contenha uma referência comum e obrigatória a todos, que seja aberto o suficiente para a construção de currículos contextualizados e com características específicas e inerentes a cada região. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 alterou o objetivo principal da educação, tirando a liberdade de ensino para focar na aprendizagem do aluno e seu direito de aprender. Isso fez com que alterasse também as determinações sobre as responsabilidades do professor e, portanto, teve grande influência em sua formação. Em seu Artigo 13, está determinado que são responsabilidades do professor: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (BRASIL, 1996) Desde então, a aprendizagem do aluno é a principal incumbência do professor, e por isso foi-se necessário repensar diversas estratégias políticas. Complementando a LDB, no Plano Nacional de Educação (PNE 2014 – 2024) foram previstas metas específicas com foco no aperfeiçoamento da formação de professores, como melhoria dos cursos de Pedagogia e outras licenciaturas, através de reformas curriculares incentivando a renovação pedagógica, passando o foco para a aprendizagem dos alunos, acompanhamento de novos profissionais, melhores planos de carreira e salários. Apesar de maior investimento na Educação Básica, os resultados ainda estão longe dos esperados e por este motivo, a Base Nacional Comum Curricular foi desenvolvida, para 22 determinar os conteúdos básicos que todos os alunos do país deverão ter acesso e que desta forma, o país possa evoluir em conjunto, independente da região. A Base Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, que a partir de agora passa a guiar os currículos das instituições formadoras, orienta que a formação de professores tenha o foco na prática, reduzindo a dicotomia entre ela e a teoria, diminuindo a distância entre a universidade e as escolas. Neste documento está previsto que os novos marcos para a formação de professores agora são: - o domínio dos conhecimentos previstos na BNCC; - domínio do conteúdo a ser ensinado e seu conhecimento pedagógico; - conhecimento sobre o aluno e o contexto; - residência pedagógica afetiva; - a prática e o ambiente de aprendizagem; - criatividade e inovação; - compromisso com a equidade e igualdade social; - engajamento na formação e no desenvolvimento profissional. (BRASIL, 2018,p.31) O documento esclarece que “conhecer um conteúdo para ensiná-lo é diferente de conhecer um conteúdo com qualquer outro propósito” (p.32), portanto, a ideia é que os alunos durante a graduação, fundamentados por teorias, possam explorar situações que ocorrem no dia a dia da sala de aula, e assim, desenvolver estratégias de trabalho. Esta é uma forma de atuar na formação de professores aproximando a teoria e a prática. Para desenvolver adequadamente o trabalho em sala de aula, o documento propõe competências básicas que devem ser desenvolvidas com os alunos de graduação. Mas, afinal, o que são elas, que estão inclusive na BNCC? Para Phillipe Perrenoud competência é “a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação” (2000, p.15). A BNCC evidencia o termo e nela é definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” (BRASIL, 2018, p.8) 23 Portanto, competência é o saber que está dominado, não apenas o conceito e a possibilidade de transmitir, mas a “habilidade de conviver na diversidade das situações de sala de aula e estar comprometido com o seu fazer profissional.” (BRASIL, 2018, p.43) Traduzindo da forma mais prática, competência é a junção das habilidades, conhecimentos e atitudes, como demonstrado na imagem abaixo: Estas competências gerais estão dispostas em três competências específicas que são demonstradas na tabela abaixo: Proposta para a Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica. Versão preliminar. 2018. p.50. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option =com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores- v0&category _slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 > Acesso em 04 Fev. 2020. http://portal.mec.gov.br/index.php?option%20=com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category%20_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option%20=com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category%20_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option%20=com_docman&view=download&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category%20_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 24 Portanto, estas competências foram pensadas para desenvolver profissionais aptos a atuar neste mundo dinâmico, altamente mutável e instantâneo. Conforme esclarecido na proposta para a base de formação de professores, não basta mais ter acesso ao conhecimento e as informações, é preciso saber selecionar, filtrar e expandir conhecimentos. 2.2 – Reflexões teóricas BUSCANDO SABERES “Em sua trajetória multissecular, a característica mais saliente da pedagogia pode ser identificada na relação teoria-prática. Entendida como “teoria da educação” evidencia-se que ela é uma teoria da prática: a teoria da prática educativa. Não podemos perder de vista, porém, que se toda pedagogia é teoria da educação, nem toda teoria da educação é pedagogia. Na verdade o conceito de pedagogia se reporta a uma teoria que se estrutura a partir e em função da prática educativa. A pedagogia, como teoria da educação, busca equacionar, de alguma maneira, o problema da relação educador-educando, de modo geral, ou, no caso específico da escola, a relação professor-aluno, orientando o processo de ensino e aprendizagem. Assim, não se constituem como pedagogia aquelas teorias que analisam a educação sem ter como objetivo formular diretrizes que orientem a atividade educativa. Situam-se nesse âmbito todas as teorias da educação oriundas das ciências humanas que se voltam para a análise do fenômeno educativo, como ocorre com a sociologia da educação, psicologia educacional, biologia educacional, economia da educação, antropologia educacional.” (SAVIANI, 2007, p.102, grifos nossos) Diante dessas grandes transformações que demandam dos processos de formação de professores novas orientações e formas de pensar a profissão é que muitos autores buscam responder as inquietações conceituações sobre a formação do profissional 25 professor. José Carlos Libâneo, autor renomado da educação, possui um livro intitulado “Pedagogias e Pedagogos, para quê? (Ed. Cortez) onde discute questões relacionadas a prática educativa e sua relação com as demais ciências da educação. Com o propósito de auxiliar em suas reflexões, selecionamos abaixo trechos de uma resenha sobre o livro: PEDAGOGIA E PEDAGOGOS, PARA QUÊ? José Carlos Libâneo. São Paulo: Cortez, 2005. 200p. (8. ed.) Resenha por: Verbena Moreira Soares de Sousa Lisita [...] Para Libâneo, o que justifica a existência da pedagogia é o fato de esse campo ocupar-se do estudo sistemático das práticas educativas que se realizam em sociedade como processos fundamentais da condição humana. A pedagogia, segundo o autor, serve para investigar a natureza, as finalidades e os processos necessários às práticas educativas com o objetivo de propor a realização desses processos nos vários contextos em que essas práticas ocorrem. Ela se constitui, sob esse entendimento, em um campo de conhecimento que possui objeto, problemáticas e métodos próprios de investigação, configurando-se como “ciência da educação”. Essa visão da pedagogia fundamenta-se em um conceito ampliado de educação. Para Libâneo, as práticas educativas não se restringem à escola ou à família. Elas ocorrem em todos os contextos e âmbitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não, sob várias modalidades. Entre essas práticas, há as que acontecem de forma difusa e dispersa, são as que ocorrem nos processos de aquisição de saberes e modos de ação de moda não intencional e não institucionalizado, configurando a educação informal. Há, também, as práticas educativas realizadas em instituições não convencionais de educação, mas com certo nível de intencionalidade e sistematização, tais como as que se verificam nas organizações profissionais, nos meios de comunicação, nas agências formativas para grupos sociais específicos, caracterizando a educação não formal. Existem, ainda, as práticas educativas com elevados graus de intencionalidade, 26 sistematização e institucionalização, como as que se realizam nas escolas ou em outras instituições de ensino, compreendendo o que o autor denomina educação formal. Para Libâneo, são esses processos que constituem o objeto de estudo da pedagogia, demarcando-lhe um campo próprio de investigação. Ela estuda as práticas educativas tendo em vista explicitar finalidades, objetivos sociopolíticos e formas de intervenção pedagógica para a educação. O pedagógico da ação educativa se expressa, justamente, na intencionalidade e no direcionamento dessa ação. Esse posicionamento é necessário, defende o autor, porque as práticas educativas não se dão de forma isolada das relações sociais, políticas, culturais e econômicas da sociedade. Vivemos em uma sociedade desigual, baseada em relações sociais de antagonismo e de exploração. Por isso a pedagogia não se pode eximir de se posicionar claramente sobre qual direção a ação educativa deve tomar, sobre que tipo de homem pretende formar. Do ponto de vista do autor isso é o que justifica a existência da pedagogia como área do conhecimento, cuja especificidade é realizar uma reflexão global e unificadora da realidade da educação. Nessa concepção, pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, indireta ou diretamente vinculadas à organização e aos processos de aquisição de saberes e modos de ação, com base em objetivos de formação humana definidos em uma determinada perspectiva. Dentre essasinstâncias, o pedagogo pode atuar nos sistemas macro, intermediário ou micro de ensino (gestores, supervisores, administradores, planejadores de políticas educacionais, pesquisadores ou outros); nas escolas (professores, gestores, coordenadores pedagógicos, pesquisadores, formadores etc.); nas instâncias educativas não escolares (formadores, consultores, técnicos, orientadores que ocupam de atividades pedagógicas em empresas, órgãos públicos, movimentos sociais, meios de comunicação; na produção de vídeos, filmes, brinquedos, nas editoras, na formação profissional etc.). Essa formulação distingue claramente a atividade profissional do professor, que realiza uma forma específica de trabalho pedagógico (ensino) e a atividade profissional do pedagogo, que se desenvolve em um amplo leque de práticas educativas (informais, não formais e formais). Por isso Libâneo entende que a formação do professor e a do pedagogo não podem ser realizadas em um único 27 curso, tal como defendem os movimentos de reformulação dos cursos de formação de educadores, atualmente representados pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – Anfope. A proposta do autor é a de que haja dois cursos, um de pedagogia para formar o pedagogo stricto sensu e um de licenciatura para formar professores para os níveis fundamental e médio de ensino. Em síntese, ela consiste dos seguintes pontos: a. as faculdades de educação ofereceriam dois cursos distintos, um de pedagogia e um de licenciatura para a docência no ensino fundamental e médio; b. o pedagogo receberia formação especializada através de habilitações, entre elas a pedagogia escolar; c. o licenciado obteria habilitações para a docência no curso de magistério, nas disciplinas de 5ª a 8ª série4 e ensino médio ou nas séries iniciais do ensino fundamental; e d. a estrutura curricular teria uma base comum, englobando conhecimentos referentes aos fundamentos da educação, da escola e do ensino e de uma parte específica de conhecimentos profissionais, definidos conforme o contexto de atuação profissional (pedagogo, docente ou outra habilitação). Trata-se de uma proposta coerente com uma visão de educação como prática social que, por não restringir o educativo ao âmbito do escolar, abre o campo de exercício profissional do pedagogo. [...] Referencial Bibliográfico BRASIL. Resolução nº 3, de 3 de agosto de 2005. Define normas nacionais para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração.Publicada no DOU de 08/08/2005, Seção I, pág. 27. BRASIL. Ministério da Educação. Proposta para a Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica. Versão preliminar. 2018. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download 4 Nomenclatura e idades alteradas pela Resolução nº 3, de 3 de agosto de 2005. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download%20&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 28 &alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018- pdf&Itemid=30192 > Acesso em 04 Fev. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível em: < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_ site.pdf > Acesso em: 04 Fev. 2020. LISITA, V. M. S. de S. Pedagogia e pedagogos, para quê?. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 37, n. 131, p.519-520, Ago. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742007000200014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 Fev. 2020. PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2002. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download%20&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download%20&alias=105091-bnc-formacao-de-professores-v0&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_%20site.pdf 29 Unidade 3 – INTERDISCIPLINARIDADE CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Esta unidade tem por objetivo conhecer as especificidades do termo “interdisciplinar” e maior aprofundamento na temática. ESTUDANDO E REFLETINDO Segundo o dicionário Michaelis5, o termo “interdisciplinar” refere-se a algo que é comum a duas ou mais disciplinas, envolvendo duas ou mais áreas de conhecimento. Atualmente existem muitas discussões sobre como desenvolver conteúdos escolares de forma mais dinâmica, tendência do mundo atual, contrapondo-se ao ensino extremamente fragmentado como na maior parte das escolas brasileiras. A BNCC aborda a necessidade dos conteúdos e habilidades serem desenvolvidos de forma interdisciplinar, envolvendo as diversas áreas do conhecimento, os professores que as lecionam, de forma teórica e prática, preparando os alunos para a vida na sociedade atual. BUSCANDO SABERES Com o objetivo de refletirmos sobre a questão da interdisciplinaridade, abaixo há um trecho do artigo publicado na Revista Interseções disponível na base de dados da Universidadade Estadual do Rio de Janeiro, pela professora Olívia Perez, em 2018. Este artigo discute sobre a temática, e também sobre a evolução do significado no decorrer do tempo. 5 Disponível em: < https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- brasileiro/interdisciplinar/ > https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/interdisciplinar/ https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/interdisciplinar/ 30 O Que é Interdisciplinaridade? Definições mais comuns em Artigos Científicos Brasileiros6 Olívia Cristina Perez INTERSEÇÕES [Rio de Janeiro] v. 20 n. 2, p. 454-472, Dez. 2018. A modernidade caracteriza-se pela racionalização das instituições e do conhecimento. Além de pautado pela racionalidade, o conhecimento moderno é fragmentado na medida em que são estudados separadamente aspectos específicos de um fenômeno. Quando há um fenômeno complexo, apenas suas partes mais simples são analisadas por especialistas na área. Após a compreensão dessas pequenas partes, seria possível uma noção mais completa do fenômeno (GUSDORF, 1995). Opondo-se ao modelo de fragmentação do conhecimento, é extensa a lista de intelectuais, educadores, gestores, administradores e profissionais de diversas áreas que defendem a interdisciplinaridade como proposta para uma formação e atuação mais eficaz. A interdisciplinaridade é uma tendência no ensino e nas empresas (MANGINI; MIOTO, 2009). Quando se adentra no universo da educação superior, é comum a orientação para que o conteúdo seja ministrado de forma interdisciplinar. No entanto, não se sabe exatamente a que se refere a interdisciplinaridade, ou ainda, os impactos que a adoção de um sentido do conceito podem ter sobre a prática educativa. [...] Retomando o histórico do termo, apesar de a ideia de unicidade do conhecimento ser debatida desde os gregos antigos (GUSDORF, 1995), o marco em torno da interdisciplinaridade foi o evento denominado Seminário sobre pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade nas universidades, também conhecido como Congresso de Nice, promovido em 1970, na França. O evento tinha como objetivos esclarecer conceitos de pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade à luz de uma reflexão epistemológica (JAPIASSU, 1976). A emergência desse debate está ligada às reivindicações dos movimentos 6 Disponível em: < https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intersecoes/article/view/39041> https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intersecoes/article/view/39041 31 estudantis insatisfeitos com as formas de estruturação do ensino no fim dos anos 1960. Nesse sentido, a interdisciplinaridade é defendida como crítica e alternativa ao saber fragmentado que caracteriza a ciência moderna (MANGINI; MIOTO, 2009). É importante ressaltar que o debate e a defesa da interdisciplinaridade não foram impulsionados somente pela academia, mas também pelo mundo do trabalho (MANGINI; MIOTO, 2009). O capitalismo em crise na década de 1970 trouxe a ideia da interdisciplinaridade como um meio para resolver os problemas da formação excessivamente especializada dos trabalhadores sob o modelo taylorista/fordista. Nesse modelo os trabalhadores são separados em funções específicas e se concentram em poucas tarefas simplificadas, isoladas e rotineiras. Em contraposição, foi defendido o modelo toyotista, em que é produzido somente o necessário, trocando a padronização pela diversificação, prescindindo assim de trabalhadores mais qualificados, participativos e polivalentes, ou seja, aptos a trabalhar em mais de uma função. Tal modelo foi criado na fábrica da Toyota após a Segunda Guerra Mundial e difundido como uma forma de impulsionar o capitalismo. Ele ainda é muito valorizado nas escolas de administração. Por conta desses movimentos, a interdisciplinaridade tornou-se palavra de ordem nas últimas décadas, também no mundo do trabalho (MANGINI; MIOTO, 2009). Embora seu uso seja bastante comum, não há uma definição consensual sobre interdisciplinaridade. O termo é confuso e utilizado para se remeter a realidades diversas (MINAYO, 1994). Em uma conferência sobre o tema, a professora portuguesa Olga Pombo chega a afirmar que: “não só não sei como se faz, como também não sei o que é a interdisciplinaridade [...] atrevo-me a pensar que ninguém sabe [pois] é impossível dizer o que é a interdisciplinaridade” (POMBO, 2005, p. 4). A autora aponta que há uma família de conceitos que se apresentam como mais ou menos equivalentes: pluridisciplinaridade, multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Nenhum deles tem fronteiras estabelecidas. Não é possível formular uma única definição sobre interdisciplinaridade, mas é possível perceber as linhas de interpretações que seguem os autores. Um elucidativo trabalho feito por Lenoir e Hasni (2004) apresenta três conceitos ou lógicas de 32 interdisciplinaridade. O primeiro, mais presente na Europa — em especial na França —, pode ser qualificado de “lógico racional” e compreende a interdisciplinaridade como um fim em si mesma, ou seja, a construção do saber interdisciplinar se justifica pelo conhecimento. A segunda corrente é mais presente na literatura norte-americana, principalmente nos Estados Unidos, e trata a interdisciplinaridade como um meio para atingir determinado resultado (saber-fazer). Nessa acepção há uma lógica funcional do conceito. A terceira concepção é a latino-americana, que pode ser observada no Brasil. Na compreensão predominante entre os latino-americanos, a interdisciplinaridade é mais que conhecer e saber fazer: trata-se de uma forma de realização humana. A compreensão da interdisciplinaridade privilegia o aspecto afetivo, na medida em que a concebe como uma atitude que leva ao crescimento humano. A produção brasileira sobre interdisciplinaridade é vasta e tem duas referências centrais: Hilton Japiassu e Ivani Fazenda — ambos influenciados pela obra do filósofo francês Georges Gusdorf. Em linhas gerais, para Gusdorf (1995), a interdisciplinaridade é a busca pela totalidade do conhecimento em oposição ao saber fragmentado. Conforme o autor: Não se trata somente de justaposição, mas de comunicação. O interesse se dirige para os confins e as confrontações mútuas entre as disciplinas; trata- se de um conhecimento dos limites ou de um conhecimento nos limites, instituindo entre os diversos ocupantes do espaço mental um regime de co-propriedade, que fundamenta a possibilidade de um diálogo entre os interessados. (GUSDORF, 1995, p. 15). Nesse sentido, o campo da interdisciplinaridade é onde se discute uma nova forma de conhecimento e prática em que não há mais fragmentação. A base para essa construção é o diálogo entre as disciplinas. No Brasil, o trabalho de Gusdorf foi difundido primeiramente por Hilton Japiassu (1976). Japiassu é formado em filosofia e fez seu doutorado na França, orientado pelo próprio Georges Gusdorf. Foi a partir da obra de Japiassu que se pôde conhecer a bibliografia estrangeira existente sobre interdisciplinaridade (FAZENDA, 2001). Em síntese, interdisciplinaridade para Japiassu (1976) é um processo em que há 33 interatividade mútua, em que todas as disciplinas que participam do processo devem influenciar e ser influenciadas umas pelas outras. Por meio desse processo seria possível restabelecer a unidade do conhecimento, religando as fronteiras. O autor considera que, mais do que um conceito teórico, a interdisciplinaridade se impõe como prática e como ação, superando a dicotomia entre a pesquisa teórica e a pesquisa aplicada, também entre conhecimento e prática. Tanto Japiassu, quanto seu orientador Gusdorf influenciaram a obra de uma das referências brasileiras sobre o assunto, a professora Ivani Fazenda, que, inclusive, se refere a Gusdorf como seu mestre (FAZENDA, 2001). Ivani Fazenda é formada em pedagogia e responsável pela criação, em 1981, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que conta com uma vasta reflexão e publicações sobre o assunto. Segundo Fazenda (2008, p. 119), a interdisciplinaridade é uma questão de compromisso e envolvimento do profissional, ou seja: “Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão”. Seria uma atitude diante do problema da fragmentação do conhecimento. Essa atitude permitiria à escola se reconstruir em detrimento do saber fragmentado, pois o objetivo da interdisciplinaridade é a própria unidade do saber (FAZENDA, 2001). Referencial Bibliográfico do artigo: ARTMANN, E. (2001). Interdisciplinaridade no enfoque intersubjetivo habermasiano: reflexões sobre planejamento e AIDS. 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Porém, é importante destacar que esse processo pode ter nuances variadas. Com estruturas físicas singulares e organização de programas e currículos que expressam as condições de cada tempo histórico, é importante para nós, neste estudo, perceber que a tarefa de lidar com o conhecimento entendido como significativo de cada época e sociedade, coube a escola. Ou seja, ela é a instituição responsável pelos processos formativos que até hoje denominamos de educação formal. Em contrapartida, percebemos que apesar de existir os locais formais de ensino, ela não existe apenas neles. Brandão (2007) diz que “ninguém escapa da educação”, ela ocorre em qualquer ambiente, seja na rua, em casa, na igreja e é claro, na escola. Estamos o tempo todo aprendendo a fazer algo, a conviver, a ensinar, aprendendo a viver. Atualmente, diversos outros ambientes (que não a escola) estão desenvolvendo um trabalho relevante no atendimento de serviços decorrentes da descentralização do Estado, e que por isso, podem ser consideradas instituições atuantes no cenário educacional contribuindo de forma importante para ampliação da atuação do pedagogo. Desta forma, o pedagogo que antes tinha apenas o ambiente escolar como local de trabalho, ganha um novo mercado com imensas possibilidades. ONG’s, hospitais, presídios, empresas, espaços de comunicação (TV, rádio, editoras), empresas ou qualquer 38 outro ambiente que o processo de ensino e aprendizado seja intencional, organizado e sistematizado, caberá um pedagogo para orientar tais atividades. Onde houver uma prática educativa intencional, haverá uma ação pedagógica e, portanto, espaço de atuação do pedagogo. BUSCANDO CONHECIMENTO José Carlos Libâneo, autor de renome na educação, em seu livro “Pedagogia e pedagogos, para quê?” (2010, 12.ed.) infere o seguinte: A seguir, falaremos um pouco mais sobre algumas possibilidades de atuações do pedagogo em ambientes não-escolares. Estruturada, organizada, planejada intencionalmente, sistemática. Nesse sentido, a educação escolar convencional é tipicamente formal. Mas isso não significa dizer que não ocorra educação formal em outros tipos de educação intencional (vamos chamá-las de não- convencionais). Entende-se, assim, que onde haja ensino (escolar ou não) há educação [...] desde que estejam presentes a intencionalidade, a sistematicidade e condições previamente preparadas, atributos que caracterizam um trabalho pedagógico- didático, ainda que realizadas fora do marco escolar propriamente dito (p. 81, grifos nossos). 39 4.1 – Pedagogia Empresarial O pedagogo atualmente é apontado como um dos profissionais que pode contribuir nos processos de recrutamento e seleção das organizações empresariais, seu surgimento está vinculado à necessidade de formação e preparação dos recursos humanos dentro das empresas. Considerando que a pedagogia é um campo de estudo que busca metodologias que asseguram a aprendizagem significativa, promovendo a interação humana é possível inferir que ela também poderá contribuir para qualificação da atuação profissional. Neste novo cenário de mediações das relações de trabalho e da busca pela excelência, o pedagogo empresarial pode ocupar lugar de destaque nas empresas, atuando como gestor de conhecimentos. Ao pedagogo empresarial está posto o desafio de estimular mudanças comportamentais tanto nos trabalhadores quanto nos empregadores, buscando promover a motivação aos primeiros e maior lucratividade aos segundos. Contexto histórico:Segundo Fernandes e Paredes (2014), antigamente o artesão conhecia todo o processo que envolvia a confecção de um produto. Entretanto, durante a Revolução Ao invés de alunos, tenho colaboradores para ensinar em sala de aula. No lugar de professores, são gerentes, coordenadores e instrutores para orientar. O foco na aprendizagem é o mesmo que na escola, porém o contexto se torna completamente diferente em um ambiente corporativo. (FERNANDES; PAREDES; 2014) 40 Industrial com o início da mecanização e da produção em série, passou a existir a alienação do trabalhador, este operário era responsável por apenas uma parte do ciclo produtivo da mercadoria, não conhecendo todos os procedimentos e métodos que envolvem o todo. Entretanto, com o passar do tempo, estas questões também passaram a ser modificadas, através de nova estruturas organizacionais devido a globalização. Atualmente, as empresas não aceitam mais trabalhadores reprodutores de tarefas. Esperam profissionais com iniciativa, empreendedores e constantemente atualizados. Ao investir em seus funcionários, as empresas mantêm seu quadro de funcionários por mais tempo, o que contribui para a elevação dos padrões de qualidade e melhora no seu desempenho. E por que o pedagogo? Conforme Fernandes e Paredes (2014) o que favorece a atuação do pedagogo em ambientes corporativos são os conhecimentos gerais, de recursos auxiliares de ensino, do processo de ensino/aprendizagem, da didática e dos métodos de avaliação que são proporcionados pelo curso de Pedagogia. A ele, cabe atuar em equipe de multiprofissionais na seleção, treinamento e desenvolvimento dos colaboradores, possibilitando assim, elevação nos resultados e soluções para os problemas dentro da empresa. Portanto, a atuação do pedagogo no ambiente corporativo objetiva a execução e a implementação de programas de qualificação, além da difusão de conhecimentos, delineando estratégias e metodologias que melhorem a aprendizagem dos funcionários, valorizando e respeitando o potencial de cada um, fazendo a empresa progredir. 41 4.2 – Pedagogia para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais. O cidadão condenado à privação de liberdade pelo estado, apesar de estar isolado da sociedade com objetivos de “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal” (BRASIL, 1984, art. 1º), ainda tem seus direitos básicos garantidos por nossas legislações. A Lei 7210/1984 institui as normas de execução penal, estabelece as responsabilidades do Estado para garantir o direito à educação para os jovens e adultos dentro das penitenciárias. Na Seção V esclarece que:“Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado”. Recentemente, as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais regulamenta sua oferta e estabelece: Art. 2º As ações de educação em contexto de privação de liberdade devem estar calcadas na legislação educacional vigente no país, na Lei de Execução Penal, nos tratados internacionais firmados pelo Brasil no âmbito das políticas de direitos humanos e privação de liberdade, devendo atender às especificidades dos diferentes níveis e modalidades de educação e ensino e são extensivas aos presos provisórios, condenados, egressos do sistema prisional e àqueles que cumprem medidas de segurança. (BRASIL, 2010) Mas, afinal, como desenvolve-se o trabalho pedagógico dentro das prisões? Como sabemos, o professor, precisa ter antes de qualquer coisa, seus objetivos educacionais muito bem definidos, para então, pensar em estratégias e materiais para desenvolvê-los. PENNA et al (2016) refletem que a realização dos objetivos educacionais dentro da prisão exige que os professores ponderem sobre sua atuação e o local onde atuam, reconhecendo as possibilidades e os limites da educação neste contexto. Orienta ainda sobre a necessidade de que estes professores passem por formação sobre as questões do cotidiano prisional, sobre a EJA e sobre possibilidades formativas. INDICAÇÃO DE LEITURA: Caso queira aprofundar-se no assunto, leia o artigo “A formação do pedagogo e a educação nas prisões: reflexões acerca de uma experiência” da autoria de Marieta Gouvêa de Oliveira Penna, Alexandre Filordi de Carvalho e Luiz Carlos Novaes (2016), disponível no link < http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v36n98/1678-7110-ccedes-36-98-00109.pdf > http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v36n98/1678-7110-ccedes-36-98-00109.pdf 42 4.3 – Pedagogia no Terceiro Setor A sociedade civil é subdividida em três setores para fins organizacionais. O primeiro setor é composto pelo governo, o segundo são as empresas privadas e o terceiro setor são as associações e organizações sem fins lucrativos. Este, contribui com a sociedade pois chega a locais onde o Estado tem dificuldade de atingir, realizando ações solidárias e por isso, tem papel fundamental em nossa sociedade tão desigual. As Organizações Não Governamentais (ONG’s) são organizações sem fins lucrativos, com fins públicos e autogovernadas que buscam promover a redução das desigualdades sociais e transformação social dirigida a formação humana. Nesses espaços de educação não-formal o pedagogo tem como meta principal, a de propiciar ao sujeito a construção da sua identidade, comprometido com a formação humana. Atuando com projetos sociais e de promoção de cidadania, defendendo o meio ambiente e os direitos das minorias, além desenvolver trabalhos contra a discriminação. A grande vantagem é que na educação não-formal o pedagogo amplia as possibilidades de ensino ao oferecer outros espaços para aprendizagem, tendo assim maior flexibilidade com relação a tempo, espaços e métodos. Este novo campo abre espaço para atuação do pedagogo, onde ele principalmente desenvolve e elabora projetos educacionais, planeja ações da instituição e presta suporte pedagógico, podendo também, desempenhar o papel de educador social. (SOUZA FILHO; CONTRERAS; 2011; p.10094) 43 4.4 – Pedagogia Hospitalar Ainda que a criança e/ou o adolescente estejam hospitalizados, têm direito a educação garantido através da Resolução nº 02/2001, que determina que seja ofertado através do Atendimento Educacional Especializado. Em seu Art. 13 determina que os sistemas de ensino em uma ação integrada com os sistemas de saúde organizem-se, objetivando atender os “alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio”. Define ainda que as classes hospitalares devem continuar com o processo de desenvolvimento e com o processo de aprendizagem desta criança/adolescente (matriculados em escolas de Educação Básica), contribuindo assim para seu retorno futuro e reintegração ao grupo escolar. Para isso, devem desenvolver um currículo flexível, que atenda as necessidades de saúde e auxilie a demanda pedagógica. O pedagogo, responsável pelo ensino também no hospital, carrega uma grande responsabilidade pois é necessário que ele desenvolva um trabalho humanizado, auxiliando as crianças/adolescentes que estão afastados da escola e, por isso, prejudicados. Isto pode proporcionar além de conhecimento, aumento de qualidade de vida ao paciente, pois incentiva-o a ter novos objetivos, ele sente-se participando de alguma forma do mundo externo, tem contato com pessoas diferentes, conversa sobre assuntos diversos e por isso, tira o foco da doença e consegue pensar em coisas distintas. Os profissionais que optam pelo exercício da pedagogia hospitalar, precisam especializar-se, pois esta surge, é oficializada e regulamentada pela Educação Especial.
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