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não depende da boa ou da má vontade do capitalista individual. A livre-concorrência impõe a cada capitalista individualmente, como leis externas inexoráveis, as leis imanentes da produção capitalista.461 O estabelecimento de uma jornada normal de trabalho é o re- sultado de uma luta multissecular entre capitalista e trabalhador. En- tretanto, a história dessa luta mostra duas tendências opostas. Com- pare-se, por exemplo, a legislação fabril inglesa de nosso tempo com os estatutos ingleses do trabalho do século XIV até bem na metade do século XVIII.462 Enquanto a moderna lei fabril reduz compulsoria- mente a jornada de trabalho, aqueles estatutos procuravam compul- soriamente prolongá-la. Sem dúvida, as pretensões do capital, em seu estado embrionário, quando ele ainda virá a ser, portanto, em que ainda não assegura mediante a simples força das condições econômicas, mas também mediante a ajuda do poder do Estado, seu direito de absorver um quantum suficiente de mais-trabalho parecem até modes- tas, se as compararmos com as concessões que ele tem de fazer rosnando e resistindo, em sua idade adulta. Custou séculos para que o traba- lhador “livre”, como resultado do modo de produção capitalista desen- volvido, consentisse voluntariamente, isto é, socialmente coagido, em vender todo o seu tempo ativo de sua vida, até sua própria capacidade de trabalho, pelo preço de seus meios de subsistência habituais, e seu direito à primogenitura por um prato de lentilhas. É natural, portanto, que a prolongação da jornada de trabalho, que o capital procura impor aos trabalhadores adultos por meio da força do Estado, da metade do século XIV ao fim do século XVII, coincida aproximadamente com a limitação do tempo de trabalho que, na segunda metade do século XIX, é imposta pelo Estado, aqui e acolá, à transformação de sangue infantil em capital. O que hoje, por exemplo, no Estado de Massachusetts, até recentemente o Estado mais livre da República Norte-Americana, é OS ECONOMISTAS 384 461 Assim, verificamos, por exemplo, que no começo de 1863, 26 firmas, proprietárias de grandes cerâmicas em Staffordshire, entre elas J. Wedgwood e Filhos, num memorial pedem “a enérgica intervenção do Estado”. A “concorrência com outros capitalistas” não lhes permite nenhuma limitação “voluntária” do tempo de trabalho das crianças etc. “Por mais que lamentemos os males acima mencionados, seria impossível impedi-los por meio de qualquer espécie de acordo entre os fabricantes. (...) Considerando todos esses pontos, chegamos à convicção de que é necessária uma lei coativa.” (Children’s Emp. Comm., Rep. I. 1863. p. 322.) Um exemplo muito mais expressivo ofereceu o passado recente. A alta dos preços do algodão, numa época de atividade febril, induziu os proprietários de tecelagens de algodão em Blackburn, mediante acordo geral, a reduzir o tempo de trabalho em suas fábricas por determinado prazo. O prazo terminou em fins de novembro (1871). Entrementes, os fabri- cantes mais ricos, que combinam fiação com tecelagem, aproveitaram a queda de produção decorrente desse acordo, para expandir seu próprio negócio, alcançando assim grandes lucros à custa dos pequenos mestres. Estes últimos, vendo-se em apuros, voltaram-se para os operários fabris e incitaram-nos a tomar a sério a agitação pela jornada de 9 horas, pro- metendo-lhes para esse fim contribuições em dinheiro. 462 Esses estatutos dos trabalhadores, que havia na mesma época na França, na Holanda etc., foram abolidos formalmente na Inglaterra somente em 1813, depois de as condições de produção já os terem, há muito, superado.
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