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PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO PROBLEMA 6 A.B.T., 26 anos, sexo feminino, residente no bairro Paraíso, Guanambi-BA, procura atendimento na UPA com relato de febre (39ºC), mal-estar e mialgia, há 4 dias. Posteriormente, evolui com poliartralgia intensa, simétrica, principalmente em mãos, punhos, tornozelos e joelhos, e rash eritematoso maculopapular. Informa ao médico que, desde o início dos sintomas, foi atendida na UBS de seu bairro, e o médico prescreveu medicamentos sintomáticos e solicitou sorologia para dengue, que se mostrou negativa. Refere, ainda, grande preocupação com o quadro, pois suspeita de estar grávida. Relata que sua vizinha apresentou quadro semelhante ao seu e que o bebê dela nasceu com microcefalia. Ao exame, corada, hidratada, anictérica e edema nos punhos e tornozelos. São prescritos, mais uma vez, medicamentos sintomáticos e solicitados dois exames para confirmação diagnóstica. TUTORIA 5 1) Analisar a chicungunya considerando a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico/diagnóstico diferencial e tratamento 2) Analisar a zika considerando a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico/diagnóstico diferencial e tratamento 3) Diferenciar zika de chicungunya e dengue 4) Relacionar a microcefalia com o zika vírus 5) Descrever os programas relacionados com o caso, bem como o papel da população na prevenção e proliveração CHICUNGUNYA A chikungunya (CHIKV) é uma doença febril aguda associada a dor intensa e frequente poliartralgia debilitante É causada pelo vírus da Chikungunya, um alfavírus da família Togaviridae sendo transmitido pela picada da fêmea infectada do mosquito Aedes ergypti e Aedes albopictus e a viremia persiste até 10 dias após o surgimento das manifestações clínicas Esse vírus pode acometer células endoteliais e epiteliais humanas, fibroblastos, dendritos, macrófagos e células B, assim, como células musculares Essa variedade do campo de ação pode implicar em possibilidades de variações apresentações clínicas A chikungunya é a arbovirose associada a maior grau de manifestações clínicas EPIDEMIOLOGIA Esse vírus foi isolado pela primeira vez em humanos em 1952, durante o primeiro surto em clico urbano Desde a primeira pandemia de febre chikungunya descrita em 1950, diversas pandemias menores ocorreram periodicamente até 2004 No Brasil, em 2015, foram registrados 38.332 casos prováveis, dos quais 13.236 foram confirmados FISIOPATOLOGIA Durante a inoculação do CHIKV na pele humana pela picada do mosquito, a saliva desse é inoculada no hospedeiro junto com o vírus A saliva do mosquito tem propriedades anti- hemostáticas e imunomoduladoras, o que induz a uma infiltração celular precoce e o aumento de citocinas PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Em seguida, ocorre uma fase intensa de reprodução viral nos fibroblastos e macrófagos cutâneos Essa reprodução ocorre por gânglios linfáticos, onde ocorre a reprodução intensa antes do vírus ser liberado para a circulação e depois se dissemina e compromete os órgãos-alvo (ex.: articulações e músculos) Após a inoculação do vírus a reposta inata é ativada, seguida da resposta adaptativa celular, com a liberação de citocinas pró-inflamatórias (ex.: IFN-alfa, IL, quimiocinas e fatores de crescimento) A dor musculoesquelética e da artrite crônica após infecção pelo vírus da CHIKV não são totalmente conhecidos Acredita-se que esses sintomas sejam decorrentes do escape precoce do vírus no interior dos monócitos e consequentemente relocação nos macrófagos sinoviais Queixas neurológicas podem estar presentes em 40% dos pacientes A neuropatia periférica com componente sensitivo é a apresentação mais comum Observou-se que dor pode apresentar origem mista, por mecanismos nociceptivos e neuropáticos ESPECTRO CLÍNICO O período de incubação intrínseco é em média de 3 a 7 dias (pode variar de 1 a 12 dias) O extrínseco ocorre no vetor, que dura em médias 10 dias O período de viremia no ser humano pode perdurar pode até 10 dias e geralmente inicia 2 dias antes da apresentação dos sintomas, pode durar por mais de 8 dias A doença pode evoluir em 3 fases: aguda, subaguda e crônica Após o período de incubação inicia a fase aguda ou febril que dura até o 14º dia Alguns pacientes evoluem com persistência das dores articulares após a fase aguda, caracterizando o início da fase subaguda que pode durar até 3 meses Quando os sintomas persistem por mais de 3 meses atingem a fase crônica Nessa fase as manifestações clínicas pode variar de acordo com o sexo e idade. Exantema, vômitos, sangramento e úlceras orais parecem estar mais relacionados ao sexo feminino Dor articular, edema e maior duração da febre são mais prevalentes quanto maior a idade do paciente FASE AGUDA OU FEBRIL É caracterizada por febre de início súbito e surgimento de intensa poliartralgia, geralmente acompanha dores nas costas, rash cutâneo, cefaleia e fadiga, dura em média 7 dias A poliartralgia normalmente é poliarticular, bilateral e simétrica, mas pode haver assimetria Acomete grandes e pequenas articulações e abrange com maior frequência as regiões mais distais PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Pode apresentar dor retro-ocular, calafrios, conjuntivite sem secreção, náusea, vômitos, diarreia, dor abdominal e neurite FASE SUBAGUDA Nessa face a febre normalmente desaparece, pode haver persistência ou agravamento da artralgia (ex.: poliartrite distal, dor exacerbada nas regiões acometidas na face febril) O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável Pode estar presente nessa fase, astenia, prurido generalizado e exantema maculopapular, além de lesões vesiculares e bolhosas Caso os sintomas persistam por mais de 3 meses, após o início da doença, estará instalada a fase crônica FASE CRÔNICA Após a fase subaguda, alguns pacientes podem ter persistência dos sintomas, principalmente dor articular e musculoesquelética e neuropática Sendo que a neuropática é muito frequente nesta fase Alguns pacientes poderão evoluir com artropatia destrutiva semelhante a artrite psoriática ou reumatoide Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cafaleia, prurido, alopecia, exantema, bursite, dor neuropática e distúrbios do sono Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade acima de 45 anos, sexo feminino, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda Alguns trabalhos descrevem que esta fase pode durar até 3 meses, outros fazem menção a seis anos GESTANTES A infecção pelo CHIKV, no período gestacional, não está relacionada a efeitos teratogênicos, e há raros relatos de abortamento espontâneo Mães que adquirem o vírus no período intraparto podem transmitir o vírus a recém-nascidos por via transplacentária O vírus não é transmitido pelo aleitamento materno DIAGNÓSTICO O diagnóstico inclui a confirmação laboratorial da infecção, baseada na sorologia, PCR em tempo real ou isolamento viral, associado à presença de quadro clínico sugestivo da doença IgM podem surgir em duas semanas, demostrados por teste de ELISA No entanto, alguns pacientes só irão produzir anticorpos suficientes para serem detectados pelo ELISA após 6 a 12 semanas, após o quadro inicial Nos exames laboratoriais podem ser encontrados: leucopenia, trombocitopenia, neutropenia e anormalidades do perfil hepático Para afastar a possibilidade de artrite reumatoide, naCHIKV anticorpo anti-CCP não são elevados DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Malária Leptospirose Febre reumática Artrite séptica Zika Mayaro PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO TRATAMENTO O tratamento principal é controlar a febre, reduzir o impacto do processo imunológico, tratar a dor, eliminar o edema, minimizar os efeitos das erupções e evitar o aparecimento de lesões articulares crônicas Os pacientes são orientados a adotar cuidados gerais e a utilizar fármacos como antipirético e analgésicos, porém, alguns indivíduos permanecem sintomáticos Os AINEs e analgésicos simples bloqueiam a formação de mediadores inflamatórios e a síntese de prostaglandinas causam um alívio na maioria dos pacientes Para resolver as poliartralgias que acompanham edema e outros sinais flogísticos é recomendado utilizar corticosteroide Esses corticosteroides atuam reduzindo o fenômeno inflamatório e bloqueando o processo imunológico, particularmente na fase aguda Casos com artralgia prolongada e rigidez articular podem se beneficiar de um programa progressivo de fisioterapia ZIKA O vírus zika é um arbovírus do gênero Flavivírus, família Flaviviridade, identificado pela primeira vez em 1947 na Floresta Zika em Uganda O genoma do vírus é RNA de fita simples, polaridade positiva EPIDEMIOLOGIA Em 2007 ocorreu a primeira epidemia fora da África e da Ásia Outro surto de febre do zika ocorreu na Polinésia Francesa em 2013-2014 afetando cerca de 32.000 pessoas Em 2015, meses após o relato de aumento de incidência de doença febril na região nordeste do Brasil, a circulação do Zika vírus foi confirmada MODO DE TRANSMISSÃO VETORIAL É transmitido primariamente pela picada de mosquitos do gênero Aedes infectados, sobretudo o Aedes aegypti e o Aedes albopictus Em humanos o período de viremia é curto, sendo mais frequente a identificação até o 5º dia do início dos sintomas No entanto, o RNA do vírus pode ser detectado no sangue já no primeiro dia e até 11º dia após início da doença PERINATAL Testes realizados no líquido amniótico de gestantes possivelmente infectadas pelo zika vírus e cujos os fetos tiveram microcefalia diagnosticada foram positivos para o vírus Assim, fica evidenciado que o vírus é capaz de atravessar a barreira placentária e, de modo cada vez mais evidente, causar malformações fetais Há evidências que a mãe infectada com o vírus Zika nos últimos dias de gravidez pode transmitir o vírus ao recém-nascido durante o parto SEXUAL Houve detecção no sêmen pelo período de até 10 semanas após a recuperação dos sintomas da infecção Tendo sido descritos casos prováveis de transmissão sexual do homem para a mulher PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Em 2008, um trabalhador da região endêmica do Senegal que ao voltar para a casa transmitiu o vírus para a esposa, provavelmente por contato sexual A hipótese de picada do mosquito é duvidosa, porque a esposa contraiu o vírus 9 dias após o marido ter voltado para cada E o período de incubação extrínseca é superior a 15 dias Após estudos nesse paciente, constatou-se a presença do vírus no esperma e também presença de sangue (hematospermia) Esse resultado sugere replicação viral no trato genital e a possibilidade de transmissão pela via sexual TROPISMO DO VÍRUS A replicação do vírus inicia nas células dendríticas e citoplasma dos fibroblastos e queratinócitos da epiderme e derme Dispersando-se posteriormente para os nodos linfáticos e a corrente sanguínea O vírus tem tropismo pelo sistema nervoso central Após o final da epidemia de 2013 houve um aumento de 20 vezes da incidência de Guillain-Barré e sintomas neurológicos (ex.: dificuldades auditivas bilaterais) durante o curso da doença, porém, os mecanismos dessas doenças ainda não estão claros MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico típico inclui: rash maculopapular que pode acompanhar prurido, febre baixa, artralgia (pés e mãos) e conjuntivite não purulenta Outras manifestações como mialgia, cefaleia, dor retro orbitária e astenia, foram relatadas Na maioria dos pacientes, os sintomas são usualmente leves e apresentam resolução espontânea após cerca de 2 a 7 dias Porém, alguns pacientes a artralgia pode persistir por cerca de um mês ALTERAÇÕES LABORATORIAIS Inespecíficas: discreta a moderada leucopenia e trombocitopenia Ligeira elevação da dosagem de desidrogenase láctica sérica, gama glutamiltransferase e de marcadores de atividade inflamatória (proteína, fibrinogênio e ferritina) O que mais tem sido descrito são alterações discretas nos parâmetros hematológicos e menos ainda nas enzimas hepáticas, porém não são alterações significativas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Dengue: a febre cede em torno do 3º ao 5º dia do início dos sintomas, nesse período pode ocorrer sinais de alarme Chikungunya: tem febre alta e acompanha poliartralgia/artrite, cefaleia, mialgia, dor lombar, náuseas, vômitos, conjuntivite e calafrios Febre amarela: febre alta, calafrios, cefaleia, lombalgia, mialgia, prostração, náuseas e vômitos Malária: periodicidade da febre, insuficiência renal, icterícia, alteração do nível de consci~encia, hepato e esplenomegalia Leptospirose: mialgia intensa, sufusão ocular, icterícia rubínica, oligúria, hemorragia subconjuntival PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico laboratorial especifico baseia-se principalmente na detecção do RNA viral no período de 1 a 15 dias após o início dos sintomas O vírus tem uma persistência na urina, assim, depois de 5 dias de doença deve realizar o RT-PCR na urina, é indicado a realização até o 15º dia do início dos sintomas Em geral, considera-se que os testes sorológicos possam detectar o IgM a partir do 4º dia e o IgG a partir do 12º dia A sorologia para zika em populações com circulação simultânea ou prévia de outros flavivírus são passíveis de imprecisão devido ao risco de reação cruzada e pode levar a falso positivo Por isso, os resultados positivos devem ser analisados com cautela TRATAMENTO É baseado no uso de paracetamol ou dipirona para o controle da febre e o manejo da dor No caso de erupção pruriginosas, os anti- histamínicos podem ser considerados É contraindicado o uso de ácido acetilsalicílico e outras drogas anti-inflamatórias devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas Não há vacina contra o vírus Zika MANEJO DE GESTANTES Os dados sugerem que as mulheres grávidas podem ser infectadas pelo vírus em qualquer trimestre Existem evidências que a transmissão da mãe para o feto durante a gestação e também próximo ao momento do parto Como não existe vacinas para evitar a infecção pelo vírus zika PATRÍCIA RIBEIRO – 4º PERÍODO MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO e INFECÇÃO Recomenta-se que as grávidas em qualquer trimestre considerem adiar viagens para áreas com transmissão do vírus Na gestante que apresente feto com diagnostico de microcefalia confirmada, deve-se avaliar possível aminiocentese a partir da 15º semana de gestação MANEJO SÍNDROME DE GUILLAIN- BARRÉ É uma polirradiculopatia desmilielinizante inflamatória aguda, de caráter autoimune, que geralmente atinge os nervos motores Ela ocorre após infecções, geralmente virais, tendo como agentes causais o citomegalovírus, HIV e mais recentemente o zika Os sintomas vão desde sensação de formigamento, começando em extremidades inferiores, acompanhada por astenia de maior intensidade nas pernas e pode acometer os braços REFERÊNCIAS Zika: abordagem clínica na atenção básica. UMA-SUS, FIOCRUZ, UFMS. 2016 Guia de manejo da infecção pelo vírus zika. Sociedade Brasileira de Infectologia, 2016 Chikungunya: manejo clínico. Ministério da saúde, secretaria de vigilância sanitária e secretaria de atenção básica, 2017 Chikungunya: a visão do clínico de dor. Anita Perpetua Carvalho Rocha de Castro et al. Revista de dor. Vol. 4, SP, 2016 Chikungunya: manejo clínico. Ministério da saúde e departamento de vigilância das doenças transmissíveis. 2017 Recomendações da sociedade brasileira de reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre Chikungunya. Parte 1 – diagnóstico e situações especiais. Claudia Diniz et al. Revista brasileira de reumatologia. Vol. 2, 2017
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